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1ª EDIÇÃO EGUS 2014 METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO João José Saraiva da Fonseca INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica Equipe de Transposição Didática e Modelagem Pedagógica Anaisa Alves de Moura Evaneide Dourado Martins Licilange Gomes Alves Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca Produção e Desenvolvimento de Softwares para Aprendizagem em EaD Anderson Barbosa Rodrigues André Alves Bezerra Luís Neylor da Silva Oliveira Diretor-Presidente Oscar Rodrigues Júnior Pró-Diretor de Inovação Pedagógica João José Saraiva da Fonseca Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca Assessor de Gestão Administrativo Éder Jacques Porfírio Farias Multimídia Impressa e Audiovisual Cícero Romário Lima Rodrigues Edney Eslley Ferreira Lima Francisco Sidney Souza de Almeida José Antônio Castro Braga Juliardy Rodrigues de Sousa Marcio Alessandro Furlani Manutenção e Suporte do Ambiente Virtual de Aprendizagem Rhomélio Anderson Sousa Albuquerque 7INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Palavras do Professor-Autor ...................................................13 Ambientação ...................................................................................16 Trocando ideias com os autores ...........................................18 Problematizando ............................................................20 1 A natureza da ciência e da pesquisa científica A natureza da ciência – O conhecimento .................................................25 Os Conhecimentos Teológico, Filosófico e Mítico ..................................25 O conhecimento popular ..................................................................................25 O conhecimento científico .................................................................................26 A natureza da Ciência ........................................................................................28 A natureza da pesquisa científica A pesquisa científica ..............................................................................................33 Pesquisa qualitativa versus quantitativa ....................................................33 Classificar as pesquisas com base em seus objetivos ..........................35 Pesquisa experimental ........................................................................................35 Pesquisa descritiva ..................................................................................................35 Pesquisa exploratória ............................................................................................36 Classificar as pesquisas com base nos procedimentos técnicos utilizados ......................................................................................................................36 2 Sumário 8 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Pesquisas que se baseiam em fontes bibliográficas e documentais para a coleta dos dados ......................................................................................37 Classificações da Pesquisa ................................................................................37 Pesquisa Bibliográfica ..........................................................................................38 Pesquisa Documental ...........................................................................................39 Pesquisas que se baseiam em dados fornecidos por pessoas .......40 Pesquisa Experimental .........................................................................................40 Pesquisa Ex-Post-Facto .......................................................................................41 Pesquisa com Survey ............................................................................................42 Estudo de caso ..........................................................................................................42 Levantamento ...........................................................................................................43 Pesquisas em que a coleta de dados ocorre por meio de uma interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa ........................44 Pesquisa Participante ..........................................................................................45 Pesquisa-Ação ..........................................................................................................45 Pesquisa Etnográfica .............................................................................................46 Pesquisa Etnometodológica ..............................................................................47 História oral, história de vida e depoimento pessoal ..........................48 Aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres vivos ...........................48 Projeto de Pesquisa Título ..............................................................................................................................55 Definição do tema ..................................................................................................55 Escolha do problema.............................................................................................56 Definição da base teórica e conceitual .......................................................56 Formulação de hipóteses ....................................................................................57 Tipos de hipóteses ...................................................................................................58 3 9INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico 4 Definição de variáveis ..........................................................................................59 Variável dependente e variável independente ........................................59 Variável ativa e variável atributo (variável orgânica) .........................60 Variável contínua e variável categórica .....................................................60 Variável estranha ou interveniente ...............................................................60 Elementos que podem afetar os resultados .............................................61 Justificativa .................................................................................................................63 Definição de objetivos ..........................................................................................63 Metodologia ...............................................................................................................63 Amostra ........................................................................................................................64 Amostra probabilística (selecionada por sorteio) .................................65 Amostra não-probabilística ..............................................................................66 Questionário ..............................................................................................................68 Entrevista .....................................................................................................................73 Fases da análise de dados ..................................................................................76 Referenciais para a elaboração de um Projeto de Pesquisa Como elaborar um Projeto de Pesquisa ....................................................83 Introdução ...................................................................................................................83 Justificativa .................................................................................................................84 Fundamentação Teórica .....................................................................................84 Metodologia ...............................................................................................................84 Referência Bibliográfica .......................................................................................84Escrevendo o projeto .............................................................................................84 Qualidades básicas da redação do projeto ..............................................85 Referências para a escrita de um texto ......................................................85 10 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Diretrizes para elaboração de uma monografia científica Como elaborar uma monografia ..................................................................89 Etapas da Elaboração ...........................................................................................90 A construção lógica do Trabalho Científico ..............................................95 A redação do texto. ................................................................................................97 Leitura Obrigatória ..........................................................................................100 Saiba mais ...............................................................................................................102 Revisando ................................................................................................................104 Autoavaliação ......................................................................................................108 Bibliografia ............................................................................................................110 Bibliografia da Web .......................................................................................112 5 11INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico 13INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Palavra do Professor-Autor A intenção deste trabalho sobre Metodologia do Trabalho Científico é contribuir com os estudantes de graduação e pós-graduação no que diz respeito aos trabalhos de pesquisa acadêmica a partir do pensamento científico. Este livro é resultado de minha caminhada acadêmica: Pós-Doutor em Educação pela Universidade de Aveiro em Portugal, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008), Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa – Lisboa (1999), (validado no Brasil pela Universidade Federal do Ceará-UFC), Especialista em Educação Multicultural pela Universidade Católica Portuguesa – Lisboa (1994) e Graduado em Ensino da Matemática e Ciências pela Escola Superior de Educação de Lisboa, (validado no Brasil pela Universidade Estadual do Ceará-UECE). Sou pesquisador na área da produção de conteúdo para Educação a Distância; atualmente desempenho a função de Pró-Diretor de Inovação Pedagógica das Faculdades INTA, Sobral (CE). A disciplina em questão tem um valor importante na formação do profissional. Ela se ocupa do estudo dos métodos científicos que devem ser adotados para pesquisa e obtenção de conhecimento. A estrutura deste livro possibilita ao estudante construir seu caminho em busca do saber científico, não se ocupa apenas da informação do conteúdo a ser apreendido em sala de aula e reproduzido no dia da avaliação, mas de aprender fazendo, como sugerem os conceitos contemporâneos da Pedagogia. A obra fornece orientações para elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, de modo que os estudantes poderão consultá-la a qualquer hora para eliminar suas dúvidas quanto aos procedimentos, técnicas e normas de pesquisas e entender que o método científico é o caminho do saber científico. João José Saraiva da Fonseca 14 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Biografia dos Autores João José Saraiva da Fonseca É Pós-Doutor em Educação pela Universidade de Aveiro em Portugal, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008), Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1999) (validado no Brasil pela Universidade Federal do Ceará), Especialista em Educação Multicultural pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1994). Graduou-se em Ensino de Matemática e Ciências pela Escola Superior de Educação de Lisboa (validado no Brasil pela Universidade Estadual do Ceará). É pesquisador na área da produção de conteúdo para educação a distância. Atualmente desempenha a função de Pró-Diretor de Inovação Pedagógica das Faculdades INTA - Sobral CE. 15INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico AMBIENTAÇÃO À DISCIPLINA Este ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina. 17INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Olá, estudantes A disciplina de Metodologia do Trabalho Científico é fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos científicos dos estudantes que ingressam no ensino superior. A proposta é mostrar as principais normas envolvidas na elaboração de um texto, tais como: estrutura de um trabalho científico, padrões de estrutura, inserção de citações diretas e indiretas, tipos de pesquisas e melhorar a qualidade das produções dos estudantes. No entanto, sugerimos que você faça uma leitura da obra “Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico”, elaborada especialmente para estudantes em nível de graduação e pós-graduação, cuja proposta é auxiliar e direcionar esclarecimentos sobre a elaboração de trabalhos científicos, monografias, dissertações e teses. TROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES A intenção é que seja feita a leitura de obras indicadas pelo professor-autor numa perspectiva de dialogar com os autores de relevo nacional e/ou mundial. 19INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Caro estudantes, sugerimos a leitura do livro “Fundamentos de Metodologia Científica” as autoras apresentam uma introdução da Metodologia do Trabalho Científico, enfocam aspectos de conhecimento científico, a diferença de conhecimento científico e conhecimento popular, técnicas de pesquisas e colocam em evidencia a estrutura da comunicação científica. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010. Propomos também a leitura da obra Introdução à Metodologia do Trabalho Científico de Maria Margarida de Andrade, a autora destaca a leitura muito importante para quem deseja realizar trabalhos acadêmicos, aborda normas de redação, técnicas de pesquisa, técnicas para pesquisa bibliográfica, de campo e relatórios de pesquisas. ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução a Metodologia do Trabalho Científico. 10ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010. Após a leitura dos livros escolha um e faça uma resenha crítica. PROBLEMATIZANDO É apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema abordado, articulando a teoria e a prática profissional. 21INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A motivação do pesquisador deve ser as experiências que o levam a identificação do problema a ser estudado. O título deve ser escolhido de forma cuidadosa e a pesquisa científica deve ter início com a formulação de um problema e com o objetivo de procurar solucioná-lo com clareza e delimitado a uma variável. Vamos pensar num determinado caso, uma estudante pretende pesquisar sobre estudantes de Educação de Jovens e Adultos. Sua pesquisa está voltada na seguinte questão: Qual a receptividade desta modalidade de ensino dentro da rede pública? Portanto, a referida estudante antes de iniciar a pesquisa deve elaborar perguntas tais como: O que pesquisar? Por quê? (Justificando a escolha do problema), Para que? Qual o objetivo? Como pesquisar? Qual a metodologia? Quando pesquisar? Onde pesquisar? Com que recursos? Se você fosse fazer uma pesquisa sobre o assunto mencionado como você responderia tais questionamentos? Reflita e comente com seus colegas. APRENDENDO A PENSAR O estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelo professor- autor do material didático. 23INTA EAD Metodologia do Trabalho CientíficoA NATUREZA DA CIÊNCIA E DA PESQUISA CIENTÍFICA 1 Conhecimentos Compreender a ciência enquanto processo crítico de reconstrução do saber, bem como a sua natureza, os métodos e os processos de investigação. Habilidades Caracterizar o conhecimento em geral e assinalar seus pressupostos; Identificar os diferentes tipos de conhecimento e suas formas de validação; Reconhecer os aspectos cognitivos e sociais presentes na elaboração do conhecimento pela humanidade. Atitude Assinalar as características próprias do conhecimento científico e seus pressupostos. 24 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD 25INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A natureza da ciência – O conhecimento O homem é, por natureza, um animal curioso. Desde o seu nascimento interage com a natureza e os objetos à sua volta, interpretando o universo a partir das referências sociais e culturais do meio em que vive. Apropria-se do conhecimento através das sensações que os seres e os fenômenos lhe transmitem e a partir dessas sensações elabora representações. Contudo, essas representações não constituem o objeto real. O objeto real existe independentemente do homem conhecê-lo ou não. O conhecimento humano é, na sua essência, um esforço para resolver contradições entre as representações do objeto e a realidade do mesmo. O conhecimento, dependendo da forma pela qual se chega a essa representação, pode ser classificado em: popular (senso comum), teológico, mítico (ou místico), filosófico e científico. Os Conhecimentos Teológico, Filosófico e Mítico O conhecimento teológico se preocupa com verdades que somente a fé pode explicar. Acredita-se que os ensinamentos religiosos são indiscutíveis. Quanto ao conhecimento filosófico, preocupa-se com especulações e reflexões acerca da relação do homem com o cotidiano. Não é um conhecimento estático, pois sempre está em constante transformação não se importando com verificação; é um estudo racional. Já o conhecimento mítico é baseado na intuição, auxilia o ser humano a descobrir o mundo através de representações que não são racionais. O Conhecimento Popular A nossa vida desenvolve-se em torno do conhecimento popular. Ele surge da necessidade de resolver problemas imediatos, adquiridos através de ações não planejadas. Este conhecimento surge de modo instintivo, espontâneo, subjetivo, acrítico, permeado pelas opiniões, emoções e valores de quem o produz. Desse modo, o conhecimento popular consegue atingir objetividade e racionalidade limitadas. O conhecimento popular, também designado de senso comum, distingue-se essencialmente do conhecimento científico pelos métodos utilizados para chegar ao 26 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD conhecimento. Saber se determinada planta necessita de uma quantidade de água e que deverá ser regada se não recebê-la sob a forma de chuva é um conhecimento verdadeiro e passível de comprovação, mas nem por isso é científico. Para que esse conhecimento popular se transforme em científico será necessário, por exemplo, conhecer as particularidades das plantas e seu ciclo de desenvolvimento. O senso comum varia de acordo com o conhecimento relativo da maioria dos sujeitos em um determinado momento histórico. De acordo com Demo (1987, p. 30), “Não distingue entre fenômeno e essência, entre o que aparece na superfície e o que existe para baixo”. Um dos exemplos de senso comum mais conhecidos é o fato de considerar que a Terra era o centro do Universo e que o Sol girava em torno dela. Galileu, ao afirmar que a Terra girava em volta do Sol, quase foi queimado pela Inquisição. Hoje o senso comum mudou. Quem afirmar que o sol gira em torno da Terra será considerado ignorante porque a cultura popular é baseada no senso comum. Seguem abaixo as características do conhecimento popular: Características do Conhecimento Popular Superficial Conforma-se com a aparência e não esqueça que “as aparências enganam” Sensitivo Refere-se às vivências e emoções enfrentadas pelo sujeito no dia a dia. Assistemático Não procura a sistematização e validação do conhecimento. Acrítico Os conhecimentos não são sujeitos a uma análise crítica. O Conhecimento Científico O conhecimento científico é produzido pela investigação científica através de seus métodos resultantes do aprimoramento do senso comum. O conhecimento científico tem origem nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. É um conhecimento objetivo, metódico, passível de demonstração e comprovação. 27INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico O método científico permite a elaboração conceitual da realidade que se deseja verdadeira e impessoal, passível de ser submetida a testes de falseabilidade. Contudo, o conhecimento científico apresenta um caráter provisório, uma vez que pode continuamente ser testado, enriquecido e reformulado. Para que isso aconteça, deve ser de domínio público. Veja no quadro abaixo as características do Conhecimento Científico: Características do Conhecimento Científico Objetivo A ciência tenta afastar os elementos afetivos e subjetivos, visando apresentar- se enquanto conhecimento válido para todos. Intersubjetivo A evolução recente da ciência, especialmente da física (como a teoria da relatividade e da física quântica), trouxe para a discussão o que podemos apelidar de intersubjetividade do conhecimento cientifico já que é crescente a tendência para considerar a impossibilidade de isolar adequadamente o objeto do sujeito e de eliminar completamente o observador. Positivo A ciência procura uma absoluta submissão à fiscalização da experiência. Racional O conhecimento científico procura racionalizar o real. A partir de dados empíricos e por meio de sínteses, procura incluir os fatos num sistema racional a partir do qual possa deduzir leis. Reversível Todo conhecimento científico é provisório e sujeito a revisão, aperfeiçoamento e, às vezes, uma completa transformação. Autônomo O conhecimento científico procura a autonomia em relação à filosofia e à fé. 28 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD A natureza da Ciência A ciência é a atividade intelectual e prática que abrange a estrutura do comportamento do mundo físico e do natural através do empirismo e da observação. Ela é uma forma particular de conhecer o mundo. É o saber produzido através do raciocínio lógico associado à experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos de observação, identificação, descrição, investigação experimental e explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas bem como regras fixas para a formação de conceitos, condução de observações, realização de experimentos e validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ciência não é descobrir verdades ou se constituir como uma compreensão plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório que facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre tais acontecimentos. O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, no livro Um discurso sobre as ciências (1987), enquadra a natureza da ciência em três momentos: • Paradigma da modernidade; • A crise do paradigma dominante; • O paradigma emergente. O Paradigma da modernidade é o dominante hoje em dia. Substancia-se nas ideias de Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Bacon e Descartes. Construído com base no modelo das ciências naturais, apresenta uma forma de conhecimento verdadeiro e uma racionalidade experimental, quantitativa e neutra. De acordo com o autor, essa racionalidade é mecanicista, pois considera o homem e o universo verdadeiras máquinas; é reducionista, pois reduz o todo às partes e é cartesiano porque separa o mundo natural, empírico, dos outros mundos não verificáveis como o espiritual, simbólico. O autor apresentaoutros pormenores do paradigma: a distinção entre conhecimento científico e conhecimento do senso comum, entre natureza e pessoa humana, corpo e mente, corpo e espírito; a certeza da experiência ordenada; a 29INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico linguagem matemática como o modelo de representação; a medição dos dados coletados; a análise que decompõe o todo em partes; a busca de causas que aspiram a formulação de leis à luz de regularidades observadas com vista a prever o comportamento futuro dos fenômenos; a expulsão da intenção; a ideia do mundo enquanto máquina; a possibilidade de descobrir as leis da sociedade. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) introduziu a dúvida metódica como elemento primordial para a investigação científica. Em seu livro Discurso sobre o método, publicado em 1637, o filósofo expõe que o melhor caminho para a compreensão de um problema é a ordem e a clareza com que realizamos nossas reflexões e propõe um método para consegui-lo. Vamos compreender as quatro regras do método: • Jamais aceitar como exata alguma coisa que não se conheça a clareza como tal, evitando a precipitação e a precaução, fazendo o espírito aceitar somente aquilo, claro e distinto, sobre o que não pairam dúvidas; • Dividir cada dificuldade a ser examinada em quantas partes for possível para resolvê-la; • Pôr em ordem os pensamentos, começando pelos mais fáceis de serem conhecidos para atingir, aos poucos, os mais complexos; • Fazer, para cada caso, uma enumeração exata e uma revisão ampla e geral para ter-se a certeza de não ter esquecido ou omitido algo. A Crise do paradigma dominante, segundo Boaventura Sousa Santos (1987), tem como referências as ideias de Einstein e os conceitos de relatividade e simultaneidade que colocaram o tempo e o espaço absolutos de Newton em debate; Heisenberg e Bohr, cujos conceitos de incerteza e continuum abalaram o rigor da medição; Gödel que provou a impossibilidade da completa medição e defendeu que o rigor da matemática carece de fundamento; Ilya Prigogine, que propôs uma nova visão de matéria e natureza. O homem encontra-se num momento de revisão sobre o rigor científico pautado no rigor matemático e de construção de novos paradigmas: em vez de eternidade, a história; em vez do determinismo, a impossibilidade; em vez do mecanicismo, a espontaneidade e a auto-organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade 30 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente. O paradigma emergente deve se alicerçar nas premissas de que todo o conhecimento científico-natural é científico-social, todo conhecimento é local e total (o conhecimento pode ser utilizado fora do seu contexto de origem), todo o conhecimento é autoconhecimento (o conhecimento analisado sob um prisma mais contemplativo que ativo), todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum (o conhecimento científico dialoga com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas). Para Santos (1987), a ciência encontra-se num movimento de transição de uma racionalidade ordenada, previsível, quantificável e testável, para outra que enquadra o acaso, a desordem, o imprevisível, o interpenetrável e o interpretável. 31INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A NATUREZA DA PESQUISA CIENTÍFICA 2 Conhecimentos Compreender os tipos de pesquisa científica Habilidades Identificar a natureza da pesquisa científica; Identificar as características da pesquisa quantitativa e qualitativa. Atitude Aplicar os tipos de pesquisa científica na elaboração de trabalhos científicos. 33INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A pesquisa científica A pesquisa é a atividade nuclear da ciência; seu processo é permanente e inacabado. Desenvolve-se através de aproximações sucessivas da realidade, fornecendo-nos subsídios para uma intervenção no real. A pesquisa científica é o resultado de um inquérito ou exame minucioso, realizado com o objetivo de resolver um problema, recorrendo a procedimentos científicos. Lehfeld e Barros (1991) referem-se à pesquisa como sendo a inquisição, o procedimento sistemático e intensivo, que tem por objetivo descobrir e interpretar os fatos que estão inseridos em uma determinada realidade. A ciência tem áreas de conhecimento como: Ciências Humanas, Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências Exatas. No Brasil, o CNPq classifica os pesquisadores e as profissões a partir dessas grandes áreas. Acesse: http://www.cnpq.br/ A seguir, destacaremos várias espécies e etapas de pesquisa científica. Pesquisa qualitativa versus quantitativa A pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Para Minayo (2001, p. 14), a pesquisa qualitativa busca analisar o comportamento, valores e as atitudes através de dados coletados. Aplicada inicialmente em estudos de Antropologia e Sociologia como contraponto à pesquisa quantitativa dominante, a pesquisa qualitativa tem alargado o seu campo de atuação em áreas como a Psicologia e a Educação. Esta pesquisa é criticada pelo seu empirismo, subjetividade e o envolvimento emocional do pesquisador. Os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população- alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa centra-se na objetividade. Influenciada pelo positivismo, esta pesquisa considera que a realidade somente pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de 34 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD instrumentos padronizados e neutros. Ela recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa não se substituem uma à outra, elas se complementam. As pesquisas qualitativas são usadas quando se buscam percepções e entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para a interpretação. Já as pesquisas quantitativas são mais adequadas para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dos entrevistados, pois utilizam instrumentos estruturados (questionários). Devem ser representativas de determinado universo de modo que seus dados sejam generalizados e projetados para aquele universo. Seu objetivo é mensurar e permitir o teste de hipóteses, já que os resultados são mais concretos e, consequentemente, menos passíveis de erros de interpretação. Em muitos casos, as pesquisas quantitativas geram índices que podem ser comparados ao longo do tempo, permitindo traçar um histórico da informação (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE). A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente. Veja o quadro abaixo: Comparação entre pesquisa qualitativa e quantitativa Aspecto Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Enfoque na interpretação do objeto Menor Maior Importância do contexto do objeto pesquisado Menor Maior Proximidade do pesquisador em relação aos fenômenos estudados Menor Maior Alcance do estudo no tempo Instantâneo Intervalo Maior Instantâneo Intervalo maior Quantidade de fontes de dados Uma Várias Ponto de vista do pesquisador Externo à organização Interno à organização Quadro teórico e hipóteses Definidas rigorosamente Menos estruturadas 35INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Classificar as pesquisas com base em seus objetivos Na forma tradicional de investigar cientificamente uma pessoa ou grupo capacitado (sujeito da pesquisa), a pesquisa aborda um aspecto da realidade (objeto da pesquisa) no sentido de comprovar experimentalmentehipóteses (pesquisa experimental) ou para descrevê-la (pesquisa descritiva), ou para explorá-la (pesquisa exploratória). Pesquisa experimental A pesquisa experimental é considerada o melhor exemplo de pesquisa científica, pois o isolamento de qualquer interferência do meio exterior possibilita um alto nível de controle. O conhecimento científico está ausente nos resultados oferecidos pelas pesquisas experimentais que têm como suporte quase exclusivamente o método experimental. Elas têm como preocupação principal identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. O que caracteriza a pesquisa experimental é a manipulação e o controle das variáveis com o objetivo de identificar qual a variável independente que determina a causa da variável dependente ou da situação em estudo. A realização de pesquisas experimentais no âmbito das ciências sociais reveste- se de algumas dificuldades pelo que se recorre a pesquisas com outras características tais como a pesquisa descritiva e pesquisa exploratória. Pesquisa descritiva A pesquisa descritiva pretende observar, registrar, analisar e correlacionar fenômenos ou fatos em um contexto, visando descobrir a frequência em que eles ocorrem, sua eventual relação e conexão com outros fenômenos, suas características e natureza, sem que o pesquisador interfira neles, nem no ambiente analisado. A pesquisa descritiva possibilita conhecer as características de determinada população ou fenômeno: distribuição por idade, sexo, nível de escolaridade, renda ou então possibilitar estudar as características do atendimento de uma entidade pública ou privada face ao público interno ou externo. Pode também, por exemplo, possibilitar o levantamento do desempenho local de uma espécie vegetal ou animal de interesse a partir da observação de aspectos como crescimento, produção, alimentação, saúde, dentre outros. A pesquisa descritiva é, 36 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD junto com a exploratória, habitualmente utilizada pelas ciências sociais e aplica para a coleta de dados, por exemplo, questionários e observação. Pesquisa exploratória A pesquisa exploratória envolve, na maioria dos casos, o levantamento bibliográfico, a realização de entrevistas com sujeitos que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e a análise de exemplos que possibilitem a compreensão da realidade estudada. De um modo geral, a pesquisa exploratória assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso, contudo ela pode também constituir um estudo preliminar ou preparatório para outro tipo de pesquisa proporcionando as condições para a avaliação da possibilidade de se desenvolver um estudo inédito e relevante sobre determinado tema ou então encontrar novos enfoques para a pesquisa que se está iniciando. Classificar as pesquisas com base nos procedimentos técnicos utilizados Tradicionalmente, o sujeito da pesquisa possui acesso às conclusões, não tendo ingerência no processo, nem nos resultados. Nas últimas décadas apareceram outras propostas de investigação que sem perder a cientificidade, procuram maior participação e apropriação do processo e dos resultados pelos objetos de investigação. Não aceitam a separação entre os indivíduos e o contexto no qual vivem, nem aceitam ignorar o ponto de vista dos investigados e as suas interpretações da realidade. Para desenvolver uma pesquisa, é indispensável selecionar o tipo que será utilizado. De acordo com as características da pesquisa, poderão ser escolhidos vários tipos, sendo possível aliar o qualitativo ao quantitativo. A partir das propostas de Gil (2002, p. 43) definimos três grandes grupos: aqueles em que a coleta de dados baseia-se na pesquisa bibliográfica e na pesquisa documental; aqueles cujos dados são fornecidos por pessoas e as pesquisas em que na recolha de dados ocorre uma interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa. 37INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Pesquisas que se baseiam em fontes bibliográficas e documentais para a coleta dos dados A pesquisa bibliográfica e documental pode parecer, à primeira vista, semelhante, contudo existem diferenças para as quais é preciso estar atento. Classificações da Pesquisa As pesquisas são classificadas também quanto aos procedimentos. Podem ser divididas em pesquisas de campo e pesquisas de fonte. A pesquisa de campo baseia- se na observação dos fatos de forma direta com formulários e entrevistas através de coleta de dados cujo objetivo é buscar conhecimento e encontrar respostas. A pesquisa de fontes pode ser de dois tipos: pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Imagine que você lê numa revista o seguinte trecho: “A pesquisa é uma pesquisa bibliográfica levando o conhecimento atual veiculado na literatura especializada mundial sobre diabetes mellitus de forma ampla e didática, culminando com o relato do consenso do valor da atividade física, assim como o tipo e intensidade dessas atividades no controle da doença, permitindo uma vida de qualidade ao diabético”. De que modalidade de pesquisa o autor acima está falando? Quais as suas características? 38 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Pesquisa Bibliográfica Conforme Matos e Vieira (1991, p. 40), a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas “já analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, página de web sites” sobre o tema a estudar. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta. As conclusões não podem ser apenas um resumo. O pesquisador deve ter o cuidado de selecionar e analisar, habilidosamente, os documentos pesquisados evitando comprometer a qualidade da pesquisa com erros resultantes de dados coletados ou processados de forma equívoca. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica, de acordo com Gil (2002, p. 45), é “permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. O autor dá o exemplo da impossibilidade de um pesquisador percorrer o Brasil procurando dados sobre população ou renda. Hoje a pesquisa bibliográfica é facilmente encontrada na Internet. A pesquisa bibliográfica é indispensável nos estudos históricos, pois em muitas situações é possível conhecer os fatos do passado somente a partir de dados bibliográficos. Para Gil (2002), é preciso que o pesquisador procure 39INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico fontes originais, pois nem sempre as fontes secundárias apresentam dados coletados ou processados de modo correto. As fontes são constituídas de material elaborado por livros, artigos científicos, sobretudo localizadas nas bibliotecas. Pesquisa Documental Ao ler a notícia abaixo, será que o autor ainda está falando de uma pesquisa bibliográfica? Em que a pesquisa bibliográfica será diferente da pesquisa documental? Já está à venda o livro "Seguindo a canção: engajamento político e indústria cultural na MPB (1959-1969)", de Marcos Napolitano. Ensaio sobre a formação, o conceito e as variantes de Música Popular Brasileira nos anos 60, a partir de uma grande pesquisa documental (escrita e fonográfica), enfocando os dilemas que cercaram o debate em torno da função política e da inserção comercial da canção na sociedade brasileira. A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las; a diferença é a natureza das fontes. Segundo Gil (2002, p. 46), “o desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenascabe considerar que, enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas de material impresso encontrado nas bibliotecas e livrarias, a pesquisa documental é muito mais diversificada e dispersa”. De acordo com Matos e Vieira (2001, p. 40), “ela ainda não recebeu tratamento analítico considerado legítimo sem engano tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc”. É apontado como uma das vantagens da pesquisa documental o fato de os documentos constituírem uma fonte rica e estável de dados, subsistindo ao tempo e tornando-se uma importante fonte de dados. É um processo que utiliza técnicas e métodos para compreensão e análise de vários documentos. Outra vantagem referida está no baixo custo já que a análise dos documentos, em muitos casos, além da capacidade do pesquisador, exige apenas disponibilidade de tempo. Outro benefício apontado para a pesquisa documental, conforme Gil (2002), é não exigir contato com os sujeitos da pesquisa, o que por um lado, muitas vezes, é difícil ou até mesmo impossível e por outro lado a informação proporcionada pelos sujeitos é prejudicada pelas circunstâncias que envolvem o contato. 40 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Pesquisas que se baseiam em dados fornecidos por pessoas Para desenvolver uma pesquisa é indispensável selecionar procedimentos para a coleta de dados. Além das pesquisas cuja coleta dos dados é feita em fontes bibliográficas e documentais, é possível ter pesquisas em que os dados são fornecidos por pessoas. Pesquisa Experimental A pesquisa experimental seleciona grupos idênticos e submete-os a tratamentos diferentes, checando se as diferenças observadas nas respostas são estatisticamente significantes. Os efeitos observados são relacionados com as variações nos estímulos, pois o propósito da pesquisa experimental é apreender as relações de causa-e- efeito e eliminar explicações conflitantes às descobertas realizadas. Para conseguir maior positividade, os fatores externos são eliminados ou controlados. É possível encontrar dois elementos críticos na pesquisa experimental que está dividida em duas grandes categorias. Elementos críticos da pesquisa experimental: • O ambiente experimental, que inclui o desenho da pesquisa, os sujeitos e a tarefa e outros materiais experimentais utilizados; • A estratégia de pesquisa, que envolve a organização de sessões experimentais e o controle experimental. A pesquisa experimental encontra-se em duas grandes categorias: • Experimentação em laboratório onde é criado um meio ambiente artificial; • Experimentação no campo onde são criadas as condições para a manipulação dos sujeitos. De acordo com o grau de controle exercido pelo pesquisador sobre as variáveis independentes e outros fatores, falamos de desenho experimental quando o controle é elevado e de desenho quase-experimental, quando o controle é menor. Na pesquisa experimental é essencial controlar as variáveis estranhas que possam interferir para que o ambiente da pesquisa se torne o mais adequado possível. 41INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Você compreenderá as três modalidades de pesquisa “mais comuns”: • Pesquisas experimentais com apenas dois grupos homogêneos, denominados de experimental e controle. Aplicado um estímulo ao grupo experimental, no final são comparados os dois grupos para avaliar as alterações; • Pesquisas experimentais antes/depois como se trabalha um único grupo definido previamente em função das suas características e geralmente reduzido. É produzido no grupo estudado um estímulo e são avaliadas as transformações; • Pesquisas experimentais antes /depois com um grupo experimental e de controle que são medidos no início e no fim da pesquisa. Como os dois grupos são medidos no início da pesquisa, ao se produzir um estímulo no grupo experimental, a diferença apresentada nos dois grupos ao final da pesquisa constitui a medida da influência do estímulo introduzido. Pesquisa Ex-Post-Facto O estudo “Relacionamento entre pais e filhos nas diferentes fases do ciclo vital familiar teve como objetivo principal verificar a dinâmica e estrutura do relacionamento entre pais e filhos nas diferentes fases do ciclo vital. Trata-se de uma pesquisa ex-post-facto, tendo como instrumentos para a obtenção dos dados entrevistas semidirigidas e formulários”. Ao ler esta informação, o que você entendeu sobre a modalidade de pesquisa Ex-Post-Facto? A Ex-Post-Facto tem por objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito entre determinado fato identificado pelo pesquisador e um fenômeno que ocorre posteriormente. A principal característica desta pesquisa é o fato dos dados serem coletados após a ocorrência dos eventos. É utilizada quando há impossibilidade de aplicação da pesquisa experimental pelo fato de nem sempre ser possível manipular as variáveis necessárias para o estudo da causa e do seu efeito. Gressler (1989, p. 30) aponta como exemplo um estudo sobre a evasão escolar Ex-Post-Facto. É após a evasão escolar que se tenta analisar as causas. Num estudo experimental e de acordo com a autora, seria o inverso: tomava-se primeiramente um grupo de estudantes a quem seria dado determinado tratamento e observar-se- ia depois o índice de evasão. 42 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Pesquisa com Survey Ao assistir a uma exibição, um apresentador menciona o seguinte: A pesquisa através do Método de Pesquisa Survey buscou levantar as características de qualidade ambiental no interior das duas indústrias metalmecânicas estudadas dentro do processo de utilização, controle, tratamento interno e destinação dos resíduos de fluidos de corte. Para a execução dessa etapa, em mais uma oportunidade, aplicou- se um questionário aos funcionários responsáveis pelos departamentos de controle operacional dos fluidos de corte. A pesquisa com Survey pode ser referida como a obtenção de dados ou informações sobre as características, as ações ou as opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, utilizando um instrumento de pesquisa, usualmente um questionário. É empregada em áreas como marketing, ciências sociais e política. De acordo com Matos e Vieira (2001, p. 45), “através de procedimentos estatísticos, busca conhecer atitudes, valores e crenças das pessoas pesquisadas”. Estudo de caso O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa. O exemplo que vamos relatar sobre estudo de caso “procurou investigar, na prática, os métodos e as técnicas usadas na solução de problemas por uma empresa do ramo da mecânica, fabricante de produtos estampados e blanks (chapas de aço)”. Um estudo de caso pode ser caracterizado de acordo com o estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o seu “como” e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade própria. É uma investigação caracterizada como particularística, isto é, debruça-se deliberadamente sobre uma situação específica que supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O fato de selecionarmos somente um objeto permite obter a seu respeito uma grande quantidade de informações. O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto, mas revelá-lo tal como ele o percebe. O estudo de caso apresenta, deste modo, uma forte tendência descritiva. Pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma visão global, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador. 43INTA EAD Metodologia do Trabalho CientíficoLevantamento “O levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), ligado ao Ministério da Educação, apontou 353 escolas sem eletricidade em Santa Catarina”. Por que o estudo realizado pelo INEP se chamou levantamento? Quais as suas características? Particularmente utilizado em estudos exploratórios e descritivos, o levantamento pode ser de dois tipos: levantamento de uma amostra ou levantamento de uma população (também designado de Censo). O Censo populacional constitui a única fonte de informação sobre a situação de vida da população nos municípios e localidades. Os censos produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas estaduais e municipais e para a tomada de decisões de investimento, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. A coleta de dados realiza-se usualmente pela utilização de questionários ou entrevistas. Entre as principais vantagens do levantamento estão o conhecimento direto da realidade, a economia e rapidez e a quantificação. As limitações do levantamento residem no fato de muitas vezes ocorrer uma diferença entre o que as pessoas fazem ou sentem e o que elas dizem. Por outro lado, o levantamento, apesar da possibilidade de elevado número de dados, mostra-se pouco adequado para a instigação de fenômenos sociais, pois estes são determinados essencialmente por fatores interpessoais e institucionais. O levantamento proporciona ainda uma “fotografia” do fenômeno num determinado momento, mas não proporciona conhecer suas tendências, nem possíveis mudanças estruturais. Vamos elencar dois exemplos de levantamentos: sendo recenseados todos os moradores em domicílios particulares (permanentes e improvisados) e coletivos numa data de referência, é possível através de pesquisas mensais do comércio, da indústria e da agricultura, recolher informações sobre o seu desempenho. Outro exemplo de levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, apontou 353 escolas sem eletricidade em Santa Catarina. 44 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Pesquisas em que a coleta de dados ocorre por meio de uma interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa A pesquisa-ação e a pesquisa-participante caracterizam-se pela interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa, existindo autores que consideram as duas designações sinônimas. A interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa é, por vezes, questionada em termos da sua “cientificidade”. A esse respeito Paulo Freire (1987, p. 50), em Pedagogia do Oprimido, comenta a necessidade de uma metodologia dialógica que proporcione “a tomada de consciência dos indivíduos em torno dos mesmos” e que investigue o seu pensamento-linguagem referido à realidade, aos níveis de sua percepção desta realidade e à sua visão do mundo. Segundo Freire (1987), os homens, sem uma compreensão de algo na sua totalidade, não podem conhecê-la por inteiro, a não ser que adquiram uma compreensão geral do contexto. Para este mesmo educador, a proposta de mostrar a realidade aos indivíduos faz com que eles, através da análise, tenham uma postura crítica e percebam que não há uma divisão. Paulo Freire defende que no fluxo da investigação os investigadores e os homens do povo se façam ambos sujeitos. O investigador estabelece relações comunicativas com as pessoas ou grupos da situação investigada no intuito de conseguir uma melhor aceitação. Busca participar do contexto investigado, identificando-se com valores e comportamentos. Na sua obra Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em Processo, Paulo Freire (1978, p.10), reforça a importância de trabalhar com educadores e educando “(...) e não sobre ou simplesmente para eles”. Paulo Freire (1986), alerta para o fato de os homens serem sujeitos de investigação e investigadores; essa relação pode ferir o objetivo da investigação, pois os dados coletados poderão sofrer diferentes interpretações dos mais interessados. Para esse teórico, o risco maior não está no fato dos investigados descobrirem-se investigadores e adulterarem os resultados, mas em mudar o foco da investigação. Mas ele mesmo ressalva essa possibilidade afirmando que isto demonstra uma consciência ingênua dos que pensam que a realidade a investigar existiria, segundo Freire (1987, p. 56), “em sua pureza objetiva e original, fora dos homens, como se fossem coisas.”. 45INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A proposta metodológica de Paulo Freire (1987, p. 57) “se faz, assim, um esforço comum de consciência da realidade e de autoconsciência que a inscreve como ponto de partida do processo... da ação cultural de caráter libertador”. Moacir Gadotti, Freire e Guimarães (1995, p. 14), na obra Pedagogia: diálogo e conflito, menciona que os procedimentos metodológicos não devem ser recebidos prontos e transplantados mecanicamente. Eles devem ser reelaborados “historicamente em cada contexto”. A história de um método (= caminho) somente pode ser “contada ao finalizar a pesquisa. A direção tomada inicialmente é sempre provisória”. Pesquisa Participante A pesquisa participante rompe com o paradigma de não envolvimento do pesquisador com o objeto de pesquisa, despertando fortes reações do positivismo. Teve a sua origem em Bronislaw Malinowski. A pesquisa participante, de acordo com Matos e Vieira (2001, p. 46), “caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas”. Vamos citar um exemplo: caso você queira conhecer melhor os nativos de determinado lugar, é necessário tornar-se um deles, aprender a língua, costumes e observar o cotidiano. Assim a sua pesquisa caracteriza-se como participante. Pesquisa-ação A pesquisa-ação pressupõe uma participação planejada do pesquisador na situação-problema a ser investigada. Recorre a uma metodologia sistemática no sentido de transformar as realidades observadas a partir da sua compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos na pesquisa. Existem três aspectos a serem atingidos: resolução de problemas, tomada de consciência e a produção de conhecimento. Segundo Thiollent in Minayo (1994), a pesquisa-ação é baseada no empirismo associada à solução de um problema coletivo, onde tanto os pesquisadores quanto os participantes assumem o problema de forma cooperativa. 46 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD O processo de pesquisa-ação envolve o planejamento, o diagnóstico, a ação, a observação e a reflexão, num ciclo permanente. Portanto, podemos afirmar que enquanto na pesquisa-participante o pesquisador adota uma postura mais observadora, na pesquisa-ação ele assume uma postura de intervenção junto e em conjunto com os sujeitos da pesquisa. Vamos analisar um exemplo de pesquisa-ação: O projeto tem duplo propósito, a difusão e, concomitantemente, produção de conhecimento sobre a escola de primeiro grau. Tem como objetivos de pesquisa investigar professores, seu desenvolvimento profissional, o papel da educação continuada e da pesquisa na transformação da escola. Paralelamente, tem um objetivo de ação visando desenvolver e aprimorar técnicas de reflexão do trabalho docente, diagnosticar dificuldades, debater e explicitar o papel da escola e de cada componente curricular no perfil de cidadão a ser formado, promover revisão básica de conteúdos, buscar alternativas para enfrentar dilemas e reformular continuamente o trabalho pedagógico entre tantos outros. O projeto caracteriza-se como pesquisa-ação em que universidades e escolas de primeiro grau são parceiras para superar problemas escolares crônicos como a repetência e evasão, decorrentes de inúmeras dificuldades enfrentadas em sala de aula por professores de todas as áreas do saber. Pesquisa Etnográfica A pesquisa etnográfica pode ser entendida como o estudo de um grupo ou povo. Associava-seinicialmente ao isolamento por um longo tempo de antropólogos em contextos exóticos, adaptando-se à vida da comunidade, analisando e registrando detalhadamente o comportamento dos nativos. Para Malinowski (s/d), a finalidade principal do trabalho de campo em pesquisa etnográfica é coletar dados usando uma variedade de metodologias, informação direta e verbal dos nativos que possibilite caracterizar e registrar a sua visão do mundo a partir da revisão teórica realizada. De acordo com Matos e Vieira (2001, p. 50), as características específicas da pesquisa etnográfica são a organização e análise de dados, e a interatividade entre o pesquisador e o objeto com possibilidades de alterar a pesquisa sem modificar o resultado. A partir dos anos 70, o campo de ação da pesquisa etnográfica alarga-se. No que diz respeito à escola, o interesse dos pesquisadores centra-se mais nos processos 47INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico educativos do que na descrição da cultura dos grupos estudados. Analisam pormenorizadamente as relações escola, professor, estudante e sociedade com o intuito de conhecer profundamente os diferentes problemas que a sua interação levanta. Vamos observar um exemplo de uma pesquisa etnográfica: O objetivo do desenvolvimento desta pesquisa foi mostrar que as práticas da medicina alternativa podem concorrer com as práticas da medicina oficial. A Casa do Padre Carlos pode ser encarada como uma opção terapêutica, realizando assistência e tratamento médico alternativo gratuito a quem a procura. Para a realização deste trabalho, foi feita uma pesquisa etnográfica desenvolvida por meio da observação participante junto aos médicos e a clientela da Casa do Padre Carlos, em Trancoso. Foram realizadas ainda entrevistas com os profissionais de saúde que trabalham no local e entrevistas individuais com os doentes em suas próprias residências. Pesquisa Etnometodológica O termo etnometodológica refere-se, nas suas raízes gregas, às estratégias que as pessoas utilizam cotidianamente para viver. Tendo essa referência por norte, a pesquisa etnometodológica visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade social. Os pesquisadores recorrem aos seus métodos para tentar compreender o mundo; o ser humano utiliza modelos, manipula informação e tem percepções da realidade para viver o seu cotidiano. Para a pesquisa etnometodológica, fenômenos sociais não determinam de fora a conduta humana. Ela é o resultado da interação social que se produz continuamente através da sua prática cotidiana. Os seres humanos são capazes de, ativamente, definir e articular procedimentos, de acordo com as circunstâncias e as situações sociais em que estão implicados. A conduta humana analisa deste modo os procedimentos aos quais os indivíduos recorrem para concretizar as suas ações diárias. A família, por exemplo, é encarada como uma atividade social possível de descobrir e conhecer na ação e a partir das explicações dadas a seu respeito pelos membros que a compõem e a constroem. A pesquisa etnometodológica baseia-se em uma multiplicidade de instrumentos para estudar as ações dos sujeitos em sua rotina. Citando Coulon Matos e Vieira, (2001, p. 51) referem-se aos procedimentos da pesquisa etnometodológica em educação comuns à etnografia através de observação e análise na busca de várias metodologias. 48 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD História oral, história de vida e depoimento pessoal A história oral é um dos mais tradicionais modos de transmissão cultural. Atacada pelos positivistas que encontram nela elementos subjetivos, tem sobrevivido ao longo dos séculos, o que reforça a razão da sua existência. A história oral recupera a subjetividade tantas vezes negada pelo positivismo por ser considerada incompatível com o conhecimento científico e pertencente à literatura. A história oral resulta da cumplicidade entre entrevistador e entrevistado numa produção conjunta. Esta modalidade de pesquisa envolve, como outra qualquer, a elaboração de um projeto, a realização de uma investigação exploratória para definir quem entrevistar, a preparação de um roteiro de entrevista ajustado às características do entrevistado e aos objetivos da entrevista e uma revisão de literatura profunda. A história oral inclui a narrativa de vida (na qual o entrevistado relata a sua trajetória de vida), sendo que esta pode ser depoimento pessoal (quando o entrevistado direciona as respostas para fatos específicos). Vamos a um exemplo de história oral, história de vida e depoimento pessoal: O estudo analisa a construção da identidade de professoras afrodescendentes. A pesquisadora analisou as histórias de duas professoras, nascidas na década de 30, apresentando trajetórias semelhantes e tendo enfrentado ao longo da vida situações graves de preconceito racial. A pesquisa utilizou a abordagem qualitativa, recorrendo à história de vida e entrevista aberta. Tentou-se captar memórias subterrâneas das professoras, que revelaram episódios significativos - alguns nunca antes revelados - sobre suas vidas. Aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres vivos No Brasil, todas as pesquisas que envolvem seres vivos são regulamentadas: as pesquisas com seres humanos seguem as orientações da CONEP e as pesquisas com animais seguem orientações do CONCEA. As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas fundamentais. Para isso vale conhecer a legislação brasileira (acesse o site http://conselho.saude.gov.br). 49INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A proteção dos direitos dos sujeitos de pesquisa é uma das grandes preocupações do Conselho Nacional de Saúde, que através da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) tem fortalecido a atuação nesta área. Os usuários desta ferramenta são: os pesquisadores; os Comitês de Ética em Pesquisas (CEPs); A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e a população em geral. Conforme a Resolução 164/12, a eticidade da pesquisa implica em: • Respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade sob forma de manifestação expressa, livre e esclarecida de contribuir e permanecer ou não na pesquisa; • Ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; • Garantia de que danos previsíveis serão evitados; • Relevância social da pesquisa garantindo a igual consideração dos interesses envolvidos e não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária. Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deverá obedecer às diretrizes da presente Resolução. Dessa forma, as pesquisas em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos deverão observar as seguintes exigências: • Ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem; • Estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou pressupostos adequados à área específica da pesquisa; • Ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser obtido por outro meio; • Prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos e/ou desconfortos previsíveis; • Contar com o consentimento livre e esclarecido do participante da pesquisa e/ ou seu representante legal, considerando-se os casos das pesquisas que necessitam, por suas características, de coleta a posteriori, sempre que justificado; 50 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD • Contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do participante da pesquisa, devendo o(s) pesquisador(es) possuir capacidade profissional adequada para desenvolver sua função no projeto proposto; • Prever procedimentosque assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não-estigmatização dos participantes da pesquisa, garantindo a não-utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômico-financeiros; • Ser desenvolvida, preferencialmente, em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser participantes de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida por meio de participantes com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis. Nestes casos, o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser assegurado, desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade civil ou legal. Um dos maiores cuidados é respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, como também os hábitos e costumes, quando as pesquisas envolverem comunidades. Vale destacar que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, deverão traduzir-se em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir: • Sempre que possível, disposição para comunicar tal benefício às pessoas e às comunidades; • Comunicar às autoridades competentes os resultados e/ou achados da pesquisa, sempre que os mesmos puderem contribuir para a melhoria das condições de vida, da coletividade, preservando, porém, a imagem e assegurando que os participantes da pesquisa não sejam estigmatizados ou atingidos em sua autoestima; • Assegurar aos participantes da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa; • Garantir aos participantes da pesquisa as condições de acompanhamento, tratamento, assistência incondicional e orientação, conforme o caso, enquanto necessário, inclusive nas pesquisas de rastreamento. 51INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe tendo consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa. Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas as etapas necessárias para que o convidado a participar de uma pesquisa possa manifestar-se, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida. Esse processo é regulamentado pela Comissão Nacional da Ética em Pesquisa - CONEP/CNS/MS do Conselho Nacional de Saúde e pelos Comitês de Ética em Pesquisa - CEP por ela registrados, compondo um sistema que utiliza mecanismos, ferramentas e instrumentos próprios de inter-relação num trabalho cooperativo a favor dos participantes de pesquisa do Brasil, de forma descentralizada. Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa. As pesquisas que envolvam animais devem ser colocadas para análise de uma Comissão de Usos de Animais – CEUA, vinculada ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). Este é o órgão integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre as suas competências destacam-se a formulação de normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, bem como estabelecer procedimentos para instalação e funcionamento de centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal. O Conselho é responsável também pelo credenciamento das instituições que desenvolvem atividades nesta área, além de administrar o cadastro de protocolos experimentais ou pedagógicos aplicáveis aos procedimentos de ensino e projetos de pesquisa científica realizada ou em andamento no país. O uso de animais em experimentação, no âmbito das atividades de ensino ou de pesquisa científica no país, encontra total respaldo nas disposições da Lei nº 11.794, de 2008, regulamentada pelo Decreto nº 6.899, de 2009 e pelas Resoluções Normativas editadas pelo CONCEA. As orientações sobre os procedimentos éticos estão normalizadas em: RESOLUÇÃO No - 1.000, DE 11 DE MAIO DE 2012; AVMA Guidelines on Euthanasia; Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais para fins Científicos e Didáticos (DBCA); Diretrizes da Prática de Eutanásia do CONCEA. Para maiores informações, acesse: http://www.mct.gov.br/index.php/content/ view/310553.html 52 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD 53INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico O PROJETO DE PESQUISA 3 Conhecimentos Selecionar e compreender o tipo de pesquisa adequada ao objeto de pesquisa; Compreender as pesquisas nas quais na coleta de dados ocorre através de uma interação entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa. Habilidades Identificar os elementos fundamentais das diretrizes básicas que se baseiam em dados fornecidos por pessoas e desenvolver conhecimentos, habilidades e competências para a elaboração de um projeto de pesquisa. Atitude Desenvolver um projeto de pesquisa utilizando todas as etapas segundo a ABNT. 55INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A elaboração de um trabalho de pesquisa envolve uma reflexão sobre alguns pormenores considerados fundamentais, assim como: título, definição do tema, escolha do problema, justificativa, definição dos objetivos e metodologia. Vamos compreender cada um deles: Título O título deve ser cuidadosamente escolhido, mostrando com clareza onde, com quem, como e quando se realizará a pesquisa a que o projeto se refere. O leitor deve ser capaz de, através do título, reconhecer a área de estudo e o tema da pesquisa. Pode- se distinguir entre o título geral que indica genericamente o teor do trabalho e o subtítulo que especifica a temática a abordar (GRESSLER, 1989). Exemplo: Título: “O futebol como mecanismo liberatório de tensões” Indica o que vai ser pesquisado. Subtítulo: “Um estudo realizado com espectadores da classe operária do Mato Grosso do Sul”. Indica as condições e/ou circunstâncias e local onde será desenvolvido o estudo. Definição do tema O tema da pesquisa é um assunto que se deseja provar ou desenvolver em uma área de interesse a ser analisada. O tema necessita ser restrito para que o pesquisador possa ter tempo, habilidades pessoais e condições financeiras para realizar a pesquisa. Precisa, por outro lado, ser amplo e relevante não apenas para o pesquisador, como também para a comunidade e contribuir para o avanço do estudo científico. 56 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Escolha do problema A pesquisa científica tem início com a formulação de um problema e o objetivo de procurar a solução para o mesmo. O problema decorre de um aprofundamento do tema selecionado. É uma questão sem solução momentânea para a qual se procura uma resposta. O desenvolvimento da pesquisa será orientado com o objetivo de encontrar respostas para o problema. A relevância prática do problema encontra-se nos benefícios que possam decorrer da sua solução. Exemplo: Tema: “Violência conjugal” Problema: “Quais os fatores que levam os maridos a espancarem suas esposas?” O problema deve apresentar algumas características: - Deve ser formulado como pergunta. Pode referir-se a: “O que acontece quando...”, “Qual a causa de...”, “Como deveria ser... para...” - Deve ser claro e preciso; - Deve ser delimitado a uma variável. . Definição da base teórica e conceitual A definição da base teórica e conceitual da pesquisa constituirá o quadro de princípios, categorias e conceitos que sustentará o seu desenvolvimento, traçando as linhas de orientação para um processo que se deseja de reflexão permanente. A definição da base teórica e conceitual serve a amplos propósitos: • Apresenta ospressupostos teóricos subjacentes ao problema; • Demonstra que o pesquisador conhece suficientemente o tema da pesquisa e as tradições teóricas que apoiam e envolvem o estudo; • Mostra que o pesquisador identificou algumas lacunas no estudo realizado sobre a temática selecionada e se após detectar propõe preenchê-la; • Obriga a redefinir o problema e as hipóteses, embasado no percurso da pesquisa. 57INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico A base teórica e conceitual deve na opinião de Severino (2001, p. 162), ser “consistente e coerente, ou seja, deve ser compatível com o tratamento do problema e com o raciocínio desenvolvido (...) formando uma unidade lógica”. Na definição da base teórica e conceitual, o pesquisador, de acordo com Minayo (2001, p. 40), deve ser sintético e objetivo, “estabelecendo, primordialmente, um diálogo entre a teoria e o problema a ser investigado”. Formulação de hipóteses Colocado o problema, o pesquisador formula as suas hipóteses. Mas o que é hipótese? É uma suposição realizada na tentativa de explicar o que se desconhece. De acordo com Rudio (1978, p. 78), “esta suposição tem por característica o fato de ser provisória, devendo, portanto, ser testada para se verificar sua validade”. Uma pesquisa pode articular uma ou mais hipóteses, que devem apresentar: • Conceitos claros; • Especificidade; • Não incluir valores morais; • Serem sustentadas em uma teoria; • O enunciado da hipótese é estabelecido de forma afirmativa e explicativa. Vamos conhecer agora vários tipos de hipóteses. 58 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Tipos de hipóteses Hipóteses descritivas - Não podem ser testadas enquanto relação ou associação entre variáveis. De acordo com Gressler (1989, p. 53), “este tipo de hipótese conduz a explanações essencialmente descritivas, não envolvendo a verificação experimental”. De acordo com a mesma autora, é comum encontrar pesquisas descritivas que se orientam. Hipótese central - O índice de evasão escolar aumenta na medida em que diminui o grau de instrução do corpo docente e administrativo. Hipóteses complementares – A evasão escolar na 1a série do 1o grau, quando atendida por especialista em alfabetização, é menor do que a evasão escolar da referida série quando atendida por professora normalista. A evasão escolar na 1a série do 1o grau, em escolas cujo diretor é habilitado, é menor do que em escolas onde o diretor é leigo. Hipótese de pesquisa ou alternativa - A hipótese de pesquisa é a que o pesquisador deseja comprovar. Costuma-se representar a hipótese de pesquisa com o símbolo H1. De acordo com Gressler (1989, p. 55), a hipótese de pesquisa “pode ser direcional, isto é, estabelecer a direção da hipótese: Vamos a um exemplo: estudantes de origem germânica têm aproveitamento superior em ciências se comparados a estudantes de origem italiana. Homens apresentam “maior índice de câncer do que mulheres”, ou então não direcional, quando estabelece simplesmente a existência da relação entre variáveis. Ex.: “Homens e mulheres diferem quanto ao índice de câncer.” Hipótese nula - Para o estudo da hipótese nula partiremos de um exemplo. Vejamos a hipótese de pesquisa ou alternativa (H1): “Existe diferença favorável aos estudantes do ensino médio da zona rural em relação aos estudantes da zona urbana no domínio de estruturas gramaticais da língua francesa”. A nossa intenção é comprovar esta hipótese. Contudo, existe a possibilidade de que a diferença observada resulte de um erro qualquer. Perante este dilema, foi proposta uma solução que se tem revelado eficaz. Tal solução consiste em afirmar o contrário do que afirma a hipótese de pesquisa ou alternativa (H1). Hipótese nula (Ho) - “Não há diferença estatisticamente significativa entre estudantes do ensino médio da zona rural e da zona urbana no domínio de estruturas gramaticais de língua francesa”. Se pudermos rejeitar esta hipótese, então a hipótese de pesquisa será verdadeira. Esta hipótese que contradiz o que é afirmado pela hipótese de pesquisa é chamada de hipótese nula e é representada por Ho. 59INTA EAD Metodologia do Trabalho Científico Exemplo I de hipótese nula • Hipótese de pesquisa (H1) - “Jovens que se sujeitam a um treino intensivo de natação serão melhores nadadores do que aqueles que não receberam treino”. • Hipótese nula (Ho) - “Não há diferença do desempenho em natação entre os jovens que receberam treino intensivo e aqueles que não receberam treino”. Para demonstrar a hipótese de pesquisa, vamos tomar ao acaso uma amostra de jovens e distribuí-los em dois grupos. A um chamaremos experimental e receberá o treino e o outro que não receberá treinamento será chamado de controle. Exemplo II de hipótese nula • Hipótese de pesquisa (H1) - “A aprendizagem das crianças está relacionada diretamente com a sua idade”. • Hipótese nula (Ho) - “Não existe diferença entre a aprendizagem das crianças independentemente da sua idade”. Definição de variáveis Gressler (1989, p. 35) define variáveis como valores, fatos ou fenômenos que, numa hipótese, são considerados em sua dimensão de inter-relação causal, de modo que um ou mais são determinados como causa e outros como efeito. Refere também, a propósito, que as variáveis são sempre quantificáveis, mesmo ao nível primitivo da dicotomia. A autora afirma ainda que as variáveis possam ser classificadas de acordo a sua aplicabilidade nos desenhos de pesquisa e, consequentemente, na formulação de hipótese, de acordo com os seguintes aspectos: Variável dependente e variável independente Variável dependente: é o valor, ou fato, numa determinada hipótese, considerado como efeito. A variável dependente é a que sofre os efeitos do tratamento e os resultados são observados. 60 Metodologia do Trabalho Científico INTA EAD Variável independente: “é o fato ou valor que, numa relação inter-causal, é a causa ou o tratamento”. É possível que uma variável seja independente em um estudo e dependente em outro, de acordo com o propósito da investigação. O quociente de inteligência, em estudo sobre o efeito da inteligência na aprendizagem de matemática, será a variável independente. Em outro estudo sobre a influência da nutrição no desenvolvimento intelectual, o quociente de inteligência será a variável dependente. Variável ativa e variável atributo (variável orgânica) Esta classificação é feita com base na possibilidade de manipulação da variável. A variável ativa pode ser manipulada pelo pesquisador. Como exemplo, número de estudantes por classe, sementes por canteiro, duração da hora/aula. Já a variável atributo: por sua natureza, não pode ser manipulada pelo pesquisador. Exemplo: raça, sexo, idade, altura, etc. Variável contínua e variável categórica Esta classificação é feita para fins de análise de dados. A variável contínua permite um conjunto ordenado de valores de determinada amplitude (notas escolares, idade, altura, temperatura). A variável categórica assume valores descontínuos, integrando o tipo de medida denominada nominal. Exemplo: casados e solteiros, adeptos do flamengo e do fluminense, nacionalidade, naturalidade, profissão, etc. Variável estranha ou interveniente Apresenta-se como uma condição subjacente que se interpõe à variável dependente e independente numa determinada hipótese, modificando a relação causal entre elas. Um dos objetivos básicos da pesquisa é controlar as variáveis estranhas, minimizando, anulando ou isolando as mesmas. Exemplo: comparando o artesanato de duas tribos indígenas, um estudante do curso de história tenta determinar a influência de uma missão religiosa na continuação da arte. Será que a continuação da arte resulta da influência da missão ou será o local onde habita o número de filhos por família, as visitas de investigadores, o estímulo recebido por autoridades municipais para exposição dos trabalhos artísticos? Constatamos que múltiplas variáveis estranhas poderão ter contribuído para a variável
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