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Entrelaçando Revista Eletrônica de Culturas e Educação N. 6 • V.2 • p. 13-28 • Ano III (2012) • Set.-Dez. • ISSN 2179.8443 Caderno Temático V Educação, Escolas e Movimentos Sociais do/no Campo A PROPOSTA EDUCACIONAL DO MST E A CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 1 Alessandra Almeida e Silva.2 David Romão Teixeira3 RESUMO A pesquisa sobre a proposta educacional do MST apontou que em meio às contradições da atualidade a Pedagogia do MST deixa clara a sua vinculação a um novo projeto de sociedade, e que essa proposta de educação está sendo construída no seio da luta de classes com a participação de homens, mulheres, crianças, jovens trabalhadores e trabalhadoras do campo, sujeitos construtores da própria história e que estão construindo uma nova página na luta de classes do Brasil. Já as políticas públicas para educação do campo, puderam ser analisadas de dois pontos de vista diferentes: o dos Movimentos sociais, que vê nessas conquistas estratégia para garantir inicialmente acesso à educação, mas fundamentalmente para a Universalização de uma educação de classe na perspectiva da emancipação humana. Palavras- chave: Educação do MST. Educação do Campo. Reforma Agrária. ABSTRACT Research on the educational proposal MST pointed out that amid the contradictions of modern pedagogy MST makes clear its connection to a new project of society, and that this education proposal is being built within the class struggle involving men, women, children, young workers and workers in the field, subject of the story itself and builders who are building a new page in the class struggle in Brazil. Since public policies for rural education, could be analyzed from two different points of view: that of social movements, who sees these achievements strategy to ensure access to education initially, but fundamentally for Universal one class education from the perspective of emancipation human. Keywords: MST Education. Rural Education. Agrarian Reform. 1 O texto é parte da Monografia da autora (SILVA, 2012) para a conclusão do curso Especialização em Educação do Campo, UFRB/CFP - 2012 2 Graduada em Pedagogia da Terra – UNEB/PRONERA. Especialista em Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial do Semiárido Brasileiro CFP/UFRB. 3 David Romão Teixeira Professor Assistente Centro de Formação de Professores Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 14 O MST E A LUTA PELA EDUCAÇÃO A preocupação com a educação no Movimento Sem Terra está presente desde a origem do próprio MST, desde as primeiras ocupações já se lutava por escolas para os filhos e filhas das famílias acampadas. A princípio a discussão se concentrava em garantir escola para as crianças, mas, a partir do próprio desenvolvimento do MST, das relações criadas pela condição real das famílias, oriundas das lutas, dos enfrentamentos, dos violentos despejos, da perseguição por pistoleiros, polícia etc., garantir escola não só se tornou um desafio como definir que tipo de educação teria as crianças sem terra se tornou centro dos debates, isso porque as contradições vividas por essas famílias se refletiam na escola (e não podia ser diferente), os professores que ali estavam em grande parte não eram oriundos da luta e isso contribuía muito para que os mesmos tratassem as ações dos e das sem terra como ato de vandalismo. Por conta disso, o movimento identificou a necessidade de formar educadores e educadoras da Reforma Agrária, que compreendessem e fizessem parte da luta, foi então que deu início aos cursos de formação de educadores e educadoras do MST, com cursos de Magistério, Pedagogia, Letras, tendo os Encontros de Educadores e Educadoras como passos decisivos para iniciar a construção da Proposta Educativa do MST. É notório já nos primeiros registros sobre a luta pela educação no MST o desejo de ter uma escola diferente Uma das primeiras discussões do MST acerca da Escola foi que tipo de escola era necessário para as crianças acampadas e assentadas. De uma coisa já se tinha ciência: o modelo educacional hegemônico não atendia aos propósitos de educação do movimento muito menos à proposta de sociedade que defendia e defende. “Como a educação e a formação estão sempre em relação com a sociedade e/ou o projeto de sociedade em que se inserem, para o MST, educar é fundamentalmente formar para transformar a sociedade”. (DALMAGRO, 2011, p. 45). Num primeiro momento a preocupação entre o grupo que discute a educação, é não destoar o processo educativo da luta, para esse grupo, o objetivo da escola é “ser um instrumento de continuidade da luta através das crianças” (MST, 2005). O movimento então se empenhou em construir uma proposta de educação própria, com elementos que contrapõe os objetivos da atual escola, que visa “fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema capitalista”. (SÁDER, 2005). As escolas se configuram enquanto espaço de poder, por isso é espaço de disputa, ocupar esse espaço, tem sido um dos objetivos do movimento em geral que considera a escola e a educação A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 15 instrumentos importantes na luta pela transformação social. A formação da consciência se dá na prática, nas lutas, mas a escola também tem o papel de trabalhar a consciência de classe, da classe trabalhadora. É nesse sentido que Mészáros (2005, p. 61) destaca que o papel da educação é de importância vital para romper com a internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à ‘legitimação constitucional democrática’ do Estado capitalista que defende seus próprios interesses. É preciso, no entanto, fazer um esforço para compreender o que leva um Movimento de Luta pela Terra ter a educação em sua pauta de luta e de organicidade, e nessa mesma lógica compreender o porquê do MST defender outro modelo de escola e de Educação como alerta Dalmagro Não é possível entender a escola no MST sem entender o próprio MST, ou seja, a natureza, os objetivos, a historia desse movimento social. O MST não se faz etéreo no tempo e no espaço, ele próprio é determinado/possibilitado pela materialidade de nossa época. A escola igualmente é uma construção histórica. Nosso objetivo é refletir acerca de qual escola tem sido necessária à luta dos Sem Terra e, nesta medida [...] identificar se e como o MST tem apontado a construção de uma escola superior à atual. (DALMAGRO, 2011, p.45) A educação é na visão do um instrumento indispensável nesse processo de luta, com tarefas específicas, como destaca o Coletivo Nacional de Educação A organização de que fazemos parte está cada vez maior e mais complexa. A luta dos trabalhadores cresce em necessidade e força [...]. A educação precisa assumir as tarefas que lhe cabem neste processo de fortalecimento da nossa organicidade, de clareza do projeto político dos trabalhadores e de construção prática e cotidiana da sociedade da justiça social e da dignidade humana [...] (MST, 2005, p.159-160). Dessa forma, a educação proposta pelo Movimento está ligada a um projeto político e uma visão de mundo que tem como objetivo romper com a atual lógica da sociedade capitalista podemos constatar essa afirmativa com o que diz os princípios filosóficos da educação do MST, onde a educação éconsiderada “uma das dimensões da formação, entendida tanto no sentido amplo da formação humana, como no sentido mais restrita de formação de quadros”, essa educação tem a transformação social como horizonte “um processo pedagógico que se assume como político”, uma educação de classe que “não esconde o seu compromisso em desenvolver a consciência revolucionária tanto nos educandos como nos educadores (MST, 2005). Um elemento constitui-se como um grande dilema e um entrave nessa tentativa de construir e implementar uma proposta diferente de educação: as escolas reivindicadas pelo MST e A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 16 conquistadas são controladas pelo Estado, estas possuem um currículo e proposta pedagógica pensada sob a lógica da atual sociedade, como reflete Freitas, No caso do MST, o problema reaparece com a agravante de que a educação fundamental está, em sua maior parte, na dependência do ensino regular de caráter capitalista – disputado em alguns lugares-, mas sob controle do Estado. [...] o MST tem que ter uma estratégia formativa mais ampla [...] para garantir que seu conceito de formação não se restrinja ao conceito de educação centrado exclusivamente na escola capitalista [...]. (FREITAS, 2011, p.118-126) Ao se colocar numa posição contrária a organização da sociedade capitalista, lutando pelo acesso a terra, denunciando por meio de suas mobilizações o caráter destrutivo da sociedade capitalista, tendo como horizonte a Reforma Agrária, e a transformação social, o MST tem acumulado experiências formativas e educativas de grande valor, e é para essa dimensão formativa que o Movimento precisa se atentar e usar a seu favor, como apontou Freitas, “onde houver possibilidade de a escola integrar esta cadeia formativa construída pelo Movimento, certamente poder-se-á ir mais longe”, (FREITAS, 2011, p.127). Relacionar a experiência de luta e organização proporcionada pelas ações do movimento se tornou uma prática e vem fazendo com que os e as militantes reconheçam no próprio movimento um caráter formativo e educativo. As mobilizações, os enfrentamentos, são elementos que contribuem para o avanço da consciência, para uma compreensão mais avançada da realidade e principalmente desperta o desejo de mudança, esses elementos são fundamentais no processo de formação da classe trabalhadora. Foi com base nessas inquietações e na tentativa de construir algo novo que o MST por meio do Setor de Educação elaborou produções coletivas surgidas das experiências de educação nas áreas de assentamento e acampamento, e ainda tendo como orientação as experiências já acumuladas de grupos ou de pessoas4 que no processo de construção de uma nova sociedade tinham com objetivo romper com o modo tradicional de educação e construir uma proposta educativa com valores humanistas, tendo a coletividade e a auto-organização como bases, e ainda resgatando a centralidade do trabalho no processo formativo5. Trata-se se cartilhas, boletins, revistas, que trazem a proposta de educação do MST, com reflexões teóricas e metodológicas, relatos de experiências etc. A proposta educativa do Movimento Sem Terra, segundo Araújo (2007) “não se encerra na escola”, se pauta em princípios filosóficos da educação, que demonstram que essa proposta tem 4 Dentre as influencias mais diretas destaca-se o Educador Paulo Freire, com seu método de Educação Popular 5 Dentre as experiências destaca-se a experiência Russa na revolução de 1917, em especial as escolas Comuna (PISTRAK) e ainda as experiências do Educador Anton Makarenko. A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 17 como finalidade construir algo novo. Isso pôde ser observado nas produções (cadernos, boletins) da Educação do MST, que em sua elaboração destaca a importância da relação da produção do saber com a produção da vida. De acordo com Araujo (2007) essas produções começaram a ser sistematizadas no início dos anos 90, elaborando a fundamentação teórico-coletiva da proposta político-pedagógica para as escolas de ensino fundamental. Ao apropriarmos dos primeiros textos sobre a educação elaborados pelo MST, o que podemos observar é que já existe desde aí a preocupação com a relação entre a educação com o processo produtivo, nesse texto, o Coletivo diz que a base da escola alternativa para os Assentamentos está na relação entre a escola e a produção, e essa preocupação não foi algo que veio de fora, foi fruto da participação dos pais, da comunidade, nas discussões sobre a educação. A ligação da escola com as discussões sobre a produção no assentamento impulsionaram o debate sobre a importância do trabalho na formação das crianças sem terra, e mais que isso, o trabalho que se discutia era o trabalho coletivo, por meio das cooperativas agrícolas que estavam sendo implementadas nos assentamentos, fruto do debate do MST sobre a Cooperação Agrícola. A proposta de escola que se pretendia construir nessa época é segundo Caldart (1990) “uma autêntica revolução educacional”, pois segundo a autora já de início propõe uma educação diferente, e o que é mais importante, constrói uma escola com vínculo orgânico com o Movimento e com o campo, algo inédito na educação brasileira. A autora acrescenta ainda que se trata da revisão das formas tradicionais de fazer, de pensar e de dizer a educação do povo , “demonstrando na prática quem pode e deve ser o sujeito das mudanças fundamentais para a nossa educação” (CALDART, 1990). Mas que escola diferente é essa? Segundo o Coletivo Nacional de Educação6 do MST, a diferença está nos objetivos da escola, que não podiam estar separados ou distantes da realidade do assentamento, ajudando no avanço da luta. “A escola deve ser essencialmente prática, fornecendo conhecimentos capazes de influenciar no trabalho e na organização da nova vida” (MST, 2005, p. 18). Espaço de debates e deliberações acerca dos rumos e das estratégias da luta, o 6º Encontro Nacional do MST, ocorrido em Piracicaba, SP no ano de 1991 aprovou as linhas políticas e as orientações para a educação nas escolas do MST. As linhas políticas afirmavam entre outras questões que era preciso desenvolver uma educação com base na realidade, nas experiências acumuladas, e preparar crítica e criativamente para a participação nos processos de mudanças da 6 O Coletivo Nacional de Educação do MST é formado por representantes (militantes) do movimento dos Estados nos quais o MST está organizado. A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 18 sociedade, de forma coletiva, construir conhecimentos científicos mínimos para o avanço da produção, ampliando e fortalecendo a relação entre escola e assentamento. A contribuição dos pedagogos socialistas (Krupskaia, Pistrak, Makarenko), das perspectivas de construção de uma nova sociedade, e também da educação nos fundamentos socialistas e humanistas: o coletivismo, o trabalho coletivo, o trabalho socialmente útil, o trabalho como princípio educativo, a solidariedade, a organização e a auto-organização dos estudantes, a relação teoria e prática, são presentesna pedagogia do MST. Dalmagro (2011) reconhece também essa relação da pedagogia do MST com as teorias marxistas e socialistas, quando observa que “os documentos do setor de educação do MST aproximam-se da concepção marxista do trabalho, entendo-o como fundante da educação e em sua dimensão contraditória na sociedade capitalista”. A autora chama atenção para a luta do MST que está para além da conquista da terra, e a centralidade que a educação tem nesse processo de luta enquanto instrumento de formação e transformação da consciência, tendo o trabalho como elemento formador. De fato o trabalho possui caráter formativo se compreendido enquanto fundante do ser social, no entanto não podemos perder de vista que o trabalho hoje assume a forma predominante de trabalho assalariado , que sob o capitalismo, aliena, oprime, explora. Sob a lógica do capital, o trabalho foi e está sendo organizado numa forma que degrada o ser humano, numa lógica destrutiva. Na explicação de Marx: “antes de tudo, o trabalho é um processo de que participa o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza” (MARX, 1982 in ANTUNES, 2005 p.202). Essa dimensão humanizadora do trabalho não é encontrada na forma de trabalho imposta pela sociedade capitalista onde a divisão social do trabalho configura-se por dois grupos antagônicos: os detentores dos meios de produção e os expropriados desses mesmos meios, a quem resta vender a sua força de trabalho. Ainda nas palavras de Marx o trabalho sob a lógica do capital é descrito como algo que deprecia a vida humana, que a destrói. A própria vida aparece apenas, reducionistamente, como meio de existência. O trabalho, criador da vida, aparece como negação da vida... Há [...] uma clara dissociação entre o trabalho e a vida do trabalhador, sendo, aquele, não mais vida, mas meio de vida. Assim, aquilo que seria a totalidade genérica se converte em parte dilacerante e degradante, pois, na medida em que o “trabalho alienado subtrai ao homem o objeto de sua produção, furta-lhe igualmente a sua vida genérica, a sua objetividade real como ser genérico, e transforma em desvantagem a sua vantagem sobre o animal, porquanto lhe é arrebatada a natureza, o seu corpo orgânico” (MARX, 1989, p. 165). A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 19 Nesse contexto a sociedade capitalista e sua luta constante de se manter na hegemonia vêm historicamente se valendo de vários mecanismos de controle da sociedade, dentre eles está a educação que vem desenvolvendo duas funções simultaneamente: “fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquina produtiva do capital e gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes” (MÉSZÁROS, 2005,p. 35,grifo do autor). Num processo de internalização dos valores da sociedade capitalista, como o individualismo, a competitividade, inculcando nos trabalhadores naturalidade dos fatos, num processo de conformação com a miséria, com a violência, com o desemprego, enquanto uma minoria se beneficia, uma grande massa definha. É nesse sentido que Mészáros (2005) aponta a educação como fundamental para contribuir para o processo de emancipação, Mészáros chama a atenção também para a necessidade de conquista da emancipação humana, se faz imprescindível universalizar o trabalho e a educação, o referido autor afirma que “não pode haver uma solução efetiva para auto-alienação do trabalho sem que se promova, conscienciosamente, a universalização do trabalho e da educação” (MÉSZÁROS, 2005, p. 67). Além disso, o autor deixa claro a urgência de “lançar-se pelo caminho que nos conduz a uma ordem social qualitativamente diferente” (Idem, p.76). Esta urgência se caracteriza pelo momento histórico que estamos, nas palavras do autor, A nossa época de crise estrutural global do capital é também uma época histórica de transição de uma ordem social existente para outra, qualitativamente diferente. Essas são as duas características fundamentais que definem o espaço histórico e social dentro do qual os grandes desafios para romper a lógica do capital, e ao mesmo tempo também para elaborar planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, devem se juntar. Portanto, a nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora. Nenhuma das duas pode ser posta à frente da outra. Elas são inseparáveis. A transformação social emancipadora radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa contribuição da educação no seu sentido amplo (MÉSZÁROS, 2005, p. 76). Os desafios estão postos, sem ter clareza da necessidade de superar a sociedade de classes não se pode fazer grandes mudanças, trazer a centralidade do trabalho enquanto elemento fundante do ser, e lutar em prol de uma nova realidade, superando a atual divisão social do trabalho, e rompendo com a lógica da propriedade privada, são os grandes desafios histórico da humanidade. Diante da importância do trabalho enquanto elemento fundante do ser social é que destacamos o caráter formativo que o trabalho tem para o MST, ao mesmo tempo em que atentamos para os limites e avanços do mesmo com relação ao entendimento dessa categoria no processo educativo do movimento, chamando atenção para a necessidade de maior aprofundamento teórico para de fato A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 20 compreender a dimensão formativa do trabalho. Isso por que o MST limita a importância do trabalho às atividades práticas demandadas pelos assentamentos e acampamentos, não há na maioria das vezes uma proposta de superação da relação de trabalho ali existente, mais uma vez nos reportamos às reflexões de Dalmagro (2011), para a autora há no conjunto dos documentos, o acento no trabalho do campo e do assentamento e as necessidades imediatas de formação para o trabalho demandadas pelo MST. Destacamos a importância de relacionar a educação com a produção da vida, compartilhamos com o mesmo pensamento de Dalmagro (2011) quando a mesma afirma que a relação trabalho - educação possibilita uma formação de fato humanizadora, unir saber e fazer é fundar uma educação omnilateral, “desenvolvendo as múltiplas potencialidades humanas hoje sufocadas” (DALMAGRO, 2011). Sobre as limitações do Movimento Sem Terra com relação ao trabalho, a autora destaca: Entendemos que a escola do MST, ao formar para o trabalho, precisa conhecer e problematizar as forças existentes de produção, desde as artesanais e manuais até as mais complexas. É preciso analisar o sentido em que elas se colocam e sob o que se sustentam, avançando no intuito de dominar a tecnologia e a ciência embutidas nos processos produtivos, seja para incorporá-las ou rejeitá-las... (DALMAGRO, 2011, p. 51) Em meio às contradições da atualidade a Pedagogia do MST deixa clara a sua vinculação a um novo projeto de sociedade, essa proposta de educação está sendo construída no seio da luta de classes com a participação de homens, mulheres, crianças, jovens trabalhadores e trabalhadoras do campo, sujeitos construtores da própria história e que estão construindo uma nova página na luta de classes do Brasil e do Mundo. EDUCAÇÃO DO CAMPO: das reivindicações às políticas públicas De forma direta ou indireta a questão da terra é o que poderia ser chamado de espinha dorsal da maioria dosproblemas sociais brasileiro. De 1500 a 1930, o Brasil vivenciou o modelo agroexportador, A relação com a terra nesse período era a de concessão de uso, dado pela coroa aqueles que tivessem capital para investir e produzir o suficiente para exportação. Os colonizadores perceberam a fertilidade das terras brasileiras e desenvolveram a prática da monocultura, para abastecer o mercado europeu, chegando a exportar mais de 80% do que era produzido aqui (Stedile, 2011) utilizando da mão de obra escrava. A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 21 Ainda utilizando as análises de Stedile, de 1930 até 1964 se dá o período da substituição de importações, nacional desenvolvimentismo ou industrialização dependente. Período marcado pela “abolição da escravidão”, esse é o mesmo período em que é criada a Lei de Terras, a terra vira uma mercadoria, tem acesso quem pode pagar. A Lei de Terras foi então, o batistério do latifúndio no Brasil. Ela regulamentou e consolidou o modelo da grande propriedade rural, que é a base legal, até os dias atuais, para a estrutura injusta da propriedade de terras no Brasil, afirma Stedile. Com a “abolição”, sem condições de acesso a terra, os então ex-escravos foram formar as periferias das cidades, deram origem às favelas de hoje, local de terras mais baratas por causa da sua formação geográfica. Diante desse resgate histórico, cabe-nos agora situar a educação para com os povos do campo nos cenários acima descritos. Como desde o período de colonização até os dias atuais se deu o processo educativo desses povos? Certamente, as condições reais de vida se refletiam também no quesito educação, saúde, emprego etc. Até a década de 1920, a educação rural situa-se no contexto de dependência às idéias trazidas da Europa, de onde procediam os colonizadores e “as iniciativas mais consistentes de formação dirigidas às populações do meio rural deram-se nos setores de ensino médio e superior, especialmente neste último” (CALAZANS, 1993, p.18) No período de 1910 – 1920, surge o Ruralismo Pedagógico, as ideias centrais dos defensores dessa proposta era promover a fixação do homem no campo (ARAUJO, 2011). Nesse período os pressupostos da chamada Escola Nova sob as influencias do filosofo americano John Dewey defendidos pelos “pioneiros da educação7” influenciaram as discussões para um projeto de educação rural no Brasil. O papel da escola, de acordo com essa proposta centra-se na formação de indivíduos “adaptados” aos interesses do país. O ruralismo pedagógico, segundo Calazans (1993), pregava a socialização do indivíduo para que pudesse viver de forma harmoniosa no meio social e natural. Diante desse quadro é possível notar que não há nada de específico na educação para os povos do campo, somente em 1934, na chamada Era Vargas, a educação para as populações rurais é mencionada, e o objetivo era conter o movimento migratório e elevar a produtividade, (CNE/CEB, 2002, p. 9). Nas constituições de 1937 e 1946 e nas Leis de Diretrizes e Base da Educação 1961- 1971, fica claro o caráter utilitarista da produção agrícola dado à educação rural como pode ser visto a seguir: 7 Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 22 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, em seu art. 105, estabeleceu que “os poderes “Públicos instituirão e ampararão serviços e entidades que mantenham na zona rural escolas capazes de favorecer a adaptação do homem ao meio e o estimulo de vocações profissionais (BRASIL, 2007, p.11). E continua atendendo a interesses internacionais nos anos que seguem como explicar a criação de uma comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais? Se analisarmos o período histórico em que isso ocorreu 1945-1964 poderíamos relacionar essa iniciativa com dois fatos: o primeiro está relacionado com a intenção de frear as ideias socialistas que se tornavam cada vez mais eminentes na America Latina, e a segunda, é claro, à necessidade de vendas de insumos químicos, as indústrias agrícolas precisavam não só de mão de obra barata, mas pessoas que consumissem seus produtos. Só a partir da década de 1930, é que a formação escolar para os povos do campo entram em “evidência”, atrelada às modificações no mundo agrário no crescente desenvolvimento industrial e do avanço capitalista que intensificou o processo migratório e a necessidade de mão de obra qualificada para atender às demandas da industrialização e modernização urbana e rural. Nesta perspectiva, ocorrem os primeiros programas de escolarização, sob responsabilidade do poder público, com o intuito de reverter o quadro de analfabetismo, fixar o homem no campo, atender às exigências de qualificação da força de trabalho e adequar a classe trabalhadora rural à ordem capitalista de produção industrial. . (MOREIRA DE SOUZA, apud CALAZANS, 1993:18-19) Não podemos deixar de citar que em meio a esse avanço capitalista no campo, existiram mobilizações dos trabalhadores, estes não ficaram inertes assistindo de camarote as desventuras que lhes eram impostas, temos exemplos como as Ligas Camponesas, nas ULTABs, o Movimento de Educação de Base (MEB) da CNBB, os Centros Populares de Cultura (CPC) da UNE e o Movimento de Cultura Popular (MCP), coordenado por Paulo Freire, são experiências que alavancaram o processo de resistência às imposições capitalistas, seja na luta pela terra ou no campo da educação. Mesmo tendo sido perseguidas e reprimidas pela ditadura Militar (1964-1985), posteriormente tiveram forte influência nos movimentos de construção da educação nos movimentos sociais, como o MST e, posteriormente, na construção conceitual da educação do campo. E é com essa base histórica, de contradições, que surge a Educação do Campo, das necessidades vivenciadas pela classe trabalhadora do campo organizada nos movimentos sociais do campo que em suas trajetórias demarcam uma concepção de sociedade, desenvolvimento rural, A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 23 educação e campo, contrapondo a concepção hegemônica que vê o campo como atrasado, como um simples produtor de mercadoria. A Educação do Campo nasce no contexto das lutas dos movimentos sociais do campo, fruto da contradição da organização da sociedade, que para se manter, exclui e explora a classe trabalhadora, o debate acerca da Educação do campo ganhou nesses últimos anos destaque no cenário nacional, e merece de fato ser levado em conta se analisado do ponto de vista da sua construção histórica e dos sujeitos que desencadearam esse processo. Em termos de datas e marco “oficiais” a Educação do Campo nasce em julho de 1997, quando é realizado o Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (I ENERA), é importante ressaltar que embora tenha tido como protagonistas os povos do campo, em especial, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), esse encontro contou com a parceria da Universidade de Brasília (UnB), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura(UNESCO) e a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). O destaque para as parcerias está no fato de numa luta histórica organismos internacionais como UNICEF e UNESCO, organismos estes a serviço dos interesses do capital, agora parceiros de uma luta daqueles historicamente excluídos e marginalizados. Estes organismos internacionais estarão presentes nos demais Encontros Seminários que discutirão a Educação do Campo que sob o discurso de colaborar com os países pobres para o seu desenvolvimento impõe suas políticas por meio de pacotes e metas que indicarão o nível de desenvolvimento para futuros investimentos neste país (SILVA, 2010). Essa observação não anula a importância dos últimos acontecimentos a respeito da Educação do Campo no Brasil, mas, alerta para que enquanto classe analisemos o real interesse desses organismos internacionais em ações como Educação do Campo. Diante da importância desse encontro, os organizadores atentaram para a necessidade de dar continuidade ao debate, agora para construir uma proposta de Educação voltada para os povos do campo, atendendo suas especificidades, em 1998, foi realizada então a I Conferencia Nacional por uma educação Básica do Campo, tendo como tarefa inicial compreender que tipo de educação está sendo oferecida para os povos do campo tendo como desafio “perceber qual educação está sendo oferecida ao meio rural e que concepção de educação está presente nessa oferta” (KOLLING; NÉRI; MOLINA, 1999, p. 23). Nesse evento se consolida a “construção de uma proposta de educação que levasse em consideração a realidade do campo e que buscasse lutar por educação básica para o campo e colocar a sua importância para garantias de direitos básicos” (ALVES, 2012). A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 24 A aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (Parecer n. 36/2001 e Resolução n. 1/2002 do Conselho Nacional de Educação) permitiu novas iniciativas governamentais e de instituições de ensino acerca do tema. Cursos como Licenciaturas e pós-graduações em educação do Campo, programas de financiamentos dentre outros surgem nesse cenário como algo inédito, e de fato é. Num país onde o campo passou e passa por um processo histórico de negação e de exclusão, garantir no mínimo, acesso a escola para crianças, jovens e adultos camponeses, não pode ser considerado algo irrelevante. Se somarmos aí o fato de que o que hoje se configura enquanto lei, é fruto das lutas dos próprios camponeses e camponesas organizados em Movimentos Sociais do Campo, a relevância se torna ainda maior. De acordo com Alves (2012) a última conquista em termos de políticas públicas é o Programa Nacional de Educação do Campo – PRONACAMPO, o objetivo é formar agricultores em universidades e em cursos técnicos para que apliquem os conhecimentos adquiridos em ações que elevam a produtividade nas pequenas propriedades e garantir a distribuição de renda. O programa atenderá escolas rurais e quilombolas. Pela primeira vez, na história, pode–se dizer que existe uma possibilidade de inserir no cenário das políticas educacionais brasileiras, a questão da Educação do campo, num movimento nascido da luta social, especificamente da luta social do e no campo. MST: ENTRE TENSÕES E CONTRADIÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO DO CAMPO O MST pautou desde o início a luta pelo acesso à escola, e construiu uma proposta de Educação que tem como objetivo romper com a atual lógica educacional capitalista, no entanto, esbarra nas contradições da realidade concreta – as escolas que conquistam são financiadas e organizadas pelo Estado. Mesmo em meio a essas contradições, essa Pedagogia tem uma importância histórica no processo de luta do movimento. No ano de 2004, o MST fez 20 anos, e o Setor de Educação elaborou o Boletim da Educação nº 09 – Educação no MST – Balanço dos 20 anos. Muitas reflexões foram feitas e sistematizadas nessa obra, os avanços do movimento na educação, os entraves e limites, os desafios, dentre esses desafios estava o de ampliar a luta por educação, envolvendo outras comunidades e movimentos sociais do campo, e isso ocorre por dois motivos centrais, primeiro o MST parte do entendimento que “os sem terra não são os únicos excluídos da escola, e ainda para conseguir escolas de educação fundamental completa era preciso uma articulação maior com outras comunidades do campo, A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 25 porque isso representaria uma pressão maior” (MST, 2004. P. 18). É também nesse período que o MST destaca a importância da luta pela educação no e do campo, e a importância das alianças bem como a firmeza em garantirem-se enquanto sujeitos históricos da construção dessa proposta O MST em 2004, já percebia pela experiência que acumulara no embate contra o Estado Burguês que essa não seria uma tarefa fácil, e que mesmo reivindicando direitos, o Estado articularia em torno dos seus interesses. Em meio às conquistas, forjadas pela luta, os movimentos que defendem a Educação do Campo enquanto instrumento de formação e emancipação, contrapõe o que o Estado tem colocado como propostas de educação, isso demonstra que da forma como está concebida a Educação do Campo, do ponto de vista das garantias legais, em especial no âmbito das políticas e programas e a forma como esses são conduzidos e por quem são conduzidos não só tem sido alvo das críticas e indignação dos integrantes desses movimentos e entidades, como tem sido pauta dos encontros e reuniões que debatem a Educação do Campo, como foi o caso do último Fórum de Educação do Campo ocorrido em Brasília, de 15 a 17 de agosto desse ano de 2012, tendo como documento final um manifesto, que dentre outras coisas denuncia as manobras do Estado para manter sob sua tutela o controle. Em estudos anteriores, atentamos para a importância de construir uma proposta de educação da e para a classe trabalhadora, e nessa perspectiva, vemos as conquistas da Educação do Campo como importantes e de certa forma cruciais para o quesito acesso, mas sabemos dos limites do que hoje se configura enquanto política de governo para educação do campo, bem como as contradições entre o que defendem os movimentos sociais e o que de fato ocorre. A grande indagação diante desse avanço no campo das conquistas é como o debate sobre Educação do Campo configurado hoje enquanto política de Estado pode ajudar na conquista da emancipação dos povos do Campo? O Coletivo Nacional de Educação do MST ao fazer o Balanço dos 20 anos da Educação no movimento já se atentava para o fato de que é imprescindível relacionar a luta pela Educação do campo aos processos de formação e transformação. É urgente e necessária a construção um projeto de educação voltada para os interesses da classe trabalhadora, uma educação que tenha como objetivo contrapor toda essa lógica da destruição em nome desse falso desenvolvimento, que não se contenha com pequenas reformas ou adaptações, mas que se proponha ir além, ajudando a construir uma nova sociedade de homens e mulheres verdadeiramente livres (SILVA, 2012, p.6). A proposta educativa do MST apresenta a necessidade de lutar pela transformação social e a importância de associar a educação a esse processo de transformação, e é nos Princípios Filosóficos da Educação que podemos observar isso mais claramente, em específico no primeiro princípioque traz a “educação para a transformação social”. A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 26 Algumas experiências de Movimentos Sociais, especificamente do MST trazem à tona algumas possibilidades de propostas de educação que apontam para a construção de uma nova realidade. Para o MST o processo educativo não pode se encerrar nas quatro paredes da escola e nem se resumir a ela, e por esse motivo considera os vários momentos e atividades desenvolvidas pelo movimento como educativos. Nesses debates sobre escola e educação, está claro que não basta permitir o acesso à escola, e ainda, que a Educação do Campo não deve se desvincular do projeto histórico da classe trabalhadora, pautando-se em referências teóricas que apontem a superação do atual modo de produção. E é esse caráter de educação de classe que as propostas de educação do MST e da Educação do campo devem ter, pensando para além das reivindicações imediatas, de acesso ao direito, da escola enquanto território “do campo” (BOGO, 2010). O instrumento organizativo deveria ser o portador da consciência da classe que define o perfil do sujeito individual e coletivo que deve preparar para alcançar suas finalidades estratégicas; estas por sua vez, não se alcançam fragmentadamente por setores sociais. Significa dizer que, não poderá haver “uma escola do campo” com boa educação, se este processo não estiver inserido na perspectiva de um processo de mudanças mais amplas, por isto, falar em “sujeitos coletivos” ou em “educação emancipadora”, sem um projeto de mudanças, é uma grande ingenuidade (BOGO, 2010). O processo de transformação social exige sujeitos conscientes, que possam na prática agir de forma coerente, para tanto precisam conhecer profundamente a realidade em que estão inseridos, para poder transformá-la. Dominar as técnicas, deter os conhecimentos, é nesse processo de luta, instrumento fundamental. Nesse sentido, os povos que se encontram engajados num processo de luta, construindo novos valores estão um passo à frente, e a Educação do Campo, se utilizada para além do que propõe as ações governamentais, evitando assim que seja definida por esses organismos e não contribua para a classe trabalhadora para seu processo de emancipação, como alerta Vendramini A luta por uma educação do campo corre o risco de ficar atrelada ao âmbito do Estado e das políticas públicas, perdendo a dimensão fundamental da educação como estratégia de interiorização de valores contrapostos à lógica individualista, liberal, competitiva, funcional que nos conforma e que cria um consenso generalizado em torno do consumo. (VENDRAMINI, s/d, p. 5) A proposta educacional do MST e a construção da Educação do Campo _ SILVA e TEIXEIRA Entrelaçando • Nº 7 • V. 2 • Ano III (2012) • p.13-28 • Set.-Dez • ISSN 2179.8443 27 Não se pode perder de vista o fato de que a educação sozinha não fará a transformação social, ela tem um papel fundamental nesse processo como reflete MÉSZÁROS (2005, p. 32) “A transformação social emancipadora radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa contribuição da educação no seu sentido amplo”. E é nesse sentido que se faz necessário relacionar educação e produção do viver, vendo o processo educativo como elemento de construção desse novo jeito de viver e de produzir, novas relações entre homem e natureza e entre os seres humanos, (SILVA, 2010) uma educação que ajude a desconstruir essa lógica do individualismo e da competitividade impregnada em nós pelos valores dessa sociedade tão desumana. REFERÊNCIAS ALVES, Felipe Silva. 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