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Livro Eletrônico Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 Wagner Damazio 55314334925 - marcos santos 2 Sumário Sumário ......................................................................................................................... 2 Introdução ..................................................................................................................... 4 1. Considerações Iniciais .................................................................................................. 6 2. Poderes da Administração ............................................................................................. 8 2.1. Abuso de Poder ................................................................................................... 10 2.1.1. Excesso de Poder ........................................................................................... 14 2.1.2. Desvio de Poder ou de Finalidade ..................................................................... 14 2.1.3. Jurisprudência acerca do Abuso de Poder .......................................................... 15 2.2. Poder Vinculado .................................................................................................. 16 2.2.1. Jurisprudência acerca do Poder Vinculado ......................................................... 19 2.3. Poder Discricionário ............................................................................................. 20 2.3.1. Jurisprudência acerca do Poder Discricionário .................................................... 22 2.4. Poder Hierárquico ................................................................................................ 23 2.4.1. Jurisprudência acerca do Poder Hierárquico ....................................................... 30 2.5. Poder Disciplinar ................................................................................................. 31 2.5.1. Verdade Sabida ............................................................................................. 34 2.5.2. Jurisprudência acerca do Poder Disciplinar ........................................................ 35 2.6. Poder Normativo e Regulamentar .......................................................................... 36 2.6.1. Decreto Autônomo ......................................................................................... 41 Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 3 2.6.2. Jurisprudência acerca do Poder Regulamentar e do Decreto Autônomo ................. 44 2.7. Poder de Polícia ................................................................................................... 47 2.7.1. Atributos do Poder de Polícia ........................................................................... 49 2.7.2. Ciclo do Poder de Polícia ................................................................................. 53 2.7.3. Prescrição da Pretensão Punitiva do Poder de Polícia .......................................... 56 2.7.4. Jurisprudência acerca do Poder de Polícia .......................................................... 58 3. Questões de Concursos Anteriores ............................................................................... 62 3.1. Lista de Questões sem Comentários ....................................................................... 62 3.2. Gabarito sem Comentários ................................................................................... 74 3.3. Questões Resolvidas e Comentadas ....................................................................... 75 4. Resumo.................................................................................................................98 5. Considerações Finais ................................................................................................ 108 Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 4 Introdução Caríssimo(a)! Vamos dar continuidade, aqui no Estratégia Concursos, ao Curso de Direito Administrativo com teoria e exercícios resolvidos e comentados para o concurso de ingresso à carreira de Delegado de Polícia Civil do Paraná. Na aula passada, nós estudamos o tema Agentes Públicos, explorando em especial: ➢ o Agente Político; ➢ o Militar; ➢ os Servidores Públicos Estatutários; ➢ os Empregados Públicos; ➢ os Servidores Temporários; ➢ os Particulares em Colaboração com o Estado; ➢ o Regime Jurídico Único; ➢ a Diferença entre Cargo, Emprego e Função e suas acumulações; ➢ o Concurso; ➢ a Estabilidade; ➢ a Remuneração e o Teto remuneratório; ➢ a Greve; ➢ o Regime Próprio e o Complementar de Previdência; e ➢ Jurisprudência. Hoje, nós estudaremos os Poderes Administrativos. Tema eminentemente doutrinário e que as bancas adoram. Não menospreze este tema porque ele pode pintar em sua prova. Havendo qualquer dificuldade na compreensão da teoria ou na resolução dos exercícios, não deixe de entrar em contato comigo pelo fórum de dúvidas! Repito que estou sempre atento ao fórum de dúvidas para, de forma célere, buscar uma maneira de reescrever o conteúdo ou aclarar a explicação anteriormente oferecida para que você alcance a sua meta de aprendizagem. Frise-se que o nosso objetivo precípuo é a sua aprovação e para isso me dedicarei ao máximo para atendê-lo e auxiliá-lo nessa caminhada. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 5 Além disso, para ficar por dentro das notícias do mundo dos concursos públicos, recomendo que você siga o perfil do Estratégia Carreira Jurídica e do Estratégia Concursos nas mídias sociais! Você também poderá seguir meu perfil no Instagram. Por meio dele eu busco não só transmitir notícias de eventos do Estratégia e de fatos relativos aos concursos em geral, mas também compartilhar questões comentadas de concursos específicos que o ajudará em sua preparação! Que Deus o ilumine nos estudos! Vamos ao trabalho! Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 6 1. Considerações Iniciais Como de praxe, inicio esta nossa aula 4 com as seguintes provocações: Provocações introdutórias para a aula de hoje: 1) O que são e quais são os poderes da administração? 2) Os poderes administrativos são irrenunciáveis? 3) O agente público tem o poder ou o dever de agir? 4) Quais são as espécies do gênero abuso de poder? 5) É certo afirmar que o caso Lesbats, de 1864, julgado pelo Conselho de Estado na França foi o marco da teoria do abuso de poder? 6) O excesso de poder está relacionado à finalidade e o desvio de poder à competência? 7) O Congresso Nacional pode sustar atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar? 8) O que é o princípio da juridicidade? Ele amplia ou mitiga a discricionariedade/vinculação? 9) A expressão do poder hierárquico se aplica entre ente da Administração Pública direta e entidade da Administração Pública indireta? 10) Quais os 4 principais objetivos do poder hierárquico? 11) O poder disciplinar fundamenta a prerrogativa de o superior dar ordens aos subordinados? 12) Qual a diferença entre avocar e delegar? 13) Quais atividades não podem ser delegadas? 14) O delegatário pode subdelegar a delegação recebida? 15) Há exceção ao dever de obediência? 16) A Administração Pública pode revogar seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais? 17) A Administração Pública pode anular seus próprios atos por motivo de Wagner Damazio Aula 04 DireitoAdministrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 7 conveniência ou oportunidade? 18) O poder disciplinar está relacionado à supremacia geral ou especial? E o poder de polícia? 19) O poder disciplinar fundamenta a sanção na seara administrativa, civil e penal? 20) O decreto regulamentador pode ser contra legem ou ultra legem? 21) Há no direito brasileiro a figura do decreto autônomo? Se sim, desde quando? 22) Há no ordenamento jurídico definição do poder de polícia? 23) Quando se considera regular o exercício do poder de polícia? 24) Qual a diferença entre poder de polícia administrativo, polícia judiciária e polícia ostensiva? 25) Quais são os atributos do Poder de Polícia? Se você não tem certeza de uma ou algumas das respostas a esses questionamentos, fique atento que elas estarão ao longo da aula de hoje! Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 8 2. Poderes da Administração Os poderes administrativos, também denominados pelo Professor Hely Lopes Meirelles como poderes instrumentais1, são os instrumentos de que dispõem os agentes públicos para o exercício de suas atividades legalmente estabelecidas, tudo no interesse da coletividade. Nessa linha leciona o professor José dos Santos Carvalho Filho2: O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito público outorgada aos agentes do Estado. (...) Uso do poder, portanto, é a utilização normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei lhes confere. Ressalte-se, contudo, que essas prerrogativas não são pessoais, mas funcionais, posto que, em geral, são atribuídas aos cargos, empregos ou funções públicas. Destarte, não há que se falar em privilégios, mas sim no exercício de uma prerrogativa funcional dentro dos limites do ordenamento. Ou seja, reflexamente, a cada agente público é outorgada uma parcela do Poder do Estado, em sentido amplo, para que, nos limites da lei, executem em prol da coletividade as atividades em concreto, em função de serem titulares de funções administrativas. De todo modo, frise-se que, ao mesmo tempo que titular de uma prerrogativa, também nasce para o agente público o dever de exercê-la e sem desbordar dos limites de atuação fixados por lei para o cargo, emprego ou função. O não exercício do dever caracterizará uma omissão. Já o exercício que ultrapasse os limites da lei caracterizará o abuso de poder. Portanto, não há a possibilidade de o agente público renunciar ao dever a ele imposto. Enquanto titularizar a função administrativa para a qual a legislação previu determinadas prerrogativas, estas devem ser exercidas e são irrenunciáveis. Daí se falar em poder-dever do agente público em agir. Nas palavras do professor Hely Lopes Meirelles: Se para o particular o poder de agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade. É que o Direito Público ajunta ao poder do administrador o dever de administrar. 1 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 137. 2 Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 48. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 9 Nessa mesma linha, o professor José dos Santos Carvalho Filho3 afirma que: (...) os poderes administrativos são outorgados aos agentes do Poder Público para lhes permitir atuação voltada aos interesses da coletividade. Sendo assim, deles emanam duas ordens de consequência: 1ª) são eles irrenunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente exercidos pelos titulares. Vamos estudar, então, os poderes administrativos focando nas peculiaridades mais badaladas nos concursos. No diagrama a seguir indico os poderes que estudaremos: #ficadica Para a professora Maria Sylvia4, os chamados poderes discricionário e vinculado não existem como poderes autônomos. Para ela, eles seriam, quando muito, atributos de outros poderes ou competência da Administração. 3 Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 48. 4 Direito Administrativo, 30ª edição, p 121. Poder Administrativo Poder Discricionário/Vinculado Poder Hierárquico Poder Disciplinar Poder Normativo e Regulamentar Poder de Polícia Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 10 Antes de aprofundarmos cada um desses temas, é necessária uma explanação inicial acerca do abuso de poder. 2.1. Abuso de Poder Como mencionado anteriormente, ocorrerá o abuso de poder quando a autoridade administrativa se omitir ou quando desbordar dos limites de suas prerrogativas. Em outras palavras, quando ultrapassar os limites normais de que dispõe para o exercício das prerrogativas concedidas pelo Estado ou quando se mantiver inerte em situação que deveria agir no interesse da coletividade. Na obra do professor Hely Lopes Meirelles5 aduz-se que a origem da teoria do abuso de poder se deu na França com o julgamento pelo Conselho de Estado do caso Lesbats em 1864. Nesse julgamento o Conselho de Estado reconheceu o abuso de poder do Prefeito de Fontainebleau, que proibiu uma das empresas de ônibus de transporte de passageiros de entrar e estacionar seus veículos no pátio da estação ferroviária. Isso porque a lei não autorizava que ele assim procedesse, mas apenas permitia que se regulasse o estacionamento de ônibus em frente à estação rodoviária. Além disso, o Conselho de Estado declarou não ser legítima a discriminação entre as transportadoras de passageiros concedendo autorizações para umas e não para outras, de modo a evitar privilégios e direcionamento de benefícios a empresas determinadas. Resume bem o abuso de poder o seguinte parágrafo da obra do ilustre professor Hely Lopes Meirelles6: O abuso do poder, como todo ilícito, reveste as formas mais diversas. Ora se apresenta ostensivo como a truculência, às vezes dissimulado como o estelionato, e não raro encoberto na aparência ilusória dos atos legais. Em qualquer desses aspectos – flagrante ou disfarçado – o abuso do poder é sempre uma ilegalidade invalidadora do ato que o contém. Com base nesse raciocínio, o Conselho de Estado da França passou a anular os atos abusivos das autoridades administrativas, praticados com excesso de poder ou desvio de finalidade, desde o famoso caso Lesbats (1864), dando origem à teoria do excès ou do détournement de pouvoir, hoje aceita e consagrada pelos países democráticos, sob as mais diversas denominações (desviación de poder, dos espanhóis; sviamento di potere, dos italianos; abuse of discretion, dos norte-americanos), para reprimir a ilegalidade pelo mau uso do poder. O agente público, ao usar o poder de forma adequada, estará agindo com moralidade, com razoabilidade, com proporcionalidade e visando legitimamente ao interesse público. De outro lado, ao se omitir ou desbordar os limites ordinários do uso do poder administrativo estará o agente público praticando uma ilegalidade. 5 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 121. 6 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 121. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 11 No plano constitucional, o Constituinte Originário ou Derivado da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - CRFB ressaltou expressamente a figura do abuso de poder, prevendo inclusivealguns remédios constitucionais para atacá-lo. Nesse aspecto, por exemplo, temos: a) o direito de petição previsto no art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da CRFB, no qual se estabeleceu que: XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) o habeas corpus previsto no inciso LXVIII do art. 5º da CRFB, cujo teor é: LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; c) o mandado de segurança previsto no inciso LXIX do art. 5º da CRFB, no qual se estabeleceu que: LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; d) a possibilidade de inelegibilidade constante no §9º do art. 14 da CRFB, no qual se estabeleceu que: § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. e) a incompatibilidade com o decoro parlamentar tratado no §1º do art. 55 da CRFB, cujo teor é: Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 12 § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas. f) a competência do Tribunal de Contas para representar ao Poder competente quando apurar abusos, conforme consta no inciso XI do art. 71 da CRFB: XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados. g) a competência conferida ao Conselho Nacional de Justiça - CNJ para representar o Ministério Público quando constatar abuso de autoridade, conforme previsto no inciso IV do §4º do art. 103-B: IV representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; Importante ressaltar que a omissão ou inércia da autoridade também pode caracterizar abuso de poder. Esse abuso, inclusive, poderá ser saneado pelo Poder Judiciário. Não entenda aqui que o Poder Judiciário praticará o ato, mas sim que, utilizando-se dos instrumentos jurídicos pertinentes, determinará a realização do ato por parte da autoridade competente e, ainda, em caso de descumprimento, definirá os meios para o exercício do direito por parte do indivíduo ou pela coletividade, sem prejuízo quanto à aplicação de sanção à autoridade, se o caso. Nessa linha, a obra do professor Hely Lopes Meirelles assim discorre: (...) deve aguardar por um tempo razoável a manifestação da autoridade ou órgão competente, ultrapassado o qual o silêncio da Administração converte-se em abuso de poder, corrigível pela via judicial adequada, que tanto pode ser ação ordinária, medida cautelar, mandado de injunção ou mandado de segurança. Em tal hipótese não cabe ao Judiciário praticar o ato omitido pela Administração, mas, sim, impor sua prática, ou desde logo suprir os efeitos, para restaurar ou amparar o direito postulante, violado pelo silêncio administrativo. O silêncio não é ato administrativo; é conduta omissiva da Administração que, quando ofende direito individual ou coletivo dos administrados ou de seus servidores, sujeita-se a correção judicial e a reparação decorrente de sua inércia. A própria súmula 429 do STF autoriza a utilização do mandado de segurança contra omissão de autoridade: Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 13 Súmula 429: A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade. Exemplos: a) um exemplo de prática de abuso de autoridade por omissão seria a não expedição de Certidão Negativa de Débitos ou da Certidão Positiva com Efeitos de Negativa de que tratam os artigos 205 e 206 do CTN7. Como sabido, este instrumento é indispensável para participação em licitações e para assinatura de contratos administrativos. Assim, a mora da autoridade administrativa quanto à expedição da Certidão pode ocorrer, por hipótese, para benefício de outro concorrente ao certame. b) outro exemplo seria o descumprimento injustificado do prazo para decisão em processo administrativo. Tal fato poderia prejudicar ou beneficiar um administrado se comparado com outros que tiveram sua decisão tempestivamente publicada. Frise-se que o abuso de poder é o gênero do qual emergem duas espécies: o excesso de poder e o desvio de finalidade. 7 CTN: Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido.Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na repartição.Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. Abuso de Poder Excesso de Poder Desvio de Poder ou Desvio de Finalidade Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 14 2.1.1. Excesso de Poder A figura do excesso de poder está relacionada à competência para a prática do ato administrativo e ocorrerá quando o agente público, embora detentor inicial da prerrogativa para a realização do ato, agir desbordando os limites de sua competência, invadindo, portanto, área para a qual ele não possui a prerrogativa. Tal qual ocorre com o gênero abuso de poder, também o excesso de poder pode decorrer de ato flagrante, porque a autoridade frontalmente realiza ato para o qual não possui competência, ou pode ocorrer de forma escamoteada, quando a autoridade tentar dar aparência de que possui competência para sua realização, quando, na verdade, não possui. Em regra, a figura do excesso de poder ocorre, portanto, por ato comissivo da autoridade administrativa. 2.1.2. Desvio de Poder ou de Finalidade A figura do desvio de finalidade, também denominado desvio de poder, surge quando a autoridade administrativa realiza ou deixa de realizar um ato para o qual é competente, mas desvirtuando os fins a que a norma almeja ou mesmo se utilizando de motivos outros que não aqueles que mereceriam o ato omisso ou comisso. Ou seja, viola-se a teleologia da norma ou os fundamentos para sua prática, seja por ação ou omissão. Na obra do professor Hely Lopes Meirelles8 são apresentados os seguintes exemplos para o desvio de finalidade ou de poder: Tais desvios ocorrem, p. ex., quando a autoridade pública decreta uma desapropriação alegando utilidade pública mas visando, na realidade, a satisfazer interessepessoal próprio ou favorecer algum particular com a subsequente transferência do bem expropriado; ou quando outorga uma permissão sem interesse coletivo; quando classifica um concorrente por favoritismo, sem atender aos fins objetivados pela licitação; ou, ainda, quando adquire tipo de veículo com características incompatíveis com a natureza do serviço a que se destinava; (...) a remoção de servidor público sem justificativa das razões de ordem pública para a providência. Importante ressaltar que a Lei de Ação Popular, Lei Federal nº 4.717, de 1965, previu o desvio de finalidade em seu art. 2º, no qual ficou consignado que: 8 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 123. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 15 Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...) e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: (...) e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. 2.1.3. Jurisprudência acerca do Abuso de Poder Veja algumas jurisprudências relevantes acerca do abuso de poder: Súmula Vinculante 21: É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. (...) a ocorrência de abuso de poder na edição de medidas provisórias permite o controle judiciário dos pressupostos de relevância e urgência (...)[RE 581.160, voto do rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 20-6-2012, P, DJE de 23-8-2012, Tema 116.]= ADI 2.736, rel. min. Cezar Peluso, j. 8-9-2010, P, DJE de 29-3- 2011 Concurso público. MPU. Técnico de Apoio Especializado/Segurança. Exigência de teste de aptidão física não viola a CF. Legalidade. (...) Atestado médico específico para realização do TAF [Teste de Aptidão Física]. Previsão editalícia. Ausência de ilegalidade ou abuso de poder. Forma de a administração garantir a integridade dos candidatos na realização das extenuantes provas e resguardar- se das eventuais responsabilidades, não configurando afronta ao texto constitucional ou requisito irrazoável.[MS 30.265, rel. min. Gilmar Mendes, j. 6- 3-2012, 2ª T, DJE de 18-5-2012.] O abuso de poder regulamentar, especialmente nos casos em que o Estado atua contra legem ou praeter legem, não só expõe o ato transgressor ao controle jurisdicional, mas viabiliza, até mesmo, tal a gravidade desse comportamento governamental, o exercício, pelo Congresso Nacional, da competência extraordinária que lhe confere o art. 49, V, da Constituição da República e que lhe permite "sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (...)". Doutrina. Precedentes (RE 318.873 AgR/SC, rel. min. Celso de Mello, v.g.). Plausibilidade jurídica da impugnação à validade Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 16 constitucional da Instrução Normativa STN 1/2005.[AC 1.033 AgR- QO, rel. min. Celso de Mello, j. 25-5-2006, P, DJ de 16-6-2006.] Superado o estudo do abuso de direito, vamos estudar especificamente cada um dos poderes administrativos, ressaltando que, conforme já aludido, para a professora Maria Sylvia9, os chamados poderes discricionário e vinculado não existem como poderes autônomos. Para ela, eles seriam, quando muito, atributos de outros poderes ou competência da Administração. De todo modo, pela recorrência nos concursos e considerando a posição de outros autores, tais como Hely Lopes Meirelles e José dos Santos Carvalho Filho, vamos estudá-los aqui de forma separada, dando destaque a seus principais aspectos. 2.2. Poder Vinculado O poder vinculado decorre da descrição exauriente no próprio texto legal quanto às condições e os consequentes efeitos a serem praticados pelos agentes públicos. O direito positivo não deixa margem para que o agente possa agir de forma diversa do quanto prescrito. Portanto, estando todos os elementos descritos em lei, em sentido amplo, não sobra qualquer discricionariedade ao agente da administração que, por esse motivo, passa a estar vinculado integralmente ao regramento e especificações apresentados pelo direito positivo. Ou seja, sob a perspectiva do órgão que produz a lei ou ato e vincula a ação do agente público, não deixa de ser uma prerrogativa. Por outro lado, sob a perspectiva do agente que está vinculado a agir conforme descrito no ato produzido, está sim mitigado em suas ações, não havendo aí que se falar em poder e sim em restrição dele. Na linha dessa segunda perspectiva, assim afirma a professora Maria Sylvia10: O chamado “poder vinculado”, na realidade, não encerra “prerrogativa” do Poder Público, mas, ao contrário, dá ideia de restrição, pois, quando se diz que determinada atribuição da Administração é vinculada, quer-se significar que está 9 Direito Administrativo, 30ª edição, p 121. 10 Direito Administrativo, 30ª edição, p 121. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 17 sujeita à lei em praticamente todos os aspectos. O legislador, nessa hipótese, preestabelece todos os requisitos do ato, de tal forma que, estando eles presentes, não cabe à autoridade administrativa senão editá-lo, sem apreciação de aspectos concernentes à oportunidade, conveniência, interesse público, equidade. Esses aspectos foram previamente valores pelo legislador. O poder vinculado se relaciona de forma aproximada com o princípio da legalidade, já que no antecedente normativo (CRFB, lei, regulamento,...) estarão expressos todos os detalhes para a prática de um ato consequente pelo agente público. Isto é, há um dever-ser biunívoco entre antecedente e consequente. Se ocorrido o fato previsto em lei, há que ser realizado o consequente. De outro lado, se realizado o consequente, é porque obrigatoriamente ocorreu o antecedente. A prática de um ato vinculado pelo agente sem que os requisitos legais estejam presentes é nulo. De modo semelhante, estando presentes os requisitos legais, não pode a autoridade deixar de praticá-lo ou fazê-lo de forma diversa da que determina o dispositivo constante em lei. Embora os veremos de forma detida na próxima aula, que tratará do tema do ato administrativo, é relevante ressaltar neste momento que 5 são os requisitos necessários para a formação de um ato administrativo: Nos atos vinculados, a regra é que esses 5 requisitos estejam devidamente descritos na legislação, de modo que a margem de atuação do agente público seja mínima ou inexistente. Competência (Quem?) Finalidade (Para quê?) Forma (Por qual meio?) Motivo (Qual a causa ou fundamento?) Objeto (Com qual conteúdo?) Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 18 #ficadica O exemplo clássico de ato vinculado é a concessão de licença. Quando cumpridos todos os requisitos para sua concessão, não pode o administrador público se negar à emissão. Frise-se que nem sempre o ato administrativo é 100% vinculado, isso porque o legislador acaba deixando margem para que a Administração Pública, por meio de seus agentes, avalie a situação frente ao caso concreto. Ou seja, o legislador, conhecedor de que as situações fáticas são plurais, muitas vezes lança mão de quadros possíveis de atuação pela Administração,deixando certo grau de liberalidade para que a norma em abstrato seja aplicada em concreto de modo eficiente e não engessada. Daí decorrem os chamados atos discricionários, oriundos do poder de discricionariedade do agente público. Ressalte-se que as margens de discricionariedade do administrador público vêm sendo mitigadas ao longo do tempo, seja pela ampliação da produção legiferante ou pela necessidade de observância por parte do agente público do bloco de legalidade (Constituição, Emendas Constitucionais, tratados internacionais, leis em sentido formal, regulamentos e atos normas infraregulamentares). Há, inclusive, que se observar a jurisprudência, quanto àquelas decisões vinculantes para o agente público. #ficadica A partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CRFB é possível afirmar que: a)houve uma intensa constitucionalização do Direito Administrativo, já que a CRFB foi rica em disciplinas relacionadas ao Regime Jurídico administrativo, à Administração Pública e aos agentes públicos; e b) houve uma maior vinculação do agente público ao ordenamento jurídico como um todo, mitigando as margens de discricionariedade, já que, desde então, o agente público deve cumprir não só a lei em sentido formal (lei em sentido estrito), mas também as regras e os princípios administrativos alçados ao plano constitucional e aqueles disciplinados pela legislação em sentido amplo. Atenção 1:a doutrina e a jurisprudência têm denominado mais recentemente de princípio de juridicidade essa necessidade de observância por parte do Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 19 agente público ao cumprimento da lei e do direito (conjunto amplo de normas que disciplina o direito administrativo, seja do altiplano constitucional às normas infraregulamentares),que acarreta uma ampliação do princípio da legalidade com consequente mitigação das margens de discricionariedade. Atenção 2: inclusive, a Lei Federal nº 9.784, de 1999, adotou que no processo administrativo federal devem ser observados a atuação conforme a lei e o Direito. 2.2.1. Jurisprudência acerca do Poder Vinculado Veja algumas jurisprudências relevantes acerca do poder vinculado: A anistia política é ato vinculado. Comprovados os requisitos previstos na lei e no regulamento, é dever da administração declará-la.A ausência de qualquer desses requisitos impede o reconhecimento desse direito. Decorre do poder de autotutela o dever das autoridades de revisar, de ofício, os atos administrativos irregulares que impliquem ônus ao Estado, como é o caso da declaração da condição de anistiado político (Súmulas 346 e 473, STF). Precedente: RMS 21.259, rel. min. Sepúlveda Pertence, DJ de 8-11-1991.[RMS 25.988, rel. min. Eros Grau, j. 9-3-2010, 2ª T, DJE de 14-5-2010.]= RMS 31.027 ED, rel. min. Dias Toffoli, j. 26-6-2012, 1ª T, DJE de 14-9-2012= RMS 31.111 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 20-3-2012, 2ª T, DJE de 2-4-2012. Liberdade e unicidade sindical e competência para o registro de entidades sindicais (CF, art. 8º, I e II): (...) O que é inerente à nova concepção constitucional positiva de liberdade sindical é, não a inexistência de registro público – o qual é reclamado, no sistema brasileiro, para o aperfeiçoamento da constituição de toda e qualquer pessoa jurídica de direito privado –, mas, a teor do art. 8º, I, do Texto Fundamental, "que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato": o decisivo, para que se resguardem as liberdades constitucionais de associação civil ou de associação sindical, é, pois, que se trate efetivamente de simples registro – ato vinculado, subordinado apenas à verificação de pressupostos legais –, e não de autorização ou de reconhecimento discricionários. [MI 144, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 3-8- 1992, P, DJ de 28-5-1993.]= AI 789.108 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 5-10- 2010, 2ª T, DJE de 28-10-2010 Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 20 Em hipótese de extinção de mandato parlamentar, a sua declaração pela Mesa é ato vinculado à existência do fato objetivo que a determina, cuja realidade ou não o interessado pode induvidosamente submeter ao controle jurisdicional.[MS 25.461, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 29-6-2006, P, DJ de 22-9-2006.] 2.3. Poder Discricionário O poder discricionário decorre da autorização legal para que o agente público tenha certa margem de atuação quanto à prática de um ato administrativo. Esse fato origina-se de duas principais vertentes: ➢ a primeira é o fato de ser dificultoso para o legislador, senão impossível, prever de forma minudente em lei todos os eventos possíveis de ocorrerem em concreto, bem como todas as consequências que para cada um desses eventos seriam aplicadas; ➢ a segunda é a decisão do legislador, já conhecedor de sua limitação em regrar todos os eventos, de delegar ao administrador público a discricionariedade para a melhor consecução do objetivo público em concreto frente às várias possibilidades que se apresentarem. Dessas vertentes decorre que o legislador acaba não fixando em lei todos os requisitos para a prática do ato, deixando o exercício de conveniência e oportunidade ao agente público quanto aos requisitos motivo e objeto. Acerca da discricionariedade a professora Maria Sylvia11 discorre que: A discricionariedade, sim, tem inserida em seu bojo a ideia de prerrogativa, uma vez que a lei, ao atribuir determinada competência, deixa alguns aspectos do ato para serem apreciados pela Administração diante do caso concreto; ela implica liberdade a ser exercida nos limites fixados na lei. No entanto, não se pode dizer que exista como poder autônomo. Portanto, dos cinco requisitos do ato administrativo (Competência, Forma, Finalidade, Motivo e Objeto), somente a competência, a forma e a finalidade são fixadas no ordenamento, cabendo ao agente competente certo grau de atuação nos requisitos motivo e objeto que se caracterizam por formar o campo de atuação discricionária. 11 Direito Administrativo, 30ª edição, p 121. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 21 Nessa linha é a doutrina do professor Hely Lopes Meirelles12: Por aí se vê que a discricionariedade é sempre relativa e parcial, porque, quanto à competência, à forma e à finalidade do ato, a autoridade está subordinada ao que a lei dispõe, como para qualquer ato vinculado. Com efeito, o administrador, mesmo para a prática de um ato discricionário, deverá ter competência legal para praticá-lo; deverá obedecer à forma legal para sua realização; e deverá atender à finalidade legal de todo ato administrativo, que é o interesse público. O ato discricionário praticado por autoridade incompetente, ou realizado por forma diversa da prescrita em lei, ou informado de finalidade estranha ao interesse público, é ilegítimo e nulo. Em tal circunstância, deixaria de ser ato discricionário para ser ato arbitrário – ilegal, portanto. Perceba, entretanto, que o agente público não é livre para o exercício de todos os requisitos do ato e nem mesmo pode declinar da observância dos princípios que regem a Administração Pública, mesmo para o motivo e o objeto. Nessa linha, frise-se que discricionariedade não se confunde com arbitrariedade. Ou seja, ao agente público só é dada liberdade de escolha para, dentre as possibilidades que o caso apresenta, realizar aquela que melhor atenda ao interesse público e não para agir de forma contrária ou divergentequanto à finalidade da lei, maculando o direito de particulares determinados. Dessa forma, mesmo para os atos discricionários, os agentes públicos estão sujeitos aos limites da lei e aos princípios administrativos. Outro aspecto importante é que a utilização de termos imprecisos ou indeterminados na lei não acarreta, por si só, o reconhecimento da discricionariedade do agente para a realização do ato administrativo. Para isso, o agente público deve utilizar-se de técnicas de interpretação e dos princípios do direito, de modo a buscar com a máxima otimização atender à finalidade pública buscada pela lei. Esse posicionamento é o apresentado na obra do professor Hely Lopes Meirelles13: A discricionariedade só pode decorrer de atribuição da lei. Assim, a mera existência dos chamados “conceitos indeterminados” ou “imprecisos”, porque não têm conteúdos inequívocos, a nosso ver, não gera discricionariedade, mas necessidade de interpretação do conceito, a ser feitas especialmente fundada nos princípios da finalidade e da razoabilidade. Assim, quando o texto legal usar conceitos indeterminados, a discricionariedade somente poderá ser reconhecida se a lei também autorizá-la. Por fim, quanto ao poder discricionário, ressalte-se que também ele está sujeito ao controle pelo Poder Judiciário quando praticado com ilegalidade, 12 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 140. 13 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, pp 139 e 140. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 22 ainda que seu fundamento seja principiológico, por afrontar, por exemplo, a moralidade administrativa, a impessoalidade, a publicidade, a eficiência, a razoabilidade, a proporcionalidade, entre outros. É certo, contudo, que aquele que se socorrer do Poder Judiciário deve demonstrar a irregularidade praticada, de modo que sejam fornecidos elementos hábeis ao Poder Judiciário para avaliação quanto à ilegalidade ou nulidade do ato. Repise-se que o Poder Judiciário não substituirá o administrador público quanto ao mérito do ato administrativo, mas decidirá se o anteriormente praticado está em linha com a lei, bem como, em caso de nulidade do anterior, fixará limites específicos para a produção de um novo ato administrativo. 2.3.1. Jurisprudência acerca do Poder Discricionário Veja algumas jurisprudências relevantes acerca do poder discricionário: É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo.[AI 734.487 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 3-8-2010, 2ª T, DJE de 20-8-2010. A concessão de indulto aos condenados a penas privativas de liberdade insere-se no exercício do poder discricionário do presidente da República, limitado à vedação prevista no inciso XLIII do art. 5º da Carta da República. [ADI 2.795 MC, rel. min. Maurício Corrêa, j. 8-5-2003, P, DJ de 20-6-2003.] Recorrente que era titular de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a administração pública direta (ou centralizada) da União Federal. Ato da Presidência do STM consistente na exoneração desse servidor, licenciado para tratamento de saúde, do cargo de assessor de ministro daquela alta corte judiciária. Possibilidade. Natureza jurídica do cargo em comissão. Notas que tipificam a investidura em referido cargo público. Poder discricionário da autoridade competente para exonerar, ad nutum, ocupante de cargo em comissão.[RMS 21.821, rel. min. Celso de Mello, j. 12-4-1994, 1ª T, DJE de 23-10-2009.]= ARE 663.384 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 25-9-2012, 2ª T, DJE de 11-10-2012 Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 23 A jurisprudência desta Suprema Corte entende plenamente cabível o controle de constitucionalidade dos atos de imposição de penalidades, especialmente à luz da razoabilidade, da proporcionalidade e da vedação do uso de exações com efeito confiscatório (cf., e.g., a ADI 551 e a ADI 2.010). Portanto, como a relação entre a pena imposta e a motivação que a fundamenta não é imune ao controle de constitucionalidade e de legalidade, as correções eventualmente cabíveis não significam quebra da separação dos Poderes. De fato, essa calibração decorre diretamente do sistema de checks and counterchecks adotado pela Constituição de 1988, dado que a penalização não é ato discricionário da administração, aferível tão somente em termos de conveniência e de oportunidade.[RE 595.553 AgR-segundo, voto do rel. min. Joaquim Barbosa, j. 8-5-2012, 2ª T, DJE de 4-9-2012.] A isenção fiscal decorre do implemento da política fiscal e econômica, pelo Estado, tendo em vista o interesse social.É ato discricionário que escapa ao controle do Poder Judiciário e envolve juízo de conveniência e oportunidade do Poder Executivo. O termo inicial de vigência da isenção, fixada a partir da data da expedição da guia de importação, não infringe o princípio da isonomia tributária, nem desloca a data da ocorrência do fato gerador do tributo, porque a isenção diz respeito à exclusão do crédito tributário, enquanto o fato gerador tem pertinência com o nascimento da obrigação tributária.[AI 151.855 AgR, rel. min. Paulo Brossard, j. 24-5-1994, 2ª T, DJ de 2-12-1994.] A Constituição, na parte final do art. 151, I, admite a "concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país". A concessão de isenção é ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fiscais e econômicas e, portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judiciário. Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344 AgR. Não é possível ao Poder Judiciário estender isenção a contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia (RE 159.026).[RE 344.331, rel. min. Ellen Gracie, j. 11-2-2003, 1ª T, DJ de 14-3- 2003.] 2.4. Poder Hierárquico Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 24 O poder hierárquico é um dos pilares da organização administrativa, já que pelo exercício deste poder administrativo é que a Administração Pública realiza a distribuição e o escalonamento de seus órgãos, funções e agentes. Dessa estruturação decorre a forma piramidal da Administração Pública e as relações de subordinação decorrentes das distribuições dos agentes em suas funções hierarquizadas, tudo com o objetivo de ordenar internamente o exercício da função administrativa. Importante ressaltar que, em suas funções típicas, em regra, não há que se falar em hierarquia no Poder Legislativo (entre parlamentares) e no Poder Judiciário (entre magistrados). Nessa linha, não pode um Ministro do STF avocar ação judicial de um magistrado de primeira instância com base no poder hierárquico. Os magistrados são independentes e os órgãos julgadores são autônomos. É certo que o art. 92 da CRFB fixou diferentes órgãos do Poder Judiciário, estruturando-os com prerrogativas e competências diferentes, mas nem por isso se aplica ao Poder Judiciário, repise-se que quanto à sua atividade finalística, o poder hierárquico. Contudo, totalmente aderente à ideia de poder hierárquico quando se tiver em mente a estrutura administrativa que há dentro do Poder Judiciário. Seja pelas diferentes carreiras de apoio à atividade jurisdicional ou pela estrutura organizacional interna, com fixação de chefias com atribuiçõesespecificas e determinação de quantitativo de colaboradores para o exercício da atividade da unidade. De igual modo, um Senador não é um superior hierárquico de um vereador. São parlamentares com atribuições constitucionalmente fixadas em pessoas políticas diferentes. Também não há que se falar que um Senador em segundo mandato é superior hierárquico de um recém empossado. Por outro lado, também no Poder Legislativo é possível pensar no poder hierárquico para o exercício de atividades administrativas não diretamente relacionadas à atividade legiferante. Assim, as carreiras administrativas de apoio à produção legislativa e a estrutura organizacional podem se valer do poder hierárquico, sempre respeitadas as peculiaridades de cada casa legislativa. Mas é no Poder Executivo que fica bem nítido o exercício do Poder Hierárquico, já que toda a estrutura piramidal, com distribuição de competências, é evidente nos diversos organogramas dos órgãos públicos. Como exemplo, segue o organograma do Ministério da Justiça14 e alguns comentários importantes. 14 http://www.justica.gov.br/Acesso/institucional/sumario/organograma/anexos/geral.pdf Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 25 Importante ressaltar que nem todas as entidades ou “caixinhas” do organograma estão vinculadas pelo poder hierárquico. Como vimos na organização da Administração Pública, as entidades da Administração Pública Indireta não são subordinadas aos entes da Administração Pública Direta, mas sim estão a eles vinculados em função do controle finalístico ou pela supervisão ministerial. Assim, ao se incluir a Fundação Nacional do Índio – FUNAI no organograma do Ministério da Justiça, indica-se a vinculação da aludida Fundação com o Ministério, mas não pelo poder hierárquico e sim pelo exercício de atribuições que por competência cabe ao Ministério o controle finalístico. De acordo com a obra do professor Hely Lopes Meirelles15, o poder hierárquico tem por objetivo: 15 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 143. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 26 Além dos objetivos do poder hierárquico indicados no diagrama, dele ainda decorrem as seguintes prerrogativas ou deveres, entre outras: ➢ a prerrogativa de o superior hierárquico de dar ordens e de delegar ou avocar atribuições; ➢ o dever do superior hierárquico de fiscalizar e rever as atividades executadas por seus subordinados; ➢ o dever de obediência do subordinado em cumprir as ordens de seus superiores hierárquicos, exceto se manifestamente ilegais. Quanto às prerrogativas e deveres do superior hierárquico, cabe dizer que o de dar ordens é corolário direto da estrutura hierarquizada com fixação de responsabilidades para cada função administrativa. Ademais, o princípio da eficiência, incluído na CRFB pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998, reclama uma ação por resultados no serviço público, o que só será alcançada se metas factíveis, mas desafiadoras, forem fixadas e cumpridas. Para isso, há que se ter um engajamento da equipe e o papel de liderança do gestor é fundamental não só na distribuição das tarefas, mas também na fiscalização do seu cumprimento e também em eventual revisão do ato praticado. De relevo, portanto, é o dever do gestor, superior hierárquico, fiscalizar permanentemente o cumprimento das ordens emanadas, de modo que as Poder Hierárquico visa a: ordenar as atividades da Administração, repartindo e escalonando as funções públicas entre os agentes do Poder, de modo que cada um ossa exercer eficientemente seu encargo coordenar as funções públicas no sentido de obter o funcionamento harmônico de todos os serviços a cargo do órgão controlar o cumprimento da lei e instruções, acompanhando a conduta e o rendimento de cada servidor corrigir os erros administrativos pela ação revisora dos superiores sobre os atos dos subordinados Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 27 metas sejam cumpridas e o serviço público prestado ao seu destinatário final, que é o administrado, seja de qualidade e tempestivo. Caso identifique alguma irregularidade no ato praticado, o superior hierárquico tem o poder-dever de o corrigir, caso possível, ou o anular. Já as prerrogativas de avocar e delegar de que o superior hierárquico em regra dispõe, devem ser utilizadas com o fim de melhor atender ao interesse público, seja por razões técnicas, sociais, econômicas, jurídicas ou territoriais. A delegação e a avocação são institutos utilizados para que se permita que outro agente que não o titular ordinário de determinada competência execute a atividade. Ou seja, em que pese a competência ser irrenunciável para o agente que titulariza a função administrativa a que é inerente a execução de determinada atribuição, esses institutos permitem que outro agente realize a tarefa. Nessa linha, o art. 11 da Lei nº 9.784, de 1999, que trata do Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, estabelece que: Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. Na avocação, o superior hierárquico assume atribuição que ordinariamente é estabelecida para a função exercida por um de seus subordinados. De acordo com a o art. 15 da já citada Lei nº 9.784, de 199916, a avocação deve ser utilizada em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, bem como em caráter temporário. Na delegação, que só pode ocorrer quando não houver impedimento legal, a competência de um órgão pode ser delegada a outro órgão a ele subordinado ou não17. Ou seja, enquanto na avocação a autoridade atrai a competência, na delegação ela distribui competência que inicialmente cabia a si em razão da função administrativa por ela exercida. 16 Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. 17 Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 28 Mas não são todas as competências que podem ser delegadas. De acordo com a Lei nº 9.784, de 1999, não podem ser delegadas as seguintes competências: O concurso para Defensor Público do Estado do Acre, aplicado pelo CESPE em 2017, afirmou em duas alternativas de uma das questões da prova que: “1) A estrutura hierárquica da administração pública permite a delegação de órgão superior a órgão inferior da atribuição para a edição de atos administrativos de caráter normativo; e 2) A estrutura hierárquica da administração pública permite a delegação a órgão diverso da competência para a decisão de recurso administrativo.” Comentários: incorretas as duas assertivas. De acordo com o art. 13 da Lei nº 9.784, de1999, não podem ser objeto de delegação: I - a edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. O concurso para Defensor Público do Estado do Acre, aplicado pelo CESPE em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A estrutura hierárquica da administração pública permite a avocação por órgão superior, em caráter ordinário e por tempo indeterminado, de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.” Comentários: incorreta a assertiva. De acordo com o art. 15 da Lei nº 9.784, a avocação deve ser utilizada em caráter temporário e excepcional, bem como por motivos relevantes devidamente justificados. #ficadica Não podem ser delegadas: a edição de atos de caráter normativo a decisão de recursos administrativos as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 29 A menos que expressamente autorizado pelo delegante, o delegatário não pode subdelegar a atribuição recebida. Exemplo: a) suponha que o Ministro da Justiça tenha delegado ao seu Chefe de Gabinete (Assessor direto do Ministro) as atribuições relativas a gestão de recursos humanos (período de concessão de férias, cessões de servidores, demais licenças e afastamentos, entre outros). Pode o Chefe de Gabinete subdelegar essas atribuições ao Diretor do Departamento de Pessoal do Ministério? Não pode, exceto se expressamente autorizado pelo próprio Ministro da Justiça (autoridade delegante). b) no livro do professor Hely Lopes Meirelles18 também há os seguintes exemplos como vedados à delegação: b.1) delegação de um Poder do Estado para outro: do Poder Executivo para o Judiciário ou Legislativo, entre outras combinações; b.2) delegação do Poder de Tributar: não pode a União delegar sua competência tributária ao Estado, Distrito Federal ou para algum dos Municípios; b.3) delegação de sanção ou veto de lei: não pode o Presidente, Governador ou Prefeito delegarem a um Ministro ou Secretário a competência para sanção ou veto de lei. Decorre também do poder hierárquico o dever de obediência do subordinado às ordens não manifestamente ilegais de seu superior hierárquico. Portanto, o agente público tem o dever de cumprir fielmente aquilo que a ele for atribuído por seus superiores, excluindo-se, contudo, eventuais determinações que afrontem manifestamente a lei. A salvaguarda aludida na expressão manifestamente ilegal não exige do subordinado conhecer de forma científica e profunda todo o ordenamento jurídico e suas especificidades, mas alude à ilegalidade que decorre do senso comum proveniente do “homem médio” (bonus pater familias do latim; reasonable man do inglês). Portanto, se para uma pessoa com capacidade mediana de interpretação e compreensão a ordem lhe parecer manifestamente ilegal, razoável que não a 18 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 144. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 30 execute, externando sua insegurança jurídica quanto à prática do ato requerido pelo seu superior hierárquico. Não sendo o caso de ordem manifestamente ilegal, deve o subordinado executá-la com zelo e eficiência. Já no caso do não cumprimento por parte do subordinado de ordem legal do superior hierárquico ou, ainda, quando houver mora para sua execução, pode ficar caracterizada infração disciplinar e acarretar eventual sanção decorrente não do poder hierárquico e sim do poder disciplinar que estudaremos no próximo tópico. 2.4.1. Jurisprudência acerca do Poder Hierárquico Veja algumas jurisprudências relevantes acerca do poder hierárquico: Súmula 346 do STF: A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. Súmula 473: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque dêles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. Cuidando-se de nomeação para pessoas jurídicas distintas e inexistindo relação de parentesco entre a autoridade nomeante e o nomeado, a configuração do nepotismo decorrente diretamente da Súmula Vinculante 13 exige a existência de subordinação da autoridade nomeante ao poder hierárquico da pessoa cuja relação de parentesco com o nomeado configura nepotismo a qual, no caso dos autos, não é possível ser concebida.[Rcl 9.284, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-9-2014, 1ª T, DJE de 19-11-2014.] Servidor público: teto de remuneração (CF, art. 37, XI): autoaplicabilidade. Dada a eficácia plena e a aplicabilidade imediata, inclusive aos entes empresariais da administração indireta, do art. 37, XI, da Constituição, e do art. 17 do ADCT, a sua implementação – não dependendo de Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 31 complementação normativa – não parece constituir matéria de reserva à lei formal e, no âmbito do Executivo, à primeira vista, podia ser determinada por decreto, que encontra no poder hierárquico do governador a sua fonte de legitimação.[ADI 1.590 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 19-6-1997, P, DJ de 15-8-1997.]= RE 285.706, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 26-6-2002, 1ª T, DJ de 26-4-2002 2.5. Poder Disciplinar Poder disciplinar é aquele que permite a aplicação de sanção na seara administrativa ao agente público quando este pratica alguma infração funcional, bem como a todos aqueles que estejam vinculados à Administração Pública por relações de qualquer natureza subordinadas ao regramento público. Frise-se que poder disciplinar e poder hierárquico são diferentes, mas tal qual o poder hierárquico, o poder disciplinar também é uma das colunas de sustentação da estrutura organizacional piramidal e hierarquizada dos órgãos e entidades que realizam a função administrativa em concreto. Ou seja, em que pese ser o poder hierárquico aquele que permite a estruturação e organização funcional da parte da Administração Pública que assim é ordenada, é o poder disciplinar que mantém hígido esse sistema, já que, se não houvesse a possibilidade de sanção aplicável pelo superior hierárquico em caso de descumprimento funcional do subordinado, provavelmente esse modelo de estruturação ruiria. A obra do professor Hely Lopes Meirelles19 aduz que o poder disciplinar exemplifica uma Supremacia Especial que o Estado exerce sobre todos aqueles que com ele se relacionam: Poder disciplinar é a faculdade de punir internamente as infrações funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas à disciplinados órgãos e serviços da Administração. É uma supremacia especial que o Estado exerce sobre todos aqueles que se vinculam à Administração por relações de qualquer natureza, subordinando-se às normas de funcionamento do serviço ou do estabelecimento que passam a integrar definitiva ou transitoriamente. Portanto, o poder disciplinar não se aplica apenas aos agentes públicos (agentes políticos, servidores públicos estatutários, empregados públicos, servidores temporários, militares e particulares em colaboração com o Poder Público), mas também a todos aqueles que estejam vinculados à 19 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 144. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925- marcos santos 32 Administração Pública por relações de qualquer natureza subordinadas ao regramento público. O concursopara Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “sobre o exercício do poder disciplinar da Administração Pública, é correto afirmar que tal poder é exercido somente em face de servidores regidos pelas normas estatutárias, não se aplicando aos empregados públicos, regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho.” Comentários: incorreta a assertiva. Incorreta a assertiva porque o poder disciplinar da Administração não se restringe aos servidores estatutários, aplicando-se a todos os agentes públicos e a terceiros que estejam vinculados pela sujeição especial ao Poder Público. O concursopara Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “sobre o exercício do poder disciplinar da Administração Pública, é correto afirmar que tal poderé extensível a sujeitos que tenham um vínculo de natureza especial com a Administração, sejam ou não servidores públicos.” Comentários: correta a assertiva. Correta a assertiva porque o poder disciplinar da Administração também se aplica a terceiros que estejam vinculados pela sujeição especial ao Poder Público. Nós estudamos a Teoria da Supremacia Especial em nossa primeira aula, mas, em função da citação, é importante que você rememore. #ficadica Teoria da Supremacia Especial: importada para o Direito Administrativo brasileiro por Celso Antônio Bandeira de Mello20 sob influência de Otto Mayer e Renato Alessi, doutrinadores alemão e italiano, respectivamente, a Teoria da Supremacia Especial (também denominada Sujeição Especial) busca relativizar o princípio da legalidade estrita pela impossibilidade fática de o legislador não conseguir disciplinar todas as situações da vida cotidiana e por haver em cena uma maior proximidade física ou jurídica entre o administrado e a Administração Pública. Ou seja, por meio de Atos Administrativos a Administração Pública, segundo a Teoria da Supremacia Especial, pode exigir ou obrigar alguma ação ou omissão do particular, bem como autoexecutar esse mandamento no caso de descumprimento pelo particular. Seria um afrouxamento da legalidade estrita frente às necessidades 20 Curso de Direito Administrativo. 14ª edição. p. 699 a 704. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 33 da Administração Pública no exercício concreto da função administrativa para atender ao interesse público. Diferentemente é o que ocorre com a Supremacia Geral, que advém da vinculação à legalidade estrita, ao Poder de Império (Poder de Polícia), à verticalização da relação Estado-particular e, do ponto de vista positivista, à determinação constante no art. 5º, inciso II, da CRFB pelo qual se estabelece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Para a Supremacia Geral prepondera o Poder de Polícia, já para a Supremacia Especial prepondera o Poder Disciplinar. Importante ressaltar, contudo, que a Teoria da Supremacia Especial trata da possibilidade de o Poder Público, por sua proximidade com aquele com o qual está se relacionando, pode fixar regramentos de condutas, horários, procedimentos, fixação da sanção, entre outros. No que tange à sanção, em que pese estar presente o poder-dever do superior hierárquico em aplicar a sanção administrativa, sob pena de incorrer em condescendência criminosa, nos termos do art. 320 do Código Penal (abaixo transcrito), a autoridade competente para aplicar a sanção possui uma margem de discricionariedade quanto à pena a ser aplicada dentre aquelas possíveis previstas em lei, a depender da gravidade do ato praticado: Condescendência criminosa Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa Isto é, ocorrendo a infração, a penalidade se impõe, mas a dosimetria poderá ser sopesada pelo administrador público competente. De relevo novamente chamar atenção para o fato de que discricionariedade não é arbitrariedade. Assim, ainda que haja uma margem para a dosimetria da sanção, há que se motivar de forma fundamentada a sua aplicação e respeitar os princípios norteadores ao caso, em especial o devido processo legal, com ampla defesa e contraditório. Assim discorre Hely Lopes Meirelles21: Outra característica do poder disciplinar é seu discricionarismo, no sentido de que não está vinculado a prévia definição da lei sobre a infração funcional e a respectiva sanção. 21 Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 146. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 34 Não se aplica ao poder disciplinar o princípio da pena específica que domina inteiramente o Direito Criminal comum, ao afirmar a inexistência da infração penal sem prévia lei que a defina e apene: “nullum crimen, nulla poena sine lege”. Esse princípio não vigora em matéria disciplinar. O administrador, no seu prudente critério, tendo em vista os deveres do infrator em relação ao serviço e verificando a falta, aplicará a sanção que julgar cabível, oportuna e conveniente, dentre as que estiverem enumeradas em lei ou regulamento para a generalidade das infrações administrativas. Frise-se também que o poder disciplinar fundamenta a sanção na seara administrativa, mas não na seara penal ou civil. Isto é, as instâncias civil, penal e administrativa são autônomas e independentes, podendo um mesmo ato ser sancionado nas três esferas sem que ocorra o bis in idem. Na esfera administrativa, funda-se a sanção no poder disciplinar. Na esfera civil, na obrigação de reparação do dano patrimonial ou moral. Na esfera penal, no poder punitivo do Estado com ultima ratio para o convívio social. 2.5.1. Verdade Sabida Antes da Constituição de 1988, ainda havia a aplicação do instituto da “verdade sabida” nos processos administrativos de pretensão punitiva decorrente do poder disciplinar. Verdade sabida: nada mais é do que a presunção absoluta por parte da autoridade competente de que a falta disciplinar ocorreu, seja porque ela foi realizada em sua presença ou contra a própria autoridade, autorizando a aplicação de sanção sem observância de qualquer formalidade. Assim, tendo a autoridade competente presenciado a pratica infracional do subordinado seja contra terceiros, contra a Administração ou contra si (a própria autoridade), ela poderia aplicar sanção ao subordinado sem a realização de qualquer procedimento formal que respeitasse o devido processo legal em âmbito administrativo. Ocorre que o inciso LV do art. 5º da CRFB garantiu o due process of law, com respeito ao contraditório e ampla defesa tanto para o processo judicial quanto para o processo administrativo, extirpando a possibilidade de aplicação sob a nova ordem constitucional do instituto da verdade sabida. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 35 O concursopara Juiz de Direito doTribunal de Justiça de Santa Catarina, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “Sobre o exercício do poder disciplinar da Administração Pública, é correto afirmar que tal poder admite a aplicação de sanções de maneira imediata, desde que tenha havido prova inconteste da conduta ou que ela tenha sido presenciada pela autoridade superior do servidor apenado.” Comentários: incorreta a assertiva. Incorreta a assertiva porque, não se aplica no direito brasileiro, em especial a partir da Constituição de 1988, o instituto da “verdade sabida”. O inciso LV do art. 5º da CRFB exige a observância do devido processo legal (due process of law), assegurada a ampla defesa e o contraditório tanto no processo judicial quanto no processo administrativo. 2.5.2. Jurisprudência acerca do Poder Disciplinar Veja algumas jurisprudências relevantes acerca do poder disciplinar: Servidor público. Processo administrativo. Demissão. Poder disciplinar. Limites de atuação do Poder Judiciário. Princípio da ampla defesa. Ato de improbidade. (...) A autoridade administrativa está autorizada a praticar atos discricionários apenas quando norma jurídica válida expressamente a ela atribuir essa livre atuação. Os atos administrativos que envolvem a aplicação de "conceitos indeterminados" estão sujeitos ao exame e controle do Poder Judiciário. O controle jurisdicional pode e deve incidir sobre os elementos do ato, à luz dos princípios que regem a atuação da Administração. (...) A capitulação do ilícito administrativo não pode ser aberta a ponto de impossibilitar o direito de defesa. [RMS 24.699, rel. min. Eros Grau, j. 30-11-2004, 1ª T, DJ de 1º-7-2005.] = RMS 24.129, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 20-3-2012, 2ª T, DJE de 30-4-2012 Poder disciplinar. Prescrição. Anotação de fatos desabonadores nos assentamentos funcionais. Declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 170 da Lei 8.112/1990. Violação do princípio da presunção de inocência. (...) A instauração do processo disciplinar interrompe o curso do prazo prescricional da infração, que volta a correr depois de ultrapassados 140 dias sem que haja decisão definitiva. [MS 23.262, rel. min. Dias Toffoli, j. 23-4-2014, P, DJE de 30-10-2014.] O sentido da restrição dele quanto às punições disciplinares militares (art. 142, § 2º, da CF). (...) O entendimento relativo ao § 2º do art. 153 da EC 1/1969, segundo o qual o princípio de que, nas transgressões disciplinares, não cabia habeas corpus não impedia que se examinasse, nele, a ocorrência dos quatro Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 36 pressupostos de legalidade dessas transgressões (a hierarquia, o poder disciplinar, o ato ligado à função e a pena susceptível de ser aplicada disciplinarmente), continua válido para o disposto no § 2º do art. 142 da atual Constituição, que é apenas mais restritivo quanto ao âmbito dessas transgressões disciplinares, pois as limita às de natureza militar. [HC 70.648, rel. min. Moreira Alves, j. 9-11-1993, 1ª T, DJ de 4-3-1994.]= RHC 88.543, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 3-4-2007, 1ª T, DJ de 27-4-2007= RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie, j. 19-8-2003, 2ª T, DJ de 12-9-2003 2.6. Poder Normativo e Regulamentar #ficadica Antes de discorrer sobre o poder normativo e/ou regulamentar, é importante tratar da questão semântica. Há doutrinadores que não diferenciam poder normativo de poder regulamentar, como o professor José dos Santos Carvalho Filho. Já há outros que fazem essa diferenciação, tais como a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro e Hely Lopes Meirelles. A professora Maria Sylvia22, inclusive, afirma que: Normalmente, fala-se em poder regulamentar; preferimos falar em poder normativo, já que aquele não esgota toda a competência normativa da Administração Pública; é apenas uma de suas formas de expressão, coexistindo com outras, conforme se verá.(...) Insere-se, portanto, o poder regulamentar como uma das formas pelas quais se expressa a função normativa do Poder Executivo. Pode ser definido como o que cabe ao Chefe do Poder Executivo da União, dos Estados e dos Municípios, de editar normas complementares à lei, para sua fiel execução. Ou seja, poder normativo, em sua doutrina, é o gênero do qual o poder regulamentar é espécie, sendo este de competência do Chefe do Executivo. Ainda mais contundente é a doutrina de Hely Lopes Meirelles que afirma: O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os Chefes de Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua competência ainda não 22 Direito Administrativo, 30ª edição, p 120. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 37 disciplinada por lei. É um poder inerente e privativo do Chefe do Executivo (CF, art. 84, IV), e, por isso mesmo, indelegável a qualquer subordinado. Em contraponto doutrinário, o professor José dos Santos Carvalho Filho discorre acerca de outros atos normativos. Veja: Há também atos normativos que, editados por outras autoridades administrativas, podem caracterizar-se como inseridos no poder regulamentar. É o caso de instruções normativas, resoluções, portarias etc. Tais atos têm frequentemente um círculo de aplicação mais restrito, mas, veiculando normas gerias e abstratas para a explicitação das leis, não deixam de ser, a seu modo, meios de formalização do poder regulamentar. Por esse motivo é que, considerando nosso sistema de hierarquia normativa, podemos dizer que existem graus diversos de regulamentação conforme o patamar em que se aloje o ato regulamentador.Os decretos e regulamentos podem ser considerados como atos de regulamentação de primeiro grau; outros atos que a eles se subordinem e que, por sua vez, os regulamentem, evidentemente com maior detalhamento, podem ser qualificados como atos de regulamentação de segundo grau, e assim por diante. Portanto, por haver correntes doutrinárias diferentes, fique atento à resolução das questões da prova e saiba que para alguns autores diferencia-se poder normativo (mais amplo) de poder regulamentar (privativo dos Chefes dos Poderes Executivos Federal, Estadual, Distrital e Municipal). Feita essa importante diferenciação, vamos às especificidades do poder normativo e/ou regulamentar23. O poder normativo é aquele que permite a Administração Pública produzir atos que explicam, complementam e facilitam a execução das leis. Por meio do poder normativo a Administração Pública supre as eventuais lacunas da lei que não permitiriam ou tornariam dificultosa a sua execução com apenas o teor estrito constante no plano legal. Ou seja, em que pese haver leis que não exijam a normatização para sua produção de efeitos e execução, poderá a lei ser regulamentada a critério do Poder Executivo para facilitar o seu cumprimento no plano concreto. A CRFB previu em seu art. 84, inciso IV, a possibilidade de exercício do poder regulamentar pelo Presidente da República: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) 23 Para fins dessa aula, adotaremos poder normativo quando falarmos de forma mais ampla e regulamentar quando focando no decreto do Chefe do Poder Executivo. Wagner Damazio Aula 04 Direito Administrativo p/ PC-PR (Delegado) - 2019.2 www.estrategiaconcursos.com.br 1451285 55314334925 - marcos santos 38 IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
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