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APOSTILA PARA O CONCURSO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO CÂMARA Assunto: HISTÓRIA DO MUNICÍPIO Autor: ALDO TORQUATO (Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN) APRESENTAÇÃO Com o objetivo de contribuir para que você tenha sucesso no Concurso Público que se aproxima, elaborei uma CONDENSAÇÃO da história do nosso município, haja vista que, pelo menos, 5% (cinco por cento) das questões versarão sobre esse tema. Aliás, diga-se de passagem, que tal exigência decorre de um projeto de lei de minha autoria, quando vereador, disciplinando o Concurso Público em nosso município, o qual resultou na Lei Municipal no. 347/2011, cuja lei, além desse, trata de diversos outros aspectos ligados ao Concurso Público, objetivando sua lisura e participação democrática de todos que desejarem a ele se submeter. Feito esse trabalho, que agora concluo, vou postá-lo nas redes sociais, a fim de que todos tenham a ele acesso. Uma última observação: espero que as questões que vierem a cair no Concurso sejam aquelas sob as quais não pesam nenhum questionamento, ou seja, que sejam fatos adotados unanimemente pelos historiadores, a fim de evitar questionamentos judiciais, que podem, inclusive, anular tais questões. BOA SORTE para todos! João Câmara, 24 de setembro de 2019. Aldo Torquato BIOGRAFIA ALDO TORQUATO Aldo Torquato nasceu no dia 03 de fevereiro de 1951, em Baixa- Verde (atual João Câmara), na rua Capitão José da Penha, antigamente conhecida como rua do Motor. É o segundo filho do casal Abdon Torquato da Silva e Tereza Gomes da Silva. Casado com Rosângela Lúcia da Câmara Torquato, é pai de três filhos: Pedro Severo, Nirvana e Mariana. Fez o curso primário no Grupo Escolar Cap. José da Penha e o ginasial no Colégio João XXIII, ambos em João Câmara. Deslocando-se para Natal no ano de 1966, cursou o clássico na Escola Estadual Padre Miguelinho e prestou vestibular para o curso de direito da UFRN no ano de 1969. Formou-se bacharel em Ciências Jurídicas em 1973. Desde então, exerce a advocacia, com um breve intervalo durante o período em que ocupou a Prefeitura Municipal da sua terra. Com pendores para o magistério, foi professor de diversos colégios em Natal e Diretor das Escolas Estaduais Cap. José da Penha e Francisco Bittencourt, em João Câmara, além de professor do Colégio João XXIII. Foi vereador por cinco (05) vezes 1971-1973, 1973-1977, 1993- 1996, 2009-2012 e 2013-2016. Ocupou a Presidência da Câmara Municipal nos anos de 2009 e 2010. Por haver assumido o seu primeiro mandato de vereador aos 19 anos de idade, ainda hoje é o mais novo vereador da história do município. De 31 de janeiro de 1977 a 31 de janeiro de 1983 exerceu o cargo de Prefeito de João Câmara, sendo o primeiro prefeito filho da terra a assumir tal cargo. Na época, com apenas 25 anos de idade, era o mais novo prefeito da história do município de João Câmara. Ainda hoje é o único cidadão a exercer os cargos de Prefeito e Presidente da Câmara, em caráter efetivo e com mandatos eletivos. No campo profissional, atuou como Procurador Jurídico de diversos municípios do Rio Grande do Norte, tendo atuação destacada por ocasião da elaboração de suas Leis Orgânicas. Foi, também, Procurador da URBANA e Assessor da Superintendência da LBA – Legião Brasileira de Assistência, em Natal. Foi Coordenador Jurídico do Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte – IGARN. Atualmente, é Secretário Municipal de Obras, Transportes e Urbanismo da Prefeitura Municipal de João Câmara. Tem escritório na capital do estado e em João Câmara, onde exerce a advocacia no campo do direito municipal, trabalhista e de família. DATAS MAIS SIGNIFICATIVAS SÉCULO XIX (ainda no Brasil Império) - Formação dos primeiros povoados: Baixa-Verde (atual Assunção), Amarelão e Cauaçu 08 de março de 1895 – Nascimento de João Severiano da Câmara, em Boa Vista, município de Taipu. 12 de outubro de 1910 – Inauguração da Rede Ferroviária, com a presença do governador do Estado, Alberto Maranhão, grande comitiva, e o proprietário da empresa GOUVEIA & PROENÇA, construtora da estrada, dr. JOÃO PROENÇA. Logo em seguida, é designado o Dr. Antônio Proença, irmão de João Proença, para dirigir os trabalhos de construção do trechos seguintes – Esta data é considerada o marco da Fundação do povoado de Baixa-Verde (nova), conforme a Lei Municipal nº 272/2008 06 de junho de 1914 - Chegada de João Severiano da Câmara a Baixa-Verde 02 de junho de 1915 – Nascimento de Gumercindo Saraiva, patrono da Cultura em nosso município. Dia municipal da Cultura pela Lei Municipal no. 64/2001. 1915 – Construção da Capela Nossa Senhora Mãe dos Homens pelo Dr. Antônio Proença e sua esposa D. Malvina (atual capela Nossa Senhora de Fátima) 26 de dezembro de 1927 – Inauguração do Grupo Escolar Cap. José da Penha 25 de março de 1928 – Fundação do Baixa-Verde Futebol Clube 29 de outubro de 1928 – Emancipação política do município de Baixa-Verde – Lei Estadual nº 697 – Feriado Municipal 25 de novembro de 1928 – Eleição em Pureza (então município de Touros) do Prefeito e dos Intendentes (vereadores) de Baixa-Verde 1º de janeiro de 1929 – Posse do primeiro Prefeito, João Severiano da Câmara, e dos primeiros Intendentes (vereadores) 13 de novembro de 1929 – Criação da Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens 11 de junho de 1935 – Criação da comarca – Lei estadual nº 852 24 de novembro de 1935 – Intentona comunista 12 de dezembro de 1948 – Falecimento de João Câmara - Feriado Municipal 19 de novembro de 1953 - Mudança do nome do município para João Câmara – Lei Estadual nº 899. 13 de fevereiro de 1958 – Chegada do padre Luiz Lucena Dias 1970 – Inauguração da energia elétrica de Paulo Afonso – administração do prefeito Manoel Anacleto, sendo governador do estado o Mons. Walfredo Gurgel 15 de novembro de 1976 – Eleição, aos 25 anos de idade, do advogado Aldo Torquato da Silva, o primeiro prefeito filho da terra e até então o mais novo a se eleger prefeito. 09 de dezembro de 1977 – Inauguração do telefone pelo sistema DDD – Discagem Direta à Distância – administração do prefeito Aldo Torquato, sendo governador do estado o Dr. Tarcísio Maia 29 de outubro de 1978 – Comemoração do cinqüentenário de emancipação política – administração do prefeito Aldo Torquato 29 de outubro de 1982 – Inauguração do Abastecimento D’Água - administração do prefeito Aldo Torquato, sendo governador do estado o Dr. Lavoisier Maia Sobrinho 30 de novembro de 1986 – Ocorrência do maior terremoto: 5,1 na escala Richter – posterior visita do então Presidente da República, José Sarney ao município 18 de novembro de 1995 – Decretada a Intervenção Estadual em João Câmara. Afastamento do prefeito José Ribamar Leite, sendo nomeada interventora a senhora Mônica Dantas 01 de janeiro de 2005 – Toma posse, como primeira prefeita eleita do município, a senhora Maria Gorete Leite, que vencera as eleições municipais de 03 de outubro de 2004 20 de agosto de 2009 – Inauguração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRN 12 de outubro de 2010 – Data comemorativa do Centenário de Fundação de Baixa-Verde (nova) 29 de dezembro de 2017 – Falecimento do monsenhor Luiz Lucena Dias BREVE RESUMO DA HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE JOÃO CÂMARA DESDE OS TEMPOS DE BAIXA-VERDE, ATÉ OS DIAS ATUAIS (Texto publicado na Revista do Instituto Histórico de Geográfico do Rio Grande do Norte, ed. Julho 2019, revisado e ampliado) Desde os meados do século XIX, ainda quando o Brasil era império, já havia registros da existência de uma pequena povoação no interior do município de Ceará- Mirim com o bucólico nome de Baixa-Verde, localizado à oeste, adentrandoao sertão. Com a emancipação do distrito de Taipu em 1891, desmembrando-se de Ceará-Mirim, Baixa-Verde passou a ser distrito do novo município. No ano seguinte, por ocasião da eleição do primeiro prefeito de Taipu, uma das seções eleitorais funcionou na localidade Baixa-Verde, mais precisamente na residência do cidadão Affonso Teixeira de Oliveira. No ano de 1895, relatório do governo estadual aponta a existência de dois açudes no município de Taipu, sendo um na vila e outro no distrito de Baixa-Verde. No campo educacional, já no ano de 1901 encontra-se o registro de duas professoras no município de Taipu, sendo uma delas em Baixa-Verde, onde também havia um posto policial, com o cargo de sub-delegado sendo exercido por figuras como Alfredo Edeltrudes de Souza e João Baptista Furtado (pai de João Maria Furtado, ex-desembargador e avô de Roberto Brandão Furtado, ex-presidente da OAB/RN, deputado estadual e vice-prefeito de Natal), que ali residiam. Alfredo Edeltrudes de Souza, era um importante agro-pecuarista e industrial, cuja presença na capital era registrada efusivamente pela imprensa da época. Quando passou a residir em Natal, esse cidadão estabeleceu-se no bairro das Quintas, doando ao poder público os terrenos onde foram construídos os primeiros equipamentos públicos daquele bairro, como posto policial e de saúde. Em Baixa-Verde também residia Joaquim Rebouças de Oliveira Câmara, que depois se transferiu para a localidade Cauaçu, no mesmo município. Joaquim Rebouças era pai de Jaime Câmara que, deixando Cauaçu com os irmãos, na década de trinta do século passado, foram para Goiás, onde fundaram um importante conglomerado na área da comunicação: Jornal O Popular, TV Anhanguera, afiliada da rede Globo, ambos em Goiânia e a TV Brasília e o Jornal de Brasília, na capital federal, dentre vários outros empreendimentos. Os historiadores Nestor Lima (Municípios do Rio Grande do Norte, 1937) e Câmara Cascudo (História de um homem: João Severiano da Câmara, 1953), anotam que na localidade havia “um pequeno mercado, coberto de palha, feira livre semanal, posto policial e uma “bolandeira” usada para descaroçar algodão”. Na obra, acima mencionada, Nestor Lima assim se refere à localidade: “O solo do município de Baixa-Verde se pode dividir em duas partes principais: a do chapadão do Mato Grande, que forma a zona norte-noroeste do município, e os terrenos de ariscos e caatingas, à margem do rio Ceará-Mirim”. E prossegue: “Na zona do chapadão do Mato Grande, comumente conhecida como Serra Verde, ficam os extensos algodoais, que constituem a riqueza agrícola do município; no arisco, ao nascente, demoram os terrenos e baixios, onde se cultiva a roça e os cereais, além dos vastos coqueirais, que orlam a praia em toda a sua extensão. Aí, também no arisco, fica situada a vila de Baixa-Verde, sede do município, o povoado de Assunção (outrora conhecido também por Baixa-Verde) e o Matão. Na caatinga, estão localizadas as fazendas de criação de gado vacum, caprino, suíno e lanígero e alguns sítios agrícolas. Nos terrenos marginais do rio Ceará-Mirim, em toda a linde meridional do município, há extensas várzeas apropriadas ao cultivo do algodão e existem boas fazendas de criação.” Observe-se a esclarecedora nota de Nestor Lima ao referir-se ao povoado de Assunção, que cita como “outrora conhecido também por Baixa-Verde”. Em 12 de outubro de 1910 ocorre um fato que muda por completo a vida da antiga Baixa-Verde. É que naquela data houve a inauguração dos trilhos da rede ferroviária e a população da antiga Baixa-Verde, que, popularmente passou a se denominar Baixa- Verde Velha e depois Assunção, mudou-se para a nova localidade, a três quilômetros da antiga povoação, mais precisamente em um lugar onde só havia matas e casas distantes umas das outras, conforme relatos dos antigos. João Maria Furtado, nascido na localidade, afirma em sua obra Vertentes, que nunca entendeu porque os trilhos passaram a três quilômetros ao sul da comunidade. O certo é que esse fato, ainda hoje não esclarecido, fez surgir a nova Baixa-Verde, para onde se deslocaram quase todos os comerciantes da tradicional localidade, provocando o seu mais completo esvaziamento. Ninguém queria morar longe da estação do trem. No período que vai de 1910 a 1928, merecem destaque as figuras de Antônio Proença e João Severiano da Câmara. O primeiro, por ser o responsável pela construção da estrada de ferro, provavelmente um dos sócios da empresa Proença & Gouveia, concessionária da estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, cujo projeto inicial pretendia chegar a Caicó. Antônio Proença estabeleceu-se em Baixa-Verde. Trouxe a sua esposa, dona Malvina, construiu a sua residência e a sede da estação ferroviária, a capela Nossa Senhora Mãe dos Homens (1915), doou lotes para construção de casas e fez a planta da nova cidade. Por tais razões, é tido como o “fundador da nova Baixa-Verde”. João Severiano da Câmara, chegou a Baixa-Verde em 06 de junho de 1914, aos 19 anos de idade, onde estabeleceu-se com uma pequena “bodega”. Posteriormente, cm o crescimento do empreendimento, trouxe os irmãos Alexandre (Xandu) e Jerônimo (Loló), com quem constituiu a firma João Câmara & Irmãos, explorando a produção e industrialização do algodão, o chamado “outro branco” da época. João Câmara, aproveitando o crescimento vertiginoso da localidade e com sua habilidade para os negócios, logo tornou-se um dos maiores industriais do Rio Grande do Norte e passou a residir em Natal, deixando os irmãos em Baixa-Verde cuidando mais diretamente dos negócios da firma e das fazendas. Não demorou pra que o jovem empreendedor entrasse para a política. Em Taipu, sede do município até então, João Câmara foi escolhido Intendente, cargo que correspondia ao de Prefeito na atualidade. E foi nessa condição que ele, João Câmara, capitaneou a emancipação do distrito de Baixa-Verde, em 29 de outubro de 1928, pela Lei Estadual 697, deixando o município-mãe e passando a governar o novo município na condição de primeiro Intendente (prefeito). A paróquia com a denominação de Nossa Senhora Mãe dos Homens data de 13 de novembro de 1929, sendo pároco o padre Celso Cicco e a comarca instalada em 11 de junho de 1935, tendo como primeiro juiz o filho da terra dr. João Maria Furtado. Um fato merece especial destaque: em 24 de novembro de 1935, um dia após a deflagração da conhecida Intentona Comunista em Natal, o movimento chega a Baixa- Verde. O prefeito Odilon Cabral de Macedo e os irmãos Alexandre Câmar e Jerônimo Câmara, irmãos de João Câmara, deixam a cidade para não serem presos. Um movimento de resistência dos locais é derrotado pelos revoltosos na entrada da cidade. O delegado e os soldados foram presos. A loja da firma João Câmara & Irmãos foi saqueada e as mercadorias distribuídas entre a população. Durante quatro dias o município foi governado por um praça do 21BC de nome Manuel Alberto da Silva Filho, que se apresentava com o falso nome de Tenente Lins. O Juiz da comarca, dr. João Maria Furtado e o Promotor de Justiça, dr. José Siqueira de Medeiros não se encontravam na cidade, mas foram convocados a comparecer, recebendo a instrução de que não deveriam tomar atitudes contrárias ao movimento. Por conta desse episódio, logo após a expulsão dos revolucionários, o dr. João Maria Furtado foi duramente perseguido por João Câmara, de quem era desafeto, chegando a ser preso e afastado do cargo de juiz. Pela Lei Estadual no. 899, de 19 de novembro de 1953, o município de Baixa-Verde passou a denominar-se João Câmara. Na economia, é importante dizer que, de início, praticamente só se cultivava o ALGODÃO e as culturas de subsistência (milho, feijão e mandioca). Posteriormente, a partir das décadas dos anos 1940 e 1950 foi introduzida uma nova cultura, a do AGAVE, também conhecida como SISAL. Poresse período, o nosso comércio já era muito desenvolvido, a FEIRA LIVRE era uma das maiores do estado e várias indústrias de beneficiamento de algodão e sisal, tais como JOÃO CÂMARA & IRMÃOS, ANDERSON CLAYTON, COOK, SISAF E SACRAFT, em Zabelê, possibilitaram uma situação de praticamente “pleno emprego” em nossa cidade. A consequência natural dessa situação favorável, é que centenas de pessoas migraram de outras regiões, e até de outros estados, como da Paraíba, para se instalar no novo “eldorado”. Decorre daí a grande presença e influência dos paraibanos aqui em João Câmara, na vida econômica, social e política. Na década de 1980, com a chegada de um besouro chamado “bicudo” a cultura do algodão acabou e as fábricas fecharam. A fibra do AGAVE foi substituída por fibras sintéticas, a partir do petróleo, e o resultado é que todas aquelas fábricas fecharam suas portas, desempregando milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Em 29 de outubro de 1982, na administração do governador do estado Lavoisier Maia Sobrinho e do prefeito Aldo Torquato, foi inaugurada a adutora Pureza/João Câmara, o que foi essencial para o desenvolvimento da cidade em todos os seus aspectos, se considerarmos que o precioso líquido é essencial para a subsistência das pessoas e para o crescimento econômico. É certo que os TERREMOTOS, cujo ápice foi em 30 de novembro de 1986, mas que perdurou por mais alguns anos, fizeram com que milhares de camarenses deixassem a cidade, criando um clima de extremo pessimismo entre as pessoas. Com a redução dos eventos sísmicos, muitos voltaram e outros ocuparam os espaços vazios deixados pelos que se foram. Certo é que, graças à sua posição geográfica privilegiada (é o centro de uma grande região, o Mato Grande, com 12 municípios e em influência sobre municípios de outras regiões, como a Central e o Litoral, até a região salineira) João Câmara se reergueu e hoje, graças ao seu comércio e serviços cada vez mais crescentes, é uma das maiores cidades do Rio Grande do Norte. Não se pode negar, também, que a instalação dos Parques Eólicos, principalmente por ocasião da construção, empregam muitas pessoas e graças aos tributos de pagam ao Município, elevam em muito as suas receitas, o que possibilita aos gestores, não apenas de João Câmara, como nos diversos municípios onde estão instalados, a realização de importantes obras. Foram prefeitos do município: João Severiano da Câmara, Ariamiro de Almeida, Abelardo Calafange, José Carrilho, Odilon Cabral de Macedo, Antônio Justino de Souza, Severino Elias, Ângelo Bezerra, Francisco de Assis Bittencourt, Álvaro Nunes, Francisco Bittencourt (interventores nomeados), e eleitos, a partir da redemocratização do Brasil em 1948, Francisco Bittencourt, Severino Benfica, Francisco Bittencourt, Francisco Paulino de Almeida, Manuel Anacleto de Lima, Francisco Paulino de Almeida (Chico da Bomba), Aldo Torquato da Silva, José Ribamar Leite, Valdir Miranda, José Ribamar Leite, Ariosvaldo Targino de Araújo (reeleito), Maria Gorete Leite, Ariosvaldo Targino de Araújo (reeleito), Maurício Caetano Damascena e Manoel dos Santos Bernardo. Atualmente, o município de João Câmara é um dos mais promissores do estado do Rio Grande do Norte, tendo como prefeito o professor Manoel Bernardo dos Santos e vice- prefeita a advogada Ana Katarina Bandeira da Costa Dias. A Câmara Municipal é composta dos seguintes vereadores: José Gilberto (Presidente), Amistrong Bezerra, Fernando Guilherme, Daniel Gomes, Kelly Cristine, Flávio Sami, Cleonice Bezerra, Aize Bezerra, Irani Antunes, Frank Fabiany e Francisco Matias. ANTÔNIO PROENÇA, O FUNDADOR DA NOVA BAIXA-VERDE Não existe hoje qualquer dúvida sobre quem foi o verdadeiro fundador da nova Baixa- Verde (a Baixa-Verde Velha, como ficou conhecida popularmente, é a atual Assunção). Durante muitos e muitos anos, atribuiu-se o privilégio ao ex-senador e empresário João Severiano da Câmara. De fato, João Câmara foi durante anos a figura mais proeminente do município e dizer que teria sido o fundador da cidade era até mesmo motivo de orgulho para os seus habitantes. O próprio nome da cidade, João Câmara, impelia as pessoas a pensarem ter sido aquela figura o seu fundador inconteste. Hoje, passado o calor da influência do poderia político e econômico exercido pelo eminente cidadão, todos os analistas concluem, sem qualquer receio, que o verdadeiro fundador da nova cidade foi Antônio Proença. A propósito, trago à luz o depoimento do comerciante Melcíades de Souza, ele mesmo um dos primeiros habitantes do lugar, nascido aqui no ano de 1913, “quando havia apenas quarenta ou cinqüenta casas”, como costumava dizer. Pois bem. Assim relatou-me o velho Melcíades, do alto dos seus noventa e cinco anos, em depoimento gravado por mim em sua residência na rua João Furtado, na manhã do domingo, 17 de fevereiro do ano de 2008: “engana-se quem pensa que João Câmara foi o fundador de Baixa-Verde. Quando João Câmara chegou nesta terra, no ano de 1914, já existiam cinqüenta ou sessenta casas. O verdadeiro fundador de Baixa-Verde foi Antônio Proença, que chegou aqui em 1909, e construiu quatro casas, sendo uma delas para ele mesmo morar com a sua esposa, Dona Malvina”. Mais adiante, continua Melcíades de Souza no seu esclarecedor depoimento: “João Câmara quando chegou aqui era um rapazote de dezenove anos de idade e botou um comércio pequeno com apenas duas portas, somente depois de alguns anos é que foi crescendo, até que fez fortuna. Vários outros comerciantes chegaram antes dele, como João Furtado, pai do doutor João Maria e Alfredo Edeltrudes. Dr. Proença era um homem gordo, alvo, com uns 45 anos de idade, gente muito boa, que eu tive a oportunidade de conhecer. Além de ser engenheiro, Dr. Proença era também agricultor, possuindo dois roçados: um aqui na margem do açude grande, onde plantava algodão, milho, feijão e mandioca e outro lá pras bandas do Lajeado, onde inclusive tinha uma caieira”. O relato do velho Melcíades de Souza corresponde exatamente ao que diz o conterrâneo Paulo Pereira dos Santos, em sua obra Um Homem Admirável”, na qual traça o perfil do senador João Severiano da Câmara. Diz Paulo Pereira: quando João Câmara chegou a Baixa-Verde, de frente à Estação Ferroviária existia o barracão de Alfredo Edeltrudes, vendendo aos cossacos víveres e outras mercadorias de consumo. Havia a bodega de José Antunes de França e na esquina outra de Luiz Carneiro. Como ainda continuasse a construção da Estrada de Ferro, estendendo-se para Lages, Dr. Antônio Proença permanecia residindo em Baixa-Verde. Segundo algumas pessoas idosas da sua época, ele era um homem gordo, de andar lento e boa pessoa. Gostava de criar cavalos de sela e vacas de alta linhagem genética. Plantava algodão e outras culturas de subsistência. Promovia grandes festas na sua casa, reunindo os mais importante moradores da vila. Mais dois engenheiros, também contratantes da Estrada de Ferro, residiam no povoado, Otávio Pena, baixinho, olhos brilhantes sob a armação de um pince-nê espelhante, filho do Presidente da República, Afonso Pena, que havia inaugurado a Estrada de Ferro. E outro engenheiro, Eduardo Parisot, de estatura alta, magro e cortês. Morava também em Baixa-Verde, o técnico Fernando Gomes Pedroza, que dirigia o Campo Experimental de Algodão no Riacho Seco”. Caso ainda paire alguma dúvida sobre a identidade do verdadeiro fundador da nova Baixa-Verde, eis o relato insuspeito do grande historiador e folclorista Câmara Cascudo, em sua obra História de um homem (João Severiano da Câmara – página 31, edição de 1954 – Departamento de Imprensa Estadual): em 12 de outubro de 1910 inaugurava-se Baixa-Verde. Uma locomotiva deixou um vagão com o aparelho telegráfico e servia de estação. Ao redor os ranchos surgiram da terra, a 83.952 metros de Natal. Nem havia no local nome certo.Diziam “Matas”. Eram capoeirões baixos, moitas na várzea verde e tranquila. O nome passou ao ponto terminal da Estrada dos Proenças, quando Antônio Proença veio, alto, gordo, lento, imenso, residir na casa que construiu, confortável e abrigadora. Chamou-se então Baixa-Verde. Era esse Antônio Proença o denominador comum da estrada. Representava o trabalho. Discutiram-no muito no choque de interesses em que ele próprio seria o maior. Devemos-lhe Baixa-Verde no plano real. Escolheu o local, riscou as ruas, ergueu as casas, cavou cacimbas, construiu a capela dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Lembro-me da sua figura imponente, da amplidão do vulto nédio, o traje de branco, o chapéu do Chile, os bigodes negros, o toutiço de zebu, a fala grossa, o gesto sereno, a simplicidade completa, a bondade útil, oportuna inesgotável.Tinha o hábito do conforto, da mesa farta, variada, aberta, fácil, da conversa gostosa, da pilhéria de sal grosso, os costume do banho diário, as roupas asseadas, o tratamento fidalgo. Incapaz de uma grosseria, cordato, amável, ia desarmando a todos com uma grandeza tranqüila de paciência, tenacidade e disciplina. Era o Dr. Proença de Baixa- Verde, plantando também algodão, criando gado de raça, vacas de lei estrangeiras, que assombravam pela quantidade do líquido esguichando cada manhã e cada tarde. E cavalos robusto, com selas inglesas. E armas reluzentes, disparando sem parar para as breves caçadas senhoriais. Deixou uma lembrança viva e há muita gente que ainda o enxerga, vagaroso, imenso, cumprimentador, inventando Baixa-Verde e organizando bailes intermináveis. Para essa Baixa-Verde recém nascida, de vida indecisa, Vanvão deliberara fixar destino, vida esforço e futuro”. Resta, então apenas uma indagação a esclarecer: por qual razão Antônio Proença caiu no quase completo esquecimento, sendo apenas o nome de uma rua na cidade que fundou? Algumas razões contribuíram para a volta de Antônio Proença para Minas Gerais: a) o encerramento do contrato feito com o governo federal para a construção da rede ferroviária, em 1921; b) a morte do seu irmão, João Proença, presidente e maior acionista da empresa, em 1923; 3) a saúde debilitada e a idade já avançada; e 4) como não deixou herdeiros, sempre houve dificuldades de elucidação sobre o resto da sua vida até a sua morte. Quantos anos viveu? Onde está sepultado? É o que, como pesquisador, vou tentar descobrir. João Câmara, o Homem. João Severiano da Câmara nasceu na localidade de Boa Vista, município de Taipu, em 8 de março de 1895 , sendo filho de Vicente Rodrigues da Câmara e Maria Rodrigues da Câmara. A pequena Boa Vista, no dizer de Câmara Cascudo, foi confundida com outra localidade que lhe ficava próxima, Passagem Funda, daí constar oficialmente o nome desta última como o lugar onde João Câmara nasceu. Seu pai, Vicente Rodrigues da Câmara era filho de João Severiano da Câmara e Tereza Rodrigues da Silveira. Portanto, ao filho, que foi o segundo da sua prole, foi dado o nome do avô paterno. O destino de João Câmara parecia estar irremediavelmente ligado a Baixa-Verde. Tanto é que, ainda menino, por diversas vezes esteve em Cauassu, hoje distrito de João Câmara, passando dias de férias na casa de uma tia (irmã de seu pai), dona Joaquina Possidônio da Câmara, apelidada de dona Quininha, casada com Felipe Cândido Monteiro, cujos descendentes (família Monteiro) ainda hoje residem naquela pequena comunidade interiorana. Ainda moço, aos 18 anos de idade, já apelidado de Vanvão, trabalhou no I.F.O.C.S (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas), órgão que antecedeu o DNOCS, e como tal tinha a missão precípua de construir barragens para amainar o secular problema da escassez de chuva no nordeste brasileiro, missão que até os dias de hoje, já em pleno século vinte e um, se arrasta a passos de tartaruga. Não satisfeito com o emprego, que pouco lhe rendia, a não ser um mísero salário, suficiente apenas para cobrir os custos de manutenção, João Câmara retornou à casa paterna no início do ano de 1914. Estabelecida a discussão sobre o que estaria reservado ao jovem ávido por melhores dias, veio à baila a possibilidade do mesmo instalar-se num lugar chamado Baixa-Verde, situado a vinte e sete quilômetros da sede do município de Taipu, onde desde 1910 os trilhos da rede ferroviária já haviam chegado. Corria de boca em boca que o lugar prosperava com uma rapidez impressionante, visto situar-se estrategicamente na porta de entrada de uma vasta região ainda inexplorada, mas de grande potencial agrícola. Em 6 de junho de 1914, João Câmara chegou a Baixa-Verde, acompanhado do seu irmão, Jerônimo, conhecido com Loló. Inicialmente, estabelece-se com uma pequena casa de comércio, depois fundou plantações de algodão, trouxe outro irmão de nome Alexandre (Xandu), para ajudar nos serviços, e com ele fundou a firma João Câmara e Irmãos, que pouco tempo depois seria uma das maiores do estado, destacando-se no beneficiamento de algodão produzido nos milhares de hectares de terras próprias ou adquiridos de terceiros. Em 1928 João Câmara tornou-se o primeiro prefeito do recém criado município de Baixa-Verde, que se tornara autônomo, em grande parte, graças ao seu empenho, tomando posse às 13 horas do dia 1° de janeiro de 1929, no salão principal do grupo escolar Capitão José da Penha. Antes, porém, havia sido Intendente em Taipu, empossado em 1° de fevereiro de 1926. Com o advento da Revolução de 1930, João Câmara foi demitido, sendo nomeado para o seu lugar o cidadão Ariamiro de Almeida. Usando da força política dos amigos, foi novamente nomeado Prefeito em 06 de dezembro de 1930, exercendo o cargo até 28 de novembro de 1932. Depois de prefeito de Baixa-Verde, João Câmara exerceu o mandato de deputado estadual por duas vezes, ambas na década de trinta e, finalmente, senador da república por ocasião da redemocratização ocorrida após a segunda guerra mundial e a derrubada da ditadura de Getúlio Vargas, em 1945. É certo que tomou posse no cargo de senador, porém registre-se que não compareceu a nenhuma sessão por todo o tempo em que teve o mandato. Foi um dos fundadores do Partido Social Democrático, o legendário PSD, chegando a exercer a sua presidência regional. A morte alcançou-o às seis horas e trinta minutos do dia 12 de dezembro de 1948, quando já havia sido escolhido governador, por consenso das maiores lideranças políticas do estado. Constitui, porém, ledo engano imaginar-se que o consenso em torno do político, João Câmara, refletia a mesma opinião sobre o homem. Poucas pessoas, no seu tempo, despertaram tantas paixões dos admiradores e tantos ódios dos que lhe eram adversários. O apego excessivo aos negócios, quase uma obsessão, levou João Câmara a tomar posse no cargo de senador da república, para o qual fora eleito em 19 de janeiro de 1947, - com mandato de apenas quatro anos -, porém não exerceu seu cargo, não havendo registro de nenhum projeto ou requerimento seu no senado federal. Não lhe interessava deixar seus negócios, para ir ao Rio de Janeiro, exercer o mandato de senador. Com o seu falecimento em 12 de dezembro de 1948, , assumiu a vaga o suplente Kerginaldo Cavalcante de Albuquerque. De nada valeu a luta insana por bens materiais. Poucos anos depois da sua morte, dizem que por despreparo dos seus sucessores, o imenso patrimônio da firma João Câmara & Irmãos foi adjudicado ao Banco do Brasil em pagamentos de débitos contraídos e não pagos. Conta o monsenhor Luis Lucena, vigário de Baixa-Verde desde os idos de 1958, que, por ocasião do sepultamento de João Câmara, quando o féretro se aproximava do cemitério do Alecrim, já subindo a ladeira do Baldo, João Urbano de Araújo, comerciante em Baixa-Verde e extremamente ligado à Igreja Católica, devoto de Nossa Senhora de Fátima, perguntou preocupado ao monsenhor Vicente Freitas, entãopároco daquela freguesia: e agora, monsenhor Freitas, o que será de Baixa-Verde? Ao que o monsenhor respondeu: João, Baixa- Verde nasceu hoje, porque infeliz é a terra em que só um homem manda! João Câmara era casado com dona Maria Rodrigues da Câmara, uma santa senhora, que lhe deu vinte filhos (segundo informa o escritor Câmara Cascudo), dos quais apenas cinco sobreviveram (Edson, Wilson, Elza, Teresinha e Joãozinho). Esta senhora tida e havida por todos que a conheceram, inclusive pelos mais ferrenhos adversários do seu marido, como uma alma generosa, humilde, afável, conheceu os píncaros da gloria e as profundezas do ostracismo e da pobreza. Depois de ter sido esposa de um dos homens mais ricos do estado, prefeito, deputado e senador da república, residindo em uma mansão no bairro do Tirol, à avenida Hermes da Fonseca, em frente a Escola Domestica de Natal, cercada de empregados e amigos, viveu seus últimos dias na humilde rua Meira e Sá, bairro Vermelho, em Natal, morando em uma casinha simples, de poucos cômodos e sobrevivendo graças a uma pensão especial que lhe foi concedida pelo governo do estado. GUMERCINDO SARAIVA, FOLCLORISTA E MUSICISTA Gabriel Saraiva de Moura era um simples ferroviário, que acompanhava, juntamente com a sua esposa, dona Maria Custódia Saraiva, os passos da rede ferroviária em construção. Assim é que, por dias ou meses, residiram em Natal, Ceará-Mirim, Taipu, Itapassaroca, e tantas outras estações improvisadas, muitas vezes dormindo em vagões estacionados, até que com a inauguração da rede ferroviária em Baixa-Verde, ali resolveram sentar morada por um tempo mais longo. Estávamos no ano de 1915 e foi por aqueles dias, mais precisamente num 02 de junho, que nasceu o pequeno Gumercindo. Sabe-se que Gumercindo viveu em Baixa- Verde somente até os 15 anos de idade, porém não de maneira contínua, pois o pai, devido o cargo que ocupava na rede ferroviária, era obrigado a acompanhar o prosseguimento da estrada pelo sertão adentro. No entanto, tendo sempre Baixa-Verde como ponto de referência, teve tempo suficiente para angariar um grande número de amigos e, mais que isso, observar a cena baixa-verdense, registrada em livro escrito a meu pedido por ocasião do cinqüentenário no município. Na obra, intitulada “Cinqüenta Anos de Emancipação”, Gumercindo relata como eram as brincadeiras de infância, os apelidos da época, os remédios caseiros, as figuras de destaque na política, na jacente economia e na sociedade. Merece especial atenção o relato que faz de “uma família de músicos - os Fernandes (Adelino Fernandes de Souza e Dona Maria Izabel Lopes Fernandes”). E continua, mais adiante: “ presenciamos em nossa meninice uma família feliz, onde o sr. Adelino Fernandes via nos filhos Sóter, Miguel, João Manuel, João Batista, Alberto, Francisquinha e Milita, um aglomerado de músicos alegrando seu lar, com violino, trompete, violão, cavaquinho, bandolim e órgão, com vozes maviosas, deleitando uma sociedade sem condições de aproveita-los”. Mas, voltemos a Gumercindo. Homem feito, passou a residir em Natal, casando-se em 27 de janeiro de 1940 com dona Wilhermin Oliveira Saraiva, com quem teve quatro filhos, que lhe deram dez netos e treze bisnetos. A união durou 48 anos. Em Natal, Gumercindo começou como balconista do escritório de Carlos Lamas na rua doutor Barata, montando depois uma pequena loja de instrumentos musicais na avenida Rio Branco, a Casa da Música, inaugurada na década de 40. Foi musicista, folclorista, glosador, pesquisador, poeta e escritor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, dos Institutos Históricos e Geográficos dos estados do Rio Grande do Norte, Pará e Ceará, da Academia Brasileira de História, da União Brasileira de Escritores e da Associação Norte-rio-grandense de Letras. Quando estava prestes a completar 73 anos de vida, Gumercindo foi fulminado por um infarto do miocárdio, que o pegou traiçoeiramente na noite do dia 20 de maio de 1988, uma sexta-feira, por volta das 23 horas. Naquele nefasto momento, fazia o que mais gostava: tocar violino. A morte o pegou em plena ribalta, no Salão dos Grandes Atos da Fundação José Augusto. Numa justa homenagem àquele homem simples, comunicativo, que em vida foi expoente das letras e da música, dignificando a cidade em que nasceu, foi aprovado, recentemente, pela Câmara Municipal de João Câmara, um projeto de lei de autoria do vereador Luiz Gameleira do Rego, que tive a honra de redigir, instituindo o dia 02 de junho, data do seu nascimento, como o Dia da Cultura local. Foi-se o homem, fica a fama. A SAGA DE JOÃO MARIA FURTADO João Maria Furtado, filho de João Batista Furtado e Dorotéia Justino de Oliveira, que depois do casamento passou a chamar-se Dorotéia Furtado, nasceu na pequena localidade de Baixa-Verde, atual Assunção, quando esta comunidade ainda pertencia ao município de Taipu. Transcorria o ano de 1903. A história de João Maria é algo que merece registro. Ainda muito moço, casou-se com Jacyra Brandão Furtado, nascida em Salvador/Bahia, em 04/09/1912, com quem conviveu na mais perfeita harmonia durante 60 anos ininterruptos. Da união nasceram três filhos: Roberto, Dora e Harilda, havendo sido o primeiro, deputado estadual, vice-prefeito de Natal, advogado e Presidente da seção estadual da OAB, além de haver exercido diversas outras funções de destaque, desempenhadas sempre com brilhantismo. João Maria Furtado tornou-se o primeiro filho de Baixa-Verde a formar-se em direito, sendo logo designado juiz distrital da vila, por ocasião da instalação do novo município em 1º de janeiro de 1929. Logo a seguir, com a criação da comarca, foi o primeiro juiz titular, havendo sido removido da comarca de Assu, para assumir, em 19 de junho de 1935, as funções de magistrado em sua terra natal. Pouco tempo estava no exercício das suas funções, quando veio a Intentona Comunista de novembro de 1935, na qual foi envolvido, gratuitamente, por ser desafeto de João Severiano da Câmara, que o acusou de colaborar com os revoltosos. Apesar de provar que se encontrava veraneando na praia de Cajueiros, com seus familiares, foi preso e processado, sendo transferido para uma cadeia em Natal, onde ficou por 55 dias, sendo solto graças a uma ordem de Habeas Corpus. Mesmo assim, foi afastado das suas funções de magistrado, o que o obrigou a ficar na praia da redinha, em Natal, aguardando o resultado do julgamento do processo que contra si tramitava. Informado que uma nova ordem de prisão, tão arbitrária quanto a primeira, estava em vias de se concretizar, passou a dormir no mato, mais precisamente numa colina, donde via os movimentos nas proximidades da sua casa. Foi ali, na solidão, que recebeu a informação de que deveria fugir ou seria preso imediatamente pois o cerco já se fechara. Como fugitivo sem culpa, João Maria caminhou noite a dentro, a pé, até Ceará-Mirim, ficando alojado na Usina São Francisco. De lá, após alguns dias de repouso, com cavalos emprestados, ao lado do companheiro de infortúnio, José Aguinaldo, rumou para a Barra do Maxaranguape e dali em um bote a velas partiu para o Ceará. Antes, porém, foi obrigado a fazer uma leve parada para reabastecimento na praia de Caiçara, ainda no Rio Grande do Norte. No terceiro dia de viagem, já com os nomes trocados para não serem descobertos, os dois fugitivos desembarcaram em praias cearenses. O bote que os conduzia foi liberado e a viagem continuou a pé até a cidade de Aracati, de onde partiram, de ônibus, com destino a Fortaleza. Continuando a fuga, verdadeira saga, passaram a viver em fazendas de gado, situadas nas proximidades da cidade de Mamanguape. Receoso de ser descoberto, e já sem o amigo que fora preso ao tentar retornar a Fortaleza, João Maria recomeçou sua odisséia, partindo depois de alguns meses, para o sertão paraibano.Seu objetivo era Catolé do Rocha. No caminho, passou de passagem por Russas, interior do Ceará, e Pau dos Ferros, no alto oeste do Rio Grande do Norte. Em Catolé do Rocha, ficou como protegido na fazenda Olho Dágua, de propriedade da família Maia. Por esse tempo, fez amizades com Sérgio Maia e João Agripino, que depois veio a ser governador da Paraíba, deputado federal, senador e ministro do Tribunal de Contas da União. O único governador que ousou desafiar o Marechal Castelo Branco ao desobedecer a ordem de fechar as casas de jogo-do-bicho existentes na Paraíba. Visitando Campina Grande, onde morava um seu cunhado, veio ao seu encontro a sua esposa, Jacyra, depois de meses de abrupta e sofrida separação. Ainda na cidade de Campina Grande, tomou conhecimento, através de um telegrama do deputado Café Filho, que o Tribunal de Segurança Nacional, por decisão unânime, o excluíra da denúncia. Reassumiu suas funções de juiz de direito em Baixa-Verde no dia 04 de maio de 1937, uma sexta-feira, após pouco mais de um ano e cinco meses de afastamento, ficando na comarca até abril de 1946, quando foi removido para a 5ª vara da capital. Em 10 de fevereiro de 1954 tomou posse como desembargador no Tribunal de Justiça do Estado, havendo ascendido à presidência daquela corte em 10 de dezembro de 1958. Foi, também, Juiz do Tribunal Regional Eleitoral. João Maria Furtado foi o ícone das letras jurídicas dentre os filhos de Baixa-Verde, porém as suas posições contestatórias e desafiadoras em relação ao Senador João Câmara, lhe valeram o mais completo ostracismo na terra que lhe serviu de berço. Somente em minha administração à frente do executivo municipal (1977/1983) veio o resgate tão merecido: construímos uma escola na localidade que lhe serviu de berço (Assunção) e instalamos um Fórum Municipal, dando a ambos o nome de “Desembargador João Maria Furtado”. João Maria Furtado faleceu em Natal, no dia 04 de fevereiro de 1996, aos 93 anos de idade, sete anos após o passamento da sua amantíssima esposa, Jacyra (16/02/1989). Um grande homem e uma grande mulher! FRANCISCO BITTENCOURT, UM EXEMPLO Francisco de Assis Bittencourt, um dos cinco filhos do casal Brasiliano Soares Bittencourt e Maria Ernestina Bittencourt, nasceu em Ceará-Mirim, no dia 18 de julho de 1902. Ainda criança, perdeu o pai e foi aconselhado pela mãe a ir para Baixa-Verde, onde se encontrava o seu padrinho, o comerciante Fortunato Guedes, que de certo lhe daria acolhida, como era costume os padrinhos fazerem naqueles tempos. Chegando em Baixa-Verde, ainda na década de 20, trabalhou inicialmente com o padrinho, mas logo depois foi convidado para trabalhar na firma João Câmara e Irmãos, que, posteriormente, passou a denominar-se João Câmara, Indústria e Comércio S/A. Demonstrou tal entusiasmo, zelo e dedicação à sua atividade, que não tardou alçar postos mais elevados na hierarquia da empresa, chegando a gerente da loja, que ficava situada na praça central da cidade. Bittencourt foi um autodidata, não teve oportunidade de cursar sequer o antigo curso primário, já que os afazeres diários tomavam todo o seu tempo e à noite não havia nenhum curso à sua disposição. Para não ficar isolado do mundo e do conhecimento, estudava sozinho nas caladas da noite, à luz de lamparina ou candeeiros. Conta o seu filho, Dr. José Bittencourt, uma das figuraras mais estimadas de Natal, que o seu gosto refinado conduzia-o a ler obras de Machado de Assis, Monteiro Lobato, Humberto de Campos, Bernardo Guimarães, Eça de Queiroz, Dostoievsky, Stendhal, Tolstoi, Flaubert e Balzac, as quais mantinha em sua biblioteca particular. Tais obras, de todo aparentemente estranhas em um ambiente tão árido, foram doadas pelos seus herdeiros à biblioteca do Baixa-Verde Futebol Clube, após a sua morte, ocorrida em Natal no dia 29 de setembro de 1979. Destacando-se na sociedade local, como um jovem amável, de fino trato e elegante, participou ativamente da vida social, havendo sido um dos sócios fundadores do Baixa-Verde Futebol Clube, de quem exerceu a presidência por vários anos. Outra paixão, foi o futebol. Acompanhava as delegações esportivas que se deslocavam para as cidades vizinhas e até para Natal, no tempo em que o B.V.F.C. disputou o campeonato estadual. Como Prefeito do município, fazia questão de recepcionar a delegação visitante, oferecendo almoço, jantar e baile à noite, após o embate esportivo. Comparecia aos jogos, mas torcia sempre de forma discreta, tal como era o seu jeito de ser, para não ser deselegante com os membros da comitiva visitante. Na vida pública, foi Prefeito de Baixa-Verde por quatro vezes: as duas primeiras por nomeação e curto prazo, nos meados da década de quarenta. Era o tempo das interventorias, que nomeavam e exoneravam os prefeitos municipais ao seu bel prazer. Depois, com a redemocratização do Brasil e as eleições diretas de 1946, já com a constituição federal democrática, Bittencourt elegeu-se pelo voto direto dos seus concidadãos por duas vezes, exercendo os mandatos de 9 de abril de 1948 a 31 de março de 1953, tendo como vice- Prefeito João Rabelo Torres e de 31 de março de 1958 a 31 de março de 1963, tendo como vice-prefeito José Severiano da Câmara. As marcas principais das administrações de Chico Bittencourt, ou simplesmente “seu” Chico, como era mais conhecido, foram a honestidade, a simplicidade e a leveza. Por maior que fossem os problemas que lhe chegassem, sempre procurava resolvê-los na base do diálogo e do conselho, deixando para exercer a sua autoridade somente quando todos os recursos persuasórios estavam esgotados. Lembro bem da sua figura, elegantemente vestido com ternos cinzas ou brancos, quase sempre sem gravata por causa do calor sufocante, saindo de casa para a Prefeitura nos horários de expediente como se fosse um simples servidor. Morávamos na mesma rua Cap. José da Penha. Apesar de ser uma liderança umbelicalmente ligada a Baixa-Verde, Bittencourt ousou alçar outros vôos, chegando à Assembléia Legislativa nas eleições realizadas em 03 de outubro de 1954, com expressiva votação. Na mesma eleição foi eleito Joaquim Câmara, filho de Xandu, passando assim o município de Baixa-Verde a ter dois deputados estaduais durante aquela legislatura, fato até hoje inédito. Em 1962, Bittencourt tentou novamente voltar ao legislativo estadual, mas não teve êxito ficando numa honrosa suplência. Bittencourt era casado com a senhora Elisa Henriques Bittencourt, que lhe deu seis filhos: Paulo (médico, ex-diretor da Casa de Saúde São Lucas); José (engenheiro civil, professor aposentado da UFRN e um dos proprietários do Colégio Dinâmico, casado com a senhora Ivanilda Miranda); Maria Antonieta (membro da Academia Feminina de Letras do RN, casada com o médico Vicente Dutra); Maria da Paz (casada com o funcionário público federal aposentado Zenon de Souza Leite); Francisco (médico, casado com Zezinha Ferreira) e Margarida (viúva do médico, pesquisador da UFRN e pintor Leopoldo Nelson). Os avós de Bittencourt, como o próprio nome indica, eram franceses que emigraram para o Brasil ainda na época do Império, radicando-se no Nordeste. MONSENHOR LUIZ LUCENA: O GRANDE BENFEITOR Luiz Lucena Dias nasceu na pequena cidade de Pirpirituba, no vizinho estado da Paraíba, em 05 de junho de 1927, filho de Eustáquio Dias Fernandes e Noêmia Lucena Dias. O casal teve oito filhos, sendo cinco homens e três mulheres. Em 1935, os pais do atual Monsenhor Lucena resolveram deixar o torrão amado e vieram morar em Natal. Chegando à capital, o pequeno Luiz foi matriculado no Grupo Escolar Izabel Gondim, situado nos limites do bairro da Ribeira com as Rocas, onde concluiu o curso primário. Dando seqüência aos estudos, e já encaminhado na via sacerdotal, cursou o ginasial e o colegialno seminário de São Pedro. Em seguida, deslocou-se para o seminário da Prainha, em Fortaleza, onde cursou Filosofia e Teologia, ordenando-se padre a 08 de fevereiro de 1955. Sua formação intelectual foi concluída com os cursos de Licenciatura Curta em Letras pela UFRN, Licenciatura em Filosofia, pela PUC de Recife e Estágio em Sagrada Escritura, pelo Centro Bíblico de Jerusalém. Em 13 de outubro de 1979 recebeu o título de Monsenhor. Logo após a ordenação, exerceu as funções de Coadjutor de Ceará-Mirim, de dezembro de 1955 a janeiro de 1956, quando foi designado vigário paroquial de São Rafael, onde ficou até junho de 1957. Naquele ano foi designado para a paróquia de Taipu e Touros, donde só saiu em julho de 1959, quando já estava exercendo cumulativamente a paróquia de João Câmara. Sua chegada a João Câmara ocorreu em 13 de fevereiro de 1958, mas sua nomeação como pároco somente efetivou-se no dia 13 de junho do mesmo ano. Embora tenha um vasto trabalho no campo religioso, tendo fundado diversas pastorais (catequética, da juventude, sacramental, da criança, do dízimo e vocacional), o Monsenhor Lucena não se limitou às atividades eclesiásticas. Verificando que a cidade não contava com um curso ginasial, o que obrigava os alunos que desejavam continuar os estudos a se transferirem para Natal – sorte de uns poucos cujos pais tinham mais condição financeira - , idealizou e implantou a Escola Comercial de João Câmara, oficialmente criada pela Lei Municipal nº 01, do ano de 1959. Não havendo prédio próprio onde pudesse funcionar, a recém criada escola passou a funcionar nas instalações do Grupo Escolar Capitão José da Penha, que, apesar de ter apenas três salas de aula, ainda havia turnos em que ficava ocioso. O passo seguinte, foi a construção de um prédio próprio, construído em um terreno doado pela D. Maria Câmara, viúva de João Câmara, em plena praça Monsenhor Freitas, próximo à Igreja Matriz. Para a construção do prédio o Monsenhor Lucena contou com a participação de toda a comunidade baixa-verdense, principalmente, através de seguidos leilões onde não faltavam objetos e animais (garrotes, carneiros e galinhas) doados pela população para serem vendidos e a renda revertida em benefício do bem tão desejado. A obra durou mais de dez anos para ser concluída, mas logo em junho de 1961, mesmo sem ter as condições ideais de funcionamento, passou a abrigar a Escola Comercial, logo depois transformada em Ginásio João XXIII. O passo seguinte foi a implantação do segundo grau, o que ocorreu no ano de 1975, passando o ginásio a ter a denominação de Colégio. A partir daí, jovens nascidos de famílias pobres puderam tornar realidade o sonho de sair de João Câmara diretamente para uma universidade, como de fato ocorreu com dezenas deles, hoje médicos, advogados, engenheiros, pedagogos. Além de diretor do estabelecimento de ensino que criara, o Monsenhor Lucena sempre acumulou as funções de professor, especialista em português (gramática e literatura) e francês, destacadamente. Relevante também foi a construção da Maternidade que, anos depois, passou a ter o nome da sua mãe, Noêmia Lucena, preenchendo uma grande lacuna que havia na cidade. Esta maternidade foi construída nos aposentos da antiga Casa Paroquial, cedendo o pároco o seu conforto em benefício dos mais pobres. Em 15 de janeiro de 2006, após 50 anos de ordenação, o Monsenhor Luiz Lucena Dias, aos 78 anos de idade, renunciou a administração da paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens, recebendo, a partir daquela data, o título de Pároco Emérito, sendo substituído de imediato pelo padre Edvan Araújo de Lucena, um seridoense nascido em São João do Sabugí, ordenado em 04 de agosto de 2004. Além de continuar exercendo as funções de Padre, o Monsenhor Lucena dedicou-se às suas leituras diárias, ao cultivo de árvores frutíferas e aos animais de estimação que criava no seu sítio no Matão. O monsenhor Luiz Lucena Dias faleceu em 29 de dezembro de 2017 e seu corpo está sepultado na Igreja Matriz da cidade de João Câmara. BREVE HISTÓRIA DA ESCOLA CAPITÃO JOSÉ DA PENHA A Escola Estadual Capitão José da Penha é a mais antiga instituição de ensino de Baixa- Verde. Sua trajetória começa como simples escola rudimentar, dirigida pela professora Maria Henriques Maia, logo elevada à condição de Grupo Escolar pelo Decreto nº 350, de 15 de outubro de 1927, devido à necessidade crescente de atendimento às dezenas de jovens que acorriam à procura dos seus préstimos. A jacente Baixa-Verde, vivendo o esplendor dos primeiros anos, fervilhava de gente chegando em busca do eldorado potiguar. Surgiu daí a necessidade de construção de um prédio moderno e amplo, para os padrões da época, que pudesse abrigar em seu seio toda aquela gama de jovens ansiosos por ter acesso ao conhecimento. Assim é que as autoridades da época reivindicaram e conseguiram junto ao presidente do estado, Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros a construção do prédio onde ainda hoje funciona, com algumas modificações, a tradicional escola. A inauguração deu-se a 26 de dezembro de 1927, pelas dezesseis horas e contou com a presença de dezenas de autoridades e populares. A ata de fundação registra a presença, dentre outras, das seguintes pessoas: Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, João Câmara, João Gomes da Costa, Paulo Viveiros, José Gomes da Costa, Alexandre Rodrigues da Câmara, Miguel Monteiro, Pedro Gomes Baião, Elisa Henriques Bittencourt, Francisco Teixeira Sobrinho, Joaquim Soares de Miranda, João Ignácio Filho, Barnabé Justino de Souza, José Martins de Sá Benevides, Joaquim de Castro e Silva, Severino Benfica, Sinval Lima e Fausto Lima, Francisco de Assis Bittencourt, Antônio Justino de Souza, Áurea Varela de França e Genésio de Oliveira. Ao longo de sua trajetória de mais de noventa anos, dezenas de pessoas passaram pela sua direção, com destaque para o professor Sebastião Diniz Henriques, o primeiro diretor, seguido pelas professoras Adélia Soares Teixeira, Adélia Brandão, Maria Guimarães e Leonor Maciel do Amaral. Nos últimos cinqüenta anos, assumiram a direção do estabelecimento as pessoas de Salete Ferreira, Sônia Varela, Joana D`arc Rocha da Câmara, Gino Miranda Santos, Aldo Torquato da Silva, Dilma Leonardo, Lygia Torquato, Marta Geruza, Professor Quirino e outros. Quanto aos alunos, revolvendo os arquivos da velha instituição, encontramos os nomes de Dagmar Varela e Antônio Simplício (Tota), ainda no tempo da Escola Rudimentar (1926/1927) e, a partir da inauguração até o ano de 1942, registramos as presenças dos irmãos Wilson, Wanda e Engrácia Varela, Geralda Ataliba, Joaquim Câmara, Palmira Bezerra, Durval Justino de Souza, Geraldo Teixeira (Torquato) e Manoel Teixeira (Torquato), José Bittencourt, Francisco Freire de Melo, Floriano de Sá Benevides, Terezinha Ferreira, Ivone Teixeira (Torquato), os irmãos Guaraci, Iramar e Itamar do Lago Moura, João França, Severo Alves da Câmara, João Batista Ataliba, Maria da Paz Bittencourt, Maria Djanira Benfica (Liquinha), Terezinha Câmara. Sônia Varela e Maria Antonieta Bittencourt. De minha parte, estudei no José da Penha nos anos de 1958 a 1961, onde fiz o primário. Minha primeira professora foi Pretinha. Depois, vieram Elma Gouveia e Raimundinha. Dos meus contemporâneos, lembro apenas de alguns: Esteferson Vieira Lopes (Gôda), Francisquinho Doutor, Jacyra Celestino (hoje viúva de João Batista Ataliba), e Virgínia, filha de Miguel França, que dividia a carteira comigo na segunda série. A partir do ano de 1943, funcionou provisoriamente no mesmo prédio, a Escola Darcy Vargas, mantida pela Legião Brasileira de Assistência – LBA, entidade assistencialista, criada e dirigida pela esposa do presidente da república, Getúlio Vargas. Ao que nos é dado conhecer, poucos anos durou a Escola Darcy Vargas, certamente perdendo-se notempo com a derrocada da ditadura e a volta à democracia ao final da segunda guerra mundial (1945). Durante o período que vai de setembro de 1959 a 1961, o prédio da Escola Capitão José da Penha abrigou a Escola Comercial, atual Colégio João XXIII e durante os anos de 1976 e 1977 funcionou também como escola de 2º grau, depois transferida para a Escola Estadual Antônio Gomes. Foi no grupo escolar Capitão José da Penha que aconteceu a solenidade de instalação do município de Baixa-Verde, com a posse dos intendentes e do Prefeito João Câmara, em 1º de janeiro de 1929, além de inúmeras solenidades e muitas festas, inclusive carnavais. O nome da escola é uma homenagem ao Capitão José da Penha Alves de Souza, nascido em Angicos, no ano de 1875 e falecido no Ceará, no dia 22 de fevereiro de 1914. Segundo registra a história, José da Penha foi assassinado por um jagunço que obedecia às ordens do Padre Cícero Romão Batista, na famosa guerra contra as forças do governador Franco Rabelo. A PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS Inaugurada a estrada de ferro em Baixa-Verde, o que aconteceu em 12 de outubro de 1910, o engenheiro-chefe e sócio da empresa encarregada da construção e exploração da ferrovia, Dr. Antonio Proença, logo que chegou fixou-se na comunidade, construindo sua residência e, por ser muito religioso, tratou de mandar rezar missas em um vagão de trem, estacionado no local com a finalidade de servir de estação provisória. Logo depois, no ano de 1915, com ajuda de poucas pessoas da comunidade (diz-se que somente Alfredo Edeltrudes de Souza, que residia na antiga Baixa-Verde, atualmente conhecida como Assunção, deu sua contribuição), à frente a senhora Malvina Proença, sua esposa, deu-se a construção da capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens. A inusitada invocação – Mãe dos Homens -, fora trazida por Antônio Proença e sua espoca do santuário do Caraça, no estado de Minas Gerais, onde Antônio Proença e seus irmãos João e Lucas foram internados, logo que o seu pai falecera. No Caraça a paróquia tinha tal denominação, sendo, com a de Baixa-Verde, certamente uma das poucas no Brasil com este nome. Demonstrando viva religiosidade, o casal ofertou também uma imagem de Nossa Senhora, que foi colocada no altar da capelinha e hoje se encontra na casa Paroquial. Aos 13 de novembro de 1929 foi criada a paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens, que se estendia até a praia de Caiçara do Norte, englobando também os distritos de São Bento do Norte, Parazinho, Pedra Grande e Barreto, atual Bento Fernandes, que ainda não eram cidades. No dia 22 de setembro daquele ano, chegou a Baixa-Verde o seu primeiro vigário, o padre Celso Cicco, que tomou posse dois dias depois. Uma das suas primeiras providências foi reunir a comunidade e propor a conjugação de esforços visando a construção de uma igreja matriz. Varias reuniões foram realizadas. Os primeiros passos foram dados, mas o projeto não teve como se materializar ainda sob o comando do padre Celso Cicco. Em 9 de julho de 1930 o vigário deixou a paróquia. Enquanto o substituto não tomava posse, assumiu provisoriamente o Pe. Francisco Mário Correia de Aquino, que ficou no cargo por apenas 40 dias, de 4 de agosto a 14 de setembro daquele ano, deixando o cargo para o padre Luis Teixeira de Araújo, que, que por sua vez, exerceu as funções até 31 de dezembro 1931. A seguir, assumiu a paróquia o Pe. Antonio Avelino, que tomou posse em 31 de janeiro de 1932 e permaneceu no cargo até 27 de junho de 1933, entregando ao Pe. Antonio de Melo Chacon. Pe. Chacon, como era conhecido, ficou na paróquia até 4 de outubro de 1934. Durante a sua permanência, foi comprado um sino para a capela, sendo devolvido o sino permanente à capela de Assunção e que havia sido emprestado pelos moradores daquela comunidade. Com a saída do Pe Chacon, tomou posse o Pe. Misael Justiniano de Carvalho, que, velho e doente, ficou pouco tempo na paróquia e quase nada pode realizar. Em 9 de agosto de 1936 assumiu o Padre Vicente de Freitas, que anos depois recebeu o título de monsenhor. O monsenhor Freitas, que hoje dá nome à praça que fica defronte a igreja matriz, permaneceu no cargo por quase 22 anos. Durante a sua gestão, vários fatos que merecem destaque ocorreram, tais como: em novembro de 1937, frei Damião pregou suas primeiras missões na paróquia; no dia 28 de fevereiro de 1938 iniciaram-se os alicerces da igreja matriz, que mediam 14 metros de largura por 37 de comprimento; depois de 10 anos de construção, foi inaugurada em 1948 a igreja matriz, embora ainda não totalmente concluída, mas já em condições de receber a nova imagem, doada pelo agro-pecuarista Orlando Alves da Rocha e sua esposa, Dona Liquinha. A bênção da nova imagem ocorreu no dia 16 de outubro de 1949. No mesmo dia, foram introduzidos e benzidos o novo sacrário e o ostensório, doados pelo empresário Jerônimo Câmara (Loló) e sua esposa Maria Natália Alves da Câmara. A via sacra, que ainda hoje se encontra exposta nas paredes internas da igreja, foi ofertada pelo então prefeito Francisco Bittencourt e sua esposa Elisa, que também doaram os vitrais em outra oportunidade; o piso de mosaico foi doado por João Câmara e sua esposa Maria; no ano de 1952, foram levantadas as torres da igreja, estas com vinte metros de altura, obra que teve muito da ação perseverante do comerciante e religioso, devoto de Nossa Senhora de Fátima, João Urbano de Araújo; a 13 de junho de 1958, o monsenhor Vicente Freitas, enfrentando graves problemas de saúde, foi substituído pelo Pe. Luiz Lucena Dias. A paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens ganhou novo impulso com a chegada do então jovem padre Luiz Lucena Dias. Em um primeiro momento, após a seca do ano de 1958, foi construída uma cisterna, com capacidade para 168 mil litros de água, cuja água era recolhida do telhado da igreja e armazenada para atender às necessidades da sede da paróquia, bem como saciar a sede de eventuais populares. Esta obra teve grande significado para a época, visto que não havia água encanada na cidade e as pessoas se abasteciam de água poluída dos pequenos açudes e cacimbas. A Igreja Matriz, depois de mais de vinte anos, foi, finalmente, concluída, com a construção do reboco externo (1958), e do forro, no ano de 1961. A paróquia também demonstrou sua preocupação com a educação dos jovens, criando uma escola, inicialmente denominada Escola Comercial, depois transformada em Ginásio. Para atender às demandas sociais foram criados o Instituto Paroquial Monsenhor Freitas e o Centro Social Nossa Senhora Mãe dos Homens. Em momento posterior, no ano de 1969, sempre sob a batuta do padre Lucena, foi criada a APAMI – Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e à Infância, mantenedora da Maternidade Noêmia Lucena, instalada na Casa Paroquial, cedida pelo padre Lucena para tal atividade, passando o mesmo a residir na parte superior do prédio onde hoje funciona o Colégio Objetivo. A Maternidade Noêmia Lucena, nome que recebeu em homenagem à genitora do seu fundador, prestou relevantes e inestimáveis serviços à comunidade, não apenas de João Câmara, mas de grande parte da região do Mato Grande. Lamentavelmente, por falta de apoio das autoridades locais, encerrou suas portas. Uma das atitudes dignas de registro da parte do Monsenhor Lucena, foi a abolição de “bancos” particulares na Igreja Matriz, onde só podiam sentar-se as famílias “proprietárias”. Tais bancos tinham uma placa na parte superior, onde se lia o nome da família a qual pertencia e nenhum estranho podia neles sentar, salvo se autorizado ou se, com o decorrer da missa, os donos não aparecessem. Enquanto tal não acontecia, os pobres ficavam em pé, mesmo havendo lugares vazios. Era uma situação discriminatória, não condizente com a pregação dos primados da IgrejaCatólica, felizmente abolida em boa hora. Anualmente, a paróquia promove, nos primeiros dias do mês de dezembro, a festa da padroeira, comemorada no dia 08 de dezembro, com atividades religiosas e festivas. Um fato marcante foi a aposentadoria do Monsenhor Lucena, ocorrida em 15 de janeiro de 2006, depois de quase 48 anos de trabalho eficiente e dedicado, sendo substituído pelo padre Edvan Araújo de Lucena, que não era seu parente. O padre Edvan foi sucedido pelo padre Fábio Pinheiro. Atualmente, o pároco é o padre Josino Raimundo da Silva. Em 29 de dezembro de 2017, o Monsenhor Luiz Lucena Dias faleceu. Seu corpo está sepultado na Igreja Matriz da cidade de João Câmara. Este ano, em 13 de novembro, a Paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens completa 90 anos. A INTENTONA COMUNISTA EM BAIXA-VERDE O movimento comunista de 1935 foi deflagrado em Natal no dia 23 de novembro, sábado, surpreendendo o então governador Rafael Fernandes, que se encontrava participando de uma solenidade no Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão, que se refugiou em um navio, que se encontrava ancorado no porto de Natal. As autoridades que não puderam refugiar-se em lugar seguro, foram presas. João Severiano da Câmara, à época já proeminente industrial e político, salvou-se porque procurou abrigo em um sótão na cidade de Macaíba, segundo nos informa João Maria Furtado em sua obra “Vertentes”. Depois de se instalarem em Natal, os revoltosos adentraram ao interior do estado em várias colunas. Uma delas, comandada por Benilde Dantas, dirigiu-se para Baixa-Verde, chegando à cidade na manhã do domingo, 24 de novembro. Desde as primeiras horas da madrugada que as forças locais, composta por aproximadamente vinte civis, armados com rifles papo-amarelo, cedidos pela firma João Câmara e por populares, e alguns militares do destacamento local, estes com fuzis, estavam esperando os comunistas, atocaiados nas proximidades do Moinho Velho, atualmente rua 29 de outubro, entrada da cidade no sentido de quem vem de Natal. O aviso havia sido dado pelo chefe da estação ferroviária, Joaquim Miranda, que recebera a informação pelo telégrafo, e fora providencial, pois permitira a organização da reação. No entanto, as forças locais logo perceberam que não dispunham de homens e armas em condições de enfrentar os comunistas. Houve um breve tiroteio, mas uma rajada de metralhadora encerrou o combate. Os destemidos cidadãos de Baixa-Verde, tendo à frente o jovem Severino Benfica (Sissi), em flagrante inferioridade, se dispersaram. Os comunistas entraram na cidade pela praça da matriz, que à época era apenas um largo onde existia o campo de jogos do Baixa-Verde Futebol Clube. Dali seguiram pela rua Padre João Maria, até alcançar a praça do mercado. Eram aproximadamente oitenta homens, armados de fuzis e uma metralhadora, transportados em três caminhões. Chegando à praça do mercado, a metralhadora foi instalada em frente à loja da firma de João Câmara, que teve as portas destruídas por seguidas rajadas. Os revoltosos trataram de prender o delegado de polícia, Antônio de Brito, e os soldados, tendo o cuidado, evidentemente, de desarmá-los. O padre recebeu a recomendação de não deixar sua residência. O Prefeito Odilon Cabral de Macedo não foi encontrado, pois afastara-se da cidade às pressas temendo ser preso. Depois que as portas da loja de João Câmara foram destruídas, os comunistas exortaram a população a levar tudo o que nela havia. Foi um corre-corre sem fim. Aproximadamente duzentas pessoas, homens, mulheres e crianças se apoderaram de tudo que podiam: tecidos, gêneros alimentícios, ferramentas agrícolas e utensílios domésticos. Em minutos, a horda humana deixou o estabelecimento comercial totalmente vazio. A loja de Pedro Baião também foi saqueada. Àquela altura dos acontecimentos as pessoas ligadas a João Câmara já haviam deixado a cidade. O prefeito Odilon Cabral de Macedo e Alexandre Câmara (Xandu), fugiram em cavalos selados para a fazenda de Zezinho do Cravo, situada a aproximadamente doze quilômetros da cidade, fazendo no percurso uma ligeira parada na fazenda Santa Rosa, de Pedro Torquato. Loló Câmara, Costa Leitão e José Olímpio refugiaram-se na fazenda Boágua, de propriedade de Apolônio Bilro. Durante quase quatro dias, de 24 a 27 de novembro, os comunistas governaram Baixa- Verde, tendo à frente um praça do 21BC de nome Manuel Alberto da Silva Filho, que se apresentava sob o falso nome de Tenente Lins. Uma das primeiras providências tomadas pelo Tenente Lins foi mandar buscar o juiz local, Dr. João Maria Furtado, que se encontrava veraneando com a família na praia de Cajueiro, município de Touros. O Dr. João Maria compareceu à presença do chefe dos revoltosos acompanhado do promotor da comarca, Dr. José Siqueira de Medeiros, na manhã do dia 25 de novembro, uma segunda-feira, e após ser advertido de que não deveria tomar atitudes contrárias ao movimento, foi liberado, retornando a Cajueiro na noite do mesmo dia. Na tarde do dia 27 de novembro, pelas quatro horas, meu pai, Abdon Torquato, retornava da cidade, para onde tinha ido fazer compras a pedido de Dona Mariquinha, esposa de Xandu, quando deu de cara com o inesperado: João Câmara ia a pé, fardado de capitão do exército, armado de fuzil, à frente de mais de cento e cinqüenta soldados, esperando surpreender os comunistas. O trem que os transportara havia ficado a uns dois quilômetros de distância. Depois de um breve diálogo, em que João Câmara perguntou pelos irmãos e pelo prefeito e recebeu as devidas informações, o grupo seguiu na direção da cidade. Antes, porém, João Câmara perguntou pelos comunistas, tendo meu pai respondido que os mesmos haviam destruído a sua loja, mas já tinham partido, pois haviam tomado conhecimento que o movimento não prosperara. João Câmara entrou na cidade sem disparar um só tiro. No dia seguinte, quinta-feira, 28 de novembro, o prefeito Odilon Cabral de Macedo reassumiu suas funções. O movimento comunista chegara ao fim. Tudo parecia voltar à normalidade, não fossem as perseguições políticas que se seguiram, como veremos em outra oportunidade. A SERRA DO TORREÃO Situada no município de João Câmara, a 80 km da capital e pertencente à região do Mato Grande, a serra do Torreão é a sentinela mais avançada do grande planalto da Borborema, no sentido norte-oriental. É um iceberg solitário, com 145 metros de altura, de fácil escalação, recoberto de vegetação hipoxerófila, onde predominam, inclusive, palmeiras nativas chamadas de “coco-catolé” e cientificamente por siagrus coomosa, isoladas ou em densos agrupamentos. Há, também, euforbiáceas e mimosáceas, bem como a presença de exóticas, como a euphorbia tirucali, popularmente conhecida como “dedinho” ou “avelóz”, que é utilizada localmente como cerca viva, com um látex terrivelmente cáustico que, segundo populares, tem poderes medicinais contra afecções benignas e malignas da pele. Em seu cimo, formado por uma calva granítica, conhecida como Pedra do Urubu, descortina-se uma belíssima paisagem. No seu sopé, há uma capelinha dedicada a São Sebastião, santo festejado efusivamente a 20 de janeiro pela população local que, após os atos litúrgicos, costuma subir a serra até o seu cimo. A vegetação da serra do Torreão é composta de duas formações de caatinga. Uma, é a caatinga hipoxerófila com uma vegetação de clima semi-árido, que apresenta arbustos e árvores com espinhos e de aspectos menos agressivos do que a caatinga hiperxerófila. Dentre as espécies, destacam-se a catingueira, angico, braúna, juazeiro, marmeleiro, mandacaru e aroeira. A outra formação é a caatinga hiperxerófila, que apresenta uma vegetação de caráter mais seco, com abundância de cactáceas e plantas mais espalhadas e de porte mais baixo. Dentre outras espécies destacam-se nesse ambientea jurema preta, o faveleiro, o marmeleiro, o xiquexique e o facheiro. Os solos predominantes na serra do Torreão são os seguintes: areias quartzosas distróficas com fertilidade natural baixa, textura arenosa, relevo plano, excessivamente drenado; podzólico vermelho amarelo, equivalente eutrófico, com fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, moderada e imperfeitamente drenado, medianamente profundo; cambissolo eutrófico, com fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, medianamente profundo. As pesquisas realizadas pelo biólogo Adalberto Varela, da UFRN e coordenadas pelo professor José Aldo Monteiro, do grupo GENV, um dos entusiastas com o estudo e preservação da serra do Torreão, descobriram várias espécies desconhecidas na sua fauna rica de insetos aracnídeos, lagartos, serpentes, moluscos terrestres, aves e mamíferos. Ao todo, foram encontradas treze espécies de serpentes, mas a grande surpresa foi a descoberta de larvas de formiga-leão, da família dos neurópteros e uma espécie rara de escorpião preto, até então desconhecida da biologia, o Rhopalurus baixaverdensis que, por se tratar de uma espécie nova, recebeu o nome em homenagem à cidade. Outra espécie rara, conhecida vulgarmente como Lagarto Rex, de tamanho pouco superior a uma lagartixa e menor que um Tejuaçu, também é encontrada no local ,e somente nele, em toda a região do Mato Grande. AS LENDAS QUE ENVOLVEM A SERRA DO TORREAO Conta o professor Gino Miranda, nascido na localidade Corte, quase ao pé da serra do Torreão, que, durante muitos e muitos anos, corria à boca pequena que, na década de vinte do século passado, um certo Júlio dos Matias, dado a pitar um inseparável cachimbo - de onde saíam abundantes baforadas -, mulato muito querido e conhecido em Baixa-Verde, por conta das suas histórias fantasiosas, gostava muito de caçar na serra. Os amigos sempre o preveniam dos riscos que corria, visto que uma onça habitava o lugar. Certo dia o mulato Júlio foi caçar e não retornou à noite, como era de costume. Apreensivos, os amigos e familiares foram à sua procura logo que raiou o dia e só encontraram os seus restos mortais graças a uma fumacinha que saía do cume da serra, onde fica a chamada pedra do urubu. Tal fumaça foi entendida como sendo um indicativo do local onde o corpo estava e teria saído, segundo os supersticiosos, do cachimbo do velho. Assim nasceu a lenda do Torreão Cachimbando, que na época servia para explicar o fenômeno meteorológico que ocorre nas serras em época de grandes invernadas, em dias mais frios, principalmente nas primeiras horas do dia, quando o cume da serra amanhecia todo envolvido por uma densa camada de nuvens, que se desfazia logo que o sol começava a esquentar. Muitas pessoas diziam também que os estrondos que davam em Baixa-Verde eram por conta de uma cama de baleia que havia debaixo da serra. Segundo a crendice popular, o local, muito antigamente, fora mar e um grande reservatório de água se escondia por sob a serra. Nesse reservatório, morava uma baleia gigante que, quando se movia, provocava os estrondos. COMO A ÁGUA ENCANADA CHEGOU A JOÃO CÂMARA Luiz da Câmara Cascudo diz em seu livro História de Um Homem, que quando o jovem João Severiano da Câmara disse ao seu pai que iria para Baixa-Verde montar uma bodega, o velho teria lhe dito: pra onde você vai, meu filho? Baixa-Verde não tem futuro, é um lugar onde não tem nem água pra se beber! O fato serve para demonstrar que esse sempre foi o principal problema de Baixa- Verde, atual João Câmara. E, aliás, continua sendo! Compreendendo essa realidade, sempre me dediquei ao assunto, desde os tempos em que fui vereador pela primeira vez, nos idos de 1970, com apenas 19 anos de idade. Como prefeito, não poderia ser diferente. Foi minha principal bandeira. E para isso, contei com o apoio do então governador do estado, Lavoisier Maia Sobrinho, que assumiu o governo em 1979 e se comprometeu comigo em resolver o problema. Passados já três anos do seu governo, embora fossem muitos os benefícios levados, faltava a obra definitiva, imorredoura, ansiada por várias gerações de João Câmara, desde os tempos em que a cidade ainda era chamada de Baixa-Verde. Todos os governadores haviam- na prometido. Lavoisier, para não fugir à regra, também prometera desde o dia da sua posse, quando sussurrei no seu ouvido bom: governador, não esqueça a água de João Câmara! Pedido esse repetido em dezenas de outras oportunidades, até que faltando exatamente um ano para as eleições de 1982, já impaciente, e de certa forma desgastado com as constantes cobranças da parte de certos setores da sociedade local, que diziam que o governador estava apenas me “enrolando”, tomei uma decisão corajosa: em plena praça Baixa-Verde, com o sol a pino, em um dia de sábado, feira-livre a pleno vapor, quando entregávamos os títulos de posse das fazendas anteriormente pertencentes ao senador João Câmara, fiz o seguinte desafio: governador, o senhor já fez muito por João Câmara, porém a grande obra que este povo precisa, obra que vem sendo reivindicada há muitos anos e prometida por todos os governos, que não a fizeram, e que o senhor prometeu e até hoje não fez, não existe nem projeto elaborado, é o abastecimento d’água. Conclui dizendo que só apoiaria o candidato do governo se a obra prometida estivesse inaugurada até o dia 29 de outubro do ano 1982, data do 54º aniversário de emancipação do município.Coloquei, como se diz popularmente, a faca nos peitos de Lavô. Sentindo o golpe, Lavô fez cara feia, torceu o beiço, mas prometeu no mesmo instante, para delírio dos presentes, que no dia aprazado pelo prefeito a água seria inaugurada em João Câmara. E assim foi feito, com a construção de uma adutora desde a fonte de Pureza, a mais de 36 quilômetros de distância. A partir daquele dia, projetos foram elaborados às pressas, a obra foi licitada e iniciados os trabalhos poucos meses depois. Exatamente na data-limite por mim fixada em um momento de desespero, em meio a grande concentração popular na praça Antônio Justino, a água encanada chegou a todas as casas da cidade de João Câmara. Poço Branco e Taipu também foram beneficiadas, sem que nenhuma liderança desses municípios tenha lutado por tal benefício. Em 29 de outubro de 1982 foi inaugurada a Adutora Pureza/João Câmara. Hoje, a luta é por uma nova alternativa, a adutora vinda do Boqueirão, para atender à demanda cada vez mais crescente e possibilitar o crescimento da cidade, com empregos para o povo. OS ABALOS SÍSMICOS DE BAIXA-VERDE A ocorrência de abalos sísmicos não se constitui uma exclusividade do município de Baixa-Verde. Há registros históricos da presença desses fenômenos em várias outras regiões e cidades do estado, como em Assu, Lages e Parazinho, por exemplo. A diferença, é que os abalos de Baixa-Verde chamaram a atenção, inclusive da comunidade científica, pela intensidade e recorrência dos fenômenos. Um verdadeiro enxame de tremores. Os moradores mais antigos da cidade, muitas vezes relataram que abalos sísmicos foram sentidos pela população nas décadas de trinta e quarenta do século passado. No ano de 1952, o fenômeno voltou com maior intensidade, chegando a deixar a cidade quase vazia, tal o temor que se apoderou dos seus moradores. O pavor tomou conta da população, todos temendo o fim do mundo, pedindo perdão a Deus e ao próximo pelos pecados cometidos. Durante os anos sessenta e setenta, eu mesmo, tive a oportunidade de sentir diversos abalos sísmicos, mas todos de pouca intensidade, que não chegaram a causar pânico entre os moradores, apenas comentários mais pessimistas daqueles que imaginavam que por debaixo da cidade corria um rio caudaloso, ou que um vulcão adormecido havia por baixo da serra do Torreão e estava prestes a explodir. Tudo, simples
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