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C A P ÍT U L O 1 O estudo da Químicae as grandezas físicas FOI NOTÍCIA! Não existe plano B, porque não temos um planeta B: a Cúpula do Clima 2014 e a Marcha popular pelo clima N ós não estamos aqui para falar, nós estamos aqui para fazer história’. Com es- ta frase, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, abriu o Climate Change Summit 2014 (ou Cúpula do Clima), realizado em Nova York no último dia 23 [de setembro de 2014]. O encontro teve como objetivo relançar ações contra o aque- cimento global. [...] Mais de 2 000 passeatas foram registradas den- tro do que foi chamada ‘Marcha popular pelo clima’, nos dias que antecederam o encontro da ONU. [...] Segundo os organizadores de Nova York, o objetivo em reunir tantos participantes é fazer com que a temática do clima deixe de ser vista como uma preo- cupação meramente ambiental e passe a ser vista como um problema de todos e em todos os aspec- tos: social, ambiental, [...] político e econômico. [...] É o que a Sociedade Global também acredita: que a governança democrática e o desenvolvimento em suas diversas facetas — humano, organizacional, local — dependem de cada cidadão e não do arraigado há- bito de reclamar do governo (muitas vezes nem che- gando a reclamar para o governo de fato) e de esperar soluções prontas do Estado. Se vivemos de fato na tal ‘Aldeia Global’ de McLuhan, por que não fazer uso das ferramentas de comunicação e informação que a glo- balização nos agracia de maneira construtiva, visando melhorar o meio em que vivemos? Resumindo, nas palavras do sociólogo Boaventura Souza Santos: ‘Há uma globalização alternativa, a globalização de um desenvolvimento democraticamente susten- tável, das solidariedades e das cidadanias, de uma prática ecológica que não destrua o planeta'.” Disponível em: <www.sociedadeglobal.org.br/nao-existe-plano-b/>. Acesso em: 3 jun. 2015. N Suzi Eszterhas/Agência France-Presse Pinguins-de-adélia em bloco de gelo. Ilhas Paulet, Antártica, agosto de 2014. A reportagem que você acabou de ler fala que o aquecimento global é um problema de todos e envolve aspectos sociais, ambientais, políticos e econômicos. Mas o que determina o aquecimento global, o aumento de temperatura ou o aumento de calor? Existe diferença? 9 M_Reis_Quimica_V1_PNLD2018_008a026_U1_C01.indd 9 29/03/16 09:36 Realmente não é muito fácil definir matéria e energia, mas, intuitivamente, sabemos que todas as imagens representam alguma forma de matéria e de ener- gia. Você poderia argumentar, por exemplo, que os origâmis representam apenas matéria, pois são feitos somente de papel. Mas pense bem: o papel pode ser queimado, fornecendo calor, não é? Então essa matéria possui uma energia cha- mada energia química potencial, só esperando as condições certas para aparecer. De fato, não existe matéria sem energia – pelo menos até hoje não se con- seguiu o feito de separá-las. Descobriu algo nas fotos que não é matéria ou energia? A amizade dos ado- lescentes? A solidão do cortador de cana? A beleza da praia? Se você escreveu algo assim, deve observar que amizade, solidão, estética, beleza são manifestações da matéria, pois não existem isoladamente e precisam estar vinculadas a algum tipo de matéria para se expressarem. Além disso, todos os sentimentos desencadeados em nosso corpo provêm de reações químicas ou de transformações que envolvem matéria e energia. E o que você acha que vai aprender nas aulas de Química? Muita gente pensa que aprender Química é simplesmente ficar observando o professor misturar líquidos coloridos e fumegantes, na expectativa de que ocorra (ou não) uma explosão; para em seguida ouvi-lo discorrer monotonamen- te sobre o fenômeno, citando fórmulas e nomes impronunciáveis que é preciso decorar para passar no vestibular. R o g é ri o R e is /P u ls a r Im a g e n s Cortador de cana-de-açúcar 1 O que é Química? De modo bem simples, podemos dizer que: Química estuda as transformações que envolvem matéria e energia. Você sabe o que é matéria? O que é energia? Para entender o que é matéria e energia, comece analisando as imagens desta página e liste no seu caderno todos os exemplos de matéria e/ou de ener- gia que se encontram implícitos em cada uma. Liste também exemplos do que, na sua opinião, não está relacionado a matéria ou energia nessas imagens. Adolescentes na praia Origâmis Fotos: ULTRA.F/Getty Images O li v e ro m g /S h u tt e rs to ck Origâmis Capítulo 110 M_Reis_Quimica_V1_PNLD2018_008a026_U1_C01.indd 10 29/03/16 09:36 Isso é preconceito! Aprender Química não é nada disso. É verdade que em certos momentos vamos utilizar fórmulas para expressar fenômenos e que alguns nomes parecem impronunciáveis, mas o foco não é esse, o foco é a atitude, a consciência, o despertar. O que queremos para nossa vida, nosso futuro, nosso país? Em que socieda- de nós queremos viver? Que notícias queremos ler nos jornais? Sair às ruas para protestar e pedir por mudanças é muito importante, mas é preciso ter consciência do que pode ser mudado a curto, médio e longo prazos e qual a relação entre o custo e o benefício de cada mudança; mas principalmen- te é preciso saber o papel de cada um para que essas mudanças se concretizem. Isso exige conhecimento e educação, inclusive em Química. Queremos energia limpa! Mas quais são as opções que temos? O que pode ser melhor em cada situação? Devemos desenvolver tecnologia ou importá-la? Qual o custo da extração da matéria-prima e de seu beneficiamento em termos ambientais e sociais? Queremos “acabar com a poluição”! Mas a poluição é filha do consumismo com o desperdício. Estaríamos dispostos a mudar nossos hábitos e valores? A consumir com critério? A acompanhar o destino do nosso lixo? A não comprar produtos de empresas que agridem o meio ambiente ou que explorem a mão de obra, burlando a lei e ferindo a dignidade humana? Queremos mais saúde! Mas estaríamos dispostos a ler e a compreender os rótulos dos produtos que utilizamos, entender do que são feitos os alimentos industrializados, os produtos de limpeza, os fármacos, os produtos de higiene, os tecidos e materiais com os quais convivemos diariamente? Queremos que todos tenham acesso a água potável! Mas o que é necessário para captar, tratar e distribuir a água? O que podemos fazer para otimizar e prolongar seu uso? Queremos um trânsito civilizado! E quando vamos aprender a dar passagem? A parar para o pedestre e a respeitar o ciclista? Quando vamos parar de sonhar com o carro próprio para exigir (sem dar tréguas) um transporte público eficien- te das autoridades? Queremos o fim da corrupção, participação nas decisões políticas, respeito ao meio ambiente... Queremos uma sociedade justa e igualitária, mas devemos trabalhar para conseguir o que queremos; afinal, toda mudança exige esforço e comprometimento. O único caminho para mudar nosso país é o conhecimento, a educação de qualidade. A ignorância favorece a arbitrariedade e a ditadura. A Química é natural ou artificial? Observe que a definição de Química (estudo das transformações que envolvem matéria e energia) não diferencia os fenômenos que ocorrem naturalmente, como o amadurecimento de um fruto ainda preso à árvore no meio de uma floresta intocada, daqueles que são provocados, como o amadurecimento artificial de certos frutos co- merciais por exposição ao gás etileno. Na realidade, o que muitas vezes o químico faz é procurar entender a natureza e testar meios de reproduzir o fenômeno que o interessa em laboratório (em pequena escala), introduzindo ou não alguma modificação para, mais tarde, o engenheiro químico adaptar o proces- so para a indústria (que vai reproduzi-lo em larga escala). Konstanttin/Shutterstock A Química está presente na natureza? 11O estudo da Química e as grandezas físicas M_Reis_Quimica_V1_PNLD2018_008a026_U1_C01.indd 11 29/03/16 09:36 A Química polui? Em geral, há vários caminhos possíveis para obterdeterminada transformação química. Historicamente, em razão da necessidade básica (e sempre urgente) de suprir o mercado com produtos essenciais para o progresso social e tecnológico, foram escolhidos alguns caminhos errados. Por exemplo, desprezou-se durante muito tempo a questão ambiental. Produtos altamente tóxicos, de alto consumo energético, de pequena durabilidade ou não biodegradáveis foram, e continuam sendo, amplamente introduzidos no mercado (como os plásticos, os combustíveis fósseis, os pesticidas). Além disso, persistem as atitudes imediatistas e condenáveis, como o despejo de esgoto sem tratamento em rios e oceanos, o despejo de lixo di- retamente sobre o solo, sem nenhum manejo de proteção ambiental (os lixões), a fabricação de minas terrestres e armas químicas, etc. A Química pode proporcionar qualidade de vida? Atualmente as pessoas já questionam as opções que podem trazer danos ao meio ambiente, e muitas indústrias já estão implantando o conceito de Química verde — praticada com pro- cessos químicos que eliminam ou minimizam a produção de rejeitos. Além disso, vários centros de pesquisas estão propondo alternativas viáveis para a substituição de combustíveis fósseis, e a reciclagem é uma realidade em muitas escolas, residências e estabelecimentos comerciais, além de significar um meio de vida para uma parcela significativa da população. No futuro, a Química poderá suprir o mercado com os bens materiais de que a sociedade necessita para uma vida mais confortável e saudável, com a diminuição das desigualdades socioeconômicas e a minimização das agressões ao meio am- biente. Mas para isso é preciso que as pessoas tenham acesso à informação, que haja conscientização por meio da educação e que os caminhos que escolhermos para atingir esses objeti- vos sejam mais conscientes e menos imediatistas. Andrew Brookes/Corbis/Latinstock A Química verde é um conjunto de processos que eliminam ou minimizam a produção de rejeitos. C h ri s to p h e S im o n /A F P P h o to /G e tt y I m a g e s A ingestão de plástico pode provocar a morte de animais por sufocamento. 12 M_Reis_Quimica_V1_PNLD2018_008a026_U1_C01.indd 12 29/03/16 09:36