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1 BIOÉTICA ANIMAL Prof. Luiz Antonio Bento Bibliografia BENTO, Luiz Antonio. Bioética. Desafios éticos no debate contemporâneo. São Paulo. Paulinas: 2008, pp.15-35 PESSINI, Leo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de. Problemas atuais de bioética. 7 ed. São Camilo: Loyola, 2014, pp35-55. SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética. Fundamentos e ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002, pp.23-56. + Esquema da aula (anexo ambiente online ou no e-mail da turma. Fica estabelecido que: Esse material serve apenas como APOIO para os estudo do acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ingá; O conteúdo da prova não se reduz a este ESQUEMA, portanto, não serve como contra argumento para justificar resposta dadas em prova; Além desse MATERIAL DE APOIO, os acadêmicos deverão considerar no processo avaliativo as exposições de aulas que vai além desse esquema e, bem como, os debates em sala de aula; A leitura da BIBLIOGRAFIA INDICADA para cada conteúdo abordado é indispensável para as provas. BIOÉTICA – ORIGEM 2 Potter como bioquímico e biólogo – pesquisador na área de oncologia (câncer) • Potter passou a se interessar em assuntos mais amplos por causa dos desafios da pesquisa que ele estava engajado. • O Câncer é um fenômeno complexo que exige colaboração interdisciplinar. • Os cientistas não podem simplesmente focar em perspectivas individuais e médicas. Problemas prioritários de seu tempo: 6 Os 1. População: O envelhecimento: problema mundial e a queda da fertilidade 2. Paz: violência e guerra ameaçam a sobrevivência humana 3. Poluição: causando a deterioração do meio ambiente 4. Pobreza: milhões de pessoas vivendo em condições sub-humanas 5. Política: decisões de políticas públicas a curto prazo e não a longo-prazo. 6. Progresso: as coisas podem melhorar, dependendo de como e em que direção este progresso é realizado. Para Potter, se nós não enfrentarmos estes problemas maiores, o futuro da vida será insustentável e a humanidade deixará de existir. O que nós necessitamos é uma ciência da sobrevivência. 3 BIOÉTICA NAS ORIGENS Origens remotas do neologismo “Bioethics”: Fritz Jahr - 1927 – Alemanha. Pastor protestante, filósofo e educador. Publicou no influente periódico científico alemão, Kosmos, um artigo intitulado: “Bio-Ethics: A Review of the Ethical Relationships of Humans to Animals and Plants”: “Bioética: uma revisão da relação ética dos humanos em relação aos animais e plantas”. Jahr, propõe um “Imperativo Bioético”: “Respeite todo ser vivo, como princípio e fim em si mesmo e trate-o, se possível, enquanto tal”. Amplia o imperativo moral de Kant - “Age de tal modo que consideres a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa dos outros, sempre como fim e nunca como simples meio – para todas as formas de vida”. BIOÉTICA” – o termo apareceu em 1970 em um artigo do oncologista americano Van R. Potter, intitulado “Bioethics, the Science of Survival” (Bioética, a ciência da sobrevivência); 1971 – LIVRO - Bioethics: Bridge to the Future (Bioética: a ponte para o futuro), estabelecendo uma ligação entre os valores éticos e os fatos biológicos. Desde o seu início, há aproximadamente 46 anos, a Bioética tem crescido e amadurecido, estando já presente nos cinco continentes, fazendo parte do currículo de várias profissões de saúde. PREOCUPAÇÃO DE POTTER: o desenvolvimento do conhecimento científico (biologia) e o atraso da reflexão necessária a sua utilização. Uma das finalidades da introdução da bioética como ciência básica nas Faculdades e universidades é fornecer embasamento para que os futuros profissionais possam resolver problemas éticos e morais que aparecem no decorrer de sua prática clínica 4 POTTER REIVINDICA PARA A BIOÉTICA A criação de uma nova ciência – uma ciência da sobrevivência – que se baseie na aliança do saber biológico com os valores humanos. A Bioética deveria ser a ciência da sobrevivência diante das diferentes ameaças à vida, um ambiente que põe em perigo a vida Chegou a essa compreensão a partir de suas pesquisas sobre o câncer. Esta doença não é apenas um enfermidade física, mas uma manifestação das ameaças do ambiente. Daí a necessidade de uma ciência da sobrevivência. Definição de Bioética: “É o estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde, enquanto essa conduta é examinada à luz de valores e princípios morais”. (Encyclopedia of bioethics, 1ª edição, vol. 1, introdução, p. XI, W. T. Reich, editor responsável, 1978). Definição de Bioética 2ª edição (1995): “É o estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão, decisão, conduta e normas morais - das ciências da vida e da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto interdisciplinar” para apontar para uma ampla gama de fontes possíveis de conhecimento moral. (2004): idem. Bioética Reflete a tensão entre ética e técnica, entre ciência e consciência. A bioética constitui-se como uma tentativa de humanizar o progresso científico e a visão técnico-instrumental que o indivíduo tem do mundo. Dimensão pluralista, aberta, multifacetada: Nega o modo de vida mecanicista e a despersonalização do indivíduo no mundo sistêmico. Questões Fundamentais da Bioética O aborto, a eutanásia e a questão acerca do direito de viver e morrer Mudança de sexo Pesquisas envolvendo seres humanos Pesquisas envolvendo animais O homem e o meio ambiente 5 CRONOLOGIA DAS DIRETRIZES RELACIONADAS COM PESQUISAS BIOMÉDICA • 1947 Código de Nuremberg Tribunal de Guerra • 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos Nações Unidas • 1964-2000 Declaração de Helsinque Associação Médica Mundial • 1988 Resolução 01/1988 Conselho Nac. de Saúde • 1993 Diretrizes éticas internacionais sobre pesquisa envolvendo seres humanos CIOMS/OMS • 1996 Resolução 196/1996 Conselho Nac. de Saúde • 2012 Resolução n. 466/2012 Conselho Nac. de Saúde • Resolução nº 510/2016 Conselho Nac. de Saúde • Art. 1 o Esta Resolução dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana, na forma definida nesta Resolução • 2005 Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos UNESCO 6 Os experimentos médicos nos campos de concentração Sobrevivência em baixas temperaturas Condições desumanas de pressão Ingestão de água do mar Formas de contágio da tuberculose – considerada, pelos nazista, como doença típica de judeus Experimentos com gêmeos Injeção de venenos em pessoas Características dos experimentos nazistas † Conduzidos sem o consentimento dos participantes. † Causadores de dor, sofrimento ou morte desnecessárias. † Ausência de benefício para os indivíduos. † Falta de justificativa científica, humana e social adequada. Consequência das Atrocidades 1947: 27 médicos alemães são julgados pelos crimes nazistas. São introduzidos os 10 princípios básicos incluindo o conceito de “consentimento voluntário 1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa que a pessoa envolvida deve ser legalmente capacitada para dar o seu consentimento; tal pessoa deve exercer o seu direito livre de escolha, sem intervenção de qualquerdesses elementos: força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição ou coerção posterior; e deve ter conhecimento e compreensão suficientes do assunto em questão para tomar sua decisão... Código de Nüremberg (1947) • Protege a integridade de participantes de pesquisas; • Estabelece condições para a condução de pesquisas envolvendo seres humanos; • Enfatiza a obrigatoriedade do consentimento informado do indivíduo submetido às experiências biomédicas; • Exigência que passaria a ser a base legal de todo o sistema da bioética. • A participação deve ser voluntária (consentimento); 7 • Os estudos devem ser fundamentados em adequada justificativa científica; • Não é aceitável sofrimento ou dano físico ou moral (não maleficência); • A pessoa tem o direito de suspender sua participação no estudo a qualquer momento. Documentos internacionais e nacionais mais importantes com relação ao controle ético das pesquisas com seres humanos - Código de Nuremberg (1947). - Declaração de Genebra (1948). - Código de Direitos Humanos (1948). - Código Internacional de Ética Médica (1949). - Declaração de Helsinki (1964). - Relatório Belmont (1978). - Diretrizes Éticas Internacionais para a Pesquisa Biomédica com Seres Humanos – CIOMS/OMS – 2002. NO BRASIL Resolução 196/96 do CNS (Conselho Nacional de Sáúde) define normas para pesquisas envolvendo seres humanos, atualizando as diretrizes nacionais de 1988. Resoluções do CNS (regulamentações complementares à 196/96) — 240/97: definição do termo "usuários" para efeito de participação nos Comitês de Ética em Pesquisa das instituições. — 251/97: aprovação de normas de pesquisa envolvendo seres humanos para a área temática de pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos. — 292/99: aprovação de normas de pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior. — 303/00: aprovação de normas de pesquisas em relação à área temática especial “reprodução humana”. — 304/00: aprovação de Normas para pesquisas em relação à área de povos indígenas. — 340/04: aprovação das diretrizes para análise ética e tramitação dos projetos de pesquisa da área temática especial de Genética Humana. — 346/05: regulamentação para tramitação de projetos de pesquisa multicêntricos no sistema Comitês de Ética em Pesquisa-CEPs – CONEP. 8 — 347/05: aprovação das diretrizes para análise ética de projetos de pesquisa que envolva armazenamento de materiais ou uso de materiais armazenados em pesquisas anteriores. — 370/07: registro e credenciamento ou renovação de registro e credenciamento do CEP. Fatores Internos Ocorridos no próprio mundo da saúde, que suscitaram debates públicos importantes: 1964: Willowbrook Hospital, New York: injeção de células tumorais em velhos dementes. 1965: Jewish Chronic Hospital, New York: injeção do vírus da Hepatite B ativo em 700 crianças órfãs, com retardo mental. 1932-1972: Caso Tuskegge AA ddeessccoobbrreemm aa eessttrruuttuurraa mmoolleeccuullaarr ddoo DDNNAA,, oo mmaatteerriiaall hheerreeddiittáárriioo ddaa vviiddaa,, ddaarriiaa nnoovvooss rruummooss àà cciiêênncciiaa.. Técnicas de reanimação Transplantes de rim Transplante de coração humano Fecundação in vitro A hemodiálise A clonagem animal e humana Cirurgia intrauterina Seleção de embriões 9 Estas descobertas criaram entusiasmo e questões intrigantes O homem se encontrava, pela primeira vez da sua história, na situação de poder controlar muitos aspectos da sua existência. – Mas ele saberia usá-las? – A medicina, feita para servir o homem, não se tornaria menos humana? Aí estão algumas das novas fronteira da ética médica, agora necessitando de princípios mais amplos, criando o campo alargado da Bioética É precisar “criar a ética da vida no mundo tecnificado se pretendemos viver no mundo e sobreviver com dignidade humana”. A Proposta Personalista: Centralidade da pessoa humana Os Princípios da Bioética Personalista 1. A defesa da vida física 2. Os princípios de liberdade/responsabilidade 3. O princípio terapêutico 4. Os princípios de socialidade/subsidiariedade 1. O princípio de defesa da vida física • A vida humana física é valor fundamental sobre o qual se fundamentam e se desenvolvem todos os outros valores da pessoa • A vida humana física não esgota todo o valor da pessoa, não é o bem máximo, absoluto que ao contrário encaminha ao transcendente • Cada intervenção sobre a vida física é uma intervenção sobre a pessoa, é um dano à pessoa. 2. O princípio de liberdade e responsabilidade • O bem da liberdade é subordinado ao bem da vida – Ninguém é livre se não é vivo. • O paciente tem a responsabilidade de cuidar da própria saúde • O paciente tem o direito de escolher os meios para cuidar da própria saúde; – Necessidade de uma prévia e correta informação • A problemática do consentimento informado e da relação médico-paciente 10 3. O princípio terapêutico • Premissa • O corpo humano pode ser considerado como um todo unitário, formado por partes distintas e entre eles orgânica e hierarquicamente unificadas pela existência única e pessoal • Definição • Pode-se intervir sobre uma parte do organismo, até mesmo com a sua destruição (se isso for necessário) com fim de obter o bem ao organismo inteiro, nas seguintes condições: 4. Condições de aplicabilidade • Que se intervenha sobre a parte doente/afetada (ou que causa a doença ou que seja lugar de evolução) para salvar o organismo sadio. • Que não exista outro meio terapêutico eficaz menos invasivo e destrutivo. • Que exista uma possibilidade proporcionalmente alta de sucesso. • Que o paciente tenha dado o seu consentimento informado. 4. O princípio de socialidade e subsidiariedade Cada pessoa deve realizar-se a si mesma, participando na realização do bem comum • O bem do sujeito como premissa e fundamento do bem comum (não o inverso) • A vida e a saúde de cada indivíduo não são apenas um bem pessoal inalienável, mas também um bem social e de todos. – Portanto, a sociedade tem a obrigação de promovê-la e defendê-la. A comunidade tem o dever de ajudar mais aquele que tem maior necessidade • Entretanto, a comunidade não deve substituir o indivíduo se isso não é necessário. Todos devem receber os meios (recursos, por exemplo) para promover a sua própria saúde. 11 REFLEXÃO REFLEXÃO A bioética entendida como o resgate da dignidade da pessoa humana e como meio de proporcionar melhor qualidade de vida a todas as pessoas, já que a riqueza de uma nação é seu povo, somente a educação para a cidadania poderá dar credibilidade à bioética cotidiana. Resolução corpo docente da Universidade de Wisconsin (Madison-WI). Resolução em memoria de Van Rensselaer Potter Nesta manifestação da área acadêmica da Universidade Potter é lembrado pelos seus colegas de docência e pesquisa como: – “um ser humano iluminado, preocupado com o cuidado humano de tudo, para que todos pudessem viver, não em uma utopia, mas em um mundo esteticamente belo e sustentável, onde qualquer um pudesse viver uma vida satisfatória e feliz”. (MEMORIAL COMMITTEE: Pitot, H.C.; Drinkwater, N.R.; Kasper, C.B. “Memorial Resolution of the Faculty of the University of Wisconsin-Madison on the Death of Professor Emeritus Van Rensselaer Potter II”. Faculty Document 1628. 1 April 2002. Palavras finais de Potter do vídeo apresentado no IV Congresso Mundial de Bioética (Tóquio, 1998): “... o que lhes peço é que pensem a bioética como uma nova ética científica que combina a humildade, responsabilidade e competência, numa perspectiva interdisciplinar e intercultural e que potencializa o sentido dehumanidade”.
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