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Governo Federal Dilma Vana Rousseff Presidente Ministério da Educação Aluísio Mercadante Ministro CAPES Jorge Almeida Guimarães Presidente Diretor de Educação a Distância João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governo do Estado Ricardo Vieira Coutinho Governador UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Marlene Alves Sousa Luna Reitora Aldo Bezerra Maciel Vice-Reitor Pró-Reitor de Ensino de Graduação Eli Brandão da Silva Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE Secretaria de Educação a Distância – SEAD Eliane de Moura Silva Assessora de EAD Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB Cecília Queiroz Metodologia da Pesquisa Iolanda Barbosa da Silva Campina Grande-PB 2012 Editora da Universidade Estadual da Paraíba Diretor Cidoval Morais de Sousa Coordenação de Editoração Arão de Azevedo Souza Conselho Editorial Célia Marques Teles - UFBA Dilma Maria Brito Melo Trovão - UEPB Djane de Fátima Oliveira - UEPB Gesinaldo Ataíde Cândido - UFCG Joviana Quintes Avanci - FIOCRUZ Rosilda Alves Bezerra - UEPB Waleska Silveira Lira - UEPB Universidade Estadual da Paraíba Marlene Alves Sousa Luna Reitora Aldo Bezerra Maciel Vice-Reitor Pró-Reitora de Ensino de Graduação Eli Brandão Coordenação Institucional de Programas Especiais-CIPE Secretaria de Educação a Distância – SEAD Eliane de Moura Silva Assessora de EAD Cecília Queiroz Coordenador de Tecnologia Ítalo Brito Vilarim Projeto Gráfico Arão de Azevêdo Souza Revisora de Linguagem em EAD Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG) Revisão Linguística Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB) Diagramação Arão de Azevêdo Souza Gabriel Granja FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500 Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: eduepb@uepb.edu.br 001.42 S586m Silva, Iolanda Barbosa da. Metodologia da pesquisa./ Iolanda Barbosa da Silva; UEPB/ Coordenadoria Institucional de Programas Especiais, Secretaria de Educação à Distância._Campina Grande: EDUEPB, 2012. 178 p.: Il. Color. ISBN 978-85-7879-106-3 1. Metodologia da Pesquisa. 2. Redação Acadêmica. 3. Normalização. I. Titulo. II.EDUEPB/ Coordenadoria Institucional de Programas Especiais. 21. ed.CDD Sumário I Unidade O saber científico e suas explicações lógico-racionais.....................7 II Unidade O método científico ...................................................................27 III Unidade Os tipos de métodos e sua aplicação...........................................47 IV Unidade A pesquisa e a iniciação científica na universidade e no cotidiano do educador.........................................................71 V Unidade Normalização técnica para redação científica: citações, notas e referências......................................................................91 VI Unidade A pesquisa bibliográfica: métodos, técnicas e instrumentos de coleta de dados ..................................................................125 VII Unidade A pesquisa de campo: métodos, técnicas e instrumentos..............143 VIII Unidade A construção do Projeto de Pesquisa..........................................155 Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 7 O saber científico e suas explicações lógico-racionais I UNIDADE 8 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Apresentação O homem é capaz de ordenar o seu mundo por meio de explica- ções sobre as suas experiências, sensações e pensamentos. Essas ex- plicações permitem ao homem criar sistemas lógico-explicativos orien- tados por projeções e idéias de tempo, de espaço e de expectativas do futuro. A construção de saberes é simbólica e dotada de significados e sen- tidos em torno do mundo que o rodeia, criando assim, o que se chama cultura humana. É essa capacidade de pensar e explicar o mundo com o qual ele interage que o homem criou o conhecimento que assume várias configurações, mas para fins dos nossos estudos o conhecimento que irá nos interessar é o saber científico. Diante disso, criamos uma possibilidade para trabalhar essa disci- plina na medida em que ela se coloca como um caminho para a ope- racionalização do pensar científico e um modo de pesquisar e produzir o saber – dimensão metodológica da pesquisa. Ao longo da unidade discutiremos as possibilidades de construção do saber científico, buscando criar espaços de debate e reflexão em torno deste Conhecimento, como uma produção humana, abordando o ordenamento lógico racional de conhecer e explicar as experiências do homem em sua interação com o meio, e com outros homens e com as suas representações de mundo. Algumas noções básicas serão apresentadas para desencadear o conhecimento científico, o debate e a reflexão em torno deste saber humano e da complexidade metódica que o envolve. Sendo assim, é importante que você acompanhe o desenvolvimento do conteúdo, observando a forma da linguagem dos textos, pois eles se propõem a trabalhar o conteúdo da disciplina em sua elaboração didá- tico-pedagógica. A redação, em alguns momentos, irá diferir de outros textos de disciplinas já cursadas, devido à especificidade do conteúdo de Metodologia da Pesquisa. A comunicação escrita será marcada pela impessoalidade, objetividade e uso de terminologias da linguagem científica. O material virá acompanhado de orientações e atividades que buscam levá-lo à reflexão e ao uso dessa linguagem. Desse modo: • oriente-se pelas indicações de linguagem e forma técnica do material; • elabore as atividades, trabalhando o conhecimento da lingua- gem científica que irá sendo apresentado na produção do ma- terial didático ao longo das unidades; • busque ampliar suas análises, tirando as dúvidas quando ocor- rerem, em leituras que virão indicadas; • realize sua autoavaliação da aula, utilizando-se do espaço dis- ponibilizado. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 9 O estudo sobre o saber científico, o processo histórico das trans- formações que marcaram a consolidação do saber científico entre os séculos XV e XVIII. serão enfocados nesta primeira aula, bem como os resultados desse processo ao longo do século XIX, até os dias atuais. A unidade será construída com fundamentos teóricos e fragmentos de pesquisas científicas, tópicos de reflexão e atividades de verificação da aprendizagem que buscam levá-lo a compreender a lógica da Ci- ência e de seu conhecimento. Desse modo: • exercite o raciocínio científico na elaboração das atividades; • busque ampliar sua interpretação da ciência, aprofundando-se nas leituras indicadas; • realize sua auto avaliação da unidade e contribua com a cons- trução textual deste material pedagógico. Objetivos Pretendemos, ao final desta aula, que você tenha compreendido que: 1. a ciência moderna é um saber datado historicamente e se utiliza de métodos cujos princípios operam com uma razão racionali- zante que instaura uma cultura científica; 2. o processo de elaboração do saber científico é racional, metó- dico e sistemático sendo suscetível à verificação; e 3. as aplicações e implicações da ciência estão presentes no seu cotidiano. 10 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa A ciência se torna o saber autorizado e legítimo para... Pense nisto!!! Com a crise das explicações religiosas, a ciência destaca-se como conhecimento legítimo, se afirmando como verdade e progresso. As descobertas e os efeitos dos novos inventos, como o pára-raios e as va- cinas, o desenvolvimento da mecânica, da química e da farmácia eram amplamente verificáveis, dando credibilidade às atividades científicas a partir do século XV, configurando o nascimento da ciência moderna. Atividade I Descreva e analise uma situação cotidiana, na qual os inventos da ciência estejam presentes. Na descrição procure identificar, também, as aplicações e implicações desse(s) invento(s),destacando na sua descrição o(s) tipos de linguagem (ns) que o definem como científico. Reflita!!! A situação narrada e analisada caracteriza a aplicabilida- de do conhecimento científico no cotidiano; como também, apresenta elementos que se destacam na compreensão da funcionalidade e credibilidade desse saber para o homem. O triunfo da ciência No século XIX, a ciência alcança o status de discurso instaurador de verdades. Isso se deve ao domínio e o número crescente de desco- bertas, o ritmo das mudanças e as aplicações práticas das ciências da natureza em vários campos da vida social. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 11 As aplicações práticas do conhecimento científico produzem novos olhares sobre o século XIX. Vários domínios da vida cotidiana são mo- dificados com as descobertas e aplicações da ciência. Na agricultura, as técnicas e instrumentos para arar, os adubos e defensivos agrícolas permitem o aumento e o planejamento da produ- ção de alimentos. Enquanto que, a descoberta e o uso de novas fontes de energia, como a eletricidade, que aplicada às manufaturas, vem acelerar o ritmo da produção, possibilitando a industrialização e o pro- cesso de urbanização nos centros industriais. Já no campo da comu- nicação, a invenção do telégrafo e do telefone quebra as barreiras es- paciais e temporais, aproximando os homens e produzindo novos tipos de linguagens que irão possibilitar a comunicação e a interação social. Enquanto isso, a medicina moderna, com suas descobertas, formas de prevenção e de combate, desenvolve um controle sobre as epidemias no Ocidente. Vivemos então o domínio da razão e da experimentação. Com o advento da industrialização, a ideia de progresso se solidifica na expansão de mercados que irão comercializar os produtos industria- lizados e instituir novos domínios econômicos para o Capitalismo In- dustrial, utilizando-se das ferrovias e da navegação a vapor, por vários continentes, entre eles a Ásia e a África. A construção de um projeto de sociedade fundado na razão racionalizante marcou a ciência moderna e instituiu o progresso como a razão de ser dessas sociedades e também institui com isto a distinção entre os saberes produzidos na dinâmica da oralidade e os saberes sistemáticos que serão registrados pela escrita. Desde então, o conhecimento da ciência se afirma como verdade, ou como diria Trujillo (apud LAKATOS, 2000, p. 18) “aproximadamente exato”, e como afirma Karl Popper (apud BERVIAN; CERVO, 1996, p. 30) “[...]. Assim, quando as premissas são verdadeiras, o melhor que se pode dizer é que a sua conclusão é, provavelmente, verdadeira.” Desse modo, ao buscarmos um outro olhar sobre a Verdade na ciência en- contramos no fragmento de verso do Poema Lógica de Amélia Império Hamburger o seguinte: [...] A verdade, na ciência é fugidia como um relâmpago. Revelação na noite escura, verdade enquanto dura A luz. Sempre verdade, num quadro à luz do dia. Imagem de David Bohn que, em prosa, Já é poesia Fragmento extraído do Jornal on-line da USP. A autora é professora aposentada do Instituto de Física da USP. Disponível em <http:www.usp.br/jorusp/arquivo/2007/jusp799/pago809.htm> Acesso em: 22.ago.2011. 12 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Atividade II Comente a suposta verdade científica, considerando o pensamento de Rubem Alves (1994, p.11) sobre os cientistas, em particular, os especialistas da Educação, considerados as autoridades na área. [...]. Não precisamos pensar, por que acreditamos que há indivíduos especializados e competentes em pensar. Pagamos para que ele pense por nós. E depois ainda dizem por aí que vivemos numa civili- zação científica [...]. O que eu disse [...], se aplica a tudo. [...] tomam decisões e temos de obedecer [...]. Reflita!!! Sua compreensão e interpretação possibilitam o exercício do saber científico ao questionar um problema e buscar parâ- metros para sua investigação e análise. Pense nisto!!! Nem todo conhecimento é científico, mas para que isto ocorra são necessários dois pré-requisitos: primeiro, que o campo do conhe- cimento seja delimitado com objeto de estudo definido e segundo, que existam métodos apropriados às investigações desse objeto. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 13 Atividade III Comente a citação a seguir, refletindo sobre o que é Ciência? Conhecimento científico é conhecimento prova- do. As teorias científicas são derivadas de manei- ra rigorosa da obtenção e experimento. A ciência é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm lugar na ciência. A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conheci- mento confiável porque é conhecimento provado objetivamente. (CHALMERS, 2000, p. 23) Reflita!!! Sua análise se aporta ao conhecimento comum da ciên- cia, tanto que esse olhar focado no empírico, no observá- vel, verificável pelos sentidos marcou a Ciência do século XVI e XVII com Galileu e Newton e popularizou-se após a Revolução Científica. Como se constrói o saber científico? Podemos iniciar a construção de um discurso científico sobre essa ela- boração do saber, considerando que ele registra fatos, observando-os e de- monstrando-os, experimentando-os ou não pelas suas causas determinan- tes. Nesse caso, o saber científico funda-se num trinômio, conforme Bervian; Cervo (1996, p.12) “verdade _ evidência _ certeza”. A lógica desse saber reside no exercício de realizá-lo pela observação racional e sistemática e no controle dos fatos, na sua experimentação e explicação metódica. Isso ocor- re na atividade intelectual do cientista. Nesse sentido, o fazer ciência acontece na atitude científica do investigador diante dos fenômenos investigados. A ciência cria uma rede discursiva na qual tudo o que não cai nela é irreal. O filósofo Hebert Marcuse (apud ALVES, 2000, p. 113) ao fa- 14 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa lar sobre o homem unidimensional o caracteriza, como “[...] o homem que se especializou numa única linguagem e vê o mundo somente por meio dela [...]”. O pensador ao falar desse homem o situa no campo do sujeito que constrói o discurso instaurador de verdades. Convidando Rubem Alves (op.cit, p.114) para o debate sobre Ciên- cia criam-se inquietações para reflexão: A ciência é um jogo. Um jogo com regras precisas. Como o xadrez. No jogo do xadrez, não se admite o uso das regras do jogo de damas. Nem do xadrez chinês. Ou truco. Uma vez escolhido um jogo e suas regras, todos os demais são excluídos. As regras do jogo da ciência definem uma linguagem. Elas defi- nem, primeiro, as entidades que existem dentro dele. As entidades do jogo de xadrez são um tabuleiro qua- driculado e as peças. As entidades que existem dentro do jogo lingüístico da ciência são, segundo Carnap, ‘coisas físicas’, isso é , entidades que podem ser ditas por meio de números. Esses são os objetos do léxico da ciência. Mas a linguagem define também uma sin- taxe, isso é, a forma como suas entidades se movem. Os movimentos das peças do xadrez são definidos com rigor. E assim também são definidos os movi- mentos das coisas físicas do jogo da ciência. Atividade IV Exercite uma atitude científica diante dos problemas enfrentados pelo educador no Ensino do uso da Língua Portuguesa em sala de aula. Elabore um texto localizando o problema, levantando suas possíveis causas, demonstrando como ele ocorre e verificando-o em outros contextos e situações nas quais o uso da oralidade e da escrita se configuram como um processo de interação social mediado por códigos complexos de linguagem. Sugestão de consulta e pesquisa para elaboração desta atividade: O Blog Língua Portuguesa na Escola traz textos que problematizam o Ensino da Língua, ver no http://linguaportuguesanaescola.blogspot. com/. dica. utilize o bloco de anotaçõespara responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 15 Ciência e sociedade A ciência está presente no cotidiano das pessoas. Os estudos e os resultados das pesquisas científicas retornam para sociedade; no entanto, são as relações entre classes e fragmentos de grupos sociais que irão definir os canais de acesso às descobertas científicas e suas aplicações. O conhecimento científico vem sendo organizado conforme Demo (1997, p. 62) “em dois sistemas conjugados [...], a partir do século XX (grifo nosso): o sistema de produção, com lugar apropriado nas univer- sidades, e o sistema de socialização desse conhecimento, produzindo através, principalmente, da instituição eletrônica e da telemática”. As descobertas tecnológicas têm contribuído com a divulgação do conhe- cimento científico, os meios de comunicação vêm desempenhando o papel de intermediadores entre a população e os pesquisadores e têm pautado o debate em torno das descobertas, aplicações e implicações do saber científico. A aplicação do conhecimento científico no campo da educação pode ser identificado nas pesquisas realizadas nas Universidades, as quais buscam tanto desenvolver investigações em torna das tecnologias que possam vir a ser incorporados ao processo pedagógico tanto como instrumentos de aprendizagem quanto na análise das relações que são mediadas neste processo interacional, dinamizado em saberes técni- cos, práticas sociais e educativas; como também, nas simbologias e códigos de linguagem que vão sendo apropriados no cotidiano dos sujeitos sociais na contemporaneidade, a exemplo da linguagem usa- da nas interações mediadas pelas redes sociais em ambientes online. Nas redes podemos identificar uma complexa decodificação no uso e registro escrito das palavras que compõem o vocabulário da Língua Portuguesa. Neste sentido, os grupos de pesquisa nas Universidades buscam compreender e explicar os processos educativos, sua função e contri- buições para o ensino-aprendizagem dos indivíduos no âmbito dos es- tudos sobre a (des) construção da linguagem enquanto processo social. Podemos verificar isto, no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Alfabe- tização e Letramento da USP, em particular nos resumos das pesquisas das Professoras Martha Silene da Silva e Sandra Mutarelli. Vejamos: 16 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa A formação de grupos e a mediação do professor na apropriação da língua escrita Martha Sirlene da Silva O objeto de análise deste estudo são as práticas de formação de grupos propostas em sala de aula e o pro- cesso de intervenção do professor na aquisição da língua escrita. O trabalho visa identificar e discutir as concepções de ensino, de aprendizagem, de alfabetização e de letra- mento. Em oposição ao típico reducionismo das práticas pedagógicas, parte-se do pressuposto de que a apropria- ção da língua escrita se faz no estreito vínculo com a vida, no contexto das relações históricas, sociais e políticas. No confronto com as possibilidades do processo de ensino e aprendizagem em situações de mediação e interações mais plurais, o mapeamento da prática pedagógica tem a intenção de ampliar os subsídios para se repensar a prática escolar. Tomando como referencial teórico a concepção constitutiva e dialógica da linguagem (Bakhtin e Geraldi) e a construção sócio-cultural da linguagem (Vygotsky), a pesquisa será realizada com professoras do último estágio das classes de Educação Infantil e de primeira série do EFI em escolas da rede municipal de São Paulo. O Ensino de Ciências e a Alfabetização de Jovens e Adultos Sandra Mutarelli O trabalho pretende investigar a relação pensamento- -linguagem intermediada pelo raciocínio científico no pro- cesso de alfabetização e letramento de jovens e adultos. Um dos desafios dessa pesquisa é descobrir como articular o ensino de Ciência com o ensino da língua escrita. Nossa concepção de ensino-aprendizagem de ciência, presente no projeto “ABC na educação científica – Mão na Massa”, é aquela na qual o educando, diante de um problema, deve levantar hipóteses, testá-las experimentalmente, para, então, construir seu conceito por meio de um acordo co- letivo intermediado pelo professor. Nossos estudos prelimi- nares com adultos mostraram o significativo ganho desses educandos, quanto ao seu repertório cognitivo e lingüís- Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 17 tico, organização e expressão da língua escrita durante o ensino de Ciência. Nossa hipótese é de que a Ciência cumpre um papel fundamental no processo de aquisição da linguagem e leitura de mundo Analisando os resumos dos projetos de pesquisa das professoras de ensino superior da USP, compreendemos que existem estudos científicos que orientam a formulação de políticas educacionais conservadoras ancoradas em paradigmas positivistas e burocrático-legais focados numa aprendizagem do treinamento que consideram a linguagem es- crita o único caminho capaz de tornar o sujeito portador da condição significante e do status social de letrado; mas também, existem ou- tros estudos que constroem novos olhares sobre as práticas educativas, construindo um comprometimento do pesquisador com investigações que apresentem viabilidade social, cujos resultados possam vir a contri- buir com os processos de ensino e aprendizagem na educação básica oportunizando um novo sentido para a pesquisa educacional. Desse modo, vemos o quanto o conhecimento científico está comprometido ou não com a sociedade de seu tempo. Enquanto isto, a pesquisa realizada pelas professoras de ensino mé- dio Maria Lígia F. Santiago e Doris Siqueira Tavares (s.d., p. 54), sociali- zada na Revista Discutindo Ciência, atesta “que a escassez d’água não é um problema exclusivo de regiões áridas, como o Sertão Nordestino”. A matéria traz um alerta dos cientistas acerca do cuidado com o aqüí- fero Guarani, conforme segue: Em 2004, os países do Mercosul fizeram um acor- do sobre a exploração da maior reserva de água subterrânea do mundo, o aqüífero Guarani. Ele prevê medidas de controle de extração da água, prevenção da poluição e criação de um banco de dados para sua proteção. Esse imenso reservatório tem 1, 6 milhão de quilômetros quadrados e dois terços estão no Brasil. Os cientistas alertam que é preciso muito cuidado para não prejudicar essa imensa reserva de água doce. Começando por evitar a exploração exagerada, como a perfuração de poços artesianos sem controle sanitário, ou bar- rando a poluição das águas da borda da bacia do Rio Paraná, local em que a água do aqüífero quase chega à superfície. Percebemos que as pesquisadoras trouxeram dados importantes para discussão da relação entre ciência e sociedade, na medida em que os resultados da pesquisa, socializados, alentam para um dos pro- blemas mais complexos da sociedade contemporânea – a escassez de recursos hídricos. O sistema de socialização do saber científico pode ser visto nesse fragmento da reportagem sobre o Soro da Memória como estratégia de divulgação de descobertas científicas que podem vir a ratificar expe- riências do conhecimento cotidiano, mas também problematizam as 18 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa aplicações dos resultados da ciência de forma racional, como exemplo o aproveitamento dos resíduos alimentares que podem funcionar nou- tras aplicações e necessidades nutricionais. Vejamos Rio de Janeiro, década de 20. A Cidade Maravi- lhosa está nos arquivos da Cinemateca e nos livros de História. Imagens de um tempo inesquecível em branco e preto. Mas, nas memórias da escritora Maria Augusta Machado, de 93 anos, elas estão fresquinhas, cheias de cores e detalhes. “Eu lembro quando foi declarada a guerra”, conta ela. Neurô- nios afiados. Quem não gostaria de chegar a essa idade como ela? “Conheci o Corcovado sem es- tátua”, recorda. Grandes vultos do passado? Nas lembranças de dona Maria Augusta, parecem ve- lhos conhecidos. “Ele tinha um chapéumeio incli- nado. Era um homem baixinho, magrinho, esquisi- tinho, que ficava vendo as crianças brincarem. Mas eu não sabia quem era porque nunca contavam às crianças. Era Santos Dumont. Cansei de vê-lo sentado”, afirma. Os avanços da medicina estão fazendo o homem viver mais e melhor. Mas, às ve- zes, o cérebro não acompanha, falha, sofre com as chamadas enfermidades da velhice, como o Alzhei- mer, a doença do esquecimento. Para vencer esse mal, a ciência está diante do seu maior desafio: decifrar o enigma do órgão que comanda nossa existência. Desde os primeiros passos, das primei- ras palavras da infância, a uma vida repleta de re- alizações, de experiências e memórias, tudo que se vive passa pelos misteriosos caminhos do cérebro. Segundo os cientistas, o amor, o ódio, o trabalho, até um simples movimento de dedo de mão ou um passo podem ser traduzidos em impulsos elétricos e químicos que acontecem dentro da nossa cabeça. São bilhões de neurônios formando um intrincado labirinto que a ciência tenta desvendar há cinco mil anos. O Globo Repórter percorreu uma parte desse extraordinário mapa da vida. Nosso cérebro é resultado da vida que levamos. A diferença entre a lucidez e a demência pode estar na nossa roti- na – até mesmo no que comemos. Mas e o que bebemos? Nos laboratórios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, cientistas pesquisam o soro da memória, um líquido que pode fazer a cabeça funcionar melhor. Concentra componentes poderosos, uma espécie de banquete natural para os neurônios. “Tem proteínas e lipídios. Essas substâncias, cada uma de seu jeito, atuam ajudando os neurônios a fazer suas redes. Elas atuam em um momento importante, que é a formação de sinapses, justa- mente quando catalisamos tudo aquilo que vimos durante o dia. Apreendemos o conteúdo durante o Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 19 sono, basicamente”, explica a nutricionista Denize Ziegler, da Unisinos. Mas de onde vem a poção quase milagrosa? Do soro do leite. “O soro é a parte líquida do leite. As pessoas podem pergun- tar: ‘Como, se o leite todo é líquido?’. Sim, ele é líquido, mas é a emulsão de várias substâncias dentro de um líquido. Separando a parte branca, fica a água do leite”, esclarece a nutricionista. Ci- ência pura que dá para fazer em casa. Mas aten- ção: não é qualquer leite que carrega o segredo do soro da memória. Leite de caixinha e em pó não funcionam. De acordo com os cientistas, o proces- so industrial acaba com os preciosos ingredientes que agem no cérebro. A pesquisadora recomenda o leite em saquinho, tipo A ou B. Anote aí a receita do soro: - Para cada litro de leite, misture o suco de um limão inteiro. -Deixe descansar de quatro a doze horas até co- agular. -Depois, separe a parte sólida da líquida com uma peneira bem fina. O que sobra é o soro da memó- ria. “Ele é insípido, não tem gosto. Um gole não faz grande feito. O importante dos alimentos que ser- vem como coadjuvantes da saúde é que eles sejam consumidos com o tempo. Estudos mostram que em três meses nota-se uma diferença na memória e no sono. Tomando meio copo antes de dormir durante três meses, há uma diferença interessante. Você vai conseguir descansar melhor, deixar o cé- rebro mais tranqüilo. Em conseqüência disso, vai ter um melhor aprendizado das tarefas que você re- aliza”, diz a nutricionista. Dura de três a cinco dias na geladeira. Também pode ser congelado. O pro- cesso é bem parecido com o que acontece nas fá- bricas de queijo. Mas qual é o destino dos milhões de litros de soro que o Brasil produz todos os dias? Na Europa, por exemplo, o soro do leite tem desti- no nobre: ele é transformado em pó e adicionado a massas e biscoitos e também vendido nos mer- cados como bebida para crianças e adultos. No Brasil, apesar de a ciência já conhecer os poderes do alimento, o soro da memória acaba na grande maioria das vezes jogado aos porcos. Só em uma fábrica de queijo 70 toneladas por mês vão para o carro-pipa da fazenda da suinocultora Karmen Scheuer, em Marques de Souza, Rio Grande do Sul. Todo dia tem carregamento. “Quatro mil litros custam R$ 20. É barato, mas é uma ajuda para laticínios. Se quiséssemos, poderíamos conseguir de graça, porque eles têm problemas com o meio ambiente. Eles têm que dar sumiço ao produto que sobra. É um lixo dos laticínios”, diz a suinocultora. Como registrar para sempre as lembranças mais importantes? Mas o soro, sozinho, não faz mila- gre. Em um laboratório da PUC do Rio Grande do 20 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Sul, a equipe do professor Iván Izquierdo fez uma descoberta surpreendente: a diferença entre as lembranças que ficam e as que desaparecem para sempre pode depender do que acontece 12 ho- ras depois. São as 12 horas mágicas da memória. Nossos cientistas descobriram que o hipocampo produz uma substância que consegue encontrar, 12 horas depois, no meio da gigantesca teia de neurônios, as conexões exatas que formam cada lembrança. Se você reviver de alguma forma essa lembrança exatas 12 horas depois, a substância produzida pelo hipocampo faz as conexões se tor- narem permanentes. “Primeira coisa: se você está interessado em algo que acaba de aprender, pense nisso durante o resto do dia e, entre outras coisas, 12 horas depois. Automaticamente, o cérebro vai fazer isso. Se você não estiver mais interessado, não pense mais. Aprendeu, tudo bem. Esqueceu, tudo bem”, orienta o neurocientista da PUC do Rio Grande do Sul. Reportagem disponível em: < http://grep.globo.com/Globoreporter/0 ,19125,VGC0-2703-20342-3-331559,00.html>. Acesso em 17. set. 2011. Atividade V Comente a reportagem acima, estabelecendo uma relação entre as descobertas da ciência em pesquisa realizadas nas Universidades e o papel dos meios de comunicação na divulgação do saber científico e na construção e operacionalização de uma cultura científica na vida das pessoas. Reflita! A ciência como saber sistemático tem uma dimensão política e ética. Desse modo, o saber científico busca tanto encontrar respostas para problemas que comprometem a organização da vida social quanto as implicações desse saber sobre a vida das pessoas. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 21 Pense nisto!!! O avanço da ciência está relacionado às renovações do saber, das tecnologias, das técnicas, ampliações de teorias, bem como à prá- tica e à crítica persistente dos pesquisadores. Esse tipo de postura analítica e crítica diante da produção do saber científico é bem co- mum no ambiente acadêmico e vem contribuindo na identificação de problemas na sociedade contemporânea. Desafios contemporâneos da ciência A ciência enfrenta desafios e paradoxos no mundo contemporâneo, século XXI, seus avanços e descobertas podem contribuir com mudan- ças na ordem biológica e social dos seres; entretanto, esses imperativos da ciência causam conflitos éticos e morais na sociedade. Pergunta-se: como a sociedade pode participar na definição e no estabelecimento de critérios éticos para as pesquisas científicas? Poderíamos sugerir que isso possa ocorrer com a definição de prioridades por meio do levanta- mento das necessidades humanas de seu tempo; como também, consi- derando os aspectos culturais e sociais de cada povo. Conforme Alves (2000, p.115) a “ciência é muito boa _ dentro de seus precisos limites. Quando transformada na única linguagem para conhecer o mundo, entretanto, ela pode produzir dogmatismo, ceguei- ra e, eventualmente, emburrecimento.” O emburrecimento da ciência pode ser compreendido como um modo de pensar e agir que atinge e nega as liberdades de criação e expressão do ser homem e da vida humana em sua dimensão ética e moral. Esse debate pode ser visto na entrevista de André Marcelo M So- ares1 (s.d., p. 55) a Revista Discutindo Ciência, na qual ele discute as células – tronco nos limites do benefício,afirmando que: [...] quando foi comunicado ao mundo o processo de clonagem da ovelha Dolly (1997), vários seto- res da sociedade começaram a debater sobre a aplicação dessa técnica em seres humanos. Inicial- mente, as discussões se davam em torno da pos- sibilidade de produzir clones para a reposição de órgãos. Essa possibilidade, conhecida como clo- nagem humana reprodutiva, embora se apresente 1 André é Filósofo, Doutor em Teologia e Coordenador-Geral do Núcleo de Bioética Dom Hélder na PUC - Rio. 22 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa com preocupações terapêuticas é, sem dúvida, ab- solutamente repulsiva do ponto de vista ético. Em primeiro lugar, fere a estrutura ontológica do ser humano, que não se reduz a um meio terapêutico, e, segundo, a compreensão antropológica engloba muitas outras funções além da biológica. Diante dos problemas éticos impostos pela clonagem, o desenvolvimento de pesquisas com células-tronco, presentes no organismo já desenvolvidos, surge como uma possibilidade diante da utilização de embriões clonados. A técnica é, do ponto de vista bioético, plenamente admissível e não apresenta as interrogações existentes no processo de clonagem. Todavia, embora não se faça necessário o uso de embriões para a obtenção das células-tronco, para alguns especialistas, a eficiência terapêutica é maior quando essas células são extraídas durante o processo de embriogênesis. Os defensores do uso das células-tronco embrionárias entendem ser um desperdício o descarte dos embriões obtidos por meio da inseminação artificial. Para eles, a destrui- ção dos embriões é inevitável, então por que não aproveitá-los para retirar o material que interessa? [...] Atividade VI Qual é o seu posicionamento a respeito do discurso que constrói argumentos de defesa para as pesquisas com células – tronco? Vale a pena lembrar que há pontos de vista discordantes e diversos a serem considerados neste debate sobre a importância desta pesquisa. Registre o seu ponto de vista sobre o debate. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 23 A produção do conhecimento científico nas universidades e o seu retorno para sociedade é um debate recorrente nos espaços de divul- gação do saber científico. No entanto, alguns desafios emergem tanto de natureza ideológica quanto política sobre o papel das universidades, particularmente as públicas. Nesse contexto, as universidades buscam formalizar parcerias tanto para atender demandas específicas de exclu- são quanto dar respostas a problemas ambientais e sociais. Atividade VII Analise e comente a charge, considerando os desafios da pesquisa científica aplicada às demandas contemporâneas da vida social e aos interesses políticos da nação. Observe o diálogo entre os personagens para fundamentar o seu comentário crítico. Jornal da Ciência nº 688, 29/04/2011. Disponível em < http://www.jornaldaciencia.org.br/ charges.jsp>. Acesso em: 02. set. 2011. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 24 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Concluindo a unidade Ao término dessa unidade se deseja que você tenha adquirido co- nhecimentos sobre o saber científico que possam orientá-lo na compre- ensão das implicações desse saber no seu cotidiano. Até a próxima unidade!!!! Orientação de Leitura Orientamos como leituras complementares às discussões apresentadas nesta unidade: DIONNE, J.; LAVILLE, C. A Construção do Saber. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1999. Os autores apresentam no capítulo 1 – O Nascimento do Saber Científico uma discussão teórica sobre o saber racional e o triunfo da ciência. Nesse capítulo, há um aprofundamento em torno da construção do saber científico e de seus procedimentos metódicos de pesquisa, sistematização e divulgação dos resultados. Já no ca- pítulo 3 – Ciências Humanas e Sociedade, os autores abordam as expectativas da sociedade em relação ao saber científico, à res- ponsabilidade do pesquisador e as contribuições das pesquisas no campo das ciências humanas. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense,1993. O autor aborda no capítulo 1- Indutivismo: ciência como conheci- mento derivado dos dados da experiência, um debate entre os mé- todos indutivistas na ciência, aprofundando as discussões sobre os parâmetros de verificabilidade e credibilidade do saber científico. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 25 Revisando as discussões Nesta unidade aprofundamos as discussões em torno do saber científico, suas características e discursos instauradores de verdades. Ao debater-se a relação entre ciência e sociedade foram abordadas questões relativas à produção, socialização e aplicação do saber cien- tífico; mas também, foram enfocados os desafios éticos nas pesquisas científicas contemporâneas. Autoavaliação Nesta unidade, percorremos os caminhos da ciência. Agora, elabore um texto contendo uma síntese das discussões construídas ao longo da aula. Na elaboração atente para: o processo histórico; as características da ciência moderna, as bases de construção do saber científico, a relação entre ciência e sociedade e os desafios enfrentados pela ciência na atualidade. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 26 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Referências ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. 27. ed. São Paulo: Cortez, 1993. ______. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras. 20. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. ______. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2000. BERVIAN, P. A.; CERVO, A.L. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books, 1996. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense, 1993. DIONNE, J. ; LAVILLE, C. A Construção do Saber. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2000. SANTIAGO, M. L. F.; TAVARES, D. S. O que diz a conta d’água. Discutindo Ciência, São Paulo, ano 1, n. 2, p. 54-5, [entre 2005 e 2007]. ISSN1808-1002 SOARES, A. M. M. Células-tronco: os limites do benefício. Discutindo Ciência, São Paulo, ano 1, n. 1, p. 55, [entre 2005 e 2007]. ISSN 1808-1002 Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 27 II UNIDADE O método científico 28 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Apresentação Na aula anterior estudamos o Conhecimento Científico que foi abordado na perspectiva de sua construção, desco- bertas e implicações no cotidiano das pessoas e na socie- dade como um todo. Nesta aula, vamos estudar o caminho percorrido pelo saber científico em seu processo de cons- trução e as possibilidades epistemológicas de produção da Ciência. Nesse caso, buscaremos como se produz ciência com o uso do Método Científico. O material desta unidade virá acompanhado de orienta- ções e atividades que busca levá-lo ao conhecimento e re- flexão em torno do caminho da ciência: o método científico. Desse modo: • elabore as atividades, sugeridas no material ao longo da unidade; • busque ampliar seus estudos, consultando as leituras que virão indicadas; • realize sua autoavaliação da aula, utilizando-se do espaço disponibilizado. Nesse momento, vocês são convidados a percorrer os caminhos da ciência, conhecendo por meio da teoria o que é o Método Científico? Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 29 Objetivos Pretendemos, ao final desta aula, que você tenha conhecido e com- preendido que: 1. não há produção de conhecimento científico sem o uso do mé- todo científico; 2. existem perspectivas diferentes na relação entre sujeito e objeto do conhecimento; 3. o método científico torna-se o caminho para produção do sa- ber científico. 30SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa O que significa pensar usando método? Pense nisto!!! O homem ao pensar sobre o(s) fenômeno(s)/fato(s) que os circunda constrói hipóteses e elabora conjecturas em torno deles, buscando encadear as respostas por meio de argumentos lógicos. Ao procurar conhecer a(s) verdade(s) sobre o(s) fenômeno(s)/fato(s) o homem cria uma sistematicidade no modo de pensar sobre si e a sua relação com eles. Atividade I Considerando sua experiência de professor, nesse momento, você é convidado a pensar sobre a organização dos conteúdos de LINGUA PORTUGUESA em um ano letivo no Ensino Fundamental I, II ou no Ensino Médio. Relate como se pensa e se ordena a distribuição desses conteúdos em sua escola. Reflita!!! O modo como você distribuiu o conteúdo está orienta- do por etapas sistemáticas de apreensão do conhecimento ordenadas por uma lógica de produção do saber científico. Essa lógica orienta o modo de conhecer os fenômenos que são estudados e a busca de verdades em torno deles. O saber elaborado trata de objetos empíricos, de coisas e de processos. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 31 O que é o Método Científico? A origem da palavra método é grega e significa um conjunto de etapas e processos a serem seguidos na apreensão ordenada da re- alidade na busca da verdade sobre os fenômenos/fatos investigados. Nesse caminho de conhecer há uma série de etapas (fases) para se tentar resolver um problema, tornado objeto de investigação. Quando falamos em método, buscamos explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu determinados caminhos e não outros. Diante disso, se compreende que o método, no sentido geral, é um conjunto de ações, procedimentos e atividades sistemáticas que permitem o ordenamento e alcance de um objetivo no processo de construção do conhecimento na ciência. E que a questão do método diz respeito a pressupostos que fundamentam o modo de pesquisar e são anteriores a coleta de dados na realidade. Convidando Rubem Alves para discussão sobre o método científico, somos levados a um exercício de raciocínio. Observe: O que eu desejo que você anote é isto: a inspira- ção mais profunda da ciência não é um privilégio dos cientistas, porque a exigência da ordem se en- contra presente mesmo nos níveis mais primitivos da vida. Se não necessitássemos de ordem para sobreviver não a procuraríamos. E é somente por- que a procuramos que a encontramos. [...] Ordens distintas, regras diferentes, mundos diferentes. [...] Esta é a razão por que a ciência, desde os seus pri- mórdios, tratou de inventar métodos para impedir que os desejos corrompessem o conhecimento ob- jetivo da realidade. [...] cientistas que só trabalham com fatos, que só levam em consideração aquilo que pode ser visto, tocado e medido. [...]. (ALVES, 1994, p. 37-9) 32 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Atividade II Usando o raciocínio metódico apresentado por Rubem Alves sobre “as ordens distintas, regras diferentes e mundos diferentes,” analise a poesia de cordel Aposentadoria do Mané do Riachão de Patativa do Assaré, fazendo correlações entre a narrativa dos fatos, por meio da linguagem do cordel, e a crítica ao discurso do homem letrado, em seguida registre sua interpretação. Seu moço fique cliente De tudo que eu vou contar Sou um pobre penitente Nasci no dia do azar; Por capricho eu vim no mundo Perto de um riacho fundo No mais feio grutião. E como ali fui nascido, Fiquei sendo conhecido Por Mané do Riachão. Passei a vida penando No mais cruel padecê, Como tratô trabalando Pro felizardo comê. A minha sorte é torcida, Pra melhorá minha vida Já rezei e fiz promessa, Mas isto tudo é tolice. Uma cigana me disse Que eu nasci foi de travessa. Sofrendo grande canseira Virei bola de bilhá Trabalhando na carreira Daqui pra ali e pra acolá, Fui um eterno criado Sempre fazendo mandado. Ajudando aos home rico. Eu andei de grau em grau, Tal e qual o pica-pau Caçando broca em angico. Sempre entrando pelo cano E sem podê trabalhá, Com sessenta e sete ano Procurei me aposentá. Fui batê lá no escritório depois eu fui no cartório, Porém de nada valeu. Veja o que foi, cidadão, Que aquele tabelião achou de falá pra eu. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 33 Me disse aquele escrivão Franzindo o couro da texta: _ Seu Mané do Riachão, Estes seus papéis não presta. Isto aqui não vale nada, Quem fez esta papelada Era um cara vagabundo. Prá fazê seu aposento, Tem que trazê documento Lá do começo do mundo. E me disse que só dava Pra fazê meu aposento Com coisa que eu só achava No Antigo testamento. Eu que tava prazenteiro Mode recebê dinheiro, Me disse aquele escrivão Que precisava dos nome e também dos sobreno- me De Eva e seu marido Adão. E além da identidade De Eva e seu marido Adão, Nome da universidade onde estudou Salomão. Com outras coisa custosa, Bem custosa e cabulosa Que neste mundo revela A Escritura Sagrada: Quatro dente da queixada Que Sansão brigou com ela. Com manobra e mais manobra Pra podê me aposentá, Levá o nome da cobra Que mandou Eva pecá E além de tanto fuxico, O registro e o currico De Nabucodonosô, Dizê onde Le morreu, Onde foi que ele nasceu E onde se batizo. Veja moço, que novela, Veja que grande caipora E a pio de todas ela O sinhô vai vê agora. Para que eu me aposentasse, Disse que també levasse Terra de cada cratera Dos vulcão Do estrangeiro E o nome do vaqueiro Que amansou a Besta Fera. 34 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Escutei achando ruim Com a paciência fraca, E ele oiando pra mim Com os óio de jararaca. Disse: _ A coisa aqui é braba Precisa que você saiba Que eu aqui sou o escrivão. Ou essas coisa apresenta, Ou você não se aposenta, Seu Mané do Riachão. Veja, moço, o grande horrô, Sei que vou morrê depressa, Bem a cigana falou Que eu naci foi de trevessa. Cheio de necessidade, Vou viê da caridade. Uma esmola, cidadão! Lhe peço no Santo nome, Não deixe morrê de fome O Mané do Riachão. Ver poesia com ANDRADE, C. H. S.; SILVA, N. J. da.( Orgs). Feira de Versos: poesia de cordel. São Paulo: Ática, 2004. Reflita!!! O raciocínio metódico por você desenvolvido na análi- se da poesia estabeleceu correlações entre fenômenos co- tidianos e fatos narrados no debate histórico de sua época sobre os tipos de saberes. Esses fatos estão presentes na narrativa do discurso poético como espaço de informação e crítica social. Nesse caso, você atuou como um investi- gador na busca de relações entre fatos e acontecimentos cotidianos de sua realidade.. Pense nisto!!! A construção de verdades é o propósito da ciência, para isto ela se utiliza de métodos sistemáticos que concebem os seres e os fatos como estando interligados entre si por certas relações de sentido lógico-racional. Nesse caso, cabe ao método encontrar e repro- duzir encadeamentos lógicos que desvendem essas relações por meio do conhecimento ordenado de leis e princípios científicos. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 35 Podemos perceber que a busca da verdade na ciência moderna funda-se em pressupostos que valorizam a razão, experimentação e ob- servação em torno da investigação de fenômenos/fatos que nos levam a exercícios de raciocínio diferenciados. A Modernidade trouxe a valorização da experimentação e da obser- vação (FRANCIS BACON apud CHALMERS, 1993) aliada ao raciocínio racionalizante do pensar (RENÉ DESCARTES, 1956 apud CHALMERS, 1993.) como caminhos legítimos para se fazer ciência. Esse pressu- posto considerava que o homem seria capaz de descobrir as causas dos fenômenos da natureza, descrevendo em leis gerais o seu modo de funcionamento. Entretanto, antes desse momento histórico, o pres- suposto dominante não considerava a observação humana como uma possibilidade de produzir saber, pois o único conhecimento possível era dado por Deus ao homem,por meio da revelação. Conforme Alves (1994), Kepler decifrou o enigma do universo, des- cobrindo o segredo por meio de uma melodia poética; no entanto, foi Galileu que se tornou o especialista em decifrar metodicamente os códigos do universo afirmando “que o livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos” (GALILEU apud idem, op.cit, p. 70). Veja-se o trecho de uma carta de Kleper (apud ALVES, op.cit, p. 73) falando sobre a melodia do universo: Os movimentos celestes nada mais são que uma canção contínua para várias vozes, percebida pelo intelecto e não pelo ouvido; uma música que, por meio de tensões discordantes, síncopes e ‘caden- zas’ [...] progride na direção de certas resoluções determinadas, estabelecendo assim certas marcas no fluxo imensurável do tempo. Não é de causar surpresa, portanto, que o homem, imitando o seu Criador, tenha, finalmente, descoberto a arte da notação musical, desconhecida dos antigos. O ho- mem desejava reproduzir a continuidade do tempo cósmico dentro de uma breve hora, por meio de uma engenhosa harmonia de várias vozes, a fim de saborear uma amostra do prazer que o Criador Di- vino tem em Suas obras, e participar de sua alegria fazendo música na imitação de Deus. O pioneiro a tratar do método na ciência foi Galileu Galilei com o método experimental que consiste numa “indução experimental, che- gando-se a uma lei geral por intermédio da observação de certo nú- mero de casos particulares” (LAKATOS; MARCONI, 2000, p. 47). Essa concepção de método vem contribuir com a consolidação da Ciência Moderna, conforme Alves (op.cit, p.81) “[...], freqüentemente se ouve dizer que, em oposição aos filósofos metafísicos da Idade Média, a ciência moderna se caracteriza por seu amor aos fatos [...]”. Se o método, o caminho de conhecer da ciência, de Kepler tivesse 36 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa sobressaído é bem provável que o olhar da ciência estivesse voltado para contemplação mística, andando de mãos dadas com músicos, teólogos e artistas, ao invés das possibilidades criadas com os códigos matemáticos de Galileu em tecnologias e técnicas que promoveram revoluções trazendo também implicações sociais questionáveis em seus resultados. Atividade III Outros gêneros textuais nos permitem conhecer os fatos da história da ciência, no caso vamos buscar na Literatura de Cordel fragmentos dessa história. Leia os fragmentos dos versos de Gonçalo Ferreira da Silva (2005, p. 33-4) sobre GALILEU GALILEI e registre sua interpretação, relacionando-a à discussão da unidade. [...] Pitágoras e Nicolau Copérnico, por excelência na vida de Galileu tireram grande influência, eram os três a dose tripla da mais pura inteligência. Galileu ao desprezar a caduca teoria do princípio geocêntrico grande mergulho daria nos mistérios insondáveis do campo da Astronomia. Porém a contestação da aristotélica lei e o princípio heliocêntrico de Galileu Galilei de que a Terra é quem gira em torno do Astro-Rei. Provocaram tanto ódio, tão feroz ira mortal na cega Igreja Católica que seus ministros do mal conduziram Galileu Galileu ao tribunal. Diante do tribunal Galileu foi obrigado a dizer publicamente que havia se enganado dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 37 contrariando o princípio que tinha formulado. Antes Galileu dissera com pura e sã consciência que a Igreja Católica tão pobre de competência não tinha elementos para intrometer-se em ciência. Reflita!!! Galileu tornou-se uma referência para Ciência Moderna; no entanto, sua concepção de método contribuiu para o desenvolvimento de uma ciência cujos desdobramentos e implicações sociais foram vistos na aula anterior. As bases epistemológicas do método científico Pense nisto!!! A Epistemologia como um campo da Filosofia se preocupa com a análise e crítica dos pressupostos metodológicos da Ciência Moder- na. Nesse caso, torna-se importante o conhecimento dos fundamen- tos que orientam o modo de pensar e de abordar os fenômenos/ fatos investigados pela ciência. Na discussão sobre os pólos que compõem o conhecimento cientí- fico aparece de um lado o homem que se propõe a conhecer (sujeito) e do outro a realidade a ser conhecida (objeto). Esse debate inaugura na Ciência Moderna caminhos para o conhecimento cujo foco está no sujeito, no objeto ou em ambos. Esses caminhos metódicos irão identi- ficar as bases de construção do saber científico e da pesquisa científica na modernidade. A Epistemologia traz três perspectivas à compreensão da relação 38 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa entre sujeito e objeto do conhecimento. São elas: O empirismo, o ra- cionalismo e o interacionismo. Vejamos como se caracterizam esses tipos de métodos: a) O empirismo A compreensão em torno da verdade dos fatos nos encaminha para o conhecimento das causas e dos efeitos. David Hume (apud ALVES, 1994, p. 128) dizia: “[...] todos os objetos com que a razão pode se ocupar se classificam em duas gavetas: relação de idéias, o que nos abre o campo da lógica e da matemática e matérias de fato, o que nos conduz aos eventos do mundo exterior e suas relações.” O empirista Hume acreditava que os pensamentos sobre os fatos derivam de relações causais fundamentando suas análises em bases psicológicas do sujeito humano. Para ele a causa de um fenômeno decorre da observação de repetições de sucessões de eventos. Logo, supõe nessa perspectiva a primazia do objeto em relação ao sujeito, isto é, o conhecimento deve ser produzido a partir da forma como a realidade se apresenta ao cientista. Nesse sentido, as relações causais poderiam ser descobertas pelo investigador/pesquisador tornando a verdade sobre os fatos uma reali- dade possível de se ordenar na experiência de observação dos fenôme- nos. No entanto, emerge nesse exercício metódico do saber científico um problema: por que tais relações ao serem percebidas e criadas pela experiência podem traçar caminhos diferentes? Considerando que as relações causais provocam estímulos e tendo os seus efeitos compreendidos como respostas, o investigador/pesqui- sador poderia metodicamente ordenar comportamentos na busca de respostas desejáveis ao processo de ensino e aprendizagem na educa- ção formal. Vejamos se a crítica de Alves (op.cit., p. 129) ao uso desse método: Não se pode negar que o conhecimento de causas seja extremamente eficiente. Elas são usadas cons- tantemente por pais, educadores, torturadores, psi- cólogos e psiquiatras, vendedores, propagandistas, políticos, religiosos _ enfim, todas e quaisquer pes- soas _ que desejam modificar (não importa que se alegue que a mudança é pra melhor!) o comporta- mento dos outros. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 39 Atividade IV Exercitando a crítica ao método causal assista ao filme O Óleo de Lorenzo1 de George Miller (1992) observando e relacionando os estímulos causais e as respostas esperadas no uso do método dedutivo na busca de soluções para problemas humanos, por fim elabore uma sinopse do filme. Reflita!!! A narrativa do filme possibilita ao educador a com- preensão do método científico e sua aplicação na cons- trução do saber científico, por meio do teste de hipóteses e na formulação de teorias sobre os fenômenos investi- gados. b) O racionalismo Nessa perspectiva o homem enquanto sujeito do conhecimento ou a sua atividade de conhecer em relação ao objeto por meio da sua capacidade de pensar e avaliar tomando a razão como parâmetro de conhecimento torna-se a referência de onde provém o saber. Nesse caso, a razão é quem conhece e as experiências são conhe- cidas. Em primeiro plano está o sujeito (pesquisador) que ordena a realidade; dito de outra forma, a realidade se constrói no pensamento para depois existir enquanto realidade vivida e experiência compreendi- da. Nessa perspectiva, a idéia de causa estaria na razão e seria a partir desse plano mental de idéiasque a realidade poderia ser construída e conhecida como verdade pelo pesquisador. As ideias racionalistas trazem o sujeito pensante para o espaço da produção e construção do conhecimento, Carvalho et. al. parafrasean- do Descartes (2000, p. 24) diz: Assim, penso, logo existo, ou seja, minha certe- za de existência decorre do fato de que eu estou pensando. Esta é uma idéia clara e distinta, dirá Descartes, uma vez que dela posso duvidar. Todas as idéias claras e distintas que descrevem as pro- priedades definidoras de um objeto são tomadas 1 Disponível para Download seguindo as orientações em <http://www.baixalogofil- mes.net/como-baixar-no-fileserve/>. Aces- so em 15. set. 2011. O vídeo está disponível no ambiente on-line e no pólo, procure o seu tutor. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 40 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa como verdadeiras e correspondem às coisas em si mesmas. Fecha-se, assim, o circuito da dúvida me- tódica: existe uma correspondência entre a matéria e a idéia. Na Crítica da razão pura (1999) Immanuel Kant considera que a ciência produz um conhecimento universal e que não se pode duvidar. A razão vem filtrar a realidade restringindo o acesso ao que ela per- mite, não há conhecimento das coisas em si mesmas, mas como elas aparecem diante do sujeito sobre a forma de fenômenos. Nessa pers- pectiva racionalista, o tempo, o lugar, a substância e a causalidade da razão são categorias anteriores à experiência humana. Sendo assim, é o sujeito que ordena metodicamente o conhecimento sobre si e sobre as coisas. Com Hegel, a razão é histórica e se construiu na oposição das ideias constituintes das transformações e mudanças nos espaços de luta, nas revoluções do século XVIII. Ele busca compreender racional- mente o movimento contraditório de negação (a tese, sua negação e a negação da negação) dos acontecimentos humanos, propondo uma dialética (método de abordar os acontecimentos humanos) no plano do espírito, das idéias de uma época histórica. Hegel (1999) afirmava “que o real era racional e o racional era real”. Logo, a verdade estava no plano da razão e não da experiência de uma vida material. A crítica de Chalmers (1993, p.138) ao pensamento racionalista pode contribuir com o debate dessa aula. Vejamos: O racionalista extremado afirma que há um cri- tério único, atemporal e universal com referência ao qual se podem avaliar os méritos relativos de teorias rivais [...]. São científicas apenas aquelas teorias capazes de ser claramente avaliadas em ter- mos do critério universal e que sobrevivem ao teste. [...] A verdade, a racionalidade e a ciência, por- tanto são vistas como sendo intrinsecamente boas. A perspectiva racionalista limita a percepção do investigador pren- dendo-o a categorias fechadas (teorias e conceitos) do pensamento, isto traz implicações no caminho do conhecimento, particularmente em concepções pré-estabelecidas sobre os fatos que não consideraram as particularidades e as singularidades dos fenômenos humanos buscan- do generalizações e universalidade de verdades. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 41 Atividade V A análise sobre o método racionalista na prática do educador e no uso do material didático de Língua Portuguesa, disponibilizado pelas Secretarias de Educação (Ensino Fundamental I e II e Médio) leva-nos a perceber que alguns conceitos são trabalhados nos livros didáticos independentes das particularidades da oralidade e de sua complexidade cultural nos âmbitos regional e local. Descreva no espaço, a seguir, alguns conceitos trabalhados no Ensino da Língua Portuguesa nos quais você pode localizar um determinismo racionalista, na busca de generalizações e universalismos com o uso das palavras e na construção textual destes materiais didáticos. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! Disponível em: Jornal da Ciência, nº 698, 23/09/11. Disponível em < http://www. jornaldaciencia.org.br/charges.jsp. > Acesso em: 23. set. 2011. 42 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Atividade VI Observe a charge e estabeleça uma relação da iconografia com os desafios trazidos pela racionalização da vida contemporânea. Registre sua análise e interpretação no espaço indicado. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! c) O Interacionismo Essa perspectiva considera a produção do conhecimento numa in- teração entre sujeito (o que conhece) e objeto (o que se dar ao co- nhecimento) do conhecimento. Nesse sentido o método torna-se um caminho marcado por intersecções entre o pesquisador e os fatos inves- tigados, configurando a realidade como uma possibilidade de verdade, mas também nos revela que nas Ciências Humanas sujeito e objeto se confundem no processo de pesquisa, já que o sujeito também se torna objeto do conhecimento. O conhecimento por ser uma dimensão interpretativa do sujeito e do objetivo que é múltiplo e plural torna-se verdadeiro em circunstân- cias específicas e pode ser desconstruído ou ressignificado pelo pesqui- sador a partir do caminho que for traçado na investigação. As teorias e os conceitos são relativos aos contextos, às ideologias, às configurações históricas e às particularidades culturais. As verdades da ciência são relativas e historicamente contextuais e, portanto nunca neutras. Nesse caso, as Ciências Humanas não precisam se angustiar, pois o seu objeto de estudo é de natureza interpretativa e não há ne- cessidade de se buscar uma objetividade pautada em um dos pólos do conhecimento. O cientista nessa perspectiva é um sujeito impregnado de valores e ideologias de sua época histórica e não um ser purificado das con- Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 43 dições plurais que determinam a sua existência como homem e pes- quisador, quebrando assim com uma suposta neutralidade científica enfatizada na perspectiva empirista e racionalista. Atividade VII Como a perspectiva interacionista2 pode contribuir com uma análise da relação entre os sujeitos (professor e aluno) e o objeto (a aula de português) para superação de problemas de aprendizagem? Registre situações que caracterizem essa interação e como ela contribui com a aprendizagem no coletivo da sala de aula. Reflita!!! A descrição e análise dessas situações permitem a você desenvolver um raciocínio metódico cuja perspec- tiva de caminho não está fundada na primazia do sujei- to ou do objeto, mas numa possibilidade de interação entre eles na produção de um saber sobre a sua prática pedagógica. Concluindo a unidade! Esperamos que você tenha compreendido, nesta unidade, a im- portância do Método Científico para a construção do saber científico e possa vir a exercitar o uso do método na produção de seus conheci- mentos e de suas pesquisas em sua formação universitária. 2 Ver concepção de interação social na aula O1 de Leitura, Análise e Interpretação de Textos. 44 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Orientação de Leitura Orientamos como leituras complementares as discussões apresen- tadas nesta unidade: BERVIAN, P. A.; CERVO, A. L. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books, 1996. Os autores apresentam no capítulo 2 – O Método Científico, uma discussão teórica sobre as noções e importância do estudo do mé- todo, os tipos e os processos de aplicação do método científico. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2000. As autoras apresentam uma discussão teórica e densa no capítu- lo 2 – Métodos Científicos, dos conceitos clássicos sobre Método Científico estabelecendo um estudo comparativo entre os tipos de Métodos no processo histórico de construção da Ciência Moderna. Revisando as discussões Nesta unidade, trabalhamos as concepções de Método Científico, conceito e definições a partir de um debate com autores clássicos da Metodologia Científica. As definições tornaram-se possibilidades inter- pretativas à construçãode uma discussão sobre a Ciência Moderna. Nesse debate, resgatou-se as bases epistemológicas do Método Cien- tífico: o empirismo, o racionalismo e o interacionismo. O empirismo e o racionalismo partem do princípio de existência de uma realidade independente do ponto de vista do pesquisador e que deve ser por este alcançada, seja tomando como sua via principal de acesso à percep- ção ou a razão. Nas duas perspectivas, o sujeito (pesquisador) participa do processo de construção do conhecimento. Já o interacionismo es- tabelece como caminho para produção do conhecimento a interação entre sujeito e objeto do conhecimento. Nessa perspectiva, os pontos de vista se constroem na desconstrução de uma suposta ausência do pesquisador no campo de investigação. Essa possibilidade de caminho contribui com as pesquisas no campo das ciências humanas. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 45 Autoavaliação Comente o fragmento a seguir, refletindo após as discussões desta unidade sobre o que é método científico? O método científico quer descobrir a realidade dos fatos e esses, ao serem descobertos, devem, por sua vez, guiar o uso do método. Entretanto, como já foi dito, o método é apenas um meio de acesso: só a inteligência e a reflexão descobrem o que os fatos realmente são. [...] O cientista, sempre que lhe falta a evidência como arrimo, precisa ques- tionar e interrogar a realidade. (BERVIAN; CERVO, 1996, p. 21) dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 46 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Referências ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. de C. Cordel e ciência: a ciência em versos populares. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 20. ed. São Paulo: Brasiliense,1994. ANDRADE, C. H. S.; SILVA, N. J. da.(Orgs). Feira de Versos: poesia de cordel. São Paulo: Ática, 2004 BERVIAN, P. A.; CERVO, A. L. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books, 1996. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense, 1993. CARVALHO, A. M. et al. Aprendendo metodologia científica: uma orientação para os alunos de graduação. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000. DIONNE, J.; LAVILLE, C. A Construção do Saber. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. HEGEL, F. W. Hegel. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores. KANT, I. Kant. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2000. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 47 III UNIDADE Os tipos de métodos e sua aplicação 48 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Apresentação Vimos que o método se constitui no caminho de constru- ção do discurso científico que se utiliza de narrativas escritas para registro do saber produzido e como forma de divulgar as descobertas da ciência. Sendo assim, o método é a tra- jetória que o pesquisador percorre para conhecer o objeto (fenômeno/fato investigado) em busca de construir um co- nhecimento racional e sistemático, conforme estudamos na unidade anterior. O método enquanto construção, resultante de um pro- cesso por meio do qual o homem procura conhecer a na- tureza e a sociedade, deve ser compreendido e explicado como resultado de relações entre homens em contextos his- tóricos particulares e singulares; neste caso, a compreensão do modo de se pensar e construir o objeto de estudo é fun- damental para o desenvolvimento da ciência. Diante disso, o(s) método(s) se altera(m) refletindo o de- senvolvimento e as rupturas nos diferentes momentos da his- tória. Nesta unidade, vamos conhecer os tipos de métodos criados no processo de desenvolvimento do homem em bus- ca do conhecimento científico, partimos então da relação que se estabelece entre sujeito e objeto do conhecimento. Desse modo: • elabore as atividades sugeridas na unidade, traba- lhando o conhecimento da linguagem dos métodos científicos que irão sendo desenvolvidos ao longo da unidade; • busque ampliar seu conhecimento sobre os métodos, em leituras que estarão indicadas e comentadas no final da unidade; • realize sua autoavaliação na unidade, utilizando-se do espaço disponibilizado. Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 49 Nesse momento, vocês são convidados a percorrer os caminhos que possibilitaram a elaboração dos métodos científicos, conhecendo por meio da teoria os tipos de mé- todos: Indutivo, Dedutivo, Hipotético-dedutivo e Dialético e suas aplicações. Objetivos Pretendemos, ao final desta aula, que você tenha compreendido que: 1. o método é a trajetória percorrida pelo pesquisador na apreen- são do objeto de análise; 2. existem métodos diferentes para apreensão dos fenômenos na- turais e sociais. 50 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Percebendo o mundo, o homem constrói trajetórias para conhecer e explicar os fenômenos Pense nisto!!! O homem cria diversos caminhos para apreender, compreender e explicar o que o cerca. Esses caminhos podem ser percorridos por pontos diferentes, ora pela razão, ora pela percepção, ou então, pela convergência entre esses pontos. Atividade I Quando afirmamos que pelo uso da observação sistemática o professor com “muitos anos de sala de aula” tem experiência em trabalhar com os conteúdos, criamos uma “verdade” sobre a prática do educador, em particular o de Língua Portuguesa. Essa suposta “verdade” coloca o foco do conhecimento na observação de que o educador com muitos anos de experiência, em sala de aula, sabe trabalhar com o conteúdo que leciona junto aos alunos e não necessita de teorias para auxiliá-lo. Você concorda com esta afirmação? Por quê?1 Reflita!!! A sua interpretação sobre a afirmativa já marca uma trajetória no seu modo de pensar sobre o fenômeno: práti- ca do educador. O seu raciocínio seguiu observações par- ticulares dos espaços educacionais que fizeram parte de sua experiência e que influem no seu modo de vê a prática educativa, tanto que você provavelmente fez generalizações sobre a experiência de “muitos anos de sala de aula”. dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 1 Na elaboração desta atividade su- gerimos ao aluno que consulte o texto disponível em: <http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0100-15742002000200002> Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 51 O Método Indutivo Conforme vimos, em aulas passadas, Galileu foi o precursor da indução experimental; ou seja, do método indutivo. Esse método pre- vê que pela indução experimental o pesquisador possa chegar a uma lei geral por meio da observação de certos casos particulares sobre o objeto (fenômeno/fato) observado. Nesse sentido, o pesquisador sai das constatações particulares sobre os fenômenos observados até as leis e teorias gerais. Podemos concluir que a trajetória do pensamento vai de casos particulares a leis gerais sobre os fenômenos investigados, possibilitando ao investigador a formulação de explicações generalizá- veis a partir de casos particulares que foram observados no cotidiano, conforme vimos na atividade 1 que você acabou de elaborar. Nessa perspectiva, o exercício metódico do conhecer afirma uma posição indutiva do sujeito (pesquisador) em relação ao objeto (prática de sala de aula), na qual a investigação científica é uma questão de generalização provável, a partir dos resultados obtidos por meio das observações e das experiências. Francis Bacon foi o “sistematizador do Método Indutivo, pois a técnica de raciocínio da indução já existia des- de Sócrates e Platão”, conforme (LAKATOS; MARCONI, 2000, p. 71). O exercício do método indutivo requer alguns procedimentos por parte do pesquisador, quais: • observação sistemática dos fenômenos; • elaboração de classificações a partir da descoberta de relação entre os fenômenos observados; • construçãode hipóteses (verdades provisórias) a partir das rela- ções observadas; • verificação das hipóteses por meios de experimentações e testes; • construção de generalizações, a partir dos resultados experi- mentados e testados, servindo como explicação para outros es- tudos que apresentem casos similares; • confirmação das hipóteses para se estabelecer as leis gerais sobre os fenômenos investigados. Conforme Ferreira (1998), o método indutivo define suas regras e etapas a partir de dois pressupostos que se sustentam na idéia da exis- tência de um determinismo nas leis observadas na natureza, são eles: 1. determinadas causas produzem sempre os mesmos efeitos, sob as mesmas circunstâncias e determinações; 2. a verdade observada em situações investigadas, torna-se verda- de para todo situação universal correspondente. 52 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa Os argumentos indutivos criam um exercício para o pensar científico cujo caminho é feito de observações particulares (premissa), tomadas a priori como verdadeiras, a generalizações conceituais (conclusões) que podem ser verdadeiras que seriam verificadas. A verdade não está im- plícita na conclusão. Veja-se o exemplo clássico de Lakatos; Marconi( 2000, p. 63): “Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração” Se a premissa “todos os cães que foram observados tinham um coração” é verdadeira, ela pode induzir à conclusão “logo, todos os cães têm um coração”. Esse determinismo torna-se um obstáculo ao uso do método nas Ciências Sociais e Humanas, na medida em que os fenômenos sociais variam não possuindo um determinismo intrínseco. Dificilmente, as mesmas circunstâncias podem ser verificadas na obser- vação dos fenômenos de interação humana. Logo, as Ciências Sociais e Humanas sentem dificuldade de aplicar os procedimentos orientados ao pesquisador numa perspectiva indutiva do saber científico, já que o método indutivo procura ampliar o alcance dos seus conhecimentos por meio de generalizações conceituais. Atividade II Leia e comente se há no fragmento da poesia de cordel de Manoel Monteiro2: Salvem a Fauna! Salvem a Flora! Salvem as águas do Brasil!, um raciocínio indutivo sobre o fenômeno observado pelo poeta. Os homens s’tá destruindo O mar, a terra e os lagos, Os rios sofrem os estragos Das matas se consumindo O ar vai se poluindo, Não se renova, empobrece, A temperatura cresce E ao mundo sufocará. _ Em breve o homem terá O castigo que merece. [...]dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades! 2 Cf. com ALMEIDA, Carla; MASSARANI, Lui- sa; MOREIRA, Ildeu de Castro (Orgs). Cordel e Ciência: a ciência em versos populares. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005. p. 203 Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 53 O Método Dedutivo O conhecimento científico procura conhecer, além do fenômeno observado, para isto utilizamos da razão como caminho para chegar à certeza sobre a verdade do fenômeno investigado. Essa prerrogativa de certeza dada pela razão enquanto princípio absoluto do conhecimento originou-se na obra O discurso do método de René Descartes, que instituiu a dedução como caminho para o conhecimento. O método dedutivo parte das teorias e leis consideradas gerais e universais buscando explicar a ocorrência de fenômenos particulares. O exercício metódico da dedução parte de enunciados gerais (leis uni- versais) que supostos constituem as premissas do pensamento racional e deduzidas chegam a conclusões. O exercício do pensamento pela razão cria uma operação na qual são formuladas premissas e as regras de conclusão que se denominam demonstração. Vejamos o exercício metódico da dedução, com o exemplo clássico (LAKATOS, MARCONI, op.cit, p. 63): “Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração.” Neste argumento para que a conclusão seja considerada verda- deira, estabelecemos como condição que todas as premissas sejam verdadeiras e que a verdade da conclusão já estava implícita nessas premissas. Nesse caso, a conclusão seria falsa se uma das premissas: “todo mamífero tem um coração” e “ora, todos os cães são mamíferos” fossem falsas. Nesse sentido, a função do método dedutivo é explicar o conteúdo de suas premissas, consideradas universais. Convidando Rubem Alves (1994, p. 121) para discussão sobre a universalidade das premissas dedutivas, ele diz: [...] Você está enunciando relações pretensamen- te válidas para todos os fatos, já ocorridas e por ocorrer. Seu enunciado tem a propriedade de uni- versalidade [...] e necessidade [...]. Você enunciou uma relação causal. Mas o que o autorizou a pular dos enunciados relativos aos fatos passados, para o enunciado relativo a todos os fatos, inclusive os futuros? Como é que você pulou do alguns para o todo? Uma coisa é certa: a conclusão de que o fu- turo será semelhante ao passado, que a totalidade dos casos será semelhante aos alguns que exami- nei, não é lógica. Dizer que não é lógica é afirmar que o enunciado sobre todos não estava contido 54 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa no enunciado sobre alguns. Se eu digo: Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Sócrates é mortal. O raciocínio é lógico. A conclusão esta- va contida nas duas premissas (as duas afirmações anteriores). A passagem do todos para o alguns é lógica, demonstrativa, analítica. Será possível o caminho inverso? Atividade III Reflita, comentando, a letra da música Bandeira Nordestina de Jessier Quirino buscando identificar se há um raciocínio dedutivo presente na narrativa musical: Bandeira nordestina A bandeira nordestina É uma planta iluminada É qualquer raiz plantada Mostrando o caule maduro E quando o sol varre o escuro Com luz e sombra no chão É quando germina o grão É quando esbarra o machado É quando o tronco hasteado É sombra pro polegar É sombra pro fura-bolo É sobra pro seu vizinho É sombra para o mindinho É sombra prum passarinho É sombra prum meninote É sombra prum rapazote É sombra prum cidadão É sombra para um terreiro É sombra pro povo inteiro Do litoral ao sertão Essa bandeira que eu falo Tem cores de poesia Tem verde-folha-avoada Amarelo-jaca-aberta Metodologia da Pesquisa I SEAD/UEPB 55 Em tudo que é vegetal Tem bandeira desfraldada No duro da baraúna No forte da aroeira No bandejar buliçoso Das folhas das bananeiras Das bandeirolas dos coentros E na marca sertaneja: O rijo e forte umbuzeiro Música disponível em: <http://letras.terra.com.br/jessier- quirino/1219310.> Acesso em: 20 set. 2011. Reflita!!! A dedução lógica é um caminho percorrido pelo saber científico, no entanto ele apresenta alguns limites no campo das Ciências Sociais. Observe sua análise e reflita sobre os limites desse raciocínio. O Método Hipotético - Dedutivo O método hipotético-dedutivo surge de uma crítica profunda ao indutivismo metodológico. Esse método pressupõe o uso de inferências dedutivas como teste de hipóteses. Karl Popper (apud FERREIRA, 1998) propõe como caminho para essa trajetória metodológica o cumprimen- to das seguintes etapas: • expectativas e teorias existentes; • formulação de problemas em torno de questões teóricas e em- píricas; • solução proposta, consistindo numa conjectura; dedução das conseqüências na forma de proposições passíveis de teste sobre os fenômenos investigados; • teste de falseamento: tentativas de refutação, entre outros meios, pela observação e experimentação das hipóteses criadas sobre o(s) problema(s) investigado(s). 56 SEAD/UEPB I Metodologia da Pesquisa A partir dessas etapas que envolvem a relação entre pesquisador e objeto do conhecimento, deduzimos os encaminhamentos metodológi- cos da pesquisa. Essas etapas de raciocínio metodológico orientam a discussão em torno de onde provém o conhecimento, do pesquisador que apreende o real ou do objeto que se impõe como realidade verificável? Nessa perspectiva metodológica do método
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