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05/07/2012 1 Neurociências e Prática Educativa Prof. Aleksandro Figueiredo Ø O cérebro é o órgão da aprendizagem. Ø Descobertas das neurociências estão esclarecendo alguns dos mecanismos cerebrais responsáveis por funções mentais importantes na aprendizagem. Ø A aplicação desse conhecimento no contexto educacional tem limitações. Neurociências e Educação Ø A aprendizagem é essencial para a sobrevivência do ser humano. Ø O cérebro é capaz de aprender para garantir nosso bem estar e sobrevivência, não para ter sucesso escolar. Se a “sobrevivência” é a nota, o cérebro selecionará estratégias que levem a sua obtenção e não, necessariamente, à aquisição de novas competências. Ø As estratégias pedagógicas utilizadas pelos professores são estímulos que produzem a reorganização do SN, resultando em mudanças comportamentais. Ø O conhecimento neurocientífico contribui para que o trabalho do professor seja mais significativo e eficiente, mas não fornece receitas que garantam resultados. Ø É importante entender a diferença entre conhecer os processos mentais e seus mecanismos cerebrais subjacentes e sua aplicação na prática pedagógica. Ø É imprescindível a investigação, rigorosa e científica, dos achados das neurociências aplicados à sala de aula, antes que se estabeleça qualquer aplicação educacional. Ø As neurociências não propõe uma nova pedagogia e nem constituem uma panacéia para a solução das dificuldades da aprendizagem e dos problemas da educação. Ø Elas fundamentam a prática pedagógica que já se realiza, demonstrando que estratégias pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes. 05/07/2012 2 Contribuições das Neurociências para a Prática Educacional Ø Cuidados com o pré-natal são fundamentais para o desenvolvimento adequado do SN. • Formação de estruturas cerebrais e conexões neurais (sinapses) determinadas geneticamente. Ø Deficiências nutricionais, ingestão de substâncias químicas, infecção, radiação e informações genéticas erradas podem alterar a estrutura básica do SN. Ø A interação do bebê com o meio em que vive e os cuidados na primeira infância são muito significativos. • Período receptivo, de intenso desenvolvimento do SN à redes neurais mais sensíveis às mudanças. • A educação infantil e a exposição a estímulos sensoriais, motores e emocionais e sociais variados, frequentes e repetidos contribuirá para a manutenção das sinapses já estabelecidas e para a formação de novas sinapses. Ø A atenção é uma função mental importante para a aprendizagem. • Permite selecionar o estímulo mais relevante e significativo entre vários. • É mobilizada pelo que é muito novo e pelos padrões (esquemas mentais) que já temos em nossos arquivos cerebrais. Importância da aprendizagem contextualizada. Ø Atenção: • É difícil prestar atenção por muito tempo. Intervalos ou mudanças de atividades são importantes para recuperar nossa capacidade de focar atenção. Ø Atenção: • Dificilmente um aluno prestará atenção em informações que não tenham relação com seu arquivo de experiências, com seu cotidiano ou que não sejam significativas para ele. O cérebro seleciona as informações mais relevantes para nosso bem estar e sobrevivência e foca atenção nelas. Memorizamos as experiências que passam pelo filtro da atenção. 05/07/2012 3 Ø A neuroplasticidade possibilita a reorganização da estrutura do SN e constitui a base biológica da aprendizagem e do esquecimento. • Aprendemos o que é significativo e necessário para vivermos bem. • Esquecemos o que não tem mais relevância para o nosso viver. Ø Se as informações/experiências forem repetidas, a atividade mais frequente dos neurônios resultará em neuroplasticidade e produzirá sinapses mais consolidadas. Esse conjunto de neurônios associados numa rede é o substrato biológico da memória. Os registros transitórios (memória operacional) são transformados em registros mais definitivos (memória de longa duração). Ø Quando estuda apenas na véspera da prova, o aluno mantém as informações na memória operacional. Assim que as utiliza na prova, garantindo a nota, ele as esquece. Ø A consolidação das memórias ocorre, pouco a pouco, a cada período de sono. • Condições químicas cerebrais propícias à neuroplasticidade. • Enquanto dormimos, o cérebro reorganiza suas sinapses, elimina aquelas em desuso e fortalece as importantes para comportamentos do cotidiano do indivíduo. • Dormir pouco dificulta a memorização. Ø A formação de sinapses demanda reações químicas, produção de proteínas e tempo. Ø A aprendizagem requer reexposição aos conteúdos, diferentes experiências e complexidade crescente. Importância da espiral da aprendizagem. Ø Preservamos na memória o que é importante no cotidiano. Ø Esquecemos o que não tem mais valor, significado ou aplicação para nossa vida. 05/07/2012 4 Ø As emoções orientam a aprendizagem. Ø Neurônios das áreas cerebrais que regulam as emoções mantêm conexões com neurônios de áreas importantes para a formação de memórias. O desencadeamento de emoções favorece o estabelecimento de memórias. Aprendemos aquilo que nos emociona. Ø Aprender também depende as saúde em geral. • Exercícios físicos aumentam a quantidade de fatores neurotróficos que contribuem para a estabilização das sinapses e para a manutenção e formação de memórias. • Uma dieta balanceada possibilita o funcionamento das células nervosas, a formação de sinapses e a formação da mielina. Ø Cérebros adolescentes testam novos comportamentos visando selecionar habilidades, atitudes e conhecimentos proveitosos para a sobrevivência na idade adulta. Eles aprendem: • O que os motivam; • O que os emocionam; • O que desejam; • O que tem significado para seu cotidiano. Transformar o conteúdo programático de uma disciplina em algo relevante para o aprendiz é um grande desafio para o professor. Outros fatores que influenciam a aprendizagem Ø Privação de: • Material escolar adequado; • Ambiente para estudo em casa; • Acesso a livros e jornais; • Incentivo ou estímulo dos pais e/ou dos professores. 05/07/2012 5 Ø Pouca exposição a experiências sensoriais, perceptuais, motoras, motivacionais e emocionais. Ø Transtornos psiquiátricos como o TDAH e a depressão. Ø A dislexia e a discalculia são transtornos resultantes de organização cerebral diferente, com provável origem genética. • As crianças conseguem aprender, mas necessitam de estratégias alternativas de aprendizagem. • Seus cérebros utilizam caminhos ou circuitos neurais diferentes para atingir o mesmo aprendizado. Ø Fatores relacionados à comunidade, família, escola, ao meio ambiente em que vive o aprendiz e a sua história de vida interferem significativamente na aprendizagem. Ø Aspectos culturais, sociais, econômicos e as políticas públicas de educação também influenciam a aprendizagem. Aprendizagem Neuronal na Alfabetização Ø O SN humano é programado geneticamente para a aquisição/utilização da linguagem. Ø Não existem estruturas cerebrais específicas para a aprendizagem da linguagem escrita. • A evolução é um processo muito lento. • A escrita é uma invenção cultural, ocorrida a aproximadamente 5.000 anos. Ø A aprendizagem dos sistemas escritos é possível devido à neuroplasticidade. • O cérebro humano possui uma flexibilidade tal que lhe permite planejar como pegar um mamute ou escrever “Romeu e Julieta”. • O aparato biopsicológico de nossa espécie está apto à produção cultural. Ø O reconhecimento das palavras escritas é feito pelos neurônios, que precisam aprender a reconhecer: • Os traços invariantes que distinguem as letras entre si; • A constituição dos grafemas associados aos fonemas, que têm a função de distinguir significados; • Sua inserção em palavras e estas em textos significativos para o educando. 05/07/2012 6 Ø Os neurônios devem aprender a distinguir os traços que identificam a mesmaletra, independente de: • Seu tamanho; • Da caixa (MAIÚSCULA ou minúscula); • Da fonte (imprensa, manuscrita, itálico, negrito, sublinhado, etc.); • Da posição que ocupam na palavra. Ø Antes da aprendizagem da leitura e da escrita, a cadeia da fala é processada como um contínuo. • Não há percepção dos contrastes entre as unidades que compõe a sílaba. • É difícil identificar as palavras tais como estão separadas por espaços em branco no sistema escrito. Principais Dificuldades na Alfabetização Ø Os vocábulos átonos são pouco perceptíveis na cadeia da fala. Ø Esses vocábulos dependem fonologicamente (PB) do vocábulo seguinte. É importante trabalhar desde a Educação Infantil a percepção das distinções entre sílabas mais fortes e mais fracas. Ø Reanálise silábica – quando: • Um vocábulo termina com consoante e o seguinte começa com vogal; • Os dois fonemas (final/inicial) são iguais. Ex: Os ouvidos. Há contradição entre o que está escrito, com um espaço em branco, e o que é falado à /u – zow – ‘vi – duS/. Ø Ao processar um sinal luminoso, os neurônios são programados para simetrizar a informação. • O sistema visual deve reconhecer as formas básicas da natureza, independente das variantes que o olhar capta (distância, ângulo de visão, luz e sombra, parte e todo, etc.). Na alfabetização essa percepção tem que ser refeita. A diferença entre traços na esquerda/direita ou acima/abaixo é fundamental para a distinção das letras. (Ex: d/b, q/p, M/W, u/n, etc.) Ø O reconhecimento dos traços que diferenciam as letras deve ser trabalhado sempre com os valores que uma ou duas letras (grafemas) têm de representar os fonemas, ambos para distinguir significados. Princípios Neurais na Alfabetização Ex: Dois traços verticais (esq/dir) acrescentados a letra V permitem distinguir VALA de MALA. 05/07/2012 7 Ø Devemos sempre pronunciar a palavra e, se possível, produzir o som isolado de [v] e [m], associados aos respectivos grafemas V e M. Ø Devem ser ativadas outras regiões cerebrais, de reconhecimento tátil, motor e cinestésico, acompanhando a direção do movimento da letra. Ø As letras não devem ser ensinadas sozinhas e muito menos por seu nome. Ø Quanto mais associações forem feitas entre as diferentes regiões cerebrais que processam a linguagem, mais rápida e profunda será a aprendizagem. Devemos associar ao reconhecimento visual da letra e ao seu valor sonoro gestos que acompanhem o traçado da letra. à Ex: Montessori. Ø A alfabetização deve instrumentar o indivíduo, tornando-o apto a ler, compreender, refletir sobre e incorporar os conhecimentos veiculados pelos textos escritos que circulam socialmente. Além da fluência na decodificação dos signos linguísticos, é fundamental a alfabetização para o letramento. Ø A alfabetização integrada aproveita todos os espaços e tempos disponíveis para o ensino- aprendizagem da direção dos traços que diferenciam as letras entre si, da constituição dessas em grafemas associados aos seus respectivos valores, os fonemas, ambos com a função de distinguir significados, portanto inseridos em palavras e estas em textos significativos para o educando. Isso implica na utilização de todas as disciplinas e atividades de socialização, entrosadas de forma coerente em torno de um eixo temático com um objetivo comum. Matemática e Cérebro Humano Ø Assim como na linguagem oral, há estruturas cerebrais especializadas no pensamento matemático básico. • A habilidade de distinguir quantidades e realizar cálculos elementares é inerente a bebes humanos e a vários animais, como pássaros, ratos e primatas. • Para executar tarefas complexas para as quais não foi preparado pela evolução (como multiplicações com dois dígitos), o cérebro recruta uma vasta rede de áreas cerebrais. 05/07/2012 8 Ø Devido a sua estrutura cerebral, os animais estão restritos a uma aritmética aproximada. Ø O conceito de número é uma invenção cultural, e nunca parou de evoluir. Ø As crianças aprendem matemática na escola com um cérebro “desenhado” para sobreviver num planeta primitivo. Ø A matemática cognitiva é uma especialização muito recente da neuropsicologia. São necessários ainda muitos estudos para que ela influencie adequadamente a educação. Apesar dos grandes avanços das neurociências, o conhecimento dos mecanismos responsáveis pelos processos de aprendizagem ainda é muito pequeno. DILEMA – Como o conhecimento neurocientífico pode contribuir AGORA para melhorar as práticas educativas. Através da utilização dos princípios da NEUROEDUCAÇÃO como instrumentos de análise e validação das práticas educativas. Princípios da Neuroeducação Relativos a cada aprendiz, individualmente: a) estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; b) stress impacta [o] aprendizado; c) ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; d) estados depressivos podem impedir [o] aprendizado; e) o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não- ameaçador; f) as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., intenções boas ou más); g) feedback é importante para o aprendizado; h) emoções têm papel-chave no aprendizado; i) movimento pode potencializar o aprendizado; j) humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; k) nutrição impacta o aprendizado; l) sono impacta consolidação de memória; m) estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; n) diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos. 05/07/2012 9 Princípios gerais, que podem ser seguidos em qualquer prática educativa: a) cada cérebro é único e unicamente organizado; b) cérebros são especializados e não são igualmente bons em tudo; c) o cérebro é um sistema complexo, dinâmico e em modificação diária, pelas experiências; d) cérebros são considerados “plásticos” e continuam a se desenvolver ao longo de suas vidas; e) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de se auto-corrigir e aprender pela experiência, através da análise de dados e auto- reflexão; f) a busca por sentido é inata na natureza humana; g) a busca por sentido ocorre através de “padronizações”; h) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de detectar padrões e fazer aproximações para aprender; i) emoções são críticas para detectar padrões; j) aprendizado é baseado em parte na capacidade do cérebro para criar; k) aprendizado é potencializado pelo desafio e inibido pela ameaça; l) o cérebro processa partes e todo simultaneamente (é um processador paralelo); m) cérebros são projetados para flutuações mais do que atenção constante; n) aprendizado envolve tanto atenção focada quanto percepção periférica; o) o cérebro é social e cresce na interação (tanto quanto na reflexão pessoal); p) aprendizado sempre envolve processos conscientes e inconscientes; q) aprendizado é desenvolvimental; r) aprendizado recruta a fisiologia completa (o corpo impacta o cérebro e o cérebro controla o corpo); s) diferentes sistemas de memória (curto prazo, de trabalho, longo prazo, emocional, espacial, de hábito) aprendem de formas diferentes; t) informação nova é arquivada em várias áreas do cérebro e pode ser evocada através de diferentes rotas de acesso; u) o cérebro recorda melhor quando os fatos e habilidades são integrados em contextos naturais; v) Memória + Atenção = Aprendizado.
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