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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Aspectos Legais da Computação Forense Aspetos Legais da Computação Forense Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Elizabete Bucci Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • A Computação Forense; • Legislação Digital; • A Padronização na Busca de Evidências; • O Papel do Perito Judicial e do Assistente Técnico; • A Responsabilidade do Perito Judicial. Fonte: Getty Im ages Objetivos • Compreender e abordar os aspectos legais que envolvem a computação; • Compreender a legislação correspondente aos atos praticados no ambiente virtual. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Aspetos Legais da Computação Forense UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense Contextualização Comumente, temos notícias de apreensões de equipamentos eletrônicos que serão periciados na busca de evidências para formação da prova em uma investigação. O papel do profissional da computação forense tem sido essencial nos dias atuais, crescendo a cada dia o mercado de trabalho. Assim, vamos iniciar os estudos compreendendo as questões legais que envolvem a computação forense. 6 7 Introdução A sociedade está em constante mudança por diversos fatores de influência e que nos exigem a desenfreada adaptação ao novo. Um dos fatores que trazem a frequen- te mutação no comportamento social decorre do crescimento do mundo digital e de todas as ações ali realizadas. Cada vez mais o indivíduo está totalmente interligado ao ambiente virtual, seja por meio de redes sociais e por questões de trabalho, como tam- bém pelas simples atividades cotidianas, tais como pagamento de contas, compras em lojas e até mesmo compras em supermercado, que são realizadas através da internet. As atividades praticadas em ambiente virtual estão cada vez mais comuns, gerando consequências inevitáveis por diversos motivos, pois o indivíduo se esquece das regras de conduta e de convívio que devem ser respeitadas no meio social, bem como tem a falsa impressão de segurança com a imagem, identidade e dados. Em decorrência do aumento de atividades no mundo digital, também crescem progressivamente os chamados “crimes virtuais”. Não podemos esquecer que todas as ações praticadas em ambiente virtual geram consequências no mundo físico, havendo necessidade da regulamentação de conduta. Embora no Brasil não tenha legislação própria suficiente que trate de questões geradas pelo mundo virtual, há normas reguladoras que estudaremos nesse componente. Por inúmeras razões, cada vez mais a computação forense tem ganhado espaço no mercado de trabalho, pela peculiaridade da relação entre a ciência da computação e ciência jurídica. Figura 1 Fonte: Getty Images 7 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense A Computação Forense A computação forense é a atividade técnica-científica capaz de colher informações que permitam identificar atividades realizadas dentro de um ambiente virtual, eviden- ciando os elementos necessários para a elucidação de fatos. Atualmente esta atividade é de sua importância, por ser auxiliar na busca da verdade, auxiliando a Justiça. Você consegue identificar quais são estes elementos evidenciados pela computação forense? Ao contrário do que se imagina, a computação forense não está ligada somente a crimes praticados no ambiente virtual, mas sim a toda vez que envolver aparelhos que armazenam dados, tais como computadores, celulares, câmeras digitais, secretárias ele- trônicas, scanners, GPS, etc. Por exemplo, duas empresas realizam negócio através de correspondência eletrônica e de alguma forma esta negociação desaparece do ambiente virtual de uma delas. Em uma ação judicial de natureza cível em que se busca discutir a transação realizada entre as empresas, depender-se-á de um profissional da computação que consiga restaurar essas informações, que servirão de prova da negociação realizada. Se estas informações restauradas forem questionadas por uma das partes, ou gerar dú- vida ao juiz, poderá ser determinada a prova pericial da computação forense, em que o perito irá apurar e validar as informações trazidas no processo. Muito bem, o profissional da computação forense deve se ater a responder as se- guintes indagações: O que foi feito? Quem fez? Como fez? Quando fez? Onde fez? O perito precisa identificar as ações efetivamente praticadas, declinando exata- mente o que foi feito, ou seja, cada ação realizada. Ex.: invadiu, alterou, publicou, etc. Evidenciar a ação exata praticada é de sua importância para um processo judicial. Para cada ação realizada, precisa ser identificado quem efetivamente a praticou, ou seja, o autor. Se houve mais de uma pessoa envolvida, deve ser identificado detalha- damente quem fez o quê. No laudo, precisamos descrever os meios utilizados na ação praticada, explicando exatamente como foi feito, de acordo com as informações obtidas. Lembre-se de que o juiz e as partes de um processo, via de regra, devem ser considerados leigos na área da computação, portanto a escrita deve ser a mais clara possível, traduzindo-se os termos técnicos. 8 9 Figura 2 Fonte: Getty Images Deverão, ainda, ser delimitados o dia e a hora em que se realizou a ação periciada. Se o ato foi praticado em ato contínuo ou em etapas, o perito tentará identificar, se possível, os instantes em que cada ato ou sequencial ocorreu. Identificar o tempo em que a ação foi praticada se faz necessário, na medida em que a legislação processual prevê prazo prescricional diferenciado para as condutas previstas, portanto tal identi- ficação é necessária para saber se o direito está protegido ou se a conduta é caracteri- zada como crime, podendo gerar ou não pena ao seu autor, o que dependerá também da constatação do tempo. Prescrição: é a perda da exigibilidade de um direito pelo decurso do tempo em que será aplicada de acordo com a natureza da ação ou da conduta praticada tipificada como crime. Importante informar ainda qual o local em que o ato foi praticado, localização ter- ritorial da pessoa, do servidor, etc. A identificação do local em que o ato foi praticado pode gerar alteração na legislação a ser aplicada. Se o perito conseguir identificar o motivo e/ou a intenção que deu origem à prática do ato, este também deverá ser descrito. Imagine a seguinte situação: um indivíduo resolve utilizar-se de uma conta e perfil fictício para publicar informações sigilosas sobre uma empresa. Embora seja pos- sível de imediato, por simples exclusão, identificar possíveis pessoas que poderiam ter praticado este ato, posto que a informação sigilosa deveria, via de regra, ser de conhecimento de uma ou poucas pessoas, não se pode afirmar de fato que um destes detentores da informação o tenha feito. Neste caso, seria necessário um profissional da computação, que, utilizando-se das ferramentas adequadas e do seu conhecimento em perícia, possa, de fato, encontrar vestígios ou evidências que permitam chegar,dentre outras respostas, a indícios sobre o ato praticado e ao sujeito responsável pela divulgação das informações. 9 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense Importante compreender que juridicamente os termos vestígio, indício e evidência têm definições diferentes: • Vestígio: qualquer marca, fato, sinal, material que seja detectado no local onde o ato foi praticado, que ao ser relacionado com o ato criminoso, pode se tornar uma evidência. • Indício: é a circunstância que não tem relação com o fato, mas que por sua existência, permite, por indução, concluir a existência de outra. Na legislação penal, este termo é utilizado na fase processual. O indício será o formado pelo conjunto de evidências e de- mais provas obtidas nos autos, como, por exemplo, a testemunha. • Evidência: é toda informação encontrada que efetivamente ajuda na formação da prova da existência de um ato ou de sua autoria. Indício, vestígio, evidência e prova: https://youtu.be/OZhl3043JoY Um dos problemas na computação forense é que nem sempre o profissional pode- rá aplicar o mesmo método de coleta de evidências, posto que há diferentes sistemas operacionais, diferentes mídias, etc. O profissional, ao iniciar seus trabalhos de perícia, encontra inúmeros vestígios, que após análise conjunta se tornarão ou não evidência digital. A evidência digital é definida por Patrícia Peck Pinheiro1 como: “toda a informação ou assunto criada e sujeita, ou não, a intervenção humana, que possa ser extraída de um computador ou de qualquer outro dispositivo eletrônico. Além disso, a evidência digital sempre deverá estar em formato de entendimento humano.” A evidência digital deve obedecer a alguns critérios e deve ter sido adquirida por meios legais, no caso, com expressa autorização judicial, para ser apresentada em um laudo. Para uma evidência digital ser aceita, esta deve ter: • Admissibilidade: deve estar em condições de ser usada no processo, obtida de forma legal. O nosso sistema judiciário somente admitirá provas obtidas por meios ilícitos em casos extremamente excepcionais, como no caso de absolver um réu. Prova ilícita é aquela obtida, por exemplo, de forma irregular, contrária ao previsto na lei, ou que infrinja dispositivo legal. • Autenticidade: deve ser demonstrado de forma inequívoca como a evidência foi obtida e o nexo de causalidade, ou seja, a ligação entre a evidência encontrada e o ato praticado ora investigado. • Confiabilidade: devem ser demonstrados os procedimentos de coleta e de aná- lise dos resultados, não se deve gerar dúvidas sobre sua veracidade e tampouco levar à ambiguidade nos resultados. • Credibilidade: clara, de fácil compreensão. 1 PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 279. 10 11 Toda investigação terá início com base em evidência e outras informações coletadas. O processo judicial aceita diversos tipos de provas sem que haja uma hierarquia entre elas, no entanto é fato que uma prova pericial tem uma força específica por se tratar de prova objetiva, obtida através de um profissional especializado na matéria. Partindo deste princípio, vamos avançar nos estudos abordando a evolução das nor- mas que vão disciplinar as atividades no mundo virtual. Legislação Digital Como já falamos, o ordenamento jurídico carece de mais legislação específica para o mundo digital. De início, para resolver questões relacionadas à internet, o meio jurídico tinha que se socorrer a normas não específicas existentes, mas deixando muitas vezes diversos atos praticados sem qualquer respaldo legal. A Constituição Federal, também conhecida como Carta Magna ou Lei Maior, era constantemente aplicada, principalmente no que se referia aos princípios ali declarados, mas, também, por ser a norma de maior força dentro do nosso sistema jurídico, não podendo nenhuma outra lei estar em conflito com esta. O artigo 5º da Constituição Federal é o dispositivo que garante a todos os seus di- reitos fundamentais. Dentre eles, podemos encontrar a proteção aos dados, conforme assim dispõe: Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na- tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações te- legráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabele- cer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Somente no ano de 2014 foi publicada a Lei nº. 12.965/14, conhecida como Marco Civil. É considerada a primeira lei exclusivamente dedicada à regulamentação geral do uso da internet, estabelecendo os princípios, garantias, direitos e deveres. É importante salientar que o profissional da computação forense precisa compreen- der o funcionamento das normas jurídicas, o seu alcance no tempo e no espaço, para que possa efetivamente realizar as averiguações necessárias e apresentar um parecer ou um laudo pericial adequado. O artigo 7º da referida Lei assegura os direitos aos usuários da internet, dentre eles: 11 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense • A inviolabilidade da intimidade e da vida privada: o indivíduo não pode ser ex- posto no mundo virtual sem o seu consentimento. Assim, se alguém, por exemplo, publica fotos de uma pessoa de roupas íntimas estará violando sua intimidade e sua vida privada; • Inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet e de suas comunicações privadas armazenadas: a regra é que as informações obtidas de usuários não poderão ser expostas, salvo por ordem judicial; • Não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; • Informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finali- dades que justifiquem sua coleta, ou não sejam vedadas pela legislação, ou, ainda, estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet. Poderá haver o consentimento para o uso e coleta de dados, desde que com a anuência do usuário; • Exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei. A referida legislação se preocupou ainda em apresentar sanções específicas para o caso de seu descumprimento, além das civis, penais e administrativas já existentes, podendo ser de advertência com medidas corretivas, multa, suspensão temporária ou proibição do exercício de atividades específicas. Em se tratando de requisição judicial, o Marco Civil, em seu artigo 22, tratou de pre- ver a possibilidade de sua utilização em processo judicial civil ou penal, podendo o juiz ordenar ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de acesso a aplicações de internet, preservando a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem do usuário, podendo determinar, inclusive, o segredo de justiça. Figura 3 Fonte: Getty Images 12 13 O Marco Civil trouxe: • Neutralidade no tráfego de dados na rede; • Censura de conteúdo digital; • Responsabilidade civil do internauta e das empresas de internet; • Proteção e o sigilo de dados de navegação; • Garantia dos direitos autorais digitais. Lei do Marco Civil: https://youtu.be/crgi3LfMTq0 Mas não podemos esquecer que a lei nº 9.609/1998, conhecida como Lei do Software, trouxe a proteção e registro dos direitos do autor de propriedade intelectual. No ano de 2012, entrou em vigor a Lei 12.735/12, que passou a tipificar as condu- tas realizadasmediante uso de sistema eletrônico digital ou similares, praticados contra sistemas informatizados e similares. No mesmo ano, foi publicada a lei federal nº. 12.737/12, que alterou o Código Penal e passou a tipificar como crime a invasão de aparelhos eletrônicos, introduzindo o artigo 154-A: Art. 154 - CP - Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanis- mo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositi- vo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. § 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qual- quer título, dos dados ou informações obtidos. § 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for pratica- do contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; 13 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, esta- dual, municipal ou do Distrito Federal. A Lei nº. 12.737/12, que tipificou como crime a invasão de aparelhos eletrônicos, ficou co- nhecida como Lei Carolina Dieckmann, por ter sido o projeto de lei votado em decorrência da situação vivenciada pela própria atriz. Tipificar: caracterizar; no âmbito jurídico, significa tornar crime uma conduta, descreven- do com precisão a ação (verbo) praticada, que passa, a partir de então, a ser caracterizada como crime. Importante ainda observar o Decreto nº 7.962/2013, que regula o comércio eletrô- nico. O objetivo desta lei é garantir maior segurança aos consumidores frente aos for- necedores que se utilizam desta modalidade de comércio, que cresce vertiginosamente. Verificamos que as ações praticadas no ambiente virtual trazem inúmeras dificulda- des de análise, principalmente para identificação do usuário, bem como, muitas vezes, para determinação da norma de qual País deverá ser aplicada, em decorrência da terri- torialidade. Melhor explicando, imagine um usuário brasileiro que viaja em férias para outro País e lá, utilizando-se do seu pacote de dados, cuja operadora está no Brasil, mas através de um acordo de transmissão com a empresa servidora local, pratica um crime digital. A territorialidade entraria em conflito. Neste caso, o profissional da computação forense deverá apenas analisar e relatar detalhadamente de que forma e onde ocorreu o ato praticado pelo usuário, cabendo ao juiz determinar a norma de qual País deverá ser aplicada. A Padronização na Busca de Evidências Para realização da investigação computacional forense, é necessária a criação de padrões na busca de evidências computacionais. Alguns padrões estão sendo realizados de forma experimental. O SWGDE (Scientific Working Group on Digital Evidence), criado em 1998, segue como princípio que todas as organizações que lidam com a investigação forense devem garantir uma alta qualidade, assegurando a exatidão das evidências. No Brasil, a instituição CAIS (Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança) tem por missão o registro de problemas de segurança, auxiliando na identificação de invasores e reparo de danos causados por invasores. Realiza, ainda, a política de ações preventivas à segurança de redes. 14 15 O que vivenciamos atualmente é a autorregulamentação através de uma via paralela de regulamentação, realizada principalmente pelos provedores de serviços de acesso à internet, que têm editado algumas normas de forma padrão, mas, claro, respeitando as normas legais vigentes. O Papel do Perito Judicial e do Assistente Técnico Perito Judicial é o especialista, o profissional técnico ou científico nomeado por um juiz e sob sua inteira confiança, que auxilia a justiça na busca de evidências que serão provas de um fato. Figura 4 Fonte: Getty Images O exercício da perícia forense, em geral, poderá ser realizado por perito oficial, que é o profissional investido em um cargo mediante concurso, ou mais comumente por profissional com formação de curso superior, mediante a inscrição perante o Tribunal do seu Estado. É importante ressaltar que a atividade a ser exercida pelo perito judicial somente pode ocorrer mediante expressa autorização judicial, não podendo ir além do que auto- rizado, sob pena de infringir a lei, especificamente a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inc. XII. A atuação do perito está expressamente prevista em lei, sendo suas atribuições regu- ladas principalmente no Código de Processo Civil e Código de Processo Penal, os quais serão utilizados de acordo com a natureza de um processo judicial. O perito terá como atribuição apresentar o laudo pericial com as solicitações es- pecíficas ao processo, dentro do prazo legal, devendo, ainda, responder a quesitos apresentados pelas partes. Se necessário, apresentará laudo complementar com escla- recimentos eventuais. 15 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense O perito judicial na área de computação forense deve dar seu posicionamento conclusivo levando em consideração sua opinião? Via de regra, o perito judicial na área da computação forense deve buscar evidências que provem o fato, ficando adstrito à materialidade, ou seja, ao que pode ser constatado e demostrado e não a uma suposição. É importante esclarecer que o perito deve ater-se somente ao que está sendo soli- citado no processo judicial, devendo abster-se sobre evidências alheias. Por exemplo, suponha que um perito judicial foi solicitado em um processo para que sejam analisadas e identificadas em um computador evidências do crime de pedofilia. Ao buscar por es- sas evidências, encontra no computador evidências de que o usuário também enviava ilegalmente dinheiro para fora do País. Ele não deve apresentar em seu laudo nenhuma informação alheia ao processo, podendo gerar confusão em vez de esclarecer os fatos, objeto da prova pericial. O mesmo não ocorreria se essa remessa ilegal de dinheiro fos- se, por hipótese, para compra de imagens associadas ao crime, objeto real do processo. Lembre-se de que a função do perito é apresentar fatos evidentes, ajudando a esclarecer o fato ao formar a prova, portanto precisa descrever detalhadamente o processo realizado para conseguir obter o resultado, bem como demonstrar exata- mente os atos praticados, identificando, se possível, os elementos necessários, como já descrito anteriormente. O perito assistente é o profissional que tem como função analisar os fatos e dar nova conclusão de ordem técnica, concordando ou não com o perito judicial, permitido, as- sim, uma dupla confirmação do resultado ou, ainda, a instauração de um contraditório para que o entendimento de um não seja de caráter absoluto, tendo em vista tratar-se de um profissional, porém, passível de falha como qualquer outro. Assim, a indicação de um perito assistente é de suma importância, trazendo maior segurança e eficiência à prova pericial. Sua função é acompanhar o andamento da pe- rícia, apresentar sugestões, apresentar hipóteses possíveis, desdeque técnica e juridica- mente sustentáveis, e criticar ou concordar com o laudo apresentado pelo perito judicial. A responsabilidade do assistente técnico da computação forense estará ligada à parte processual que o contratou e não propriamente ao juízo, não tendo as mesmas atribui- ções e responsabilidades que o perito judicial. A Responsabilidade do Perito Judicial Assim como todo auxiliar da justiça, o perito também tem fé pública, que significa a credibilidade que lhe é dada por toda a coletividade que o Poder Judiciário ali representa, considerando verdadeiras as informações prestadas pelo chamado expert, bem como as afirmações dali decorrentes. Para o exercício da função, os peritos prestam compromisso perante a Justiça de bem a fielmente desempenhar o seu cargo. 16 17 Por esta razão, o perito será responsabilizado criminalmente por informações inve- rídicas prestadas, seja por dolo ou culpa, sendo que a perícia falsa está tipificada como crime no artigo 342 do Código Penal: Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judi- cial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Figura 5 Fonte: Getty Images Estará ainda sujeito à responsabilidade civil, podendo ser condenado no dever de indenizar por prejuízos causados, além de ficar inabilitado a prestar outras perícias. O perito judicial, no exercício de sua função pública, é um servidor público, portanto sujeito às regras de conduta. Sendo assim, fica totalmente impedido de pedir ou receber qualquer vantagem, dinheiro, presentes ou ajuda de custo de quaisquer partes de um processo, sob pena de responder pelo crime de corrupção ativa ou, mais comumente, passiva, conforme previsto nos artigos 317 do Código Penal: CP - Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 17 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofí- cio, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Figura 6 Fonte: Getty Images Assim, o perito não pode pedir um “cafezinho” ou uma “caixinha” ou, ainda, “ajuda de custo” para entregar o laudo, ou agilizar, atrasar, passar na frente, mudar conclusão, etc. Outro aspecto importante a ser observado é que a metodologia deve ser correta e a mais adequada, que traga a prova inequívoca do que se pede. Por mais óbvio que possa parecer, no direito penal a premissa utilizada é o chamado “in dubio pro reo”, ou seja, na dúvida sobre se o fato ocorreu ou, ainda, sobre a autoria de quem o cometeu, deve-se absolver o réu. Para exemplificar: em certo processo em que o indivíduo estava sendo processado por crime de violação de direito autoral, por ter sido detido com milhares de unidades de CD´S e DVD ś constando alguns encartes iguais aos de CD ś de cantores, foi designada perícia sobre os objetos de armazenamento para identificação da “pirataria”, configurando a violação do direito autoral. O perito, por óbvio, ao verificar os elementos encontrados, CD ś DVD ś, encartes, concluiu pela configuração do crime. Resultado: em fase de recurso, o réu foi absolvido por falta de prova... Como isso ocorreu? A análise do aspecto externo por si só pode induzir, mas não prova a violação. Para que isto ficasse demonstrado, era necessário que o perito fizesse a análise real que aconteceria com a simples escuta do CD ou DVD, comprovando que o áudio e/ou imagem ali estava gra- vado. Note-se que o fato de o indivíduo ter sido absolvido não foi por ser considerado inocente, mas sim por não haver prova nos autos que demonstrassem a ação tipifica- da como criminosa. Lembre-se de que por mais óbvios que possam parecer, em um processo-crime os fatos precisam ser evidenciados e não deduzidos. O perito deve compreender a importância do seu trabalho para a justiça e deve cumprir as determinações e prazos especificados. Se o perito, sem motivo justificado, não apresentar seu laudo dentro do prazo legal estabelecido, poderá ser destituído do processo em que estava nomeado como perito, além da perda da confiança do juízo, 18 19 que poderá deixar de nomeá-lo em outros. Em situações mais graves, o perito poderá responder por crime de desobediência, previsto no artigo 330 do Código Penal, com pena prevista de detenção de 15 dias a seis meses e multa. Cabe ainda a responsabili- dade pela prática do crime de prevaricação: CP - Art. 319: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa. Figura 7 Fonte: Getty Images Não podemos esquecer que o perito judicial nomeado estará em função pública, por- tanto será equiparado ao servidor, respondente por crime funcional. Por outro lado, ao serem apresentados o laudo e eventuais esclarecimentos solicita- dos, diante das circunstâncias encontradas na perícia, o perito pode ser chamado para comparecer no ato da audiência em juízo. Em dia e hora determinados para instrução processual, que é a fase processual onde há a colheita de todas as provas para elucida- ção do processo, o profissional da computação forense comparecerá e responderá às indagações do magistrado. A computação forense é a atividade que permite maior clareza nas ações praticadas no mundo digital e a cada dia será mais utilizada, não só pelo Poder Judiciário na busca da verdade dos fatos apresentados em uma demanda judicial relacionados ao mundo digital, mas também como medida efetiva de prevenção e proteção da sociedade. O perito deve ter domínio técnico na sua área, porém deve, ainda, ter certo conhecimento sobre a legislação existente em nosso ordenamento jurídico. Enfim, pudemos verificar que a perícia é uma atividade nobre e atualmente de grande im- portância para a sociedade, mas que exige compromisso e responsabilidade do profissional na prática desta atividade, podendo ser responsabilizado administrativa, civil e criminal- mente por condutas irregulares. 19 UNIDADE Aspetos Legais da Computação Forense Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Computação Forense COSTA, Marcelo Antonio Sampaio Lemos. Computação forense. 2ª ed. Campinas: Millennium, 2003. Perícia Forense Computacional FARMER, Dan; VENEMA, Wietse. Perícia forense computacional: teoria e prática aplicada - como investigar e esclarecer ocorrências no mundo cibernético. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. Direito Digital PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Vídeos Marco Civil da Internet – Conexão Futura – Canal Futura https://youtu.be/m2Hb6YbGkyo 20 21 Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 mar. 2019. BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em: <http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>.Acesso em: 27 mar. 2019. BRASIL. Decreto-lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 27 mar. 2019. COELHO, Rodnei. Crimes virtuais com consequências reais. E-book. Edição digital. Saraiva, 2013. PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 32ª ed. São Paulo: Ed. Forense, 2013. VADE MECUM. 26ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. VELHO, Jesus Antonio. Tratado de computação forense. São Paulo: Millennium Editora, 2016. 21
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