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ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS DOS CLÁSSICOS À CRIMINOLOGIA CRÍTICA Escola Clássica Não existiu propriamente uma Escola Clássica, que foi assim denominada pelos positivistas em tom pejorativo (Ferri). As ideias consagradas pelo Iluminismo acabaram por influenciar a redação do célebre livreto de Cesare Beccaria, intitulado Dos delitos e das penas (1764), com a proposta de humanização das ciências penais. Além de Beccaria, despontam como grandes intelectos dessa corrente Francesco Carrara (dogmática penal) e Giovanni Carmignani. Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de Grócio), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo (contrato social ou utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre os homens, no qual estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva. A burguesia em ascensão procurava afastar o arbítrio e a opressão do poder soberano com a manifestação desses seus representantes através da junção das duas teorias, que, embora distintas, igualavam-se no fundamental, isto é, a existência de um sistema de normas anterior e superior ao Estado, em oposição à tirania e violência reinantes. PRINCÍPIOS o crime é um ente jurídico; não é uma ação, mas sim uma infração (Carrara); a punibilidade deve ser baseada no livre-arbítrio; a pena deve ter nítido caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente (maldade), de modo a prevenir o delito com certeza, rapidez e severidade e a restaurar a ordem externa social; método e raciocínio lógico-dedutivo. CRÍTICAS supunham uma homogeneidade absoluta de todos os homens no que toca aos processos pessoais de motivação dos atos; não logrou êxito em conter o avanço da criminalidade com o suposto efeito dissuasório da pena. Escola Positiva A chamada Escola Positiva deita suas raízes no início do século XIX na Europa, influenciada no campo das ideias pelos princípios desenvolvidos pelos fisiocratas e iluministas no século anterior. Pode-se afirmar que a Escola Positiva teve três fases: antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garófalo). É importante lembrar que, antes da expressão “italiana” do positivismo (Lombroso, Ferri e Garófalo), já se delineava um cunho científico aos estudos criminológicos, com a publicação, em 1827, na França, dos primeiros dados estatísticos sobre a criminalidade. Justamente em função disso, em 1835, Quetelet publicou a obra Física social, que desenvolveu três preceitos importantes: a) o crime é um fenômeno social; b) os crimes são cometidos ano a ano com intensa precisão; c) há várias condicionantes da prática delitiva, como miséria, analfabetismo, clima etc. Formulou ainda a teoria das leis térmicas, por meio da qual no inverno seriam praticados mais crimes contra o patrimônio, no verão seriam mais numerosos os crimes contra a pessoa e na primavera haveria maior quantidade de crimes contra os costumes (sexuais). Quetelet tornou-se, portanto, defensor das estatísticas oficiais de medição de delitos; todavia, guardou certa cautela, na medida em que se apercebeu que uma razoável quantidade de crimes não era detectada ou comunicada aos órgãos estatais (cifra negra). Ainda que se considere que o positivismo criminológico tenha raízes nesses estudos estatísticos (cientificidade), sua aclamação e consolidação só vieram a ocorrer no final do século XIX, com a atuação destacada de Lombroso, Ferri e Garófalo, principais expoentes da Escola Positiva italiana. LOMBROSO Cesare Lombroso (1835-1909) publicou em 1876 o livro O homem delinquente, que instaurou um período científico de estudos criminológicos. Na verdade Lombroso não criou uma teoria moderna, mas sistematizou uma série de conhecimentos esparsos e os reuniu de forma articulada e inteligível. Considerado o pai da “Antropologia Criminal”, Lombroso retirou algumas ideias dos fisionomistas para traçar um perfil dos criminosos. Os estudos científicos de Lombroso assumiram feição multidisciplinar, pois emprestaram informes da psiquiatria, com a análise da degeneração dos loucos morais, bem como lançaram mão de dados antropológicos para retirar o conceito de atavismo e de não evolução, desenvolvendo o conceito de criminoso nato. Para ele, não havia delito que não deitasse raiz em múltiplas causas, incluindo-se aí variáveis ambientais e sociais, por exemplo, o clima, o abuso de álcool, a educação, o trabalho etc. Ademais, Lombroso propôs a utilização de método empírico-indutivo ou indutivo- experimental, que se ajustava ao causalismo explicativo defendido pelo positivismo. Efetuou ainda estudos intensos sobre as tatuagens, constatando uma tendência à tatuagem nos dementes. Por isso, afirmou que o crime não é uma entidade jurídica, mas sim um fenômeno biológico, razão pela qual o método indutivo-experimental deveria ser o empregado. Registre-se, por oportuno, que suas pesquisas foram feitas na maioria em manicômios e prisões, concluindo que o criminoso é um ser atávico, um ser que regride ao primitivismo, um verdadeiro selvagem (ser bestial), que nasce criminoso, cuja degeneração é causada pela epilepsia, que ataca seus centros nervosos. Estavam fixadas as premissas básicas de sua teoria: atavismo, degeneração epilética e delinquente nato, cujas características seriam: fronte fugidia, crânio assimétrico, cara larga e chata, grandes maçãs no rosto, lábios finos, canhotismo (na maioria dos casos), barba rala, olhar errante ou duro etc. Embora Lombroso não tenha afastado os fatores exógenos da gênese criminal, entendia que eram apenas aspectos motivadores dos fatores endógenos. Assim, o clima, a vida social etc. apenas desencadeariam a propulsão interna para o delito, pois o criminoso nasce criminoso (determinismo biológico). Lombroso classificou os criminosos em natos, loucos, por paixão e de ocasião. Inúmeras críticas foram feitas a Lombroso, justamente pelo fato de que milhares de pessoas sofriam de epilepsia e jamais praticaram qualquer crime. Então, em socorro do mestre, surgiu o pensamento sociológico de Ferri. FERRI Enrico Ferri (1856-1929), genro e discípulo de Lombroso, foi o criador da chamada “sociologia criminal”. Para ele, a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Ferri negou com veemência o livre-arbítrio (mera ficção) como base da imputabilidade; entendeu que a responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é a defesa social (a prevenção geral é mais eficaz que a repressão). Classificou os criminosos em natos, loucos, habituais, de ocasião e por paixão. GARÓFALO Rafael Garófalo (1851-1934), jurista de seu tempo, afirmou que o crime estava no homem e que se revelava como degeneração deste; criou o conceito de temibilidade ou periculosidade, que seria o propulsor do delinquente e a porção de maldade que deve se temer em face deste; fixou, por derradeiro, a necessidade de conceber outra forma de intervenção penal – a medida de segurança. POSTULADOS o direito penal é obra humana; a responsabilidade social decorre do determinismo social; o delito é um fenômeno natural e social (fatores biológicos, físicos e sociais); a pena é um instrumento de defesa social (prevenção geral); método indutivo-experimental; os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo. Ao abstrato individualismo da Escola Clássica, a Escola Positiva opôs a necessidade de defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente, priorizando os interesses sociais em relação aos indivíduos. CRÍTICAS patologização do fenômeno delituoso; subvalorização do entorno social, que era visto como mero fator desencadeante daquilo que já existia na personalidade (apenas desencadearia a criminalidade e não constituiria um fator determinante); volta suas pesquisas apenas para os indivíduos já encarcerados, ou seja, para os indivíduosjá selecionados pelo complexo sistema de filtros sucessivos que é o sistema penal: erro metodológico profundo: a grande falha é a falta de um grupo de controle (grupo de criminosos que não foram presos); acaba por legitimar a violência e a seletividade racista do sistema penal – a polícia prende o criminoso nato. POSITIVISMO NO BRASIL E AMERICA LATINA Dentro de um quadro geral de transformações ocorridas no período que vai do final do séc. XIX e início do XX, e, principalmente, com a libertação da mão-de-obra escrava e a possibilidade de acesso a alguns direitos, iniciou-se um debate que tinha como centro de discussão justamente a troca de status jurídico do negro e, especialmente, a possibilidade do exercício da cidadania. A Abolição da escravatura, ao mesmo tempo em que gerou um enorme movimento de apoio e comoção social, também resultou num mal-estar das classes dominantes quanto à forma com que as relações seriam estabelecidas dali em diante, mas também, de certa forma, quanto aos mecanismos de distribuição dos privilégios e das posições que ficariam (pelo menos em tese) ameaçados. A Criminologia atuou no sentido de tratar desigualmente os desiguais.” Um dos grandes representantes da Escola Positiva da Criminologia e pioneiro da Criminologia Clínica na América Latina foi o argentino José Ingenieros, cuja obra "Criminologia" (1907) foi o primeiro tratado do ramo publicado no continente. Os ideais positivistas sociológicos na área penal foram apropriados então pela Medicina Legal, que, encabeçada por Raimundo Nina Rodrigues no Brasil, defendia os ideais de pureza da raça e combatia a miscigenação, tratando-a como motivo de degeneração. O médico Nina Rodrigues, realizava pesquisas sociais com traços diretos da antropologia criminal do médico italiano Cesare Lombroso. As ideias positivistas chegaram ao Brasil, trazidas por brasileiros que foram completar seus estudos na França, tendo mesmo alguns sidos alunos de Auguste Comte. O Realismo Machadiano Neste ínterim, mais precisamente no ano de 1881, Machado publica sua obra-prima Memórias Póstumas de Brás Cubas, que dentre os marcantes personagens se destaca Quincas Borba, que de louco e ex-mendigo, se torna o criador da hilária teoria do humanitismo, uma verdadeira paródia da corrente positivista. Importante lembrar que Auguste Comte, o principal nome do positivismo, morreu provavelmente ensandecido. No ano seguinte, Machado, já consagrado um grande escritor, publica então a coletânea de contos “Papéis Avulsos”, encabeçado pelo conto “O Alienista”. Sua colaboração é solicitada nos melhores jornais, onde escreve contos que acompanham também a extraordinária evolução expressa nas Memórias Póstumas. Em 15 de dezembro de 1896, Machado de Assis inaugura a Academia Brasileira de Letras, recebendo o título de patrono e presidente. No ano seguinte, assiste à publicação do libelo de Silvio Romero, Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira, em que esse crítico - adepto ferrenho da Escola do Recife – procura desqualificar o mérito do escritor, a partir de justificativas pseudocientíficas, embalado na retórica positivista. CIMINOLOGIA CRÍTICA A Criminologia Crítica com o materialismo histórico entende o crime como político, cultural, dinâmico e relativo. O crime não é qualidade do ato, é ato qualificado como criminoso. O crime nasce da elaboração legislativa, a partir de conflitos na estrutura social. Portanto o controle social é quem cria o crime. Trabalha a partir do modelo de reação social. OBS.: última escola a ser estudada SOCIOLOGIA CRIMINAL A sociologia criminal utiliza-se de teorias macro- sociológicas, que se compõe pela vertente do consenso e do conflito. Teorias do Conflito Denota os campos áridos em constante confronto. Coação dentro da sociedade. Forma de controle social que impõe normas, regras, valores e temos valores punitivos sendo aplicados. Entendem que na ordem social há disputas, confrontos, força. Como o controle social formal institucionalizado que exerce poder. Exemplo: Labelling Approach e Teoria Crítica. TEORIAS DO CONSENSO Existem muitas barganhas para que ocorra o funcionamento pleno das instituições. Para que tenhamos um funcionamento da sociedade. Para que haja ordem numa sociedade. Defendem que na ordem social há acordos, negociações na busca do funcionamento pleno das instituições, com objetivos comuns. Exemplo: Escola de Chicago, teoria da associação diferencial, teoria da Anomia e Subculturas Criminais. TEORIAS SOCIOLÓGICAS Teoria Ecológica (Escola de Chicago). Teoria das Zonas Concêntricas (Escola de Chicago). Teoria da Associação Diferencial. Teoria Estrutural Funcionalista da Anomia. Teoria Estrutural Funcionalista da Inovação. Teoria das Subculturas Criminais. Teoria do Labelling Approach. ESCOLA DE CHICAGO Pertence ao grupo das teorias do consenso, surgiu no início do século XX por meio de membros do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago. Também conhecida como Escola Ecológica ou Arquitetura Criminal, ou ainda, Desorganização Criminal. RESUMO: atribui à sociedade - e não ao indivíduo - as causas do fenômeno criminal. Autores: Willian Thomas, Robert Park, Ernest Burgess; Período Histórico: Metade do século XX; concebida na Universidade de Chicago; HISTÓRICO: crescimento desordenado A cidade de Chicago havia passado por um enorme crescimento populacional. Em 1840, tinha uma população de 4470 habitantes, e em 1900 esse número ultrapassou um milhão, e, em 1910, a população chega a quase dois milhões de habitantes. Tal crescimento urbano decorreu de ter se tornado um importantíssimo entroncamento ferroviário, uma cidade industrial e estar geograficamente localizada em um ponto que permite a exploração do transporte via navegação pelos Grandes Lagos. Parte da população era composta por imigrantes europeus, cujos países vivenciavam os conflitos das duas guerras mundiais, e imigrantes negros do sul dos Estados Unidos que procuravam trabalho nas indústrias, em busca de um lugar com menos preconceito racial. Nesse período, a população negra chegou a ser 7% na cidade. JUSTIFICATIVA? Em função do crescimento desordenado da cidade de Chicago, em virtude da vinda de milhares de pessoas de todas as partes do país (descendentes de escravos, irlandeses, eslavos, italianos e minorias étnicas habitavam as periferias em condições precárias de higiene, segurança, iluminação pública e etc, houve a expansão do Centro para a periferia (movimento circular centrífugo). Inúmeros e graves problemas sociais, econômicos e culturais, criaram ambiente favorável à instalação da criminalidade, ainda mais pela ausência de mecanismos de controle social. PREVENÇÃO PRIMÁRIA? A compreensão do crime sistematiza-se a partir da observação de que a gênese delitiva relacionava-se diretamente com o conglomerado urbano (muitas vezes estruturado de modo desordenado e radial, o que favorecia a decomposição da solidariedade das estruturas sociais. Locais carentes de saneamento básico, de postos de saúde, de políticas sociais, de igreja. A falta desses locais, acaba fomentando o crime. METODOLOGIA A Escola de Chicago, atenta aos fenômenos criminais observáveis, passou a usar os inquéritos sociais (social surveys), sendo que tais investigações demandavam a realização de interrogatórios diretos, feito por uma equipe especial junto a dado número de pessoas (amostragem). Pari passu, utilizaram- se análises biográficas de individual cases, onde permitiu-se a verificação de um perfil de carreira delitiva. Estabeleceu-se a metodologia de colocação dos resultados da criminalidade sobre o mapa da cidade, pois é a cidade o ponto de partida daquela (estrutura ecológica). A TEORIA ECOLÓGICA E SUAS PROPOSTAS: Há dois conceitos básicos para que se possa entender a ecologia criminal e seu efeito criminógeno: a ideia de “desorganização social” e a identificação de “áreas de criminalidade”(que seguem uma gradientetendency). Pensamento ecológico: “A cidade não é apenas uma estrutura física e artificial, ela tem sentidos, costumes, tradições, sentimentos próprios. Cada cidade tem sua própria cultura, suas regras, sua organização formal e informal, seus usos e costumes e sua identidade” CALDERONI, Vivian. Criminologia. Doutrina Completa para Concursos Jurídicos. Ed. Foco. Jurídico, 2016. Há uma relação direta entre o espaço urbano, sua conformação e a criminalidade. Não apenas em relação à quantidade de crimes, como também a distribuição dos tipos de crimes por região da cidade, a relação entre a forma que determinada região ou bairro se organiza e se estrutura e o tipo e a quantidade de crimes cometidos naquela região (Arquitetura Criminal); A Escola de Chicago dividiu a cidade em cinco zonas: Para Shecaira (2008, p. 167), “Uma cidade desenvolve-se, de acordo com a ideia central dos principais autores da teoria ecológica, segundo círculos concêntricos, por meio de um conjunto de zonas ou anéis a partir de uma área central. No mais central desses anéis estava o Loop, zona comercial com os seus grandes bancos, armazéns, lojas de departamento, a administração da cidade, fábricas, estações ferroviárias, etc. A segunda zona, chamada de zona de transição, situa-se exatamente entre zonas residenciais (3ª zona) e a anterior (1ª zona), que concentra o comércio e a indústria. Como zona intersticial, está sujeita à invasão do crescimento da zona anterior e, por isso, é objeto de degradação constante”. Assim, a 2ª zona favorece a criação de guetos#, a 3ª zona mostra-se como lugar de moradia de trabalhadores pobres e imigrantes, a 4ª zona destina-se aos conjuntos habitacionais da classe média e a 5ª zona compõe-se da mais alta camada social. Dentre os precursores da Escola de Chicago, convém destacar Robert. E. Park que apontou a influência do entorno urbano sobre a conduta humana. Concebeu o meio urbano como um organismo dividido em zonas de trabalho, de moradia, lazer, público e privado, dentre os vários existentes com distinção ainda dos níveis de criminalidade. Nestes espaços não seria importante entender o fato criminoso, mas como as pessoas reagiam a ele. # EX .BAIRRO COMÉRCIO DE SALVADOR OBS.: a Escola de Chicago, atribui sobrepeso à desorganização social (considerada FATOR CRIMINÓGENO). ATENÇÃO: A Escola de Chicago defende a prioridade da ação PREVENTIVA e a minimização da atuação repressiva. Postulados: As ações interventivas nas cidades devem ser planejadas, limitando-se a bairros e setores. Na prevenção, é fundamental a participação da sociedade, através de seus diversos segmentos. Busca conjugar esforços para o enfrentamento da criminalidade; CRÍTICA Uma reflexão crítica que se tem em relação aos estudos apresentados por esta Escola é a limitação da própria investigação. Fica evidente que seu estudo se preocupou em analisar as áreas da residência dos delinquentes e não as áreas onde os crimes ocorriam. E isto, inequivocamente, compromete a “pureza” dos seus dados estatísticos. 1.2. PRINCIPAIS PROPOSTAS: alteração efetiva da situação socioeconômica das crianças; amplos programas comunitários para tratamento e prevenção; planejamento estratégico por áreas definidas; programas comunitários de recreação e lazer, como ruas de esportes, escotismo, artesanato, excursões etc.; reurbanização dos bairros pobres, com melhoria da estética e do padrão das casas. Obs: Salvador? Mera semelhança? Projeto rebocado! Registre-se que a principal contribuição da Escola de Chicago deu-se no campo da metodologia (estudos empíricos) e da política criminal, lembrando que a consequência direta foi o destaque à prevenção, reduzindo a repressão. Todavia, não há prevenção criminal ou repressão que resolvam a questão criminal se não existirem ações afirmativas que incluam o indivíduo na sociedade. 2) TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL: É considerada uma teoria de consenso, desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland (1883-1950), inspirado em Gabriel Tarde. Cunhou-se no final dos anos 1930 a expressão white collar crimes (crimes de colarinho branco) para designar os autores de crimes específicos, que se diferenciavam dos criminosos comuns. Baseia-se no pensamento de Edwin Sutherland, segundo o qual o delito não consiste apenas em uma inadaptação de pessoas pertencentes as classes menos favorecidas, pois, não é praticado com exclusividade por seus integrantes. FATORES do processo pelo qual o indivíduo seria conduzido a cometer um delito conforme preconizado pela teoria da associação diferencial: (Shecaira) 1. o comportamento criminoso é um comportamento aprendido, quer dizer, aprende-se a praticar um crime como se aprende a praticar uma boa ação. Reconhece-se que o delito não tem como causa fatores hereditários, mas a influência do meio. 2. o comportamento criminoso é aprendido mediante a comunicação com outras pessoas. Tem-se um processo de imitação, com início no seio familiar. 3. o grau de aprendizado do comportamento criminoso varia conforme a proximidade existente entre as pessoas. Quanto mais íntimas as relações sociais entre os indivíduos, maior será a influência criminógena. 4. o aprendizado do comportamento criminoso contém o aprendizado das técnicas de cometimento do crime, sendo em alguns casos simples, e em outros complexas; 5. a motivação e impulsos para o cometimento de crimes se aprende com as definições favoráveis ou desfavoráveis da lei; 6. a conversão do indivíduo em criminoso ocorre quando as definições favoráveis a violação da norma superam as definições desfavoráveis. Nessa hipótese, os modelos criminais prevalecem sobre os modelos não criminais; As pessoas associam-se por afinidade de valores. No entanto, o conteúdo desses valores são distintos conforme a espécie de associação. Por isso esta Teoria foi rotulada de ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL. 7. as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade. Valores aprendidos na infância podem acompanhar a pessoa por toda a sua vida. 8. a prevalência das definições favoráveis ou desfavoráveis a norma denotam um conflito cultural responsável pela associação diferencial; 9. A desorganização social causada pela perda da origem e raízes pessoais, e a inexistência de controle social informal fomentam a prática de crimes. TEORIA DA ANOMIA Essa teoria insere-se dentro da família das teorias chamadas funcionalistas. As teorias funcionalistas não buscam as causas do fenômeno, mas se concentram nas consequências de um dado conjunto de fenômenos empíricos. O combate à disfunção do sistema não se faz pelo estudo das causas, mas sim pelo exame de suas consequências exteriores. Daí por que se pode afirmar serem as teoria funcionalistas conservadoras, já que não vão às raízes do problema, que é analisado na superfície. OBS; Direito Penal – função da Pena! Funcionalismo sistêmico de Jakobs e Teleológico de Roxin. Essa teoria também inclui-se nas chamadas teorias do consenso ( que não são as preferidas pelo examinador). Pelas teorias do consenso “a sociedade vive de forma harmônica, todos os indivíduos vivem de forma harmônica, de modo que o crime é algo anormal em uma sociedade saudável”. A teoria da anomia tem dois expoentes: Émile Durkheim e Robert Merton. Anomia: ausência de normas, ausência de regras. Para Durkheim, a anomia é a causa principal do crime. É quando uma parcela da sociedade não respeita as normas sociais. Para ele, você ter uma certa parte da população cometendo crimes é bom, pois sua punição reforça os valores tutelados. O crime só é considerado anomia quando muito grave. Do contrário, o crime é normal e tem sua função social. Conclui-se que o autor defendia a manutenção do status quo punitivo, o que é altamente criticado pelas correntes criminológicas que revelam a seletividade do direito penal. Significa desconsiderar a causa do crime e que o sistema penal é seletivo. SE você aceita que o crimee sua punição, desde que moderados, são bons para sociedade, você está aceitando que a população mais vulnerável continue a ser punida. É praticamente defender uma punição higienista. Robert Merton, também sociólogo, vai acompanhar Durkheim no sentido de que o crime em si não significa anomia. Para ele a anomia ocorrerá sempre que os modos não conformistas de determinada sociedade superem os modos conformistas. Ele cria esses dois conceitos: modos conformistas e modos não conformistas. Ele trabalha com os conceitos de meios institucionais e metas culturais. O que são metas culturais? São interesses, valores, propósitos ou fins propostos aos membros da sociedade. Exemplo: Vencer na vida, ter a roupa da moda, passar no concurso, etc. A sociedade é falsamente meritocrática. Para você alçar o tal sonho americano você precisa ter os meios institucionais para alcança-los. Não é qualquer um que pode falar: “eu quero eu posso”. Você precisa ter os meios institucionais para chegar lá. O que são os meios institucionais? São o aparato cultural, familiar, econômico e social que possibilitam o atingimento das metas culturais. É o conjunto organizado das relações sociais, isto é, a estrutura de oportunidades reais que condiciona, de fato, a possibilidade de os cidadãos se orientarem para alcançar seus objetivos culturais, respeitando as normas legais. Surgimento do desvio: O desajuste entre os meios institucionais e as metas culturais propicia o surgimento de condutas que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a tentativa de chegar às metas mediante meios diversos daqueles socialmente prescritos. Merton prevê cinco tipos denominados de adaptação individual: conformidade, ritualismo, retraimento, inovação e rebelião. Conformista: o tipo mais comum, ele garante a estabilidade da sociedade. Ele absorve as metas culturais e tem os meios institucionais para alcançá- la. Ritualista: tem os meios institucionais, mas não absorve as metas culturais. Há um abandono ou redução dos elevados alvos culturais do grande sucesso pecuniário e da rápida mobilidade social. Embora não valorize a obrigação cultural de ascensão social, as normas institucionais são compulsivamente seguidas. O estereótipo do ritualista na cultura brasileira é o tímido funcionário público, que mantém seu ritual diário e burocrático de vinculação às normas e que não pretende dar grandes voos além de seus tímidos horizontes. Retraimento: seu personagem renuncia as metas culturais e os meios institucionais. Pertencem a essa categoria os moradores de rua, bêbados crônicos, viciados em drogas. Inovação: aqui encontra-se a delinquência propriamente dita. A pessoa absorve as metas culturais, ou seja, quer ter prestígio, dinheiro, mas não possui os meios institucionais para alcança-las. Dessa forma, a pessoa inova, busca meios não institucionais para alcançar rapidamente o que quer. Essa inovação seria o crime. Rebelião: a pessoa tem parcialmente os meios institucionais e entende que as metas culturais existem, mas não concorda com elas. O indivíduo refuta os padrões vigentes da sociedade, propondo estabelecimento de novas metas e a institucionalização de novos meios. Ex: hippies, posturas individuais dos “rebeldes sem causa” e nas coletivas de movimentos de revolução social. A sociedade é anômica quando as posições não conformistas superam as conformistas. Shimizu finaliza dizendo que a sociedade brasileira é anômica. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE A ideia de subcultura delinquente foi consagrada na literatura criminológica pela obra de Albert Cohen: Delinquent boys. Cultura: são os valores dominantes em uma certa sociedade e que são passados de geração para geração. Subcultura: é a cultura dentro da cultura, mas com valores opostos ou divergentes e que não pretende substituir a cultura dominante. Contracultura: é a subcultura que pretende substituir a cultura dominante. Essa teoria estuda as causas dos crimes cometidos no âmbito das subculturas, especialmente no seio de grupos formados por jovens (gangues – subcultura delinquente juvenil). A ideia é que na subcultura os valores são opostos ao da cultura. O sucesso de uma é o fracasso de outra e vice-versa. Se na cultura o cometimento de crimes representa fracasso, na subcultura representa o sucesso. Esses crimes têm como característica o não utilitarismo, isto é, não visam a um fim útil, mas apenas chocar. A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas. Essa teoria tem um apego exclusivo a determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo. Segundo Baratta, a teoria em foco “permanece, pois, limitada a um registro meramente descritivo das condições econômicas das subculturas, que não se liga nem a uma teoria explicativa, nem a um interesse político alternativo, em face destas condições. Estas são, desse modo, acriticamente postuladas como quadro estrutural dentro do qual se insere e funciona uma teoria criminológica de médio alcance: ou seja, uma teoria que parte da análise de determinados setores da fenomenologia social (como seriam, no nosso caso, os fenômenos da criminalização e da pena) para permanecer, no próprio contexto explicativo, dentro dos limites do setor examinado”. CONCLUSÃO Essa teoria defende que a conduta delitiva não seria um reflexo negativo da desorganização social e outras mazelas da sociedade contemporânea. Para esta teoria todo agrupamento humano é dotado de subculturas, com uma filosofia de vida e regras próprias. Assim, a existência de subculturas corresponde, naturalmente, à existência de valores distintos daqueles pregados pela cultura dominante. Desta forma, é possível que algumas destas subculturas possuam valores que se contraponham aos valores da cultura dominante e, em razão disso, o delito não derivaria de uma predisposição à violação da Lei, e sim um mero reflexo destas diferenças culturais.
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