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13 QUÍMICA analítica qualitativa cátions AULA 2 Profª LUCIANE DE GODOI CONVERSA INICIAL Nesta aula serão estudados os princípios básicos da análise sistemática para a separação dos cátions do Grupo I e do Grupo II Estudaremos sobre a Marcha Analítica, que é o roteiro experimental para este tipo de análise. E também será abordada uma breve introdução ao conceito de produto de solubilidade, que é o que determina a solubilidade ou não de uma espécie química. tema 1 – MARCHA ANALÍTICA As reações químicas que acontecem na análise qualitativa são efetuadas, geralmente, em solução aquosa de natureza invariavelmente iônica. Consequentemente, se uma substância como nitrato de prata é sujeita a uma análise qualitativa, os ensaios analíticos identificaram o cátion prata e o ânion nitrato, por exemplo. A sistemática da análise qualitativa experimental inclui procedimentos de laboratório necessários para a identificação de interesse e, portanto, várias técnicas são empregadas na análise qualitativa, nas quais a opção por uma técnica em detrimento de outra ou um método depende do tamanho da amostra a ser analisada. Com base no tamanho da amostra, sabe-se que a análise pode ser do tipo macro, micro ou semimicroanálise e em função desta variável e do estado físico da amostra, as análises podem ser feitas por via úmida (quando os reagentes são líquidos ou em solução) e por via seca (diretamente na chama). A identificação dos cátions (o mesmo ocorre com os ânions) segue uma sequência de reações chamada de marcha analítica, cujo objetivo é identificar a presença destes em amostras desconhecidas, conhecida como solução problema, solução mãe, etc. Como já se sabe, a química analítica qualitativa compreende as práticas de separação de cátions através de métodos clássicos e sistemáticos, ou seja, são usados apenas vidrarias comuns de laboratório, bico de Bunsen, tubos de ensaio, pipetas, etc. e o que diferencia esta análise das demais é que para cada cátion (ou ânion) é exibido um comportamento diferenciado, uma cor diferente, etc. E é por isso que muitos estudantes ao iniciarem o curso, se encantam por esta ciência, porque nela está o cerne da química analítica. 1.1 Um breve histórico da marcha analítica A marcha analítica foi inicialmente descrita por Fresenius para facilitar o estudo da química analítica e organizar a identificação dos cátions que por sua vez, foram divididos em cinco grupos, numerados em ordem e cada conjunto de cátions apresenta uma reação de precipitação comum entre eles, na presença de um reagente específico. Essa classificação foi proposta inicialmente pelo alemão K. R. Fresenius (1818-1897), sendo então considerado o pai da análise qualitativa. Ele publicou uma série de métodos que resultaram na base para a separação sistemática dos cátions e ânions usada até os dias atuais nos cursos de química. No Brasil, a seqüência de classificação dos cátions proposta por Fresenius foi adotada por Rheinbold com base na complexidade crescente das reações à medida que os grupos de cátions são estudados, iniciando-se pelos metais alcalinos e finalizando com o grupo da prata. Demais autores como Vogel, Moeller e O’Connor e Curtman adotaram a mesma classificação, porém, com uma sequência inversa, usada para identificar analisar uma amostra contendo os cátions de todos os grupos dissolvidos em uma única solução. tema 2 – Solubilidade Para compreender melhor a marcha analítica e a separação dos cátions é necessário primeiramente entender sobre o conceito solubilidade, que é o que permite a reação e a determinação de um determinado cátion em presença de outros na mesma solução. A solubilidade dos sais é uma maneira de classificação que nos apresenta a capacidade que as substâncias possuem de se dissolver ou não em água ou em outro solvente qualquer. Conhecer a constante de solubilidade dos sais é muito importante porque, quando eles se dissolvem em água, sofrem dissociação (liberação de cátions e ânions). Desta maneira, se um sal apresentar uma constante de solubilidade baixa, significa que ele é pouco solúvel em água. Logo, quanto maior for a constante de solubilidade, este sal terá uma boa solubilidade em água. A solubilidade de um sal pode ser afetada pela temperatura. Por exemplo, se a solubilidade de um sal hipotético for de 40 g em 100 ml de água a 20°C, se adicionarmos mais 10 g neste mesmo volume, pode acontecer a não solubilização deste sal. Porém, um aumento da temperatura poderá favorecer a dissolução deste sal. Basicamente, os sais inorgânicos são classificados quanto a sua solubilidade em água em SOLÚVEIS e INSOLÚVEIS. · Sais solúveis: possuem uma boa capacidade de se dissolver em água e formar soluções homogêneas; · Sais insolúveis: não possuem uma boa solubilidade em água e por esta razão formam soluções heterogêneas. A solubilidade dos sais inorgânicos obedece a alguns critérios, os quais foram determinados experimentalmente, de acordo com o quadro a seguir. Ânions Cátions Solubilidade em água (20°C Nitratos (NO3-1) Todos Solúvel Nitritos (NO2-1) Todos Solúvel Acetatos (H3C2O2-1) Ag+, Hg2+2 Insolúvel Halogenetos (F-1,Cl-1, Br-1, I-1) Cu+, Ag+, Pb+2, Hg+2 Insolúvel Sulfatos (SO4-2) IIA (com exceção do Mg) Ag+, Pb+2, Hg2+2 Insolúvel Sulfetos (S-2) NH4+ ou metal dos grupos IA e IIA Solúvel Carbonatos (CO3-2) NH4+ ou metais do grupo IA Solúvel Fosfatos (PO4-3) NH4+ ou metais do grupo IA Solúvel Demais ânions NH4+ ou metais do grupo IA Solúvel 2.1 Solubilidade X produto de solubilidade A solubilidade é a quantidade de soluto dissolvida em determinado volume de solução e o produto de solubilidade (KPS) é uma constante de equilíbrio que está diretamente relacionada com a solubilidade. A solubilidade (S) muitas vezes é chamada de constante de solubilidade (CS). Assim, o produto de solubilidade (KPS) pode nos ajudar a encontrar a constante de solubilidade do sal de interesse. A solubilidade, assim como a formação dos precipitados é dependente da constante do produto de solubilidade (KPS). Quanto menores os valores de KPS, menor a solubilidade das substâncias. TEMA 3 – GRUPO I O grupo I é constituído pelos cátions Ag+, Hg22+, Pb2+ que reage com ácido clorídrico diluído e formam sais de cloreto (precipitados insolúveis), onde as reações ocorrem conforme a sequência apresentada a seguir. 3.1 Marcha Analítica – Grupo I · Preparar uma amostra que contenha de 10 a 20 gotas de cada uma das seguintes soluções: Nitrato de Prata 0,1 Mol.L-1, Nitrato de Chumbo 0,1 Mol.L-1 e (Nitrato de Mercúrio 0,1 Mol.L-1), esta solução recebe o nome de “solução problema”; · A esta amostra preparada, adicionar HCl 3 Mol.L-1 até que haja a precipitação total, esperar o precipitado decantar totalmente por agitação ou centrifugação; · No precipitado que formou irá conter: AgCl , PbCl2 , (Hg2Cl2); · O sobrenadante (o líquido formado sobre o precipitado) será utilizado para identificar cátions dos grupos II e IV, o qual será descartado por hora; · Transferir o precipitado decantado para um copo de béquer, lavando com água destilada e ferver; · Filtrar a quente, o filtrado irá conter o Pb2+, no qual terá que ser adicionado algumas gotas de K2CrO4 0,05 Mol.L-1, haverá a predominância da cor amarela de cromato de chumbo, confirmando a presença do Pb2+ · Para testar se ainda há a presença de Pb+2, lavar o precipitado com água destilada a quente; · Tratar o ppdo no papel de filtro com NH4OH e recolher o filtrado em um tubo de ensaio. · Resíduo: a formação da cor negra no papel, indica a presença do cátion Hg2 2+ · Filtrado: acidificar com HNO3, a formação de um ppdo branco de AgCl indica a presença de Ag+. 3.2 Fluxograma Fonte: Manual de Química Analítica Qualitativa UFRN 1. Reações dos cátions do grupo I com solução de HCl 3Mol.L-1 (reagente do grupo) a) b) c) Hg2+2 + 2Cl- → Hg2Cl2(s) 2. Reações dos cátions do grupo I com solução de Hidróxido de Amônio a) · Com excesso de NH4OH: b) 3. Reações dos cátions do grupo I com solução de Hidróxidode Sódio a) · Testar a solubilidade em NH4OH b) · Excesso de NH4OH: · Adicionar H2O2: 3.3 Identificação da prata Interferentes: Chumbo (para o teste com KI) A solução que venha a conter prata pode ser tratada com ácido nítrico 1M, assim o complexo é desfeito e o cloreto, que era o contra-íon do complexo, precipita a prata como AgCl, de aspecto leitoso que escurece à exposição com a luz. [Ag(NH3)2]+ + Cl- + HNO3 → 2NH4+ + 2NO3- + AgCl(s) branco 3.4 Identificação do Chumbo Interferente: Prata (para o teste com o KI) Ao adicionar solução de cromato de potássio, com presença de chumbo haverá a precipitação do cromato de chumbo, de coloração amarela. Pb+2 + CrO4-2 → PbCrO4 (s) amarelo A adição da solução de KI gera a precipitação do respectivo iodeto, de coloração amarela. 3.5 Identificação do mercúrio Interferente: Prata A precipitação de sólido negro, quando da adição de solução diluída de amônio após a remoção do chumbo, já confirma a presença de mercúrio. Entretanto, é possível obter um resultado ainda mais conclusivo ao tratar o cloreto de amido mercúrio com água régia, obtendo o cloreto de mercúrio (II). Posterior adição de solução de estanho (II) provoca a redução a mercúrio metálico, que pode ser observado como um sólido preto ou gotículas prateadas de mercúrio, a depender da quantidade presente. Hg(NH2)Cl2.Hg0 → HgCl2 (em presença de água régia) 2HgCl2 + Sn+2 → Hg2Cl2 + Sn+4 + 2Cl- HgCl2 + Sn+2 → 2Hg0(s) + Sn+4 + 2Cl- tema 4 – Grupo II A Os cátions do grupo II são tradicionalmente divididos em dois subgrupos (II-A e II-B): o subgrupo do cobre (Seção do cobre) e o do arsênio (Seção do arsênio). Esta divisão tem como base a solubilidade dos precipitados de sulfetos em solução de hidróxido de sódio. Ao passo que os sulfetos do subgrupo do cobre são insolúveis nesse reagente, os do subgrupo do arsênio dissolvem-se com formação de tiossais. O reagente do grupo é a tiocetamida, que por meio de sua hidrólise fornece H2S em solução formando os precipitados: HgS (preto), PbS (preto), CuS (preto), CdS (amarelo) e Bi2S3 (marrom). Os cátions do grupo II A formam sulfetos insolúveis em polissulfeto de amônio e KOH. Os cátions do grupo II formam sulfetos pouco solúveis na forma de precipitados quando a solução moderadamente ácida é saturada com H2S. Em razão da pouca solubilidade do sulfeto de chumbo, o íon Pb II participa dos grupos I e II. Portanto, durante a análise sistemática, os íons chumbo ainda estarão presentes quando se fizer a precipitação do Grupo II. Outros elementos cujos sulfetos são insolúveis em solução ácida, são o molibdênio, o ouro e outros metais nobres. Fazem parte deste grupo os cátions Hg (II), Pb(II), Cu(II), Bi(III) e Cd(II). Os Nitratos, cloretos e sulfatos destes cátions são bastante solúveis em água; Os sulfetos, hidróxidos e carbonatos são insolúveis. Alguns cátions como o Hg(II), Cu(II) e Cd(II) tendem a formar complexos com a amônia, o cianeto e outros. Os sais de Bismuto hidrolisam-se rapidamente, de acordo com a reação a seguir: O íon bismutila (BiO+) forma sais insolúveis com a maioria dos íons, portanto, para manter o bismuto em solução, a mesma deve estar ácida, quando o equilíbrio acima é deslocado para a esquerda. Em soluções aquosas, o íon cobre (II) está sempre presente como o aquocomplexo [Cu(H2O)4]+2, o que confere às suas soluções a cor azul característica. 4.1 Marcha Analítica – Grupo II A O fluxograma do procedimento analítico do grupo II A – sessão do Cobre, pode ser visualizado conforme abaixo. Fonte: Manual de Química Analítica Qualitativa UFRN TEMA 5 – Grupo II B Os cátions deste grupo formam sulfetos solúveis em polissulfeto de amônio e KOH. Fazem parte deste grupo os cátions As(III), As(V), Sb(III), Sb(V), Sn(II) e Sn(IV). Estes íons apresentam caráter anfótero, ou seja, seus óxidos formam sais ácidos e básicos. Desta forma, o óxido de arsênio (III) pode ser dissolvido em ácido clorídrico formando os cátions As+3, conforme a reação: Ao mesmo tempo, o óxido de arsênio (III) dissolve-se em hidróxido de sódio formando ânions arsenito, de acordo com a reação: O Arsênio (V) está presente em solução predominantemente como íon arseniato AsO4-3. Os compostos de Sb(III) são facilmente dissolvidos em ácido, quando os íons Sb+3 formados são estáveis, se a solução for alcalinizada ou a concentração de íons H+ diminuir por diluição, ocorrerá a hidrólise[footnoteRef:1], formando os íons antimonila (SbO+), conforme mostra a reação: [1: Hidrólise: reação de decomposição ou alteração de uma substância pela água (p.ex., de um cátion com água para formar uma base fraca e de uma base para formar um ácido fraco).] Os compostos de antimônio (V) contêm o íon antimoniato (SbO4-3). Os compostos de estanho (II) são dissolvidos em ácido dando origem aos íons Sn+2, ao passo que em solução alcalina se encontram os íons tetrahidroxiestanato (IV) [Sn(OH)4]2- os quais são facilmente reversíveis. Os íons estanho (IV) estão presentes em solução aquosa como íons Sn+4, ou como íons hexahidroxiestanato (IV), ou estanato [Sn(OH)6]+2, novamente se forma um sistema em equilíbrio: 5.2 Marcha Analítica – Grupo II B O fluxograma da marcha analítica do grupo II B sessão do Arsênio compreende todas as etapas de acordo como mostrado abaixo. Fonte: Manual de Química Analítica Qualitativa UFRN na prática A tabela abaixo mostra uma síntese das principais reações envolvendo cátions de todos os grupos com seus respectivos reagentes de grupo. finalizando Nesta aula estudamos as principais características dos grupos I e II, sendo que este último foi subdividido em dois grupos com base na solubilidade no hidróxido de sódio, sendo estes subgrupos identificados como seção do Cobre e seção do Arsênio. Foram apresentadas as reações de caracterização dos cátions do grupo I e, em razão das reações dos grupos II A e II B serem extensas, optamos por apresentar algumas particularidades a respeito dos cátions destes grupos. Ainda nesta aula, estudamos os conceitos básicos de solubilidade e como os cátions de todos os grupos se comportam em relação à solubilidade em água. O conceito de produto de solubilidade foi brevemente estudado nesta aula, pois dele, depende a solubilidade dos sais. Entretanto, este conceito será aprofundado em oportunidades futuras, nas disciplinas de química analítica quantitativa e físico-química. REFERÊNCIAS OLIVEIRA, I.M. DE, et.al. Análise qualitativa, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. FADIGAS, J. Química Analítica Qualitativa, CETEB, Camaçari. Disponível em: http://www.gluon.com.br/quali/apostila_de_quimica_analitica_qualitativa_i.pdf, acessado em 19/02/2020. UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Manual de Química Analítica Qualitativa, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Natal-RN. Disponível em: http://www.quimica.ufrn.br/quimica/download/MANUAL_LABORATORIO_QUIMICA_ANALITICA_QUALITATIVA.pdf acessado em 19/02/2020. GRACETTO, A.C.; HIOKA, N.; FILHO, O.S. Combustão, Chamas e testes de chama para cátions: proposta de experimento, QNESC, n°23, 2003. ABREU, D.G.de; et.al., Uma proposta para o ensino da química analítica qualitative, Quim.Nona, vol. 29, N°6, 1381-1386, 2006. FERNANDES, J.C.B; KUBOTA, L.T., Eletrodos íon-seletivos: Histórico, mecanismo de resposta, seletividade e revisão dos conceitos, Quím. Nova, Vol. 24, N° 1, 120-130, 2001. VOGEL, A.I. Química Analítica Qualitativa. Tradução Antônio Gimero, 5ª edição revisada (português). São Paulo, ed. Mestre Jou, 1981, 665p.
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