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NOÇÕES GERAIS DO DIREITO Unidade 1 O que é Direito? A sociedade é um grande grupo social no qual as pessoas interagem, formando inúmeras relações interpessoais e intergrupais, que se desenvolvem em razão de interesses próprios. A estas relações sociais dá-se o nome de “interação social”. Da interação social surge a cooperação, quando se unem os esforços; a competição, quando uma das partes procura atingir seu objetivo excluindo a outra, sem que haja o combate direto; e o conflito, em que um interesse se opõe a outro de forma direta. Podemos afirmar de uma forma bem simplificada, que o Direito existe para regulamentar as relações sociais, buscando resolver os conflitos que se originam desta interação social. “Sua finalidade é de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da sociedade”. É no conflito que o Direito atua de forma mais marcante, em dois momentos: • Antes da existência do conflito (preventivamente), quando busca informar a cada um o limite do direito que julga ter, e • * Para resolver o conflito de interesses já existente, quando o Direito fornecerá as regras aplicáveis para a resolução do impasse. Gagliano e Pamplona Filho (2003, p.3) bem ressaltam que o Direito tem uma “característica essencialmente humana, instrumento necessário ao convívio social [...]. Isso significa que não há como falar em direito sem falar em alteridade, ou seja, relação com o outro.” A vida em sociedade é regulamentada por normas. Estas normas valem para todos, sendo seu conhecimento e cumprimento obrigatórios, como se lê do artigo 3º da Lei de Introdução do Código Civil: “ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece”. Onde há a Sociedade, há o Direito. (ubi societas ibi jus) TÓPICO 2- Direito e Moral “A vida social só é possível uma vez presentes regras determinadas para o procedimento dos homens. Essas regras, de cunho ético, emanam da Moral e do Direito – repositórios de normas de conduta, evidentemente apresentam um campo comum”. E acrescentam, citando Washington de Barros Monteiro, que as “normas morais tendem a se transformar em normas jurídicas”. Moral A Moral atua no foro íntimo do indivíduo (campo do pensamento), trazendo sanção (punição) individual e de foro íntimo (arrependimento, remorso). O Direito se preocupa com a ação (atitude) e estabelece punições em lei mais severas, que podem atingir a liberdade ou patrimônio do infrator. Führer e Milaré (2005, p.35) fornecem um bom exemplo desta situação: A maquinação de um crime que é indiferente ao Direito, mas repudiada pela Moral. Outra diferença marcante entre o Direito e a Moral é que o Direito é coercível1 (cumprimento obrigatório, independente da vontade) enquanto a Moral não é obrigatória (incoercível). Das normas jurídicas “decorrem relações com efeitos bilaterais, entre duas ou mais pessoas, ao passo que da regra moral derivam conseqüências unilaterais, isto é, ninguém está obrigado ao seu cumprimento”. TÓPICO 3: Direito objetivo e subjetivo O Direito Objetivo pode ser conceituado como “o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, de modo obrigatório, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação (jus estnorma agendi)” (DINIZ, 2003, p.244). O descumprimento das regras de direito objetivo, por se tratar de obrigação do indivíduo, permite àquele que se sentir prejudicado procurar autoridade competente, Polícia, Administração Pública ou Judiciária, para “fazer valer seu direito”, defender-se, fazer cessar a violência, etc. (GUSMÃO, 2006, p.52). Já o Direito Subjetivo, pode ser conceituado como “a possibilidade de agir e de exigir que as normas de Direito atribuem a alguém como próprio” (NADER, 2008, p. 307). Führer e Milaré (2005, p.33) ilustram um exemplo: O meu direito de propriedade é garantido pela Constituição Federal (regra de direito objetivo), sendo que, se alguém violar este direito e invadir a minha propriedade, poderei acionar o Poder Judiciário para que a irregularidade seja sanada, sendo esta faculdade o direito subjetivo. Quando afirmamos que o proprietário tem “direito” de entrar com uma ação na justiça para ter sua propriedade devolvida, quando dizemos que, em caso de separação, o pai que não ficou com a guarda do filho tem “direito” de visitá-lo ou que o locador tem o “direito” de receber o aluguel do seu imóvel, nos referimos ao direito subjetivo. Tópico 4: Fontes do Direito As fontes de Direito nada mais são do que os “meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2003, p. 9-10). A Lei é a principal fonte do Direito, como se vê do art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito. Além da Lei, também são fontes do Direito: a Doutrina, a Jurisprudência, a Equidade, a Analogia e os Princípios Gerais de Direito. Segundo Nunes, (2003, p.72), Lei ou Legislação é “o conjunto das normas jurídicas emanadas do Estado, através de seus vários órgãos, dentre os quais, realça-se, com relevo, neste tema, o Poder Legislativo”. 2 Caracterização das Fontes do Direito No ordenamento jurídico, há várias espécies de leis (constitucional, ordinária, delegada, etc) e uma hierarquia. No patamar mais alto está a Constituição Federal, que é a principal lei do país, também conhecida por “Lei Magna” ou “Carta Magna”. Lei Complementar : Alusiva à estrutura estatal (governo) ou aos serviços do Estado, constituindo as leis de organização básica Lei Ordinária: Fruto da atividade típica e regular do Poder Legislativo. Ex.: Código Civil, Código de Processo Civil. Leis Delegadas: Serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar delegação ao Congresso Nacional. No mesmo patamar estão as Medidas Provisórias que o Presidente da República poderá utilizar no caso de relevância e urgência, conforme o art. 62 da Constituição Federal. Decreto Regulamentar: É o ato do Poder Executivo e deve ser baixado para regulamentar norma de hierarquia superior, como, por exemplo, a lei ordinária. Resoluções: São atos normativos administrativos dos quais cuidam, geralmente, de algum assunto interno do Legislativo. O costume, por sua vez, é uma norma jurídica não escrita, que surge da prática longa, diuturna e reiterada da sociedade (NUNES, 2003, p. 94). A jurisprudência é definida como o conjunto das decisões dos tribunais a respeito do mesmo assunto (NUNES, 2003, p. 87). A doutrina pode ser definida como o pensamento dos estudiosos do Direito, que são chamados de doutrinadores. Já a equidade, é o princípio pelo qual “deve o juiz valorizar mais a razão (observando sempre a boa-fé) que a própria regra de Direito [...], observando o que for justo e razoável [...] (RAPOSO; HEINE, 2004, p.31). Como exemplo de julgamento por equidade, Raposo e Heine (2004, p. 31) citam a aplicação da regra in dubio pro misero, ou seja, em alguns casos, havendo dúvida, o juiz pode decidir em favor do mais fraco economicamente, como ocorre no Direito do Trabalho. O juiz julgará com emprego da analogia quando “um fato não foi regulado de modo direto ou específico em lei de ser julgado pelo juiz e esse vai buscar a solução em uma lei prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não regulado” (RAPOSO; HEINE, 2004 p.31). Por fim, os princípios gerais do Direito são “regras gerais de conduta que o juiz segue quando vai interpretar o caso que está analisando” (RAPOSO; HEINE, 2004, p.30). Exemplo: viver honestamente, não causar danos a outra pessoa e dar a cada um o que é seu. Tópico 5 UNIDADE 1 Conceito de Norma Jurídica Norma ou regra jurídica “é um padrão de conduta imposto pelo Estado para que seja possível a convivência dos homens em sociedade. [...] Ela esclarece ao agente como e quando agir [...]. É a conduta exigida ou o modelo imposto de organização social (NADER, 2008, p.83 As normasjurídicas são as normas “que disciplinam condutas ou atos (comportamentos) através do seu caráter coercitivo (que reprime), imperativo (que ordena) e compulsório (que obriga)” (RAPOSO; HEINE, 2004, p.29). Existem as normas de Direito Civil, Direito Penal, Direito Tributário e muitas outras específicas em cada ramo de atuação do Direito Positivo Características da Norma Jurídica Como materialização do Direito Objetivo, as normas jurídicas terão de ser obrigatoriamente respeitadas, sob pena de o agente ficar sujeito à sanção prevista na lei. As normas jurídicas são: bilaterais, abstratas, imperativas e coercitivas. Tópico 6 – Relação Jurídica As relações entre as pessoas, entre si ou em grupos e estes grupos entre si, geram vínculos que estão previstos nas normas jurídicas. Assim, o casamento, por exemplo, é uma relação jurídica. Dele incorrem inúmeros direitos e obrigações que interessam ao Direito, como a propriedade, a honra, a vida, etc. Conceito de Relação Conforme Gusmão (2006, p.259), a relação jurídica é “o vínculo que une uma ou mais pessoas, decorrente de um fato ou de um ato previsto em norma jurídica, que produz efeitos jurídicos”, ou mais singelamente: “Vínculo jurídico estabelecido entre pessoas, em que uma delas pode exigir de outra determinada obrigação.” As relações jurídicas são originadas de atos ou fatos jurídicos, que envolvem pessoas físicas ou jurídicas. Essas relações são chamadas “jurídicas”, pois seu objeto é um interesse juridicamente protegido, que interessam ao Direito, como o patrimônio, a vida, a honra, etc. Espécies de Relação Jurídica Tópico 6 Relações Jurídicas de direito público: quando se tem de um lado o ente público com poderes e competências, e de outro, o particular (pessoa física ou jurídica não investida do poder público) com obrigação de observar suas determinações (GUSMÃO, 2006, p. 259). Relações Jurídicas de direito privado: há apenas particulares (pessoa física ou jurídica), sendo que uma é titular de um direito que poderá exigir da outra. O contrato é uma espécie de relação jurídica de direito privado. A relação jurídica ainda pode ser solene ou não solene. As solenes necessitam de formalidades para que tenham validade (casamento, compra de imóveis), enquanto que as não solenes dispensam tais formalidades (venda de bem móvel), que se torna perfeita e acabada com a entrega (que se chama tecnicamente de tradição) do bem. A relação jurídica pode ser também pessoal (quando envolve relação de pessoas entre si – exemplo: contratos), ou real (quando envolvem as relações de pessoas com as coisas – exemplo: direito de propriedade de um imóvel). Os sujeitos da relação jurídica, também chamados sujeitos de direito, são “os que estão aptos a adquirir e exercer direitos e obrigações” (NUNES, 2003, p.134). Na relação jurídica de direito privado, podemos dizer que o sujeito ativo é o que é o titular dos direitos e que pode exigi-los de quem deva cumprir uma obrigação, que é chamado sujeito passivo, que deve fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Assim, quando dizemos que Pedro adquiriu um imóvel, ele é o Sujeito Ativo nesta relação jurídica, enquanto a pessoa que o vendeu torna-se o Sujeito Passivo, tendo que cumprir o que determina a norma (entregar o bem).
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