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Ciência da Alma EDWARD EDINGER

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f" '''-'" 
Ciência da alma é um conjunto de reflexões do junguiano 
Edward E Edinger, cuja apresentação hábil e clara dos 
conceitos junguianos ajudou muitos a compreenderem 
o essencial da psicologia profunda, seja em seus aspec­
tos coletivos, seja em sua aplicação pessoal. 
Nas reflexões da presente obra, ele demonstra a impor­
tância de o ser humano cultivar a própria alma, ou, por 
suas próprias palavras, "manter uma ligação viva com o 
inconsciente coletivo". Tal ligação pode se dar mediante 
uma crença, uma religião ou uma mitologia viva. No en­
tanto, a partir da Idade Moderna, a linguagem religiosa 
e mítica então dominante não mais respondeu à ne­
cessidade de muitos. A psicologia profunda veio, então, 
ser instrumento de contato com o inconsciente coletivo 
para o mundo que fala a linguagem da ciência. Por isso, 
a psicologia junguiana tem papel importante a ser de­
senvolvido em nosso tempo: ajudar as pessoas a cura­
rem as feridas de sua alma. 
A leitura deste livro é útil tanto àqueles que têm pouco 
conhecimento da psicologia analítica como a especialis­
tas, pois o autor trata tanto de conceitos fundamentais, 
como Si-mesmo e sombra, bem corno da relação entre 
terapeuta e paciente. 
EDWARD F. EDINGER ficou conhecido por seus muitos escri· 
tos e palestras sobre a aplicação da psicologia junguiar 
dentre eles comentários psicológicos a respeito da Bíblia e 
inestimáveis guias para a compreensão das principais obras 
de Jung. 
D 
'I 
~ 
--
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Edinger, Edward F. 
Ciência da alma: uma perspectiva junguiana I Edward F. Edinger; 
Itradução Gustavo Gerheim]. - São Paulo: Paulus, 2004. 
- (Amor e psique) 
Titulo original: Science 01 lhe soul 
Bibliogralia. 
ISBN 85-349-2 J62-8 
1. Jung. Carl Gustav, 1875-1961 2. Inconsciente 3. Psicologia junguiana 
4. Psicopatologia I. Titulo. 11. Série. 
COO·150.195404·1028 
índices para catálo'go sistemático: 
1. Psicologia: Perspectiva (unguiana 150.1954 
li' V,"\ Y ,,'­ v~:. " p ~l,. '~'. 
/ - . i 1: ~..r' h 
COleção AMOR E PSIQUE coordenada por 
Or. Léon Bonaventure, Pe. Ivo S/orniolo, 
Ora. Maria Elci Spaccaquerche 
Tílulo original 
Science of /he Soul: A Jungian Perspective 
© Innar City Books, Canadá, 2002. 
ISBN 1-894574-03-6 
Tradução 
Gustavo Gerheim 
Editoração 
PAULUS 
Impressão e acabamento 
PAULUS 
© PAULUS - 2004 
Rua Francisco Cruz, 229' 04117-091 São Paulo (Brasil) 
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066 
www.paulus.com.br·ediloríal@paulus.com.br 
ISBN 85-349-2162-8 
<.1 r INTRODUÇÃO À COLEÇÃO 
:.;lc~.,·fH)l· \'AMOR.E;PSIQUE 
_....... ~! ._:_ ';" _1]1)")" ~' 'li.' ~_'i; '~_ ;." \ 
, (.:) , 'i ~:)j:' ,U _ 
\.~\.:~í'.lU"~, di "c._ ;. ' i/, _rJ .1 t"' lLJ J~~ t _~ '~:l 
. ~ i,{" ~ ~ --': ~.!'; __ ~;I; : ~""~) 1.... j~; ,_ )J 
j ;1, ,::~:j,,:1 1.;:"';.:::. 'li!.:. ~';'!';; ,:i.~ .. ~~, ~~",rt ,1J "f",,,,, 1 i_~ 
,1..... !. '~r" -~:l_ '" ! ' . : ~ .:.. ~ ~ (: J ~ "') f ~ \ 
• _~~",H.:: ~I~!' ... :.' f."; .. !,.. ....:",1 !!..~ ,\ 
)'j ~.~il -~ .~) ,~~. _~ :ll' .. i, '} :.. JE~, .. ~~,./~~ ..! ,"",.f-J '~,J !_;j~rl- ::l' 
.~) ;)Y." L'~';:. Í;~~LL '::'3:J ".'-~L,,".; ~ _,' /! '_i ~~Hf-. -:~~ ~'._ L Ll.L\,.I _f; '~iL':: 
. ..~.~ ,b,\isca qe .~,-:~ .~lrp(3,,,e,~qs~:n,~~dog.e Stl(3, .'{i9;,(3,J ,Q 
homem descobriu novos caminhos que o leyam para a 
~ • *_",~' l"" ':', !.ted I, ,,, Il., ~"<J I' .... #." li ) 
sua interioridade:o §>eu próprio espaço interior torna-se 
um lugar J?OYo de~experiência. Os viajantes destes cami~ 
nhos nos 'revelam-que somente o amor é capaz de gerar a 
alma, mas também o amor precisa de alma. Assim, em 
lugar de buscar causas, explicações psicopatológicas às 
nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em 
primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é .. 
Deste mod.o.é que poderemos reconhecer que estas feri­
das e estes sofrimentos nasceram de uma falta de amor. 
Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para 
um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade e 
a realização de nossa totalidade_ Assim a nossa própria 
vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa 
unidade primeira. 
Finalmente, não é o espiritual que aparece primei­
ro, mas o psíquico, e depois o espiritual. E a partir do 
olhar doimo espiritual interior que a alma toma seu sen­
tido, o que significa que a psicologia pode .de. novo psten­
der a mão para a teologia. 
Esta perspectiva psicológica nova é fruto do esforço 
para libertar a alma da dominação da psicopatologia, do 
espírito analítico e do psicologismo, para que volte a si 
5 
www.paulus.com.br�edilor�al@paulus.com.br
mesma, à sua própria originalidade:'Elarp.'asce:u de refle­
xões durante a prática psicoterápica, e está começando a 
renovar o modelo e a finalidade dá psicoterapia. É uma 
nova visão do homem na sua existência cotidiana, do seu 
tempo, e dentro de seu contexto cultural, abrindo dimen­
sões diferentes de nossa existência para podermos reen­
contrar a nossa alma. Ela poderá alimentar todos aque­
les que são sensíveis à necessidade de inserir mais alma 
em todas as atividades humanas. 
A finalidade da presente coleção é precisamente res­
tituir a alma a si mesmare "ver a.parecer uma geraç~o de 
sacerdotes capazes de 'e~eender 'novâme.nte á llnguagem 
da alma", como C. G.JÜhgo desejava.)' ( ; j • - ' .-: ' 
..:~~t;\.w ~ í~"..: r.:~,. '~' ..... ~',~,. ,.~'~':~ j:t~' 
: \ ')!' ... ' lÂóh Bonaven'túhi 
,\ !., ! 1 '" .. ", ~''': I.'. ' !:, '! j .; 
'I ~ , ',.; I ".­,,' ).>, , , ,( (' 1 _ j ~ 
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.~'l:j:,,~~ '('fÜ"i~-'_"~",: >._. ~t;~ ,~ .. ".. f 
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'Je .~',P 
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PREFÁCIO DO EDITOR 
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~ , ~ . 
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: t .. 1; ",) , " 
o m\l!ldo est~ cheiÇl de pessoas j.1}co.nsçien~es - aque­
las que I).ão ,~abem por ,que, fazem ,aquilo' que fazem. 
Edward F. Edinger fez wais do qlle qp.alquf;r <;mtra pes­
soa para corrigir ess~, sit.uação., Qomeu ponto. qe vista, 
ele foi tão fiel a J ung quanto se. pode ser. Af?S!D;l como 
Marie-{;ouis~ vop.Fr.ap.z, ,ele, foi \lD;l jungl,lianQ c~ássico: 
absolu,tªweI'lte innuenciado pela mensagem"c!~ Jp.ng, 
amplificou -a \.isa.ndo l?egs pI:ópri()s t,alepto~.: "d ' . 
Para aqueles qu~ copsigE;lram,Jp.I'lgup:l9-I~itp.ra difí­
cil, Edinger tem sido o iptérpre.t~ pr~emií1~nt~ pqr IIlais 
de trinta anos. Em palestras, livros; 'fitas e vídeos, ele 
apref:?énto,u com muita habilidade a essência destilada da 
obra de Jung, iluminando a sua relevância tanto para a 
psicologia coletiva quanto para a pessoal. Desse modo, 
por exemplo, suas Mysterium Lectures e Aion Lectures 
não são apenas, pesquisas acadêmicas brilhantes sobre 
as obras mais importantes de J ung, mas também um guia 
prático para o que está acontecendo no laboratório do in­
consciente. 
'\ 
. . 
Desde que a Inner City publicoú seu livro A criação 
da consciência em 1984, 'Ed e'eu mantivemos muito mais 
do que uma boa relação proyssional de editor-autor, Visi­
tei-o em sua casa em Los Angeles algumas vezes e en­
viei-lhe cópias de cada novo título da Inner City que era 
~_._-------- -"-­
6 7 
http:copsigE;lram,Jp.I'lgup:l9-I~itp.ra
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1 
CIÊNCIA DA ALMA 
, " .... _:J. . . .l' 
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.. _:. ,'} , 
\ ~ 1 
,;; , '\" 
O h,omem sempre viveu no'~ito, e' a,cre<Jitamos ser capa­
zes de nascer hoje em dia e viver fora' do mito, fora da 
história. Jsso é umadoença,totalmerde anormal, pois o 
homem não' nasce todo dia.:Ele nasce 'só uma 'vez, em um 
ambiente histórico específico, com.' qualidades históricas 
específicas e, dessa forma, ele só é completo quando possui 
uwa relaçÇio.,co.m essa~ coisas. $e você cresce sem ~igação 
com o passado~ é cómo se qocê nascesse sem olhos e ouvi­
dós ... leJ isso é uma m"utltaçad do ser humano. 1 ' 
o inconsCierite cioletÍvo 
Para que' urri', i~divíduo seja' ~audá~el do 'po~to de 
"I "<' 
vista psicológico, ele deve manter uma: lig~ção viva com o 
incons'ciente coletivo. Xo 'longo da história, e'ssà ligação 
tem 'sido forhecidapel~ religião óperant'e ou pela mitolo­
gia: em vigor'em dada sociedade, Uma religião'específica 
": " ' " , I • ' " " .. I" • 
ou uma mitologia viva funcionam como um recipiente para 
oinconsciente coletiyo,Apessoa que crê em um mito vivo 
tem' acess~ a dogmas, cerimônias é imagens simbólicas 
,,' \ " ... '.I !,' " 
I, I • ~ ," 
I Jung, "The:Hóuston Films~,êrriWilliam MaguireeR. F. C. Hul!, eds., C. 
GiJu'!-gSpeqking, p. 348,. [Q~ vídeos de]<;dinger possuem breves trechos de 
uma fala de Jung;aqui impressos em itálico, tirados de entrevistas que maIS 
tarde foram publicadas em C. G. Jung Speaking. - Nota do Editor] 
11 
que se encontram entre todgs nós e a realidade bruta do 
inconsciente coletivo. é a função dos mitos vivos e 
I · '- " :" '/"," i 'da re 19mo. . ~ ,_i . ,..1 c. _ 
Enquanto o sujeito está ligado a um mito religioso, 
ele não precisa dar atenção à psique. A instituição reli­
giosa cuida disso e, se ele é um bom membro, que vive 
dentro da estrutura dogmática, ele está salvo. 
aquele ditado, vocês sabem, de que não há salvação fora 
da Igreja. Isso é verdade, não há salvação fora de u"!a 
igreja, uma mitologia viva, a não ser pelo processo de 
individuação, e este é raro e difíciL \ ' 
Assim, de maneira ger::tl, é mais ou menos Verdade 
que não há salvação' fora dá Igr~ja, e não importa dequal 
Igreja estamos f9..li:qlçl9.. À.'m:~qidª qu,e !?~, po!?sJ,l.i l,J.m·:reci­
piente para o inconsciente coletivo, e o sujeito é um mem­
bro sincero de alguma congregação religiosa, ele esta sal­
vo, do ponto de vista psicológico. b sujeito fem uma reíação 
com a imagem de Deu!3 projétaq..a.'.Coíno disse J~~g, as 
grandes religiões ~ão ~a~des sist~mas psicoterápiéos. É 
isso que elas e elas fornecem aos seus membros uma 
ligação com a imagem de Deu~, 2 Si-~~S}1W·~S~~w.esWP'1~ 
Deus sendo virtualmente termos sinônimos), por meio,de 
rituais e dogmas de d~terminada .~g"fej,a.. "', r • 
Enquanto esse método furiéionar,nãoná1o que se fa­
• , ,.' ~ ~; ,'., I .: , ~... ,,", • • :l"" ... J tI' / 
lar contra ele. Nq enta~t?; nãp,h,~, à po·!?~~piJ,i<1:ª,Qe.de..u~fl 
psicologia profi.lI~da e#quéll1tR se esi'á- f0riti5:lo, ~f.l1·,unia 
Igreja. Enquanto oin~oil"scÍE~#te c,9Iet!y~ esti':/er pres?,:~or 
assim dizer, ao simbolismo de uma estrutura dogmática: 
, ., !' . I' 7' , • " ' j ': , ~ I !', 11 , 
e~pec.í?ca e concre~a,p.~o ~x.iste!(po.s~~RiydlF,~·~e .~~?r~~ 
nencla-Io de maneIra empínca e IndIvIdual. A pSlçologla,: 
" , " ~. t I \ J. . 
profunda não se aplica àqueles que estão 'contidos em umá 
crença religiosa específica porque eles não necessitam 
dela. A psicologia profunda nasceli, na Idade· Moderna 
porque muitos necessitam dela. 'Realmente precisamo$ 
dela. ;'" 
Vários poetas do século XIX - Nietzsche, Matthew 
Arnold e outros2 - a~úp.ciaram que a mitologia Cristã tra­
dicional predoIllÍnan.te nã<;>mais servia ao seu propósito, 
e que os indivíduos IDQQerno!?nãQ ',estavam mais contidos 
por ela. No mínimo,a min9tia criatJ~adasocie,dade oci­
dental não ca,be.majs!lo recjpient~_dOÍI1ito 8ristão e, desse 
modo, está qb~rta ~ dispoI).~v~1 pará a possibilidade de 
descobrir empiricamente a PsicQlogia profunda. 
-.,«' . \._. "--:. ;~. t" (. !, I.: . ,",.,) l_ '.;': 
A idade da tdulsfôrmação '1 
I ~ ! '_:' \ ;. ~ ", ~ .. ~ ,'~'I 
Uma grande inudinça' aconteceu 'ná' psicologia cole­
tiva em torno do século XV. Como eu gosto de dizer, de 
maneira um tanto dramática, "Deus caiu do' céu para 
dentro da psique".3 Foi màis ou menos niquela época que 
a projeção coletiva da 'divindade: no rein~ métafísico do 
dogma religioso recuou. Foi um processo' lento, que co­
meçou apenas em algumas pessoas, más foi lá que ele 
realmente 'tev'é' iriíCio: kirriagem'de Deus foi se 'retirarido 
da proj'eção 'metafísicàeeritrando na psique.' O que vi­
mos, então, foi uma inflação coletiva,'um grande 'cresci-' 
menta da energia do ego, que' se manifestava em todos os 
lugares. As pessoas' 'começ'aràma 'exploraro'globo, e a 
fazer todô tipo'de descobertas nas' ciências e' nas'artes. 
Houve uma grande expansaoda consciência humana no 
nível do ego. Mas o preço para isso foi uma progressiva 
perda de ~ligàção coin 'a'dimensão' trailspe.sso,al, um pro­
cesso'que agorà:alcança setiápice~' ,; 
O ego-humano tomou o controle'das energias psíqui­
cas' de talformaJque a'realidade da'psique objetiva, a 
" , ':.­
Notes àn the Seminar given in 1934­
1939, e Edinger, The Mysterium Lectures: A Joumey ThroughJung's Mysterium 
Coniunctionis, pp. 222ss. (Nota do Editor) 
3 VerE;dil)ger, T.h.e. A.ion.4ect.ure~:Exploring the Selfin C. G. Jung's Aion, 
esp. caps .. 9, 10,23, (Nota do Editor) 
12 13 
http:predoIll�nan.te
http:po�!?~~piJ,i<1:�,Qe.de
realidade da dimensão. transpesso.al da: psique, queántes 
era garantida pelas co.nvicções religio.sas e' metafísicas', 
ago.ra encontra-se em grande parte ineficaz Como'um, fa} 
tor efetivo na vida coletiva. Essa situação atingiu um 
extremo tão grande que, da forma co.mo eU: a entendo., ela 
é o precursor da próxima era,~Esse estado décoisás esta:~ 
va previsto na Bíblia, no'Apocalipse, onde tudo está ex': 
posto de maneira simbólica.4,·' ~ :. 
A descoberta da psico.lo.gia profunda no. século. XX é, 
na minha opinião, pelo 'me?-.~~it~9, !~~çrtl1:ç.~equ~I1tp, 
igual em grandeza, à desco.berta da física nuclear. Vejam 
o que aconteceu. Por míH;tares de an9s, a humanidade 
possui o conceito. de'alma, de psique', de u~a consci~ncia 
elementar de qiI~ 'a > subjetivj~ad~ ~~manal~i um -f~tor 
muito importante, mas a humanid~de estava,tão!próxi­
_ _. \ c ( ••• _ 1" '" 
ma a essa realidade, que; ~ão ,conseguia trGltá-Ia de ma­
neira empírica ou cien~ífiça. '. 
A imagem que gosto de usar é a de um peixe nadan-. 
do numa lago.a. Existe uma anedot,a,agrad:%ye!, uma (ln~,.; 
dota oriental, que ch~gou, amim certa vez. O mestre Zen 
pergunta ao aprendiz: "Qu~~ descobriu a ~gua?" Oap'ren-: 
diz não. sabe, então o. f11e?tr~. respon<;l~: ,"Bom, eu, também. 
não sei, mas sei que~ não. a;descobriu; ~ 'peixe." 
Como. vo.cês. po.dem v'er, QS seres .hum~nos e,stão,exa­
tamente na mesma ppsiçãoem rel,ação..à psique.,~lel?,>;H 
vem dentro. dela. É o seu 'meio'ambiente,é existf!m aI-, 
guns pequeno.s vislumbres de luz so.breo lugar o.nde ,o.s 
egos individuais existemnesse ambie'nte' ger;:tl da psique: 
mas eles estão. tão. perto d~sse'qmbiente que não. conse­
guem reconhecê-lo co.mo um:objéto. empíric9 que po.dE2 ser; 
estudado da mesma forma como a natureza é estudada ­
como. um o.bjeto. Mas o qll:e aco.:ç.te.c~u. CQrn a desç,o.berta 
4 Ver Edinger,Archetype orthe apocalypse: A Jungian Study orthe Book or 
Reuelation. (Nota do Editor) , '. ...... " 
lá. 
do inconsciente, co.m Freud e Jung, foi que de repente a 
psique tornou-se um objeto do ego subjetivo. o.bservador. 
E foi isso que abriu as portas para o. estudo científico. da 
psique. Essa é realmente Uma eno.rme revolução coperni­
cana que ainda mal éomeçoti a penetrar, na consciência 
coletiva: 
,,~ f ~ 
Junge Freud 
Nós realmente devemos a descoberta' empírica do. 
inco.nsciente a Freud. Ele estudo.u. caso.s de histeria e, a 
partir desse estudo., desco.briu o. inconsciente. Jung, ao 
mesmo tempo,emborafosse dezenove anos mais novo do 
que Freud;conduzia experimento.s que chegaram ao. in­
consciente pqr um outro ângul<? Ele estava fazendo. ex­
periênçia,s 'co.m o. teste de asso.ciação. de palavras, o qual 
revelou o. que ele chamo.u deco.mplexo.s inconscientes.5 
Então, quando. Jung começou 'a ler Freud, percebeu que 
eles estayam lidanflo .co.~ o. mesmo fenÔmeno.,.e marca­
ram um~enco.ntro .. Foi um encóntrohistÚico. 
I J t r _ ' 
Bem, eu/Til uiiLtá.lo din Vúma eficamos convúsando por 
(reze horás sem parar.,·.. nem percebemos que estávamos 
" quase mortos ao final:daconversa ... Eu ainda era muito 
jovem naquela época, ele era mais. velho, ·tinha uma enor· 
. me e~per:iência e ~stq.va, é, ,claro, muitC?nÇL minha frente, 
. então;aqúiesci pç,ra poder aprender alguma coisa pri­
m~iro.6 ir " :.' .,' 
"'1\1' l (.1 ,-.' '1:­J 
Po.r alguns ano.s eles fo.ram co.legas. Embo.ra um es­
tivesse .emyíen<t e 0., ?:utro,er,n ,Zurique, enco.ntraram-~e 
com Gerta freqüêncí<;l:etíveram muitas co.nversas. HaVIa 
'\ . ~ , 
5 Ver Experimental Res(!arches, CW 2(CW é uma referência a The Collected 
Works orC. G.Jung). (Nota do Editor) 
6 Jung, "The Stephen Black Interviews", em Maguire and Hull, eds" C. G. 
Jung Speaking, p. 253, 
lfi 
http:uiiLt�.lo
http:transpesso.al
muitas diferenças, mas por um longotempó Jung sub­
meteu suas próprias idéias às de Freud., poiss~bia que 
Freud tinha mais experiência do que ele. No:e.qtanto, tudo 
mudou a partir da publicação, em 1912, do liy:ro'Transfor­ t 
mations and Symbols.of the Libido7; de Jung. Os cami­ i. 
nhos separaram-se nesse momento, pois Jung estava co.­
locando suas idéias para fora, e ele sabia ql,.le existiam 
diferenças muito sérias na forma como cada um compre­
endia a psique, especialmente em relação áÚ~iàJ, '6tie~er~ 
gia psíquica. 
'" ! J 1 ~ 1.,'", 
Aquele livro custou-me:minha amizade com Freud, pois 
ele não o aceitava.. Para.ele, o inconsciente era umproduto 
da consciência, qy.e sim.plrç.sllJe.iJ..te co.rl~~1Jha ?U(:i.o,o que dela 
sobrava; era Ulr;t tipo de ,quar~o 4e d,espejo 9nde toeja,s as 
coisas que a consciência -descartaüã' efá,.n: amontbàdas e 
largadas, Pará' mim, ja 'naqueld época! o inconsciente êra 
uma matriz, Uma base de consciência: de uma natu-r.eza 
criativa, capaz,de',atos·autônomos. J' '..J. < :"nJ~1 
f..'-' I 1_. ~jf. /" }1 
Jung passou, então, por' uma\profú'nda'experiência 
do inconscien'te, de'1914 ai 1'9-18, e foi'néssa épqca"que 'ele 
fez a descoberta pesso~l e'ilT!-ediatad9 inçonsci~nt~ cole­
tivo. Freud descobrira o irÍçonsdente, mas"ap~n~~ sua 
dimensão pessoal, que'é;ceFtamente; muito.reabOs con­
teúdos do inconsciente de J,i'reud referiam-s~'apenas à vida 
pessoal do indivíduo, à infância'em'particular; e':q.quanto 
o inconsciente coletivo; descobriu Jurig; àlargavaimen­
",' ,
samente as perspectivas da psique individual. I~so se deve 
.'} ,": ,,,,, '1 'J 
r~ "( "'r;.'{,i~;,r("",;lr'i"-I' ",~'1~~ 
7 A versão literal da edição alemã or!ginal' de 1912, Wandlungeri ulld 
Symbole der Libido, seria Transfõrmatiõris andSyíiibôls bt.tM <Libtdó" em \Jota 
em inglês o livro tenha se chamado On the Psychology ofthe Ullconscious:.~m 
uma edição bem revisada de 1952, o livro passou a se chamàr Symbols of 
Transformation, CW 5. (Nota do Editor) Em português, Símbolos:da Transfor. 
mação, (Nota do Tradutor) , ~:l, ' .... ''''" " 
8 Jung, "The Houston Films", em Maguireáhd Hull,eds., C, Q, 
Speaking, p. 339, , " 
ao fato de essa descoberta revelar que a psique individu­
al está flutuando, por assim dizeI!, em um oceano com­
partilhado por toda a nossa espécie. 
A natureza dos sonhos 
o que são os sonhos e como devemos compreendê­
los? Aqui, mais uma vez, existe uma profunda diferença 
nos pontos d~ vista de Freu~, ~...rung;~l~s~çmc?rdavam 
que o sonho é o caminho régio'paráü'iíí.cOIlsCiénte, mas 
discordavam quanto ao destino dessa estrada. Freud acha­
va que ela levav~à descoberta dÚ's desejos inconscientes, 
e que a naturezasimbólicà dos sÓnhbs"pôd'éria sei expli­
cada ao se po~t).lla'r aJ~m dp(rq~ 'c8D;s'hrq.Jung 'não acei­
tava essa i~~l?,çl~J,ei~~. ge,nplJ-n.1;, E?le Go~sideràya '9:\30nho 
um produto da natureza. A natureza p.ão' engana, ela ape­
nas fala na sua própria linguagem; 'e depende de nós 
aprendermos essa linguagem, chegar a uma compreen­
são dela .."' ., ", ': ,,,' i I"i'i 
Oss'Onhos' falam';\sim,: uma lingüagemsimbó1icà 
em relação aqual devemos adquirl'ta'Ca'pacidade:dé'coni­
preender. Existêm,tambéhi, diferenté's níVeis de sonhos 
- sonhós super.ficiais esonliós profundos;'son'hos peque~ 
nos e grandes sonhos. 0s grandes sonhos possuem;' em 
seu cont~údo,.imagens aiquetfpicas: Os 'sonhos menores 
parecenicletivár do:iricon'stiente pess6aJ;'é'os sonhó'smai'­
ores têm"> mais' do' que' ürilàreléVânCià pessoal: 'Eles 'S'ão 
relevantes a toda 'uma cornunid:àde, ou sociédadé, já que 
os fat6f.és) afquet'ípicós"qctedeterfuináin 'a éxistêriCia in­
dividual também estão op:erantes· na)coletividade mais 
ampla. E tanibéfué vérdade'<lue, em"àlguns casos, pode­
se percéber uma sabedoria'impressiónanterevelada nos 
sonhos, sabedoria não apenas do presente e do passado, 
mas às vez~s, sabedoria do futuro .. 
17 16 
http:fat6f.�s
http:sim.plr�.sllJe.iJ
http:Symbols.of
Jung demonstrou que o inconsciente funciona para 
além das categorias de tempo e espaço. Isso significa que 
um evento relevante ao qual um sonho se refere. pode 
 • ~JI 
encontrar-se no futuro, em vez de no passado, que o evento 
futuro está projetando sua sombra para trás, por assim 
dizer. Para o ego racional, é difícil aceitar essas coisas, 
mas existem dados muito claros de que essas coisas acon~ 
tecem. '", 
" 
f'\' IA criação da consciênciÁ " , " 
: ; ~ t s ~ ,,'I 'I , : " ) ~..t 
,i 
A consciência é umJfatorJ, e existe, um· outro, ' tão impor­
tante quanto ela, o ~nc:ons~iente/ que pode interfer,ir na cons­
ciência na hora que quiser. E claro que éu dissf! a mim 
mesmo: "Mas isso é muito desconf9rtável, porque eu acho 
que sou o único mestre' em miríhacása". Contudo, deÚiJ 
admitir que existe um outro alguém nessacasa.que pode 
fazer umas travessuras. 9 ; "i '. 
••' "_o • ,\ 
. '~;I, '~'~:, '. ~ • ;u;r 
Quando procuramos uma definição, estamos,tentan­
do conceituar uma experiênciª ou uma entidade. ,A pró­
pria palavra "conc~ito" <:arrega consjgo a ~~agem de cO+I1.­
preender essa experiência pu entidade, E para podermQs 
compreender alguma;coisa, devemos ter um alcap.ce gran~ 
de o suficiente para podermos incorporá,la. ~o entan,to, 
muitas dessas entidades básicas são t~o grand~s ql)e se 
tornam incompreensíveis pa:r;aQs meiQ.8 raçionais,.e tu,ç1ó 
o que podemos fazer é fal,ar s9qre o assunto, rod~~ando.~Q, 
olhando para os seus dife~entes,aspect9s ..I; J, ': j;: 
Então, deixem-me tentarfazer isso com a entidade à 
qual chamamos de consciênc.ia.':... '~' " ~ . , 
Thdo o que sabemos da con$ci~ncia é ,o que 0ê indi~ 
víduos experimentam; é um termo de!?creyend~rurria ex­
, > ~. ~ ':: 
p.340, 
.' I 
periência. E se vocês refletirem sobre a experiência, po­
derão começar a dizer algo sobre ela. Normalmente, é bas­
tante útil refletir sobre as versões iniciais de tal expe­
riência, então podemos considerar as versões iniciais da 
consciência. Por exemplo, em sua autobiografia Jung des­
creve sua expétiência de' tornar~se consciente mais ou 
menos aos onze anos. Um dia, sem mais nem menos, foi 
como se ele saísse de um nevOéiro' e percebesse: "Agora eu 
sou eu mesmo, agora eu existo".10 Antes disso, esse conhe­
cimento simplesmente nunca tinha ocorrido a ele. 
Consciência significa, acima de' túdo, estar ciente. E 
significa.não apenas estar ciente dós objetos, pois até 
os animais o estão; os' animais não ficam se chocando 
com os objetos, eles estão cientes dos objetos e mantêm­
se afastados deles, e q~ando eles vêem vocês, reconhe­
cem vocês e mantêm certadis'tã.ncia. Então; eles estão 
cientes dos objetos, mas não estão cientes deles mesmos. 
EssG\ ~ a, ,car~ct~rís:q9a F1J.~ial ~a,c~:hsç~ênci~: ~ conscjên­
cia éci~nte êIe si,me,sma, é oego fica:n~ocientede si mes­
mÇ). Quando Jung saiu' do 'nevoeir9 e percebeu "Eú sou", 
naqu~le exato mom'ento ó ego estàvàpérceb'erido~se como 
um objeto.', "','! ~I, " , , " ' ,", 
, , Esse é o grande mistério da consciência, e~a tem o 
. , " ," , "i i ... ": '}'.. • ' 
poder reflexivo de olhar para o espt'llhoe se epxergar como 
um~'irrUl&em ~,eparad~.Não éflP~nas u~,~cid'enteo fato 
de Iahweh, no Antigo Testàmento,'expor sua identidade 
como "E~ sou':.uAcho qu~~xi~t~\~mà'Iig~~ão entre a psi­
cologia da' conscIência'e a im.ágén; si~bólica de Iahweh. 
Vejam o q~e acontece com a desê~bérta rev61uéionária do 
,\,' " " '" °1 ' , ., " ", : , • ",~,,' 
"Ellsou". E um nascimento, coÍno vocês podem ver, o nas-
l ,. . ~ • ..' " • " . t, • 1 _ ".' ", . 
~. , :,\ I', j J ... 
, IO·Memories, Dreams, Reflections, pp. 33s. (Ver também "The 'Face to Face' 
Intervle~", em 'Maguire and Húll, eds., C. G.Jung Speaking, p, 425. - Nota do 
Editor), 
11 Ex 3,14. (Ver Edinger, The Bible and the Psyche: lndioiduation Motifs in 
the Old Testament, p. 48. - Nota do Editor) , 
18 
19 
http:consci�nc.ia
http:alcap.ce
cimento de uma luz que n~o existia ,antes, E;! () que ela, 
traz consigo é uma maior consciê,Iícja dflsobgrania d9.ego. 
No curso de perceber a própria exist~IíÇi~, () ~go p(;')r­ •q 
cebe, simultaneamente, que ele .existe.:em urrLamb~~nte, 
e que há objetos e Qutr,as pes.soas qlJ~o tambépl ex:is.t~m. 
Ao mesmo tempo, o indivíduo perc;eQe qlJ.e "l-, cO~$ciêf,lcia 
interna é um reino sep,ara,do'que nã()pocle.~ex,pen,e~r~d,o; 
é inviolável. Essa é a fonte do siml;wlismo do r~i, ,Q. r~C9-
nhecimento de que a c'Qnsciência tra~ GOI).sigQ uom Sf;I}$O 
de soberania. E esse é osentjdQquet"l-n,tós,f; fl?::pap.diu, na, 
sociedade ocidental W?S \Íltjwo$ :quinh~I).tos 'a,nos: â. per­
cepção do ego d,e s\.!.a s9.b~raniq em ,rela,çã9 à natur€)z,ae 
ao mundo. '" . 
A consciência no inconsciente 
" 
Estamos falando da cOrisciência 'e seus muiÚplo~as: 
pectos, o que traz à tonaooutra: pergUnta, que seri~: "EXiste 
consciência noincclIisciénte?" E a resposta é:'''Sim''. ~ung: 
discute essa questão hô importantíssimo' texto' '''On the' 
Nature of thEi Psyché",12 onde mostra'que a corisdênt{à 
existente no inconsciente é difusa e parcial. Elà não pos'­
sui a clarezà de enfoquequekúonsciência dp ego po'ssui; 
ela é de uma natúreza 'diferente e talvéz seja 'descrità1 
melhor como consciênCia latente. 'Isso,t~mbé'm' significá' 
queoinconscienteéumsujeito.t '''0 :~_·L,!I., ,) 
Parte do fenôm~no'da: consciência'diz r~speito à âis~) 
criminação entre sujeito e óbjeto, Estou ciente',cl.e quesoli; 
um ser consciente; sou o' suj~ito nessa: consCiência. Quan:', 
do olho para o mundo, vejo objetos e, nO'processo'de~e 
separar da identificação com esses objetos, ocorre uma se­
paração entre sujeito e objeto. Essa é a forma'como a tons-, 
12 The Structure and Dynamics of the Pf?ychg: 'CW 
ciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. Eu sou 
o sujeito, e todas as coisas com as quais eu tenho de lidar 
do lado de fora são os objetos da minha percepção . 
Agora, o mesmo aconteçe no mundo interno. O sujei­
to descobre. que Oiitconsd~:ritéposs'l;li conteúdos qu'e são 
objetos da>lpróP.ii'a s~bJetividadé. E'eu';possó percebê-los 
como objetos,'ê'fa'la~ 'delescqmo's~ndó apsiq'l;le objetiva., 
No entanto~\jéiã que posso·també~ êlizer que'a psique 
objetiva que eu percebo cóniô um' óbjeto' é~ 'ela própria, 
um sujeito, que me percebe como um objeto? E a resposta 
é: "Sim", Por definição, seáconsciêncja existe, ela tem de.. ,.." 
ter um sujeito, ela:"tem de ter uma base onde possa se 
apoiar. Esse é Qsentido -'da palavta;sujeito. 
À medidâ'que admitimosqu€j' o inconsciente possui 
uma consciência, admitimos que ele é um sujeito, que pode 
olhar para mim e se relacionar comigo como um objeto. 
Esse é o fenômeno expresso simbolicamente na noção do 
Olho de Deus. 13 •.- . ' 
Vejam, 'uma das características da expgriência do 
Si-mesmo é ser ooservado pelo Olho dê'Deus,' Uma expe­
riência muito inquietadora essa de ser observado com to­
tal objetividade por um sujeito interno que nos trata como 
um objeto. Ao serm'os tratados comoóbjeto, não somos 
mais soberanos. Enquantõsônios'o sujeito, somos o sobe­
rano, o soberano que examina o seu próprio reino. Mas 
quando so'moso,objeto; o 'sujeito que está olhando para 
nÓs.é'o,·soberano examinando o rein'o dele, e esse fato nos 
leva eíndireção a todo o simbolismo'assóciado ao arqué­
tipo:dd Julgamento Final.
.", ,; 
.-,j. 
"I' , ;.~ 
" ~ 1 <, ..)­ , 
~ 'I' 
13 yer ,Eding~r,(('{!e çreatiof!.,;r;.Consciousness: Jung's Myth for Modem 
Man., é5p. pp, 4255,; também Eding~r, The Mystcrium Lectures, pp, 218f. (Nota 
do Editor) ~ ,I ~., , ' 
_________ 9.L-._ 20 
A estrutura da psique 
Persona , I._.) 
Todo modelo da psiquedeve começar pelo ego. O ego 
é a base da consciência e o centro subjetivo' do senso de 
identidad~ do indivíduo: Desse modo, tudo o' que 'existe 
na consciência deve estar rélacionado' a uJ!l ego,. a úm' 
sujeito. é o ponto de partida.·,- .... - ., J.. , 
... 
" 
SOMBRA 
ANIMAIANIMUS 
,\'; 
: l~Jj 
"{J' .. ; .~ \ " 
Então, segundo o p1odelo de,Jung,. ao se olhar do:ego' 
para o mundo externo, existe uma função, uma entidade,1 
que ele chama de persona, palavra latina q1,lesignifica a: 
máscara do ator, e que é parte da palavra personaHdadeJ 
Essa função psicológica permite que o indivíduo funcione 
como um hipócrita. Uso essa palavra especificamente 
porque hipócrita é a palavra grega para ator, e :~(isso que 
somos quando funcionamos através dapersona ..Claro que 
ela também representa uma. funçãdde adaptação, ';lma 
marca da nossa ligação ao ambien'te, para que possamos, 
nos adaptar à expectativa dos outros. Mas o resultado é 
que todas as profissões tendem a desenvolver sua pró­
priapersona. Temos, assim, ap~rsona médica, apersona 
eclesiástica, e assim por diante. E claro que a análise tam­
bém possuipersonas, apersonaanalítica, o fato de se tor­
nar uma tela de projeção em branco, embora essa não 
seja aprovada pelos analistas junguianos. 
Desse modo, apersona.é ·a:entidade psíquica que 
opera entre'o ego e o mundo externo.Agora, quando olha­
mos na outra. direção, para .dentro, o que encontramos 
primeiro é a·sombra: Essa é aparte inferior da 'persona­
lidade, onde. se· encontram todos ,aqueles aspectos que o 
indivíduo"considera indesejáveis; escuros,' até mesmo 
demoníacos, emJ si mesmo. Em geral, não os ,reconhece­
mos por serem muito desmoralizante13. Essa é a primeira 
coisa com à qual'o indivíduose'defronta aO'se s'lJ,bmeter a 
uma análise profunda. Abaixo dela encontra-se o que cha­
mamos ,de.anima.e.de alJ,imus ,a,anima .representandoa 
imagem feminina no homem, e oanimus, a imagem mas­
culina na mulher. A projeção de animus ou: de anima é, 
muitas vezes, responsá,velpela experiência do apaixo­
namento ou~:de modó inverso, pot. uma imensa aversão. 
Por trás dessas imagens estão a Grande Mãe e o Pai Ce­
leste. ,E.·bemno centro.da;psique, se alguém conseguir 
chegar tão.· longe assim; está o Si-mesmo, a imagem in­
ternasle Deus. • :_ .~'. ,ti' 
Sombra' - , 
I, .. ':. 
Comecemos'com um.exame sobre como a sombra é 
criada~.- Pois ess.eé. () pano d.e fundo da sua própria 
integra.çãQ. Dura,nte a inf~ncia é a adolescência, à medi­
da que o egose desenvolve;.é'de vital.importância que ele 
estabeleça um senso :de .autonomia perante as outras 
pes~oas e:.o -mundo externo. É por esse motivo que, du­
22 23 
http:de.anima.e.de
rante alguns períodos da infância,' as .cr:ianças. dizem 
tanto "não". '::~,. 
Vejam, temos de ser capazes de,dizer '~não" 'Para po­
der estabelecer nossa distância perante os outros.: O ego 
não consegue se formar com uma concordância perpétua. 
Ele não se estabelece dessa forma.'Assim, àxnedida que o 
ego se desenvolve, ele diz;, "Não~:eu não gostQdissÇ>,.gosto 
é daquilo"; ele diz: "Não,.eu não so.uassim,.s.ou.assado; eu 
sou bom, não sou mau'~. E aoJazer' todas, essas,discrimi­
nações, ele cria a sombra, .0 .recipiente ,p'ar:a o.quenãoé. 
É de vital importância que um .ego jovem. se .sinta 
mais bom do que mau. Se.ele:c.ai na certeza delsermais 
mau do que bom, torna;'seum caso perdido. rEntãó, ele co­
meça a viver a partir.dessa idéia, e., aí temos ,a crimina­
lidade e todos.os tipos deéomportamento anti-socü,!1.Por 
isso, o ego deve. seícoÍlv,enc,er. de .qUe_é/mai,s .bom do; que 
mau. Mas e o que .acontece aJodas:aqú'elas cái::acterísti­
cas assim cha,madas.negativas, quede nega possuir? Elas 
vão para a sombra,.para. o inconsciente., ,.~ ',,;!. 
Acima e além da: soinbta pessoal, ·há ,tambémo. aF­
quétipo da sombra. Na .culturajudaico:,cristã"ele é.nor­
malmente personificado pelo, :diabo. : Quando a tsombra 
pessoal está inconsciente·; elase.funde ,com, a. sombra 
arquetípica; e.aí não há m~is:uma.discrimináção·claFa 
entre o pessoal e o arqúétípico, e;o ,individuo encontr:a-se 
aberto à possibilidade de realmente su:cumbir- à:posses­
são pelo arquétipo do mal. 
Mas, em algum momento, mais ou menos n~ meta9.!'l 
da vida do indivíduo, se ele estiver destinado ao desenvol­
vimento, esse processo de relação_com a sombra;.deve ser 
revertido. Ele deve começar~a recupera!' todos aqueles.as­
pectos negativos e inferiores que ele,rejeitóú nO.processo 
prévio de formação do ego. Mas esse~é·ur:ú negóçio.artisca­
do. É arriscado porque se o indivíduo for inunda,do de ma­
neira muito abrupta pelas qualidadesi.da-:sombra,. pod~ 
chegar à conclusão: "Na verdade, não sou a pessoa boa que 
eu pensava ser, eu realmente tenho todas essas qualida­
des desprezíveis". E isso pode ser muito desmoralizante. 
Como o indivíduo' se protege, para não cair nessa 
sombra arquetípica? Eu: só conheço uma maneira segu­
ra, que é ficar ciente da: existência'da sombra arquetípica 
como algo distinto da sombra pessoal. Em outras pala­
vras, uma compreensão intelectual desses diferentes com­
ponentes da psique já' pode ser uma grande ajuda. Pois 
aí, se tudo correr bem, virá à meI1te a' idéia: "Ah sim, li a 
respeito diSso no Jung;compreendo o que é e estou ciente 
de que não dev6me identificar com isso\'. 
Anima e aiúmus . ) . ~ " '" ~ .' .' 
O arquetipo' é u'ma'rorça. Elé temu;na auto~of7.1-ia e pode, 
apoderar-se de você de repente. É como um ataque repenti·' 
no. Apaíxohar-se aprimeira vista 'é alguma coisa pareci­
da com isso. Veja, você posslúcerta imagem de mulher, da 
n;ufher, dentro d? voçç'flteslXw, sem o !)aber. Aí; você vê 
essa" moça, ,ou, pelo menos,. uma boa imitação "dela,. e . na 
mesm,a ~Ora.voc~ sofre um ataque ..e l{ocê está perdido. E 
mais tarde você pode chegar à conclusão de ql.le fora um 
enorme engano: Um' homem 'é'capâz, ele é inteligente o' 
bastante, de perceoér que d mulher que ele "escolheu", como 
se diz, não foi u.n;a escolha dele, eleloi'capturqdof,Ele sabe 
q!le ela não é.legal, que ela é Um grande problema, e ele me 
conta tudo isso. Ele diz; "Pelo amor de Deus, doutor, aju­
, ' , . r ' ! '. ' )' , ! .' l t ~'I' ' 
de-me a me livrar dessa mulher!" Contudo, ele não conse­
gue sair, ele é como argila naimãos"clelcL Esse é óarqueti­
po, o arquétipo da anima... Coni' as 'mulheres acontece o 
mesmo: ,Quando .um homem canta muito alto, a moça acha 
que ele deve- ter um caráter espiritual maravilhoso, pois 
?le c·on,segue atingir 9 dó agudo, e ela fica extremamente 
desapontada quando casa com esse homem em particular. 
Bom, esse é o arquétipo do animus. 
14 
14 Jung,. ~'The Houston Films"; em Maguire and Hull, eds" C. G. Jung Spea· 
king, p, 294. 
24 
25 
http:aqueles.as
http:todos.os
http:Se.ele:c.ai
Jung diz que a assimilação da sombra é. a.tarefa 
ou opus menor, e que a assimilação da anima é o' opus, 
maior.15 Não é muito difícil obter algq.ma consciência so­
bre a própria sombra; está dentro do alcance da maioria 
das pessoas, ao lhes fornecer alguma in~trução e assis­
tência. Parece ser muito mais difíçil, todav~a,' tornar. a: 
anima ou o animus conscientes. :' 
Não são poucas as pessoas desavisadas, que I1ãj) re~' 
conhecem nem a exist~ncia empíricaq,à anima ou do 
animus. Elas pensam que são apenas conéeitos, idéias; 
dispensáveis em suas vidas. Mas eles não são apenas con­
ceitos, são organismos psíquicos vivos que êons~guimos; 
reconhecer e dos quais tornamo-nos cientes somente quan­
do passamos por uma experiência que nos, torna cientes'. 
Contudo, é necessária uma boa dose de insight para 
chegar a essa consciênCia. " ' " . . .. \, 
Falarei primeir;:)' da animâ 'no homem.' , 
A anima éilma enÜdaderiéa; conÍplexae ambígua, 
que contém muitos 'aspecto's diferentes; Ela'penetra'bem 
fundo no inconsciente coletivo 'e possui u.m aspecto "forte­
mente arquetípiéo. A anima també,n1 incorpónl todas as 
experiências importantes que o homem tem :de:uma. mu­
lher. Tudo isso é construído na imageIll daa",im4" de 
maneira que ela se' torna uma entidade fataL Fatalidade 
é uma das palavras~chave quepoclêm ser ápli'cadas à 
anima do homem. Quárl.do aàrl.Íma é\ ativada, pode-se 
saber que alguma coisa ,fatal ,está . para, aéimteêer, seja 
,.. ". • .; ~ , ~' " • • ,. • " "', , J' • 
para o bem ou para o maL" 
Assim como acontece'com todos os arquétipos, aqni­
ma é uma união paradoxal de opostos: Ela é, i:io mêsmo 
tempo, uma prostituta e a Virge~ 'M,aria. Ela tem pode-
I .. • ...: 
15 "Se o encontro com a sombra é a 'primeira obra' no desenvolvimento 
individual, o encontro com a anima é a 'obra·prima' ". (The Archetypes and the 
Collectiue Unconscious, cw 9i, par, 61). (Nota do Editor) . ' 
res, poderes divinos; de sedução e encantamento, orien­
tação e elevação espirituais. Ela pode tanto tentar um 
homem até. a sua destruição total, quanto levá-lo à sua 
maior realização. Essa é a amplitude de suas capacida­
des e não preciso nem dizer que um ego racional sozinho 
não consegue:,dar.conta-,de:·uma entidade de tamanha 
grandeza. Mas elaé isso mesmo.· r.: .. " 
Deixem-me repetir: -isso não é um conceito, mas uma 
realidade empírica Niva, que ,pode ser!demonstrada se 
vocês se derem J ao· tràbalho de olhar: pelo telescópio da 
psicologia profunda:. ,(Estou'pensando no' telescópio de 
Galileu, pelo qual as ,pessoas! se recusavam a.olhar por 
não querersaber.que Júpiter tinha várias:luas.) A gran~ 
de manifestação inicial~dadnúna!é; quase sempre, por 
meio de uma projeção.'Um homem :C:onhece uma mulhep 
que lhe .salta aos olhos ,e se apaixona: 'Esse· fenômeno· é 
uma projeção de anima.tTentem lhe.dizer, isso nesse mo­
mento e vocês· não chegarão muito.longe~ Mas a' projeção 
pode ser demonstrada.,'Eu i não l falo ~isso \paradepreciap 
essa experiência, de forma algum á; chamá-la de projeção 
significâ~que sua.força vem dedentro,-'não deforà, mas 
issôde maneirafalguma'diminui a sua! importância. 
" Às vezes, a projeção pôde . acontecer de Uma vez só, 
como·noambrà primeiravista,mas\ela:pode cair de uma 
vez SÓ" também. A pessoa, precisa apenas enxergar uma 
pontinha da falibilidade, ou dos defeitos pessoais da mu­
lher real; umà única' vez,.e issó pode ser. o· suficiente pára 
que toda a projeção colapse, desaparecendo no vento. Em 
tal casoi issô:significa queorelemento fatal da projeção não 
foi ativado:, Quando o elemento· fatal da 'anima é ativado, 
quando ele encontrá 'Uma mulher em particular lia qual ha­
bitar,então'essamulher torna-se o destino do homem, para 
o bemoupará.·o mal;.e pormáis que ele se debata, ela o tem 
em suas mãos. Um 'exemplo clássico disso está em Carmen, 
a ópera, mas os exemplos, claro, estão em toda parte. 
26 
27 
http:Qu�rl.do
Um outro modo pelo qual a ahima,pQde se ma:r:ifes­
tar é por meio da possessão dO.,ego,.e!D VflZ de;exer,cer um 
encantamento sobre ele, por. meio de,uma projeção.exter­
na. Se o ego cair em umestapo de .identificação. com, a 
anima, então o homemJoma-se meio,eferrünado,chorosb 
e ressentido. Isson?o .é . incomum. Qua1)do. a',anima 
manifesta como possessão, de ~mas,qualidades inega: 
tivas prevalecem;;Ilão :h;tum .l:1Qlido, operante, para 
se relacionar com elad.) que acontece entffio: é qJ,.I.e· O~ego 
cai em um compo:r.tarngntõre~esstvo,.infantil,~deun),jei; 
to ou de outro; o~,<}spectQmJiterno dª afúmq:.é :;ltj.:v:.adq 
internamente e o.ego .ficá. esperando ,de :tpdo:s :lllp.a· :rela~ 
ção de I)1aterÍlag~P1. Emyer§ões meIlOsexJrernas;:JerrlQS 
o que chamamos"de)huniox8s;~de_llnima, ,q\le,,~mgeral 
aparecem quando há JJ.ffi. conflito 1)a r~lação. A ']ilulhex 
cai em um humor de animus, o qual menci.onáre.i datJ.lli a 
pouco, e,o homem é.pre~flde um.humor d~ ani"!;ÇL. Phti. 
mor de animu$ çaZ:ªêteri.za~se .por~}1IÍl opiIlar,agressiy,Q, e 
o humor de anima por'-\lm.a.q\lêix:aSesse,Q-tida.:) c.;<;l.' 
Agora, vamos faJar do·aaimu,s.i· .'i' ) '- . 
do qUe lel! disiSe .sobre a à,nü:natflmbém:se 
aplica ao animu~ dê. UnlçH l1lIlIwr. Vejam, awOa.s.as imaÍ 
gens têm sua raiz,·no.s~-m~smo :e, ,de.ssa. maneira, pos­
suem a imagem de PellS em selJ. n\íçleo, QU .urna face da' 
Imagem de Deus. Coloqve.mrnas jUfltas"çoloquem-nas 
em uma sizígia, em \ln} par inqi$s,o.lúy,el; e eptão .voc~~ 
terão a combinação, a.,cor-iunCtiQ"as .d:uasda Imã7 
gem de Deus. ..'L. ) ~:' ,1.\' ,j 'f",J 
Assim cOmo a animq, o ,C!lJiPJ.l!,S ~fh~m~do a p,artir .d~ 
uma combinação de fatores Jlrquetípií;o.s ,8, pe$soais, E; 
com certa freqüência, assim como a roãe,pessoaUemum"!. 
contribuição a dar à anima do homerfuJambé.m'o pai dá 
uma contribuição enorme para a imagem realdo.a,nimus 
da mulher. Os mesmos fatores fatais aplicam-se, ames, 
ma ambigüidade, a mesma união de op.ostos.. _: 
O animus é, por um lado, o melhor guia espiritual 
existente, ou salvador, e por outro, um estuprador 
lento. Os dois lados estão 'i::óntidos na' mesma imagem. 
Não é pouca coisa uma mulher 'conseguir integrar essas 
duas imagens, reconhecê:''las éoin:b uma unidade. Um dos 
maiores empreenditnéntos psiéólógicos que Há é alcan­
çar tal grau de integraç'ãó, _ser 'capaz de' enxergar para 
além dos opostos, réconhécet que etes'são dois lados do 
mesmo fenômeno; 'E eles são mesmo: . r, 
De modo geral; o aniniustem máis a verébma men­
te e a anima corn:ocoração, de modo que ocohhe'êÍménto' 
dessas figuras:é da forma como elas' funcionam riapsiqliEi' 
é extremamente útil para se compreendér;o que acontece' 
nas relações íntimas. 
Vejam; em todo relacidnamento entre" os' ddis sexos 
há, na verdade,quàt:i:'o jogadores: ó ego do homem e ó dá.· 
mulher, .aaninü:i:'do homem e 'o ánimusda mulher. Issó) 
pode ser ilústtado da seguiiite inaneira: 16 . ,";;~ ,. 
:,..... r ,~ 'i ,T 'li. { , , t. ( 
ego 
da mulher do 
"t, . 
, í ,'" ~ , 
" ! -fl,. 
~\ " 
" ' , ~I' ). 4 I 
, ; ~" ... '.,\ . . , 
') 
. "1''' I: " rr! ,(. I ~, I ' 
16 Diaira~f!adaptad,o dp 1isçp~q 9~'.Jung em "The Psychology of the 
dor.,,..,,,,,", The Practiée afPsychotherapy, CW 16, par. 422. (Nota do Editor) 
28 
i 
29 
http:awOa.s.as
Quando um homem e uIl).a mulher se gostam e co­
meçam um relacionamento, primeiro haverá. entre ele~ 
uma relação no nível consciente. O homem, consciente­
mente, gosta do que a mulher: é,.e vice"vers<;, e ele~ come~ 
çam a se relacionar nesse nível; esse é o primeiro e mais 
óbvio nível. Mas aí, os outros jogadores entrqm na jog~­
da; se houver algum tipo çle profupdidadena relaçao de-o 
les, a anima do homem s~rá projetad,a, a tada à mulher, e 
o animus dela será projetado no homem. Aí então temos 
um intercâmbio mais complexo, pois:ohomem .. passa a 
enxergar não apenas a mulher da qual ele tem consciên­
cia, mas também a sua projeçã.o de anima; e a mulher vê 
não apenas o homem do qual ela tem consciência; mas 
também sua projeção de animus. . 
E ainda fica mais complicado,'pois o animusda mu­
lher vê a anima do ,homem 'e começa a re,agi,~a e~a; e-fi 
anima dohomem ..vê,o an.imus da mulher e reage a,f~l~: 
Então, como vocês, podem ver,. esse intercâmbio pode fij 
car bastante complexo. Quandoduas pessoas entram em 
disputas ou desentendimentos, uma consciência dessa 
fenomenologia estr-utural é uma ajuda para se resolver 
os problemas. . . 
o Si-mesmo 
7 '\ 
." 
O Si-mesmo é algo -realmente·imenso. É com ele ,que 
você se encontra ao descer:ao fundo do inconsciente co­
letivo. Uma das características dà-experiência;do Si-mes­
mo é que ela nosJeva a uma consciência .de que existem 
dois centros na psique. Essa.foi uma desçobérta,gran­
diosa do século vinte, feita por Jung, a existência 'de dois 
centros na psique individual, em vez de um. O ego é um 
centro, e o Si-mesmo, o outro. E quando a experiência do 
Si-mesmo irrompe no indivíduo, na mesma hora terp-se 
a noção de que: "Não estou sozinho, em' minha ,própria 
casa, existe um outro que viveu aqui durante todo o tempo, 
e eu nunca o conheci", Essa é uma experiência grandiosa. 
O protótipo disso é, naturalmente, a experiência do 
outro externo; todos nós vivemos essa experiência bem 
cedo em nossas vidas e aprendemos a nos ajustar a ela. A 
criancinha perCebe que não é o centro do universo, que 
existem outros centros que exigem a' mesma considera­
ção que ela. Isso então leva ao fenômeno da socialização 
do ego, à percepção do outro externo. A experiência do Si­
mesmo é a versão interna dessa experiência e, em alguns 
casos, o impacto é tão grande 'que estilhaça o ego. Pode 
gerar uma psicose, esse tipo de experiência. Mas quando 
o ego está desenvolvidó o bastant~, de modo a ser capaz 
de viver essa êxpetiênciá, torna-se possível assimilá-la. 
Agora, o que acontece com certa freqüência é quê, se 
há algum sistema' 'religioso ou mitológico à disposição do . 
indivíduo, a experiência sêrá assimilada den.tro dessa' 
formulação religiosa em.particular, e sêrá descrita como' 
uma experiência de Deus,dentro'dos preceitos dessa re­
ligião. Mas o que temos em mãos agora, pela primeira 
vez, é a oportunidÇ\.de de .criar uma ciência empírica que, 
diz respeito a 'esse 'nível de realidade: psíquica. Sempre 
tivemos inúmeros credos de diversas formas; mas nUI).ca' 
tivemos uma ciêncía empíriça desse fenômeno, e foi'isso 
que Jung disponibilizou para nós. 
I{ I . , ~ ~ ,', '\ ~ í I' 
Individuação 
;. ." j \ 
" f ,0 '\t 
I' I'i' ), . l 
Individuação é um termo muito usado por J ung para 
descrever todo, o processo psicológico no qual o ego torna­
se progressivamente consciente de sua'própria natureza, 
de seu background, e da base à qual ele está ligado. Uma 
outra forma de explicar a individuação é dizer que ela é o 
processo pelo qual o ego toma consciência do Si-mesmo e 
30 
1 
http:oportunid�\.de
se relaciona com este; ou que é o processo pelo qual o ego 
experimenta'uma diferenciação de suas iden­
tidades coletivas. . , , \_' '; 
O conceito de individuação abrange uma área enor­
me. A palavra possui'a mesma raiz de indivíduo, o que sig­
nifica que é muito. fácil confundir individualismo com indi­
viduação. Gosto muito, do Emerson, e ele é bem relevante 
para toda essa questão, pois ele foi o grande expoente ame­
ricano da dignidade e da amplitude do individual Ele é 
tas vezes mal compreendido porque as pesSOas aéham que 
ele prega um tipo de individualismo egoísta, o que não é ver­
dade. Em seus ensaios está claro que ele tinha a consciên­
cia intuitiva,do que Jung chama'de Si-mesmo. Vocês podem 
encontrá-la no artigo ~'The Over-Soul",F por exemplo. 
O século dezenove ainda não possuía a consciência 
conceitual dos dois diferentes centros da psique,'de modo 
que o comportamElntQ egocentr::ido e o, comportamento 
centrado no Si-mesmo-não podiam ser: diferenciados. Isso 
leva a uma confusão e à má c,OmpreensãQ de pensadores 
como Emer:son. Contudo, individuação não é i:pdividua­
lismo. O individualismo é o engrandecimento do Elgo, en­
quanto que a ipdividuaçãQ s~ refere ao processo por meio 
do qual o sujeito descobre a rea,lidade do Si~mesrno, o se­
gundocentro da psique,e Elntão reJacionao ~eu modo de; 
vida a essa liga:ção. " ;. " ;~l' ,:j, 
O paradigma clássico do mito cristão para esse tipo 
de experiência é a conversão dEl Paulo no caminho de Da­
8 
masco.1 Ele teve um encontro com o Si-mesmo,rsimboli_ 
zado pela imagem de Cristo, e esse encontr~'t~~n'sfo~mou 
sua vida. A partir daquele momento: ele não eta,rliais um 
homemegocentrado, m'as úmhomem centradQ.no,Si-mes_ 
mo. Ele chamou o Si-mesmo'de Cristo; pois essa foi 'a ima­
l7 Emerson $ artigo ix. 
18 Atos 9, 
gem por meio da qual ele assimilou a expe:-iência. E, de­
pois disso, em suas cartas, ele descreve a SI mesmo como 
o "escravo de Cristo" (a tradução inglesa suaviza a ex­
pressão e o chama de "se1!Vo",mas ,no original encontra­
mos d'u'ls, que significa escravo). Esse é o efeito de um 
encontro decisivo com o Si-mesmo: Ele' gera um contato 
com uma autoridade que carrega um tipo divino'de qua­
lidade, de maneira que o sujeito sente-se obrigado a sere 
vi-la. O resultado é que o ego fica' relativizado. Essa'é a 
maior conseqüência da individuação" o que ,é muito:dife~ 
rente de individualismo, ;. -. ,'.'" . 
Anteriormente, falei ,dó ego como se fosse um-peixe 
em uma lagoa, que nãdtem consciência do meio rtoqual 
ele vive. Da mesma forma, o ego primitivo e imaturo existe 
basicamente em identificação com seus arredores., Ele 
possui apenas uma.consciência,frágil de sua :existência 
individual. A maior parte das energias e dos efeitos da 
psique são experimentados como algo externo. Isso está 
expresso naquilo que chamamos de fase animista da reli­
gião, quando espíritos animados são percebidos como en­
tidades existentes em nossos arredores: "Algumas á1!Vo: 
res ou animais possuem espíritos animados, e uma pessoa 
primitiva, ao ter de tomar uma decisão, diria: "tenho de 
consultar o meu espírito da árvore"; ou "tenho de consul­
tar a minha cobra que vive em um buraco ao lado da mi­
nha cabana". Esses são exemplos do que chamamos 
animismo, e eles ilustramo'fato de que.a psique primiti­
va encontra-se exteriorizada:..- o individual estáespalha­
do por toda a pàrte:,' ,_. \1 , 
Algo semelhante 'acohtéce"ao hbmem,modetno nos 
primeiros estágios de desenvolvimento egóico. Todos nós 
começamos identificados com o ambiente e com as pes­
soas que se encontrarn nele. É isso que torna -a opinião 
dos outros tão extraordiríariamente.ünportante para os 
jovens - a psique deles encontra-se nos outros., ; , . 32 
33 
Agora, o processo de indi~iduaçãq, cómo Jung o con­
cebe, é um processo atr,avés,do ql!-aJ o indivíduo coleta, 
progressivamente, esses pe,daços de simesnw e "devolve­
os" ao recipiente ao quaIeles pertencem. BoIll,"devolver? 
não é bem a palavra çerta, pois, p,ata cOmeçar, eLe$ nuncá 
estiveram lá. De qualquer modo; ~(transfere-os" de ,S1.la lo­
cação externa pÇlr~ a unida,qe conteI1tora, qa psiql,le indi­
vidual. E ao fazer isso, o indivíduo descobre coisas notá­
veis. Ele descobre que ~ dife,rente de seu grupo, de $e11S 
amigos, de ~elJ cônjuge. 
Veja, enquanto nos identifica,rIllos, torÍ:l, o.utras pe,S­
soas, ou com U!l1a outra pes,Soa, estfl1l10S admitindo, auto­
maticamente, sem nenh-q.ma reflexão, que certas qua,li;­
dades ,e,experiência$ básjca,s e$U~os.endo co..wPÇlrtilhad.as. 
Ent~o, é l!-mª_revelaç~o e tanto de_$cobrirquen,ão, Çlol.,i­
tra PI?Ssoa~ bem separaqa, com e~periência,s,e percep­
çÕ,es bemdiferente.s, Ull1 mundo totalmente dif~re.p.te, n,à
verdade: ", I ­
,. '- ( '- I 
Essa,s descobertas. são' toda,~ ,partI?, dPPTocessQ.ge 
individuaçi~.9, nQqual o indivíduo discrirp.ina-:$e, ,ç~da ,!,ez 
mais, da participation mystiq~e iniGial-,esse ~ Um termo 
técnico empr~gad9 .Q:~ psicologia jUI!~ianaL qUe yem do 
sociólogo ~~'\{!:Bruh!,.19~pois descreve de maIJ.eir,a muito 
adequada o e~tad9 do ego pr:im~~iyo identificado cqmseu 
ambiente. Pess.oas,relatiya:n1ente maduxas nãoqeve,riam 
se gabar de est~r livres d~participCftion mystique, poi$, 
podem acreditar, não esta,mos livres dela,. Durante_tQda, 
a vida descobrimos pequenos. pedaços de pçxrtiç.,ipation 
mystique, em lugares onde supomos p.avE)r algm;n tip9 de 
identidade quando, n~verd.ade, estawos lidandocoPt pro­
fundas diferenças individua,is. 
, . 
19 Claude Lévi-Bruhl (1837-1939) foi um filósofo francês.cujo estudo sobre 
a pSiCOlOgia dos povos primitivos deu à antropolo~a: uma nova abordagem 
para a Compreensão de fatores irracionais no pensamento'social,'na religião e 
na mitologia primitivas, (Nota do Editor) . '.: .i L •.. 
Ao longo do processo de diferenciação da identidade 
e realidade individuais dos outros e do ambiente, o indi­
víduo também se diferencia dos fatores internos. Vejam, 
essa desidentificação procede à medida que o 'processo 
analítico revela os .fatores internos, como objetos. 
Uma vez que um fator interno é percebid(l como um 
objeto de escrutínio, ele é percebido em ~ua diferença e o 
ego não pode mais identificar-se.:com ele. Assim, o indiví­
duo pode tomar consciência da sombra, e se. relacionar 
com ela, sem cair numa identific'ação com ela, ou projetá­
la. Projeção e identificação são duas versõ~!S do mesmo 
fenômeno. Da mesma forma, quando oindivídúo torna­
se ciente do animus ou da anima, ele não cai máis nem 
em uma identificação com a imagem nem em uma proje­
ção. A mesma coisa acontece ,com o Sio-mesmo. 
Então, esses são os procedimentos, procedimentos de 
longo prazo. Aindividu.ação é uma tarefa para avida toda, 
e só pode ser alcançada q:uando uma quantidade signifi­
cativa de energia é aplicada,a ela. Ela não é um trabalho 
de meio período 'porque ela é,o próprio processo da vida; 
ela incorpora _tudo 'o que acontece em,nossa vida. ' ' 
,~~ ) I ~ : 
Implicações' s~c,iais; 
, I 
À medida que: o ind.ivíduo progride no processo de, 
autoconhe:cimento, qu,al alimportância 'de' se apmU'''': 
der sobre cada, um desses items, dessas funções, que aju­
dam a compor'aestrut1:lrada psique'da forma,como,des~ 
crevi? . .' 11;:, ' ; . :' I C 
O ego é,o ponto,dê.p.artida'pÇlnltudo._Umdos objeti­
vos do processo de. vida,~ do processo natural de vida, bem 
como do processo de análise,é,o,desenvolviinento do ego~ 
Não há como passar porumà. análise de verdade, por uma 
confrontação efetiva cóm o'Ínconsciente"a não ser que se 
tenha um ego viggroso, responsá~el e ético. Antes disso 
""" a ...~TA r\('\ pnv~ 
34 
35 
http:dPPTocessQ.ge
http:dif~re.p.te
http:co..wP�lrtilhad.as
http:nenh-q.ma
," 
li não há como colocar em prática uma'análise 'profunda, 
'I apenas uma psicoterapia de apoio 'que promova' o desen_ 
volvimento do ego. "'" ',')', " ,,', . ',,','. 
É de vital importância, em termos de umal estrutura 
ili social estável, que os/membros da soCiedade tenham egos 
bons, fortes e confiáveis/Isso' significa que eles precisam 
:11 ter uma percepção:autêntica.de sua própria identidade; 
I 
,11 eles precisam ter adquirido uma estrutura de 'caráter que 
lhes possibilite funcionar de maneira responsávehm re­
lação às outras pessoas./Iüâoisso é produto do desenvol­
vimento do ego. Assim, para começar, o desenvolvirriento 
do ego é bom não só para 'o indivíduo; mas também para 
a sociedade. , ;, '" " II ',' 
f 1 i -,. '! 
J ,I " 	 I~ ~ 
Consciênciáda pers~ría •. ,:';, 	 ::1 q' 
. • • , /;. - \ ~ I. , 
',I 
J I "f ~1 
Agora,. qual é o'valor,'para oiindivíduo ou para'aso­
ciedade, de se ter uma ,consciência da persona? Aqui nova" 
mente, assim 'como em.todo o autoconhecirnento,tanto o 
indivíduo 'quanto a' sociedadel são' beneficiados., 'Vejam; é 
I
/ muito comum, em maior ou menorigrau;'que'aiguém'se
I identifique com a própria persona. É tão conveniente. Já é 
1I1 bem difícil ser competente na área profissional e, .uma vez 
I/ que se adquire essa competência, as s'atisfações d~ssa con­
/1 quista são tão' importantes que existe forte téndência de o 
/1 indiVíduo se identificar Com esse papel profissionaL,. ',í ; 
11/ Assim, o sacerdote adquire uma persona apropriadáJ 
ao passar pelo seminário, e começa o seu ,primeiro traba"! 	 lho como pastor assistente; o estudante de medicina ad~ 
quire a persona médica, o advogado adquire a sua; e as­
sim por diante. E, uma vez adquirida, aS'coisas funcionam 
tão bem ao colocá-la em operação que existe forte tendên" 
cia de se identificar com ela.iMas o problema é que; 'para 
a sociedade como um todo, quando alguém se 'encontrai 
com o seu médico, seu pastor, seu ,advogadoj'Qu COm'o que' 
36/. 
uer que seja, não está encontrando com um ser humano 
~teiro. Está encontrando-se com a máscara. 
Posso lhes dizer que isso é um grande problema na 
medicina. Os médicos são muito o~upados e ser uma pes­
soa real demanda muito tempo. E muito mais fácil fun­
cionar através da persona médica. A grande vantagem 
disso, embora temporária, é que não é ,necessário fazer 
muito esforço, você não precisa dar um retorno aos pa~ 
cientes a partir das realidades humanas mais profundas. 
Assim, você pode produzir muito mais em um dia;, pode 
visitar mais pacientes." L.eva muito mais te.mpoescutá­
los e dar um retorno mais humanoe isso lhe. deixa com­
pletamente atrasadono,s.eu,hQrário. ,~, " 
Tudo isso é compreensível. :Masseo auto-conheci-' 
mento está emjogo ese .0sjndiY~duos qu~r~m ;=ttingir uma 
personalidade completa e'simétrica, é importante que 
eles percebam a re;=tlid;=tde da:!Jer$ona e 9 fato de que ela 
não é idêntica ao ~gQ, Se eles, ,pqr aca.so,identifiçam-se 
com ela de vez em qUq,!ldo,, dev~mrentenderque estão 
diminuindo a si,mesmos. Uma vez que ess,as coisas fi­
cam claras, a id~ntificação inicial é quebrada e,mesmo 
que você escolha· funóoI).ar; ,a, partir ,da persQnaem, al­
guns momentos"você 'sabe.o, que está fazendo . .faz uma 
enorme diferenç~ o fato ,de se,fazer,algumaeoisa cons­
ciente ou inconscientem«;n.t~, pois a ~scolha está emjogo. 
I ~ ~r ! (t" 'I'),' ,:) #; I.! 
Consciência da.sdmbfà'f. I '1 fi . 
~ ~ J (~ ;. ~ ; 
Indo para o proxtmo iteIIl,q. sombra, qual é a vanta­
gem social de se estar consciente dela? Posso lhes dizer 
que a vantagem 'é imensa, porque enquanto o sujeito está 
inconsciente da sombrk, ela'é projetada, normalmente em 
uma pessoa oU'grupo quefotnece'algum gancho, alguma 
qualidade' qUe, 'talvez apenas em um pequeno grau, 
corresponda/àrnatureza da própria sombra do sujeito. 
37 
http:fun�oI).ar
http:percep��o:aut�ntica.de
Quando isso acontece, o projetor passa pela .qeliciosa ex­
periência de localizar o mal. Ele está ai,em você. Agora 
eu sei o que devo atacar parai transformar' o mundo em 
um lugar melhor. Nas projéções de sombra menores, tal­
vez nenhum dano muito sério seja causado. Apenas um 
arranhão na mecânica comum das relações'humanas or­
dinárias. Mas quando ela,câmeça a'funCionar em-escala 
coletiva, é um desastre. _ '. :,' 
Eu nem-preciso: dar exemplos disso,' pois eles .podem 
ser vistos sempre que se,tem umá facção em oposiçao a 
outra, atribuindo. todàsas intenções' más; sombrias, se 
não diabólicas, ao inimigo"Vemos isso acontecerem to..: 
dos os lugares. É Umá conséqüência- da 'projeçãó da Sóm~' 
bra, e. é1realmente uma .vergonha;· hoje :em dia, um ser 
humátio iupostarrrente maduro ser pego'em pUras proje, 
ções da sombra. Mas,vergonha oil não,; acontece' o tempo 
todo e traz enormes danos à nossa estrutura s'ociaI.; 
Desse modo, à medida que um indivíduo, por meio 
de um Processo analíticoóu.qualqueroutra coisa, toma) 
consciência de sua sombra, é menos- provável que ele a 
projete. Ele passa a reconhecer que àqualidade, idéia, Ou'1 
estilo de vida particular-que etão irritante na outra pes-' 
soa é, na verdade/timaexpressão de sua própria 'sombra,: 
que é responsável pela irntaçãd; ,Pod'eínos- tetcoisas de 
que gostamos ede·que não gostamos, mas quando certo' 
nivel de afeto entra em ação; essa é uma indicação infalí­
vel de uma prOjeção dá sombra. Aqlieles $Ue es,tã ;IWonSj 
CIentes de Sua própria sombra são uma enormeoameaça 
ao bem-estar da socü~dadeco1no'lúri todo. ~ .,: _ /, . 
',; ..::.' ~ • .r - •• ~ _ ,,f _ ,_: .:h ~'. ~ ,:, 
Consciência do animus e da anima '.~,. 'J',p 
f-. .'• ~ - .• ,j •.J!.. ' 
Aqui chegamos a umq.camada ~aíspro:(u~dq.doih:;
consciente, onde os aspectos sociais,não pogem,se;.,de.!j_ 
Crttos em termos tão simples, Elesestão,presente,s"mas 
são muito mais complexos. Certamente, podemos dizer 
que alguém que possua até mesmo uma consciência ru­
dimentar da realidade da anima ou do animus irá se re­
lacionar com o sexo .oposto de uma forma mais autêntica, 
mais consciente, mais profícua e mais realista. 
Afinal de contas, a relação entre os sexos é funda­
mental para todo o processo social. A família baseia-se 
nela, e a criação dos filhos, seu hem-estar e desenvolvi­
mento psicológicojnicial, em muito depende do nível de 
relacionamento consciente existente entre os pais. O tipo 
de relação compreensiv.a, ' que consegue suportar o inevi­
tável conflito dos opostos, beneficia-se de uma conscien­
tização do animus.e daanima.\ Com,essaconsciência, 
evita-se a projeção mais·pura.e a pessoa pode. se relacio­
nar com o parceiro a partir. de sua:realidade" em vez de 
relacionar-se a partir. das expectativas. ilusórias, que se 
tem quandot.se projeta:a' anima ouo.animus. no.parceiro. 
-'t't :- ~~....,.,. (. , : ),~ 
Consciência dó Sicmesmo (, .. 
~ r ~ • , : , .' ,..... , ': J '~, ; 
Como eu já .disseantes, o Bi-mesmo é o centro e a 
totalidade da 'psique. ,Um de seus sinônimos é a Imagem 
de Deus interna. Ele é.a autoridade transpessoalda psi~ 
que. O egoé. a autoridade menor, o Si~mesmo, a maior, 
Quando o indivíduo estabeleceum.c.ontato c.Om o Si;:mes7 
mo, o ego se relativiza; ele reconhece que sua vida deve 
ser governada por uma autoridade superior a ele mesmo. 
Agora, o que talreconhecjm€mto tem a~ter'éoma so­
ciedade? Muita coisa, na verdade. De certa forma; pode­
mos dizt7f q~e -à' sociedade é '0 e$pelho exteriorizàdo da 
psiqu-e' individuaL Todà sociedade: possui alg'úirl tipo de 
líder '..:,:U:Ín: reÇpr~sidente','6u primeiro~r:ni~istró.Às ve­
zes, é uma oligarquia de aristocratas. Contudo, para que 
uma soCiedadéseja cresa é' orgânica, ela sempre precisa 
ter umà aütoiidade~entrar,e essa autoridade social.cen~ 38 
http:primeiro~r:ni~istr�.�s
http:quandot.se
traI, externa, é um espelho da autoridade interha-do Si­
mesmo. Ê por esse motivo que, quando se, sonha com um 
rei ou um presidente ou com uma capital,na maioriados 
casos esse sonho se refere 'ad Si-mesmo. ' , 
O que está emjogo aqui é'a relação do'indivíduo Com 
a autoridade. Se ele não possui 'umaconexão com o Si­
mesmo e, particUlarmente, quando.oego é fraco, quando 
existe um baixo nível de diferenciàção~Psico1ógica _ espe~ 
cialmente em tempos de distúroios sóciais'e.angústias-i­
há forte tendência do Si-mesmo, o 'princípio da' autorida­
de organizadora central da psique, ser'projetado. 
Em tempos de corifusão,' o aspecto compensatório da 
psique é ativado;~ a desordem constela a 'Ordem ~, em tais 
circunstâncias,. a ordem é, em:geraI,impo,sta com um'grau 
de disciplina e,autoritarismo:: ~ ':, ... 
O que pode acontecer em tais casos são projeções- co'" 
letivas maciças do Si-mesmo em um líder, um Führerpor 
exemplo. Isso aconteceu na Alemanha nazista, e temos aí 
uma lição da magnitude, quaseinimaginável, dos perigos 
da projeção, da projeção coletivá, do Si-~ésm~. Também 
podemos observá-Ia'em~todos os tipos de; cultos religiosos 
carismáticos e,. em menor escala, emtodos os lugares. QUàn: 
do perdemos a contenção exercida por nossos mitos religio~ 
sos convencionais;'esse perigo' cresce. Essa éa maior amea~ 
ça à humanidade,t muito maior: do 'que a boinba 'nuclear.'1 
I' tl'" ' '.' _1~. "J'_ • J.\ ' : ~ .' ,,"";., ;~ 
.' ~,fi il 
, ,'- ... ' li : ',: : : f. I !;:- r ~,. \)'
Transformação ~~Jíp~~eWAe Deus 'I! d ", " 
,'I·' ; "'I" I " , 11 1;.,)'.'. i ,.,' " , " 0,1" " 
Jung coloca esse ~onceitó de f9rll1a muitõ sucinta .éní 
" , ' , ' ) '. ') , p, ,- ,.": •.' I, )" " 
Resposta a Jó', quando diz: "Q1f~rp:c~~heç~;fJJe~'H' age 
sobre Ele". 20Vejam, ess~:ç mp~ q~çl#raç~osiP1Bólica. ~:m 
I l, : f I : '. r" :' ~. 
20 PSYChology and Religion, CW n, par. 617 ..yer tamb~m Eclinger, Tran.s,­
formatLon ofthe God-/mage: An Elucidation ofJungí; Answer to' Job, pp. 60s. 
(Nota do Editor) " " .:~" , , '1, 
termos psicológicos, o Si-mesmo precisa do ego, da cons­
ciência e da relação do:ego'para com ele" para que possa 
ser transformado. Assim; colocamos essa idéia em nossa 
linguagem psicológica' neutra.. ,. (:' 
O Si-mesmo,ou Imagem de Deus~ .em sua forma in­
consciente, como eu jádisseantes,.ê uma.união parado­
xal de opostos. 'Esse é o;solo, de nosso, ser psicológico, e o 
Deus cristão do·amor.é;apenas.uma metade dela. Ê por 
isso que Satã nunca desapar:eceu;ele leva uma existên­
cia isolada, mas ainda está por aí. Jung nos demonstrou 
que Cristo e Satã são os dois filhos, os dois filhos opostos, 
da mesma diyindadeJparadoxal.~,.l.E- quando' essas ima­
gens chegam 'ao alcanceda'experiência empírica,elas. 
requerem algum tipo de reconciliação. Elas geram um 
conflito interno. intoleráv:el até"que. atinjam alguma re­
conciliação, e isso! é'o que acontece quandoo',indivíduol 
encontra a Imagem: de 'Qeus primordial: em seusr opostos: 
paradoxais. Ele experimenta a'ativação· do conflito ine­
rente à natureza da divindade. No entanto, também está 
contido em toda essa' dinâmica p potencial para a união: 
dessesopostos,que,Jem p1uitos casos;· pode ser ·alcançad& 
no processo de1individuaçãó por meio ,da imaginação ati~ 
va. A conseqüência:disso<.é:que'aJpsique,não mais, se en-'; 
contra dividida.' ,) ~);" 'l,\I.'Í' ' • ' >',-, 
A psique cr,istã~estádividida,:eisso englobá. a todos) 
nós. O fato de você professar ou não o.cristianis~o é irrele'é 
vante; ele faz,partelda psique coletiva' compartilhada por 
todos nós\ ,de modo 'que .estamos:,todos divididos,. pois a, 
Imagem deBeusestá,di\iididaiNaNerdade; a divisão ocor­
reu antes mesmo do cristianismQ;ela ocorreu com Platão 
e os Estóicos; de forma que ela !possui uma raiz filosófica 
também:'Mas::essa diyisã9,·!~.ssa. duplicidad~ paradoxal 
21 Ver íbid., pp. 11,81, 121s., e Edinger, The Aion. Lectures, pp. 565. (Nota 
do Editor) 
40 
da divindade, é o que sofre uma reconciliação':etransfor­
mação quando uma consciência humana individual com­
promete-se com essa questão profunda. em sua própria 
vida. Assim, essa pequena parte da psique coletiva car­
regada pelo indivíduo é transformada. Se um :número 
suficiente de indivíduos passa.por essa experiência e, 
desse modo, participa dessatnansformação da' Imagem 
de Deus, eles agem como um tipo'de, influência para a 
sociedade como um todo e, de maneira bastante' gradual, 
surge uma nova Imagem de Deus coletiva. 
Bom, esta questão aparece· muito no pensamento 
moderno: "O Cristianismo 'está cornos dias contados? Será 
que ele está Iseesgotando?" Jung, fala algo ml,lito inte­
ressante a esse respeito. Ele diz que omito cristão possui, 
nele próprio, como parte de sua estruturatemática, a morte 
de Deus\Vamos ver se eu consigo explicarisso,:pois acho 
que é uma questão de muita impoItância. 
Segundo o mito cristão; e eutrabalho'em cima~disso 
no meu livro The'ChristianArchetypel:Deus desce à ter­
ra ao encarnar..;:l si' próprio como, homem, por meio da 
intervenção do EspíritoSantó,.que engravida.a Virgem 
Maria. Deus vive/então, ,na forma'de ,homem; uma vida 
humana na terra. Ele sofre uma pai4 ão, morre; ressusci­
ta, e aí ascende aos céus. De modo que,' éI?;l sua forma 
encarnadá, Ó, mito descreve ~a divindade pàssando por uma 
morte. O que' acontece, então, depois' de.lsua morte,.'se" 
gundo o mito cristão, é que' .0. Espírito Santo .desce mais 
uma vez durante o Pentecostes~ E dessa vez, ,de ,acordo 
com o dogma, nasce a Igréja~ OPEmtecostes'.é consid.era~ 
do o nascimento da Igr!')ja;,Assim; o ciclo.da,.encarnação 
se repete: o Espírito Santo, a.dí:v.indade, de$ce ,e encarna, 
por uma segunda vez na Igreja; que se autodenomin~o 
corpo de Cristo. 
22 Ver esp. pp. 128s. (Nota do Edito~) 
Então, segundo certos teólogos ,23 a Igreja como o cor­
po de Cristo é obrigada a viver a mesma seqüência fatal 
de Cristo. IssO significa que a Igreja também deve passar 
por uma paixãO e uma morte. Pois a Igreja projeta esses 
eventos lá para o dia do juízo final, para o mais longe 
possível. Mas, do ponto de vista psicológico, devemos con­
siderar que isso está acontecendo neste momento. Com a 
Igreja comO o corpo de Cristo, a encarnação coletiva de 
Cristo, por assim dizer - Cristo foi a primeira encarnação, 
individual, a Igreja foi a segunda, coletiva, que também 
precisa passar pela paiião.e pela morte, e pela ressurrei­
ção _, segundo o meu ponto de vista, aressurreição inicia­
rá um terceiro ciclo, no qual o Espírito Santo se encarnará 
noS próprios indivídttos. .
Esse é o argumento de Jung. Como vocês podem ver, 
quando eu o esmiúço dessa forma, ele se'1ll0stra uma conti­
nuação e reinterpretação consistente e bem apropriada do 
mito cristão. Jung tinha, na verdade, uma grande.preo­
cupação de que o mito cristão não 'se perdesse para:o ho­
mem moderno. O que ele forneceu foi uma reinterpretação 
transformativa,do mito, com a noção da encarnação contí­
nua, a qual preserva. todo o rico simbolismo cristão, agora 
compreendido em um nível intiividual, psicológico. É assim 
que consigo entender o que significa uma nova época, e é por 
isso que Jung é, para mim, um homem que marcOU época. 
Estamos caminhando para graves distúrbios na es­
trutura social coletiva da 'sociedade ocidental. Jung esta­
va atento para isso, e chegou at~ mesmo a fazer a notável 
afirmação, em uma carta, de que ele escreveu "Resposta 
a Jó" porque não queria deixar"que as coisas se dirigis­u 
sem para a'catástrofe'iminente}4Q que ele .revelo na­
; ."' ~ J " 
23 Por exemplo, o teólogo católico Hugo Rahner. Ver ibid., pp. 17, 128. (Nota 
do Editor) '.. I '.' , ':' • " . 
24 Letters,'vol.·2, p. 239: . ' . ' 
- ------" 42 
43 
dO:lC com a consciência humana. É isso que a transfor­
quela carta, de maneira lÍluitofclara;(é~qlle "Resposta a alma. Esse é o processo que vejo agora em suas fases ini­
Jó" é um antídoto para o apocalipse. Se pudermos com­ ciais e que, acredito, continuará com uma intensidade 
preender "Resposta a Jó", estaremos em uma posição, do 
cada vez maior na coletividade.
ponto de vista psicológico, de'sobreviver ao vi.olento ata­ Experiências da natureza do holocausto nazista são 
que do apocalipse, da transição de uma época para outra. eventos psicológicos, expressões da psique humana cole­
O que isso significa;.sem querer. resumir ó:livrotodo, tiva. Elas não são desastres naturais, não caem do céu; 
é que há um processo em andamento" no qual a Imagem são eventos psicológicos, fenômenos que ilustram a natu­
de Deus está passando por uma transformação, e que o reza da psique coletiva. É isso que noS aguarda ao atra­
processo dessa transformação.requ.er.que haja'uma çons­ vessarmos a transformação catastrófica da imagem divi­
ciência. humana dessa natureza divina, pÇira,que ,eJa pos­
na de uma era para outra. sa ser transformada.rEsse,é um bom·resu~.o dessa idéia. 
O mundo pende em uma linha estreita, e essa linha é aVou repetir. Aessência de "Resposta ,a Jó", que pode levar psique do homem. Hoje em dia, não somos ameaçados por 
o indivíduo a .sobreviver psicologicamente ao apocalipse, catástrofes dos elementos. Não há, na natureza, nada pa­
está na percepção de que o apocalipse.é·llm-processo na recido com a Bomba H - esse é um feito absolutamente 
transformação de Deus,no qual·, ·por meio da entrada na humano. Nós somos o maior perigo; a psique é o maior 
perigo. E se alguma coisa sair errado com a psique?26consciência humana, a natureza divina pode transformar­
se. Tudo 'isso está dito na Bíblia, no Livro de J,ã. El,l t,am­
bém discuto essa questão .no meuJivro sobre a série de 
gravuras de·Blake para o Livro de JÓ. f5, '.. ~-
Vejam,'uma.parteda natureza divina (e lembrem-se 
de que esto.u falando de maneira psicológica, não meta­
física) é que a Imagem/de D,eus é uma união .,de, opostos. 
Não é.apenas Cristo"mas.também Satã, Não é·apenas 
Iahweh do.Livro.de Jó, mas ~q.mbém.Behemoth e Leviatã. 
E essa Imagemde,D.eus paradoxal, cOm su,a natureza 
dupla, passa por um processo .de transformação ao ser 
experimentada pela, consciência,humana-. Ser vista, pela 
consciência humana é o agente de sua trallsformação, um 
indivíduo de cada vez. Ela-não acontece coletivamente, 
em um comitê; mas emumindivíd:uo de,cadayez,naque~ 
les que experimentam a,ambigüidade divina e, ,no pro­
cesso dessa experiência, penetram nesse Si-mesmo para- . ) 
~j' ,.:l : ' . 'I " .. 
26 Jung, "The Houston Films", em Maguire and Hull, eds., C. G. Jung 
. ,.1 , 
25 Ver Encounter with lhe Self: A J ungian Commentary on' Willi(,lm Blake's 
Speaking, pp. 303s. Illustrations of the Book of Job, esp. pp. 53ss. (Not~ do Egitor.). . " \ 45 
44 L-·_.... -_..,-­
http:do.Livro.de
2 
~: 	 ENCONTRO 
'I! COM A PERSONALIDADE MAIOR 
I, ' I '11. 
:n j ~ ',tA', J,; ') 
i I I 	 .. 
I!
II 	 :::,_4" ~1~, 
I,iI 
~I Alguns anos atrás, falei 'sobre o Llvro de Jó,' c~m umailll 
1 ênfase especial' nas gravuras'que Blake fez para esse li~ 
1I í'1 vro.27 A minha fala hóje é' lim'éncadêamEmtb lógicüdessé 
I I ~ 
iI 	 assunto,' ou' seja,' o' te~a do'Jénco'ritro do ego com o Si~ 
'. . ( '. I' . • ',' 
I 
~J mesmo, o centro regulador da' psique, 
Essa é á c~rátteristica básica da psicologia junguiana~ L _ o ego e como ele se reláciona com a realidade do Si-mes­
I 	
mo, A psicolbgia jtinguiana é a únicavertentê da psicolo": 
gia que parte 'da idéia de que'há dois centros' na psique: 
Algumas outràs linhas, outras abordagens analíticas, es­!\~I.r 	 tão cientes dê. que há duas entidades na psique; o incons­
•
II1 ciente é uriia'ségOOda entidade: Mas nenhuma outra linha 
;; parte dopiÍrlCípio de que há dois centros. Isso é exclusivo da 
~ psicologiajunguiana. Ejá que existem dois centros, se essa 
Ir~ 1 idéia chega a toiç1ar-se' cOl!s~iente, es~es dois centros de­
11 vem colidir, 'eles devem ter um e'ncontroum com.o outro, 
Isso acontece quando o ego, que é o pequeno centro, tem umII 
1 
encontro com o Si-mesmo, o grande centro. , 
Toda a análise psico~ógica não émáis do que um'pre­
""I 
,~ 	 lúdio pa~a ess,a e,xperiência, o encontro com o Si-pesmo. 
:~ 
[,li 	 Vejam como Jung ,çoloco,ll essa.idéiFl-:, , . 7 " .. " ,; . \ 
"pl 
A Anunciação à VIrgem, por Mathis Nithart 	 .. , ;·rI 
II 
I~ (Isenheimer Altar, séc. XVI. Unterlindenmuseum. Kolmar) 
~ 27 pubI.icado como Encounter with the Self A Junguian' Commentary on 
. (. William Blake's Illustrations ofthe Book of Job. (Nota do Editor) 
47 
ill 
A análise deveria liberar em nós uma experiência que nos 
fascina ou que se lança sobre nós como se viesse de cima 
uma experiência que tem substância e corpo, como o qU~ 
ocorria com os antigos. Se eu 'fósse simbolizá-la, escolhe. 
ria a Anunciação.?' , ~; :' 
Bom, uma coisa que pode acontecer é que essa expe­
riência, embora seja preparada pela análise, pode não acon­
tecer durante o período da análise propriamente dita. Ela 
pode acontecer muitos anos mais tarde. Nesse caso, o su­
jeito irá se sentir muito grato por possuir algum conheci­
mento consciente sobre a psicologia junguiana. O sujeito 
tem um mapa, por.assim dizer, que o ajuda a encontrar a 
conduta1apropriada no momento em que essa experiência 
lhe cai dos céus. Ele pode dizer com Jó: "Ouvi falar de ti 
pelo ouvido: mas ago'ra :viriun-te meus olhos" (Jó 42,5). É 
isso que acontece quando se t~m tal experiência. 
Ela também acontece sem o auxílio de nenhuma aná­
lise, e pode acontecer sem que se tenha uma preocupação 
particular com o inconsciente. É por isso que acho extre­
mamente importante falar sooré'o Si-mesmo em público. 
Nunca saberemos quando est~mós falando com alguém 
que já teve ou que está para t'elumà'~xperiência dessas, 
e essa pessoa pode lembrar-sé"do dh~ foi falàdo e isso 
pode ser de grande ajuda nas hOra·s.de aperto. Eu sei, por 
experiência, que essas coisas acontecem. 
Então vamos falar do Si-mesmo. Mas o que é o Si­
mesmo? 
A natureza do Si-mesmo 
Como eujá disse antes, o Si-mesmo é o segundo cen­
tro da psique, e o ego éd pnmeir6:J Para:se dizer'u:mLpou­
co mais, ele é o centro opjetivo, em oposição ao centro 
-', : .. : i . 
28 Seminar 1925, p. 111. 'I t ). ~ :, ';, .:' ~ [i 
subjetivo. É o cen~ro tran~pessoal, que inclui ,tanto a cons­
. ên quanto o lllconsclente. . . ..' .. S
CI ,f P .ciaIssO não é uma teona, mas um atO. recIsamo usar 
palavras para descreVer os fatos, mas posso garan,ir-lhes 
que estamOs falando de um fato, que p~de se"comprova­
do pela experiência de llluitas pessoas. No entanto, êece 
muito difícil descrever o Si-meSmO:, Qgue, I:!CoI;lt por 
ele ser uma entidade maior do. que:o egp, oJl.lWsiglüfjça 
que ele não pode ser compree.ndido,.nãO PQO,e$er:.abl?-rça-: 
do. em toda a sua extensão, pelo ego. por esse motivo, não 
pOdemos defini-lo. Para podérinos defini,' áli;Um"'Ópisa, 
ela tem de ser menor dQql1;e~ • ~ • Jó~go que'.·a. define. Isso - I... , é
, _.' • ~ j 
contraditório e paradox;3.I,p.o.qV.e C;op.cer,I:t.e }i$ c~tegorias 
de compreensão do ego.:E,.assim comO, a pedra filosofaI 
dos alquimistas, ele possui muitos sinônimos; que expres­
sam as diferentes facetas d~ssa reaiídade complexa. Um 
dos sinônimoS ql,l~ rltmg propôs para o Si-mesmO é Perso­
nalidade Maior, e "e1>sa é a. entidade específica da qual 
vamos falar esta noite.
Jung introduz esse tema em seu artigo "Concerning 
Rebirth", onqe elefàla da individuação comC! "um proces­
so demorado de transformação interna e do renascimento 
em um outro ser", e assim vai:" ;,)~' I: ')C1; s ;~?l'L~r~; 1: 'l, " ~ ~ . 
Este. ".Ol!..t:r:().>s,er'~ éo ouwü~Jjl ;nós"a,.personali~ade fU~1,1ra. 
mai!3 ~D,1pl,!}; .. ÍlIJ:..l a~tgo,}pt~r,n9 ~l}~I?1~' p'or ~~so é. ~lgo_
confortante ,"para noS ao encontrarmos o amigo e compa-í' . " ,. ., . ,., .• ....... " 
nheiro reproduzido num ritual sagràdo, c9mo; por ex'em­
RIo, naquela(relação de amiiadeéntre Mitra eo deus SoL~ 
É a,representE1'çãO de' uma amizade >masculina, ,imagem 
externa d~ \lW.fatoJ}:lt~rnQ: .tratacse da:çepresentaçãoda. 
relação com o ,ap;tigp ,inter.nq da,alma,np,qpfl\ a. própria 
natureza gostaria de noS transmutar: naquele óutro, que 
tambérh sdmo ;: e que nunca chegamos'~á.lcánçar plena:s
mente. a;nomemé'b'par de Dióscuros;:eheque'uin é mor­
tal e o outro, imortal; 'sempre estão juntos e apesar dissO 
nunca.s transformam inteiramente num só. Os proces­
esos de transformação pretendem aproximar ambos, a cons­
48 
49 
http:inter.nq
http:hOra�s.de
ciência, porém, resiste a isso,. pQrqge o outro lhe parece de 
início como algo estranho e inquietante" e não podemos 
acostumar-nos â idéia de não sermos senhores absolutos 
na própria casa. Sempre 'preferiríamos ser' "eu" e mais 
nada, Mas confrontamo_nos com o amigO'bu inúnigo inte­
rior, e de nós depende ele ser um'ououtro. 29 
• :' t ' 
É aí que Jung introduz o tenno Personalidadé Maior, 
mas nesse mesmo artigo ele descreve o encontro do ego 
com a Personalidade'Maior nessas importantes palavras: 
Num pont'o'culmi~ante da vida em qU~' o hotão:se abre em 
flor e do menor surge o maior, "um torna-se dois"; e a figu­
ra maior que 'sempre fomos, mas perm"anecia invisível 
comparece diànté do homem que'fomos até então, com a 
força da revelação. Overdadeir:amente pequeno e sem 
esperança sempre reduz à sua pequenez a revelação do 
grand~. f:l jam4is ~ompreenderá que o Juízo Final também 
despontou para a sua pequenez. O ser humano intima­
mente grande sabe, porém, qúe o amigo da almâ; pelo qual 
há tanto ânsiava, o imortal, chegou enfim de fato para: 
levar "cativo seu cativeiro" (Ef 4,8), aquele'que sempre 
trouxe em si aprisionado a fim de capturá-lo permitindo 
que a ~!Ua 'vida dese~bocasse naquela vida maior.: um 
momento dê perigo'mórta1!30 . '. " 
; ,. '. r .'. f, 'J 
Essa frase final nos atinge comb um raiá. Depois:de 
ouvir a bela descrição do encontro do ego com a Persona­
lidade Maior, ficamos sabendo apenà's no fim q'ue esse 
encontro é perigo só, de um perigo mortal. IS,sç faz,.refe­
rência ao efeito dano~o ,quEl o Si-m'esmo exerce sobre o 
ego no primeiro encontro. Na pior das hipóteses,o encon­
tro do ego COm o Si,mesmo póde'desencadear uma psico­
se. E mesmo na melhor, o piimeiro edecisivo'encontro do 
ego com o Si-mesmo traz consigo uma humilhação dolo­
rosa e um sentimento de derrota desmor.qlizan~e. Como 
. . _J:,t l." • ' .. 
29 The Archetypes

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