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Curso de Especialização e Extensão em Neuropsicologia Introdução à Neuropsicologia Daniel Fuentes Ph.D. Ex-Diretor do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia Instituto de Psiquiatria - HC – FMUSP Coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto Neurológico do Hospital Beneficência Portuguesa secretariafuentes@gmail.com Introdução à Neuropsicologia Aspectos gerais: • A Neuropsicologia constitui uma área de conhecimento e prática clínica que tem como objetivo básico estabelecer a relação entre comportamento e funcionamento mental. • O termo Neuropsicologia surge primeiramente com Osler (1913), porém a preocupação em compreender a relação Cérebro x Comportamento remonta aos homens primitivos. • Há milhares de anos os homens ligam o cérebro às funções mentais. Os homens primitivos observavam que fortes traumas cranianos eram responsáveis pela perda de consciência e de memória, por convulsões e alterações da percepção e do comportamento. • A mais antiga cirurgia realizada é a trepanação. Arqueólogos encontraram praticamente em todo o mundo milhares de crânios com buracos cirúrgicos. Histórico Há 40.000 anos atrás, no período neolítico, já eram realizadas cirurgias no crânio. Crânios trepanados do Neolítico Histórico: trepanações... As trepanações eram realizadas para aliviar sintomas mentais, para retirar os demônios e espíritos ruins que os médicos antigos acreditavam serem os responsáveis pela loucura e doença do cérebro. Histórico: trepanações... Trepanação realizada em um crânio na América do Sul (astecas) Histórico: trepanações... Faca de trepanação asteca de bronze e ouro (1200-1400 ac) Trépanos de metal da Grécia antiga Serra de trepanação do século 19 Histórico - Antigo Egito: • As primeiras e mais importantes informações sobre as cirurgias cerebrais foram extraídas do famoso Papiro Cirúrgico de Edwin Smith (Egito - 1.600 AC) • Nele são descritos 30 casos clínicos de trauma cranioencefálico e da medula, contendo as primeiras descrições conhecidas das suturas cranianas, da superfície externa do cérebro, do fluido cerebroespinal e das pulsações intracranianas. Histórico - Antigo Egito: • Tal papiro descreve como as lesões cerebrais eram associadas a mudanças da função de outras partes do corpo, especialmente as dos membros inferiores, tais como contraturas hemiplégicas, paralisias, incontinência urinária, etc. Histórico: Grécia antiga: • Alcmeon, Demócrito, Diógenes, Platão e Teófrasto acreditavam que o cérebro detinha o comando das atividades corporais e era tido como responsável pelas sensações e pensamentos (sec. V AC) Histórico - Grécia antiga: • Hipócrates (460-379 AC) descreve de maneira surpreendente a relação entre o cérebro e a mente: "Deveria ser sabido que ele é a fonte do nosso prazer, alegria, riso e diversão, assim como nosso pesar, dor, ansiedade e lágrimas, e nenhum outro que não o cérebro. É especificamente o órgão que nos habilita a pensar, ver e ouvir, a distinguir o feio do belo, o mau do bom, o prazer do desprazer. É o cérebro também que é a sede da loucura e do delírio, dos medos e sustos que nos tomam, muitas vezes à noite, mas ás vezes também de dia; é onde jaz a causa da insônia e do sonambulismo, dos pensamentos que não ocorrerão, deveres esquecidos e excentricidades". Histórico - Grécia antiga: • Aristóteles discorda de seus contemporâneos e retoma a noção bastante antiga de que a sede das emoções seria o coração. Até hoje somos influenciados por esta noção (símbolo do amor –coração) • Posteriormente, Galeno (sec. II AC) um estudioso e dissecador, refuta as idéias de Aristóteles e propõe que a massa cerebral é responsável pelas atividades mentais. Histórico - Idade Média: • Período ainda caracterizado por uma concepção metafísica das funções cerebrais. • Reina a teoria dos spiritus: spiritus naturalis (fígado) → spiritus vitalis (pulmões)→ spiritus animalis (cérebro). • Descartes (sec. XVII): glândula pineal é a sede da atividade mental (esta estrutura foi escolhida por ser um órgão único, as demais estruturas cerebrais são bilaterias). Histórico – Idade Moderna: Busca de um substrato material dos processos psíquicos. • Meyer - memória → córtex cerebral; imaginação e juízo → substância branca; vontade → regiões basais; corpo caloso + cerebelo → integração de todas as funções. Histórico: século XIX - Auge do localizacionismo Joseph Gall: • Afirmou categoricamente que o cérebro era o órgão do espírito, ou seja era responsável pelos sentimentos e pela faculdades mentais. ➢ Foi o primeiro a descrever as diferenças entre a substâncias cinzenta e branca do cérebro. ➢Gall fundou a Frenologia (ciência que acreditava que o cérebro era constituído por um agregado de órgãos. Cada um desses órgãos possuía uma faculdade psicológica específica – os “centros”). Histórico - Frenologia (continuação): • Gall e seus seguidores identificaram 37 faculdades mentais e morais que pensavam estarem representadas na superfície do crânio ( as proeminências externas do crânio refletem a forma interna do cérebro). • Portanto, a forma do cérebro podia ser utilizada para dia- gnosticar faculdades mentais particulares de um indivíduo. FRENOLOGIA Grande parte das faculdades mentais identificadas referia- se a características de personalidade, tais como firmeza, cautela, espiritualidade, amabilidade, etc. Histórico: Histórico: • Flourens (1820): ao contrário de Gall afirma que as funções mentais não eram dependentes de partes específicas do cérebro, mas que este funcionava como um todo. • Séc. XIX: Os neurologistas Paul Broca, na França e Karl Wernicke, na Alemanha, chamam a atenção do mundo da medicina com estudos sobre doentes com lesões cerebrais. Histórico: • Broca (1861): surgimento da Neuropsicologia Moderna → H.E. cumpre um papel dominante na produção da linguagem. • Wernick (1874): » centro das imagens sonoras da linguagem (compreensão da linguagem). » área descrita por Broca: centro da representação motora da linguagem. Histórico: Caso: Phineas Gage – 1848 • 25 anos de idade e supervisor da construção de ferrovias em Vermont, EUA. • enquanto estava preparando uma carga de pólvora para explodir uma pedra, distraidamente socou uma barra de aço no buraco. A explosão resultante projetou a barra (de 2.5 cm de diâmetro e mais de um metro de comprimento) em alta velocidade contra o seu crânio. A barra entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro, saindo pelo outro lado do topo do crânio. Histórico: • Phineas Gage – 1848: Histórico - Phineas Gage: • Gage perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões. Porém, ele recuperou a consciência momentos depois, e foi levado a médico local, John Harlow. Incrivelmente, ele estava falando e podia caminhar. • Cage perdeu muito sangue e teve problemas de infecção. Todavia, sobreviveu à terrível lesão e se recuperou bem, fisicamente. Histórico - Phineas Gage: • pouco tempo depois Phineas começou a ter mudanças surpreendentes na personalidade e no humor. Ele tornou-se extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não conseguia manter-se em um trabalho por muito tempo ou planejar o futuro. "Gage já não era Gage", disseram seus amigos. ➢O caso de Gage mostrou que existiam sistemas no cérebro humano mais dedicados ao raciocínio; às dimensões pessoais e socais do raciocínio. ➢ "Gage foi o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento“. (Antônio Damasio) Histórico Séc. XX - Duas grandes correntes: » Subordinação das funções isoladas às regiões concretas do encéfalo (cérebro como um conjunto de órgãos ou centros funcionais) → localizacionismo. » Cérebro como um conjunto que origina uma atividade psíquicaúnica e que não se decompõe →Integracionismo. Histórico: localizacionismo X intregracionismo • Neuroanatomista Korbinian Brodmann (1909): diferenciação histológica e grande número de regiões estruturais = separação espacial das funções. Mapa citoarquitetônico de Brodmann Histórico: localizacionismo X intregracionismo Lashey (1929): • estudo com ratos lesionados em tarefas de labirintos. • A organização cerebral é mais dinâmica e envolve o todo o “Sistema Cerebral”. Outros autores integracionistas, partindo de suas investigações sobre a linguagem, afirmam que os complexos sistemas de semântica e de abstração não se restringem a regiões ou sistemas, mas envolvem toda a massa cortical. Histórico: Goldstein (1934): • Cunha o termo NEUROPSYCHOLOGICAL para se referir a processos de pensamentos aberrantes em pacientes com lesões cerebrais. • Era nomeado o novo campo de investigação e tratamento (já em exercício), relacionando sistematicamente o conhecimento da Psicologia e da Neurologia. Histórico: Penfield (1947): • Confirmou o papel das áreas de Broca e Wernicke com estimulação elétrica de cérebros vivos antes da cirurgia para epilepsia. • Com esta técnica fez o mapeamento das área somato- sensitivas primárias Foot Hip Trunk Arm Hand Face Tongue Larynx Histórico: Caso H.M. (1953): • Paciente com epilepsia intratável. • Neurocirurgião Willian Scoville, removeu as partes internas do lobo temporal em ambos os lados do cérebro. • Após a operação, HM parecia normal. Mantinha uma conversa normal e teve um desempenho tão bom em testes de inteligência quanto antes da operação. Histórico: • Todavia, HM esquecia de suas experiência diárias assim que elas aconteciam. Não conseguia lembrar-se de conversas tidas minutos antes; não conseguia reconhecer médicos que o tratavam diariamente; quando se mudou para uma casa nova não conseguiu aprender o endereço novo, nem achar sozinho o caminho de casa. • Conseguia lembrar-se de seus primeiros anos de vida e reter pequenos volumes de material durante breves períodos. Histórico: •Millner (1957): correlaciona memória ao hipocampo. Histórico: MacLean (1957): • introduziu o termo Sistema Límbico • contribuiu para o estudo das especializações hemisféricas. Histórico: • Na década de 60, Roger Sperry e Joseph Bogen, da Cal Tech, inventaram um tratamento radical para epilepsia grave: cortar o corpo caloso, numa cisão cerebral. Esse tratamento avançou o conhecimento sobre a lateralização cerebral. Histórico: H. E. Linguagem Atividades lógicas Pensamento linear Analítico Preciso Sensível ao tempo H.D. Percepção da forma e do espaço (Atividades espaciais) Pensamento analógico Holístico Simbólico Percepção sensorial Música Histórico: a Psicometria Paralelamente ao desenvolvimento das neurociências, desenvolve-se também a Psicometria. Séc. XIX: • Esquirol (1838): ➢ distinção entre indivíduos que nunca desenvolveram as capacidades intelectuais e indivíduos “doentes mentais” que perderam as habilidades que antes possuíam. ➢Métodos de avaliação baseados em aspectos físicos e mentais. Histórico: a Psicometria • Galton (1884): estabelece o laboratório psicométrico em Londres. Desenvolve testes de discriminação visual e coordenação motora. • Pearson: desenvolve cálculos estatísticos e correlações para determinar a fidedignidade das observações experimentais. • Kraepelin: introduz testes complexos para avaliar percepção, memória, funções motoras e atenção. • Binet e Simon (1905): primeiro teste de inteligência prática: Escala de Inteligência Binet-Simon. Histórico: a Psicometria • Terman (1916): revisa a escala Stanford-Binet e adota o conceito “Quociente Intelectual” (relação entre idade mental e cronológica) • David Wechsler (1936): publica sua primeira escala marcando início de uma série de baterias de inteligência e memória. Histórico – técnicas de neuroimagem • Evolução das técnicas de neuroimagem, tanto estruturais como funcionais → contribuições para a Neuropsicologia clínica e localização de lesões. Histórico – técnicas de neuroimagem CT MRI SPECT PET fMRI Neuropsicologia Contudo, que informações faltam nos exames de neuroimagem? As dimensões do comportamento: 1. Cognição percepções, representações, pensamentos, conhecimentos e lembranças 2. Emoção sentimentos e motivação 3. Funções executivas como o comportamento é expressado Histórico – Neuropsicologia A construção de instrumentos para avaliação das funções mentais e a evolução das técnicas de neuroimagem permitiram o estudo aprofundado das relações cérebro-comportamento. • Halstead (1947): nos EUA, juntamente com seu aluno Reitan, desenvolvem uma bateria de testes para identificar indivíduos portadores de disfunções cerebrais – Bateria Halstead-Reitan. • Luria (1966): na União Soviética, examinou pacientes com lesões adquiridas na Segunda Guerra Mundial. Histórico – Neuropsicologia Luria • Visão dinâmica do funcionamento cerebral. • Funções psíquicas superiores constituem sistemas funcionais complexos, cada um tendo sua participação no conjunto como um todo (Sinfonia). • Teoria dos sistemas funcionais: 1) Unidade de atenção (sist. Reticular), 2) Unidade Sensorial (áreas primárias, secundárias e terciárias), 3) Unidade de Planejamento (áreas primárias, secundárias e terciárias). Histórico : Neuropsicologia • Freud (1891): On Aphasia. O livro apresenta um modelo neuropsicológico especulativo para as funções de linguagem em indivíduos normais e indivíduos doentes. • Brenda Milner (dec. 50 →): em Montreal, desenvolveu estudos sistemáticos nos quais aplicava testes da Psicologia Clássica em pacientes epilépticos submetidos à cirurgia. • Geschwind (EUA): relacionou a lateralidade cerebral a doenças imunológicas e a casos de distúrbio de desenvolvimento, como por exemplo, a dislexia. Histórico : Neuropsicologia Mesulam: • Re-mapeou o cérebro a luz dos conhecimentos modernos. • Propõe que as fundações estruturais dos domínios cognitivo e comportamental tomam a forma de redes de larga escala, parcialmente superpostas que são organizadas em torno de epicentros corticais reciprocamente interconectados. Histórico : Neuropsicologia Mesulam: • Os componentes das redes podem ser dividir em áreas críticas e áreas participativas. • As lesões que prejudicam irreversivelmente a performance num determinado domínio cognitivo ajuda a identificar os componentes da rede que são críticos para sua integridade. • Enquanto que as ativações obtidas pelos métodos de imagem funcional, que são feitas quando um sujeito está realizando uma tarefa de um determinado domínio, revelam as áreas que participam na sua coordenação. Histórico : Neuropsicologia Mesulam: Pelo menos 5 redes de larga escala são identificadas no cérebro humano: 1- uma rede no H.D. dominante para atenção espacial, cujo epicentro está na córtex parietal dorsal posterior, nos campos visuais frontais e giro-cíngulo. 2- uma rede no H.E. dominante para linguagem cujo epicentro está nas áreas de Wernick e Broca. 3- uma rede de memória e emoção cujos epicentros estão nas regiões hipocampais entorrinais e no complexo amigdalóide Histórico : Neuropsicologia/Mesulam Mesulam: 4- uma rede de funcionamento executivo e comportamental cujos epicentros se encontram na córtex pré-frontal lateral, córtex órbito- frontal e córtex parietal posterior. 5- uma rede de identificações de faces e objetos cujos epicentros se situam na córtex temporal lateral e temporopolar. Histórico : Neuropsicologia • Elizabeth Warrington (Inglaterra): elaborou vários testes de memória, pesquisou sobre as diferenças entre a evocação e o reconhecimento, realizou estudos detalhados sobre as correlaçõespatológicas dos subtestes do WAIS-R. Histórico : Neuropsicologia Daniel Schacter (EUA): • pesquisa comportamentais e de neuroimagem envolvendo vários aspectos da memória. • Sistematizou os sistemas e as falhas de memória. Histórico : Neuropsicologia Daniel Schacter: As falhas de memória podem ser classificadas da seguinte maneira: • Transitoriedade: enfraquecimento da memória com o passar do tempo. • Distração: interface entre a memória e a atenção. A informação não é recuperada, porque nunca foi registrada. • Bloqueio: não conseguir resgatar uma informação no momento necessário (sensação de estar com a informação na “ponta da língua”) Histórico Atualidade • A concepção de que funções elementares são regionalmente delimitadas se une a idéia de uma interconectividade de redes neuronais multifuncionais. Ou seja, quanto mais complexa a função, mais regionalmente difusa e quanto mais elementar mais delimitada. Neuropsicologia Avaliação neuropsicológica: aplicação de testes e interpretação cuidadosa dos resultados + análise da situação atual e do contexto do indivíduo Neuropsicologia Avaliação neuropsicológica: • Permite aferir competências, inferir déficits sutis, estabelecendo um ponte entre função, emoção e comportamento. • Um déficit cognitivo pode causar deteriorações sociais e perda de auto-estima. • É importante saber investigar e reconhecer um déficit orgânico, perceptivo ou cognitivo, para poder dar o melhor encaminhamento para o problema. Neuropsicologia • Desta forma a avaliação neuropsicológica tem uma participação importante no diagnóstico diferencial de demências, depressão e outros déficits cognitivos. Neuropsicologia Conclusão • O desenvolvimento futuro das pesquisas do substrato neuronal e funções mentais superiores conduzirá não somente a uma melhor compreensão de lesões e conseqüentes transtornos cognitivos, como também capacita o estabelecimento de procedimentos de Reabilitação Neuropsicológica. Indicações para Investigação Neuropsicológica • Neuropsicologia: ramo das neurociências que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento. Tem aplicações práticas e teóricas. • Racional subjacente: a interação dos indivíduos com o meio se faz através do SNC. O potencial adaptativo é determinado pela capacidade de receber, analisar, armazenar e responder à estímulos internos e externos. Indicações para Investigação Neuropsicológica • Capacidades: podem se reduzir ou modificar dependendo das circunstâncias. Identificando e medindo de forma controlada forças e fraquezas no funcionamento dos indivíduos, a investigação estabelece as bases para: diagnóstico revelar alterações cerebrais não suspeitadas prever riscos a certos tipos de tratamento planejamento das intervenções (re) estabelecer a Qualidade de Vida Indicações para Investigação Neuropsicológica • Aplicações práticas: a) condições nas quais ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas, afetivas e sociais, devido a eventos que atingiram primária ou secundariamente o SNC. b) condições nas quais o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, acadêmica, profissional ou social, pelo fato dos indivíduos apresentarem formas e organizações de suas funções mentais diferentes ou discrepantes do que é esperado. c) condições geradas ou associadas a uma desregulação no balanço bioquímico ou elétrico do cérebro, decorrendo disto modificações ou prejuízos cognitivos/ afetivos. Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: * TCE * Tumores Cerebrais * Epilepsia * AVC * Demências * Desordens Tóxicas * Doenças Endócrinas e Desordens Metabólicas * Deficiências Vitamínicas * Outras Desordens Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: TCE Questões que podem suscitar a indicação: não há sequelas, mas o indivíduo não consegue retomar escola, trabalho, vida social, no nível prévio. há sequelas ( leves ou graves) e necessidade de estabelecer mudanças na vida. há deterioração após período de estabilidade. aparecem mudanças no comportamento/ quadro psicótico. Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: TCE jovem de 17 anos; sofreu TCE há 6 anos, em coma por 3 meses. Recobrou consciência com déficits severos e esteve em reabilitação continuamente nunca recobrou movimentação independente (em parte pela ataxia), nem a memória recente, mas o comportamento social e afetivo era apropriado antes do acidente era criança inteligente, bem humorada, piadista, “um ator”. Após o acidente ficou estável por 3 anos Indicações para Investigação Neuropsicológica Na escola, ultimamente: • queixas de que quando não falavam diretamente com ele, gesticulava, tinha solilóquios, ria sem motivo • tinha reações agressivas e estava sarcástico, masturbava-se em público A indicação para exame era apropriada e os objetivos eram fazer diagnóstico diferencial entre demência, psicose ou outros, fornecer orientação para os passos seguintes e plano para o tratamento. Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Tumor Cerebral Questões que podem suscitar a indicação: aparecimento de déficits cognitivos quadro psiquiátrico em personalidade pré-mórbida normal intensificação de quadro psiquiátrico, sem resposta à medicação oscilações bruscas de humor e comportamento necessidade de estabelecer mapeamento cognitivo necessidade para estabelecer plano cirúrgico Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Tumor Cerebral senhora, 79 anos, sem história prévia, mas ansiosa, “muito organizada”, com quadro depressivo há 4 anos desde doença terminal do marido, intensificado após sua morte. Não reagiu à tratamento clínico, mesmo com substituição dos A.D. vem se queixando da memória; ficou “indecisa”, atrapalha- se nos trabalhos de crochê, entra em dúvida ao fazer as coisas não sabendo se fez certo ou não RNM mostrou meningioma F., E. Questões que o quadro atual suscitou: os déficits cognitivos estão associados à depressão, à medicação ou ao tumor? Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Tumor Cerebral senhor de 38 anos, ocupando alto cargo executivo, desenvolveu crises convulsivas há 5 anos, posteriormente controladas com A.C. RNM da época: mostrou imagem cística em região F.D.; foi acompanhado evolutivamente. RNM recente: massa expansiva na região fronto-basal, não se optando por cirurgia previamente sempre foi inseguro e ansioso, mas com êxito na vida acadêmica, profissional e social desde o início do quadro: variações intensas de humor, bloqueios sutis ao falar, a letra mudou; não consegue se concentrar e não memoriza detalhes Indicações para Investigação Neuropsicológica Questões suscitadas pelo quadro: • quão grave é o quadro cognitivo? • Deve ser orientado a parar de trabalhar? • Quais as medidas a serem sugeridas ao paciente? Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Epilepsia Questões que podem suscitar a indicação: EEG normal ou não consistentemente localizado discriminar área epileptogênica contradição entre lesão e EEG distúrbios cognitivos decorrem de descargas ou A.C.? verificar resposta cognitiva ao tratamento determinar a dominância cerebral para linguagem prever antecipadamente riscos com a cirurgia prever evolução após tratamento cirúrgico Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Epilepsia senhora de 38 anos, apresentaCPC não controláveis desde os 12 anos, que se iniciam com fraqueza, tontura, taquicardia, evoluindo para TCG. Pós-ictal: sono, confusão mental, cefaléia (por 2h). RMN: assimetria hipocampal < à D. SPECT: temporal mesial E. EEGs: temporais - ora à D., ora à E.; um F.T.E. TC: normal Questões suscitadas pelo quadro: há déficits cognitivos congruentes com os exames de imagem? Qual é a localização? Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Demências Questões que podem suscitar a indicação: déficits cognitivos sugerem demência ou outra coisa? demência é cortical ou subcortical? qual a resposta a tratamentos com droga? qual a orientação a ser fornecida à família? qual o plano da reabilitação? Indicações para Investigação Neuropsicológica a) Condições decorrentes de impacto primário ou secundário no SNC: Demência senhor, 75 anos, apresentando distúrbio progressivo de memória há 3 anos, recebeu diagnóstico de D.A. foi pressionado a interromper suas atividades profissionais e a passar seu negócio para os filhos. Sob o pretexto do diagnóstico, sua conta bancária foi esvaziada, o que gerou medidas judiciais. o diagnóstico foi solicitado tanto por um novo médico, como pelo advogado. Questões suscitadas: os déficits cognitivos sugerem D.A.? A crítica atual está preservada? Os déficits de memória são de que extensão? Ele deve sofrer impedimento legal? Indicações para Investigação Neuropsicológica b) Condições nas quais o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, escolar/ profissional/ social: Transtornos Específicos do Desenvolvimento Transtornos Pervasivos do Desenvolvimento Retardo Mental Outros Indicações para Investigação Neuropsicológica b) Condições nas quais o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, escolar/ profissional/ social: Transtornos Específicos do Desenvolvimento As indicações incluem: prover dados para diagnóstico diferencial (ex: T.E.D.; R. M.) delimitar a disfunção principal e seus efeitos secundários (ex: D.A.; Dislexia; Distúrbio Motor - impacto sobre a cognição e conação) orientar tratamentos (ex: medicação para uso de estimulantes/ antidepressivos e/ ou terapia cognitiva, treinos específicos em ADD) mapear a resposta a tratamentos Indicações para Investigação Neuropsicológica b) Condições nas quais o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, escolar/ profissional/ social: Transtornos Pervasivos do Desenvolvimento: Autismo Retardo Mental Questões que podem suscitar a indicação: dúvida diagnóstica delimitação e mapeamento de déficits x forças cognitivas orientação para a escola, profissão e para família orientação para o tipo de terapia (reabilitação, fono, etc.) Indicações para Investigação Neuropsicológica c) Condições geradas ou associadas à desregulação bioquímica ou elétrica do cérebro, ou decorrentes de fatores etiológicos desconhecidos: Transtornos afetivos Epilepsias sem causa conhecida Esquizofrenia Transtornos de Personalidade Indicações para Investigação Neuropsicológica c) Condições geradas ou associadas à desregulação bioquímica ou elétrica do cérebro, ou decorrentes de fatores etiológicos desconhecidos: Transtornos Afetivos Questões que podem suscitar a indicação: baixa resposta aos tratamentos diagnóstico diferencial depressão x demência inicial queixas cognitivas persistentes após melhora do humor monitorização do tratamento antever risco de estado confusional prolongado e delirium após ECT Indicações para Investigação Neuropsicológica c) Condições geradas ou associadas à desregulação bioquímica ou elétrica do cérebro, ou decorrentes de fatores etiológicos desconhecidos: Epilepsias sem causas conhecidas Questões que podem suscitar a indicação: diagnóstico diferencial (Landau-Kleffner x Afasia ou Psicose) Indicações para Investigação Neuropsicológica c) Condições geradas ou associadas à desregulação bioquímica ou elétrica do cérebro, ou decorrentes de fatores etiológicos desconhecidos: Esquizofrenia Questões que podem suscitar a indicação: delimitar síndromes neuropsicológicas e subtipos de Esquizofrenia delimitar forças e fraquezas cognitivas visando orientação monitorar efeito de drogas Indicações para Investigação Neuropsicológica c) Condições geradas ou associadas à desregulação bioquímica ou elétrica do cérebro, ou decorrentes de fatores etiológicos desconhecidos: Transtornos de Personalidade Questões que podem suscitar a indicação: diagnóstico diferencial escolha do tipo de tratamento Indicações para Investigação Neuropsicológica Plano Teórico • A avaliação neuropsicológica tem importante indicação na busca para adquirir dados empíricos que dêem suporte, desconfirmem ou eliciem uma formulação teórica sobre a forma e a organização das funções cognitivas e emocionais do cérebro: a memória e sua organização cerebral: caso H.M. e o papel do hipocampo o sistema límbico e as emoções o juízo, a crítica e a moral: o caso P.G. e o papel dos lobos frontais a assimetria das funções cognitivas e o cérebro dual: os “split brain” Indicações para Investigação Neuropsicológica Plano Teórico • Formulações teóricas provêem não só o enriquecimento do corpo científico sobre o funcionamento normal e patológico, mas também as bases para justificar o uso de agentes terapêuticos apropriados à cada patologia ou para uso de terapêutica idêntica em condições diferentes mas de sintomas semelhantes. Exemplo desta aplicação: convergência de dados implicando lobos frontais em depressão secundária após AVC (neuroimagem); em depressão idiopática (neuropsicologia e neuroimagem) justificando o uso de A.D. semelhantes em ambas as condições Indicações para Investigação Neuropsicológica Plano Teórico • O estudo quantitativo e controlado de grupos possibilita estabelecer regularidades que confirmam ou não as teorias e a excelência de métodos empregados para diagnóstico, previsões e tratamentos em várias populações. Exemplos desta aplicação: estudos de grupos em Epilepsia relacionando os aspectos específicos da memória a subregiões do hipocampo; estudos evolutivos mostrando as modificações específicas da memória e do planejamento das ações no correr da idade; estudos de processamento de informações visuais e de linguagem na Esquizofrenia. Indicações para Investigação Neuropsicológica • Em resumo: As indicações para avaliação neuropsicológica são amplas. Qualquer que seja o caso, ela fornece a lente através da qual a natureza dos processos cognitivos e afetivo-emocionais pode ser apreciada. Aprendendo mais sobre o funcionamento normal e patológico, poderemos diagnosticar, tratar e reabilitar pessoas, bem como estabelecer indícios que vão permitir modificar a ocorrência de desordens, impedir o desenvolvimento de danos maiores e orientar de forma mais útil e econômica, tanto a pesquisa como os indivíduos e familiares. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Objetivos: múltiplos, dependem da indicação • Indicação: determina o ponto de partida e a meta final • Propósito: pode haver mais que um, devendo-se ter clareza quanto as razões do exame. As questões nem sempre são formuladas adequadamente O conteúdo e a direção do exame devem ser decididos pelo examinador Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Auxílio diagnóstico • Estabelecimento do prognóstico • Orientação do tratamento medicamentoso cirúrgico psicoterápico • Auxílio para planejamento de reabilitação • Seleção de pacientes para técnicas especiais transplante drogas experimentais cirurgias eletivas • Pesquisa • Perícia Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Auxílio Diagnóstico: Neste caso o exame visa responder uma pergunta que tem a ver com a origem, a natureza ou a dinâmica da condição em estudo. As questões diagnósticas são: qual é o problemado paciente e como este se apresenta. Geralmente implicam diagnóstico diferencial. Ex: Retardo Mental x Distúrbio de Aprendizagem; Orgânico x Funcional A questão subsequente é quanto: implica uma medida que vai ser tomada a partir de um parâmetro. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Prognóstico: muitas vezes o diagnóstico está feito, mas deseja-se estabelecer o curso da evolução e o impacto que a desordem terá a longo prazo Isto tem a ver com: a própria patologia o lugar, tamanho e lado da lesão os efeitos à distância idade e educação suporte familiar e reabilitação etc. • Atenção quanto ao momento do exame, mas via de regra independente da causa, quanto mais rápida a instalação mais amplos e severos serão os déficits. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Prognóstico: em algumas situações as técnicas de neuroimagem não são adequadas para este nível de formulação. Pelo fato da avaliação neuropsicológica basear- se em funções mais do que em estruturas, permite identificar recursos remanescentes e potenciais. Isto dá mais subsídios para formulação do prognóstico. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Orientação para o tratamento: O exame neuropsicológico estabelece hierarquias nas disfunções, descreve a dinâmica das desordens e estabelece a relação entre o comportamento e o substrato cerebral. Delimitam-se assim as áreas cerebrais envolvidas. Esta delineação contribui para: a escolha e mudança de agentes terapêuticos averiguar a eficácia do tratamento monitorizar a evolução verificar alterações tóxicas Este mapeamento permite monitorar a Qualidade de Vida do paciente. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Orientação para o tratamento psicoterápico: O mapeamento dos recursos e fraquezas cognitivas/ emocionais, dos mecanismos adaptativos e das condições familiares permitirá a mobilização, a articulação e ampliação destes recursos e do suporte ambiental. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Orientação para Reabilitação: estabelece as forças e fraquezas cognitivas evidencia o núcleo principal de distúrbios e as alterações secundárias provê reforço nas funções prejudicadas aponta a função a ser substituída provê orientação para mudanças profissionais, acadêmicas e no ambiente familiar Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Orientação para o tratamento cirúrgico: Em Epilepsia: determina o hemisfério da linguagem prevê a evolução pós-cirúrgica Em Cardiologia: estabelece se as alterações sugerem doenças de pequenos vasos. Neste caso o médico pode optar entre técnicas cirúrgicas Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Seleção de pacientes para técnicas especiais: Alguns tipos de tratamentos requerem indicações precisas quanto aos sujeitos que se beneficiariam (Ex: cirurgia de Epilepsia e indicação para ECT). A análise fina de funções permite separar subgrupos de pacientes de uma mesma patologia, possibilitando triagem específica para as drogas pesquisadas. Evidências clínicas e de pesquisa mostram resposta diferencial à tratamentos quando a patologia de base implica sistemas ou hemisférios cerebrais diferentes. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Pesquisa: Testar hipóteses, aferir tratamentos, medir mudanças comportamentais se faz com instrumentos e metodologia que são do campo da Psicologia/ Neuropsicologia. O objetivo máximo quando se trata de pesquisa seria ampliar os modelos conhecidos da relação cérebro/ mente ou cérebro/ comportamento. Isto se torna possível quando se faz a integração do método psicopatológico/ neurológico com a metodologia neuropsicológica/ psicológica. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Perícia: O exame neuropsicológico encontra outra aplicação máxima em Perícia. Seu papel é investigar a matéria psicológica numa interface com a Medicina Legal e o Direito, separando-a da matérial Policial/ Legal e subsidiar os julgadores quanto ao campo psicológico. Objetivos da Avaliação Neuropsicológica • Estes são os principais campos de aplicação e objetivos da avaliação neuropsicológica, mas as possibilidades são múltiplas, na medida que esta fornece uma janela através da qual penetramos na intimidade da relação cérebro/ comportamento. AGRADECIMENTO Candida Helena Pires de Camargo Diretora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia 1994-2005 Fundadora da Unidade de Neuropsicologia IPq- HC-FMUSP 1972
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