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PIRÂMIDE DE FRANK BIRD Ester Tavares Linhares Ricardo Barbosa Hanemann Considerações iniciais Estatisticamente, existe uma distribuição natural dos acidentes de acordo com sua gravidade e o impacto geral na organização (danos físicos e materiais). O processo pelo qual ocorre uma perda por acidente se dá por uma sequência de causas e efeitos que levam a danos aos recursos humanos e materiais ou à descontinuidade operacional. Tal processo é composto por três fases: condição potencial de perdas, acidente e perda real ou potencial. A condição potencial de perdas é determinada condição ou grupo de condições que podem causar a perda. A perda real ou potencial é a consequência do acidente e pode ocorrer como lesão ou morte de pessoas, danos a materiais, equipamentos, instalações ou edificações ou descontinuidade do processo e a perda potencial é aquela que, em circunstâncias um pouco diferentes, poderia ter sido transformada em perda real. Esses acontecimentos estão conectados e podem ser comparados com o efeito dominó, para melhor compreensão. O efeito dominó se inicia pela falta de controle, que é uma falha administrativa e que está diretamente ligada a outros fatores como planejamento, organização e até à falta de padrões de controle. Quem foi Frank E. Bird Jr. ? Frank Bird nasceu em 19 de Dezembro de 1921, em Nova Jersey, EUA. Recebeu seu certificado de Bacharel em Ciências do Albright College in Reading, Pennsylvania, em 1949. No início dos anos 30, o engenheiro norte-americano Herbert William Heinrich divulgou em sua obra “Industrial Accident Prevention: A Scientific Approach” (1931), uma teoria que dizia que o acidente e a lesão são causados por alguma situação anterior e que todo acidente é causado, ou seja, nunca acontece por acaso. Os principais fatores na causa dos acidentes são, segundo Heinrich, os atos inseguros, cometidos pelo homem, e as condições inseguras, que comprometem a segurança do trabalhador. O estudo de Heinrich mostrou que para cada 300 acidentes com lesão, ocorrem 29 com lesão leve e 1 com lesão incapacitante. Sua obra A partir dessa teoria, o também engenheiro Frank Bird Jr. aprimorou a relação de Heinrich, analisando mais de 90 mil acidentes na siderúrgica Luckens Steel, no intervalo entre 1959 e 1966. A proporção desenvolvida por Bird em seu estudo era de 500:100:1, ou seja, para cada 500 acidentes com danos à propriedade ocorrem 100 acidentes com lesão leve e 1 com lesão incapacitante. Ao contrário de Heinrich, Bird levou em conta também os acidentes envolvendo perdas de patrimônio e meio ambiente. Não se preocupou apenas com acidentes envolvendo pessoas. Controle de perdas Em 1969 ele atuava como diretor de engenharia de uma grande empresa de seguro. Nessa época ele publicou a obra Damage Control (Controle de Dano). Bird observou que além dos acidentes com lesões pessoais da teoria de Heinrich, ocorriam também acidentes sem lesão, mas que causavam perdas e danos à propriedade ou à empresa. Esse estudo de Bird foi denominado “Controle de Perdas”. Em sua nova obra, ele coletou os dados de 1.753.498 mil acidentes de 297 empresas, de 21 tipos de ramos diferentes, com dados de cerca de 3 bilhões de Horas Homens de exposição ao risco. Ele considerou na obra 4 aspectos importantes para o controle de perdas e danos: informação, investigação análise e revisão do processo. Ele relacionou os acidentes nessas empresas, classificados de acordo com o nível de severidade, bem como sua frequência de ocorrência, chegando aos números de sua pirâmide. Dessa forma, Bird concebeu a tese de que a ocorrência de um acidente sério é, necessariamente, precedido de dez acidentes menores que, por sua vez, foram precedidos de trinta acidentes com perda de propriedade de qualquer tipo, os quais foram precedidos de seiscentos quase – acidentes, causados por condições inseguras e/ou comportamentos indesejáveis. A pirâmide de Bird então afirma que para eliminar os acidentes mais graves devem evitar acidentes menores. A proporção dessa nova Pirâmide de Bird ficou assim: 1-10- 30-600. Ou seja, para cada 1 lesão séria haveria 10 lesões menores e 300 acidentes sem lesões, mas com perdas patrimoniais (danos a propriedade), 600 incidentes ou quase acidentes. O último nível é constituído por condições inseguras, cuja quantidade não é fácil de determinar, uma vez que não há um parâmetro geral para a criação ou ocorrência delas e para que um incidente ou acidente seja gerado pode haver um ou vários atos e condições inseguro. Importância da teoria de Bird O mais importante da Pirâmide de Bird não são os números, mas seus ensinamentos. Isso porque a investigação envolveu uma quantidade limitada de profissionais, além de ter sido realizada há 50 anos. De lá para cá, muita coisa mudou. O mais útil desse preceito é que ele trouxe esta noção: os programas de sobreaviso para eventos mais suaves devem receber cuidados em dobro, porque eles ocorrem em maior volume. Evidentemente, isso nem de longe significa abrir mão das precauções com os perigos mais graves. As empresas devem ter uma política muito rigorosa contra fatos aparentemente irrelevantes, pois eles são também os mais corriqueiros. Além disso, os imprevistos de baixa consequência, por serem tão rotineiros, abrem espaço para que um dia haja algo mais preocupante como um acidente. Pensamento além da ideologia Como a Pirâmide de Bird é uma filosofia ultrapassada — não no sentido pejorativo, mas na questão de ser antiga —, são necessárias sabedoria, malícia e experiência para que os gestores consigam extrair dela os benefícios palpáveis e pertinentes ao mundo atual. Por isso, é preciso aliar os conceitos desses princípios com as linhas mais modernas de segurança do trabalho. Abaixo, relacionamos itens que não estão na tese de Bird, mas que podem ajudar em suas políticas de prevenção. Acompanhe: DESVIOS: fatos que acontecem de forma diferente da média padrão de acontecimentos e com potencial de risco; PERIGO: condição em que o funcionário é exposto a danos ou ferimentos, como o trabalho em alturas elevadas, com eletricidade ou com materiais excessivamente pesados; PROBABILIDADE: chance de um perigo culminar em sequelas nocivas; GRAVIDADE: nível das implicações, como morte, queimaduras, fraturas etc; EXPOSIÇÃO: tempo médio em que o trabalhador fica sujeito a situações de perigo; RISCO: é a possibilidade de um perigo gerar malefícios levando em consideração todos os fatores já mencionados. Adaptação da ideia à realidade das empresas Outra noção muito importante a respeito da Pirâmide de Bird é que cada empresa tem de construir a sua própria pirâmide. Isso porque o grau de periculosidade está intimamente ligado ao tipo de atividade desempenhada. Assim, a equivalência de Bird não se repete sistematicamente em todas as companhias. Desse modo, uma corporação que produz cadernos escolares tem bem menos chances de passar por uma situação crítica do que uma usina nuclear, por exemplo. Independentemente do porte e do ramo, entretanto, será preciso criar uma cultura de prudência e bom senso nas pessoas. Também será necessário estabelecer parâmetros de tolerância aos riscos. Teoria de Bird e segurança do profissional O aspecto mais benéfico da Teoria de Bird para a segurança profissional é o preparo dos colaboradores para situações de acidente. Isso porque a ferramenta permite que a empresa como um todo esteja preparada para prevenir qualquer situação acidental e tomar as medidas cabíveis para amenizar os efeitos que um acidente pode causar. Outro detalhe é o de previsão: o profissional vai conseguir notar com mais clareza quando um acidente poderá ocorrer, seja lá de qual maneira aconteça. Por isso, a Teoria de Bird auxilia a organização a montar um plano de estratégias tanto para prever algo de errado ou se preparar para alguma ação nociva frente aos trabalhadores. Possibilitando um maior fluxo de comunicação entre todos os colaboradores,o modelo da pirâmide exposto na Teoria de Bird também garante melhorias no Programa de Gerenciamento de Riscos e ajuda os profissionais de segurança do trabalho a desempenhar melhor seu papel e ampliar a gama de possibilidades de atuação. Conclusão A Pirâmide de Bird, portanto, é um excelente instrumento de aprendizagem para as observações científicas das relações entre os acidentes nos ambientes profissionais e suas causas. Com a adoção dessa estratégia, aquelas ocorrências aparentemente bobas e sem muitas consequências nunca mais ficarão de lado.
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