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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, ESTADO DOO PARANÁ
AUTOS Nº…..
	JORGE, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado, com fulcro no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
 mediante os fatos e fundamentos a seguir expostos:
I- DOS FATOS
	
	JORGE, com 21 anos de idade, conheceu ANALISA em um bar, linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo informal, decidiram ir para um local mais reservado, onde trocaram carícias, e a mesma, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com ele. Ambos trocaram telefones e contatos nas redes sociais.
	 No dia seguinte, Jorge, ao acessar a página de ANALISA na rede social, descobre que, apesar da aparência adulta, esta possui apenas 13 (treze) anos de idade, tendo JORGE ficado em choque com essa constatação, pois a moça não aparentava ser menor de idade. Sendo seu medo corroborado com a chegada da notícia, em sua residência, da denúncia movida por parte do Ministério Público Estadual, pois o pai dela, ao descobrir o ocorrido, procurou autoridade policial, narrando o ocorrido.
	Sendo Analisa, inimputável, à época dos fatos, pois a mesma tinha apenas 13 anos de idade, o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, denunciou Jorge pela prática de dois crimes de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A, na forma do artigo 69, ambos do Código Penal. Ainda requereu o início de cumprimento da pena em regime fechado, com base no artigo 2º, §1º, da Lei de Crimes Hediondos, e o reconhecimento da agravante da embriaguez preordenada prevista no artigo 61, II, ‘ l’, do Código Penal.
	Na audiência de Instrução e Julgamento, a vítima afirmou que tinha por hábito, fugir de casa com as amigas para frequentar bares de adultos.
	As testemunhas de acusação afirmaram que além de não terem visto os fatos, também não tinham o conhecimento das fugas da menor, para as saídas com as amigas.
	As testemunhas de defesa, disseram que, qualquer pessoa acreditaria que Analisa tinha mais de 14 anos de idade, pois, o comportamento e as vestimentas da menina, eram incompatíveis com a idade dela, e que Jorge não estava embriagado quando a conheceu.
	O réu disse em seu interrogatório que, nem cogitou perguntar sua idade, tão logo, a mesma era desenvolta, se vestia e se comportava, de maneira incompatível com uma garota de 13 anos, e afinal, estava em lugar frequentado apenas por pessoas maiores de idade. Disse ainda que o ato ocorreu de forma espontânea e consensual por ambos.
2- DO DIREITO
2.1) Da Ocorrência de ERRO DE TIPO, artigo 20, do Código Penal.
	Percebe-se que pelas alegações das testemunhas, onde narraram que qualquer pessoa que visse Analisa, acreditariam que a mesma fosse maior de idade, tendo em vista que ela se encontrava no interior de local com entrada permitida apenas para maiores de 18 anos de idade, e tinha comportamento incompatível com sua idade, além de sua aparência física ser de uma mulher adulta e não mais de uma menina. O réu então, foi induzido em erro de tipo, sobre elemento vulnerável do tipo penal.
	Na concepção de Mirabete,“ O erro de tipo se dá quando “o homem não sabe o que faz”; elimina a tipicidade dolosa .”
	Logo, nos moldes do artigo 20 do Código Penal, que configura que o erro de tipo gera atipicidade da conduta, pede-se então a absolvição do réu.
2.2) Da Suposta Prática De Crime Único
	Jorge, acreditando ser analisada, maior de idade, visto que a mesma tinha comportamento equivalente, praticaram sexo oral e vaginal na mesma oportunidade. 	Deve-se considerar a existência de crime único e não concurso de crimes, visto que o artigo 217-A do Código Penal, uniu o crime de estupro com qualquer outro ato libidinoso com menor de 14 anos de idade.
	O STJ mantém a tese de crime único, por ser um tipo penal misto alternativo.
	Assim sendo, o Ministério Público Estadual se equivocou ao denunciar o réu pela prática de dois crimes, e deverá ser afastado o concurso material de crimes.
2.3) Da Inexistência de Embriaguez Preordenada
	Ainda lhe foi imputado o reconhecimento de embriaguez preordenada , prevista no artigo 61, II, ‘l’, do Código Penal, o que consiste no agravamento da pena.
	“Se o agente propositadamente se embriaga visando perder a inibição para importunar ofensivamente o pudor de uma mulher, o estado inebriante verificado, ainda que possa comprometer a capacidade de discernimento do sujeito, será irrelevante para efeito de sua responsabilidade penal; isto é, a ele se imputará a infração sexual correspondente ao ato praticado. Temos, nesse caso, a embriaguez preordenada, uma vez que o sujeito, desde o início, embriagara-se para cometer o ilícito." (ESTEFAM, André; Direito Penal: Parte Geral. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 1. p. 393)..
	E para tanto, (…) “ é necessário que se prove ter o agente se embriagado, de propósito, para cometer o delito." (DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 291).
	No entanto, as testemunhas de defesa afirmaram que Jorge não estava embriagado quando conheceu a vitima.
	Logo, não há o que se falar em embriaguez preordenada, afastando-se então o agravamento da pena.
2.4) Da Inconstitucionalidade do Artigo 2º, §1º, da Lei de Crimes Hediondos
	Com base em tal artigo, o parquet requereu que o réu tivesse o início do cumprimento de pena em regime fechado. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, reconheceu a inconstitucionalidade do § 1º do artigo 2º da Lei 8.072/90 que proibia a progressão de regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos.
	Sendo certo que o juiz deve fixar o regime inicial para o cumprimento de pena, deve analisar a situação em concreto e não o preceito em abstrato, observando assim, o princípio de individualização da pena. Diante da ocorrência de crime único, cuja pena no mínimo legal deverá ser fixada em 8 (oito) anos de reclusão, sendo o réu primário e de bons antecedentes, o regime semiaberto é a melhor solução p ara o réu, pois o artigo 33, §2º, “a”, do CP, impõe o regime fechado para crimes com penas superiores a 8(oito) anos. 	Não sendo esse o caso, providencie-se a suspensão da eficácia do dispositivo declarado inconstitucional.
3 – DOS PEDIDOS
Diante o exposto, requer-se:
a) Absolvição do réu, com base no art. 386, III, do CP P, por ausência de tipicidade;
b) caso não seja esse o entendimento para absolvição, que seja concedido o afastamento do concurso material de crimes, sendo reconhecida a existência de crime único ;
c) a fixação da pena-base no mínimo legal, o afastamento da agravante da embriaguez preordenada;
d) ainda em caso de condenação, seja reconhecida a menoridade, e afastado o pedido de cumprimento de pena no regime fechado, diante à inconstitucionalidade do artigo 2º, §1º, da Lei 8.072/1990.
Neste termos
Pede deferimento
CURITIBA, 29 DE ABRIL DE 2014.
ADVOGADO – OAB/UF

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