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G R A D U A Ç Ã O DR. JOSÉ ROBERTO CASTILHO PIQUEIRA Introdução à Engenharia Híbrido GRADUAÇÃO Introdução à Engenharia Dr. José Roberto Castilho Piqueira Coordenador de Conteúdo Fábio Augusto Gentilin e Crislaine Rodrigues Galan Designer Educacional Yasminn Tavares Zagonel Revisão Textual Talita Dias Tomé e Meyre Barbosa Editoração Isabela Belido, José Jhonny Coelho, Melina Ramos e Thayla Guimarães Cripaldi Ilustração Bruno Pardinho, Marta Kakitani e Marcelo Goto Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Thiago Surmani e Leandro Naldei C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PIQUEIRA, José Roberto Castilho. Introdução à Engenharia. José Roberto Castilho Piqueira. Maringá-PR.: Unicesumar, 2018. 256 p. “Graduação - EaD”. 1. Engenharia. 2. Introdução . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0986-6 CDD - 22 ed. 620 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a) do curso de Engenharia, esta primeira disciplina pretende apresentar uma ideia geral das atividades profissionais que você poderá exercer no futuro, com ênfase no fato de que a Engenharia é uma atividade de grande relevância para o progresso e bem-estar da humanidade. A Engenharia nos rodeia nas atividades caseiras que envolvem fogão, má- quina de lavar, geladeira, televisão, internet, chuveiro, aquecedor, ferro elétrico, projetados e produzidos em escala industrial,para uso comum. Isso sem falar da nossa própria habitação, projetada e construída para nos proporcionar abrigo e conforto. Da casa para o trabalho: ruas, avenidas, pontes e viadutos permitem que o transporte, individual ou coletivo, conduza-nos com segurança e confiabilidade. Do trabalho para o lazer: estádios, teatros, academias, parques e resorts transformam nosso cansaço diário em momentos de tranquilidade e cuidado com nossa vida. Há, ainda, os aviões e navios, que facilitam o comércio entre as nações, transportam turistas e exe- cutivos entre continentes. Poderíamos continuar essa enumeração por muitos parágrafos. Entretanto preferimos que você comece a trilhar seu caminho na nova profissão. Na Unidade I, visitaremos a Pré-História e a Antiguidade, iniciando com as armas, roupas e habitação, essenciais para a escalada evolutiva de nossa es- pécie e chegando às maravilhas das construções gregas, egípcias e romanas. A Unidade II mostrará a evolução da Engenharia, com o construtor ainda visto como operário braçal até seu reconhecimento como profis- são e a criação das primeiras escolas, no século XVII. Era o Positivismo, combinando ciência e tecnologia, trazendo as máquinas como alívio ao trabalho físico. O início do século XX, descrito na Unidade III, trouxe verdadeiras maravi- lhas que vão desde sofisticados eletrodomésticos até a conquista do espaço, com o homem pisando na Lua, em 1969. Nesse ponto, o desenvolvimento foi de tal monta, que as divisões em modalidades de estudo surgiram: Ci- vil (Unidade IV), Elétrica (Unidade V), Química (Unidade VI), Produção (Unidade VII), Mecânica (Unidade VIII), descritas em conjunto com suas subdivisões: Ambiental, Telecomunicações, Eletrônica, Energia, Materiais, Metalurgia, Petróleo, Naval, Aeronáutica, Mecatrônica e tantas outras de- nominações especializadas. O seu século, o XXI, chegou e trouxe a reunião de todas essas ramifica- ções sob um novo paradigma: a Engenharia da Complexidade, descrita na Unidade IX. É para essa viagem, da Pré-História ao século XXI, que você está convidado. “Plunct, Plact, Zum; pode partir sem problema algum” (Raul Seixas). CURRÍCULO DO PROFESSOR Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1974), mestrado em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universida- de de São Paulo (1983), doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1987) e livre-docência em Controle e Automação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1997). Atualmente é professor titular (Concurso Público em 1999) e Diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, tem 110 artigos indexados na principal coleção da Web of Science (3 Editoriais, 89 em periódicos, 18 em con- gressos; h=12), orientou 23 mestrados, 24 douto- rados e supervisionou 9 pós-doutorados. Participa do corpo editorial dos periódicos: Journal of Con- trol, Automation and Electrical Systems (Springer) Journal of Taibah University for Science (Elsevier). É presidente do Conselho Superior do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e mem- bro efetivo da Academia Nacional de Engenharia. Tem experiência nas áreas de Engenharia Elétrica e Biomédica, com ênfase em Teoria Geral dos Circui- tos Elétricos, atuando principalmente nos seguintes temas: dinâmica, bifurcação, sincronismo, caos e modelos matemáticos. http://lattes.cnpq.br/6644721827442957 Conceito Básico de Engenharia 13 A Engenharia como Atividade Artesanal e o Surgimento das Primeiras Escolas 41 Engenharia: do Positivismo à Integração 67 Engenharia Civil Engenharia Elétrica 101 123 Engenharia Química 149 Indústria e Produção Engenharia Mecânica 199 Engenharia da Complexidade 227 175 Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. 26 Exemplo de aqueduto 47 Exemplo de funcionamento de roldana 82 Estação de tratamento 107 Exemplo de planta baixa 130 Gerador de Van Der Graaf 162 Usina termoelétrica: princípio de funcionamento 186 Chipset 215 241 Processo de Fresamento Cluster PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dr. José Roberto Castilho Piqueira • Compreender que a Engenharia rodeia a atividade huma- na desde os primórdios da escala evolutiva. • Compreender a Engenharia como a habilidade de utilizar os recursos disponíveis na natureza para benefício da vida humana. • Entender como as civilizações grega e egípcia realizaram grandes obras de engenharia construtiva, utilizando ele- mentos intuitivos da Matemática. • Verificar como o Império Romano aprimorou essa habili- dade iniciando a capacidade de planejamento da espécie humana. • Pesquisar e entender as obras de abastecimento de água do Império Romano, presentes e úteis até hoje. • Entender as modalidades de energia envolvidas nas ati- vidades descritas. • Finalizar entendendo que a Engenharia trabalha os diver- sos tipos de transformação e conservação de energia em benefício da vida no planeta. A Engenharia na Evolução Humana A Engenharia na Grécia Os sistemas de abastecimento de água do Império Romano Consumo de Energia e sua relação com a vida no Planeta A Engenharia no Império Romano Conceito Básico de Engenharia Engenharia na Evolução Humana O uso da energia, de ferramentas e de vestimen- tas pelo homem primitivo foi a primeira manifes- tação da Engenharia na vida da nossa espécie. Aproveitar os recursos que a natureza oferece para melhorar a vida no planeta é a principal finalidade da Engenharia. Você acaba de ingressar no curso de Engenharia, uma profissão nobre, responsável pelo desenvol- vimento da tecnologia desde as mais simples uti- lidades, como lâmpadas, móveis e embalagens até as mais sofisticadas, tais como máquinas elétricas, pontes, automóveis e computadores. Em toda nossa atividade diária, a Engenharia se faz presente: nos eletrodomésticos, nos trans- portes, nas ferramentas de trabalho e no mundo do lazer. Além disso, os hospitais e clínicas, cada vez mais, aprimoram suas técnicas com sofisti- cados equipamentos mecânicos e eletrônicos. É nesse mundo maravilhoso que você está ingres- 15UNIDADE I sando e, para começar, faremos uma breve retrospectiva histórica, mostrando como a criatividade e a habilidade humana permitiram que nossa espécie evoluísse da pré-história às viagens espaciais. A Engenharia acompanha o homem desde suas origens. A obten- ção do fogo, de vestimentas, das habitações e o tratamento de metais para a construção de armas e ferramentas permitiram a sobrevivên- cia da espécie (PIQUEIRA, 2014). Na Figura 1, podemos observar uma importante atividade de Engenharia sendo realizada por um indivíduo de uma espécie pré-humana: transferindo à pedra energia potencial gravitacional e energia proveniente de seus processos bioló- gicos internos, ele a usa para quebrar um osso e facilitar sua utilização. Figura 1 – Indivíduo de espécie pré-humana quebra osso de animal com uma pedra Fonte: Fernandes (2012, on-line)1. Esse é sempre o sinal de que a Engenharia manifesta-se: ela cria meios para que a energia seja transformada, conservada ou consu- mida, a bem do conforto da espécie. Não deixa, portanto, de ser um fato interessante que a Engenharia se manifeste, mesmo em escalas evolutivas primitivas. É dessa intuição, ligada à conservação da vida, que nasce a melhor Engenharia. Desde o início da civilização humana, o bom uso da energia se faz presente, inicialmente, com a obtenção do fogo, originária da transformação de energia mecânica em energia térmica e com o uso de cavernas como primeiras habitações, permitindo conservação de energia e viabilizando conforto térmico mínimo para sobrevivência, conforme ilustra a Figura 2. 16 Conceito básico de engenharia Figura 2 – Domínio do fogo e grutas como habitação Fonte: História... (2013, on-line)2. Os desenvolvimentos posteriores, alavancas e rodas tambémse relacionam ao bom uso da energia e de suas transformações. Nas- ce o que chamamos tecnologia, isto é, o domínio de técnicas que transformam recursos naturais em processos de preservação e de- senvolvimento da vida no planeta (BAZZO; PEREIRA, 2000). Assim foram dados os principais passos na evolução e progresso da espécie humana - usando os recursos energéticos disponíveis no planeta para garantir a vida. O blog PET-Civil da UFJF é um trabalho realizado por alunos dessa instituição, tratando, de maneira interessante, as questões históricas da Engenharia. Assim, para saber mais sobre a relação entre a Engenharia e a evolução humana, consulte o site: <https:// petcivilufjf.wordpress.com/2015/04/23/a-engenharia-na-historia- a-pre-historia/>. 17UNIDADE I A Engenharia na Grécia Além disso, estudaram profundamente os solos e as fundações e construíram sistemas de ca- lhas para escoamento da água da chuva. Esses avanços permitiram a materialização de grandes obras como pirâmides e templos (Figura 3), com impressionantes exemplos de uso de pedras e vidros. Os Egípcios iniciaram a indústria da constru- ção com grandes obras realizadas de maneira engenhosa (Engenharia), usando conhecimen- tos rudimentares e pré-científicos. Além disso, utilizaram, de maneira inteligente, a energia dos ventos (eólica) para a navegação. Os gre- gos aprimoraram as construções, introduzindo importantes valores estéticos combinados com a habilidade construtiva. A civilização egípcia antiga teve grande importância para a constru- ção civil, sendo responsável pela invenção do concreto, combinando sobras de polimentos com gesso e água. 18 Conceito básico de engenharia Figura 3 – Pirâmides e Templo de Faraós Fonte: Brasil ([2017], on-line)3. Os egípcios são os primeiros a usar grande quan- tidade de pedras em obras e, há mais de 5 mil anos, já utilizavam tijolos no formato atual. Além disso, tinham bons conhecimentos de Geologia e dos fatores que influenciavam a dureza das rochas. Além da construção civil, a construção naval era dominada pelos egípcios com o pri- meiro barco à vela, datado de 1000a.C. Outra área da Engenharia dominada pelos egípcios é a hidráulica, conhecendo a arte de construção de diques e canais e transformando o Nilo em importante meio de transporte. A Grécia Antiga, considerada o berço da civilização ocidental, notabilizou-se pela valo- rização do ser humano e pelo culto ao pensa- mento e ao belo, expresso pelo pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. A arquitetura, tratada como a arte de realizar grandes esculturas, passa a seguir nor- mas geométricas rigorosas, respeitando relações matemáticas precisas. Esculturas de deidades constituíam as colunas das construções (Figura 4) e, supostamente, contavam as histórias dos templos. Os principais monumentos da arqui- tetura grega foram os templos (Figura 4) e os teatros (Figura 5). Figura 4 – Mulheres esculpidas 19UNIDADE I As construções gregas eram feitas de madeira, barro ou tijolos de barro com telhados de palha. As colunas eram usadas para suporte, e o mármore passou a ser utilizado, a partir do século VII a.C., em templos e teatros. A maioria dos templos gregos foi construída com vigas de madeira envoltas por colunas de pedra, que serviam como forma de sustentação do telhado, e possuíam, também, três tipos de estética bem definidas: a dórica, a jônica e a coríntia (Figura 6). Figura 5 – Teatro de Epidauro servindo de colunas Figura 6 – Estética das colunas de sus- tentação (Jônico, Corinthio, Dórico) 20 Conceito básico de engenharia A ordem dórica tem origem no sentir do povo grego, representando o pensamento. A ordem jô- nica representa a graça e o feminino. Já a ordem coríntia refere-se ao luxo e à ostentação. “ Os gregos antigos não usavam argamassa em suas construções, mas braçadeiras e buchas para apertar as peças. Os blocos de mármore e calcário eram cuidadosamente extraídos e medidos e então cortados precisamente para garantir uma construção perfeita. As ferramentas usadas pelos pedreiros eram manuais, tais como enxada, broca, cinzel e marreta. Os mestres escultores enchiam as colunas de pedra e os plintos de entalhes altamente decorados. Um guindaste era usa- do para levantar e colocar no lugar as peças (SABINO, 2015, on-line). Neste ponto do nosso estudo, podemos fazer uma ligeira reflexão sobre as conquistas da Engenha- ria, anteriormente descritas, nas civilizações do Egito e da Grécia. Elas têm em comum a criação de grandes monumentos e construções suntuo- sas voltadas para a ostentação do poder de faraós e imperadores. O lado genial da capacidade de conceber obras robustas é pouco reportado e seus autores, arquitetos e engenheiros da época, prati- camente não são referenciados. Entretanto, é fato digno de nota que conce- beram e construíram obras e monumentos den- tro dos melhores padrões da Engenharia, sem o ferramental teórico que a Ciência proporcionou séculos depois, com o desenvolvimento da Física. Um ponto importante a se destacar é que, mais uma vez, é a energia dos operários, de seus inventos utilitários e da natureza que, bem apro- veitada, dá vida às obras. Em relação ao bom uso da Energia, é nesse período que as energias dos cursos d’água e do vento passam a ser utilizadas no transporte fluvial e marítimo. 21UNIDADE I A Engenharia no Império Romano O Império Romano, herdeiro dos grandes pro- gressos intelectuais e tecnológicos dos egípcios e gregos, produziu importantes desenvolvimentos na Engenharia. Além do aprimoramento dos ma- teriais utilizados e das técnicas construtivas, há um amplo avanço na infraestrutura de transpor- tes, com a construção de estradas, túneis e pontes com técnicas até hoje estudadas. A Engenharia da Roma antiga iniciou um período importante da história da civilização aprimoran- do a indústria da construção com a invenção do cimento. Concebeu as estruturas em arco, pavimentou áreas urbanas, construiu pontes e túneis tecnicamente perfeitos. 22 Conceito básico de engenharia Deve-se ressaltar, ainda, os aquedutos que garan- tiam abastecimento de água a boa parte de popu- lação e são os precursores das modernas redes de distribuição atuais. Do ponto de vista da constru- ção, a obra que melhor representa o trabalho da Engenharia Romana é o Coliseu (Figura 7), que se apresenta até os dias de hoje como modelo para construção de estádios. Com capacidade para 50 mil pessoas, foi cuidadosamente projetado com ventilação e iluminação naturais planejadas de maneira minuciosa, inaugurado em 80 d.C. Uma novidade introduzida pelos romanos foi a concepção de arruamentos e calçadas nos espa- ços urbanos, melhorando a qualidade de vida da população. Nesse período foram construídos mi- lhares de quilômetros de calçada com o esquema construtivo mostrado na Figura 8. Outra conquista da Engenharia romana foram as pontes, construídas com pedras no século II a.C. Originalmente os blocos eram fixados por grampos de ferro, mas houve uma importante evolução para o uso de núcleos de concreto e re- vestimentos de blocos de pedras (Figura 9). Figura 8 – Calçadas romanas Fonte: Pet Engenharia Civil UFJF (2016, on-line)4. Figura 7 – Coliseu Fonte: Pet Engenharia Civil UFJF (2016, on-line)4. 23UNIDADE I As construções romanas usaram amplamente as vantagens estruturais dos arcos. Suas pontes con- tinham arcos de pedra que permitiam a distribui- ção eficiente dos pesos. Em toda Europa existem, ainda, centenas de pontes romanas, indicando sua precisão técnica e alta confiabilidade. Os romanos aprimoraram, também, a cons- trução de túneis subterrâneos que permitiam circulação subterrânea, construídos com tal per- feição que estão em perfeito estado, até hoje. A recente descoberta de uma rede de túneis sob as ruínas da Villa Adriana, na cidade de Tivoli, Figura 9 – Ponte romana sobre o Rio Marecchia Fonte: Wikipédia ([2017], on-line)5. O blog Edukavita contém umaquantidade variada de informações úteis, com ênfase na História das maravilhas construídas pelo homem. Para saber mais sobre a Engenharia romana e suas construções, consulte o site: <https://edukavita. blogspot.com.br/2016/05/engenharia-romana- origens-e-historia.html>. Figura 10 – Vila Adriana perto de Roma, comprova esse fato (Figura 10). Deve-se ressaltar que os romanos construíram centenas de milhares de quilômetros de estradas para várias finalidades, como comércio e con- trole do império. Por fim, não há como negar que a mais impor- tante contribuição dos romanos para a construção foi a invenção do concreto, permitindo impressio- nantes construções. Inventado no final do século III, era obtido adicionando um pó vulcânico à argamassa feita de uma mistura de tijolo ou pe- daços de pedra, cal ou gesso e água. 24 Conceito básico de engenharia Os Sistemas de Abastecimento de Água do Império Romano Os aquedutos romanos colocam em evidência os dois bens mais preciosos que a natureza pro- porcionou ao planeta: água e energia. Conser- vá-los é tarefa de todos e finalidade primordial da Engenharia. Deixamos esta contribuição do Império Roma- no para a Engenharia em uma sessão especial, pois trata da primeira iniciativa organizada do bom uso da energia disponível na natureza para o bem-estar humano. Os aquedutos foram concebidos e construídos pelos romanos para satisfazer a vários tipos de aplicação. A principal era levar a água de lugares onde havia em abundância para lugares em que ela era escassa. Dessa maneira, a água, corretamente dire- cionada, servia chafarizes, banhos públicos ou privados e limpeza de latrinas. Adicionalmente, atividades de agricultura e mineração se serviram 25UNIDADE I dos benefícios proporcionados pela disponibilidade da água. Come- çam, então, de maneira organizada e planejada, os bons serviços da Engenharia, envolvendo os dois aspectos essenciais da vida: água e energia. É desses dois itens que depende a vida em nosso planeta, e uma mirada retrospectiva para os cuidados dos romanos deve ser de grande utilidade. Os aquedutos transportavam água fazendo uso da energia po- tencial gravitacional, aproveitando inclinações de canais enterra- dos. Nos locais onde a natureza era desfavorável, vales e planícies, canos de chumbo, em alta pressão ou canais passavam por pontes e alimentavam o sistema (Figura 11). Figura 11 – Aqueduto Pont du Gard na Gália Romana (atual sul da França) Fonte: Wikimedia ([2017], on-line)6. No século III, Roma tinha um grande número de aquedutos para uma população de mais de um milhão de pessoas que usavam a água de maneira ex- travagante. Não havia, ainda, a consciência da importância da preservação desse presente da natureza. 26 Conceito básico de engenharia Os Aquedutos Romanos refletiam a filosofia ro- mana de objetividade e praticidade. Roma nos deixou volumosas estruturas que tinham a fun- ção de conduzir a água pelas cidades. As fontes atestam que os romanos conheciam o sistema de transporte de água por canalização subterrânea e o de aquedutos em arcos suspensos que fora aprendido com os etruscos. A escolha por este modelo deu-se pelo preço inferior das obras, já que os materiais necessários eram mais abun- dantes e baratos. Para saber mais sobre esse assunto, acesse: <http://www.infoescola.com/historia/aquedutos- romanos/>. Fonte: Gasparetto Júnior ([2017], on-line)7. Exemplo de aqueduto 27UNIDADE I Consumo de Energia e sua Rwelação com a Vida no Planeta Para medidas práticas de consumo de energia, usa-se a unidade “quilowatt hora” (kWh), que cor- responde ao consumo de um aparelho de potência 1kW (1 000W), ligado durante uma hora (3 600s). Ao estudarmos a evolução da Engenharia, desde as civilizações pré-humanas até a civilização ro- mana, pudemos observar que nossa espécie, para evoluir e melhorar suas condições de vida, apro- veitou-se dos recursos naturais disponíveis, sem se preocupar com sua reposição ou conservação. O grande desafio do século XXI é a questão energética – trata-se de problema delicado e de abrangência mundial. O nível atual de desenvolvi- mento da humanidade, evidenciado pela tecnolo- gia, a medicina e o potencial de conforto, exige um consumo de energia por habitante bastante eleva- do. Interromper esse consumo – decisão simplista – seria negar o conhecimento adquirido e, talvez, comprometer a continuidade da civilização. 28 Conceito básico de engenharia Piqueira e Brunoro (2000, p. 5) afirmam que “sendo inevitável consumir energia, é importante haver bom senso na sua distribuição e renovação e também a consciência de que é urgente desenvol- ver novas tecnologias não poluentes para obtê-la”. A obtenção de energia para manter a sociedade, hoje, está atrelada, quase inevitavelmente, à degra- dação ambiental. A escolha adequada da matriz energética (distribuição entre as formas de gera- ção) mundial não pode levar em conta apenas os custos imediatos: deve assegurar a qualidade de vida das futuras gerações. Veremos, a seguir, alguns dos aspectos relativos ao uso da energia e suas implicações. Iniciamos com a ideia geral de que a energia é o bem de capital de maior valor para a nossa espécie, dis- cutindo-a no que se refere à utilização humana. Nas aulas de Biologia e Física, estamos acostu- mados a nos deparar com dois conceitos aparen- temente díspares de energia. Os biólogos parecem falar de algo concreto, que passa do Sol para as plantas e dessas para os animais, transforman- do-se no interior dos seres vivos, por processos fisiológicos complicados, nas mais diversas mo- dalidades, sendo essencial para funções como respiração, excreção, reprodução, manutenção de temperatura e condução de impulsos elétricos associados ao sistema nervoso. Os físicos pare- cem falar de algo mais abstrato, calculável por equações, relativo a situações mais simples, como carrinhos descendo montanhas-russas ou cargas elétricas em movimento nos circuitos. Os conceitos empregados nas duas disciplinas, entretanto, são integrados e remetem a mesma en- tidade física: a capacidade de um corpo (ou sistema de corpos), em qualquer escala espacial, produzir movimento próprio ou de outros corpos que estão no seu entorno. Assim, o ser humano, nas atividades diárias, todo o tempo utiliza energia. Ele a retira dos alimentos que ingere e, como se fosse uma máquina, transforma-a nas diversas modalidades necessárias ao funcionamento do seu organismo. A Tabela 1 ilustra o gasto de energia do corpo humano em diversas atividades: Necessidades energéticas para várias atividades (em kcal/hora) Trabalho leve Trabalho moderado Trabalho pesado Trabalho muito pesado Escrever 20 Dormindo 85-110 Marchando 280-400 Pedreiro 350 Permanecer relaxado 20 Tomando banho 125-125 Andando de bicicleta 180-600 Correndo 800-1000 Datilografando rapidamente 55 Carpintaria 150-180 Remando 120-600 Escalando 400-900 Tocando violino 40-50 Caminhando 130-240 Nadando 200-700 Esquiando 500-950 Lavando louça 60 - - Subindo escadas 1000 Passando a ferro 60 - - - Tabela 1 – Necessidades energéticas para várias atividades (kcal/h) Fonte: Goldemberg (1998). 29UNIDADE I Evidentemente, à medida em que a nossa espécie foi se multiplicando e se apropriando do espaço terrestre, as necessidades de energia aumentaram consideravelmente, sobretudo, porque dela pas- sou a depender a vida sob condições adversas. O gráfico de barras da Figura 12 (GOLDEMBERG, 1998) mostra esse fato, indicando que, quanto mais sofisticada a vida e melhor sua qualidade, maior a necessidade de consumo de energia. Do homem primitivo até o homem tecnológico, o consumo diário cresceu, em um milhão de anos, de 2000 kcal para quase 230 000 kcal. Esse aumen- to foi progressivo, acompanhando o refinamento da tecnologia desenvolvida pela humanidade para modificar o meio ambiente em seu benefício. Os recursos energéticos disponíveis na Terra, porém, são limitados. Conciliar essefato com as necessidades humanas é, como dizemos, um gran- de desafio a ser enfrentado pela ciência moderna, independentemente das administrações e das ideo- logias. Além disso, não há como negar que o con- sumo de energia está relacionado com a qualidade de vida, conforme mostram os gráficos ilustrativos (GOLDEMBERG, 1998) da Figura 13, em que a unidade de energia utilizada é a TEP (tonelada equivalente de petróleo), equivalente a 107 kcal. Figura 12 – Desenvolvimento e consumo de energia Fonte: Goldemberg (1998). Estágios de desenvolvimento e consumo de energia Alimentação Homem tecnológico230 77 20 12 6 2 Homem industrial Homem agrícola avançado Homem agrícola primitivo Homem caçador En er gi a to ta l c on su m id a pe r ca pi ta (m il kc al /d ia ) Homem primitivo Consumo diário per capita (mil kcal) 0 50 100 150 200 Moradia e comércio Indústria e agricultura Transporte Figura 13 – Energia e qualidade de vida Fonte: Goldemberg (1998). Expectativa de vida, mortalidade infantil, alfabetização e taxa de fertilidade total como uma função da energia comercial consumida per capita 80 20 0 2 4 6 40 Média de 127 países para grupos de 10 países Uso de energia TEP per capita por ano Ex pe ct at iv a de v id a (a no s) 60 80 20 0 2 64 8 40 Média de 127 países para grupos de 10 países Uso de energia TEP per capita por ano M or ta lid ad e in fa nt il (M or te s po r 10 00 n as ci m en to s vi vo s) 60 80 20 40 Uso de energia TEP per capita por ano An al fa be ti sm o (% p op ul aç ão a du lt a) 60 0 2 64 8 0 2 64 8 2 4 Oma Arábia Saudita LíbiaIra Gabão Mongolia Venezuela Kuwait Trinidad e Tobago Uso de energia TEP per capita por ano Ta xa d e fe rt ili da de to ta l ( TF T) 6 8 10 30 Conceito básico de engenharia Verificamos, então, que a energia é essencial à vida e fator de conforto e bem-estar. Entretan- to seu consumo é fator relevante nos problemas ambientais, principalmente em decorrência do emprego de combustíveis fósseis na produção de eletricidade, no setor de transporte e na indústria. Resolver esse problema eliminando a causa, evi- dentemente, é uma tarefa muito difícil, pois os com- bustíveis fósseis respondem por mais de 90% do con- sumo atual de energia mundial. Entretanto não parece impossível, dadas as alternativas de fontes renováveis disponíveis hoje. Usar gás natural nas termelétricas é interessante, pois, em comparação com os combus- tíveis fósseis, emite metade do CO2 por kWh e pra- ticamente não emite óxidos de enxofre e nitrogênio. Fazendas de produção de energia a partir de biomassa representam outra solução bastante con- vidativa, uma vez que o CO2 por elas emitido pode ser reabsorvido nos processos de fotossíntese e não há emissão de óxidos de enxofre e nitrogênio. Há, ainda, a energia solar, que pode ser utilizada como fonte quente nas termelétricas ou ser diretamente convertida em elétrica, nas células fotovoltaicas. As desigualdades entre os países, no entanto, de- terminam diferenças não só no volume de energia consumido (os pobres consomem menos que os ricos), como também na forma de obtê-la: as me- lhores soluções para a matriz energética dos países desenvolvidos, quando aplicadas ao contexto de paí- ses em desenvolvimento, nem sempre serão ótimas. A questão energética influencia diretamente o desenvolvimento e o meio ambiente. Não podemos privilegiar o primeiro provocando drásticos impac- tos no segundo. É nisso que se fundamenta o concei- to de desenvolvimento sustentável, que defende não só a qualidade de vida atual, mas também a herança a ser deixada para as gerações futuras, propondo a proteção e a manutenção dos sistemas naturais. Um passo significativo para a concretização desse conceito foi a Conferência de Estocolmo, em 1972, que enfatizou a questão ambiental e a con- vivência na Terra. Outro foi a ECO 92 ou United Nations Conference on Environment and Deve- lopment - Unced, realizada no Rio de Janeiro, que frisou o problema da utilização de combustíveis fósseis na produção de energia devido à emissão de CO2 e o consequente agravamento do efeito estufa. O Protocolo de Kyoto (1997) procurou restrin- gir a emissão de CO2 dos países, sugerindo o em- prego de mecanismos para um desenvolvimento limpo. O recente acordo de Paris (2015) rege as emissões de CO2, estabelecendo limites a serem atingidos em 2020. Para dar uma ideia dos reais responsáveis pelo efeito estufa e pela degradação ambiental, apre- sentamos a Tabela 2, com o volume anual de CO2 emitido por diversos países. Emissão de CO2 (toneladas de CO2 per capita) Quantidade Países Entre 16 e 36 Estados Unidos e Austrália. Entre 7 e 16 Japão, Canadá, Rússia, Ucrânia, Polônia e África do Sul. Entre 2,5 e 7 União Europeia, China, México, Chile, Argentina e Venezuela. Entre 0,8 e 2,5 Brasil, Índia, Indonésia, países da América Central e Caribe. Tabela 2 - Emissão de CO2 (toneladas per capita) Fonte: Goldemberg (1998). Os Estados Unidos, um dos maiores emissores de CO2, posicionaram-se contra as medidas propos- tas, alegando que elas acarretariam uma redução drástica na sua economia, podendo provocar re- cessão. Esse é um exemplo da tentativa suicida de 31UNIDADE I manter a economia dos ricos à custa da degrada- ção da qualidade de vida de todos. Para que você possa avaliar o consumo de energia de seu cotidiano, vamos recordar um ponto importante da Física: • No sistema internacional de unidades (SI), a energia, de qualquer tipo ou modalidade, é medida em joules (J). • Quando se trata de estudar processos de transformação de energia, usa-se o con- ceito de potência, medida em watts (W) e definida como energia por unidade de tempo. Assim, quando ligamos uma lâm- pada de 100W à rede elétrica, uma energia de 100 J é consumida, a cada segundo. • Para medidas práticas de consumo de energia, usa-se a unidade “quilowatt hora” (kWh), que corresponde ao consumo de um aparelho de potência 1kW (1 000W), ligado durante uma hora (3 600s). A título de exemplo, vamos considerar um chuvei- ro que, quando ligado em uma instalação de 220 volts (V), opera com potência de 2000W (2kW). Caso você tome um banho de 0,5 h (30min = 1800 s), o consumo de energia correspondente será de: C = 2000W.1800s = 3 600 000 J ou C = 2kW.0,5h = 1 kWh. Assim, podemos escrever: 1kWh = 3 600 000 J. Considerando nossas atividades cotidianas (Ta- bela 1), verificamos que, mesmo dormindo, nosso organismo consome cerca de 100 kcal/h. A kcal é uma unidade de energia que se rela- ciona com o joule por: 1 kcal = 4 000 J. Como em uma hora temos 3 600 s, esse nosso consumo de energia pode, também, ser expresso por: (100 . 4 000)/(3 600) = 111 W, isto é, quando dormimos nosso organismo gasta a mesma energia de uma lâmpada de 100W perma- nentemente acesa. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Piqueira e Brunoro escreveram um texto sobre as principais questões relativas ao uso da ener- gia e como seu uso e consumo se relacionam à vida e à sustentabilidade no nosso planeta. Além disso, abordam possíveis consequências do uso de energia proveniente de combustíveis fósseis para o clima na Terra. Para saber mais, acesse: <https://www. researchgate.net/publication/266247679_ ENERGIA_uso_geracao_e_impactos_ambientais>. Nesta unidade, procuramos apresentar uma ideia de como a criatividade humana e a ob- servação da natureza nos levou ao progresso tecnológico e como é possível manter a vida e preservar os recursos naturais disponíveis. Essa missão da espécie humana só é possível com a boa Engenharia, associada ao amplo conheci- mento das formas de energia disponíveis e de seu bom uso. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/650 32 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O abrigo do homem pré-histórico em cavernas, além da proteção contra espécies predadoras,proporcionava: a) Conservação da energia térmica. b) Aquecimento. c) Resfriamento. d) Trocas de calor rápidas. e) Aquecimento brusco. 2. Os egípcios se destacaram nas engenharias: a) Civil e Mecânica. b) Civil e Naval. c) Elétrica e Civil. d) Mecânica e Hidráulica. e) Naval e Mecânica. 3. Os tijolos dos egípcios eram: a) Poligonais. b) Arredondados. c) Com formato semelhante aos atuais. d) Hexagonais. e) Poligonal. 4. Para os gregos, a Arquitetura era: a) Uma arte. b) Um trabalho repetitivo. c) Um passeio pela imaginação. d) Um retorno ao mar. e) Um retorno à Terra. 33 5. A ordem Dórica representa: a) Fome. b) Pressão. c) Dor de cabeça. d) Ação impulsiva. e) Pensamento. 6. Os monumentos e as obras das civilizações egípcia e grega se fundamentavam: a) Nas leis de Newton. b) Nas equações de Maxwell. c) Nos fundamentos matemáticos da Geometria. d) Na prática e na intuição dos trabalhadores. e) No teorema de Pitágoras. 7. A navegação à vela, iniciada pelos egípcios e fenícios, fazia uso da energia: a) Química. b) Eólica. c) Potencial gravitacional. d) Eletromagnética. e) Nuclear. 8. Além das técnicas de construção, em quais áreas da Engenharia os romanos contribuíram: a) Transportes e Mecânica. b) Mecânica e Eletricidade. c) Transporte e Materiais. d) Materiais e Mecânica. e) Termodinâmica e Eletricidade. 34 9. O Coliseu, obra de referência da civilização romana, é usado, até hoje, como modelo para projetos de: a) Casas. b) Prédios. c) Pontes. d) Estradas. e) Estádios. 10. A qualidade de vida nas cidades urbanas do Império Romano teve uma melhoria considerável pela introdução de: a) Luz elétrica. b) Água potável. c) Rede de esgotos. d) Ruas e calçadas. e) Transporte coletivo. 11. As estruturas em arco permitem: a) Melhor distribuição de peso. b) Diminuição de peso. c) Melhor aparência. d) Diminuição da ação dos ventos. e) Diminuição da ação das águas. 12. O concreto inventado pelos romanos era constituído de: a) Pó vulcânico, tijolo, argamassa e água. b) Pó vulcânico, tijolo, gesso e água. c) Tijolo, gesso, água e óleo. d) Gesso, água, pó de licopódio e tijolo. e) Pó de licopódio, água, ácido clorídrico e tijolo. 35 13. Os aquedutos romanos transportavam água fazendo uso da energia: a) Cinética. b) Eólica. c) Elétrica. d) Potencial Gravitacional. e) Nuclear. 14. Os dois aspectos vitais para a espécie humana envolvidos na concepção dos aquedutos são: a) Água e Energia. b) Água e Ar. c) Ar e Energia. d) Oxigênio e Água. e) Oxigênio e Energia. 15. Além das aplicações de higiene proporcionadas pelos aquedutos, seus principais benefícios envolviam: a) Agricultura e Pecuária. b) Pecuária e Mineração. c) Mineração e Agricultura. d) Pecuária e Qualidade do ar. e) Qualidade do ar e Mineração. 16. Obtenha a relação de transformação de kWh para J. 17. Quantos kWh, por dia, gasta o homem tecnológico? Quanto gastava o homem agrícola primitivo? (Considere 1cal = 4J.) 18. Com base na Figura 13 – Energia e qualidade de vida, compare, aproximada- mente, o consumo anual de energia per capita de um país com mortalidade infantil de 10 mortes por 1 000 nascimentos com outro de 40 mortes a cada 1 000 nascimentos. 36 19. Considere os seguintes dados a respeito da energia elétrica no Brasil, fornecidos pelo IBGE: Custo por kWh R$ 0,18 Número de chuveiros elétricos 28 000 000 Número médio de pessoas por residência 3,6 Tempo médio para um banho 8 minutos Potência média do chuveiro 4kW a) Considerando que cada pessoa toma um banho por dia, qual o consumo médio mensal de energia por residência? b) Compare o valor obtido no item anterior com os 100 kWh dados como limite mensal por pessoa, pelos órgãos governamentais. c) Qual o consumo nacional anual em kWh, considerando apenas o gasto com banhos? d) Se uma residência tem, além do chuveiro, 3 lâmpadas de 100 W (1 hora por dia), uma geladeira de 300 W (8 horas por dia) e um ferro de passar roupa de 500 W (1 hora por dia), qual será o custo mensal da conta, considerando que o consumo acima de 200 kWh é sobretaxado em 50%? e) Considerando que uma termelétrica emite 100 g de CO2 por kWh, quantas to- neladas desse gás seriam emitidas por ano se toda a energia relativa a banhos do Brasil passasse a ser gerada dessa maneira? 37 Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento Autor: José Goldemberg e Osvaldo Lucon Editora: Edusp Sinopse: o papel da energia no desenvolvimento é bem conhecido, assim como o seu papel como uma das principais causa da degradação ambiental. Contudo, a inter-relação energia–desenvolvimento–meio ambiente não é adequadamente analisada pelo material bibliográfico convencional, e esta é a principal inovação deste livro. O livro discute, inicialmente, o conceito de energia; em seguida, aborda sua relação com as principais atividades humanas, como os recursos naturais existentes e com os indicadores de desenvolvimento. Discute, também, os principais problemas ambientais, suas causas e possíveis soluções. Com esses diagnósticos, classifica as fontes e os usos finais de energia, apresentando ten- dências futuras e soluções – tecnológicas, políticas e comportamentais – para os problemas de sustentabilidade ambiental, econômica e social. Tal abordagem é resultado de vários anos de estudos e experiência dos autores no ensino, bem como na formulação, discussão e implantação de políticas públicas relativas ao tema. LIVRO PET-Civil O blog PET-Civil da UFJF é um trabalho de ótima qualidade realizado por alunos dessa instituição, tratando de maneira interessante as questões históricas da Engenharia. Para boas leituras sobre História da Engenharia, consulte-o. <https://blogdopetcivil.com>. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/693 38 BAZZO, W. A.; PEREIRA, L. T. V. Introdução à engenharia. Florianópolis: UFSC, 2000. PIQUEIRA, J. R. C. Reflexões sobre história do ensino de Engenharia. Porvir: Inovações em Educação, 2014. Disponível em: <http://porvir.org/reflexoes-sobre-historia-ensino-de-engenharia/>. PIQUEIRA, J. R. C.; BRUNORO, C. M. Energia: uso, geração e impactos ambientais. São Paulo: Editora Anglo, 2000. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/266247679_ENERGIA_uso_geracao_e_im- pactos_ambientais>. Acesso em: 06 nov. 2017. SABINO, R. História da Engenharia: A Grécia antiga. 2015. Disponível em: <https://blogdopetcivil. com/2015/06/01/historia-da-engenharia-a-grecia-antiga>.Acesso em: 06 nov. 2017. GOLDEMBERG, J. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo: EDUSP, 1998. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: <https://cpalexandria.wordpress.com/2012/02/13/definicao-contemporanea-de-pre-historia/>. Acesso em: 06 nov. 2017. 2Em: <http://rhistoriaz.blogspot.com/2013/06/historia-geral-i-pre-historia.html>. Acesso em: 06 nov. 2017. 3Em: <http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/seu-destino/egito>. Acesso em: 06 nov. 2017. 4Em: <https://blogdopetcivil.com/2016/09/26/historiadaengenhariaromaantiga/>. Acesso em: 06 nov. 2017. 5Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rimini>. Acesso em: 06 nov. 2017. 6Em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Pont_du_Gard_Oct_2007.jpg>. Acesso em: 06 nov. 2017. 7Em: <https://www.infoescola.com/historia/aquedutos-romanos/>. Acesso em: 06 nov. 2017. 39 1. O abrigo do homem pré-histórico em cavernas, além da proteção contra espécies predadoras, proporcionava conservação da energia térmica, isolando o ambiente. (Alternativa A) 2. Os Egípcios se destacaram nas engenharias: Civil e Naval. (Alternativa B) 3. Os tijolos dos egípcios eram: com formato semelhante aos atuais. (Alternativa C) 4. Para os gregos, a Arquitetura era: uma arte. (Alternativa A) 5. A ordem Dórica representa: pensamento. (Alternativa E). 6. Os monumentos e obras da civilização Egípcia se fundamentavam: nos fundamentos matemáticos da Geometria (Alternativa C) 7. A navegação à vela, iniciada pelos Egípcios e Fenícios, fazia uso da energia Eólica. (Al- ternativa B) 8. Além dastécnicas de construção, em quais áreas de Engenharia os romanos contribuí- ram: transporte e materiais. (Alternativa C) 9. O Coliseu, obra de referência da civilização romana, é usado até hoje como modelo para projetos de: estádios. (Alternativa E) 10. A qualidade de vida nas cidades urbanas teve uma melhoria considerável pela introdução de: ruas e calçadas. (Alternativa D) 11. As estruturas em arco permitem: melhor distribuição de peso. (Alternativa A) 12. O concreto inventado pelos romanos era constituído de: pó vulcânico, tijolo, gesso e água. (Alternativa B) 13. Os aquedutos romanos transportavam água fazendo uso da energia: Potencial Gravi- tacional. (Alternativa D) 14. Os dois aspectos vitais para a espécie humana envolvidos na concepção dos aquedutos são: água e energia. (Alternativa A) 15. Além das aplicações de higiene proporcionadas pelos aquedutos, seus principais bene- fícios envolviam: mineração e agricultura. (Alternativa C) 16. 3,6 . 106J. 17. Homem tecnológico: 255 kWh; homem agrícola primitivo: 13,3 kWh. 18. A energia gasta, per capita, em um país de 10 mortes por 1000 nascimentos, é 12 vezes maior que a gasta por um de 40 mortes por 1000 nascimentos. 19. a) 57,6 kWh. b) 16% do total proposto são gastos só com banhos, sobrando R$ 84,00, ou seja 302,4 kWh para o restante das atividades. c) 1,9.1010 kWh. d) R$ 27,65, desconsiderando-se os impostos. e) 1,9.106 toneladas. 40 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender que a Engenharia, embora essencial para o desenvolvimento humano, até o final do século XVII, era considerada tarefa de artesãos e operários e de pouco valor intelectual. • Compreender que a Engenharia, até o século XVII, era exercida com extrema habilidade artesanal, guiada pela intuição e pela experiência. • Entender que, nessa época, Filosofia e Ciência eram con- sideradas atividades intelectuais nobres e de pouca in- fluência na Engenharia. • Entender como as atividades expansionistas de reis e imperadores incentivaram as primeiras escolas militares para o ensino da Engenharia, ainda como prática artesanal. • Verificar como a corrente filosófica do Positivismo apro- ximou a Engenharia das Ciências Básicas, que passou a utilizar os princípios da Física e da Matemática de maneira sistematizada. • Verificar o surgimento e difusão das Escolas Politécnicas, trabalhando a combinação dos conhecimentos científicos com a habilidade tecnológica. O construtor visto como operário A Ciência e a Filosofia O Positivismo O Positivismo e as Escolas Politécnicas As Academias Militares e Escolas Navais como precursoras das Escolas de Engenharia Dr. José Roberto Castilho Piqueira A Engenharia como Atividade Artesanal e o Surgimento das Primeiras Escolas O Construtor Visto como Operário Ao final da Idade Média, havia um grande conhe- cimento acumulado relativo às técnicas e mate- riais de construção. Essas atividades de constru- ção eram exercidas por operários, planejadas por aqueles que detinham conhecimento intuitivo e originário da prática. Olá, aluno(a), conforme você pôde notar na unida- de anterior, a Engenharia sempre esteve associada à criatividade e à intuição humana, que levou à con- cepção das maravilhas já descritas. A invenção da roda, o transporte do fogo e o fogo moldando me- tais são descobertas que garantiram a evolução da espécie. Pirâmides egípcias, colunas gregas, aque- dutos romanos são exemplos de engenhosidade e de entendimento intuitivo das forças da natureza. Além disso, embora haja registros históricos dos faraós associados às pirâmides, dos impera- dores gregos e romanos associados às obras de Arquitetura e Engenharia, preciosas e duradouras, 43UNIDADE II não se sabe ao certo quem as concebeu, projetou ou construiu. As pirâmides, por exemplo, são obras tão impressionantes que há até quem diga que fo- ram construídas por extraterrestres. Entretanto arqueólogos afirmam que as pirâmides foram construídas por trabalhadores livres e assalariados, supervisionados e orientados por operários mais experientes, não havendo registro de papiros ou pinturas indicando planejamento prévio. Na mesma linha, embora haja registros e lou- vores aos autores e intérpretes do teatro grego, pouco se sabe sobre aqueles que conceberam e realizaram as obras de seus espaços físicos, eternos trabalhos de engenharia e exemplos para constru- ção de estádios e arenas, até hoje. Sobre o teatro de Epidauro, sabe-se que o es- cultor e arquiteto Policleto o concebeu, indicando os primeiros sinais do surgimento da profissão. Entretanto não há registros de planejamento ou de evolução da construção, que era realizada por operários humildes. Considerando os feitos ro- manos, representados pela invenção do concreto e pela concepção das estruturas em arco, tam- bém não há registro de seus criadores. Estradas e aquedutos foram implementados por engenheiros anônimos que, com a pouca Matemática que ti- nham à mão, produziram essas maravilhas. Filosofia, Arte e Literatura se desenvolveram e eternizaram os nomes de seus autores como ine- gáveis geradores do saber humano, em espaços concebidos e construídos por trabalhadores e operários pouco lembrados. Esse conhecimen- to acumulado, acrescido de diversas descobertas científicas, passou a fazer parte do conjunto de segredos dominados por entidades poderosas, durante a Idade Média. É o final do século XVII, entre o Renascimento e o Iluminismo, que traz nova concepção de Engenharia, fundamentada no progresso científico e sua utilização para resolver problemas práticos e projetar máquinas. Ficou claro que, ao longo dos eventos aqui des- critos, as construções foram pensadas e realizadas a partir de uma apurada observação da natureza, com pouco uso do que chamamos de conheci- mento científico. Tentando ilustrar essa notável habilidade, vamos entender como as pedras, ma- terial básico da construção, ficavam unidas ao serem assentadas. Sobre as pirâmides do Egito: As pirâmides do Egito exercem um fascínio natural sobre as pessoas em geral, por sua grandeza e pelo conteúdo místico associado. Para um engenheiro, fica a pergunta: Como foram projetadas e construí- das? O site indicado traz informações sobre a História do Egito e, em particular, sobre as pirâmides. Acesse o link disponível em: <http://www.egipto.com.br/segredos-piramides-egito>. Sobre o teatro grego: Como uma construção da antiguidade apresenta acústica tão boa como as construções modernas, sem os equipamentos hoje disponíveis? Os teatros gregos são construídos com engenhosidade admirável. O site indicado traz interessantes noções sobre a História da Arquitetura e sobre as construções gregas. Acesse o link disponível em: <http://historiaearquitetura.blogspot.com.br/2012/01/teatro-de-epidauro- grecia.html>. 44 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas Civilizações diferentes deram soluções diver- sas e criativas para o problema. Os romanos, como já vimos, desenvolveram o cimento que servia de liga entre as partes e, além disso, ali- sado, embelezava as áreas externas (Figura 1). Figura 2 – Pedras em construção INCA Figura 1 – Parede romana Os Incas, no século XV, construíram, na América do Sul, fortalezas usando imensas pedras encai- xadas geometricamente de maneira tão perfeita que até hoje não se sabe como os cortes das pe- dras eram feitos com tanta precisão (Figura 2). 45UNIDADE II A Ciência e a Filosofia O século XVII marca, na Engenharia, a passagem do uso de ferramentas totalmente empíricas para os métodos de projeto fundamentados nas leis da natureza. Os primeiros relatos da sistematização do conhe- cimento humano datam da Grécia Antiga e são relacionados à Filosofia idealista de Platão, com- plementadas por Aristóteles, que atribui à Natureza leis que regem seu funcionamento (BUNGE, 2017). Ao longo do tempo, nas civilizações egípcia, grega e romana, os estudos filosóficos implica- ram as primeiras descobertasda Matemática e alguns desenvolvimentos iniciais de leis relativas às Ciências da Natureza. Havia, na formulação dessas leis, uma forte dose de empirismo e uma sistematização ainda incipiente, o que não impedia que os artífices, artesãos e operários se aproprias- sem desse conhecimento e, combinando-os com a prática, construíssem as grandes obras já descritas. 46 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas Apesar da distância social e das diferenças de costumes entre o mundo dos filósofos e dos operários da construção, os esgotos, teatros, pa- lácios, estradas, pontes e engenhos de guerra fo- ram construídos, baseados no saber científico que começava a se concretizar. Na Grécia Clássica, os conhecimentos de Matemática de algumas escolas filosóficas serviram para desenvolver a Mecânica e diminuir o trabalho manual (SCHNAID et al., 2006). Por exemplo, roldanas (Figura 3) facilita- ram transporte de materiais em construções e navios, enquanto que moinhos (Figura 4) viabi- lizaram a produção de alimentos. Atualmente, o uso de roldanas é geral e aplicável às mais diversas atividades que requerem multipli- cação e controle de forças, como aparelhos utiliza- dos para condicionamento físico. No final da Idade Média, a ciência procurou buscar explicações para os fenômenos mais pró- ximos da natureza, afastando-se um pouco do mundo das ideias de Platão e comprovando essas explicações experimentalmente. A consequência disso é que teorias formuladas e comprovadas permitiram o aparecimento da engenharia, com projetos fundamentados em cálculos, baseados nos princípios enunciados pela ciência. Esses princípios descrevem os fenômenos e predizem comportamentos de sistemas que permitem as prescrições, isto é, escolhas de parâmetros e gran- dezas físicas que levam a resultados esperados. Figura 3 – Exemplo do uso de roldanas 47UNIDADE II Um exemplo de projeto: Vamos considerar os seguintes pressupostos originários da Física a respeito da energia potencial gravitacional. A energia potencial gravitacional associada a um corpo de massa m, elevado a uma altura h é dada por: Epg= mgh. Nessa expressão, m é a massa da caixa em quilogramas (kg), g é a aceleração da gravidade em metro por segundo (m/s2) e h é a altura em relação ao solo, em metros (m). Com essas unidades, a energia potencial gravitacional é dada em Joules (J). • Quando se trata de estudar processos de transformação de energia, usa-se o conceito de potência, medida em watts (W) e definida como energia por unidade de tempo. • A densidade de um corpo é sua massa por unidade de volume. • A vazão de um curso d’água é dada pelo volume por unidade de tempo. Consideremos, agora, o seguinte problema de engenharia: • Na idade do “homem agrícola avançado”, considere uma po- pulação de 1.000 pessoas; • Suponha que a energia a ser fornecida para essas pessoas seja proveniente de uma queda d’água com vazão 2 m3/s; • Sabendo-se que a densi- dade da água é de 1kg/L (1000 kg/ m3). Qual a altura mínima necessária para a queda d’água? Figura 4 - Moinho de Vento Exemplo de funcionamento de roldana 48 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas Estágios de desenvolvimento e consumo de energia Alimentação Homem tecnológico230 77 20 12 6 2 Homem industrial Homem agrícola avançado Homem agrícola primitivo Homem caçador En er gi a to ta l c on su m id a pe r ca pi ta (m il kc al /d ia ) Homem primitivo Consumo diário per capita (mil kcal) 0 50 100 150 200 Moradia e comércio Indústria e agricultura Transporte Figura 5 – Desenvolvimento e consumo de energia Fonte: Goldemberg (1998). • O primeiro passo a ser dado no projeto é determinar “qual é a necessidade”. Neste caso, qual é a potência necessária para fornecer a energia necessária à população. Como se trata do “homem agrícola avançado”, consultando a Figura 5 verificamos que o consumo individual de energia é 20.000 kcal/ dia e, como são 1.000 pessoas, chegamos a um consumo mínimo necessário de 20.000.000 kcal/dia. O valor obtido precisa ser convertido para unidades do Sistema Internacional (SI), isto é, kcal deve ser convertido em joule (J) e dia em segundo (s). Se 1 kcal = 1.000 cal, então 20.000.000 kcal = 20.000.000.000 cal. Sabemos que 1 cal = 4 J. Dessa forma, 20.000.000.000 cal = 80.000.000.000 J. Um dia possui 24h e 1h 3.600 s. Sendo assim, 1 dia = 24h*3.600s = 86.400s. Logo, a potência mínima necessária para atender à população de 1.000 pessoas será de: P = 80.000.000.000/86.400 = 925.925,925 W Ou P = 926 kW. • O segundo passo é verificar se a “necessidade pode ser aten- dida”, isto é, se a potência disponível na queda d’água pode atingir 926 kW. 49UNIDADE II Agora é a hora de usar a Física, isto é, calcular a potência P como energia potencial gravitacional por unidade de tempo: P = Epg / ∆t. Se Epg = m*g*h, então: P = mgh / ∆t. Sabendo que densidade (d) = massa (m) / vo- lume (V) e que vazão (Q) = volume (V) / variação de tempo (∆t), então temos que: P = dQgh. Agora, temos que P deve ser maior que 926 kW. Substituindo esse fato e os dados numéricos fornecidos pelo problema, temos: dQgh > 926 kW 1.000*2*10*h > 926 kW h > 926.000 / 20.000 h > 46,3 m. Imagine o homem caçador, isto é, alguém cujo consumo de energia era equivalente a 6 000 kcal por dia. A potência, em watts (W), relativa a esse consumo de energia é dada por: (6 000). (4 000)/ (24 . 3 600) = 278 W, isto é, esse consumo é equivalente ao consumo de 3 lâmpa- das de 100W acesas. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Uma das principais fontes de energia é a prove- niente das quedas d’água. No Brasil, é a fonte mais significativa para a composição da matriz energética. O site indicado traz dados técnicos relevantes sobre as usinas hidrelétricas. Acesse o link disponível em: <http://masterenergia. com.br/index.php/informacoes-tecnicas/78-como- medir-a-energia-hidraulica-e-hidreletrica>. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/651 Nos séculos XVII e XVIII, os reinados e as nações hegemônicas criaram escolas para o estudo siste- mático de técnicas de construção, voltadas para o uso militar. As academias militares são as pre- cursoras das escolas de Engenharia. Conforme consta em Piqueira (2014, on-line): “ A atividade da engenharia era vista como intelectualmente menor, própria dos artífices e artesãos, que passavam seu conhecimento sem preocupação com sistematização ou me- todologia. Pertencia ao mundo dos trabalha- dores braçais, e os intelectuais preocupavam- -se com questões filosóficas e metafísicas. Os exércitos, entretanto, perceberam a im- portância da engenharia para as batalhas, e a arte de construir passou a ser sistematizada, com seu ensino incorporado ao treinamen- As Academias Militares e Escolas Navais como Precursoras das Escolas de Engenharia 51UNIDADE II to de oficiais de maior patente. As escolas de navegação foram decisivas para os descobrimentos, nos séculos XV e XVI. O domínio das técnicas de construção naval e da prática de conduzir navios tornou-se essencial para as nações que procuravam expandir suas fronteiras e buscar riquezas. Essa era a engenharia até o final do século XVII: técnicas de construção de pontes, du- tos, armas e navios, reproduzindo os traços empíricos herdados das gerações anteriores, restritas ao âmbito militar. Nessa época, as Leis de Newton, que haviam sido propostas no início do século 18, deixa- ram de ser vistas como filosofia da natureza, sendo incorporadas aos trabalhos de enge- nharia, que ganharam contornos de projetos, com as construções sendo pensadas com abordagem baseada nos saberes científicos. Em Portugal, uma das nações hegemônicas da época, existia a chamada “Aula de Fortificação e Arquitetura Militar”, escola de engenharia militar, criada no século XVII e transformada, no século XVIII, na “Academia Militarda Corte”. Em Ma- drid, a Academia de Matemáticas y Arquitectura foi criada como sucessora da “Escola de Moços Fidalgos do Paço da Ribeira”. A Guerra da Restauração da Independência Portuguesa (1640-1668) gerou a necessidade da criação de uma Academia de Arquitetura Militar, fundada em 1647, por decreto de João IV de Por- tugal. Essa academia era localizada em Lisboa e nela eram lecionadas Matemática e Fortificação, sendo considerada uma das precursoras do ensino superior militar e do ensino da engenharia no país. No Brasil, as seguintes instituições foram formadas: • Em Salvador, na capitania da Bahia, a Es- cola de Artilharia e Arquitetura Militar (1696); • Na cidade do Rio de Janeiro, a Aula das Fortificações e Arquitetura (1698). Em Portugal, no ano de 1701, foi criada, também, uma Escola, na cidade de Viana do Castelo, que teve uma ação expressiva nas cidades fortifica- das do Norte do país. Em 1707, essa Escola foi transformada na Academia Militar da Corte, encerrada em 1779. Em 1790, a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho passa a exercer importante papel no desenvolvimento da arquitetura e construção naval. Nesse contexto nasceu a primeira escola bra- sileira considerada de nível superior: a Escola Naval. No início do século 19, Dom João VI, ao transferir a corte portuguesa para o Brasil, trouxe a Escola Naval de Portugal, que aqui se estabeleceu formando oficiais de alto nível até os dias de hoje. A Engenharia brasileira tem, na sua origem, for- tes laços com as instituições militares. O trabalho constante do site a seguir é uma ótima referên- cia para entender como essa relação se deu. Acesse o link disponível em: <http://www. cporpa.eb.mil.br/images/2016/int/hist_mil/UDIV/ Apostila_Historia_Militar_Brasileira_Cap_6.pdf>. O progresso tecnológico experimentado a partir do século XVIII origina-se na adoção do método científico proposto por Galileu e resumido na frase: “A natureza é como um livro que se lê com caracteres matemáticos” (Galileu Galilei). Conforme pudemos observar neste histórico da En- genharia, da Antiguidade até o início do século XVII, a atividade de construir e modificar o meio que nos cerca, buscando o conforto e a melhoria da qualida- de de vida da espécie humana seguiu, sempre, uma perspectiva naturalista guiada por um fio condutor racionalista na interpretação dos fenômenos naturais. Essa perspectiva filosófica deixa claro que a Engenharia seguiu, sempre, os passos da razão, descoberta na Grécia antiga, trazendo à tona os princípios da ciência e da metafísica. Observando racionalmente a natureza, o ser humano foi capaz de construir verdadeiras maravilhas, roteiro que se interrompeu na Idade Média, período em que a ra- zão se submeteu à religião. Tal submissão tornou o conhecimento uma propriedade de uma instituição, que dele se serviu para progredir e dominar, dei- xando que o restante se submetesse à degradação. O Positivismo 53UNIDADE II O novo despertar da razão e a revolução científica ocorreram com o Iluminismo, entre os séculos XVII e XIX. A revolução científica se dá pelo embate entre racionalistas e empiristas. O empirismo é represen- tado por Bacon (1561-1626), Locke (1632-1704) e Hume (1711-1776), que acreditavam que a única fonte de conhecimento é a experiência (Figura 6).Figura 6 - Bacon, Locke e Hume (empiristas) Figura 7 - Descartes e Leibniz (racionalistas) Descartes Leibniz Figura 8 - Galileu Galilei Galileu RACIONALISTAS EMPIRISTAS MÉTODO CIENTÍFICO Descartes (1596-1650) e Leibniz (1646-1716) re- presentavam o racionalismo e propunham que o conhecimento se caracterizava por ideias inatas, e a metodologia a ser aplicada deveria ser sempre o questionamento metódico e crítico das fontes de conhecimento (Figura 7). Apesar do embate metodológico, empirismo-ra- cionalismo, os resultados são tentativas de traçar modelos para a natureza. Deve-se a Galileu (1564-1642) (Figura 8) a combi- nação das duas metodologias, resumidas, a seguir, como “método científico”. Locke Hume Bacon 54 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas O conceito de mente estruturadora, com refe- rências objetivas, passou a ser um importante pa- radigma filosófico que, combinado com o avanço científico da época, levou a perspectivas de refor- mulação social e progresso expressas por Augusto Comte (1798-1857) em seu positivismo (Figura 10). Comte acreditava na reforma da sociedade pela reformulação das mentes e pela revolução científica. Teríamos uma revolução pacífica, li- derada por especialistas educados pelo método científico. Os positivistas propõem que a teoria seja for- temente baseada na prática com a matematiza- ção das experiências, sem problematizar qualquer questão a respeito do conhecimento. Esse foi o mote para a criação de um grande número de escolas de engenharia em todo mundo, entre 1700 e 1900, com a crença de que o apren- dizado matemático, suportado por leis e regras vindas da experimentação, criaria uma sociedade mais livre e independente, vivendo com conforto. Figura 10 - Augusto Comte Comte Figura 9 - Immanuel Kant e Crítica da Razão Pura Kant Passos do método científico (segundo Galileu): • Conceber uma ideia (razão); • Montar uma experiência (empirismo) e traduzi-la em caracteres matemáticos (ra- zão e empirismo); • Observar os resultados (empirismo) e compará-los com as hipóteses (razão e empirismo); • Formular leis (empirismo e razão). Nesse contexto, a ciência passou por um progresso tão grande que trouxe à baila importantes ques- tões filosóficas, que aparecem no trabalho de Kant (1724-1804), em sua obra seminal Crítica da Ra- zão Pura (Figura 9). O ponto central da contribuição de Kant é a separação estabelecida entre o conhecimento e a metafísica, retomando o conceito de sujeito, estabelecido por Descartes e a possibilidade de estabelecer um sujeito associado a um conheci- mento objetivo. 55UNIDADE II Embora, no âmbito militar, já houvesse educação em engenharia para oficiais graduados, a possi- bilidade da ampliação de sua metodologia para aplicações do cotidiano, no contexto aqui descrito, levou à criação de Escolas de Engenharia para a população civil, voltada para as elites sociais a serem convertidas em lideranças das reformas. Vários cientistas franceses, tais como Poisson, Navier, Coriolis, Poncelet e Monge, contribuíram para a definição de uma abordagem tecnológica, com fundamento científico, resultando na fun- dação, em Paris, em 1794, da École Polytechnique (Escola Politécnica), que tinha como finalidade formar lideranças para o novo modelo social a ser implantado. Entretanto, em 1747, havia sido criada, tam- bém na França, aquela que é considerada a pri- meira Escola de Engenharia do mundo, a École des Ponts et Chaussées (Escola de Engenharia Civil) que se diferenciava da École Polytechnique por formar especialistas em problemas de Enge- nharia, independentemente de modelos sociais. Era o Positivismo transformando os enge- nheiros de operários e artífices da construção em protagonistas das mudanças sociais do mundo moderno. O Positivismo teve forte influência na Engenharia do século XVIII, levando a Ciência para a práxis tecnológica. Para conhecer uma interessante visão do assunto, acesse o link: <http://vivianes. blogspot.com/2011/04/discussao-sobre- abordagem-positivista.html>. O método científico de Galileu e a postura de busca da verdade na natureza são os principais responsáveis pelo progresso da Engenharia. O positivismo incentivou o ensino da técnica, aliada à ciência, desenvolvendo o ensino da Engenharia em todo mundo, no século XIX. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, nesse período, em áreas como extração de miné- rios, siderurgia e metalurgia, além das construções de pontes e canais, foi notável, trazendo como consequência a necessidade do amplo domínio dessas áreas. Essa necessidade foi responsável pela criação das três primeirasescolas de Engenharia fora do âmbito militar: • École des Ponts et Chaussées, fundada em 1747, na França, de caráter prático e vol- tada para as construções; O Positivismo e as Escolas Politécnicas 57UNIDADE II • École Polytechnique, fundada em 1794, na França, de caráter mais teórico e des- tinada à formação de pesquisadores em Engenharia; • École de Mines, fundada em 1783, na Fran- ça, de caráter prático e destinada à explo- ração de recursos minerais. É a Engenharia, vista agora como profissão dig- na de respeito intelectual e aliada ao Positivis- mo, que levou à disseminação das chamadas Escolas Politécnicas, na Europa e na América do Norte. São exemplos disso as Escolas Politécnicas de Praga (1806), Viena (1815), Kerlsruche (1825), Munique (1827). Entre as escolas europeias, a de maior importância foi a de Zurique (1854). Nos Estados Unidos, os principais exemplos são o Car- negie Institute of Technology (1905), o Califórnia Institute of Technology (1919) e o MIT - Massa- chusetts Institute of Technology (1865). De uma maneira geral, eram institutos eliti- zados e voltados para as bases do positivismo: formar os dirigentes da nova sociedade. Conside- rando o panorama brasileiro, pode-se afirmar que a primeira Escola de Engenharia não-militar foi a Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, no mes- mo padrão da École de Mines de Paris, atendendo os interesses da Monarquia e voltada à exploração das riquezas minerais de nosso território. No Rio de Janeiro, instalou-se, em 1858, a Es- cola Central, de origem militar (Academia Real Militar), destinada exclusivamente à formação de engenheiros militares e de um pequeno número de civis, ligados à elite monarquista. Em São Paulo, os últimos anos do século XIX assistiam ao grande crescimento econômico, ori- ginário da cultura do café. Os jovens das famílias cafeeiras iam para a Europa realizar seus estudos. Entre esses jovens abastados estava Antônio Francisco de Paula Souza (1843-1917) (Figura 11) que estudou Engenharia na Alemanha e na Suíça. De volta ao Brasil, com espírito liberal e republi- cano, aboliu a escravatura em suas propriedades antes da Lei Áurea e, contagiado pelo Positivismo, sonhou a criação de uma escola de Engenharia que promovesse o progresso tecnológico e eco- nômico da população brasileira. Figura 11 - Antônio Francisco de Paula Souza Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas ([2017], on-line)1. Figura 12 - Teodoro Sampaio Fonte: Engenheiro de Vida (2014, on-line)2. 58 A engenharia como atividade artesanal e o surgimento das primeiras escolas Aliado a Teodoro Sampaio (Figura 12), apresen- tou seu projeto de Escola à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, sendo diariamente com- batido por Euclydes de Cunha que, em artigos publicados em importante jornal paulista, quali- ficava o projeto de mirabolante e desnecessário. Como consequência, o projeto de Paula Souza e Teodoro Sampaio foi reprovado em sua primeira proposição. Depois de dois anos de trabalho e negociações, a Assembleia Legislativa de São Pau- lo regulamentou, em setembro de 1893, a Escola Politécnica de São Paulo. Outro grupo positivista brasileiro importante surgiu no Rio Grande do Sul e fundou a Escola de Engenharia de Porto Alegre, em 1896. Essa escola forneceu parte significativa dos quadros técnicos das secretarias e agências do estado nas décadas seguintes, notadamente da Secretaria dos Negócios e de Obras Públicas. Duas outras Escolas Politécnicas foram cria- das no Brasil dentro do movimento positivista: Bahia (1897) e Pernambuco (1912). As Escolas Politécnicas, a Escola Central do Rio de Janeiro e a Escola de Minas são responsáveis por muito do progresso experimentado pelo Brasil no século XX, servindo de modelo e de suporte para outras excelentes escolas hoje existentes. Nesta unidade, apresentamos como a Enge- nharia passou a adotar os conhecimentos cien- tíficos em suas atividades de natureza tecnoló- gica, dando início às atividades de formação dos primeiros Engenheiros, inicialmente no âmbito militar e, posteriormente, no civil. Um resumo histórico do aparecimento das primeiras escolas de Engenharia no Brasil e no mundo mostrou a atividade do Engenheiro como elemento transformador da natureza, em benefício da sociedade. Para saber mais sobre Engenharia e Positivismo no Brasil, leia Positivistas e republicanos: os professores da Escola de Engenharia de Porto Alegre entre a atividade política e a administração pública (1896- 1930) de Flávio Heinz, disponível em: <http://observatory-elites.org/wp-content/uploads/2011/11/ Heinz-Positivistas-e-republicanos.pdf>. 59 1. As pirâmides do Egito foram construídas por: a) Escravos dos faraós. b) Extraterrestres. c) Sacerdotes. d) Trabalhadores assalariados. e) Escravos estrangeiros. 2. Os teatros gregos servem de modelo para: a) Projetos de residência. b) Projetos de estádios. c) Projetos de salas de estudo. d) Projetos de tribunais de júri. e) Projetos de áreas de recreação. 3. Na Grécia e Roma Antigas, a concepção das construções era feita por: a) Senadores. b) Imperadores. c) Engenheiros. d) Pintores. e) Arquitetos. 4. Os dispositivos mecânicos desenvolvidos na Antiguidade, fundamentados na geometria, foram: a) Roldanas e catapultas. b) Roldanas e balões aferidos. c) Guindastes e catapultas. d) Carregadores e roldanas. e) Moinhos e válvulas hidráulicas. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 60 5. (MACKENZIE) - Sendo de 180 m3 por minuto a vazão de uma cascata e tendo a água a velocidade de 4 m/s, qual a potência hidráulica desenvolvida por essa cascata? 6. Nos séculos XVI e XVII, o progresso da Engenharia é, majoritariamente, devido: a) À construção de estradas entre reinos. b) Às grandes navegações. c) À independência das nações americanas. d) Ao comércio de especiarias entre a Europa e a América. e) À construção de redes de esgotos. 7. A primeira escola militar brasileira foi estabelecida em: a) Pernambuco. b) São Paulo. c) Bahia. d) Rio de Janeiro. e) Rio Grande do Sul. 8. Para o empirismo, a única fonte legítima de conhecimento é: a) O cérebro humano. b) Qualquer rede de neurônios. c) O universo dos números. d) A experiência. e) O raciocínio lógico. 9. São representantes da filosofia empirista: a) Locke, Hume e Bacon. b) Locke, Descartes e Bacon. c) Descartes, Hume e Bacon. d) Locke, Hume e Kant. e) Kant, Descartes e Galileu. 61 10. A filosofia racionalista diz que a única fonte legítima de conhecimento é: a) A experiência. b) O raciocínio. c) As leis religiosas pré-estabelecidas. d) Os escritores consagrados. e) O trabalho braçal. 11. Os principais filósofos representantes do Racionalismo foram: a) Leibniz e Cauchy. b) Einstein e Descartes. c) Galileu e Leibniz. d) Eistein e Bohr. e) Leibniz e Descartes. 12. O método científico de Galileu é: a) Empirista. b) Racionalista. c) Religioso. d) Uma combinação de Empirismo com Racionalismo. e) Baseado nas Sagradas Escrituras. 13. As primeiras escolas de engenharia não-militares foram criadas na: a) Inglaterra. b) França. c) Noruega. d) Suíça. e) Holanda. 62 14. O grande progresso da Engenharia no século XIX se deve: a) Ao ensino de filosofia. b) Ao ensino de literatura. c) Ao ensino aliando teoria e prática. d) Ao trabalho de campo. e) À disciplina nas escolas militares. 15. A Escola de Engenharia de Ouro Preto foi criada para desenvolver: a) Os transportes. b) A construção de moradias. c) A geração de energia. d) A exploração de recursos minerais. e) A agricultura. 63 Ensino de Engenharia: do positivismo à construção de mudanças para o século XXI Autor: Fernando Schnaid, Milton Antônio Zaro, Maria Izabel Timm Editora: UFRGS-Editora Sinopse: o livro é uma coletânea de artigos organizados pelo núcleo de ensino de Engenharia da UFRGS. Seu conteúdo é dividido em dois grandes blocos: Parte I – A formação de engenheiro: desafios históricos culturais e filosóficos;
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