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20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
Brasileiro sabe da existência do Estatuto da Criança, mas acha lei ineficaz, aponta pesquisa do DataSenado
Pesquisa do DataSenado mostra que praticamente toda a população entrevistada (99%) já ouviu falar do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como dos Conselhos Tutelares, instituídos por essa lei. No entanto, para 38% dessas pessoas, o Estatuto é uma lei que trata especificamente sobre o jovem infrator, enquanto 36% acham que a função do Conselho Tutelar é punir o jovem que desobedece a lei. Ou seja, embora a existência do Estatuto seja conhecida, significativa parte da sociedade desconhece seu conteúdo. A pesquisa ouviu 1.176 brasileiros maiores de 16 anos, com acesso a telefone fixo, em 119 municípios, de todas as regiões, incluindo todas as capitais.
O levantamento também revela que a maioria dos cidadãos acha que o Estatuto ajuda pouco (52%) a proteger a criança e o adolescente no Brasil. Somados aos 9% que disseram que o ECA não ajuda nessa proteção, mais de 60% manifestaram não acreditar que o ECA ajude muito a proteger os jovens brasileiros. Parcela semelhante (63%) acha que a legislação brasileira para proteção da criança e do adolescente não é suficiente. Vale destacar que os mais jovens, entre 16 e 19 anos, são os que mais acreditam na eficácia do ECA (51% dessa faixa etária) na proteção de crianças e adolescentes; e conforme aumenta a idade, essa crença diminui.
A maioria (73%) dos cidadãos disse concordar com que o adolescente desobediente à lei deve ter a mesma punição que um adulto. Para 95%, a Justiça falha na hora de punir esses jovens: 50% disseram que eles não são punidos, enquanto 45% acham que são punidos às vezes.
A eficiência das unidades de internação também é vista com desconfiança por grande parte das pessoas: 47% disseram que essas unidades ajudam às vezes na recuperação do menor de idade que desrespeita a lei, mas para 34%, elas não ajudam.
Quando se investigou o conhecimento de casos de violência contra crianças e adolescentes, 62% afirmaram não conhecer casos desse tipo na sua comunidade. Entretanto, 37% afirmaram conhecer casos assim. Esse tipo de crime mostrou-se mais conhecido pelos moradores da região Norte do país, onde 58% disseram saber de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes na sua comunidade.
https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/pesquisas/brasileiro-sabe-da-existencia-do-estatuto-da-crianca-mas-acha-lei-ineficaz-aponta-pesquisa-do-datasenado
OMISSÃO DO ESTADO E A RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR INFRATOR
 
O direito da Criança e do Adolescente assenta-se no enunciado, proteção integral, o qual garante os direitos previstos na Constituição da República Federativa de 1988 e na Lei Especial 8069/90. Proteção essa que lhes dá a condição de sujeitos de direitos, que devem ser garantidos pela família, sociedade e Estado, independentemente de sua condição social, econômica ou familiar.
O fato é que os direitos conferidos à criança e ao adolescente, raramente têm sido garantidos, de acordo com a previsão legal. Tanto com relação às garantias de convivência familiar e comunitária: à saúde, à educação, à cultura, esporte e lazer, quanto à aplicação de medidas protetivas e sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, se cometido algum ato infracional. 
O que se verifica, constantemente, é a violação desses direitos, principalmente no tocante à aplicação de medidas sócio-educativas, haja vista que a aplicação se dá, muita das vezes, de forma incorreta, de maneira descontextualizada do ambiente social, político e econômico em que está envolvido o infrator, de forma desproporcional, além de ser momentânea e provisória, não atingindo, portanto, o fim pretendido.
Assim tambémé o entendimento de alguns doutrinadores:
 
A precariedade caracteriza a tutela sócio-educativa de vez que o seu objeto-medida sócio-ecucativa- sempre é realizada a título provisório, decorrência natural da instrumentalidade da tutela, de modo que cumpridas suas finalidades desaparece a justificativa, podendo, em conseqüência, ser revogada a qualquer tempo. (PAULA, 2002, p. 138).
 
“Como o Estatuto não estabelece penas correspondentes aos atos infracionais praticados, sua aplicação ocorre por tempo indeterminado, estando sempre sujeita à avaliação judicial.” (COSTA, 2005, p. 88).
 
As medidas sócio-educativas, aplicáveis aos adolescentes em conflito com a lei, têm previsão legal e taxativa no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo impostas de acordo com as circunstâncias da gravidade da infração e com os aspectos pessoas e subjetivos do agente (MACEDO, 2008, p. 139).
 
Ao aplicar uma medida sócio-educativa, deveria se ter o cuidado de examinar, minuciosamente, o caso concreto, a fim de aplicar, de forma coerente, a medida condizente ao caso concreto.
O Estatuto da Criança e do Adolescente enumera, de forma taxativa, as medidas sócio-educativas a serem aplicadas, no entanto, deixa lacunas para que o aplicador da Lei analise o caso e adeque a melhor medida. 
A problematização dessas lacunas é que diversos aplicadores da Lei preferem iniciar com uma das medidas mais drástica do que com uma mais moderada e que, por certo, poderia vir a resolver o caso e atingir o fim pretendido pelo legislador, que é a ressocialização do infrator.
Vejamos o seguinte posicionamento:
 
[...] a ausência de regras nunca é tal; a ausência de regras é sempre a regra do mais forte. No contexto histórico das relações do Estado e dos adultos com a infância, a discricionariedade tem sempre funcionado de fato e de direito, no médico e no longo prazo, como um mal em si mesmo. Além de incorreta, a visão subjetiva e discricional é miopemente imediatista e falsamente progressista. (MENDEZ, 2000, p. 7-8).
 
O certo é que deparamos com a aplicação de medidas inversamente proporcionais ao sistema de proteção integral e omissão do Estado na redução da desigualdade social, negando a previsão legal de proteção integral da criança e do adolescente.
Diante de tais apontamentos, se verifica a necessidade do Estado organizar, de forma a criar meios que permitam que a criança e o adolescente tenham garantidos os seus direitos, assegurados pela CRFB de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Certamente, se todos os direitos previstos na Carta Magna e no ECA fossem  garantidos, conforme se encontram dispostos, a prática de atos infracionais seria reduzida em proporções consideráveis e a ressocialização teria um grande avanço. Com isto ganharia o cidadão e ganharia o Estado. Aplicar na criança e no adolescente, não pode ser considerado gasto, mas investimento de grande importância, mesmo porque o retorno à curto prazo é garantido.
O grande problema é que a sociedade e a família, mesmo tendo conhecimento de que o Estado não cumpre com o seu papel, de forma efetiva, no sentido de dar condições para que as crianças e os adolescentes tenham seus direitos assegurados, tanto com referência à lhe dar proteção integral, quanto à forma de aplicar medidas protetivas ou sócio-educativas, cruzam os braços e não lutam para que os direitos sejam garantidos. 
Por vezes se deixam levar por um discurso que não é colocado em prática ou acabam se convencendo de que aquele que cometeu um ato infracional, é uma ameaça para a sociedade e por isso deve ser penalizado. 
Não podemos cair nessa falácia. Assim também é o seguinte posicionamento:
 
O ECA não pode ser modificado para "se adaptar" à realidade brasileira, e sim a sociedade é quem deve seguir as normas previstas na legislação. "Muitos defendem a modificação de uma lei que sequer tentam aplicar. Não podemos aceitar o argumento de que o ECA precisa mudar porque é moderno demais, [...]. O próprio Estado é o maior infrator contra os direitos das crianças, porque os entes federativos não garantem condições míninas e seguras para que elas possam brincar livremente nas ruas, freqüentar escolas de qualidade, ter boa alimentação e moradia decente. (BORGES, 2008). 
 
Sobre a ineficáciada Lei temos o seguinte posicionamento:
 
[...], todas as classes de direitos fundamentais situam-se na problemática da eficácia das normas constitucionais da mesma maneira, ou na mesma posição, independentemente do grau de aplicabilidade que uma norma constitucional específica, ligada a um direito fundamental específico, possa ter, em face da conformação concreta que aquele direito recebeu no texto 
constitucional, ditada pela sua “fase” de desenvolvimento histórico. [...], o processo, ou o fenômeno, de subjetivação e de positivação de cada direito fundamental, sob a ótica lógico-estrutural, é idêntico para qualquer direito fundamental; o grau de tutela concreta que cada um deles alcançou em dado ordenamento é que pode ser distinto. (MACHADO, 2003, p. 374).
 
Vários doutrinadores entendem que a forma como estão sendo aplicadas as medidas sócio-educativas, de forma muito rigorosa e repressiva, tal qual aplicada aos imputáveis, não atinge o seu objetivo que é a recuperação e ressocialização.
As medidas sócio-educativas, da forma em que estão sendo impostas e cumpridas, previstas na Lei 8069/90 devem se dar em caráter emergencial, a fim de que se possam aferir a eficácia e a eficiente para ressocialiazar o adolescente infrator, ou se estão lhes oferecendo chances reiteradas de persistir na ilicitude, tornando-os cada vez mais marginalizados e fazendo com sua personalidade, que se encontra em processo de formação, se deforme ainda mais, face ao modo incoerente com que são aplicadas, sem transparência de propostas recuperativas, aguçando a tendência para o mundo do crime.
Medidas sócio-educativas
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, além de vir reforçar direitos já garantidos pela Constituição da República Federativa de 1988, prevê a aplicação de medidas de proteção e medidas sócio-educativas, a fim de efetivar os direitos e assegurar o cumprimento dos deveres da criança e do adolescente.
As medidas sócio-educativas se aplicam aos adolescentes infratores, isto é, quando praticam atos contrários à Lei.
As medidas sócio-educativas são nada mais, nada menos, do que atividades impostas aos adolescentes que cometem atos infracionais. Medidas estas de cunho pedagógico, social, psicológico, preventivo e psiquiátrico. São aplicadas após análise, por parte do Juiz da Infância e Juventude, das circunstâncias e da gravidade do delito, sobretudo das condições pessoais do adolescente, sua personalidade, suas referências familiares e sociais, bem como a sua capacidade de cumpri-las.
O ECA prevê a aplicação de medidas não privativas de liberdade, como advertência, reparação do dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida e as medidas sócio-educativas privativas de liberdade que são semi-liberdade e Internação.
O artigo 112 da Lei 8069/90, enumera as medidas sócio-educativas que devem ser aplicadas ao adolescente infrator, “determina que sejam observadas as circunstâncias da gravidade da infração e os aspectos pessoais e subjetivos do agente, não podendo sofrer interpretação extensiva.” (MACEDO, 2008, p.139).
O aplicador da Lei não tem liberdade de criar outros tipos de medidas. São de caráter taxativo, interpretação restritiva, portanto, não pode se interpretar de forma diversa daquela prevista na legislação.
 
Art. 112- Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
1-advertência;
II-obrigação de reparar o dano;
III-prestação de serviços à comunidade;
IV-liberdade assistida;
V-inserção em regime de semiliberdade;
VI-internação em estabelecimento educacional;
VII-qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2007, p. 1026).
“As medidas sócio-educativas constituem-se em um rol taxativo, sendo, portanto, inviável a imposição de medidas diversas das enunciadas.” (CURY, 2002, p. 364).
Muitos são os posicionamentos doutrinários que se manifestam sobre o assunto.
Nesse sentido temos o seguinte posicionamento:
 
Não se pode ignorar que o Estatuto da Criança e do Adolescente instituiu no país um sistema que pode ser definido como de Direito Penal Juvenil. Estabelece um mecanismo de sancionamento, de caráter pedagógico em sua concepção e conteúdo, mas evidentemente retributivo em sua forma, articulado sob o fundamento do garantismo penal de todos os princípios norteadores do sistema penal enquanto instrumento de cidadania, fundado nos princípios do Direito Penal Mínimo. (SARAIVA, 2004, p. 134-135).
 
A redação dada ao inc. VII do art. 112 do ECA mostra que o próprio legislador previu a possibilidade do Estado, família e sociedade vir a ser omissos, portanto, assim dispôs:
 
Art. 101- Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I-encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II-orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III-matrícula e freqüência obrigatórios em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV-inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
V-requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
I-     inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
II-    abrigo em entidade;
III- colocação em família substituta. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2007, p.1027).
 
O Estado, a sociedade e a família têm sido omissos no que diz respeito ao cumprimento das medidas sócio-educativas, vez que pouco ou quase nada têm feito. Não se têm acompanhado o menor durante o cumprimento da medida, seu resultado, suas conseqüências e a forma do seu cumprimento. Cumpridas caem no esquecimento de todos os interessados e estes não procuram tratar e combater o mal, ou seja, a causa que levou o infrator a cometer o delito. 
Podemos comparar a aplicação de medidas sócio-educativas a uma pessoa que esteja acometida por uma infecção e em razão desta sofre dores fortíssimas. O correto seria tratar a causa, mas o médico, com intuito de aliviar as dores, prescreve analgésico, esquecendo-se de indicar um medicamento para combater a infecção.
A primeira vista podemos achar que estamos diante de casos que se diferem, porém, diante de uma análise mais profunda, iremos verificar que o resultado será o mesmo, qual seja, combate o mal e esquece a causa, e, se esquece a causa, não obterá resultado satisfatório no combate do mal.
O certo é que o Estado aplica as medidas de proteção ou as medidas sócio-educativas e não se preocupa em fazer acompanhamento do individuo, a partir do cumprimento da medida, daí a razão ou o motivo de prática reiterada de atos infracionais. 
Quantas vezes são aplicadas medidas sem sequer, fazer uma análise do conteúdo da infração. Preocupa em aplicar a medida, porém esquece de fazer uma analise mais profunda sobre o fato, a materialidade, a autoria e a ofensividade. (OLIVEIRA, 2003). 
Quando as medidas são aplicadas de forma aleatória, sem que seja feita uma análise aprofundada de suas circunstâncias e consequências, estará ferindo as garantias constitucionais e legais asseguradas aos adolescentes.
Nesse sentido:
 
[...] tanto a criança quanto o adolescentes gozam de todas as garantias fundamentais asseguradas aos adultos, levando-se em conta, porém, sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, não para priva-las de qualquer benefício da lei, mas para incremento de sua proteção, sob pena de abuso e ilegalidade. (MACEDO, 2008, p. 142).
 
De nada adiantou a preocupação dos legisladores em elaborar medidas sócio-educativas, levando em consideração o processo de desenvolvimento da personalidade do jovem infrator, visando a sua recuperação, se está sendo aplicada de acordo com a Lei, pois a maneira como estão sendo cumpridas de nada adianta para a recuperação dos adolescentes, vez que não lhes dão condições para resgatar sua dignidade, sua auto-estima, sua personalidade, seu caráter, enfim, sua cidadania. Assim, o futuro dos jovensdelinqüentes está comprometido, vez tendem a voltar a delinqüir. 
Talvez seja a ineficácia na execução das medidas sócio-educativas um dos motivos que tanto tem contribuído para que os jovens se envolvam cada vez mais, com o mundo do crime. Quer enquanto menor, quer após alcançar a maioridade penal. 
Violência gera violência, portanto, se considerarmos que, a omissão da família, da sociedade, sobretudo do Estado, é uma violência para com os jovens, estes se sentirão no direito de revidar com violência. 
Háurgentenecessidade de ação da sociedade, da família e do próprio Estado, no sentido de verem aplicadas e fiscalizadas eficazmente a execução das medias sócio-educativas para que possam reduzir o atual cenário de violência praticada por adolescentes.
Necessidade também há de conscientizar que o delinqüente assim não nasceu. Não nasceu delinqüente e este pede uma oportunidade. Por isso, precisamos cooperar, não no sentido de “passar a mão na cabeça” daquele que cometeu um ato em desacordo com a Lei, mas no de exigir que lhe seja aplicada uma medida eficaz na sua recuperação, com acompanhamento na sua execução e verificação dos resultados após o efetivo cumprimento. 
É preciso deixar de lado aquele pensamento arcaico de que o adolescente infrator é uma ameaça à sociedade, por isso lhe deve ser aplicada uma medida sócio-educativa mais severa, se possível de privação de liberdade, pois só assim trará resultados positivos. O que, na maioria das vezes, resulta no contrário. O resultado é desastroso, vez que o infrator é aperfeiçoado durante o cumprimento da medida e em liberdade colocará em prática tudo que aprendeu dentro do estabelecimento de internação. 
 
A medida sócio-educativa adequadamente aplicada será sempre boa, mas somente será boa se o adolescente se fizer sujeito dela, ou seja, somente será boa se necessária, e somente será necessária quando cabível, e somente cabível nos limites da legalidade, observado o princípio da anterioridade penal. Se não há ato infracional, não se pode cogitar em sanção. (SARAIVA, 2008, p. 135). 
 
Obrigação de reparar o dano
 
A medida sócio-educativa de obrigação de reparar o dano, além de ser uma medida coercitiva é também educativa, pois leva o adolescente a refletir sobre o ato praticado e o obriga a reparar o dano causado à vítima.
A reparação do dano poderá se dar de três formas, senão vejamos:
 
Art. 116 – Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Parágrafo único – Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2007, p. 1028).
                       
“A obrigação de reparar o dano objetiva despertar e desenvolver no menor o senso de responsabilidade em face do outro e do que lhe pertence.” (ALBERGARIA, 1995, p. 119).
Diante da possibilidade do adolescente reparar o dano através de ressarcimento à vítima, tal medida é muito criticada, uma vez que o cumprimento desta, muitas das vezes, se dá pelos pais ou responsáveis do adolescente. Com isso, os fins pretendidos, a coerção e a reeducação, não são atingidos. 
Assim também tem entendido alguns doutrinadores:
 
O cunho da medida é essencialmente educativo, no sentido de conscientizar o adolescente de que o dano causado a outrem deve ser ressarcido e com a finalidade de lhe incutir responsabilidade por seus atos. A transferência do encargo aos pais ou responsável frustaria tal objetivo, bem como acabaria por ferir o princípio constitucional previsto no art. 5º, XLV“ [2]. (MACEDO, 2008, p. 150).
 
Se a pretensão do legislador era criar uma medida que tivesse, ao mesmo tempo, caráter coercitivo e pedagógico, não deveria ter criado opções para o seu cumprimento através de terceiros, pais ou responsáveis. Deveria se abster, deixar a questão para ser resolvida no campo das obrigações, no direito civil e prever apenas a condição de restituição da coisa à vítima por parte do infrator. Assim o adolescente teria mais respeito pelas coisas que não lhe pertence. 
A ineficácia da aplicação da medida sócio-educativa de obrigação de reparar o dano
 
Prevê a Lei 8.069/90 e a CRFB/88 que a criança e o adolescente devem receber proteção integral da família, sociedade e do Estado e, se há omissão por parte dos dois primeiros, deve o Estado atuar, a fim de assegurar os seus direitos fundamentais, uma vez que são indivíduos que encontram em desenvolvimento. O legislador pretendeu distribuir a responsabilidade entre a família, a sociedade e o Estado. 
A distribuição da responsabilidade é falha, principalmente quando se trata da responsabilidade do Estado, pois se percebe, claramente, a desigualdade social existente em nosso país, a qual é assustadora e muito pouco se vê o Estado atuar para diminuir essa desigualdade, quando deveria ter um atuação notável, vez que é o responsável pelas políticas sociais básicas. Assim reza o seguinte artigo da CRFB/88:
 
Art. 203- A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I- a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice. (PINTO; WINDT; CÉSPEDES, 2007, p. 64).
 
O não cumprimento do inciso I do artigo 203 da CRFB de 1988 pode ser a razão das causas dos atos infracionais praticados pelos adolescentes.
Ai se pergunta, não seria o caso de considerar culpa recíproca do Estado, caso um adolescente, que não tem seus direitos assegurados, cometa um ato infracional?
O sistema é falho, principalmente quando nos referimos à execução das medidas sócio-educativas, pois são as crianças e os adolescentes, seres em desenvolvimento, que necessitam de cuidados e atenção especiais, que vêem sofrendo as conseqüências da omissão daqueles que, de fato e de direito, são os verdadeiros culpados pela situação em que vivem e as vezes ousam dizer que os adolescentes colocam a sociedade em risco.
Não adianta se preocupar com a aplicação da letra da Lei se o Estado não dá condições para tal. É preciso lutar e cobrar meios para recuperar os menores infratores.
Assim temos a seguinte percepção:
 
[...] o problema que a sociedade brasileira atravessa não poderá, jamais,   ser resolvido com a arma do Direito Penal, mas que sua origem se encontra na incapacidade do Estado de atender aos seus deveres sociais, considerados como de segunda geração, tais como a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a previdência social, etc., pois que nossos políticos consideram como simplesmente programáticas as normas constitucionais que fazem previsão de tais direitos fundamentais.(GRECO, 2008, p. 3).
 
O Estado não está preparado para atender a demanda de oferecimento de condições para o cumprimento de medidas sócio-educativas, por isto aplicam-se medidas que não se coaduna com os parâmetros exigidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e como não tem estrutura e meios adequados para o seu cumprimento, resulta a ineficácia das mesmas, tanto no atendimento quanto na recuperação.
Assim também é o posicionamento de Greco a respeito da função estatal, pois entende que “quando o Estado consegue fazer valer o seu ius puniendi, com a aplicação da pena previamente cominada pela lei, essa pena não cumpre as funções que lhe são conferidas, isto é, as funções de reprovar e prevenir o delito.” (GRECO, 2008, p. 9).
Reportando ao posicionamento de Greco, podemos dizer que a aplicação da medida sócio-educativa de reparação do dano à vítima, de modo geral, não é eficaz, vez que não atinge o seu objetivo, portanto, não cumpre sua função, vez que, raramente, o cumprimento se dá por parte do infrator.
O fato é que os pais ou responsáveis, com intuito de preservar seus filhos, fazem o ressarcimento à vítima ao invés de exigir que o adolescente se esforce para cumprir a obrigação.
Diante de tal situação só nos resta dizer: “Que o Estado é omisso. Que a luta pela Lei transforma-se numa luta contraa Lei.” (IHERING, 1972, p. 105).
Resultado disso é a ineficácia da lei, vez que o cumprimento não se dá pelo adolescente, mas pelos pais ou responsáveis.
Não seria uma afronta ao texto constitucional, haja vista que a CRFB de 1988 determina que nenhuma pena ultrapassará a pessoa do condenado? 
A medida sócio-educativa de reparar o dano causado deveria ser personalíssima e obedecer ao princípio da responsabilidade pessoal, nos termos em que Greco cita as críticas feitas por Ferrajoli e Boschi, senão vejamos:
 
A pena pecuniária é uma pena aberrante sob vários pontos de vista. Sobretudo porque é uma pena impessoal, que qualquer um pode saldar, de forma que resulta duplamente injusta: em relação ao réu, que não a quita e se subtrai, assim, à pena; em relação ao terceiro, parente ou amigo, que paga e fica assim submetido a uma pena por um fato alheio.
[...]
A despeito do princípio, é inegável que os efeitos da condenação se projetam reflexamente sobre terceiros inocentes, muitas vezes irreversivelmente. É o que acontece, por exemplo, quando os pais efetuam o pagamento das multas impostas aos filhos [...] ou então quando a empresa-e seus sócios- recolhem as sanções impostas aos seus diretores, gerentes ou administradores, por condenação em crimes econômicos. (FERRAJOLI; BOSCHI apud GRECO, 2008, p. 106-107).
 
Se o cumprimento da referida medida se dá pelos pais ou responsáveis, os quais não cometeram nenhum ato em desacordo com a Lei, como se pode dizer que está tendo algum resultado, que está resgatando dos jovens os seus valores, que está despertando-os para as suas potencialidades? 
O Estado não estaria satisfazendo apenas os anseios da sociedade ao provar que a vítima foi ressarcida?
Isso sim é uma omissão do Estado. Falta fiscalização ou meios para que o cumprimento da medida sócio-educativa se dê pelo adolescente e não por seus pais ou responsáveis.
Temos a tradução da questão da falência de meios para o cumprimento das medidas sócio-educativa da seguinte forma:
 
Cediço é o argumento de que a nossa realidade social impele a essa inelutável degradação. Sabe-se que, realmente, não existem à disposição da Justiça especializada estabelecimentos de segurança e educação para recolher todos os adolescntes que desassossegam a população. Constitui isto um verdadeiro estado de desídia dos responsáveis pelo Poder Executivo das três esferas do governo. O que se deve fazer não é violentar as leis, mas exigir o seu cumprimento, compelindo-se a Administração Pública a construir e aparelhar as casas de internação necessárias em cada localidade. (TAVARES, 1998, p. 107).
 
Não adianta aplicar uma medida sócio-educativa se ela não atinge o fim pretendido. Este é o de recuperação do adolescente. 
As medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente visam “uma readaptação da conduta da criança e do adolescente a partir da educação, da aplicação de técnicas pedagógicas que propiciem seu crescimento e seu aprimoramento como pessoa.” (MACEDO, 2008, p. 161).
O ideal seria que o Estado tivesse profissionais suficientes para acompanhar a efetiva aplicação da lei menorista, tanto na área pedagógica, quanto na fiscalização do cumprimento das medidas sócio-educativas, o que, na verdade, não existe.
A questão é que os aplicadores da Lei se preocupam em dar uma resposta à sociedade, contribuindo para que o adolescente se sinta um verdadeiro marginal, porque, ao cumprir a medida sócio-educativa, o faz sem nenhum acompanhamento pedagógico.
Poderia comparar o resultado da aplicação da Lei ao processo de etiquetamento apontado por Greco, onde o sujeito, a partir do momento em que pratica um ato em desacordo com a Lei, passa a ser taxado pela sociedade como um delinqüente, daí, ele próprio absorve esse conceito e passa a se reconhecer como marginal.
È preciso que o Estado assuma a sua função social, diminuindo a incomensurável diferença social existente entre as classes sociais e crie meios para assegurar à criança e ao adolescente os direitos e garantias fundamentais previstos no ECA e na CRFB/88, pois assim estará contribuindo para a redução da criminalidade, a valorização do cidadão e o engrandecimento do próprio Estado. 
“Quanto mais infrações penais, menores são as possibilidades de serem efetivamente punidas as condutas infratoras, tornando-se ainda mais seletivo e maior a cifra negra.” (GRECO, 2008, p. 15).
Vejamos o seguinte posicionamento:
         
Entre a escolha de cometer ou não um delito, a pena deveria ser utilizada como fator de dissuasão nesta escolha, ou seja, na comparação entre o mal da pena e o benefício a ser alcançado pela prática da infração penal, aquele teria de ser um fator desestimulante ao agente. Por meio de uma espécie de balança, o agente colocaria em seus pratos as vantagens da infração penal e as desvantagens da pena que a ele seria aplicada, e nessa compensação a pena deveria desestimulá-lo, pois que superior às vantagens obtidas por meio do delito. (GRECO, 2008, p. 36).
 
Pode ser que os legisladores e os aplicadores da lei tenham boas intenções, que acreditem em resultados, mas o problema é que, se não há estrutura para que as medidas sejam aplicadas de forma eficaz, não há como ter realizações e se não há realizações, não há que se falar em resultados. 
 
Diante dos apontamentos trazidos neste artigo, se verifica que, embora os legisladores tenham se preocupado em dar tratamento especial e garantir proteção integral à criança e ao adolescente, por entender que são seres em fase desenvolvimento, com personalidade em formação, verifica-se que a aplicação tem se dado de forma descompassada com a CRFB/88 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, vez que o Estado não tem estrutura e não tem demonstrado interesse em criar um ambiente favorável ao seu fiel cumprimento, no sentido de atingir o fim pretendido, que é a reflexão, a educação, a ressocialização e a completa cidadania. 
A forma com que se tem aplicado as medidas sócio-educativas, tem colaborado para que os adolescentes tenham uma personalidade deformada, com sentimento de revolta, receio, preconceito, tristeza e abandono social, contribuindo também para que se voltem para o mundo do crime.
A aplicação incorreta da Lei, conforme já mencionado, contraria os preceitos constitucionais retro mencionados, os quais colocam a infância e a juventude a salvo de toda forma de negligência, discriminação, violência, crueldade, exploração e opressão e atribuiu à família, à sociedade e ao Estado, o dever de dar proteção integral às crianças e adolescentes, com absoluta prioridade. 
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente tenha tratado da ressocialização da criança e do adolescente, com audácia, considerando uma das melhores leis no ramo, omitiu, falhou no tocante a exigir do Estado as condições da sua aplicabilidade.
A Lei 8069/90 regulamenta as medidas a serem aplicadas ao adolescente delinquente, tende a levar o jovem a refletir sobre seu ato, acreditar em suas potencialidades, na sua utilidade perante a sociedade e sua completa cidadania. Contudo a falta de estrutura do Estado, falta de interesse em resolver os problemas das crianças e dos adolescentes, a aplicação das medidas sócio-educativas têm se dado de forma contrária à Lei 8069/90 e à Constituição da República Federativa de 1988, além de haver comentários de que se dá de acordo com o poder aquisitivo do infrator.
A questão é que, as Leis, ao serem criadas, são direcionadas, têm nome, sobrenome, raça, cheiro e endereço. No caso do Estatuto da Criança e do Adolescente, tem foco nas crianças e adolescentes de menor poder aquisitivo. Tem direcionamento certo e só em caso de exceção é que tem aplicação genérica, atingindo jovens de classe melhor aquinhoada pela sorte.
Embora vivamos sob a égide de uma “Constituição Cidadã”, nas palavras do saudoso Deputado e Presidente da Assembléia Nacional Constituinte de 1099, Dr. Ulisses Guimarães, o que se constata, no dia a dia, é que permanecem ameaças, desrespeitos e privações às crianças e adolescentes deste país e não são respeitados os seusdireitos, não permitindo que os mesmos, na sua totalidade, gozem de suas garantias.
A sociedade e a família, por serem consideradas partes hipossuficientes, se comparadas ao poder estatal, não conseguem fazer valer os direitos assegurados à criança e adolescente, por isto se vêem impotentes a exigir que do Estado que cumpra as recomendações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. 
A discriminação imposta pela sociedade, em especial pelo Estado, ao adolescente, autor de ato infracional, por entender ser ele um delituoso, tem contribuído para a marginalização dos jovens, negando-lhes a plena cidadania, e por conseqüência, o futuro da Nação e do Estado. 
É preciso conscientizar que as normas previstas na Lei 8069/90 devem ser cumpridas e por isto, deve-se questionar sobre a falta de estrutura da sociedade, da família e principalmente do Estado, o que leva os jovens a serem vítimas e não infratores.  
A sociedade precisa se organizar e cobrar das autoridades constituídas o cumprimento integral das normas constitucionais e da legislação infraconstitucional. Precisa exigir que o Estatuto da Criança e do Adolescente atinja o seu objetivo, devendo ser corretamente aplicado, de forma a preservar, inserir e proteger a criança e o adolescente, pois só assim estará cumprindo o seu papel pedagógico, reeducacional e de inserção social. 
As medidas sócio-educativas são de cunho pedagógico, porém a forma como estão sendo aplicadas é ineficaz, não atinge o objetivo de inserção social, ressocialização, educação e reflexão, devido à falta de estrutura para o seu cumprimento. 
Há necessidade, com urgência, de fazer com que as medidas sócio-educativas, em especial à medida de ressarcimento e ou de reparação do dano causado à vítima, seja eficaz, sob pena de perder a oportunidade da efetiva ressocialização do jovem infrator e reparar o prejuízo à vítima.
O adolescente infrator não deve ser visto como ameaça à sociedade, mas sob a ótica de que está em formação, devendo ter uma oportunidade de se ressocializar e que tem, em seu favor, as normas constitucionais e as previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
 A não aplicação das normas constitucionais e das previstas no ECA, nos moldes estabelecidos pelo ordenamento jurídico, voltado para o menor, caracteriza ilícito de maior magnitude. Deveria se chamar de crime lesa jovem, em analogia ao de lesa humanidade e de lesa Pátria, vez que estará atingindo a milhares de jovens, fazendo com que permaneçam na marginalidade e não lhes dê oportunidade de ressocializar. Com isto perde o jovem, perde a família, sobretudo, perde o Estado, que terá de cuidar desse jovem na cadeia, no hospital, ou até mesmo em casa, vez que será um imprestável, um improdutivo, um problema social.
Se o Estado não dá suporte, não cria estrutura e não instrumentaliza, não acompanha e não fiscaliza o cumprimento das medidas sócio-educativas não há que se falar em efetividade. 
Se o cumprimento das medidas não atinge o seu objetivo pedagógico, ressocializador, de inserção social e de reflexão, não há que se falar em ordenamento jurídico, pois estaremos diante de um desordenamento que fere frontalmente os princípios constitucionais. 
Ao invés de criticar é preciso conscientizar que uma das principais causas da marginalidade juvenil é a desigualdade social e que o resultado dessa desigualdade pode ser atribuído ao não asseguramento dos direitos elementares da pessoa humana, garantia essa que, se eficaz, reduziria, de forma significativa, a prática de infrações cometidas por adolescentes ou até mesmo por adultos.
  A sociedade precisa se organizar e cobrar das autoridades constituídas o cumprimento integral das normas constitucionais e da legislação infraconstitucional.
Diante do exposto deve-se refletir o seguinte: 
-Entre o passado, onde estão nossas recordações e o futuro, onde estão nossas esperanças, fica o presente, onde está nosso dever. Dever de assumir, com responsabilidade, cada um o seu papel, procurando melhorar o mundo em que vivemos e o que deve ser feito agora não se pode deixar para depois. 
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1242
Para especialistas, o Estatuto da Criança e do Adolescente é eficiente, mas falta investimentos no setor socioeducativo. “É tratado como um mini-sistema penitenciário”, defende promotora
“O ECA é uma das leis mais modernas do mundo, mas não é aplicada.” A avaliação do advogado Paulo Lépore, especialista em Direito da Criança e do Adolescente, traz à tona a ineficácia do sistema socioeducativo, na semana em que a Câmara Federal aprovou, em primeira votação, a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em casos de crimes hediondos.
Para o advogado, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não está ultrapassado e até funciona, mas falha porque as políticas estatais não fornecem a estrutura idealizada pelo documento. “Em alguns casos, as unidades de internação acabam representando verdadeiros depósitos de pessoas, imponto severo sofrimento físico e psicológico”, afirma o advogado.
O ECA, estabelecido há mais de 25 anos no País, também é questionado pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância e Adolescência do Ministério Público de Goiás (MPGO), Karina D’Abruzzo. Em entrevista ao Jornal Opção Online, a promotora afirmou que o estatuto ainda “não foi completamente aplicado” no que diz respeito à implementação de políticas públicas. “Quando você não oportuniza a base, a tendência é ter violência”, argumentou.
Para a promotora, o sistema socioeducativo no Brasil não cumpre com seu objetivo porque não é levado a sério. “O socioeducativo não educa, porque não oferece a estrutura mínima e é tratado como um mini-sistema penitenciário.” Para funcionar, a especialista reitera a necessidade da implantação de políticas públicas também nos ambientes de internação. “Tem que ter Saúde e Educação. Atualmente, os meninos têm um ou duas horas de aulas por dia em classes multiseriadas. É como se fosse uma cadeia. Vai reeducar a pessoa como?”
Contrária à redução da maioridade penal, Karina afirma que ao concordar com a medida “estamos assumindo nossa incompetência”. Para ela, o menor infrator tem consciência de seus atos, assim como qualquer adulto, mas não possui a mesma maturidade. “Se o socioeducativo deixa a desejar, o que dizer do sistema penitenciário?”, argumenta.
Mudanças
A ineficácia do ECA é uma das justificativas usadas pelo segmento contrário à redução da maioridade penal. Por isso, existem diversos projetos de lei que propõem a adoção de um maior rigor no estatuto, o que poderia evitar uma medida mais drástica.
Recentemente, a presidente Dilma Rousseff (PT) admitiu que o governo poderia propor uma mudança no estatuto para ampliar a punição a adolescentes envolvidos em crimes hediondos. Atualmente, o tempo máximo de internação previsto no ECA é de três anos, sem diferenciar o tipo de infração cometida pelo adolescente. Um dos projetos de lei parado no Congresso defende a ampliação deste tempo para oito anos.
Na avaliação da promotora Karina D’Abruzzo, a ampliação do tempo de internação é uma medida “menos pior” do que a redução da maioridade penal, mas está longe de ser a solução para a criminalidade infanto-juvenil. A promotora reitera a falta investimento no setor e conta que adolescentes vêm sendo liberados das casas de socioeducação para dar espaço a outros internos. “Falta estabelecer prioridade absoluta para esse público. Só encontraremos uma saída quando os governantes enfim vivenciarem que a criança é de fato o futuro da nação, e esse futuro é pra hoje.”
http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/eca-seria-solucao-se-fosse-aplicado-39754/
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) 
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) é responsável pela articulação das políticas e normas regulamentadoras para a proteção e promoção dos direitos de adolescentes cumprindo medida socioeducativa.
Sob a responsabilidade da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e doAdolescente (SNPDCA), tal tarefa é executada pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), por qual é organizada a execução das medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes aos quais é atribuída a prática de ato infracional.
Instituído pela Lei Federal 12.594/2012 em 18 de Janeiro de 2012, o Sinase é também regido pelos artigos referentes à socioeducação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.069/1990), pela Resolução 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e pelo Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo (Resolução 160/2013 do Conanda).
Como órgão gestor nacional do Sinase, a SDH/PR articula ações com instituições do Sistema de Justiça; governos estaduais, municipais e distrital; ministérios das áreas de Educação, Saúde, Assistência Social, Justiça, Trabalho, Cultura e Esporte. Além disso, busca informar profissionais da socioeducação, veículos de imprensa e setor produtivo, entre outros, para que o processo de responsabilização do adolescente possa adquirir um caráter educativo, (re)instituindo direitos, interrompendo a trajetória infracional e promovendo a inserção social, educacional, cultural e profissional.
Vinculada à SNPDCA, a Coordenação-Geral do Sinase coordena a execução da política nacional de atendimento socioeducativo, integrando as ações do Sinase dos diferentes ministérios e estabelecendo diretrizes nacionais de atuação – como aquelas previstas pelo Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo, além de parâmetros arquitetônicos, de segurança, de gestão e de socioeducação para unidades.
Para que todas as políticas setoriais sejam levadas em contra no estabelecimento de diretrizes nacionais, a Coordenação–Geral coordena uma Comissão Intersetorial e apoia fóruns e redes de proteção estaduais e municipais, subsidiando ainda a melhora na infraestrutura das unidades de todas as unidades federadas.
 
Objetivos
As ações do Sinase são executadas tendo como base um Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo Diretrizes e Eixos Operativos.
O SINASE busca enquanto sistema integrado articular em todo o território nacional os Governos Estaduais e Municipais, o Sistema de Justiça, as políticas setoriais básicas (Assistência Social, Saúde, Educação, Cultura, etc.) para assegurar efetividade e eficácia na execução das Medidas Socioeducativas de Meio Aberto, de Privação e Restrição de Liberdade, aplicadas ao adolescente que infracionou.
Objetiva ainda, de forma primordial, o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos enquanto promove alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturados em bases éticas e pedagógicas.
Grandes linhas
Tendo como premissa básica a necessidade de se constituir parâmetros mais objetivos e procedimentos mais justos que evitem ou limitem a discricionariedade, o SINASE reafirma a diretriz do Estatuto sobre a natureza pedagógica da medida socioeducativa. Para tanto, este sistema tem como plataforma inspiradora os acordos internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, em especial na área dos direitos da criança e do adolescente.
Outrossim, priorizaram-se as medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida) em detrimento das medidas privativas ou restritivas de liberdade em estabelecimento educacional (semiliberdade e internação), haja vista que estas somente devem ser aplicadas em caráter de excepcionalidade e brevidade). Trata-se de estratégia que busca reverter a tendência crescente de internação dos adolescentes bem como confrontar a sua eficácia invertida, uma vez que se tem constatado que a elevação do rigor das medidas não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo.
Como importante ação para qualificar o atendimento socioeducativo e atuar de forma ágil na apuração do ato infracional e na inserção do adolescente no cumprimento da medida socioeducativa, o SINASE prevê a instalação e funcionamento do Atendimento Inicial Integrado, também conhecido como Núcleo de Atendimento Integrado (NAI).
http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/programas/sistema-nacional-de-medidas-socioeducativas/sistema-nacional-de-atendimento-socioeducativo-sinase-1

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