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Negocios (29.04.20)

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Quarta-feira, 29 de abril de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4233 | € 2.50 
Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe
Publicidade
Queda de 40% 
no imobiliário 
afunda procura 
por crédito 
Mello e Arcus 
vendem 
Brisa por 2,4 
mil milhões 
EMPRESAS 14 a 17 
PRIMEIRA LINHA 8 e 9 e ECONOMIA 12 
Venda de casas em queda. Banca vai adotar critérios 
mais restritivos para a concessão de empréstimos. 
PRIMEIRA LINHA 4 e 5 
MERCADOS 20 
Países do Sul 
mais vulneráveis 
à crise, diz 
Schroders 
Código laboral 
Empresas 
ganham em 
maio poder 
para impor 
férias 
MEGANEGÓCIO 
EM TEMPO DE CRISE
Orientações 
às empresas 
para o 
regresso 
ao trabalho 
Escrituras vão 
poder ser feitas 
à distância 
Oitante adia venda 
de 400 milhões 
em imóveis 
Medição 
de febre fora 
da lista de 
recomendações 
da ACT 
10
PRIMEIRA LINHA 6 e 7
Na biblioteca dos CEO 
Ler sobre 
personagens 
que vivem a sua 
“eternidade” 
O presidente executivo 
do Novo Banco, António 
Ramalho, escolheu 
Gabriel García Márquez. 
ÚLTIMA 28 HOMEPAGE 2 
UE e México 
fecham acordo 
para parceria 
comercial 
O que vai a família 
fazer com o dinheiro
Quem são os compradores 
e o que foi vendido 
Br
un
o 
Si
m
ão
2 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
HOME PAGE
OPINIÃO
HOME PAGE
O s representantes da União Europeia e do México finaliza-ram esta terça-fei-ra, 28 de abril, as 
negociações com vista a uma nova 
parceria comercial. O comissário 
para o Comércio, Phil Hogan, e a 
ministra mexicana da Economia, 
Graciela Márquez Colín, concluí-
ram hoje as conversações duran-
te uma chamada telefónica após 
chegaram a acordo sobre o âmbi-
to concreto da “transparência e 
previsibilidade” dos processos de 
contratação pública. 
Este era o passo em falta para 
que a UE e o México pudessem fi-
nalizar um acordo comercial en-
tre os dois blocos, pelo que há ago-
ra luz verde para se prosseguir 
com o processo de assinatura e ra-
tificação do acordo. “Este acordo 
vai ajudar tanto a UE como o Mé-
xico a apoiaram as nossas respe-
tivas economias e a impulsionar o 
emprego”, afirmou Phil Hogan. 
Em comunicado, a Comissão 
Europeia explica que este acordo 
fará com que “praticamente todos 
os bens comercializados entre a 
UE e o México ficaram isentos de 
tarifas aduaneiras”. Os procedi-
mentos alfandegários serão ainda 
simplificados, o que deverá tradu-
zir-se num reforço das exporta-
ções de ambos os blocos. 
Por outro lado, o compromis-
so alcançado entre as partes pre-
vê ainda regras sobre desenvolvi-
mento sustentável tais como a im-
plementação dos objetivos previs-
tos no Acordo de Paris sobre alte-
rações climáticas. A Comissão 
realça que este é o primeiro acor-
do entre a UE e um país da Amé-
rica Latina que prevê normas re-
lacionadas com a proteção do in-
vestimento. 
Além da proteção ambiental, 
o acordo assume também preocu-
pações no que concerne ao respei-
to pelos direitos humanos, assim 
como o aumento da cooperação 
ao nível político e de apoio ao des-
envolvimento. É ainda o primeiro 
acordo comercial assinado pela 
UE a contemplar disposições re-
ferentes à luta contra a corrupção, 
designadamente estando previs-
tas medidas concretas contra su-
bornos e lavagem de dinheiro. 
O México é o primeiro parcei-
ro comercial do bloco europeu na 
América Latina. As trocas comer-
ciais bilaterais de bens valeram 66 
mil milhões de euros em 2019 e as 
trocas de serviços ascenderam a 19 
mil milhões de euros em 2018. Des-
de que, em 2001, entrou em vigor 
o primeiro acordo comercial UE-
-México, as trocas comerciais mais 
do que triplicaram. 
O acordo estabelece que praticamente todos os bens comercializados entre 
a União Europeia e o México vão passar a ficar isentos de tarifas aduaneiras 
e contempla disposições relativas à luta contra a corrupção.
DAVID SANTIAGO 
dsantiago@negocios.pt
O entendimento foi anunciado pelo Comissário para o Comércio, Phil Hogan.
UE e México fecham 
acordo para nova 
parceria comercial“Muito do que vivemos e de como vivemos hoje, marcará a forma de 
como o mundo será 
amanhã.”
MARIA DE FÁTIMA 
CARIOCA
Em 2019, as 
trocas comerciais 
bilaterais de bens 
valeram 66 mil 
milhões de euros.
PÁGINA 23
“A Europa saberá 
lançar um 
programa de 
relançamento à 
altura da sua 
dimensão 
histórica.”
LUIS 
NAZARÉ
PÁGINA 24
“A preocupação 
com a pandemia 
deixou-nos 
cheios de ângulos 
mortos.”
FRANCISCO MENDES 
DA SILVA
PÁGINA 22
“Centeno teve de se 
contentar com o 
que sobrou: o 
entediante lugar de 
governador do 
Banco de Portugal.”
CAMILO 
LOURENÇO
PÁGINA 22
Yves Herman/Reuters
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020 
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3
DIA
V em aí o desconfinamento, ansiado por mui-tos, visto com reserva por outros tantos. O fim do estado de emergência, já o disseram Pre-sidente da República, primeiro-ministro e au-toridades de saúde, não significa um adeus à 
covid-19 ou um convite ao relaxamento. Aliás, este será mes-
mo um teste decisivo aos portugueses, que, livres das obri-
gações temporárias estipuladas por lei, vão ter de mostrar 
que no seu livre-arbítrio a consciência cívica tem um peso 
determinante. Ou seja, o comportamento de cada um e o 
respeito pelas normas sanitárias, aconselhadas à sacieda-
de, serão determinantes para conter a pandemia. 
Depois também se percebe a ansiedade das empresas e 
de pequenos comerciantes num regresso à normalidade 
possível, na medida em que disso depende a vida dos seus 
trabalhadores, de si próprios e das suas famílias. Neste con-
texto, o fim do estado de emergência não resolve, mas cons-
titui uma espécie de balão de oxigénio. 
É aqui que o Governo tem revelado algumas fragilida-
des ao nível da comunicação e também do processo decisó-
rio. Na verdade, será virtualmente impossível agradar a to-
dos em matéria de desconfinamento, mas o protelamento 
do anúncio relativamente ao que vai ser permitido e àqui-
lo que continuará interdito, a partir da próxima semana, 
gera inquietação e promove o descontentamento. 
Além disso, existem decisões já tomadas que vão ter efei-
tos negativos na vida de muitas empresas. Por exemplo, a 
não abertura das escolas, sobretudo do ensino básico, e a 
incógnita das creches e ATL farão com que muitos pais se-
jam forçados a ficar em casa por falta de alternativa, mes-
mo que a entidade empregadora tenha criado condições 
para o regresso e a sua presença seja vista como essencial. 
E o teletrabalho não é a solução para todos os casos. 
Mas este é tão-só um ponto particular de uma realidade 
abrangente. Por esta altura (mesmo admitindo reajusta-
mentos ao longo do processo), o Governo já devia ter comu-
nicado de forma assertiva como será a vida dos portugueses 
após 4 de maio. Todos temos consciência de que será dife-
rente, mas o conhecimento das medidas teria um duplo efei-
to positivo: permitiria atenuar os níveis de ansiedade e tor-
nar mais eficazes as medidas que as empresas estão a tomar 
para lidar com esta nova normalidade. A justa proporção 
está longe de ser isenta de erros, mas ainda assim é o indica-
dor mais adequado para justificar o futuro próximo.  
EDITORIAL
A justa 
proporção 
16%
CELSO FILIPE 
Diretor adjunto 
cfilipe@negocios.pt
Contratos dão força à Mota-Engil 
também em bolsa
Variação este ano: -39,57% 
Valor em bolsa: 
268 milhões de euros
Primeiro foi no dia 23 de abril anun-
ciado que a Mota-Engil fazia parte 
do consórcio vencedor da mega obra 
no México, designada de trem Maya. 
Numa parceria com a chinesa CCCC, 
a Mota garantiu o contrato de 636 
milhões. No dia 27 de abril, anunciou 
um contrato de 337 milhões de eu-
ros no âmbito do projeto de gás na-
tural liquefeito em Moçambique. Os 
investidores gostaram dos valores e 
a Mota-Engil escalou em bolsa.  
AÇÃO 
FOTOFRASE
NÚMERO
6,4% 
O negócio das melancias 
para combater o jejum
A melancia é um dos alimentos mais procurados 
pelos muçulmanos durante o Ramadão devido 
ao facto de conter bastante água e assim ter 
propriedades hidratantes que atenuam osefeitos negativos do jejum. É também por 
isso uma fonte de negócio como o mostra esta 
imagem de um comerciante empilhando 
melancias em Larnaka, no Paquistão.
Fotografia: Waqar Hussnain/EPA
Não 
entender 
isto [fim do 
estado de 
emergência] 
como 
qualquer 
facilitismo. 
Não há 
facilitismo.
O Produto Interno 
Bruto da Alemanha 
contraiu-se 16% 
durante o período 
de confinamento.
“
MARCELO REBELO DE SOUSA 
Presidente da República
Gonçalo Moura Martins, CEO 
da Mota-Engil, anunciou, 
recentemente, dois contratos.
PRIMEIRA LINHA COVID-19
A mudança de calen-dário está prevista na lei laboral: os empregadores ga-nham poder para 
marcar de forma unilateral férias 
que decorram a partir de 1 de 
maio, independentemente da sua 
dimensão ou setor. Os juristas 
confirmam este efeito, que a legis-
lação mais recente não afastou, os 
patrões admitem que algumas 
empresas possam ter interesse em 
recorrer a esta possibilidade e a 
CGTP avisa que férias forçadas 
podem gerar conflitualidade. 
Por norma, as férias devem ser 
marcadas por acordo mas o Códi-
go do Trabalho também prevê 
que, na ausência de acordo, uma 
vez ouvida a comissão de trabalha-
dores, intersindical ou sindical, 
seja o empregador a decidir as fé-
rias dentro das condições previs-
tas na lei. Se até 30 de abril a mar-
cação unilateral só era permitida 
a empresas de pequena dimensão 
(até 9 trabalhadores), do setor do 
turismo ou que estivessem abran-
gidas por normas específicas da 
convenção coletiva, dentro de dias 
essa possibilidade abre-se a todos 
os empregadores. 
“Em pequena, média ou gran-
de empresa, o empregador só pode 
marcar [unilateralmente] o perío-
do de férias entre 1 de Maio e 31 de 
Outubro, a menos que o instru-
mento de regulamentação colec-
tiva de trabalho ou o parecer dos 
representantes dos trabalhadores 
admita época diferente”, refere o 
Código do Trabalho. 
Para o advogado Filipe Lame-
las, os trabalhadores perdem a 
margem que tinham para recusar. 
“Pessoalmente acho que não é 
possível” fazê-lo, refere. “Por mui-
to que se perceba a razão das fé-
rias – que é proporcionar a recu-
peração física e psíquica do traba-
lhador - não há nenhuma altera-
ção legislativa que sustente que o 
empregador não pode marcar fé-
rias de forma unilateral neste pe-
ríodo”. As únicas hipóteses de re-
cusa, prossegue o investigador do 
Laboratório Colaborativo para o 
Trabalho, Emprego e Proteção 
Social (Colabor), surge em situa-
ções excecionais previstas na lei, 
como assistência à família, doen-
ça ou luto, ilustra. 
Se em circunstâncias normais 
esta mudança de calendário não 
desperta grande interesse, este 
ano, com a pandemia, tem susci-
tado mais. É sabido que a marca-
ção de férias tem sido a solução 
transitória promovida por algu-
mas empresas, mesmo no perío-
do em que era exigido acordo. No 
caso específico do apoio aos pais 
que não cobriu as férias da Páscoa 
o Governo incentivou esta solu-
ção. 
Numa altura em que a ativida-
de económica começa a reabrir, 
ainda que de forma gradual, o in-
teresse numa solução que não seja 
combinada com os trabalhadores 
vai “depender da empresa”, como 
explicou esta semana João Vieira 
Lopes, presidente da CCP, que 
justamente com a CIP tinham já 
pedido ao Governo que antecipas-
se esta possibilidade. “Muitas das 
empresas que vão retomar ativi-
dade nos primeiros quinze dias de 
maio vão ser pequenas, de proxi-
midade. A retoma não será de uma 
assentada. Haverá pessoas em te-
letrabalho, em lay-off, em férias. 
Cada caso e um caso”, refere. 
Durante o período de férias o 
trabalhador tem direito ao salário 
por inteiro e ainda ao subsídio de 
férias, caso se trate do maior pe-
ríodo de férias do ano. 
O prazo para marcação de fé-
rias terminava no dia 15 de abril, 
mas o governo resolveu estendê-
-lo até dez dias após o Estado de 
Emergência, o que atira o último 
dia do prazo para dia 12 de maio. 
Uma eventual alteração de férias 
já marcadas poderia obrigar o em-
pregador a indemnizar o trabalha-
dor pelos prejuízos causados mas, 
com este novo calendário para a 
marcação, é provável que a maio-
ria das empresas ainda não te-
nham a questão fechada. 
 
CGTP vai contestar 
Se as associações patronais defen-
dem que “todos devem fazer par-
te da solução”, como tem dito An-
tónio Saraiva, da CIP, os sindica-
tos sustentam que não estão reu-
nidas as condições para exercer o 
direito a férias. A lei prevê que seja 
exercido “de modo a proporcionar 
ao trabalhador a recuperação físi-
ca e psíquica, condições de dispo-
nibilidade pessoal, integração na 
vida familiar e participação social 
e cultural”, o que agora não é pos-
sível. 
Ao Negócios, a secretária-ge-
ral da CGTP disse esta semana que 
apesar de poderem marcar férias 
unilateralmente de 1 de maio a 31 
de outubro os empregadores “têm 
de fundamentar”, respeitando os 
fins a que se destina o principal pe-
ríodo de descanso do ano. A secre-
tária-geral da CGTP admite que 
no limite, em caso de recusa, o tra-
balhador possa acabar recorrer à 
Autoridade para as Condições do 
Trabalho (ACT) ou aos tribunais. 
“Vamos mobilizar os trabalhado-
res para recusarem”. 
Empresas ganham 
em maio poder 
para impor férias 
Não se trata de uma alteração à lei, mas do calendário que já existia: as 
empresas têm margem para decidir unilateralmente férias que comecem 
a partir de 1 de maio. Patrões manifestam algum interesse, CGTP contesta.
CATARINA ALMEIDA PEREIRA 
catarinapereira@negocios.pt 
Não há nenhuma 
alteração que sustente 
que o empregador não 
pode marcar férias 
de forma unilateral. 
FILIPE LAMELAS 
Advogado 
“ A retoma não será 
de uma assentada. 
Haverá pessoas 
em teletrabalho, 
em lay-off, em férias. 
JOÃO VIEIRA LOPES 
Presidente da CCP 
“ Vamos mobilizar 
os trabalhadores 
para recusarem. 
ISABEL CAMARINHA 
Secretária-geral da CGTP 
“
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
O Governo deu luz verde a 62% 
dos pedidos de lay-off simplifica-
do que deram entrada até ao final 
da primeira semana de abril. Ao 
contrário do previsto, nem todos 
os pagamentos relativos a este pri-
meiro conjunto de processos se-
rão pagos este mês, sendo adiados 
para 5 de maio. 
A decisão foi justificada com a 
complexidade do processo, que 
obrigou a Segurança Social a im-
plementar uma série de medidas 
em pouco mais do que um mês. “A 
dificuldade e exigência deste pro-
cesso tem sido muitíssimo gran-
de”, referiu a ministra do Traba-
lho, Ana Mendes Godinho. 
Esta é a terceira vez que a data 
de pagamento é adiada. Inicial-
mente, a ministra do Trabalho 
anunciou que a data seria fixa, a 
28 de cada mês. Na semana pas-
sada, o primeiro-ministro anun-
ciou que os pedidos apresentados 
até à primeira semana de abril se-
riam pagos a 24, 48 e 30 de abril, 
sem explicar o critério para a dis-
tribuição dos processos. Agora, a 
ministra explicou que o dia 30 é a 
data para o último “processamen-
to” dos pedidos que deram entra-
da até ao final da primeira sema-
na e que os pedidos nesse dia se-
rão pagos a 5 de maio. 
Segundo dados divulgados 
pelo Governo, dos 62 mil pedidos 
analisados, há 22 mil empresas, 
que abrangem com pedido já pro-
cessado que vão receber ainda em 
abril, ou seja, cerca de 35%, se se 
admitir que há um pedido por em-
presa. As restantes que pertençam 
a este primeiro grupo e que te-
nham visto o pedido aprovado vão 
receber até 5 de maio. 
O adiamento pode agravar a 
situação de falta de tesouraria das 
empresas e eventualmente, nal-
guns casos mais críticos, atrasar o 
pagamento de salários. 
Esta terça-feira o Novo Banco 
emitiu um comunicado no qual 
anunciou uma linha de crédito 
para “antecipação das verbas a re-
ceber do Instituto de Segurança 
Social pela adesão ao regime de 
Lay-off”. 
Mais de 15% foram indeferi-
dos por não cumprirem os requi-
sitos como ter a situação fiscal re-
gularizada, por falta de certifica-
ção do contabilista ou por não 
cumprirem as regras de datas de 
início. Cerca de 3% foram rejeita-
dos por estarem incorretamentepreenchidos ou por falta de IBAN, 
uma acusação que tem motivado 
queixas por parte da ordem dos 
contabilistas certificados. Os res-
tantes 20% estarão ainda em aná-
lise. Inicialmente, o Governo ti-
nha dito que o lay-off iria custar 
cerca de mil milhões de euros por 
mês, mas de acordo com os dados 
apresentados, os montantes rela-
tivos às transferências processa-
das relativas a esta e outras medi-
das - que abrangem 70 mil empre-
sas e 600 mil pessoas - ascendem 
a 216 milhões de euros. 
 
Governo admite mexer 
na lei para clarificar cálculo 
Questionado sobre o assunto, o 
Governo voltou a explicar que se 
um trabalhador entrou em lay-off 
a meio do mês, esse período de tra-
balho normal não vai contar para 
os limites da compensação retri-
butiva (dois terços dos salário, 635 
euros ou 1.905 euros) mas admi-
tiu que, face às dúvidas geradas 
por orientações contraditórias, 
pode ser necessária uma clarifica-
ção legislativa sobre esta matéria. 
Quanto às comissões de ven-
das, “são incertas e variáveis e le-
vantam maiores dificuldades em 
termos de consideração para efei-
tos do cálculo da compensação sa-
larial do lay-off”. 
Em média, segundo o Gover-
no, a Segurança Social vai pagar 
421,8 euros por trabalhador. Em 
caso de suspensão de contrato o 
Estado paga 70%, o que aponta-
ria para salários na ordem dos 600 
euros. No entanto, em caso de re-
dução de contrato, a percentagem 
paga pelo Estado é inferior. 
A grande esmagadora maioria 
(88%) dos pedidos analisados diz 
no entanto respeito a suspensões 
de contrato.  CAP
Segurança Social volta a adiar parte 
dos pagamentos a empresas em lay-off
ACT 
suspende 22 
despedimentos 
A Autoridade para as Condições 
do Trabalho (ACT) suspendeu 
até ao momento 22 despedi-
mentos, segundo dados divul-
gados pelo secretário de Esta-
do do Trabalho, Miguel Cabri-
ta. É um primeiro balanço do 
reforço dos poderes da ACT, 
que passou agora a poder sus-
pender despedimentos, embo-
ra, nas situações mais críticas, 
não tenha forma de garantir o 
pagamento imediato dos salá-
rios. O Governo reiterou que 
ainda está a fazer um levanta-
mento sobre as situações de 
pessoas que não estão cober-
tas por qualquer apoio, admi-
tindo que tal seja provável em 
situações de trabalho informal. 
O Governo voltou a manifestar 
a intenção de simplificar o 
acesso ao RSI e alargar o pro-
grama de apoio às pessoas ca-
renciadas, de 60 mil para mais 
de 100 mil. 
Fotografia: António Pedro Santos/Lusa
Parte dos pagamentos foi adiada para maio, levantando novas questões sobre a 
tesouraria das empresas e a data de pagamento de salários. Já há um banco que 
anunciou uma linha de crédito para antecipar as verbas da Segurança Social 
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020 
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 PRIMEIRA LINHA 
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5
A Autoridade para as Condições de Traba-lho (ACT) e a Dire-ção-Geral da Saúde 
(DGS) elaboraram um conjun-
to de recomendações para o re-
gresso aos postos físicos de tra-
balho, mas entre essas medidas 
não está a medição da tempera-
tura dos trabalhadores. 
Depois de mais de um mês 
com a economia em “stand-by” 
por causa da pandemia do novo 
coronavírus, o Governo vai anun-
ciar, esta quarta-feira, o levanta-
mento faseado de algumas res-
trições, o que vai permitir que al-
guns setores, mais dependentes 
da presença física dos seus traba-
lhadores, voltem ao trabalho. A 
questão é saber como. 
Segundo a ministra do Traba-
lho, Solidariedade e Segurança 
Social, o Governo, a ACT e a DGS, 
em conjunto com vários setores 
da economia, estão a desenvolver 
um “trabalho muito intenso” para 
garantir que existem condições de 
segurança que salvaguardem a 
saúde dos trabalhadores. Ana 
Mendes Godinho falava num we-
binar promovido a propósito do 
Dia Mundial da Segurança e Saú-
de no Trabalho, um tema que, ga-
nhou força com a pandemia da co-
vid-19 e passou a estar no topo das 
denúncias recebidas pela ACT. 
Com a perspetiva do regres-
so de diversas atividades econó-
micas, a ACT divulgou ontem 
um conjunto e 19 recomenda-
ções gerais, embora estejam ain-
da a ser desenhadas medidas se-
toriais. As recomendações foram 
alinhadas com a DGS e não in-
cluem, para já, a medição da fe-
bre dos trabalhadores pelos em-
pregadores, ao contrário do que 
têm defendido as empresas. 
Esta é uma hipótese que co-
meça a ganhar cada vez mais for-
ça junto das entidades patronais 
como forma de despiste e pre-
venção da covid-19, embora, 
atualmente, a lei apenas permi-
ta que isso aconteça no âmbito 
da medicina do trabalho. No en-
tanto, o Governo já anunciou que 
vai legislar para “clarificar” o que 
é possível, considerando que 
“não se afigura inviável” medir a 
febre nos postos de trabalho. 
 
Distanciamento e higiene 
As medidas recomendadas pela 
ACT vão no sentido do que tem 
sido defendido pelas autoridades 
de saúde desde o início do surto. As 
empresas devem reforçar a limpe-
za e a desinfeção dos espaços e pro-
mover o distanciamento físico en-
tre os trabalhadores, fornecedores 
e clientes. Os trabalhadores devem 
reforçar a etiqueta respiratória e a 
higiene, sobretudo das mãos. Ou-
tra recomendação é o reforço do 
diálogo social: “Para a ACT é mui-
to importante que seja reforçada a 
consulta dos trabalhadores [nes-
tes processos]”, afirmou a inspe-
tora-geral da ACT. 
Ainda assim, estas recomen-
dações “são dinâmicas porque se 
está a atravessar um período di-
nâmico” e o documento será su-
jeito a atualizações, acrescentou 
Luísa Guimarães. A inspetora-
-geral da ACT mostrou ainda a 
sua disponibilidade para “atra-
vés de várias vias” apoiar o esfor-
ço conjunto, mas durante a con-
ferência não foi abordada a ques-
tão da fiscalização destas medi-
das – até porque, para já, elas são 
apenas recomendações. 
Também a diretora-geral da 
Saúde insistiu no reforço de “um 
conjunto de regras genéricas que 
têm de ser as novas rotinas” dos 
portugueses, como o distancia-
mento físico e a etiqueta respira-
tória. “Muitas vezes temos de 
voltar ao básico. Sabemos como 
é que o vírus se transmite e esse 
é o primeiro passo para o comba-
ter”, afirmou Graça Freitas. 
Ainda assim, a responsável 
deixou um alerta: “Não vamos 
ter risco zero. Vamos continuar 
a ter doentes.”  
PRIMEIRA LINHA COVID-19
A propósito do dia mundial da Segurança e Saúde no trabalho, e com a eco-
nomia a reabrir aos poucos, a ACT, alinhada com a DGS, e a Organização In-
ternacional do Trabalho divulgaram ontem as suas recomendações para o 
regresso ao trabalho presencial, algumas em linha com o que já tinha de-
fendido a Comissão Europeia. O Negócios faz aqui um resumo das dez prin-
cipais medidas a ter em consideração pelas empresas. 
As dez principais 
recomendações 
para as empresas
TOME NOTA Medição de febre 
fica fora das 
recomendações 
às empresas 
Distância entre trabalhadores e clientes, mais higiene e 
limpeza estão entre as recomendações da ACT e da DGS para 
a reabertura das empresas. Medição da febre fica de fora. 
SUSANA PAULA 
susanapaula@negocios.pt
REFORÇO DA VENTILAÇÃO 
E DA LIMPEZA 
Os locais de trabalho interiores 
devem ser ventilados (preferen-
cialmente de forma natural e pelo 
menos duas vezes por dia, ao al-
moço e à noite) e devem ser lim-
pos com frequência, especial-
mente as mesas de trabalho, ma-
çanetas e outras superfícies onde 
as pessoas tocam frequentemen-
te.
DISTANCIAMENTO ENTRE 
TRABALHADORES 
A empresa deve garantir um dis-
tanciamento físico entre trabalha-
dores, fornecedores e clientes de 
pelo menos dois metros em espa-
ços fechados. Caso contrário, de-
vem ser criadas divisórias físicas. 
Outra opção é o espaçamento de 
duas mesas entre trabalhador. É 
recomendado o desfasamento de 
horários.
EVITAR HORA DE PONTA 
NAS DESLOCAÇÕES 
As empresas devem incentivar os 
trabalhadores a evitar as horas de 
ponta e a respeitar os circuitos 
adaptados, normas, medidas de 
segurança e de higiene recomen-
dadas em cada meio de transpor-
te. Se possível, os trabalhadores 
devem privilegiar os meios de 
transporte que salvaguardem a 
distância.REFORÇO DO 
DIÁLOGO SOCIAL 
Deve ser reforçada a consulta dos 
trabalhadores e, sempre que exis-
tam, devem ser envolvidas as 
suas estruturas representativas. 
Pode ser considerada a designa-
ção de um trabalhador como in-
terlocutor para a implementação, 
atualização e monitorização do 
Plano de Contingência, juntamen-
te com a empresa.
6 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
“O estado de emergência cessa-
rá a sua vigência, após esta segun-
da renovação, no dia 2 [de maio] 
à meia-noite”, confirmou Mar-
celo Rebelo de Sousa após mais 
uma reunião, no Infarmed, entre 
os representantes dos órgão de 
soberania, líderes partidários e 
especialistas em saúde pública. 
Apesar de confirmar que o 
regime de exceção não será no-
vamente prolongado tal como 
era esperado, o Presidente da 
República lembrou que esta de-
cisão não significa o “fim do sur-
to” nem da “necessidade de con-
trolo”, pelo que Marcelo não ad-
mite “facilitismo” no combate 
em curso contra a pandemia. 
O chefe de Estado começou 
por recordar que a “fase de con-
tenção foi essencial” e que o es-
tado de emergência por si decre-
tado teve um “papel jurídico, mas 
também político”, na gestão da 
crise sanitária, assegurando a 
unidade e coesão necessária para 
enfrentar o problema. 
Elogiando a “lucidez” revela-
da pelos portugueses, que aderi-
ram de forma “massiva e eficaz” 
ao confinamento, Marcelo Re-
belo de Sousa notou que nesta 
segunda fase de resposta ao sur-
to houve um “reforço da conten-
ção” que possibilitou maior “con-
trolo da situação, fazendo baixar 
os números”. Apesar do “planal-
to com uma evolução descen-
dente”, o Presidente defendeu 
não haver lugar a distrações ou a 
qualquer baixar da guarda. “O 
fim do estado de emergência não 
é o fim do surto”, declarou pedin-
do aos portugueses para conti-
nuarem o “esforço muito cívico 
que é de perceberem que depen-
de deles a evolução do surto”. 
 
Fase três continua a ser 
de “controlo da situação” 
Com o fim do estado de emer-
gência, é também dada por finda 
a segunda fase e iniciada uma 
nova e terceira fase de gestão da 
crise sanitária. Esta “continua a 
ser de controlo da situação”, ex-
plicou o Marcelo frisando não 
poder ser vista como um regres-
so à normalidade. 
O Presidente realçou que a 
reabertura tem de ser feita com 
base em “pequenos passos e as 
duas coisas são inseparáveis”. 
“Os portugueses têm de ter no-
ção que contenção continua a ser 
importante e, por isso, pequenos 
passos e avaliação constante 
também”, afirmou sublinhando 
que foi esta a “chave do êxito” da 
segunda fase. 
 
Limite de quatro mil 
nos cuidados intensivos 
No encontro com os edidemio-
logistas, Marcelo ouviu os espe-
cialistas chamarem a “atenção 
para esta terceira fase e como é 
importante ir acompanhando, a 
par e passo, aquilo que é feito, 
avaliando e quando necessário 
intervindo”. Desde o início da 
pandemia que a grande preocu-
pação é evitar o colapso das uni-
dades de cuidados intensivos 
(UCI), que chegou a suceder em 
países como Itália ou Espanha. 
E agora, os especialistas avan-
çam com um número concreto: 
quatro mil. Este é o número má-
ximo de doentes que as UCI su-
portam, pelo que terá de haver 
uma rigorosa monitorização do 
aumento do número de interna-
dos e ver como evoluem à medi-
da que é retomada a atividade 
económica. 
Acreditando que não será ne-
cessário ter de voltar a impor um 
período de estado de emergên-
cia, Marcelo garantiu que se tal 
for necessário “será ponderado”. 
“Depois haverá uma quarta fase, 
na aproximação do temo do sur-
to”, adiantou. 
Numa altura em que o Go-
verno estará a avaliar a possibi-
lidade de decretar estado de ca-
lamidade pública uma vez findo 
o atual período de excecionali-
dade, Marcelo recordou que, 
antes, o primeiro-ministro irá 
ainda ouvir vários setores e os 
partidos políticos antes de ru-
mar a Belém, sendo que só será 
conhecida uma decisão já de-
pois deste processo.  
DAVID SANTIAGO
Ouvidos os especialistas em saúde pública no Infarmed, 
o Presidente da República confirmou que o estado 
de emergência em vigor não será renovado. 
Marcelo levanta estado 
de emergência mas diz 
que surto vai continuar 
O Presidente confirmou ontem que o estado de emergência vai terminar. 
Mário -cruz/Lusa
REGRESSO FASEADO AO 
TRABALHO PRESENCIAL 
O teletrabalho continua a ser reco-
mendado para a maioria dos tra-
balhadores, sendo que só os traba-
lhadores considerados necessários 
ao trabalho presencial devem re-
gressar aos postos de trabalho fí-
sicos. Nesses casos, os empregado-
res devem adotar medidas que dis-
tanciem os trabalhadores.
DESINFETANTES EM 
LOCAIS CONVENIENTES 
O empregador deve disponibilizar 
dispensadores de sabonete líqui-
do e papel para limpeza das mãos 
e soluções alcoólicas em locais 
convenientes. Os trabalhadores 
devem lavar as mãos com fre-
quência e sempre que utilizarem 
equipamentos partilhados (como 
impressoras, por exemplo).
DISTÂNCIA NOS ESPAÇOS 
DE USO COMUM 
Os espaços comuns, como refei-
tórios, vestuários ou escadas, de-
vem ser adaptados para garantir 
a distância de segurança, nomea-
damente através de marcação no 
pavimento. Para minimizar agru-
pamentos nos refeitórios, deve 
ser permitida a refeição no posto 
de trabalho. Bruxelas defendeu 
idas ao WC à vez.
REDUÇÃO DE VIAGENS DE 
TRABALHO AO ESSENCIAL 
As viagens de trabalho não essen-
ciais são desaconselhadas. Nas 
viagens essenciais a lotação dos 
veículos deve ser reduzida e os 
ocupantes devem usar máscara. 
Os veículos devem estar equipa-
dos com produtos de higiene e de-
sinfeção das mãos, toalhetes de 
papel, sacos de lixo e instruções 
de utilização.
LOTAÇÃO MÁXIMA NO 
ATENDIMENTO PÚBLICO 
Nas empresas ou estabelecimen-
tos abertos ao público, é reco-
mendada a distância de pelo me-
nos dois metros entre pessoas. Se 
não for possível, recomenda-se a 
colocação de divisórias. A capaci-
dade máxima dos espaços deve 
ser reduzida para garantir a dis-
tância de segurança entre traba-
lhadores e clientes.
EQUIPAMENTOS DE 
PROTEÇÃO NECESSÁRIOS 
As entidades empregadoras de-
vem assegurar que os seus traba-
lhadores têm acesso aos equipa-
mentos de proteção individual 
adequados aos riscos profissionais 
e às funções que desempenham 
(como atendimento ao público), e 
que estão devidamente formados 
para a sua utilização. Esta é uma 
medida unânime. 
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020 
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 PRIMEIRA LINHA 
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O confinamento so-cial impôs um tra-vão a fundo no imobiliário e levou a quebras abruptas 
das vendas. Só em abril, a ativida-
de deste setor pode ter caído até 
40%, um comportamento que 
terá consequências imediatas 
para a banca. Para o segundo tri-
mestre, os bancos antecipam uma 
“forte redução” da procura de cré-
dito por parte das famílias, sobre-
tudo no segmento da habitação, 
que vale mais de 40% de todo o 
crédito concedido em Portugal. A 
tendência já começou a ser senti-
da no mês de abril. 
A travagem no setor imobiliá-
rio já era esperada, mas ainda não 
era conhecida a dimensão deste 
cenário, já que, no primeiro tri-
mestre deste ano, ainda houve 
crescimento. Em abril, contudo, o 
impacto já foi sentido. “Estando a 
viver um momento de confina-
mento social, os números apre-
sentados à data representam um 
significativo decréscimo da ativi-
dade. Estamos a projetar, para o 
final do mês, um decréscimo en-
tre 30% e 40% face a abril de 
2019”, adianta a Remax, maior 
grupo imobiliário em Portugal. 
Esta quebra inclui os segmen-
tos habitacional e comercial. Uma 
vez que o mês ainda não está fe-
chado, não existem dados apenas 
para a habitação, mas esta repre-
senta cerca de 85% do mercado 
imobiliário, detalha a Remax. 
Para a banca, o efeito já come-
ça a ser notório. No primeiro tri-
mestre do ano, a procura de crédi-
to por parte dos particulares “re-
duziu-se ligeiramente”, segundo 
os resultados do inquérito sobre o 
mercado de crédito, que foi publi-
cado, na terça-feira, pelo Banco de 
Portugal (BdP). 
Já para o segundo trimestre, 
os bancos esperam“uma forte re-
dução da procura de crédito, em 
especial no segmento da habita-
ção”. Fonte de um dos bancos sis-
témicos a operar em Portugal ad-
mite esperar uma quebra superior 
a 20% em abril, “decorrente da 
desaceleração do fluxo de entra-
da de novas propostas de crédito”. 
O mesmo é notado pelo Bankin-
ter, onde houve uma “redução dos 
pedidos de novo crédito por par-
te das famílias” a partir da segun-
da quinzena de março. 
A maioria dos bancos ainda 
não antevê o retorno da procura. 
Só o Bankinter, segundo disse fon-
te oficial ao Negócios, aponta para 
uma “recuperação gradual”, que 
irá depender do “nível de proteção 
de empregos”. No imobiliário, 
acredita-se numa recuperação 
este ano. “Acreditamos que a re-
toma não será imediata nos pri-
meiros meses, mas será uma rea-
lidade durante o ano de 2020. Os 
próximos três meses serão de 
adaptação a novas realidades, mas 
já com resultados, ainda que infe-
riores a 2019”, aponta a Remax. 
 
Procura das empresas sobe 
Enquanto a procura de crédito por 
parte das famílias vai sofrer uma 
PRIMEIRA LINHA COVID-19
quebra acentuada nos próximos 
meses, espera-se um aumento si-
gnificativo dos pedidos de finan-
ciamento por parte das empresas, 
que já começou a verificar-se, nos 
primeiros três meses do ano. 
“No primeiro trimestre de 
2020, a procura de crédito por 
parte das empresas aumentou li-
geiramente face ao trimestre an-
terior, designadamente nos em-
préstimos de longo prazo”, um 
movimento que ficou a dever-se 
às “necessidades de financiamen-
to de existências e de fundo de ma-
neio”, indica o inquérito do BdP. 
Já para o segundo trimestre, “os 
bancos antecipam um forte au-
mento da procura de crédito por 
parte das empresas, transversal ao 
tipo de empresa e à duração do 
empréstimo, com destaque para 
os empréstimos de curto prazo”. 
Para qualquer um dos seg-
mentos, empresas ou particulares, 
os critérios de concessão de crédi-
to vão ser apertados, antecipam 
ainda os bancos. “Os bancos ante-
cipam critérios ligeiramente mais 
restritivos no crédito a empresas, 
em particular nos empréstimos a 
grandes empresas e de longo pra-
zo. Relativamente a particulares, 
os critérios deverão tornar-se mais 
restritivos em ambos os tipos de 
crédito”, indica o relatório. 
A tendência não será exclusi-
va de Portugal, mas, no resto da 
Europa, as restrições no acesso ao 
crédito deverão sentir-se, sobre-
tudo, nas famílias. “Os bancos es-
peram que os critérios de conces-
são sejam consideravelmente ali-
viados para as empresas, provavel-
mente devido às medidas de apoio 
implementadas pelos governos”, 
indica o último inquérito ao mer-
cado de crédito do Banco Central 
Europeu. Pa ra os particulares, os 
critérios já se tornaram mais res-
tritivos no primeiro trimestre e 
essa tendência deverá acentuar-
-se, graças à deterioração das pers-
petivas da qualidade do crédito. 
Queda de 40% no 
imobiliário afunda 
procura de crédito
Nos próximos meses, antecipam os bancos, a procura de crédito à habitação por parte das 
famílias vai sofrer uma forte queda, enquanto os pedidos de financiamento das empresas 
vão disparar. Para todos, os critérios de concessão vão passar a ser mais restritivos.
RAFAELA BURD RELVAS 
rafaelarelvas@negocios.pt
O que os bancos 
esperam para a 
procura de crédito
INQUÉRITO AOS BANCOS
No último inquérito sobre o mercado de crédito, a ban-
ca antecipa uma quebra na procura do segmento de 
habitação e um aumento dos pedidos de empresas.
EMPRESAS
Os bancos antecipam um 
forte aumento da procura 
por parte das empresas, 
transversal ao tipo 
de empresa e à duração 
do empréstimo, 
com destaque para o 
crédito de curto prazo.
Em abril, as 
vendas no setor 
imobiliário 
terão caído entre 
30% e 40%, 
em relação ao 
ano passado, 
aponta a Remax.
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
Oitante adia venda 
de 400 milhões 
em imobiliário 
A Oitante preparava-se para se 
libertar de mais uma carteira de 
imóveis de vários milhões, con-
tinuando a cumprir a sua mis-
são de vender os ativos tóxicos 
que herdou do Banif e que o 
Santander Totta não quis. Mas 
estes planos ficaram agora sus-
pensos e sem data para serem 
retomados devido à pandemia e 
ao seu impacto nas condições do 
mercado. 
Em causa está o chamado 
“Projeto Lucille”, de perto de 
400 milhões de euros. A infor-
mação foi avançada pela agên-
cia Debtwire e confirmada pelo 
Negócios. Este portefólio, com-
posto sobretudo por ativos imo-
biliários, devia chegar agora ao 
mercado, mas a covid-19 veio al-
terar os planos. 
“Está suspensa a transação”, 
garante fonte oficial da Oitante 
ao Negócios, quando questiona-
da sobre esta operação que se 
iria juntar às outras já fechadas 
pela entidade liderada por Mi-
guel Artiaga Barbosa. 
No final do ano passado, a 
entidade acabou por concluir a 
venda da antiga sede do Banif na 
Avenida José Malhoa por 24 
milhões. A Oitante saiu também 
do mercado espanhol depois de 
vender a imobiliária Vegas Al-
tas e uma participação de 33% 
no banco de retalho Banca 
Pueyo. 
Estas operações têm vindo 
a ser realizadas depois de, no fi-
nal de 2017, a Oitante ter assi-
nado um contrato com a gesto-
ra espanhola de fundos Altami-
ra para gerir uma carteira de 
imóveis de cerca de mil milhões 
de euros. Isto além de um por-
tefólio de crédito malparado. 
Este contrato permitiu à empre-
sa acelerar as vendas dos ativos 
herdados do Banif e que o San-
tander Portugal não quis. 
Sem data para voltar 
ao mercado 
A pandemia por covid-19 e a in-
certeza em torno da sua dura-
ção e impacto na economia 
trouxe uma deterioração das 
condições, afastando do merca-
do todas as entidades que pre-
tendiam vender este ano mais 
carteiras de imóveis e crédito 
malparado. Também a Oitante 
não sabe quando voltará a ir ao 
mercado. 
“De momento não sabemos 
se haverá condições para a Oi-
tante voltar a abordar o merca-
do”, explica ainda fonte oficial 
da entidade liderada por Miguel 
Artiaga Barbosa, quando ques-
tionada sobre o momento em 
que espera vender este portefó-
lio avaliado em perto de 400 mi-
lhões de euros. 
Além da Oitante, também 
era esperado que o Novo Banco 
voltasse a vender mais carteiras 
de crédito malparado, isto de-
pois de ter alienado, no ano pas-
sado, o portefólio “Nata 2”, num 
valor de perto de três mil mi-
lhões de euros. Mas António Ra-
malho, presidente do banco que 
resultou da resolução do Banco 
Espírito Santo, já veio dizer ter 
“dúvidas de que haverá condi-
ções” para fazer novas vendas 
“quando o mercado reabrir”.  
RITA ATALAIA
O veículo que herdou os ativos do Banif 
queria libertar-se do chamado “Projeto 
Lucille”. Mas a pandemia adiou os planos.
400 
IMÓVEIS 
A Oitante estava 
preparada para vender 
mais 400 milhões 
de euros em 
ativos imobiliários.
Os próximos três meses serão de “adaptação”, mas já poderá haver alguma recuperação.
Alexandre Azevedo
CRITÉRIOS
Critérios ligeiramente 
mais restritivos no crédito 
a empresas, sobretudo 
grandes empresas e longo 
prazo. Para particulares, 
os critérios serão mais 
restritivos em ambos 
os tipos de crédito.
PARTICULARES
A procura reduziu-se 
ligeiramente no primeiro 
trimestre. Para o 
segundo trimestre do 
ano, antevê-se uma forte 
redução da procura de 
crédito, em especial no 
segmento da habitação.
 QUARTA-FEIRA 
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 PRIMEIRA LINHA 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
PRIMEIRA LINHA COVID-19
NEGÓCIOS com LUSA 
Portugal está a caminho do fim do estado de emergência e prepara-se para 4 de maio a reabertura cautelosa de alguns setores da 
economia. Precisamente no mesmo dia, os gregos vão também começar a ter uma redução gradual das medidas de confinamento. 
França tem uma estratégia semelhante para aplicar a partir de 11 de maio. Já na Rússia, a pandemia ainda não atingiu o pico. 
O número de vítimas mortais em Portugal devido ao novo 
coronavírus aumentou para 948, o que traduz uma su-
bida de 20 óbitos face a terça-feira quando estavam con-
tabilizados 928. O número deinfetados (casos confirma-
dos) aumentou 1,3% para 24.322, sendo que em termos 
absolutos a subida de casos foi de 295. Na segunda-fei-
ra tinham aumentado 0,68% para 24.027, registando o 
ritmo de crescimento mais baixo desde 19 de março. O 
crescimento diário do número de mortos, comparando 
os dois dias, baixou em termos absolutos (20 contra 25), 
sendo que a taxa de crescimento 
também desceu (2,2% contra 
2,8%). O número de novos óbitos 
foi o mais baixo desde 6 de abril. 
Verificou-se uma ligeira subida na 
taxa de crescimento do número 
de infetados (1,23% contra 
0,68%). Em termos absolutos 
também aumentou (295 contra 
163). Tendo em conta o número de 
infetados e de vítimas mortais, a 
taxa de letalidade é de 3,9% e 
existem 1.389 casos recuperados.
Portugal registou subida de 
1,3% de casos confirmados
O balanço diário das mortes de pessoas infetadas no Reino Unido foi on-
tem de 585, aumentando para 21.678 o número de óbitos durante a pan-
demia de covid-19, anunciou o ministro da Saúde britânico, Matt Han-
cock. Nos últimos dois dias tinha sido registada uma desaceleração no 
número de mortes provocadas pelo novo coronavírus, com aumentos de 
413 no domingo e 360 na segunda-feira, os mais baixos desde o final de 
março. Porém, o diretor-geral da Saúde de Inglaterra, Chris Witty, aler-
tou para o risco de uma “queda artificial” devido à demora no registo 
dos óbitos durante o fim de semana, antecipando um novo aumento no 
resto da semana. O número de casos de contágio é agora de 161.145, sen-
do que estão hospitalizados 17.796 pacientes. 
Mortes no Reino Unido 
voltam a aumentar 
20 
ÓBITOS 
No dia de ontem, foram 
comunicados mais 20 
óbitos, elevando para 
948 o total de vítima 
mortais. A taxa de 
letalidade é de 3,9%. 
O fim do confinamento em França deverá começar a 11 de maio, anunciou 
ontem o primeiro-ministro, Édouard Philippe, afirmando que “é preferí-
vel” usar máscara. O teletrabalho é para continuar e certas restrições de 
deslocações mantêm-se até 2 de junho. Philippe afirmou que manter o 
confinamento poderia levar a “efeitos prejudiciais” para o país, mas avi-
sou que a data para o seu fim, 11 de maio, só acontecerá se estiverem reu-
nidas as condições necessárias. Uma das maiores dúvidas para os france-
ses é a política adotada face ao uso de máscaras. Philippe indicou que a 
compra de máscaras para o grande público por parte das regiões vai ser 
comparticipada em 50% pelo Governo e que máscaras laváveis vão ser 
postas à venda através do site da La Poste, os correios franceses. 
Fim do confinamento em França 
vai começar a 11 de maio 
O Presidente Vladimir Putin consi-
derou ontem que a Rússia ainda não 
atingiu o pico da pandemia motiva-
da pelo novo coronavírus, mas admi-
tiu uma redução progressiva das me-
didas de confinamento a partir de 12 
de maio. “A situação permanece di-
fícil. Os especialistas e os cientistas 
com quem estamos em contacto per-
manente para verificar os nossos 
planos e medidas dizem que o pico 
ainda não foi atingido”, declarou. De 
acordo com os últimos dados ontem 
divulgados, a Rússia regista desde 
há semanas vários milhares de infe-
ções diárias, num total de 93.558 ca-
sos e 867 mortos, a maioria em Mos-
covo. Putin decidiu prolongar até dia 
11 de maio os dias feriados que se 
cumprem na Rússia durante esse pe-
ríodo de festividades, e encarregou 
o Governo de elaborar um plano de 
saída progressiva do confinamento 
a partir de 12 de maio. 
Rússia ainda não 
atingiu o pico
A PANDEMIA PELO MUNDO 
O primeiro-ministro da Grécia, 
Kyriakos Mitsotakis, anunciou 
ontem a redução gradual do con-
finamento no país devido à pan-
demia de covid-19 a partir de 4 de 
maio, a começar pelo pequeno co-
mércio e pelos salões de cabelei-
reiro e beleza. “Como contivemos 
a primeira vaga do vírus, estamos 
agora prontos para passar à se-
gunda fase, uma redução pro-
gressiva das medidas” de confi-
namento, declarou Mitsotakis 
num discurso televisivo. 
Grécia prepara 
regresso gradual
Itália registou ontem 382 mortes e 
confirmou 2.091 novos casos de 
contágio com o novo coronavírus, 
um ligeiro aumento em relação a 
segunda-feira, segundo dados da 
Proteção Civil. O número total de 
mortes em Itália atingiu as 27.359 
e desde o início da emergência 
68.941 pessoas já foram curadas. 
Os casos atualmente positivos de 
contagiados são 105.205, menos 
608 do que segunda-feira, de um 
total de 201.505 casos confirma-
dos até ao momento. 
Novos casos 
sobem em Itália 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
ECONOMIA
O Ministério da Justiça está a preparar, juntamente com notários e imobiliárias, um conjunto 
de procedimentos que facilitem a realização à distância, de compra e venda de imóveis. 
Uma das medidas passa por facilitar o acesso aos ónus que impendem sobre os imóveis. 
A compra e a venda de imóveis ou ou-tras escrituras pú-blicas, realizadas por lei nas conser-
vatórias ou cartórios notariais, vão 
passar a poder ser realizadas à dis-
tância, através de meios informá-
ticos. O mesmo acontecerá com a 
autenticação de assinaturas, 
adiantou esta terça-feira a minis-
tra da Justiça no Parlamento. 
Francisca Van Dunem falava 
aos deputados no âmbito de uma 
audição na comissão Parlamentar 
de Assuntos Constitucionais, Di-
reitos, Liberdades e Garantias e 
não adiantou ainda datas, mas os 
mecanismos informáticos têm 
vindo a ser preparados e, apurou 
o Negócios, há já um projeto de di-
ploma para regulamentar os futu-
ros procedimentos. A ideia é que 
as pessoas reduzam o mais possí-
vel as deslocações para fazer este 
tipo de serviços e, também, dar um 
empurrão ao mercado, nomeada-
mente o imobiliário, que na se-
quência da pandemia enfrenta um 
período de fortes quebras. 
Passado o período atual, e com 
o regresso à normalidade, a fun-
cionalidade manter-se-á, conti-
nuando os negócios a ser realiza-
dos por via informática. E uma das 
medidas passará pela possibilida-
de de notários e agências imobi-
liárias terem um acesso direto à 
chamada informação predial sim-
plificada dos imóveis, que inclui a 
descrição do prédio, identificação 
dos proprietários e dados sobre 
eventuais ónus, nomeadamente 
se o imóvel está hipotecado, se há 
uma penhora sobre ele. 
Esta informação é muito im-
portante, na medida em que “per-
mite antecipar eventuais proble-
mas que possam existir e só vir a 
ser descobertos quando se avan-
çar para a compra e venda do imó-
vel”, altura em que, por lei, é ne-
cessário que a documentação in-
clua uma informação certificada, 
passada pelo registo predial, e que 
tem um custo. 
“Já nos foi dito que vamos ter 
acesso a essa informação, estamos 
apenas à espera que isso se con-
cretize”, disse ao Negócios Jorge 
Batista da Silva, bastonário da Or-
dem dos Notários. Essa informa-
ção é importante, por exemplo, 
quando se está a preparar uma 
proposta de compra e venda e não 
há ainda uma certeza de que o ne-
gócio vai mesmo acontecer e, com 
este acesso, não será preciso ir ao 
registo predial pedir e pagar uma 
informação certificada do prédio 
que depois pode vir a revelar-se 
desnecessária. 
 
“Maior segurança jurídica” 
O mesmo acontece com a Asso-
ciação dos Profissionais e Empre-
sas de Mediação Imobiliária de 
Portugal (APEMIP), que aguar-
da também a assinatura do neces-
sário protocolo. “Quando fazemos 
um contrato de mediação, temos 
de verificar se aquela pessoa é 
mesmo o proprietário e se há ou 
não ónus sobre o imóvel. Ora, uma 
empresa imobiliária que tenha 
centenas de imóveis não podean-
dar a pagar as certidões”, explica 
Luís Carvalho Lima, presidente 
da APEMIP. Com o acesso a esta 
informação, através da Associa-
ção e com um custo associado 
muito baixo, ganham as empresas 
e ganha quem quer vender e quem 
procura comprar, uma vez que 
“assim o negócio é mais seguro 
para quem recorra aos mediado-
res”, acrescenta o responsável. Ou 
seja, “há sempre mais segurança 
jurídica logo a partir do momento 
da angariação” do negócio. 
O acesso não será gratuito, 
mas os valores serão muito infe-
riores ao custo de uma certidão 
passada pelo conservador, que as-
sim só terá de ser pedida se e quan-
do o negócio se concretizar. 
No âmbito das medidas de 
simplificação para reduzir as idas 
dos cidadãos aos serviços públi-
JUSTIÇA
Escrituras de imóveis 
vão ser feitas à distância 
A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, esteve esta terça-feira numa audição no Parlamento. 
Miguel A. Lopes/Lusa
FILOMENA LANÇA 
filomenalanca@negocios.pt 
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020 
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 ECONOMIA 
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Os advogados e solicitadores, 
que não descontam para a Segu-
rança Social, mas sim para a Cai-
xa de Previdência de Advogados 
e Solicitadores (CPAS), não ti-
veram acesso aos apoios criados 
para os profissionais indepen-
dentes no âmbito da pandemia. 
É um problema, “que gera difi-
culdades sobretudo ao nível dos 
advogados de prática indivi-
dual”, admitiu esta terça-feira a 
ministra da Justiça, Francisca 
Van Dunem, mas sem avançar 
com uma resposta, pelo menos 
no imediato. 
A ministra, que falava no 
Parlamento no âmbito de uma 
audição na Comissão de Assun-
tos Constitucionais, Direitos, Li-
berdades de Garantias, explicou 
que os apoios que estão a ser 
concedidos aos independentes 
são da Segurança Social e que 
“isso faz uma grande diferença”. 
Há uma diferenciação” face à ge-
neralidade dos profissionais li-
berais, na medida em que estes 
“estão a ter a vantagem de um 
desconto que fazem” para a Se-
gurança Social e que a generali-
dade dos advogados não fazem. 
“Temos de fazer uma refle-
xão sobre o sistema de proteção 
social, mas isso deve começar na 
própria classe”, afirmou a minis-
tra. “Não tenho dúvida nenhu-
ma que essa questão estrutural 
vai ter de ser analisada”. 
Questionada pelos deputados 
sobre soluções mais no imediato, 
que possam dar resposta à atual 
conjuntura, a ministra nada avan-
çou de concreto. “Tenho notícia 
de que foi suspenso o pagamento 
de contribuições e penso que já 
foi concretizada. Inicialmente ha-
via um adiamento, mas conside-
rou-se que não seria suficiente”, 
informou. Essa questão, reconhe-
ceu, “não resolve tudo”. 
A resposta não satisfez os de-
putados, sendo que o problema 
dos advogados foi colocado por 
todos os grupos parlamentares. 
“Há ou não disponibilidade do 
Governo para estudar um regi-
me extraordinário que passe 
pela suspensão de contribuições 
ou um beneficio de igual trata-
mento aos independentes”, 
questionou o bloquista José Ma-
nuel Pureza. “Não podemos ati-
rar para o pensamento a prazo 
um desafio que é agora imedia-
to”, sublinhou. 
Mas a ministra não tinha res-
postas para o imediato, embora 
tenha admitido que os advoga-
dos e solicitadores possam pas-
sar a descontar para a Seguran-
ça Social, uma medida que, dis-
se, “está a ser trabalhada com a 
Segurança Social”. 
Por agora, os advogados e so-
licitadores pagam uma contri-
buição obrigatória e fixa para a 
CPAS e, quem quer e pode, faz 
também descontos para a Segu-
rança Social. Francisca Van Du-
nem admitiu que que o deseje 
venha a poder optar entra a 
CPAS e a Segurança Social, e 
que , nomeadamente para os ad-
vogados mais jovens, que hoje 
em dia têm “um esforço contri-
butivo muito grande”, se possa 
“ponderar que o esforço contri-
butivo tenha alguma correlação 
com os rendimentos declara-
dos”. Em todo o caso, estas alte-
rações seriam sempre para o fu-
turo, e não uma resposta à situa-
ção atual. 
Mesmo para o futuro, “uma 
intervenção desta natureza deve 
ter uma articulação muito gran-
de com as ordens profissionais” 
e a questão da integração da 
CPAS no sistema de Segurança 
Social não é consensual na clas-
se, mas “sendo “uma opção de 
fundo”, exige um “mínimo de 
consenso”.  FL
A ministra da Justiça reconhece que há um 
problema com os advogados, que ficaram 
de fora dos apoios criados pelo Governo 
na resposta à pandemia. 
Governo quer rever 
proteção social 
para os advogados 
“
Já nos foi dito que 
vamos ter acesso à 
informação predial 
simplificada dos 
imóveis e estamos 
apenas à espera que 
isso se concretize. 
JORGE BATISTA DA SILVA 
Bastonário da Ordem dos 
Notários 
 
 
Com o acesso a esta 
informação, haverá 
sempre mais 
segurança jurídica 
logo a partir do 
momento da 
angariação do 
negócio. 
LUÍS CARVALHO LIMA 
Presidente da APEMIP 
“
cos, os notários vão poder dis-
ponibilizar online as certidões 
de documentos que tenham 
depositados nos seus arquivos. 
A plataforma informática está 
pronta e a Ordem aguarda 
apenas a necessária portaria 
regulamentar, do Ministério 
da Justiça, para poder avançar. 
Na prática, trata-se de um pro-
jeto no qual a Ordem tem vin-
do a trabalhar já há algum tem-
po e que deverá agora ser ace-
lerado por forma a reduzir as 
idas dos utentes a estes servi-
ços públicos.  
Numa altura em que se conhece melhor a 
verdadeira dimensão da recessão, Merkel 
pede firmeza nos compromissos ecológicos. 
Merkel defende 
retoma económica 
ecológica 
A chanceler alemã, Angela 
Merkel, pediu hoje à comuni-
dade internacional que crie 
programas de reconstrução 
após a crise provocada pela 
pandemia da covid-19 seguin-
do critérios ambientais e cli-
máticos, combinando ecologia 
e economia. 
O apelo foi feito no discur-
so proferido, por videoconfe-
rência, no segundo dia do Pe-
tersberg Dialogue, um con-
gresso internacional sobre a 
luta contra o aquecimento glo-
bal que é realizado anualmen-
te em Berlim e cuja edição des-
te ano é digital. Neste mesmo 
dia, o importante instituto ale-
mã Ifo anunciou que o PIB da 
maior economia da UE deve-
rá encolher 12,2% no segundo 
trimestre e 6,6% em termos 
anuais. 
A chanceler advertiu que 
as discussões sobre a distribui-
ção e o destino de apoios para 
reativar a economia após a cri-
se desencadeada pela pande-
mia da covid-19 começarão 
em breve, acrescentando que 
os planos devem levar em con-
sideração critérios ecológicos. 
Angela Merkel pediu para 
se juntar “economia e ecolo-
gia”, aproveitando a oportuni-
dade de responder em conjun-
to às duas crises e defendeu que 
não se deve pensar exclusiva-
mente em termos nacionais, 
mas também internacionais. 
“O essencial é o sucesso 
global da preservação do cli-
ma”, considerou a chanceler, 
alertando para a necessidade 
da “contribuição de toda a co-
munidade internacional”. “Os 
objetivos da Agenda 2030, in-
cluindo os ambientais, só po-
dem ser alcançados se traba-
lharmos de maneira consis-
tente a nível nacional e juntos 
a nível internacional”, afirmou. 
Merkel reiterou o compro-
misso da Alemanha com as 
metas climáticas para 2030 e 
2050 e aplaudiu o plano da 
Comissão Europeia de tornar 
o bloco neutro em termos de 
emissões poluentes daqui a 
meio século. 
Para a chanceler, é funda-
mental envolver o setor priva-
do e aproveitar os instrumen-
tos do mercado para contri-
buir para o cumprimento des-
ses objetivos e limitar o aque-
cimento global. 
O mercado de emissões é, 
na sua opinião, “o sistema 
mais eficiente” para limitar a 
libertação de gases poluentes 
que causam o aquecimento 
global.  LUSA
ALEMANHA 
Angela Merkel quer juntar economia com ecologia. 
Maja Hitij/EPA
14 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
EMPRESAS
E m plena pandemia da covid-19, o grupo José de Mello e o fundo britânico Ar-cus chegaram esta 
terça-feira a acordo com um con-
sórcio de investidores internacio-
nais, composto por três gestoras de 
ativos, para a venda conjunta de dois 
blocos acionistas que representam 
81,1% dos direitos de voto da Brisa. 
Em comunicado referemque a ope-
ração valoriza a empresa em mais 
de 3 mil milhões de euros, o que si-
gnifica que o valor do negócio ultra-
passa os 2,4 mil milhões de euros. 
Com esta venda, o fundo Ar-
cus sairá da estrutura acionista da 
Brisa, na qual entrou em 2011. Já 
o grupo José de Mello garante que 
“permanece como acionista de re-
ferência” da concessionária, “com 
uma posição representativa de 
17% dos direitos de voto e com 
participação ativa na gestão”. Vas-
co de Mello, que hoje tem funções 
executivas, continuará na Brisa 
mas como presidente do conselho 
de administração. O protagonis-
mo da gestão executiva passará, 
após a conclusão do negócio, para 
o novo investidor. 
Já os minoritários que não saí-
ram da Brisa na oferta pública de 
aquisição lançada em 2012 pelos 
dois maiores acionistas, e que re-
presentam cerca de 2%, vão man-
ter-se, pelo menos, para já. 
Os compradores são a holande-
sa APG, a sul-coreana NPS – Na-
tional Pension Service e a suíça 
SLAM, sendo que a aquisição será 
realizada através de um veículo in-
tegralmente detido, direta e indire-
tamente, pelo consórcio, controla-
do conjuntamente pelas duas pri-
meiras. Na corrida à compra da Bri-
sa estavam, nesta reta final, os es-
panhóis da Abertis e da Globalvia, 
a chinesa China State Construction 
Engineering Corporation e o con-
sórcio liderado pela francesa Ar-
dian. No início do processo de ven-
da, que foi anunciado em outubro 
de 2019, surgiram outros interes-
sados, como a japonesa Marubeni, 
mas pretendiam adquirir uma par-
ticipação de 40%. 
A conclusão do negócio anun-
ciado esta terça-feira está agora 
dependente de aprovação das en-
tidades reguladoras competentes, 
como seja a autoridade da con-
corrência europeia, o que o gru-
po José de Mello prevê que ocor-
ra no decurso do terceiro trimes-
tre deste ano. Como o que está a 
ser vendido é uma participação na 
casa-mãe, o Estado, enquanto 
concedente das autoestradas, não 
é chamado a pronunciar-se. 
 
Brisa vê mais oportunidades 
em Portugal e lá fora 
No comunicado enviado terça-fei-
ra, o grupo José de Mello salienta 
que “o acordo celebrado configura 
uma parceria estratégica de longo 
prazo” entre si e o consórcio inter-
nacional. O consórcio comprador 
considera a Brisa “uma das princi-
pais referências internacionais no 
setor das infraestruturas e preten-
de contribuir ativamente para o 
crescimento e desenvolvimento da 
empresa, quer nos atuais negócios, 
quer em novas áreas de negócio”, 
refere ainda na mesma nota. 
Citado no comunicado, Vasco 
de Mello, presidente do grupo 
José de Mello e da Brisa, afirma 
que “esta parceria, celebrada no 
INFRAESTRUTURAS
Brisa dá aos Mello e à 
Arcus 2,4 mil milhões
O grupo José de Mello e o fundo Arcus fecharam a venda de 81,1% da Brisa a um consórcio 
de investidores holandeses, sul-coreanos e suíços. O negócio deve ficar concluído no 
terceiro trimestre e Vasco de Mello passará a presidente do conselho de administração. 
As autoestradas da rede da Brisa têm uma extensão total de 1.575 quilómetros. 
MARIA JOÃO BABO 
mbabo@negocios.pt
O GRUPO MELLO E A BRISA
1972 2001 20112004
A FUNDAÇÃO 
A Brisa foi fundada em 1972 para assegurar a constru-
ção daquela que é hoje considerada a espinha dorsal do 
sistema rodoviário português, a autoestrada do Norte. 
Hoje o grupo detém várias concessões com um total de 
21 autoestradas, com 1.575 quilómetros. 
A PRIVATIZAÇÃO 
A quarta e última fase de privatização da Brisa aconte-
ceu em julho de 2001. Com a desblindagem dos estatu-
tos da empresa após a saída do Estado, o grupo José de 
Mello propôs a alguns acionistas a compra das suas po-
sições e passou a deter uma participação de 20%. 
O REFORÇO 
O grupo José de Mello adquiriu em novembro de 2004 
a posição que o Fundo de Pensões da Caixa Geral de De-
pósitos detinha na Brisa para reforçar a sua posição. 
Num investimento de cerca de 195 milhões de euros, 
passou a controlar 30,87% dos direitos de voto. 
FUNDO ARCUS 
O fundo Arcus entrou no capital da Brisa em 2011, as-
sumindo nesse ano uma participação de 19,09%. Após 
um braço de ferro inicial, o fundo conseguiu entrar no 
conselho de administração da concessionária com a in-
dicação de três elementos. 
atual contexto de grande adversi-
dade, é um sinal de confiança em 
Portugal e na economia portugue-
sa e representa uma oportunida-
de única para a Brisa reforçar e 
acelerar o seu posicionamento na 
área da mobilidade”. 
Já pelos compradores, Jan-
-Willem Ruisbroek, chefe da es-
tratégia global de investimento em 
infraestruturas na APG, também 
citado, refere que este investimen-
3 
BRISA 
O acordo de venda 
dos 81,1% da Brisa 
anunciado esta terça-
-feira valoriza a empresa 
em mais de 3 mil 
milhões de euros. 
C
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Y
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ai158644164225_AF-Rodape257x59mm.pdf 1 09/04/2020 15:14
Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4233, 
de 29 de abril de 2020, e não pode ser vendido separadamente.
Os seguros em tempo 
de emergência 
Gabriel Bernardino 
EIOPA contra coberturas retroativas 
José Galamba de Oliveira 
Setor tem sido proativo e flexível 
A resposta tecnológica à pandemia 
Covid-19 trouxe o cliente para o centro 
Mediadores na distribuição digital 
II 
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 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
Solvência II é um regime baseado nos riscos e está, segundo Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA, “particular-
mente bem adaptado para situa-
ções que estamos a viver porque 
permite avaliar prospetivamen-
te as necessidades de capital com 
base em diferentes cenários e 
quer do ponto de vista de super-
visão como de gestão das empre-
sas torna-se uma ferramenta in-
dispensável, por isso é bom ter a 
base do Solvência II para poder 
gerir esta situação de crise”. 
Segundo o Solvência II as se-
guradoras devem dispor de fun-
dos próprios para solver perdas 
significativas. “Os testes de stress 
que efetuámos nos últimos anos 
mostram que, em geral, o setor 
está suficientemente capitaliza-
do, capaz de suportar choques 
severos. 
O Solvência II dispõe de dois 
requisitos de capital, o de solvên-
cia mais elevado e baseado nos 
riscos, e o requisito mínimo de 
capital. O Solvência II inclui ele-
mentos de flexibilidade que, 
quer a EIOPA quer os regulado-
res nacionais, usaram no senti-
do de evitar alguns efeitos pró-
-cíclicos e a instabilidade do 
mercado”, garantiu Gabriel Ber-
nardino. 
 
Riscos de solvência 
Chamou à atenção que os segu-
radores que já tiverem “índices 
de solvência menos robustos ne-
cessitarão de planos de recupe-
ração e é um aspeto para o qual 
a EIOPA e os reguladores nacio-
nais se encontram a analisar”. 
Por outro lado, há necessidade 
de “preservar o capital num am-
biente de incerteza. A extensão 
e o impacto da covid-19 na eco-
nomia, nos ativos e nos passivos 
das empresas de seguros, estão 
ainda longe de poderem ser esti-
mados com precisão”. 
Para a estabilidade do setor 
não deve haver a imposição de 
coberturas retroativas. Em al-
guns países europeus e de outras 
geografias, há algumas iniciati-
vas e pressão políticas para que 
o setor responda perante sinis-
tros que não estavam incluídos 
nas apólices. 
Segundo Gabriel Bernardi-
no, “esta imposição de cobertu-
ra retroativa de sinistros não pre-
vistos é perigosa porque pode 
criar riscos materiais de solvên-
cia, pode ameaçar a proteção dos 
segurados e a estabilidade do 
mercado e pode agravar os im-
pactos económicos e financeiros 
da atual crise”. 
Gabriel Bernardino sublinhou a eficiência de Solvência II 
como fator de estabilidade nesta situação pandémica.
FILIPE S. FERNANDES 
EIOPA contra imposição 
de cobertura retroativa
Seguradoras têm de ser 
justas para os clientes 
A crise económica decorrente da 
covid-19 pode ser mais profunda 
do que a crise financeira de 2007-
-2014, admite Gabriel Bernardi-
no. As projeções do FMI admitem 
que a economia mundial, incluin-
do a União Europeia, tenha uma 
contração muito significativa. 
“Os seguros são uma das ativi-
dades financeirascom maior liga-
ção à economia, portanto, é per-
feitamente natural que os impac-
tos sejam muito significativos nos 
modelos de negócio, na solvência 
na área seguradora, e no valor dos 
investimentos dos diferentes ati-
vos”, referiu Gabriel Bernardino. 
Acrescentou que “estamos a ver já 
alguns dos seus efeitos, mas é mui-
to importante que se utilizem os 
mecanismos do Solvência II, 
como o framework, para perspe-
tivar esses impactos e para poder 
dar resposta”. 
O resseguro tem e vai conti-
nuar a ter um papel muito rele-
vante na gestão e flexibilização 
desta crise. Como diz Gabriel Ber-
nardino, “os resseguradores fun-
cionam sobretudo para estas si-
tuações extremas de risco, e natu-
ralmente o seu contributo duran-
te a crise vai ser muito significati-
vo para se ter níveis de impacto 
menores”. Acentuou que “até ago-
ra as resseguradoras têm estado a 
cumprir com o que estava deter-
minado nos contratos e nas apó-
lices e têm sido um fator de esta-
bilidade nas consequências do im-
pacto desta crise”. 
 
Riscos sistémicos 
No entanto, alertou que algumas 
das consequências desta pande-
mia são riscos sistémicos e “não é 
possível ao setor segurador, mes-
mo com o apoio dos ressegurado-
res internacionais, combater os 
riscos sistémicos”. Gabriel Ber-
nardino deu como exemplo de ris-
co sistémico a interrupção de ati-
vidades por parte das empresas. 
“É impossível diversificar e mu-
NEGÓCIOS INICIATIVAS OS SEGUROS EM PORTUGAL
Esta imposição de 
cobertura retroativa 
de sinistros não 
previstos é perigosa. 
GABRIEL BERNARDINO 
Presidente da EIOPA 
 
 
Com a covid-19, 
do lado da procura, 
a queda foi brutal. 
JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA 
Presidente da Associação 
Portuguesa de Seguradores 
“
“O setor e as empresas devem pôr o cliente no 
centro das suas preocupações e este é um momento 
de verdade para saber se é isto que fazem”, disse 
Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA. 
tualizar este risco. Há respostas 
que têm de ser dadas para além do 
que é o setor segurador e ressegu-
rador”. 
A EIOPA não está a pensar em 
moratórias, mas “a refletir, a ver o 
comportamento que o setor tem 
em termos europeus, como é que 
reage à modificação bastante si-
gnificativa das condições de risco 
em algumas áreas de negócio”. 
O facto de um número muito 
significativo de pessoas estar em 
confinamento em muitos países 
durante um tempo alargado faz 
com que o perfil de risco em segu-
ros obrigatórios como o automó-
vel mude completamente. A expe-
riência de sinistralidade deste 
ramo antes e durante este perío-
do de confinamento é completa-
mente diferente, há uma mudan-
ça significativa no perfil de risco, 
na opinião de Gabriel Bernardi-
no, que se deve repercutir nos con-
sumidores. 
As soluções têm variado de 
país para país. Tem sido por ajus-
tamento dos prémios, devolução 
de alguma parte em função da ex-
periência de sinistralidade. “É im-
portante que haja um equilíbrio, 
porque estamos a ver uma expe-
riência de sinistralidade num pe-
O confinamento 
faz com que 
o perfil de risco 
em seguros 
obrigatórios, 
como o 
automóvel, mude 
completamente. 
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020 
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 SUPLEMENTO 
| 
III
José Galamba de Oliveira, presidente da APS. 
Os impactos no setor segurador 
português são semelhantes aos 
dos países europeus, assinalou 
José Galamba de Oliveira, presi-
dente da Associação Portuguesa 
de Seguradores. Um mês depois 
da declaração do estado de emer-
gência, em jeito de balanço, refe-
re que os impactos estão muito 
minimizados. 
“Na área de gestão de sinis-
tros, há algumas situações que 
não correm com a celeridade 
com que se gostaria porque, por 
exemplo, o perito não consegue 
verificar um determinado sinis-
tro, porque há dificuldades de cir-
culação devido ao estado de 
emergência, as peças não chegam 
ou as oficinas também têm os 
seus constrangimentos”. 
Mas, em termos práticos, “é 
uma situação absolutamente ex-
cecional de paragem da econo-
mia com as pessoas confinadas 
em suas casas. Do lado da procu-
ra a quebra foi brutal, há também 
do lado da oferta muitos negócios 
que pararam”. 
 
Correlação com o PIB 
O ramo não vida tem uma corre-
lação direta com o PIB, com a ati-
vidade económica. Se esta pára, 
tem logo influência no negócio. 
O mais impactado nesta situação 
é o ramo dos acidentes de traba-
lho, que teve uma grande queda 
por causa do lay-off, que atingiu 
centenas de milhares de traba-
lhadores. 
“Quando olhamos para os nú-
meros, que já temos os agregados 
de março, o que se nota clara-
mente é que na última semana 
deste mês houve uma queda bru-
tal nos acidentes de trabalho. 
Nem falamos de novas subscri-
ções ou renovações de contratos, 
que praticamente não há”, afir-
mou José Galamba de Oliveira. 
Acrescenta que “as seguradoras 
estiveram muito disponíveis para 
se sentarem com as empresas e 
procurarem as melhores solu-
ções”. 
No ramo automóvel, as segu-
radoras já renegociaram os riscos 
no caso das frotas, porque a sinis-
tralidade desceu muito em abril. 
No entanto, José Galamba de 
Oliveira defende uma análise de 
um arco de tempo maior, porque 
em maio e junho, “que serão de 
recomeço, a sinistralidade tende-
rá a normalizar-se e a subir”. 
 
Setor proativo 
Revela que a experiência dos 
mercados asiáticos, que já saí-
ram do confinamento, mostra 
que no recomeço se assistiu a 
uma sinistralidade superior ao 
normal, porque houve mais car-
ros a circular, uma vez que as 
pessoas ainda tinham receio e 
desconfiança na utilização de 
transportes públicos. 
O impacto da covid-19 tam-
bém foi grande nos seguros mul-
tirriscos das empresas com que-
bras de receita e ajustamentos 
importantes, “porque as empre-
sas estão paradas e as segurado-
ras também têm tido a flexibili-
dade para encontrar soluções 
para a mitigação, mas há de fac-
to menos receita”, disse Galam-
ba de Oliveira. 
Em relação às moratórias dos 
seguros, explica que o setor tem 
sido proativo, as empresas, nas 
suas políticas comerciais, muito 
rapidamente decidiram flexibili-
zar o pagamento dos prémios dos 
tomadores de seguros e deram 
autonomia à rede de mediadores 
para negociar prazos de paga-
mento para as situações em que 
fosse necessário. 
“Não é uma política concer-
tada do setor com uma morató-
ria de x dias, tem havido uma po-
lítica mais flexível porque depen-
de dos ramos e das empresas”, es-
clareceu José Galamba de Olivei-
ra. “Tivemos contactos com a 
ASF que está a olhar para algu-
mas situações para fazer reco-
mendações, mas na prática as 
moratórias estão a acontecer na-
turalmente através do canal de 
distribuição e dos mediadores”, 
concluiu. 
As seguradoras 
estiveram muito 
disponíveis para se 
sentar com as 
empresas e procurar 
as melhores soluções. 
JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA
“
ríodo específico, temos de ver o 
que vai acontecer nos próximos 
meses”. As seguradoras têm de 
ter abertura e proatividade para 
tratar os seus clientes de forma 
justa. “O setor e as empresas de-
vem pôr o cliente no centro das 
suas preocupações e este é um 
momento de verdade para saber 
se é isto que fazem.” 
 
Dívida pública 
Os spreads da dívida pública 
dos países no Sul da Europa es-
tão a aumentar e isto reflete-se 
nos requisitos de capital das se-
guradoras que operam nestes 
países. Gabriel Bernardino es-
clareceu que as diferenças si-
gnificativas nos spreads da dí-
vida pública são repercutidas 
nos requisitos de capital, mas o 
Solvência II tem instrumentos 
que dão resposta a estas situa-
ções excecionais e mecanis-
mos, como a volatility adjuste-
ment, que corrige este excesso 
nos spreads e atenua os efeitos 
nos requisitos de capital”. 
Em relação à carteira de dí-
vida pública das seguradoras, em 
certos casos muito concentrada, 
Gabriel Bernardino disse que 
“tendo em conta as responsabi-
lidades e compromissos que os 
seguradores assumem é perfei-
tamente natural que a dívida pú-
blica seja um dos ativos mais uti-
lizados”. 
No entanto, sublinhou que 
o preocupa mais a concentra-
ção do quea exposição. “O que 
me preocupa mais do ponto de 
prudencial é quando existe 
concentração excessiva num 
único país, num único emiten-
te, num único tipo de títulos. É 
válido por qualquer tipo de ati-
vo. Em todas as análises que fa-
zemos das repercussões da 
atual crise, ao nível dos spreads 
por exemplo, são as empresas 
com maior diversificação em 
termos de exposição em dívida 
pública, ações e obrigações que 
têm menos impactos”. 
Setor tem sido 
proativo e flexível 
Nas suas políticas comerciais, as seguradoras muito rapidamente 
decidiram flexibilizar a sua relação com os clientes. 
O setor e as empresas 
devem pôr o cliente 
no centro das suas 
preocupações 
e este é um momento 
de verdade. 
GABRIEL BERNARDINO
“ As moratórias 
estão a acontecer 
naturalmente 
através do canal 
de distribuição 
e dos mediadores. 
JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA 
“
Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA. 
IV 
|
 QUARTA-FEIRA 
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 29 ABR 2020
P ara Sofia Amorim, key account manager da i2S, foram os investi-mentos em tecnologia 
feitos nos últimos anos pelo setor 
segurador na digitalização que 
“permitiram que estas empresas 
acelerassem a sua adaptação, 
quando emergiu este problema 
provocado pela covid-19”. 
Sem esta preparação transfor-
madora, não teria sido possível a 
proteção dos colaboradores, “per-
mitindo-lhes o teletrabalho, a agi-
lização e a digitalização dos siste-
mas, com VPN e ligações seguras, 
com boas velocidades de internet 
para manter a produtividade, não 
pondo em causa o serviço ao 
cliente”. 
Na sua análise esta flexibilida-
de foi comum às companhias de 
seguros, aos agentes, e outras 
áreas da economia, que assim con-
seguiram reinventar ou reajustar 
os seus negócios para manter a 
proximidade com o cliente, “que 
acaba por em muitas situações ser 
maior do que a que teríamos em 
outras situações”, sublinha Sofia 
Amorim. 
Todavia, alerta que se deve ga-
rantir que estes aspetos positivos, 
que se retiram deste “momento 
em que vivemos, se mantêm, que 
se prossigam estas boas práticas e 
estes bons ensinamentos e que es-
tão a ter bons resultados”. 
 
Roadmap tecnológico 
A gestora assinalou ainda a impor-
tância de a digitalização ser com-
plementada por outras tecnolo-
gias que também são fundamen-
tais nesta situação excecional. Es-
tas têm vindo a ser trabalhadas por 
vários intervenientes e que fazem 
parte do roadmap de evolução tec-
nológica da i2S. 
Sofia Amorim referia-se a tec-
nologias como a RPA (Robotic 
Process Automation), que permi-
te a gestão de grande volume de in-
formação para a qual as empresas 
não estariam preparadas para res-
ponder em tempo útil, devido ao 
afluxo anormal de informação. 
Deu como exemplo a banca com 
as questões de pedido de adia-
mento de pagamentos de emprés-
timo, “mas com estas tecnologias 
conseguem agilizar e ter proces-
sos mais automáticos que permi-
tem responder com a celeridade 
que é necessária nestes tempos”, 
referiu Sofia Amorim. 
A conclusão da key account 
manager da i2S foi a de que 
“manter um serviço próximo ao 
cliente, flexibilizando e procu-
rando entender as suas necessi-
dades e responder da melhor 
forma, mostra que, de forma glo-
bal, as empresas em Portugal já 
se vinham a preparar para esta 
evolução tecnológica, e assim 
conseguiram, num momento de 
crise, continuar com o serviço, 
com o cuidado e a preocupação 
do cliente no centro”.  
Investimentos na tecnologia 
permitiram resposta digital 
na pandemia 
“As empresas em Portugal já se vinham a preparar para esta evolução tecnológica, e assim 
conseguiram, num momento de crise, continuar com o serviço”, referiu Sofia Amorim. 
NEGÓCIOS INICIATIVAS OS SEGUROS EM PORTUGAL
Alexandre Ramos, membro 
da comissão executiva e 
WEM Technology Leader 
da Liberty Seguros, e Luiz 
Ferraz, mandatário geral 
da Prévoir-Vie. 
Novos seguros 
dependem das 
resseguradoras 
Os seguros vão ser 
feitos da mesma 
maneira. Temos de 
nos ir ajustando. 
ALEXANDRE RAMOS 
Membro da comissão executiva 
e Technology Leader 
da Liberty Seguros 
“
“A capacidade de mediação 
de estar a funcionar no terre-
no quase como nada tivesse 
acontecido, as seguradoras 
entraram de imediato em te-
letrabalho, a atividade não 
parou e contribui e concorre 
para que a economia não 
pare”, assinalou Luiz Ferraz, 
mandatário geral da Prévoir-
-Vie. 
“Nos seguros, as medidas 
de flexibilização em relação 
ao pagamento são uma ga-
rantia de que as seguradoras, 
como no caso da Prévoir, não 
anularam os seguros en-
quanto o estado de emergên-
cia não for levantado”, refe-
riu Luiz Ferraz. Sublinhou 
que só quando este momen-
to estiver ultrapassado se 
pode negociar com os clien-
tes, como se pode diluir no 
tempo ou no pagamento a 
manutenção dos seguros em 
vigor. Com ironia Luiz Fer-
raz refere que, “ao contrário 
do que se faz na Europa, nos 
seguros a mutualização não 
se discute, é para aplicar por-
que é um dos seus funda-
mentos”. 
 
Novos clientes 
e novas apólices 
“Vamos querer continuar 
novas pessoas, novos clientes 
e para isso temos de ter as 
nossas apólices desenhadas 
para estes novos tempos”, 
disse Luiz Ferraz. Para isso é 
“Vamos querer continuar novas pessoas, novos 
clientes e para isso temos de ter as nossas 
apólices desenhadas para estes novos 
tempos”, disse Luiz Ferraz. 
 QUARTA-FEIRA 
|
 29 ABR 2020 
|
 SUPLEMENTO 
| 
V
fundamental o papel dos res-
seguradores em diálogo com 
as seguradoras para os segu-
ros, como os de vida, porque 
“médica e cientificamente 
ninguém é capaz de dizer 
quando é que fica completa-
mente erradicada esta pan-
demia ou se vai ficar em es-
tado latente e os seguros têm 
de se adaptar e preparar para 
os novos tempos”. 
O mandatário geral da 
Prévoir-Vie enfatiza que 
“isto só se torna prático e efe-
tivo se o ressegurador estiver 
do nosso lado, caso contrário 
não é uma gestão prudente, 
e a prudência é um ponto 
fundamental na atividade de 
um segurador de vida”. 
Para Luiz Ferraz nada 
será como dantes: “Digitali-
zação, flexibilização, prova-
velmente deixar de fazer 
600 quilómetros para fazer 
uma reunião de uma hora 
quando se pode fazer onli-
ne. Existem novas oportu-
nidades num novo quadro, 
só os que tiverem dificulda-
des em se adaptarem à mu-
dança é que ficarão pelo ca-
minho.” 
Aponta a mudança como 
um sentido proativo para se 
estar mais próximo das pes-
soas, satisfazer as suas reais 
e concretas necessidades e 
isto só pode gerar novas 
oportunidades. “Estou com 
uma visão muito otimista, 
ainda que realista e com os 
pés assentes na terra, encaro 
de uma forma muito positi-
va o nosso trabalho futuro. A 
nossa rede e a equipa comer-
ciais nunca pararam, e eu 
nunca falei tanto com as pes-
soas, nem nunca vi tantas 
pessoas como agora”, con-
cluiu Luiz Ferraz.  
Existem novas 
oportunidades. 
Só os que tiverem 
dificuldade em 
se adaptarem 
à mudança 
é que ficarão 
pelo caminho. 
LUIZ FERRAZ 
Mandatário geral da Prévoir-Vie 
“
A covid-19 trouxe 
o cliente dos seguros 
para o centro 
 “Durante os últimos anos as se-
guradoras fizeram grandes in-
vestimentos tecnológicos e pro-
cessuais e na formação dos cola-
boradores, o que permitiu que a 
resposta à crise pandémica te-
nha sido tão rápida”, afirmou 
Alexandre Ramos, membro da 
equipa executiva e WEM Te-
chnology Leader da Liberty Se-
guros. Acredita que a maioria 
destas aprendizagens e destas 
práticas de ligação vai ficar. 
Na Liberty Seguros, como é 
uma empresa norte-americana 
e internacional, já havia a práti-
ca do teletrabalho, mas nesta cri-
se sanitária, “os desafios são 
muitos e a nossa prioridade foi a 
segurança dos empregados, não 
só por eles e pelas famílias, mas 
para garantir que se continuava 
a prestar o serviço. O que foi co-
mum ao setor segurador, empre-
sas de assistência, parceiros”, sa-
lienta Alexandre Ramos. 
Reconhece que os planos de 
contingência e de continuidade 
não estavam preparados para 
esta emergência, mas, observa, 
o reajuste foi rápido. Tem sido 
importante atividade

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