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Fortaleza camillacruzc@hotmail.com Raissa Karen Leitinho Sales Universidade de Fortaleza raikaren@hotmail.com Roger Augusto Luna Universidade de Fortaleza rog_luna@hotmail.com Santiago Valcacer Rodrigues Universidade de Fortaleza santiago.valcacer@gmail.com Resumo As relações de poder revelam aspectos singulares referentes ao ambiente e a cultura organizacional. Nesse entendimento, a proposta deste artigo é analisar as relações de poder em uma organização por meio de um estudo observacional do filme ”O Homem que Mudou o Jogo”. Como marco teórico buscou contextualizar as relações de poder nas organizações com o intuito de (1) identificar os aspectos teóricos de poder que possuem relação com o campo organizacional; (2) identificar as referências de poder exercidas pelos personagens no filme e (3) verificar as relações de dominação existentes na narrativa. Conclui-se que as relações de poder nas organizações são dinâmicas, questionáveis e dependentes da ação de seus integrantes. Da mesma forma ponderam-se imprevisíveis se Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 965 não analisadas, remodeladas e fundamentadas por meio da culturaorganizacional que são alicerçadas por intermédio de planejamentos, diretrizes, normas de condutas e regulamentos. Palavras-chave Poder; Organizações; Estudo observacional; Análise fílmica. 1 Introdução As pesquisas e estudos realizados que analisam as relações de poder, dominação, autoridade e o comportamento revelado pelos agentes inseridos no ambiente de trabalho, são, ainda, reduzidos (MIRANDA, 2009). É certo que os primeiros manuais de administração não deram atenção merecida à temática, ou o fizeram com ostracismo, de forma incipiente, simplista e com pouca significância (HARDY, 1995; CUNHA et al., 2003). Ao se analisar o poder organizacional, o mesmo não pode ser compreendido apenas como um jogo moral de legitimidade e ilegitimidade, “[...] o poder deve ser entendido em sua diversidade, mesmo porque ele resiste a uma explanação em termos de uma teoria única” (CLEGG; HARDY, 1998, p. 282) e “[...] cada uma delas vê o foco do poder fixado ou nas características internas da organização, ou nas suas características externas, ou em ambas” (FALCINI, 1993, p. 07). Diante do contexto apresentado, o presente artigo tem como objetivo analisar as relações de poder em uma organização por meio de um estudo observacional do filme ”O Homem que Mudou o Jogo”. No mesmo propósito têm-se como objetivos específicos: (1) identificar os aspectos teóricos de poder que possuem relação com o campo organizacional, (2) identificar as referências de poder exercidas pelos personagens no filme e (3) verificar as relações de dominação existentes na narrativa. “O Homem que Mudou o Jogo” foi indicado para as premiações do Oscar nas categorias de melhor ator, representado por Brad Pitt, e melhor filme do ano de 2012. A representação de uma organização estabelecida em um filme que deveria ser apenas mais Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 966 uma história cercada de regras e acontecimentos vinculados aos tradicionais times americanos de beisebol o fez ser escolhido como objeto de estudo. O presente trabalho se justifica à medida que promove uma reflexão sobre as relações de poder existentes nas organizações por meio da análise de um filme, e ainda ratificando a utilização de análise fílmica como estudo cientifico. O estudo encontra-se dividido em quatro seções, além da introdução. Na primeira parte o referencial teórico referente às abordagens do poder e o poder nas organizações, seguido dos procedimentos metodológicos para o estudo. Em sequência, a análise dos resultados pertinentes às particularidades das relações de poder identificadas no filme são desenvolvidos e, por fim, na última seção são expostas as considerações finais acerca dos achados da pesquisa. 2 Referencial teórico 2.1 Abordagens do poder Inicialmente, é necessário, para concepção do poder, uma teoria que embase este tema, para posteriormente identificar o poder de um indivíduo, classe ou sistema social (LUKES, 1980). A imensidão de perspectivas quanto à concepção que envolve este tema requer a necessidade de atribuir um conceito a cada tipo de aplicação, mas “[...] o essencial ao poder é a realização de uma vontade ou desejo” (LUKES, 1980, p. 825). Glegg e Hardy (1998) apresentam suas visões acerca da existência de multiplicidade de vozes, ou seja, as diversas abordagens sobre o poder, quando explicam que a “[...] confusão tem sido exacerbada por conta das duas vozes mais altas que emergem – funcionalista e a crítica (para usar categorização simples) – que raramente se comunicam entre si” (CLEGG; HARDY, 1998, p.261). A primeira aborda uma visão generalista, em que, por vezes, a elevação da subjetividade é raramente articulada e pouco criticada. A segunda coloca em debate temas como dominação e exploração (CLEGG; HARDY, 1998). Na visão weberiana, o poder é “[...] a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens, realize sua vontade própria numa ação comunitária, até mesmo contra Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 967 a resistência de outros que participam da ação” (WEBER, 1982, p. 211). Tem-se, portanto, a manifestação do poder como absolutamente discreto, mutável, mensurável, confiável e existente entre os homens a partir das ações coletivas (FOUCAULT, 1987; ARENDT, 2000). As relações de poder sempre estiveram presentes em sociedade e se colocam por meio de questões vinculadas às vantagens econômicas, intelectuais, físicas, e também de dominação pelo saber – considerado em determinado contexto histórico, como científico –, entre outros fatores. Lukes (1980) divide a concepção de poder em duas categorias amplas. A assimétrica é associada a conflitos e resistência, real ou potencial. Essa pode ser composta por três modos intimamente relacionados, mas analiticamente distintos de conceber o poder, quais sejam: a) obtenção de aquiescência ou controle; b) relação de dependência; e c) desigualdade – em que predomina o aspecto do poder como competitividade exacerbada. No entanto, o autor também apresenta uma concepção benigna sobre o poder: Em suma, o controle, dependência e desigualdade representam as três principais maneiras de conceptualizar o poder, compreendidas como uma relação assimétrica. [...] As concepções de poder como uma capacidade coletiva tendem a ressaltar o aspecto benigno e comunal e não o aspecto demoníaco e competitivo do poder (LUKES, 1980, p.829). Como visto, tais concepções são por demais complexas, e ainda, o enfoque dado por quem aborda, geralmente, requer atenção apurada, pois o que alguns indivíduos podem considerar como uma relação assimétrica, outros podem observar como capacidade coletiva. Isto ocorre porque cada um tem sua própria visão de mundo, de acordo com o contexto socioeconômico e histórico em que se inserem suas experiências colaterais e/ou vivências, ou seja, cultura em sentido amplo, como conjunto de manifestações religiosas, artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização. As relações de poder assimétricas geram uma condição de dominação, segundo Thompson (1956). Para o autor, isso acontece quando indivíduos ou grupos particulares Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 968 possuem um poder de maneira estável, excluindo ou impossibilitando de qualquer forma o acesso a outros sujeitos ou grupos. A dominação é uma das condições legitimadas pelo exercício do poder e fundamenta-se em diferentes motivos. Weber (2000) compreende ser a dominação o elemento que mais influencia todo o processo de ação social. E conceitua dominação como a capacidade de imposição de um comportamento às pessoas (ou às instituições) por vontade individual, sendo por interesse relacionado a um monopólio ou em virtude de uma autoridade. Weber (2000) apresenta uma tipologia de três caráteres puros de dominações: 1. dominação de caráter racional: fundamentada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal); 2. dominação de caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtudes dessas tradições, representam a autoridade (dominação tradicional); e 3. dominação de caráter carismático: instituída na veneração extracotidiana da santidade, do poder heroico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta reveladas ou criadas (dominação carismática). Cabe salientar, que uma dominação pode serbilateral, em que cada indivíduo domina sua habilidade sem a interferência do outro, podendo existir subordinação ou não. Mas, os aspectos de dominação permeiam os processos administrativos e se fazem necessários aos sentimentos de dominados e dominadores, ou seja, servidores e chefes, ou ainda, colaboradores e líderes (WEBER, 2000). Ainda segundo Weber (2000, p. 189), as formas típicas de dominação “[..] em virtude de situação de interesses, particularmente em virtude de uma posição monopolizadora, pode transforma-se, gradualmente, numa dominação autoritária”. Essa, por sua vez, tem como força propulsora e indispensável a obediência. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 969 Outra concepção associada ao poder trata-se das relações de autoridade. Para Lukes (1980), a autoridade pode, ainda, ser mais complexa que a conceituação de poder. “Aceitar a autoridade é, precisamente, abster-se de examinar aquilo que nos mandam fazer, ou aquilo em que nos mandam acreditar” (LUKES, 1980, p.831). Duas formas de conceituar a autoridade são apresentadas por este autor: 1) a autoridade exercida sobre a crença, a aceitação de uma razão, que pode ser subdividida em dois aspectos: convenção ou imposição; e 2) a autoridade por meio da obediência, pela identificação do seu possuidor, aceitando os princípios em troca do direito de discordar de forma individual deles (LUKES, 1980). O poder e a autoridade implicam inúmeras discussões, mais ainda, pelos problemas relevantes que causam e como se relacionam com as decisões a serem tomadas. Para tanto, Lukes (1980) enfatiza que a relação entre autoridade e poder dá-se de diferentes maneiras, em decorrência do contexto e dos pensamentos de cada época. Os estudos sobre dominação traçaram avanços na ciência política. Analisando decisões relevantes, buscou-se a relação do poder com comunidades particulares, determinando quem tomava as decisões. Os estudos de Clegg e Hardy (1998) evidenciaram que diferentes grupos prevaleciam nos processos de decisão. Além disso, a abordagem predominantemente sobre o poder, não se atearia a um poder único como solução de conflitos, mas sim aos usos do mesmo para vencer um conflito. 2.2 Poder nas organizações Para Faria (2003), as organizações devem ser estudadas em seu ambiente constitutivo e a partir de um modelo analítico, permitindo assim entender as formas de controle por ela praticadas nas relações internas e externas. No contexto das organizações, o poder é difundido em sua estrutura formal, de modo que alguns, e não todos do grupo utilizam-se dele para benefício próprio. Assim, ressalta-se que o predomínio das aspirações de alguns homens sobre a vontade de outros, bem como o conflito e a resistência aberta se configuram como essências ao poder (LUKES, 1980). Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 970 Deste modo, alguns aspectos podem ser salientados no que se refere às discussões sobre poder nas organizações: conflito de interesses; estratégia de dominação; gerenciamento de significados; criação de legitimidade; resistência e disputa de poder entre gêneros (CLEGG; HARDY, 1998). Gaulejac (2006) acrescenta, além da relevância do ser humano, nas organizações e das relações de poder, a preocupação com o desempenho organizacional. Em outra dimensão, a dominação de poder existente, nas organizações, depende do modo como estas são geridas. E podem ser categorizadas como: funcionalista, utilitarista e experimental. O primeiro modo, funcionalista, tem como característica minimizar os fenômenos sociais no ato individual, considerando como foco a contribuição para a harmonia da sociedade em que eles estão inseridos. O segundo, experimental, busca constantemente a causalidade dos fatos por meio das experiências que podem ser replicadas por outros indivíduos. Por fim, o modo utilitarista destaca e maximiza as habilidades e qualidades da ação individual no objetivo de otimizar os resultados, buscando maior resistência no mercado (GAULEJAC, 2006). A relação entre poder e resistência é latente, contudo serve para reforçar o sistema de dominação existente no contexto, estando inscrito nas regras contextuais que possibilitam e restringem as ações. “Assim, a resistência à disciplina é irremediável graças à constituição da relação poder/regra como o nexo de significados e intepretações, o qual, graças ao caráter indicativo aos desvios, estará sempre aberto a possibilidades de reordenação” (CLEGG; HARDY, 1998, p.297). Contudo, a resistência serve, apenas, para reforçar o sistema de poder existente. No entendimento da visão sobre administração recente, pode-se dizer que as considerações anteriores acreditavam de forma mais mecanicista em uma organização representada pela sua estrutura física e regida por leis de funcionamento e estruturas de poder, segundo Gaulejac (2006). Na gestão, o foco nos aspectos humanos superaram as ideias anteriores, considerando as habilidades, competências e anseios dos funcionários com maior relevância para os dirigentes da organização. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 971 Em síntese, tem-se um aglomerado de técnicas com a finalidade de gerar efetividade da utilização dos recursos materiais, humanos e financeiros, na busca de um desempenho superior da organização (GAULEJAC, 2006) e as relações de poder como parte dos processos coletivos. 3 Metodologia A investigação utilizou-se da abordagem qualitativa, da observação indireta e do estudo de caso para alcançar o objetivo de analisar as relações de poder em uma organização por meio de uma análise observacional do filme “O Homem que Mudou o Jogo”. A pesquisa qualitativa é caracterizada pela busca de uma descrição, compreensão e significação detalhada do fenômeno e das partes que os circundam, sem desviar do rigor que envolve a investigação cientifica. A escolha desse método foi fundamentada na adequação ao estudo das relações sociais (MERRIAM, 1998; VIERA; ZOUAIN, 2004; CHIZZOTI, 2008; VERGARA, 2005; LEITE; NISHIMURA; CHEREZ, 2010; FLICK, 2004). Diante do contexto, a investigação é caracterizada como observação indireta não participante, tendo em vista a utilização do filme como fonte de coleta de dados (ABBAGNANO, 2003; FLICK, 2004; LEITE; LEITE, 2007; PATTON, 2002). Neste artigo utilizou-se como objeto de estudo o filme “O Homem que Mudou o Jogo”, analisado por meio da linguagem fílmica no contexto da obra, caracterizada por dados narrativos, ou seja, aqueles que relatam os comportamentos em registros de áudio e vídeo (HAIR JR, et al., 2007). A observação indireta permitiu a análise de falas, cenários e atitudes relatadas na narrativa. As falas e contextos analisados foram selecionados por aqueles que mais representavam as relações de poder conforme relatado no referencial teórico. Acredita-se que a observação indireta não participante pode auxiliar na busca pelo objetivo proposto, uma vez que “tais abordagens não são tratadas de maneira direta na Teoria Organizacional, assumindo um lugar periférico em relação a outros temas de interesse” (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2010, p. 2). Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 972 Essa técnica é corroborada como investigação científica por diversos autores que tratam o poder e a ética por meio da análise fílmica: Rebouças, Matos e Machado (2012); Matos, Lima e Giesbrecht (2011); Sobreira et al. (2012); e Machado, Ipiranga eMatos (2013). 4 Análises e resultados 4.1 A narrativa em estudo O enredo do filme “O Homem que Mudou o Jogo” (2011) traz uma história baseada em fatos reais que tem como personagem principal Billy Beane, um ex-jogador de beisebol que teve um início de carreira promissora, mas não conseguiu atingir o estrelato. Por volta dos seus quarenta anos, era gerente geral do time Oakland A’s, onde contava com um orçamento baixo para montar um time e superar o desafio de mudar todo o sistema convencional praticado pelo esporte. Sem o apoio da mídia esportiva, do técnico do time e dos chamados “olheiros”, responsáveis por encontrar novos talentos para a equipe, Billy, com a ajuda de um jovem economista, Peter Brand, utiliza padrões estatísticos para a escolha dos jogadores. Billy e Peter criam um time diferenciado, sem jogadores famosos, mas com potencial para vencer. A saga de Billy Beane continua com o inicio da temporada de jogos, quando a crítica negativa quanto ao método se estabelece por meio da mídia esportiva. A falta de confiança e motivação dos próprios atletas também gera desafios para a atuação do gerente e de seu assistente. Em campo, a equipe planejada por Billy e Peter inicia uma sequência de derrotas, gerando ainda mais descrédito e desconforto na organização. Cansado de ser contrariado pelo técnico e não ver sua estratégia emplacar, Billy resolve negociar todos os jogadores que ele acredita não contribuir para que isto ocorra. Peter tenta dissuadi-lo, sem êxito. A inacreditável sequência de vitórias começa a ocorrer e a mídia esportiva comenta com positivismo a atuação do time, creditando o esforço ao treinador Art Howe, Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 973 que informalmente as aceita, ignorando que o verdadeiro responsável tratava-se de Billy. O gerente age com indiferença em relação à postura do técnico e continua sua estratégia contando com a colaboração de Peter. A temporada continua e após quatorze vitórias sequenciais o time toma a liderança do campeonato, sendo comparado aos Yankees de 1927 que tiveram uma sequência de vitórias em dezenove jogos, com jogadores de altíssimo padrão. Na mente de Billy e Peter, a estratégia estava consolidada e era funcional, o Oakland A’s contabilizaria sua vigésima vitória, batendo todos os recordes do beisebol americano. Mesmo com o sucesso da campanha e da relevância do recorde histórico, ainda não havia terminado o campeonato e o jogo final consolidaria e mudaria de vez a história do beisebol para Billy Beane. Na partida final, contra o NY Yankees, o Oakland A’s não consegue manter o mesmo padrão de jogo das demais partidas, acabando de vez com o sonho do título e da consolidação do trabalho do time. As criticas recaem sobre Billy e o modelo estatístico adotado não substitui o formato padronizado do beisebol americano. Apesar do modelo de Billy não alcançar a conquista do campeonato, a convicção do presidente do time Red Sox suficiente para fazer uma proposta ao gerente. Billy é convidado para assumir a função de gerente geral do Red Sox, o que renderia o papel de gerente mais bem pago de toda a liga, segundo Peter. Billy Beane recusa a proposta, mas o Red Sox não desiste de utilizar o método aplicado no Oakland A’s e vence a temporada seguinte do campeonato utilizando a estratégia de Billy e Peter. A narrativa termina com Billy dando continuidade ao seu trabalho no Oakland A’s, onde permanece tentando vencer o último jogo. 4.2 Estudo observacional A diferença de orçamentos anual entre os times é destacada nas cenas iniciais e demonstra a primeira relação de poder possível de ser observada no filme. A superioridade dos times com mais recursos financeiros corresponde com a relação de poder de desigualdade abordada por Lukes (1980). O poder econômico de um time Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 974 possibilita a compra de jogadores mais experientes e preparados, aumentando as chances de obter bons resultados em comparação aos que não possuem esse recurso. Nessa perspectiva, tem-se que as organizações determinam o seu potencial por meio das possibilidades financeiras para aquisição de colaboradores mais experientes ou com maiores títulos. A concorrência existente entre os times do filme demonstra que por meio da capacidade financeira algumas equipes se sobressaem em relação às outras e a quantidade de recurso significa qualidade de produção. Mas, a perda dos três principais jogadores do Oakland A’s no inicio da trama motiva as novas negociações e a busca por reforços para o time com mínimo de recurso possível. Em uma das primeiras reuniões com os “olheiros” é possível observar uma organização democrática, mas a estrutura formal, conservadora, logo é percebida quando Billy se impõe nas discussões e questiona os posicionamentos dos colegas. Neste ponto, ressalta-se a vantagem da posição de gerente sobre as demais, gerando desconforto, conflito e resistência, e configurando a essência do poder (LUKES, 1980). Os resultados que poderiam surgir pelo poder de decisão da função ocupada por Billy, fazendo cumprir o objetivo almejado pelo gerente: ganhar o campeonato, é também ameaçado pela falta de conhecimento e perspicácia para conduzir as situações ou o relacionamento com os colaboradores. Entre os “olheiros” do time, Billy é reconhecido como autoritário e o seu poder visto como imposto. Para Miranda (2009), o poder e a política não possuem um gênero definido, isto é, não são bons nem ruins, a sua determinação dependerá exclusivamente da forma como eles são aplicados no dia a dia. Em uma cena de reunião com os olheiros uma declaração destaca essa posição entre o grupo. OLHEIRO: Temos que lembrar que este é o cara. Ele só responde apenas a si mesmo e a Deus. Ele não precisa responder a nós. Só damos as sugestões, ele faz as decisões. No comentário do personagem sobre as atitudes de Billy, torna-se evidente que na relação existente entre a gerência e o grupo de olheiros predomina o poder autoritário Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 975 imposto pelo chefe e reconhecido por meio do dever de obediência, de acordo com os ensinamentos de Lukes (1980). A mídia também descreve com crítica o método e as decisões do administrador: NARRAÇÃO MÍDIA: Billy Bean tentou reinventar o sistema, só que não funcionou. Chamam de “moneyball”. Ele comprou uma passagem no Titanic. Em outras cenas, percebe-se ainda, que Billy não mantém relações com os jogadores, não assiste aos jogos e nada representa as características gerencialistas em suas atitudes. Em uma conversa com Peter o gerente esclarece que opta por agir dessa forma para se sentir à vontade quando decidir negociar ou demitir os jogadores. Billy não assistia às partidas do seu time, nem no campo, nem pela mídia. Apenas acompanha pequenos flashes para saber se sua estratégia estava sendo aplicada e o resultado dela. A vigilância, apesar da distância, era fundamental para Billy tentar manter o controle do que ocorria com seu time (FARIA, 2003). Neste momento é possível entender o poder pela observação citado por Foucault (1987), quando, mesmo à distância, mas em posição estratégica de controlar o time, é possível tomar decisões. A demonstração de poder descrita por Weber (1982), onde a vontade de um indivíduo prevaleça mesmo contra a resistência de outros que participam da ação, é visível nas situações vivenciadas por Billy com o grupo de “olheiros” ou com os jogadores. Em outra cena, Grady Fuson, o “olheiro-chefe”do time, discute com Billy, explicando sobre a impossibilidade de se trabalhar de forma matemática, deixando de lado toda a experiência que as pessoas tinham em suas funções e a cultura na forma de trabalho de toda a liga de beisebol, relacionando o que Thompson (1956) teoriza como relações de poder assimétricas, onde o poder dos “olheiros” do time é estável e exclusivo. Billy escuta, mas irredutível, irônico e indiferente, conforme diálogo abaixo: OLHEIRO Não se monta uma equipe com o computador, Billy. BILLY Adapte-se ou morra. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 976 A discussão continua até o momento onde há o desrespeito à autoridade e em gozo de seu poder Billy o demite. Foucault (1987, p.14) admite “É indecoroso ser passível de punição, mas pouco glorioso punir”. Nessa parte do filme, compreende-se que a quebra de paradigmas e mudança cultural das pessoas não é fácil e nem simples de ser aplicada em uma organização, mas, com orientação e liderança há a possibilidade de um consenso ou acordo no objetivo de retomar o equilíbrio organizacional. No que se refere aos personagens, cabe ressaltar uma representação da relação de poder em dois aspectos totalmente distintos, pois, ao mesmo tempo em que o relacionamento entre esses personagens demonstram controle, dependência e desigualdade, principais aspectos para conceituar o poder na forma mais competitiva, segundo Lukes (1980); eles mantém as concepções de poder como uma capacidade coletiva (LUKES, 1980), tendo em vista que atuam, mesmo que individualmente, por meio de atividades complementares e na mesma organização em busca de um produto final. Quadro 1 – Características de Poder por Personagens Personagem Característica Descrição Steve, “O dono do time” Vantagem econômica Este personagem detém as decisões relativas às questões econômicas da organização. Nas primeiras cenas do filme esse poder é evidente pelo diálogo de Steve e Billy, quando o primeiro limita os valores em caixa para serem destinados à compra dos jogadores. E, mesmo com a tentativa de negociação proposta por Billy, Steve não recua e mantém as decisões quanto aos valores disponíveis. Billy, “O gerente do time” Vantagem operacional O gerente da organização de beisebol é responsável pelas negociações dos jogadores para o time e conserva o poder de decidir pelo conhecimento adquirido pela vivência, quando era jogador. Ao longo dos acontecimentos, os flashbacks das cenas vividas pelo ex-jogador inspiram suas decisões. Peter “O assistente geral” Vantagem intelectual O jovem economista utiliza os conhecimentos teóricos que aprendeu na formação para calcular os lances Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 977 realizados pelos jogadores de beisebol e analisar suas contribuições para um time. Dessa forma, o embasamento teórico de Peter é fundamental nas decisões estratégicas do time e é a vantagem que o personagem conserva para fazer parte de grandes equipes. Jogadores Vantagem de ação Os personagens dos jogadores representam na narrativa a força física da organização. Esses colaboram para a produção do que mantém o time, exercem os esforços de produção, agem em campo para pontuar e conquistar os campeonatos, mas não tomam decisões administrativas. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados. No que diz respeito à dominação, observa-se a impossibilidade de existir um equilíbrio e uma coerência quanto a essa questão na cultura organizacional identificada no filme, pois enquanto os objetivos do gerente do time se concentram no alcance dos títulos, nos campeonatos, os artifícios utilizados para motivar os jogadores na busca desse propósito estão voltados para as vantagens econômicas, pela necessidade de manter a carreira e receber dinheiro. Essa dualidade fica ainda mais clara na cena em que Peter aconselha Billy a aceitar a proposta realizada pelo outro time para exercer a função de gerente. PETER Você seria o gerente mais bem pago de toda a liga. BILLY E aí? Já Tomei uma decisão na vida baseada em dinheiro e jurei que nunca mais faria isso de novo. PETER Você não fará isso pelo dinheiro. BILLY Não? PETER Não. Você fará pelo que o dinheiro representa. Diz o mesmo que a qualquer jogador. Que ele vale a pena. BILLY Que idiotice. Eu queria muito que ganhassem. Queria mesmo. No Quadro 2 os tipos de dominação racional e carismática, propostas por Weber (2000), são descritas pelas características das relações identificadas entre os personagens Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 978 principais. Cabe ressaltar que a dominação tradicional não fora identificada no contexto do filme, pois não há representação de dominação de crença ou vinculada à qualquer tipo de santidade ou tradicionalismo. Quadro 2 – Tipos de Dominação segundo Weber (2000) Personagens Tipo de Dominação Descrição Jogadores e Olheiros versus Billy Caráter Racional A relação de dominação de Billy em relação aos jogadores e olheiros acontece por meio da racionalidade. Os jogadores e os olheiros do time adotam essa posição quando optam por respeitaras decisões e as ordens de Billy ao compreender que o cargo ocupado pelo gerente pressupõe o direito de mando. Billy versus Peter Caráter Carismático A relação entre Billy e Peter pode ser observada como de dependência e respeito entre no trabalho em equipe. Fica claro também que a função exercida por Billy e a formação acadêmica de Peter equilibram o relacionamento. Porém, no que se refere à dominação, torna-se evidente que o assistente é o dominador e o gerente o dominado, pois o conhecimento adquirido na faculdade de economia e nas observações dos times e jogadores prevalecem e são essenciais às decisões que devem ser tomadas por Billy. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados coletados. De acordo com a identificação observada no quadro anterior há relações claras de dominação no filme em estudo e essas mantém o relacionamento nas organizações. A subordinação dos olheiros, dos jogadores e do assistente está concentrada na posição hierárquica ocupada por Billy. Em contraponto, o respeito e a dependência do administrador em relação à Peter é evidenciada pela dominação carismática, mantida por seus conhecimentos sobre as técnicas de escolha dos jogadores. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 979 Billy sente a falta de empenho do time após mais uma derrota quando passa pelo vestiário e escuta o time festejando e descontraindo. Ao adentrar, observa os jogadores dançando, rindo, em momento de descontração. Billy escolhe um taco de beisebol e quebra o equipamento na frente dos jogadores, como forma de demonstrar raiva e indignação pelas atitudes fora e dentro de campo e aproveita para desabafar com os jogadores: BILLY: Perder é divertido? Perder é divertido? (repete em tom agressivo). JOGADORES: Não. BILLY: Então por que estão se divertindo? (incisivo). Nesse momento, o silêncio permanece no vestiário e a conversa é finalizada quando o administrador relaciona o silêncio à derrota e diz: “Este é o som da derrota”, em tom cabisbaixo, mas firme. Na saída do vestiário, ainda nervoso, Billy derruba o bebedouro de água como forma de demonstrar irritabilidade com a situação. Nessa cena percebe-se a falta de compromisso e o distanciamento dos jogadores emrelação ao objetivo da organização, mas, principalmente, destacam-se as atitudes de Billy. Ao ignorar a necessidade de ações conduzidas pelas estratégias de liderança e disciplina, Billy revoga uma forma de controle em relação aos esportistas e alcança o desrespeito enquanto a disciplina seria uma técnica para capturar os envolvidos, tomando-os como objeto do poder e como instrumento de um líder. Nessa visão, a disciplina não necessariamente é considerada como um “superpoder”, mas uma forma modesta e duradoura de exercê-lo (FOUCAULT, 1987). 5 Considerações finais O contexto e a estrutura de um time americano de beisebol, apresentado na narrativa “O Homem que Mudou o Jogo”, ressalta a dinâmica e a relatividade existente nas relações que cercam os conceitos e as práticas vinculadas ao poder em uma organização. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 980 Segundo Foucault (1987) o poder é móvel e possível nos diversos aspectos sociais e do indivíduo. Nesse sentido, o presente estudo concentrou-se no objetivo de analisar as relações de poder em uma organização por meio de um estudo observacional do filme “O Homem que Mudou o Jogo”. No mesmo propósito têm-se como objetivos específicos: (1) identificar os aspectos teóricos de poder que possuem relação com o campo organizacional, (2) identificar as referências de poder exercidas pelos personagens no filme e (3) verificar as relações de dominação existentes na narrativa. As relações de poder analisadas na narrativa fílmica convergiram-se em aspectos teóricos voltados para autoridade, hierarquia e dominação, identificando uma estrutura formal e tradicional de organização. Ao considerar as referências de poder reconhecidas nos personagens principais, identificaram-se características relacionadas à habilidade, influência, predomínio e autoridade mantidas nas relações de poder por meio das vantagens nas atividades econômicas, intelectuais, operacionais ou de ação, determinadas para cada um dos papéis representados no filme. Tem-se, portanto, que as relações e os atributos de poder de cada indivíduo atuam com uma finalidade específica para cada organizações e correspondem a um interesse individual, porém vinculado à existência do grupo. Na análise de Arendt (2000), a pluralidade da atual sociedade faz com que cada indivíduo seja capaz de tomar as suas decisões, deixando a situação patriarcal, onde somente o líder ou o pai, comandava as ações para o bem do grupo. No filme, a relevância e a atuação dos indivíduos são exaltadas de forma a funcionar a partir dos comandos e direcionamentos do administrador. Quanto à percepção de que essas relações se tornam coletivas, cabe aqui destacar a dominação e a obediência como formas de equilibrar e manter o ambiente organizacional. Os tipos de dominação identificados nos principais relacionamentos estabelecidos no filme comprovam essa conveniência. Fica claro que mesmo sem concordar com as decisões adotadas por Billy, grande parte dos personagens, como o treinador, alguns olheiros e o próprio assistente corroboram para a manutenção da organização ao aceitarem comportamentos obedientes, o que não representa concordância ou aderência, Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 981 mas impedem o aparecimento de conflitos de oposição, segundo Clegg e Hardy (1998) e Lukes (1980). Os conflitos observados no filme, gerados pelo excesso de autoridade imposta por Billy, são cessados sem reflexão ou estratégia, simplesmente não faz parte da equipe quem contrariar as decisões ou duvidar do método. Porém, é relevante observar que existe uma dualidade negativa ao percebermos que há obediência, mesmo sem concordância, ao mesmo tempo que a força do poder dos sujeitos incide sobre as boas práticas para organização. Sendo assim, nem todas as deliberações indicadas por Billy representam algo significante para a organização. Os jogos vencidos não expressam um ambiente organizacional saudável, ao contrário, internamente a instabilidade nas relações entre os membros tornam-se ainda mais evidentes com o descontrole repercutido na comprovação de que o método implantado era pouco provável e acabaria na derrota. A desvalorização dos profissionais também demonstra a duplicidade em ser uma equipe para preparar jogadores e, ao mesmo tempo, com facilidade de descartar seus serviços em um momento conveniente para o administrador. Assim, é possível concluir que as relações de poder nas organizações são extremamente dinâmicas, questionáveis e dependentes da atuação de seus membros. Para Miranda (2009), as velocidades das mudanças organizacionais predominam e aqueles que não optam pela posição de politicamente habilidoso, ou que não jogue o jogo do poder, está fadado ao fracasso. Também se tornam imprevisíveis se não estudadas, atualizadas e embasadas por uma cultura organizacional sedimentada em planejamentos, diretrizes, normas de condutas e regulamentos, a exemplo. Referências ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ARENDT, Hannah. A condição humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. Anais do I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais “Abrindo Caminho nos Estudos Organizacionais” Fortaleza, Ceará, 11 a 13 de dezembro, 2013 982 CLEGG, S. R. Tecnologia, Instrumentalidade e Poder nas Organizações. Revista de Administração de Empresas, 32(5), p. 68-95, EAESP/FGV, São Paulo, Nov./Dez. 1992. CLEGG, S.R.; HARDY, C. Alguns Ousam Chamá-lo de Poder. Handbook de Estudos Organizacionais. Volume 2. São Paulo: Atlas, 1998. CHIZZOTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2008. CUNHA, M. P.; CABRAL-CARDOSO, C.; CUNHA, R.C.; REGO, A. Manual de comportamento organizacional e gestão. 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