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HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA Juliana K. M. Teixeira Teoria da argumentação jurídica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o que é a teoria da argumentação jurídica. Apresentar as diversas espécies de argumentos jurídicos. Discutir a teoria da argumentação jurídica na prática judicial e a sua base teórica. Introdução A argumentação consiste em um recurso para convencer alguém, apre- sentando razões em defesa de uma conclusão. Sempre que empregamos o recurso da argumentação por intermédio de argumentos lógicos, estamos utilizando um mecanismo para convencer alguém a pensar como nós pensamos. O mesmo acontece com a argumentação jurídica, na qual utilizamos mecanismos próprios/técnicos de convencimento para a tomada de decisão. Toda decisão jurídica deverá ser embasada com o emprego racional de análise da legislação pertinente — porém, a argumentação poderá vir a se tornar fator decisivo para a análise e a aplicação da lei. Neste capítulo, você estudará o conceito de argumentação e a de- finição de argumentação jurídica, identificará as diversas espécies de argumentos jurídicos, bem como estudará a teoria da argumentação jurídica (TAJ) na prática judicial. C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 1 11/04/2018 09:30:56 Teoria da argumentação e teoria da argumentação jurídica Argumentar é o ato de produzir argumentos, apresentando razões em de- fesa de uma conclusão. É importante que tais argumentos impostos tenham compromisso não só com a lógica, mas também com a verdade. O termo “argumentar” vem do latim, argumentum, que possui como tema argu, cujo sentido primário é “fazer brilhar”, “iluminar”. Assim é possível, em um primeiro momento, dizer que argumento é tudo aquilo que ilumina. Diante disso, é possível afi rmarmos que: A argumentação é, de certa forma, uma técnica de emitir opiniões, de defender uma determinada posição. Portanto, se dá mediante o uso da razão, entendida aqui como “a faculdade por intermédio da qual concebemos, julgamos, isto é, refletimos, pensamos” (COSTA, 1980, p. 2). Teoria da argumentação, ou argumentação, é o estudo de como conclusões são criadas com o emprego de nosso raciocínio lógico. Assim, argumentar é afirmar algo, seguramente ou não, baseando-se em premissas. A teoria da argumentação inclui elementos como o debate e a negociação com o objetivo de alcançar conclusões. Dentro do universo da argumentação, é possível notar que alguns argumen- tam de maneira transparente e organizada. Esses argumentadores são capazes de expor claramente os seus objetivos, ou seja, as suas conclusões. Conseguem demonstrar de forma lógica e compreensível o caminho que percorrem para atingir esses objetivos, ou seja, as razões que os levam às suas conclusões. Todavia, nem todo argumentador argumenta claramente. Argumentos simples podem ser padronizados para que fiquem mais claros. Padronizar um argumento demanda distinguir entre frases que cumprem a função de premissas e uma frase que cumpre a função de conclusão. Teoria da argumentação jurídica2 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 2 11/04/2018 09:30:56 Argumento original: Um cientista de um famoso grupo cosmético internacional está em vias de realizar um experimento revolucionário. Ele vai realizar um experimento inovador utilizando ratos brancos de laboratório, para averiguar os possíveis efeitos de uma nova droga, chamada de droga X, que combate a calvície. Após cuidadosa aplicação, o cientista verificou que a droga X provoca, nos ratos brancos, certos efeitos indesejáveis. O principal e mais notório efeito foi a significativa perda de peso das cobaias. A aplicação da droga X ainda não foi realizada em seres humanos, mas é possível que estes também sofram perda de peso. Afinal, o organismo humano costuma reagir a substâncias dessa natureza da mesma maneira como o organismo dos ratos brancos. Os ratos brancos não são mais suscetíveis do que os humanos a essa nova droga X. Embora pequeninos, a aparente fragilidade desses animais é enganosa. O argumento utilizado pelo cientista pode ser padronizado da seguinte forma: Argumento padronizado: Premissa A — ratos brancos perdem peso quando tratados com a droga X contra calvície. Premissa B — seres humanos têm reações fisiológicas similares a dos ratos quando usam substâncias desse tipo. Logo: Premissa C — há risco de que seres humanos venham a desenvolver perda de peso corporal se tratados com a droga X. É possível notar que o argumento padronizado é mais sucinto do que o argumento original. No entanto, o seu conteúdo é essencialmente o mesmo. As últimas três frases do argumento original, por exemplo, foram repetitivas. Elas foram usadas pelo cientista para enfatizar aquilo que a premissa B do argumento padronizado expressa de maneira mais sucinta. Diante disso, é importante ter em mente que a padronização do argumento serve apenas para tornar a sua estrutura mais transparente. Ao padronizar um argumento, não devemos aperfeiçoá-lo, muito menos piorá-lo. O objetivo é compreender o argumento tal como ele foi produzido pelo seu autor. É funda- mental sempre ter atenção para não alterar a essência (distorcer) o argumento. Os argumentos simples podem ser um conjunto de frases, composto por uma ou mais premissas e de uma única conclusão, conforme vimos no exemplo anterior. 3Teoria da argumentação jurídica C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 3 11/04/2018 09:30:56 Ainda é possível nos deparamos com argumentos complexos, que são conjuntos encadeados de argumentos simples. Premissa A — fumar faz mal à saúde. Logo: Premissa B — devemos evitar cigarros e demais produtos fumígeros, como cigar- rilhas, charutos, cachimbos e cigarros de palha. Premissa C — charuto é um produto fumígero. Logo: Premissa D — devemos evitar fumar charutos. A frase da premissa B é a conclusão de um argumento simples (ela possui apenas a frase da premissa A como premissa). A frase da premissa B ainda é premissa de um outro argumento simples, que está na frase da premissa C como segunda premissa e a frase da premissa D como conclusão. A frase B é uma conclusão intermediária do argumento complexo encadeado, e a frase da premissa D é a conclusão final desse argumento. Esses conjuntos de argumentos convergem de forma organizada para uma mesma conclusão, ou se encadeiam, passando por conclusões intermediárias até chegarem a uma conclusão final. O entendimento da noção de argumento complexo é de suma importância para a compreensão de nosso estudo sobre a argumentação jurídica. Assim, são complexos, considerados convergentes ou encadeados, os argumentos que aparecem em inúmeras decisões judiciais, despachos, denúncias de promotores, assim como em petições de advogados, etc. Teoria da argumentação jurídica Nas últimas décadas, notamos a ocorrência de dois fenômenos que impactaram o desenvolvimento do Direito em geral e do Direito Constitucional em parti- cular. O primeiro desses fenômenos, batizado de pós-positivismo, demonstra a clara reaproximação entre o Direito e a Ética; o segundo, a notória ascensão do Direito Constitucional para o centro do sistema jurídico. A Constituição passou a ser também o modo principal de interpretar todos os ramos do Direito. A argumentação está inserida em nossas vidas e faz parte do cotidiano da sociedade atual. Hoje, os profissionais do Direito (juízes, advogados, membros Teoria da argumentação jurídica4 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 4 11/04/2018 09:30:56 do Ministério Público, legisladores) necessitam oferecer boas razões para as suas decisões, que deverão ser justificadas ante a realidade e os valores sociais. A atividade jurídica consiste, essencialmente, em argumentar. A TAJ é uma das grandes linhas de estudo da ciência do Direito. As suas consequências, aliadas aos princípios constantes da Carta Constitucional,são de igual hie- rarquia entre si, não podendo ser sobrepostas umas sobre as outras, havendo sempre a necessidade de ponderação entre ambas. A argumentação jurídica nasceu com o povo grego. Os gregos passaram a considerar a argumentação uma teoria tida como primordial no momento em que a democracia se consolidou. Era uma necessidade que o cidadão grego desenvolvesse o seu poder de argumentação, uma vez que as pessoas precisaram, de forma individual (sozinhas), defenderem-se junto aos julgadores. No mundo jurídico, a teoria da argumentação surge com uma forte ligação à teoria do discurso. Traz consigo o objetivo de questionar e expor que a fundamen- tação racional do discurso é válida e possível, agregando-lhe algumas normas e regras. A evolução dessa teoria encontra-se no contexto filosófico do século XX. Vários autores destacaram-se no seu estudo, em especial Perelman, Apel, Frege, Wittgenstein, Habermas, Hare e Austin. Porém, entre todos, um teve especial destaque: Robert Alexy, grande estudioso alemão, que elaborou, na década de 1970, a TAJ. A teoria elaborada por Alexy, posteriormente, alastrou-se pelo mundo, com destaque para alguns países, entre eles os da América Latina. A TAJ criada e defendida por ele trata-se de uma extensão, aprimoramento e desenvolvimento de alguns aspectos presentes na literatura sobre a metodologia jurídica. Na sua teoria, Alexy (2008, p. 275) afirma que: A necessidade de um discurso jurídico surge da debilidade das regras e for- mas do discurso prático geral, que definem um procedimento de decisão que, em numerosos casos, não leva a nenhum resultado e que, se leva a um resultado, não garante nenhuma segurança definitiva [...]. Dada essa situação e a necessidade de decidir, existente de fato, é racional (isto é, fundamentável num discurso prático) concordar com um procedimento que limite o campo do possível discursivamente de maneira mais racional possível. Exemplo de tal procedimento são as normas jurídicas (materiais e processuais) elaboradas mediante princípios da maioria e da representação. 5Teoria da argumentação jurídica C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 5 11/04/2018 09:30:56 Conforme observamos, a argumentação jurídica estaria vinculada ao Direito vigente. Em que pese esse pensamento, no momento das disputas jurídicas, não são todas as questões que abrem ou permitem que sejam abertas discussão. Temos o exemplo dos prazos judiciais, que, na maçante maioria das vezes, não podem ser questionados em um processo judicial, devendo ser prontamente atendidos e cumpridos de forma diligente. É primordial para o salutar estudo do discurso jurídico compreender que o discurso, quando faz referência à ação humana, ganha a forma prática, caso busque somente a orientação humana, pois, nesse caso, ele é puramente normativo. Mas, para que o referido discurso passe a ser considerado racional, ele deve transcender a simples opinião, o que não ocorre pelo simples uso de normas técnicas, mas pelo uso da sua construção em argumentos, de forma que alcancemos o resultado mais correto. A bem da verdade, os discursos, nas suas formas práticas, precisam obedecer a certos regramentos que servem para corrigir os argumentos utilizados, ou seja: é correto aquilo que for tido como discursivamente racional. Por esse prisma, temos que o discurso e a racionalidade seriam sinônimos. Alexy (2008) defende ser uma capacidade da razão humana a fundamentação racional das decisões judiciais por meio da argumentação, garantindo a validade de uma decisão sempre que estiver presente a sua fundamentação discursiva. A TAJ, conforme mencionado, foi elemento de pesquisa de um outro grande jurista, Chaim Perelman (1912–1984). Perelman, de origem polaca, viveu na Bélgica, onde se destacou por sua obra Tratado da argumentação: a nova retórica (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005). Para melhor compreensão da sua teoria, é preciso que trace a diferença entre argumentação e demonstração. A demonstração é proveniente de uma lógica formal que defende a adoção, no estudo das Ciências Sociais e Humanas, do mesmo método utilizado nas Ciências Naturais e Exatas. Assim, limitar-se ao exame dos meios de provas demonstrativos. Nesses termos: Quando se trata de demonstrar uma proposição, basta indicar mediante quais procedimentos ela pode ser obtida como última expressão de uma sequência dedutiva, cujos primeiros elementos são fornecidos por quem construiu o sistema axiomático dentro do qual se efetua a demonstração [...]. Mas quando se trata de argumentar, de influenciar, por meio do discurso, a intensidade de adesão de um auditório a certas teses, já não é possível menosprezar comple- tamente, considerando-as irrelevantes, as condições psíquicas e sociais sem as quais a argumentação ficaria sem objeto ou sem efeito. Pois toda argumentação visa à adesão dos espíritos e, por isso mesmo, pressupõe a existência de um contato intelectual (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 16). Teoria da argumentação jurídica6 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 6 11/04/2018 09:30:57 O conceito fundamental da teoria de Perelman é o de auditório: um conjunto daqueles sobre os quais o orador quer influenciar por meio da sua argumentação. O papel do auditório é o que distingue a argumentação da demonstração, sendo a demonstração a dedução lógica. Os valores são o que nos permitirão justificar as regras e princípios, e nos permitirão a existência da justiça. Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), só o acordo sobre os valores é capaz de nos permitir justificar as regras, eliminando o que favorece ou desfavorece arbitrariamente os membros de certa categoria essencial. Assim, forte nesse consenso, que possibilita o desenvolvimento racional do sistema de leis, as regras a ele estranhas é que poderão ser consideradas como arbitrárias. Diante disso, temos que o relativismo jurídico de Perelman não reconhece a justiça como valor absoluto, possível de ser fundamentado na razão, mas o tem como relativo, uma vez que é fruto da vontade (PERELMAN; OLBRECHTS- -TYTECA, 2005). Assim, a justiça, enquanto manifestação da razão agindo sob a ação, deve contentar-se com um desenvolvimento formalmente correto de um ou de vários valores. Baseado em sua teoria, Perelman criou três componentes da justiça (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005): o valor que a fundamenta; a regra que a enuncia; ato que a realiza. As diferentes TAJs objetivam estruturar o raciocínio jurídico, para que ele seja lógico e transparente, dando ênfase à racionalidade do processo de aplicação do Direito e proporcionando, assim, um maior controle da justificação das decisões judiciais. A argumentação jurídica tem um papel primordial no dia a dia do advogado. É por meio dela que o profissional convence, comove, influencia e promove ações quem geram resultados positivos para os seus clientes. É fundamental para os operadores de Direito desenvolverem habilidades na área da argumentação jurídica. 7Teoria da argumentação jurídica C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 7 11/04/2018 09:30:57 Argumentos jurídicos A ideia de argumento tem uma grande ligação com o conceito de razão, facul- dade humana que procura entender a realidade. Apenas com o argumento e o emprego da linguagem é possível descrever os aspectos da realidade. Quando uma pessoa aplica o conceito de argumento ao âmbito do universo do Direito, utilizamos o argumento jurídico. O argumento jurídico possui três elementos que agem de maneira combi- nada. O primeiro elemento são as leis da lógica formal, já que, sem a presença das leis do pensamento racional, seria impossível argumentar corretamente ou formular/criar qualquer forma de discurso coerente. Há ainda os elementos da dialética, que, em um sentido mais estrito, significam possuir uma técnica de conversação. Por fim, a utilização de um processo de argumentação a partir das leis do Direito. Com o emprego combinado dessestrês elemen- tos, o argumento jurídico tem o objetivo de chegar a uma conclusão efetiva referente a uma contextualização de problema. No entanto, esse processo tem uma circunstância peculiar: a afirmação feita deve estar submetida à luz das normas de Direito e aos seus procedimentos legais estabelecidos. A tese concreta, ou argumento principal, é o ponto de partida para se chegar a uma conclusão dentro de qualquer quadro jurídico. Por meio dessa tese, é apresentada uma série de argumentos complementares que reforçam o argumento principal. Em outras palavras: as ideias ou os argumentos comple- mentares apresentados agem como um reforço, uma vez que são apresentadas como razões que avaliam ou justificam a explicação em geral. Assim, para o sucesso desse processo, é importante que seja utilizada uma série de elementos: referências das normas; critério de justificação das normas; interpretação das próprias normas. O argumento jurídico utiliza ainda elementos como a inclusão e a dedução. Tratam-se de dois métodos de argumentação opostos. A dedução e a inclusão fazem parte da essência de qualquer argumento correto — a dedução parte de uma ideia geral ou lei para um caso particular e a indução parte de dados concretos para uma conclusão mais geral. Teoria da argumentação jurídica8 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 8 11/04/2018 09:30:57 Teoria da argumentação jurídica na prática judicial Atualmente, a sociedade está atenta a todos os movimentos operados pelos Poderes Legislativo e Judiciário. Notamos, claramente, um forte sentimento de atenção nacional às relevantes questões sociais que se apresentam no coti- diano do nosso País. Nunca os argumentos jurídicos foram tão acompanhados pelos olhos da sociedade. Atualmente, não basta editar uma lei ou proferir uma decisão, é preciso que os argumentos utilizados façam sentido e tenham uma razão de ser. Agora vamos conhecer alguns dos mais utilizáveis argumentos jurídicos e a sua aplicação. Argumento de autoridade: Conhecido como apelo à autoridade ou argu- mento ad verecundiam. O argumento de autoridade consiste em sustentar a validade de uma tese utilizando, para isso, a adesão de determinada pessoa/ personalidade (doutrinador, autor) ou de um órgão (tribunal, corte). A tese a ser sustentada valerá porque é apoiada por alguém de relevante valor. Como exemplo do argumento de autoridade: “a tese que aqui defendemos é consagrada pelo jurista Fulano de Tal e pela Súmula YY do STJ, além de estar presente na jurisprudência pacífi ca”. Como podemos notar, o argumento de autoridade vai se basear na qualidade ou na quantidade. Quando baseado na qualidade, serão levados em consideração a respeitabilidade e o prestígio do testemunho que sustenta a validade daquela tese. Quando baseado na quantidade, a autoridade invocada é a da maioria da doutrina ou dos precedentes jurisprudenciais. Argumento a pari: Conhecido como argumento a simile ou a pari ratione. Esse argumento é fundado na analogia, ou seja, quando dois casos recebem identifi cação da solução uma vez que são similares. Fundamenta-se no brocardo ubi eadem ratio, ibi eadem dispositio, ou seja, princípio da semelhança. Esse argumento tem esteio na regra constitucional da isonomia, segundo a qual duas situações iguais deverão receber tratamentos iguais, além da interpretação lógica do Direito. Argumento a fortiori: Trata-se de um argumento de origem latina, essencial- mente jurídico. Tem como a sua mais fi el expressão o brocardo “quem pode o mais, pode o menos”. Assim, temos que “do menor se deduz o maior, do menos 9Teoria da argumentação jurídica C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 9 11/04/2018 09:30:57 evidente se deduz o mais evidente”. Exemplo desse argumento: se a prova testemunhal foi aceita, a fortiori devem ser aceitas as provas documentais. Argumento a majori ad minus: Trata-se de um argumento axiológico. Sustenta que a regra que impõe ou exige o mais também exige ou impõe o menos. Pode ser considerado subespécie do gênero a fortiori, uma vez que poderão ser considerados como duas faces da mesma moeda. Destacamos que o argumento a majori ad minus e o argumento a fortiori utilizam a mesma maneira de ra- ciocínio, tendo como ponto de partida elementos opostos (o menor ou o maior). Exemplo: se João foi condenado criminalmente por determinado fato, então será também condenado civilmente pelas consequências do fato que realizou. Argumento a contrario sensu: Argumento bem tradicional e muito empregado em ambientes jurídicos. O seu uso consiste em expressar uma conclusão, na qual há uma clara ideia de oposição nas consequências com base em oposi- ções de hipóteses. É possível afi rmar que se a presença da hipótese A leva à consequência B, então a ausência da hipótese A impede a consequência B. Argumento pelo absurdo: Objetiva apontar a falsidade de uma afi rmação ou a invalidade de uma ideia. Para isso, demonstra os seus efeitos, desdobramentos ou aplicações práticas que contradizem essa mesma ideia, conduzindo ao impossível, ao inadmissível ou ao antinômico. O argumento pelo absurdo, ou prova pelo absurdo, consiste em demonstrar a invalidade de uma tese. Ele pressupõe que a tese é verdadeira e mostra que a sua aplicação leva a resultados antijurídicos, incongruentes, contraditórios ou inadmissíveis. Ou seja, resultados absurdos. Na esfera hermenêutica, utilizamos o argumento pelo absurdo para demostrar que a aceitação de uma específi ca interpretação da norma acarretaria em: aplicação de antinomia entre a norma interpretada e o sistema; uma aplicação errônea da Constituição Federal; contrariar a finalidade objetivada pela mesma norma; promover a contradição da norma hierarquicamente superior. Argumento ex concessis: É o argumento que limita a validade de uma tese aos fatos que reconhece ou que está disposto a ceder. O uso desse argumento concede parte de razão à tese contrária, como ponto de partida para sustentar a própria tese. Teoria da argumentação jurídica10 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 10 11/04/2018 09:30:57 Argumento a posteriori: Conhecido também como argumento per efectum ou ab effectis. O uso dessa argumentação sugere comprovar a validade de uma tese, embasada nas consequências da sua aplicação. Remonta das consequências conhecidas aos princípios ou causas eventualmente desconhecidas. Argumento a priori: Conhecido como argumento à causa. Trata-se do método oposto ao argumento a posteriori. Defi nimos como um raciocínio dedutivo, que parte do geral (a regra ou hipótese abstrata) para o particular (o caso concreto ou os efeitos). Exemplo: AB é o mais provável suspeito da tentativa de homicídio de XY, vez que é o único que tinha motivos para querê-lo morto. Argumento pró-tese: Caracteriza-se por ser extraído dos fatos reais contidos no relatório/autos. Esse argumento deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. A estrutura adequada de seu desenvolvimento é: TESE + porque + e também + além disso. Cada um desses elos introduz fatos distintos favoráveis à tese escolhida. Juntamente aos argumentos jurídicos expostos até aqui, o recurso ou precedente legal da jurisprudência é uma das estratégias argumentativas que pode ser utilizada por meio do emprego dos argumentos jurídicos. Podemos ainda citar como argumentos utilizados no mundo jurídico e em diversas esferas profissionais: Argumento por raciocínio lógico: Para tanto, o operador do Direito deve ter boas criatividade e visão crítica, para bem expressar a sua ideia na linha de raciocínio e possibilitar que ela seja validada pelo leitor. Argumento e explicação: Se o tema a ser abordado é pouco palpável, fi losó- fi co ou formado por textos muito teóricos, o argumento de exemplifi cação é fundamental para ajudar no entendimento da mensagem. Exemplo: uma das consequências da violência é a degradação da qualidade de vida das pessoas. Os cidadãos não se sentemmais seguros para andar pelas ruas. As mulheres 11Teoria da argumentação jurídica C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 11 11/04/2018 09:30:57 são consideradas as principais vítimas. Elas optam por portar objetos de defesa pessoal ou andar na companhia de outras pessoas. Argumento do senso comum: Trata-se de argumentos incontestáveis. Refe- rem-se a fatos conhecidos e aceitos pela maioria das pessoas. Possuem base lógica, científi ca, ética e carregam um valor universal. Exemplos: tudo que vive, um dia morrerá; todas as pessoas têm sangue no seu corpo. No entanto, esses argumentos são muito raros no universo do Direito, uma vez que sempre existirão possibilidades de interpretações divergentes. A riqueza dos argumentos existentes no mundo jurídico é grandiosa. É importante o seu estudo e entendimento, visando ao bom uso dos argumentos e primando sempre pela ética. Você sabe o que é silogismo? O silogismo é uma forma de raciocínio dedutivo. É composto pela proposição de duas premissas iniciais e de uma terceira, que é uma conclusão. Trata-se de uma argumentação que compara dois termos com um terceiro, permitindo inferir ou deduzir um consequente. Vamos a um exemplo: “Todo homem é mortal.” “Sócrates é homem.” “Logo, Sócrates é mortal.” ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008. COSTA, N. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. São Paulo: HUCITEC, 1980. PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Teoria da argumentação jurídica12 C09_Hermeneutica_e_Argumentacao_Juridica.indd 12 11/04/2018 09:30:58 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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