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Quarta-feira, 29 de abril de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4233 | € 2.50 Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe Publicidade Queda de 40% no imobiliário afunda procura por crédito Mello e Arcus vendem Brisa por 2,4 mil milhões EMPRESAS 14 a 17 PRIMEIRA LINHA 8 e 9 e ECONOMIA 12 Venda de casas em queda. Banca vai adotar critérios mais restritivos para a concessão de empréstimos. PRIMEIRA LINHA 4 e 5 MERCADOS 20 Países do Sul mais vulneráveis à crise, diz Schroders Código laboral Empresas ganham em maio poder para impor férias MEGANEGÓCIO EM TEMPO DE CRISE Orientações às empresas para o regresso ao trabalho Escrituras vão poder ser feitas à distância Oitante adia venda de 400 milhões em imóveis Medição de febre fora da lista de recomendações da ACT 10 PRIMEIRA LINHA 6 e 7 Na biblioteca dos CEO Ler sobre personagens que vivem a sua “eternidade” O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, escolheu Gabriel García Márquez. ÚLTIMA 28 HOMEPAGE 2 UE e México fecham acordo para parceria comercial O que vai a família fazer com o dinheiro Quem são os compradores e o que foi vendido Br un o Si m ão 2 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 HOME PAGE OPINIÃO HOME PAGE O s representantes da União Europeia e do México finaliza-ram esta terça-fei-ra, 28 de abril, as negociações com vista a uma nova parceria comercial. O comissário para o Comércio, Phil Hogan, e a ministra mexicana da Economia, Graciela Márquez Colín, concluí- ram hoje as conversações duran- te uma chamada telefónica após chegaram a acordo sobre o âmbi- to concreto da “transparência e previsibilidade” dos processos de contratação pública. Este era o passo em falta para que a UE e o México pudessem fi- nalizar um acordo comercial en- tre os dois blocos, pelo que há ago- ra luz verde para se prosseguir com o processo de assinatura e ra- tificação do acordo. “Este acordo vai ajudar tanto a UE como o Mé- xico a apoiaram as nossas respe- tivas economias e a impulsionar o emprego”, afirmou Phil Hogan. Em comunicado, a Comissão Europeia explica que este acordo fará com que “praticamente todos os bens comercializados entre a UE e o México ficaram isentos de tarifas aduaneiras”. Os procedi- mentos alfandegários serão ainda simplificados, o que deverá tradu- zir-se num reforço das exporta- ções de ambos os blocos. Por outro lado, o compromis- so alcançado entre as partes pre- vê ainda regras sobre desenvolvi- mento sustentável tais como a im- plementação dos objetivos previs- tos no Acordo de Paris sobre alte- rações climáticas. A Comissão realça que este é o primeiro acor- do entre a UE e um país da Amé- rica Latina que prevê normas re- lacionadas com a proteção do in- vestimento. Além da proteção ambiental, o acordo assume também preocu- pações no que concerne ao respei- to pelos direitos humanos, assim como o aumento da cooperação ao nível político e de apoio ao des- envolvimento. É ainda o primeiro acordo comercial assinado pela UE a contemplar disposições re- ferentes à luta contra a corrupção, designadamente estando previs- tas medidas concretas contra su- bornos e lavagem de dinheiro. O México é o primeiro parcei- ro comercial do bloco europeu na América Latina. As trocas comer- ciais bilaterais de bens valeram 66 mil milhões de euros em 2019 e as trocas de serviços ascenderam a 19 mil milhões de euros em 2018. Des- de que, em 2001, entrou em vigor o primeiro acordo comercial UE- -México, as trocas comerciais mais do que triplicaram. O acordo estabelece que praticamente todos os bens comercializados entre a União Europeia e o México vão passar a ficar isentos de tarifas aduaneiras e contempla disposições relativas à luta contra a corrupção. DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt O entendimento foi anunciado pelo Comissário para o Comércio, Phil Hogan. UE e México fecham acordo para nova parceria comercial“Muito do que vivemos e de como vivemos hoje, marcará a forma de como o mundo será amanhã.” MARIA DE FÁTIMA CARIOCA Em 2019, as trocas comerciais bilaterais de bens valeram 66 mil milhões de euros. PÁGINA 23 “A Europa saberá lançar um programa de relançamento à altura da sua dimensão histórica.” LUIS NAZARÉ PÁGINA 24 “A preocupação com a pandemia deixou-nos cheios de ângulos mortos.” FRANCISCO MENDES DA SILVA PÁGINA 22 “Centeno teve de se contentar com o que sobrou: o entediante lugar de governador do Banco de Portugal.” CAMILO LOURENÇO PÁGINA 22 Yves Herman/Reuters QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | HOME PAGE | 3 DIA V em aí o desconfinamento, ansiado por mui-tos, visto com reserva por outros tantos. O fim do estado de emergência, já o disseram Pre-sidente da República, primeiro-ministro e au-toridades de saúde, não significa um adeus à covid-19 ou um convite ao relaxamento. Aliás, este será mes- mo um teste decisivo aos portugueses, que, livres das obri- gações temporárias estipuladas por lei, vão ter de mostrar que no seu livre-arbítrio a consciência cívica tem um peso determinante. Ou seja, o comportamento de cada um e o respeito pelas normas sanitárias, aconselhadas à sacieda- de, serão determinantes para conter a pandemia. Depois também se percebe a ansiedade das empresas e de pequenos comerciantes num regresso à normalidade possível, na medida em que disso depende a vida dos seus trabalhadores, de si próprios e das suas famílias. Neste con- texto, o fim do estado de emergência não resolve, mas cons- titui uma espécie de balão de oxigénio. É aqui que o Governo tem revelado algumas fragilida- des ao nível da comunicação e também do processo decisó- rio. Na verdade, será virtualmente impossível agradar a to- dos em matéria de desconfinamento, mas o protelamento do anúncio relativamente ao que vai ser permitido e àqui- lo que continuará interdito, a partir da próxima semana, gera inquietação e promove o descontentamento. Além disso, existem decisões já tomadas que vão ter efei- tos negativos na vida de muitas empresas. Por exemplo, a não abertura das escolas, sobretudo do ensino básico, e a incógnita das creches e ATL farão com que muitos pais se- jam forçados a ficar em casa por falta de alternativa, mes- mo que a entidade empregadora tenha criado condições para o regresso e a sua presença seja vista como essencial. E o teletrabalho não é a solução para todos os casos. Mas este é tão-só um ponto particular de uma realidade abrangente. Por esta altura (mesmo admitindo reajusta- mentos ao longo do processo), o Governo já devia ter comu- nicado de forma assertiva como será a vida dos portugueses após 4 de maio. Todos temos consciência de que será dife- rente, mas o conhecimento das medidas teria um duplo efei- to positivo: permitiria atenuar os níveis de ansiedade e tor- nar mais eficazes as medidas que as empresas estão a tomar para lidar com esta nova normalidade. A justa proporção está longe de ser isenta de erros, mas ainda assim é o indica- dor mais adequado para justificar o futuro próximo. EDITORIAL A justa proporção 16% CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt Contratos dão força à Mota-Engil também em bolsa Variação este ano: -39,57% Valor em bolsa: 268 milhões de euros Primeiro foi no dia 23 de abril anun- ciado que a Mota-Engil fazia parte do consórcio vencedor da mega obra no México, designada de trem Maya. Numa parceria com a chinesa CCCC, a Mota garantiu o contrato de 636 milhões. No dia 27 de abril, anunciou um contrato de 337 milhões de eu- ros no âmbito do projeto de gás na- tural liquefeito em Moçambique. Os investidores gostaram dos valores e a Mota-Engil escalou em bolsa. AÇÃO FOTOFRASE NÚMERO 6,4% O negócio das melancias para combater o jejum A melancia é um dos alimentos mais procurados pelos muçulmanos durante o Ramadão devido ao facto de conter bastante água e assim ter propriedades hidratantes que atenuam osefeitos negativos do jejum. É também por isso uma fonte de negócio como o mostra esta imagem de um comerciante empilhando melancias em Larnaka, no Paquistão. Fotografia: Waqar Hussnain/EPA Não entender isto [fim do estado de emergência] como qualquer facilitismo. Não há facilitismo. O Produto Interno Bruto da Alemanha contraiu-se 16% durante o período de confinamento. “ MARCELO REBELO DE SOUSA Presidente da República Gonçalo Moura Martins, CEO da Mota-Engil, anunciou, recentemente, dois contratos. PRIMEIRA LINHA COVID-19 A mudança de calen-dário está prevista na lei laboral: os empregadores ga-nham poder para marcar de forma unilateral férias que decorram a partir de 1 de maio, independentemente da sua dimensão ou setor. Os juristas confirmam este efeito, que a legis- lação mais recente não afastou, os patrões admitem que algumas empresas possam ter interesse em recorrer a esta possibilidade e a CGTP avisa que férias forçadas podem gerar conflitualidade. Por norma, as férias devem ser marcadas por acordo mas o Códi- go do Trabalho também prevê que, na ausência de acordo, uma vez ouvida a comissão de trabalha- dores, intersindical ou sindical, seja o empregador a decidir as fé- rias dentro das condições previs- tas na lei. Se até 30 de abril a mar- cação unilateral só era permitida a empresas de pequena dimensão (até 9 trabalhadores), do setor do turismo ou que estivessem abran- gidas por normas específicas da convenção coletiva, dentro de dias essa possibilidade abre-se a todos os empregadores. “Em pequena, média ou gran- de empresa, o empregador só pode marcar [unilateralmente] o perío- do de férias entre 1 de Maio e 31 de Outubro, a menos que o instru- mento de regulamentação colec- tiva de trabalho ou o parecer dos representantes dos trabalhadores admita época diferente”, refere o Código do Trabalho. Para o advogado Filipe Lame- las, os trabalhadores perdem a margem que tinham para recusar. “Pessoalmente acho que não é possível” fazê-lo, refere. “Por mui- to que se perceba a razão das fé- rias – que é proporcionar a recu- peração física e psíquica do traba- lhador - não há nenhuma altera- ção legislativa que sustente que o empregador não pode marcar fé- rias de forma unilateral neste pe- ríodo”. As únicas hipóteses de re- cusa, prossegue o investigador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (Colabor), surge em situa- ções excecionais previstas na lei, como assistência à família, doen- ça ou luto, ilustra. Se em circunstâncias normais esta mudança de calendário não desperta grande interesse, este ano, com a pandemia, tem susci- tado mais. É sabido que a marca- ção de férias tem sido a solução transitória promovida por algu- mas empresas, mesmo no perío- do em que era exigido acordo. No caso específico do apoio aos pais que não cobriu as férias da Páscoa o Governo incentivou esta solu- ção. Numa altura em que a ativida- de económica começa a reabrir, ainda que de forma gradual, o in- teresse numa solução que não seja combinada com os trabalhadores vai “depender da empresa”, como explicou esta semana João Vieira Lopes, presidente da CCP, que justamente com a CIP tinham já pedido ao Governo que antecipas- se esta possibilidade. “Muitas das empresas que vão retomar ativi- dade nos primeiros quinze dias de maio vão ser pequenas, de proxi- midade. A retoma não será de uma assentada. Haverá pessoas em te- letrabalho, em lay-off, em férias. Cada caso e um caso”, refere. Durante o período de férias o trabalhador tem direito ao salário por inteiro e ainda ao subsídio de férias, caso se trate do maior pe- ríodo de férias do ano. O prazo para marcação de fé- rias terminava no dia 15 de abril, mas o governo resolveu estendê- -lo até dez dias após o Estado de Emergência, o que atira o último dia do prazo para dia 12 de maio. Uma eventual alteração de férias já marcadas poderia obrigar o em- pregador a indemnizar o trabalha- dor pelos prejuízos causados mas, com este novo calendário para a marcação, é provável que a maio- ria das empresas ainda não te- nham a questão fechada. CGTP vai contestar Se as associações patronais defen- dem que “todos devem fazer par- te da solução”, como tem dito An- tónio Saraiva, da CIP, os sindica- tos sustentam que não estão reu- nidas as condições para exercer o direito a férias. A lei prevê que seja exercido “de modo a proporcionar ao trabalhador a recuperação físi- ca e psíquica, condições de dispo- nibilidade pessoal, integração na vida familiar e participação social e cultural”, o que agora não é pos- sível. Ao Negócios, a secretária-ge- ral da CGTP disse esta semana que apesar de poderem marcar férias unilateralmente de 1 de maio a 31 de outubro os empregadores “têm de fundamentar”, respeitando os fins a que se destina o principal pe- ríodo de descanso do ano. A secre- tária-geral da CGTP admite que no limite, em caso de recusa, o tra- balhador possa acabar recorrer à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) ou aos tribunais. “Vamos mobilizar os trabalhado- res para recusarem”. Empresas ganham em maio poder para impor férias Não se trata de uma alteração à lei, mas do calendário que já existia: as empresas têm margem para decidir unilateralmente férias que comecem a partir de 1 de maio. Patrões manifestam algum interesse, CGTP contesta. CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt Não há nenhuma alteração que sustente que o empregador não pode marcar férias de forma unilateral. FILIPE LAMELAS Advogado “ A retoma não será de uma assentada. Haverá pessoas em teletrabalho, em lay-off, em férias. JOÃO VIEIRA LOPES Presidente da CCP “ Vamos mobilizar os trabalhadores para recusarem. ISABEL CAMARINHA Secretária-geral da CGTP “ 4 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 O Governo deu luz verde a 62% dos pedidos de lay-off simplifica- do que deram entrada até ao final da primeira semana de abril. Ao contrário do previsto, nem todos os pagamentos relativos a este pri- meiro conjunto de processos se- rão pagos este mês, sendo adiados para 5 de maio. A decisão foi justificada com a complexidade do processo, que obrigou a Segurança Social a im- plementar uma série de medidas em pouco mais do que um mês. “A dificuldade e exigência deste pro- cesso tem sido muitíssimo gran- de”, referiu a ministra do Traba- lho, Ana Mendes Godinho. Esta é a terceira vez que a data de pagamento é adiada. Inicial- mente, a ministra do Trabalho anunciou que a data seria fixa, a 28 de cada mês. Na semana pas- sada, o primeiro-ministro anun- ciou que os pedidos apresentados até à primeira semana de abril se- riam pagos a 24, 48 e 30 de abril, sem explicar o critério para a dis- tribuição dos processos. Agora, a ministra explicou que o dia 30 é a data para o último “processamen- to” dos pedidos que deram entra- da até ao final da primeira sema- na e que os pedidos nesse dia se- rão pagos a 5 de maio. Segundo dados divulgados pelo Governo, dos 62 mil pedidos analisados, há 22 mil empresas, que abrangem com pedido já pro- cessado que vão receber ainda em abril, ou seja, cerca de 35%, se se admitir que há um pedido por em- presa. As restantes que pertençam a este primeiro grupo e que te- nham visto o pedido aprovado vão receber até 5 de maio. O adiamento pode agravar a situação de falta de tesouraria das empresas e eventualmente, nal- guns casos mais críticos, atrasar o pagamento de salários. Esta terça-feira o Novo Banco emitiu um comunicado no qual anunciou uma linha de crédito para “antecipação das verbas a re- ceber do Instituto de Segurança Social pela adesão ao regime de Lay-off”. Mais de 15% foram indeferi- dos por não cumprirem os requi- sitos como ter a situação fiscal re- gularizada, por falta de certifica- ção do contabilista ou por não cumprirem as regras de datas de início. Cerca de 3% foram rejeita- dos por estarem incorretamentepreenchidos ou por falta de IBAN, uma acusação que tem motivado queixas por parte da ordem dos contabilistas certificados. Os res- tantes 20% estarão ainda em aná- lise. Inicialmente, o Governo ti- nha dito que o lay-off iria custar cerca de mil milhões de euros por mês, mas de acordo com os dados apresentados, os montantes rela- tivos às transferências processa- das relativas a esta e outras medi- das - que abrangem 70 mil empre- sas e 600 mil pessoas - ascendem a 216 milhões de euros. Governo admite mexer na lei para clarificar cálculo Questionado sobre o assunto, o Governo voltou a explicar que se um trabalhador entrou em lay-off a meio do mês, esse período de tra- balho normal não vai contar para os limites da compensação retri- butiva (dois terços dos salário, 635 euros ou 1.905 euros) mas admi- tiu que, face às dúvidas geradas por orientações contraditórias, pode ser necessária uma clarifica- ção legislativa sobre esta matéria. Quanto às comissões de ven- das, “são incertas e variáveis e le- vantam maiores dificuldades em termos de consideração para efei- tos do cálculo da compensação sa- larial do lay-off”. Em média, segundo o Gover- no, a Segurança Social vai pagar 421,8 euros por trabalhador. Em caso de suspensão de contrato o Estado paga 70%, o que aponta- ria para salários na ordem dos 600 euros. No entanto, em caso de re- dução de contrato, a percentagem paga pelo Estado é inferior. A grande esmagadora maioria (88%) dos pedidos analisados diz no entanto respeito a suspensões de contrato. CAP Segurança Social volta a adiar parte dos pagamentos a empresas em lay-off ACT suspende 22 despedimentos A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) suspendeu até ao momento 22 despedi- mentos, segundo dados divul- gados pelo secretário de Esta- do do Trabalho, Miguel Cabri- ta. É um primeiro balanço do reforço dos poderes da ACT, que passou agora a poder sus- pender despedimentos, embo- ra, nas situações mais críticas, não tenha forma de garantir o pagamento imediato dos salá- rios. O Governo reiterou que ainda está a fazer um levanta- mento sobre as situações de pessoas que não estão cober- tas por qualquer apoio, admi- tindo que tal seja provável em situações de trabalho informal. O Governo voltou a manifestar a intenção de simplificar o acesso ao RSI e alargar o pro- grama de apoio às pessoas ca- renciadas, de 60 mil para mais de 100 mil. Fotografia: António Pedro Santos/Lusa Parte dos pagamentos foi adiada para maio, levantando novas questões sobre a tesouraria das empresas e a data de pagamento de salários. Já há um banco que anunciou uma linha de crédito para antecipar as verbas da Segurança Social QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | PRIMEIRA LINHA | 5 A Autoridade para as Condições de Traba-lho (ACT) e a Dire-ção-Geral da Saúde (DGS) elaboraram um conjun- to de recomendações para o re- gresso aos postos físicos de tra- balho, mas entre essas medidas não está a medição da tempera- tura dos trabalhadores. Depois de mais de um mês com a economia em “stand-by” por causa da pandemia do novo coronavírus, o Governo vai anun- ciar, esta quarta-feira, o levanta- mento faseado de algumas res- trições, o que vai permitir que al- guns setores, mais dependentes da presença física dos seus traba- lhadores, voltem ao trabalho. A questão é saber como. Segundo a ministra do Traba- lho, Solidariedade e Segurança Social, o Governo, a ACT e a DGS, em conjunto com vários setores da economia, estão a desenvolver um “trabalho muito intenso” para garantir que existem condições de segurança que salvaguardem a saúde dos trabalhadores. Ana Mendes Godinho falava num we- binar promovido a propósito do Dia Mundial da Segurança e Saú- de no Trabalho, um tema que, ga- nhou força com a pandemia da co- vid-19 e passou a estar no topo das denúncias recebidas pela ACT. Com a perspetiva do regres- so de diversas atividades econó- micas, a ACT divulgou ontem um conjunto e 19 recomenda- ções gerais, embora estejam ain- da a ser desenhadas medidas se- toriais. As recomendações foram alinhadas com a DGS e não in- cluem, para já, a medição da fe- bre dos trabalhadores pelos em- pregadores, ao contrário do que têm defendido as empresas. Esta é uma hipótese que co- meça a ganhar cada vez mais for- ça junto das entidades patronais como forma de despiste e pre- venção da covid-19, embora, atualmente, a lei apenas permi- ta que isso aconteça no âmbito da medicina do trabalho. No en- tanto, o Governo já anunciou que vai legislar para “clarificar” o que é possível, considerando que “não se afigura inviável” medir a febre nos postos de trabalho. Distanciamento e higiene As medidas recomendadas pela ACT vão no sentido do que tem sido defendido pelas autoridades de saúde desde o início do surto. As empresas devem reforçar a limpe- za e a desinfeção dos espaços e pro- mover o distanciamento físico en- tre os trabalhadores, fornecedores e clientes. Os trabalhadores devem reforçar a etiqueta respiratória e a higiene, sobretudo das mãos. Ou- tra recomendação é o reforço do diálogo social: “Para a ACT é mui- to importante que seja reforçada a consulta dos trabalhadores [nes- tes processos]”, afirmou a inspe- tora-geral da ACT. Ainda assim, estas recomen- dações “são dinâmicas porque se está a atravessar um período di- nâmico” e o documento será su- jeito a atualizações, acrescentou Luísa Guimarães. A inspetora- -geral da ACT mostrou ainda a sua disponibilidade para “atra- vés de várias vias” apoiar o esfor- ço conjunto, mas durante a con- ferência não foi abordada a ques- tão da fiscalização destas medi- das – até porque, para já, elas são apenas recomendações. Também a diretora-geral da Saúde insistiu no reforço de “um conjunto de regras genéricas que têm de ser as novas rotinas” dos portugueses, como o distancia- mento físico e a etiqueta respira- tória. “Muitas vezes temos de voltar ao básico. Sabemos como é que o vírus se transmite e esse é o primeiro passo para o comba- ter”, afirmou Graça Freitas. Ainda assim, a responsável deixou um alerta: “Não vamos ter risco zero. Vamos continuar a ter doentes.” PRIMEIRA LINHA COVID-19 A propósito do dia mundial da Segurança e Saúde no trabalho, e com a eco- nomia a reabrir aos poucos, a ACT, alinhada com a DGS, e a Organização In- ternacional do Trabalho divulgaram ontem as suas recomendações para o regresso ao trabalho presencial, algumas em linha com o que já tinha de- fendido a Comissão Europeia. O Negócios faz aqui um resumo das dez prin- cipais medidas a ter em consideração pelas empresas. As dez principais recomendações para as empresas TOME NOTA Medição de febre fica fora das recomendações às empresas Distância entre trabalhadores e clientes, mais higiene e limpeza estão entre as recomendações da ACT e da DGS para a reabertura das empresas. Medição da febre fica de fora. SUSANA PAULA susanapaula@negocios.pt REFORÇO DA VENTILAÇÃO E DA LIMPEZA Os locais de trabalho interiores devem ser ventilados (preferen- cialmente de forma natural e pelo menos duas vezes por dia, ao al- moço e à noite) e devem ser lim- pos com frequência, especial- mente as mesas de trabalho, ma- çanetas e outras superfícies onde as pessoas tocam frequentemen- te. DISTANCIAMENTO ENTRE TRABALHADORES A empresa deve garantir um dis- tanciamento físico entre trabalha- dores, fornecedores e clientes de pelo menos dois metros em espa- ços fechados. Caso contrário, de- vem ser criadas divisórias físicas. Outra opção é o espaçamento de duas mesas entre trabalhador. É recomendado o desfasamento de horários. EVITAR HORA DE PONTA NAS DESLOCAÇÕES As empresas devem incentivar os trabalhadores a evitar as horas de ponta e a respeitar os circuitos adaptados, normas, medidas de segurança e de higiene recomen- dadas em cada meio de transpor- te. Se possível, os trabalhadores devem privilegiar os meios de transporte que salvaguardem a distância.REFORÇO DO DIÁLOGO SOCIAL Deve ser reforçada a consulta dos trabalhadores e, sempre que exis- tam, devem ser envolvidas as suas estruturas representativas. Pode ser considerada a designa- ção de um trabalhador como in- terlocutor para a implementação, atualização e monitorização do Plano de Contingência, juntamen- te com a empresa. 6 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 “O estado de emergência cessa- rá a sua vigência, após esta segun- da renovação, no dia 2 [de maio] à meia-noite”, confirmou Mar- celo Rebelo de Sousa após mais uma reunião, no Infarmed, entre os representantes dos órgão de soberania, líderes partidários e especialistas em saúde pública. Apesar de confirmar que o regime de exceção não será no- vamente prolongado tal como era esperado, o Presidente da República lembrou que esta de- cisão não significa o “fim do sur- to” nem da “necessidade de con- trolo”, pelo que Marcelo não ad- mite “facilitismo” no combate em curso contra a pandemia. O chefe de Estado começou por recordar que a “fase de con- tenção foi essencial” e que o es- tado de emergência por si decre- tado teve um “papel jurídico, mas também político”, na gestão da crise sanitária, assegurando a unidade e coesão necessária para enfrentar o problema. Elogiando a “lucidez” revela- da pelos portugueses, que aderi- ram de forma “massiva e eficaz” ao confinamento, Marcelo Re- belo de Sousa notou que nesta segunda fase de resposta ao sur- to houve um “reforço da conten- ção” que possibilitou maior “con- trolo da situação, fazendo baixar os números”. Apesar do “planal- to com uma evolução descen- dente”, o Presidente defendeu não haver lugar a distrações ou a qualquer baixar da guarda. “O fim do estado de emergência não é o fim do surto”, declarou pedin- do aos portugueses para conti- nuarem o “esforço muito cívico que é de perceberem que depen- de deles a evolução do surto”. Fase três continua a ser de “controlo da situação” Com o fim do estado de emer- gência, é também dada por finda a segunda fase e iniciada uma nova e terceira fase de gestão da crise sanitária. Esta “continua a ser de controlo da situação”, ex- plicou o Marcelo frisando não poder ser vista como um regres- so à normalidade. O Presidente realçou que a reabertura tem de ser feita com base em “pequenos passos e as duas coisas são inseparáveis”. “Os portugueses têm de ter no- ção que contenção continua a ser importante e, por isso, pequenos passos e avaliação constante também”, afirmou sublinhando que foi esta a “chave do êxito” da segunda fase. Limite de quatro mil nos cuidados intensivos No encontro com os edidemio- logistas, Marcelo ouviu os espe- cialistas chamarem a “atenção para esta terceira fase e como é importante ir acompanhando, a par e passo, aquilo que é feito, avaliando e quando necessário intervindo”. Desde o início da pandemia que a grande preocu- pação é evitar o colapso das uni- dades de cuidados intensivos (UCI), que chegou a suceder em países como Itália ou Espanha. E agora, os especialistas avan- çam com um número concreto: quatro mil. Este é o número má- ximo de doentes que as UCI su- portam, pelo que terá de haver uma rigorosa monitorização do aumento do número de interna- dos e ver como evoluem à medi- da que é retomada a atividade económica. Acreditando que não será ne- cessário ter de voltar a impor um período de estado de emergên- cia, Marcelo garantiu que se tal for necessário “será ponderado”. “Depois haverá uma quarta fase, na aproximação do temo do sur- to”, adiantou. Numa altura em que o Go- verno estará a avaliar a possibi- lidade de decretar estado de ca- lamidade pública uma vez findo o atual período de excecionali- dade, Marcelo recordou que, antes, o primeiro-ministro irá ainda ouvir vários setores e os partidos políticos antes de ru- mar a Belém, sendo que só será conhecida uma decisão já de- pois deste processo. DAVID SANTIAGO Ouvidos os especialistas em saúde pública no Infarmed, o Presidente da República confirmou que o estado de emergência em vigor não será renovado. Marcelo levanta estado de emergência mas diz que surto vai continuar O Presidente confirmou ontem que o estado de emergência vai terminar. Mário -cruz/Lusa REGRESSO FASEADO AO TRABALHO PRESENCIAL O teletrabalho continua a ser reco- mendado para a maioria dos tra- balhadores, sendo que só os traba- lhadores considerados necessários ao trabalho presencial devem re- gressar aos postos de trabalho fí- sicos. Nesses casos, os empregado- res devem adotar medidas que dis- tanciem os trabalhadores. DESINFETANTES EM LOCAIS CONVENIENTES O empregador deve disponibilizar dispensadores de sabonete líqui- do e papel para limpeza das mãos e soluções alcoólicas em locais convenientes. Os trabalhadores devem lavar as mãos com fre- quência e sempre que utilizarem equipamentos partilhados (como impressoras, por exemplo). DISTÂNCIA NOS ESPAÇOS DE USO COMUM Os espaços comuns, como refei- tórios, vestuários ou escadas, de- vem ser adaptados para garantir a distância de segurança, nomea- damente através de marcação no pavimento. Para minimizar agru- pamentos nos refeitórios, deve ser permitida a refeição no posto de trabalho. Bruxelas defendeu idas ao WC à vez. REDUÇÃO DE VIAGENS DE TRABALHO AO ESSENCIAL As viagens de trabalho não essen- ciais são desaconselhadas. Nas viagens essenciais a lotação dos veículos deve ser reduzida e os ocupantes devem usar máscara. Os veículos devem estar equipa- dos com produtos de higiene e de- sinfeção das mãos, toalhetes de papel, sacos de lixo e instruções de utilização. LOTAÇÃO MÁXIMA NO ATENDIMENTO PÚBLICO Nas empresas ou estabelecimen- tos abertos ao público, é reco- mendada a distância de pelo me- nos dois metros entre pessoas. Se não for possível, recomenda-se a colocação de divisórias. A capaci- dade máxima dos espaços deve ser reduzida para garantir a dis- tância de segurança entre traba- lhadores e clientes. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO NECESSÁRIOS As entidades empregadoras de- vem assegurar que os seus traba- lhadores têm acesso aos equipa- mentos de proteção individual adequados aos riscos profissionais e às funções que desempenham (como atendimento ao público), e que estão devidamente formados para a sua utilização. Esta é uma medida unânime. QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | PRIMEIRA LINHA | 7 O confinamento so-cial impôs um tra-vão a fundo no imobiliário e levou a quebras abruptas das vendas. Só em abril, a ativida- de deste setor pode ter caído até 40%, um comportamento que terá consequências imediatas para a banca. Para o segundo tri- mestre, os bancos antecipam uma “forte redução” da procura de cré- dito por parte das famílias, sobre- tudo no segmento da habitação, que vale mais de 40% de todo o crédito concedido em Portugal. A tendência já começou a ser senti- da no mês de abril. A travagem no setor imobiliá- rio já era esperada, mas ainda não era conhecida a dimensão deste cenário, já que, no primeiro tri- mestre deste ano, ainda houve crescimento. Em abril, contudo, o impacto já foi sentido. “Estando a viver um momento de confina- mento social, os números apre- sentados à data representam um significativo decréscimo da ativi- dade. Estamos a projetar, para o final do mês, um decréscimo en- tre 30% e 40% face a abril de 2019”, adianta a Remax, maior grupo imobiliário em Portugal. Esta quebra inclui os segmen- tos habitacional e comercial. Uma vez que o mês ainda não está fe- chado, não existem dados apenas para a habitação, mas esta repre- senta cerca de 85% do mercado imobiliário, detalha a Remax. Para a banca, o efeito já come- ça a ser notório. No primeiro tri- mestre do ano, a procura de crédi- to por parte dos particulares “re- duziu-se ligeiramente”, segundo os resultados do inquérito sobre o mercado de crédito, que foi publi- cado, na terça-feira, pelo Banco de Portugal (BdP). Já para o segundo trimestre, os bancos esperam“uma forte re- dução da procura de crédito, em especial no segmento da habita- ção”. Fonte de um dos bancos sis- témicos a operar em Portugal ad- mite esperar uma quebra superior a 20% em abril, “decorrente da desaceleração do fluxo de entra- da de novas propostas de crédito”. O mesmo é notado pelo Bankin- ter, onde houve uma “redução dos pedidos de novo crédito por par- te das famílias” a partir da segun- da quinzena de março. A maioria dos bancos ainda não antevê o retorno da procura. Só o Bankinter, segundo disse fon- te oficial ao Negócios, aponta para uma “recuperação gradual”, que irá depender do “nível de proteção de empregos”. No imobiliário, acredita-se numa recuperação este ano. “Acreditamos que a re- toma não será imediata nos pri- meiros meses, mas será uma rea- lidade durante o ano de 2020. Os próximos três meses serão de adaptação a novas realidades, mas já com resultados, ainda que infe- riores a 2019”, aponta a Remax. Procura das empresas sobe Enquanto a procura de crédito por parte das famílias vai sofrer uma PRIMEIRA LINHA COVID-19 quebra acentuada nos próximos meses, espera-se um aumento si- gnificativo dos pedidos de finan- ciamento por parte das empresas, que já começou a verificar-se, nos primeiros três meses do ano. “No primeiro trimestre de 2020, a procura de crédito por parte das empresas aumentou li- geiramente face ao trimestre an- terior, designadamente nos em- préstimos de longo prazo”, um movimento que ficou a dever-se às “necessidades de financiamen- to de existências e de fundo de ma- neio”, indica o inquérito do BdP. Já para o segundo trimestre, “os bancos antecipam um forte au- mento da procura de crédito por parte das empresas, transversal ao tipo de empresa e à duração do empréstimo, com destaque para os empréstimos de curto prazo”. Para qualquer um dos seg- mentos, empresas ou particulares, os critérios de concessão de crédi- to vão ser apertados, antecipam ainda os bancos. “Os bancos ante- cipam critérios ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas, em particular nos empréstimos a grandes empresas e de longo pra- zo. Relativamente a particulares, os critérios deverão tornar-se mais restritivos em ambos os tipos de crédito”, indica o relatório. A tendência não será exclusi- va de Portugal, mas, no resto da Europa, as restrições no acesso ao crédito deverão sentir-se, sobre- tudo, nas famílias. “Os bancos es- peram que os critérios de conces- são sejam consideravelmente ali- viados para as empresas, provavel- mente devido às medidas de apoio implementadas pelos governos”, indica o último inquérito ao mer- cado de crédito do Banco Central Europeu. Pa ra os particulares, os critérios já se tornaram mais res- tritivos no primeiro trimestre e essa tendência deverá acentuar- -se, graças à deterioração das pers- petivas da qualidade do crédito. Queda de 40% no imobiliário afunda procura de crédito Nos próximos meses, antecipam os bancos, a procura de crédito à habitação por parte das famílias vai sofrer uma forte queda, enquanto os pedidos de financiamento das empresas vão disparar. Para todos, os critérios de concessão vão passar a ser mais restritivos. RAFAELA BURD RELVAS rafaelarelvas@negocios.pt O que os bancos esperam para a procura de crédito INQUÉRITO AOS BANCOS No último inquérito sobre o mercado de crédito, a ban- ca antecipa uma quebra na procura do segmento de habitação e um aumento dos pedidos de empresas. EMPRESAS Os bancos antecipam um forte aumento da procura por parte das empresas, transversal ao tipo de empresa e à duração do empréstimo, com destaque para o crédito de curto prazo. Em abril, as vendas no setor imobiliário terão caído entre 30% e 40%, em relação ao ano passado, aponta a Remax. 8 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 Oitante adia venda de 400 milhões em imobiliário A Oitante preparava-se para se libertar de mais uma carteira de imóveis de vários milhões, con- tinuando a cumprir a sua mis- são de vender os ativos tóxicos que herdou do Banif e que o Santander Totta não quis. Mas estes planos ficaram agora sus- pensos e sem data para serem retomados devido à pandemia e ao seu impacto nas condições do mercado. Em causa está o chamado “Projeto Lucille”, de perto de 400 milhões de euros. A infor- mação foi avançada pela agên- cia Debtwire e confirmada pelo Negócios. Este portefólio, com- posto sobretudo por ativos imo- biliários, devia chegar agora ao mercado, mas a covid-19 veio al- terar os planos. “Está suspensa a transação”, garante fonte oficial da Oitante ao Negócios, quando questiona- da sobre esta operação que se iria juntar às outras já fechadas pela entidade liderada por Mi- guel Artiaga Barbosa. No final do ano passado, a entidade acabou por concluir a venda da antiga sede do Banif na Avenida José Malhoa por 24 milhões. A Oitante saiu também do mercado espanhol depois de vender a imobiliária Vegas Al- tas e uma participação de 33% no banco de retalho Banca Pueyo. Estas operações têm vindo a ser realizadas depois de, no fi- nal de 2017, a Oitante ter assi- nado um contrato com a gesto- ra espanhola de fundos Altami- ra para gerir uma carteira de imóveis de cerca de mil milhões de euros. Isto além de um por- tefólio de crédito malparado. Este contrato permitiu à empre- sa acelerar as vendas dos ativos herdados do Banif e que o San- tander Portugal não quis. Sem data para voltar ao mercado A pandemia por covid-19 e a in- certeza em torno da sua dura- ção e impacto na economia trouxe uma deterioração das condições, afastando do merca- do todas as entidades que pre- tendiam vender este ano mais carteiras de imóveis e crédito malparado. Também a Oitante não sabe quando voltará a ir ao mercado. “De momento não sabemos se haverá condições para a Oi- tante voltar a abordar o merca- do”, explica ainda fonte oficial da entidade liderada por Miguel Artiaga Barbosa, quando ques- tionada sobre o momento em que espera vender este portefó- lio avaliado em perto de 400 mi- lhões de euros. Além da Oitante, também era esperado que o Novo Banco voltasse a vender mais carteiras de crédito malparado, isto de- pois de ter alienado, no ano pas- sado, o portefólio “Nata 2”, num valor de perto de três mil mi- lhões de euros. Mas António Ra- malho, presidente do banco que resultou da resolução do Banco Espírito Santo, já veio dizer ter “dúvidas de que haverá condi- ções” para fazer novas vendas “quando o mercado reabrir”. RITA ATALAIA O veículo que herdou os ativos do Banif queria libertar-se do chamado “Projeto Lucille”. Mas a pandemia adiou os planos. 400 IMÓVEIS A Oitante estava preparada para vender mais 400 milhões de euros em ativos imobiliários. Os próximos três meses serão de “adaptação”, mas já poderá haver alguma recuperação. Alexandre Azevedo CRITÉRIOS Critérios ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas, sobretudo grandes empresas e longo prazo. Para particulares, os critérios serão mais restritivos em ambos os tipos de crédito. PARTICULARES A procura reduziu-se ligeiramente no primeiro trimestre. Para o segundo trimestre do ano, antevê-se uma forte redução da procura de crédito, em especial no segmento da habitação. QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | PRIMEIRA LINHA | 9 10 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 PRIMEIRA LINHA COVID-19 NEGÓCIOS com LUSA Portugal está a caminho do fim do estado de emergência e prepara-se para 4 de maio a reabertura cautelosa de alguns setores da economia. Precisamente no mesmo dia, os gregos vão também começar a ter uma redução gradual das medidas de confinamento. França tem uma estratégia semelhante para aplicar a partir de 11 de maio. Já na Rússia, a pandemia ainda não atingiu o pico. O número de vítimas mortais em Portugal devido ao novo coronavírus aumentou para 948, o que traduz uma su- bida de 20 óbitos face a terça-feira quando estavam con- tabilizados 928. O número deinfetados (casos confirma- dos) aumentou 1,3% para 24.322, sendo que em termos absolutos a subida de casos foi de 295. Na segunda-fei- ra tinham aumentado 0,68% para 24.027, registando o ritmo de crescimento mais baixo desde 19 de março. O crescimento diário do número de mortos, comparando os dois dias, baixou em termos absolutos (20 contra 25), sendo que a taxa de crescimento também desceu (2,2% contra 2,8%). O número de novos óbitos foi o mais baixo desde 6 de abril. Verificou-se uma ligeira subida na taxa de crescimento do número de infetados (1,23% contra 0,68%). Em termos absolutos também aumentou (295 contra 163). Tendo em conta o número de infetados e de vítimas mortais, a taxa de letalidade é de 3,9% e existem 1.389 casos recuperados. Portugal registou subida de 1,3% de casos confirmados O balanço diário das mortes de pessoas infetadas no Reino Unido foi on- tem de 585, aumentando para 21.678 o número de óbitos durante a pan- demia de covid-19, anunciou o ministro da Saúde britânico, Matt Han- cock. Nos últimos dois dias tinha sido registada uma desaceleração no número de mortes provocadas pelo novo coronavírus, com aumentos de 413 no domingo e 360 na segunda-feira, os mais baixos desde o final de março. Porém, o diretor-geral da Saúde de Inglaterra, Chris Witty, aler- tou para o risco de uma “queda artificial” devido à demora no registo dos óbitos durante o fim de semana, antecipando um novo aumento no resto da semana. O número de casos de contágio é agora de 161.145, sen- do que estão hospitalizados 17.796 pacientes. Mortes no Reino Unido voltam a aumentar 20 ÓBITOS No dia de ontem, foram comunicados mais 20 óbitos, elevando para 948 o total de vítima mortais. A taxa de letalidade é de 3,9%. O fim do confinamento em França deverá começar a 11 de maio, anunciou ontem o primeiro-ministro, Édouard Philippe, afirmando que “é preferí- vel” usar máscara. O teletrabalho é para continuar e certas restrições de deslocações mantêm-se até 2 de junho. Philippe afirmou que manter o confinamento poderia levar a “efeitos prejudiciais” para o país, mas avi- sou que a data para o seu fim, 11 de maio, só acontecerá se estiverem reu- nidas as condições necessárias. Uma das maiores dúvidas para os france- ses é a política adotada face ao uso de máscaras. Philippe indicou que a compra de máscaras para o grande público por parte das regiões vai ser comparticipada em 50% pelo Governo e que máscaras laváveis vão ser postas à venda através do site da La Poste, os correios franceses. Fim do confinamento em França vai começar a 11 de maio O Presidente Vladimir Putin consi- derou ontem que a Rússia ainda não atingiu o pico da pandemia motiva- da pelo novo coronavírus, mas admi- tiu uma redução progressiva das me- didas de confinamento a partir de 12 de maio. “A situação permanece di- fícil. Os especialistas e os cientistas com quem estamos em contacto per- manente para verificar os nossos planos e medidas dizem que o pico ainda não foi atingido”, declarou. De acordo com os últimos dados ontem divulgados, a Rússia regista desde há semanas vários milhares de infe- ções diárias, num total de 93.558 ca- sos e 867 mortos, a maioria em Mos- covo. Putin decidiu prolongar até dia 11 de maio os dias feriados que se cumprem na Rússia durante esse pe- ríodo de festividades, e encarregou o Governo de elaborar um plano de saída progressiva do confinamento a partir de 12 de maio. Rússia ainda não atingiu o pico A PANDEMIA PELO MUNDO O primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, anunciou ontem a redução gradual do con- finamento no país devido à pan- demia de covid-19 a partir de 4 de maio, a começar pelo pequeno co- mércio e pelos salões de cabelei- reiro e beleza. “Como contivemos a primeira vaga do vírus, estamos agora prontos para passar à se- gunda fase, uma redução pro- gressiva das medidas” de confi- namento, declarou Mitsotakis num discurso televisivo. Grécia prepara regresso gradual Itália registou ontem 382 mortes e confirmou 2.091 novos casos de contágio com o novo coronavírus, um ligeiro aumento em relação a segunda-feira, segundo dados da Proteção Civil. O número total de mortes em Itália atingiu as 27.359 e desde o início da emergência 68.941 pessoas já foram curadas. Os casos atualmente positivos de contagiados são 105.205, menos 608 do que segunda-feira, de um total de 201.505 casos confirma- dos até ao momento. Novos casos sobem em Itália Publicidade FIQUE EM CASA E CONTINUE A LER A MELHOR INFORMAÇÃO ECONÓMICA! Apenas 0,99€ por edição assinaturas.xl.pt/negocios Leia o seu jornal de todos os dias no computador, tablet ou smartphone. Compre a edição digital do NEGÓCIOS e leia o jornal diário tal como é impresso mas com ainda mais vantagens: as notícias podem ser lidas em vários formatos, guardadas, comentadas ou até mesmo ouvidas. Aceda ainda a todo o conteúdo premium do dia no site do NEGÓCIOS, sem publicidade intrusiva. 12 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 ECONOMIA O Ministério da Justiça está a preparar, juntamente com notários e imobiliárias, um conjunto de procedimentos que facilitem a realização à distância, de compra e venda de imóveis. Uma das medidas passa por facilitar o acesso aos ónus que impendem sobre os imóveis. A compra e a venda de imóveis ou ou-tras escrituras pú-blicas, realizadas por lei nas conser- vatórias ou cartórios notariais, vão passar a poder ser realizadas à dis- tância, através de meios informá- ticos. O mesmo acontecerá com a autenticação de assinaturas, adiantou esta terça-feira a minis- tra da Justiça no Parlamento. Francisca Van Dunem falava aos deputados no âmbito de uma audição na comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Di- reitos, Liberdades e Garantias e não adiantou ainda datas, mas os mecanismos informáticos têm vindo a ser preparados e, apurou o Negócios, há já um projeto de di- ploma para regulamentar os futu- ros procedimentos. A ideia é que as pessoas reduzam o mais possí- vel as deslocações para fazer este tipo de serviços e, também, dar um empurrão ao mercado, nomeada- mente o imobiliário, que na se- quência da pandemia enfrenta um período de fortes quebras. Passado o período atual, e com o regresso à normalidade, a fun- cionalidade manter-se-á, conti- nuando os negócios a ser realiza- dos por via informática. E uma das medidas passará pela possibilida- de de notários e agências imobi- liárias terem um acesso direto à chamada informação predial sim- plificada dos imóveis, que inclui a descrição do prédio, identificação dos proprietários e dados sobre eventuais ónus, nomeadamente se o imóvel está hipotecado, se há uma penhora sobre ele. Esta informação é muito im- portante, na medida em que “per- mite antecipar eventuais proble- mas que possam existir e só vir a ser descobertos quando se avan- çar para a compra e venda do imó- vel”, altura em que, por lei, é ne- cessário que a documentação in- clua uma informação certificada, passada pelo registo predial, e que tem um custo. “Já nos foi dito que vamos ter acesso a essa informação, estamos apenas à espera que isso se con- cretize”, disse ao Negócios Jorge Batista da Silva, bastonário da Or- dem dos Notários. Essa informa- ção é importante, por exemplo, quando se está a preparar uma proposta de compra e venda e não há ainda uma certeza de que o ne- gócio vai mesmo acontecer e, com este acesso, não será preciso ir ao registo predial pedir e pagar uma informação certificada do prédio que depois pode vir a revelar-se desnecessária. “Maior segurança jurídica” O mesmo acontece com a Asso- ciação dos Profissionais e Empre- sas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), que aguar- da também a assinatura do neces- sário protocolo. “Quando fazemos um contrato de mediação, temos de verificar se aquela pessoa é mesmo o proprietário e se há ou não ónus sobre o imóvel. Ora, uma empresa imobiliária que tenha centenas de imóveis não podean- dar a pagar as certidões”, explica Luís Carvalho Lima, presidente da APEMIP. Com o acesso a esta informação, através da Associa- ção e com um custo associado muito baixo, ganham as empresas e ganha quem quer vender e quem procura comprar, uma vez que “assim o negócio é mais seguro para quem recorra aos mediado- res”, acrescenta o responsável. Ou seja, “há sempre mais segurança jurídica logo a partir do momento da angariação” do negócio. O acesso não será gratuito, mas os valores serão muito infe- riores ao custo de uma certidão passada pelo conservador, que as- sim só terá de ser pedida se e quan- do o negócio se concretizar. No âmbito das medidas de simplificação para reduzir as idas dos cidadãos aos serviços públi- JUSTIÇA Escrituras de imóveis vão ser feitas à distância A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, esteve esta terça-feira numa audição no Parlamento. Miguel A. Lopes/Lusa FILOMENA LANÇA filomenalanca@negocios.pt QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | ECONOMIA | 13 Os advogados e solicitadores, que não descontam para a Segu- rança Social, mas sim para a Cai- xa de Previdência de Advogados e Solicitadores (CPAS), não ti- veram acesso aos apoios criados para os profissionais indepen- dentes no âmbito da pandemia. É um problema, “que gera difi- culdades sobretudo ao nível dos advogados de prática indivi- dual”, admitiu esta terça-feira a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, mas sem avançar com uma resposta, pelo menos no imediato. A ministra, que falava no Parlamento no âmbito de uma audição na Comissão de Assun- tos Constitucionais, Direitos, Li- berdades de Garantias, explicou que os apoios que estão a ser concedidos aos independentes são da Segurança Social e que “isso faz uma grande diferença”. Há uma diferenciação” face à ge- neralidade dos profissionais li- berais, na medida em que estes “estão a ter a vantagem de um desconto que fazem” para a Se- gurança Social e que a generali- dade dos advogados não fazem. “Temos de fazer uma refle- xão sobre o sistema de proteção social, mas isso deve começar na própria classe”, afirmou a minis- tra. “Não tenho dúvida nenhu- ma que essa questão estrutural vai ter de ser analisada”. Questionada pelos deputados sobre soluções mais no imediato, que possam dar resposta à atual conjuntura, a ministra nada avan- çou de concreto. “Tenho notícia de que foi suspenso o pagamento de contribuições e penso que já foi concretizada. Inicialmente ha- via um adiamento, mas conside- rou-se que não seria suficiente”, informou. Essa questão, reconhe- ceu, “não resolve tudo”. A resposta não satisfez os de- putados, sendo que o problema dos advogados foi colocado por todos os grupos parlamentares. “Há ou não disponibilidade do Governo para estudar um regi- me extraordinário que passe pela suspensão de contribuições ou um beneficio de igual trata- mento aos independentes”, questionou o bloquista José Ma- nuel Pureza. “Não podemos ati- rar para o pensamento a prazo um desafio que é agora imedia- to”, sublinhou. Mas a ministra não tinha res- postas para o imediato, embora tenha admitido que os advoga- dos e solicitadores possam pas- sar a descontar para a Seguran- ça Social, uma medida que, dis- se, “está a ser trabalhada com a Segurança Social”. Por agora, os advogados e so- licitadores pagam uma contri- buição obrigatória e fixa para a CPAS e, quem quer e pode, faz também descontos para a Segu- rança Social. Francisca Van Du- nem admitiu que que o deseje venha a poder optar entra a CPAS e a Segurança Social, e que , nomeadamente para os ad- vogados mais jovens, que hoje em dia têm “um esforço contri- butivo muito grande”, se possa “ponderar que o esforço contri- butivo tenha alguma correlação com os rendimentos declara- dos”. Em todo o caso, estas alte- rações seriam sempre para o fu- turo, e não uma resposta à situa- ção atual. Mesmo para o futuro, “uma intervenção desta natureza deve ter uma articulação muito gran- de com as ordens profissionais” e a questão da integração da CPAS no sistema de Segurança Social não é consensual na clas- se, mas “sendo “uma opção de fundo”, exige um “mínimo de consenso”. FL A ministra da Justiça reconhece que há um problema com os advogados, que ficaram de fora dos apoios criados pelo Governo na resposta à pandemia. Governo quer rever proteção social para os advogados “ Já nos foi dito que vamos ter acesso à informação predial simplificada dos imóveis e estamos apenas à espera que isso se concretize. JORGE BATISTA DA SILVA Bastonário da Ordem dos Notários Com o acesso a esta informação, haverá sempre mais segurança jurídica logo a partir do momento da angariação do negócio. LUÍS CARVALHO LIMA Presidente da APEMIP “ cos, os notários vão poder dis- ponibilizar online as certidões de documentos que tenham depositados nos seus arquivos. A plataforma informática está pronta e a Ordem aguarda apenas a necessária portaria regulamentar, do Ministério da Justiça, para poder avançar. Na prática, trata-se de um pro- jeto no qual a Ordem tem vin- do a trabalhar já há algum tem- po e que deverá agora ser ace- lerado por forma a reduzir as idas dos utentes a estes servi- ços públicos. Numa altura em que se conhece melhor a verdadeira dimensão da recessão, Merkel pede firmeza nos compromissos ecológicos. Merkel defende retoma económica ecológica A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu hoje à comuni- dade internacional que crie programas de reconstrução após a crise provocada pela pandemia da covid-19 seguin- do critérios ambientais e cli- máticos, combinando ecologia e economia. O apelo foi feito no discur- so proferido, por videoconfe- rência, no segundo dia do Pe- tersberg Dialogue, um con- gresso internacional sobre a luta contra o aquecimento glo- bal que é realizado anualmen- te em Berlim e cuja edição des- te ano é digital. Neste mesmo dia, o importante instituto ale- mã Ifo anunciou que o PIB da maior economia da UE deve- rá encolher 12,2% no segundo trimestre e 6,6% em termos anuais. A chanceler advertiu que as discussões sobre a distribui- ção e o destino de apoios para reativar a economia após a cri- se desencadeada pela pande- mia da covid-19 começarão em breve, acrescentando que os planos devem levar em con- sideração critérios ecológicos. Angela Merkel pediu para se juntar “economia e ecolo- gia”, aproveitando a oportuni- dade de responder em conjun- to às duas crises e defendeu que não se deve pensar exclusiva- mente em termos nacionais, mas também internacionais. “O essencial é o sucesso global da preservação do cli- ma”, considerou a chanceler, alertando para a necessidade da “contribuição de toda a co- munidade internacional”. “Os objetivos da Agenda 2030, in- cluindo os ambientais, só po- dem ser alcançados se traba- lharmos de maneira consis- tente a nível nacional e juntos a nível internacional”, afirmou. Merkel reiterou o compro- misso da Alemanha com as metas climáticas para 2030 e 2050 e aplaudiu o plano da Comissão Europeia de tornar o bloco neutro em termos de emissões poluentes daqui a meio século. Para a chanceler, é funda- mental envolver o setor priva- do e aproveitar os instrumen- tos do mercado para contri- buir para o cumprimento des- ses objetivos e limitar o aque- cimento global. O mercado de emissões é, na sua opinião, “o sistema mais eficiente” para limitar a libertação de gases poluentes que causam o aquecimento global. LUSA ALEMANHA Angela Merkel quer juntar economia com ecologia. Maja Hitij/EPA 14 | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 EMPRESAS E m plena pandemia da covid-19, o grupo José de Mello e o fundo britânico Ar-cus chegaram esta terça-feira a acordo com um con- sórcio de investidores internacio- nais, composto por três gestoras de ativos, para a venda conjunta de dois blocos acionistas que representam 81,1% dos direitos de voto da Brisa. Em comunicado referemque a ope- ração valoriza a empresa em mais de 3 mil milhões de euros, o que si- gnifica que o valor do negócio ultra- passa os 2,4 mil milhões de euros. Com esta venda, o fundo Ar- cus sairá da estrutura acionista da Brisa, na qual entrou em 2011. Já o grupo José de Mello garante que “permanece como acionista de re- ferência” da concessionária, “com uma posição representativa de 17% dos direitos de voto e com participação ativa na gestão”. Vas- co de Mello, que hoje tem funções executivas, continuará na Brisa mas como presidente do conselho de administração. O protagonis- mo da gestão executiva passará, após a conclusão do negócio, para o novo investidor. Já os minoritários que não saí- ram da Brisa na oferta pública de aquisição lançada em 2012 pelos dois maiores acionistas, e que re- presentam cerca de 2%, vão man- ter-se, pelo menos, para já. Os compradores são a holande- sa APG, a sul-coreana NPS – Na- tional Pension Service e a suíça SLAM, sendo que a aquisição será realizada através de um veículo in- tegralmente detido, direta e indire- tamente, pelo consórcio, controla- do conjuntamente pelas duas pri- meiras. Na corrida à compra da Bri- sa estavam, nesta reta final, os es- panhóis da Abertis e da Globalvia, a chinesa China State Construction Engineering Corporation e o con- sórcio liderado pela francesa Ar- dian. No início do processo de ven- da, que foi anunciado em outubro de 2019, surgiram outros interes- sados, como a japonesa Marubeni, mas pretendiam adquirir uma par- ticipação de 40%. A conclusão do negócio anun- ciado esta terça-feira está agora dependente de aprovação das en- tidades reguladoras competentes, como seja a autoridade da con- corrência europeia, o que o gru- po José de Mello prevê que ocor- ra no decurso do terceiro trimes- tre deste ano. Como o que está a ser vendido é uma participação na casa-mãe, o Estado, enquanto concedente das autoestradas, não é chamado a pronunciar-se. Brisa vê mais oportunidades em Portugal e lá fora No comunicado enviado terça-fei- ra, o grupo José de Mello salienta que “o acordo celebrado configura uma parceria estratégica de longo prazo” entre si e o consórcio inter- nacional. O consórcio comprador considera a Brisa “uma das princi- pais referências internacionais no setor das infraestruturas e preten- de contribuir ativamente para o crescimento e desenvolvimento da empresa, quer nos atuais negócios, quer em novas áreas de negócio”, refere ainda na mesma nota. Citado no comunicado, Vasco de Mello, presidente do grupo José de Mello e da Brisa, afirma que “esta parceria, celebrada no INFRAESTRUTURAS Brisa dá aos Mello e à Arcus 2,4 mil milhões O grupo José de Mello e o fundo Arcus fecharam a venda de 81,1% da Brisa a um consórcio de investidores holandeses, sul-coreanos e suíços. O negócio deve ficar concluído no terceiro trimestre e Vasco de Mello passará a presidente do conselho de administração. As autoestradas da rede da Brisa têm uma extensão total de 1.575 quilómetros. MARIA JOÃO BABO mbabo@negocios.pt O GRUPO MELLO E A BRISA 1972 2001 20112004 A FUNDAÇÃO A Brisa foi fundada em 1972 para assegurar a constru- ção daquela que é hoje considerada a espinha dorsal do sistema rodoviário português, a autoestrada do Norte. Hoje o grupo detém várias concessões com um total de 21 autoestradas, com 1.575 quilómetros. A PRIVATIZAÇÃO A quarta e última fase de privatização da Brisa aconte- ceu em julho de 2001. Com a desblindagem dos estatu- tos da empresa após a saída do Estado, o grupo José de Mello propôs a alguns acionistas a compra das suas po- sições e passou a deter uma participação de 20%. O REFORÇO O grupo José de Mello adquiriu em novembro de 2004 a posição que o Fundo de Pensões da Caixa Geral de De- pósitos detinha na Brisa para reforçar a sua posição. Num investimento de cerca de 195 milhões de euros, passou a controlar 30,87% dos direitos de voto. FUNDO ARCUS O fundo Arcus entrou no capital da Brisa em 2011, as- sumindo nesse ano uma participação de 19,09%. Após um braço de ferro inicial, o fundo conseguiu entrar no conselho de administração da concessionária com a in- dicação de três elementos. atual contexto de grande adversi- dade, é um sinal de confiança em Portugal e na economia portugue- sa e representa uma oportunida- de única para a Brisa reforçar e acelerar o seu posicionamento na área da mobilidade”. Já pelos compradores, Jan- -Willem Ruisbroek, chefe da es- tratégia global de investimento em infraestruturas na APG, também citado, refere que este investimen- 3 BRISA O acordo de venda dos 81,1% da Brisa anunciado esta terça- -feira valoriza a empresa em mais de 3 mil milhões de euros. C M Y CM MY CY CMY K ai158644164225_AF-Rodape257x59mm.pdf 1 09/04/2020 15:14 Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4233, de 29 de abril de 2020, e não pode ser vendido separadamente. Os seguros em tempo de emergência Gabriel Bernardino EIOPA contra coberturas retroativas José Galamba de Oliveira Setor tem sido proativo e flexível A resposta tecnológica à pandemia Covid-19 trouxe o cliente para o centro Mediadores na distribuição digital II | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 Solvência II é um regime baseado nos riscos e está, segundo Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA, “particular- mente bem adaptado para situa- ções que estamos a viver porque permite avaliar prospetivamen- te as necessidades de capital com base em diferentes cenários e quer do ponto de vista de super- visão como de gestão das empre- sas torna-se uma ferramenta in- dispensável, por isso é bom ter a base do Solvência II para poder gerir esta situação de crise”. Segundo o Solvência II as se- guradoras devem dispor de fun- dos próprios para solver perdas significativas. “Os testes de stress que efetuámos nos últimos anos mostram que, em geral, o setor está suficientemente capitaliza- do, capaz de suportar choques severos. O Solvência II dispõe de dois requisitos de capital, o de solvên- cia mais elevado e baseado nos riscos, e o requisito mínimo de capital. O Solvência II inclui ele- mentos de flexibilidade que, quer a EIOPA quer os regulado- res nacionais, usaram no senti- do de evitar alguns efeitos pró- -cíclicos e a instabilidade do mercado”, garantiu Gabriel Ber- nardino. Riscos de solvência Chamou à atenção que os segu- radores que já tiverem “índices de solvência menos robustos ne- cessitarão de planos de recupe- ração e é um aspeto para o qual a EIOPA e os reguladores nacio- nais se encontram a analisar”. Por outro lado, há necessidade de “preservar o capital num am- biente de incerteza. A extensão e o impacto da covid-19 na eco- nomia, nos ativos e nos passivos das empresas de seguros, estão ainda longe de poderem ser esti- mados com precisão”. Para a estabilidade do setor não deve haver a imposição de coberturas retroativas. Em al- guns países europeus e de outras geografias, há algumas iniciati- vas e pressão políticas para que o setor responda perante sinis- tros que não estavam incluídos nas apólices. Segundo Gabriel Bernardi- no, “esta imposição de cobertu- ra retroativa de sinistros não pre- vistos é perigosa porque pode criar riscos materiais de solvên- cia, pode ameaçar a proteção dos segurados e a estabilidade do mercado e pode agravar os im- pactos económicos e financeiros da atual crise”. Gabriel Bernardino sublinhou a eficiência de Solvência II como fator de estabilidade nesta situação pandémica. FILIPE S. FERNANDES EIOPA contra imposição de cobertura retroativa Seguradoras têm de ser justas para os clientes A crise económica decorrente da covid-19 pode ser mais profunda do que a crise financeira de 2007- -2014, admite Gabriel Bernardi- no. As projeções do FMI admitem que a economia mundial, incluin- do a União Europeia, tenha uma contração muito significativa. “Os seguros são uma das ativi- dades financeirascom maior liga- ção à economia, portanto, é per- feitamente natural que os impac- tos sejam muito significativos nos modelos de negócio, na solvência na área seguradora, e no valor dos investimentos dos diferentes ati- vos”, referiu Gabriel Bernardino. Acrescentou que “estamos a ver já alguns dos seus efeitos, mas é mui- to importante que se utilizem os mecanismos do Solvência II, como o framework, para perspe- tivar esses impactos e para poder dar resposta”. O resseguro tem e vai conti- nuar a ter um papel muito rele- vante na gestão e flexibilização desta crise. Como diz Gabriel Ber- nardino, “os resseguradores fun- cionam sobretudo para estas si- tuações extremas de risco, e natu- ralmente o seu contributo duran- te a crise vai ser muito significati- vo para se ter níveis de impacto menores”. Acentuou que “até ago- ra as resseguradoras têm estado a cumprir com o que estava deter- minado nos contratos e nas apó- lices e têm sido um fator de esta- bilidade nas consequências do im- pacto desta crise”. Riscos sistémicos No entanto, alertou que algumas das consequências desta pande- mia são riscos sistémicos e “não é possível ao setor segurador, mes- mo com o apoio dos ressegurado- res internacionais, combater os riscos sistémicos”. Gabriel Ber- nardino deu como exemplo de ris- co sistémico a interrupção de ati- vidades por parte das empresas. “É impossível diversificar e mu- NEGÓCIOS INICIATIVAS OS SEGUROS EM PORTUGAL Esta imposição de cobertura retroativa de sinistros não previstos é perigosa. GABRIEL BERNARDINO Presidente da EIOPA Com a covid-19, do lado da procura, a queda foi brutal. JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores “ “O setor e as empresas devem pôr o cliente no centro das suas preocupações e este é um momento de verdade para saber se é isto que fazem”, disse Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA. tualizar este risco. Há respostas que têm de ser dadas para além do que é o setor segurador e ressegu- rador”. A EIOPA não está a pensar em moratórias, mas “a refletir, a ver o comportamento que o setor tem em termos europeus, como é que reage à modificação bastante si- gnificativa das condições de risco em algumas áreas de negócio”. O facto de um número muito significativo de pessoas estar em confinamento em muitos países durante um tempo alargado faz com que o perfil de risco em segu- ros obrigatórios como o automó- vel mude completamente. A expe- riência de sinistralidade deste ramo antes e durante este perío- do de confinamento é completa- mente diferente, há uma mudan- ça significativa no perfil de risco, na opinião de Gabriel Bernardi- no, que se deve repercutir nos con- sumidores. As soluções têm variado de país para país. Tem sido por ajus- tamento dos prémios, devolução de alguma parte em função da ex- periência de sinistralidade. “É im- portante que haja um equilíbrio, porque estamos a ver uma expe- riência de sinistralidade num pe- O confinamento faz com que o perfil de risco em seguros obrigatórios, como o automóvel, mude completamente. QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | SUPLEMENTO | III José Galamba de Oliveira, presidente da APS. Os impactos no setor segurador português são semelhantes aos dos países europeus, assinalou José Galamba de Oliveira, presi- dente da Associação Portuguesa de Seguradores. Um mês depois da declaração do estado de emer- gência, em jeito de balanço, refe- re que os impactos estão muito minimizados. “Na área de gestão de sinis- tros, há algumas situações que não correm com a celeridade com que se gostaria porque, por exemplo, o perito não consegue verificar um determinado sinis- tro, porque há dificuldades de cir- culação devido ao estado de emergência, as peças não chegam ou as oficinas também têm os seus constrangimentos”. Mas, em termos práticos, “é uma situação absolutamente ex- cecional de paragem da econo- mia com as pessoas confinadas em suas casas. Do lado da procu- ra a quebra foi brutal, há também do lado da oferta muitos negócios que pararam”. Correlação com o PIB O ramo não vida tem uma corre- lação direta com o PIB, com a ati- vidade económica. Se esta pára, tem logo influência no negócio. O mais impactado nesta situação é o ramo dos acidentes de traba- lho, que teve uma grande queda por causa do lay-off, que atingiu centenas de milhares de traba- lhadores. “Quando olhamos para os nú- meros, que já temos os agregados de março, o que se nota clara- mente é que na última semana deste mês houve uma queda bru- tal nos acidentes de trabalho. Nem falamos de novas subscri- ções ou renovações de contratos, que praticamente não há”, afir- mou José Galamba de Oliveira. Acrescenta que “as seguradoras estiveram muito disponíveis para se sentarem com as empresas e procurarem as melhores solu- ções”. No ramo automóvel, as segu- radoras já renegociaram os riscos no caso das frotas, porque a sinis- tralidade desceu muito em abril. No entanto, José Galamba de Oliveira defende uma análise de um arco de tempo maior, porque em maio e junho, “que serão de recomeço, a sinistralidade tende- rá a normalizar-se e a subir”. Setor proativo Revela que a experiência dos mercados asiáticos, que já saí- ram do confinamento, mostra que no recomeço se assistiu a uma sinistralidade superior ao normal, porque houve mais car- ros a circular, uma vez que as pessoas ainda tinham receio e desconfiança na utilização de transportes públicos. O impacto da covid-19 tam- bém foi grande nos seguros mul- tirriscos das empresas com que- bras de receita e ajustamentos importantes, “porque as empre- sas estão paradas e as segurado- ras também têm tido a flexibili- dade para encontrar soluções para a mitigação, mas há de fac- to menos receita”, disse Galam- ba de Oliveira. Em relação às moratórias dos seguros, explica que o setor tem sido proativo, as empresas, nas suas políticas comerciais, muito rapidamente decidiram flexibili- zar o pagamento dos prémios dos tomadores de seguros e deram autonomia à rede de mediadores para negociar prazos de paga- mento para as situações em que fosse necessário. “Não é uma política concer- tada do setor com uma morató- ria de x dias, tem havido uma po- lítica mais flexível porque depen- de dos ramos e das empresas”, es- clareceu José Galamba de Olivei- ra. “Tivemos contactos com a ASF que está a olhar para algu- mas situações para fazer reco- mendações, mas na prática as moratórias estão a acontecer na- turalmente através do canal de distribuição e dos mediadores”, concluiu. As seguradoras estiveram muito disponíveis para se sentar com as empresas e procurar as melhores soluções. JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA “ ríodo específico, temos de ver o que vai acontecer nos próximos meses”. As seguradoras têm de ter abertura e proatividade para tratar os seus clientes de forma justa. “O setor e as empresas de- vem pôr o cliente no centro das suas preocupações e este é um momento de verdade para saber se é isto que fazem.” Dívida pública Os spreads da dívida pública dos países no Sul da Europa es- tão a aumentar e isto reflete-se nos requisitos de capital das se- guradoras que operam nestes países. Gabriel Bernardino es- clareceu que as diferenças si- gnificativas nos spreads da dí- vida pública são repercutidas nos requisitos de capital, mas o Solvência II tem instrumentos que dão resposta a estas situa- ções excecionais e mecanis- mos, como a volatility adjuste- ment, que corrige este excesso nos spreads e atenua os efeitos nos requisitos de capital”. Em relação à carteira de dí- vida pública das seguradoras, em certos casos muito concentrada, Gabriel Bernardino disse que “tendo em conta as responsabi- lidades e compromissos que os seguradores assumem é perfei- tamente natural que a dívida pú- blica seja um dos ativos mais uti- lizados”. No entanto, sublinhou que o preocupa mais a concentra- ção do quea exposição. “O que me preocupa mais do ponto de prudencial é quando existe concentração excessiva num único país, num único emiten- te, num único tipo de títulos. É válido por qualquer tipo de ati- vo. Em todas as análises que fa- zemos das repercussões da atual crise, ao nível dos spreads por exemplo, são as empresas com maior diversificação em termos de exposição em dívida pública, ações e obrigações que têm menos impactos”. Setor tem sido proativo e flexível Nas suas políticas comerciais, as seguradoras muito rapidamente decidiram flexibilizar a sua relação com os clientes. O setor e as empresas devem pôr o cliente no centro das suas preocupações e este é um momento de verdade. GABRIEL BERNARDINO “ As moratórias estão a acontecer naturalmente através do canal de distribuição e dos mediadores. JOSÉ GALAMBA DE OLIVEIRA “ Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA. IV | QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 P ara Sofia Amorim, key account manager da i2S, foram os investi-mentos em tecnologia feitos nos últimos anos pelo setor segurador na digitalização que “permitiram que estas empresas acelerassem a sua adaptação, quando emergiu este problema provocado pela covid-19”. Sem esta preparação transfor- madora, não teria sido possível a proteção dos colaboradores, “per- mitindo-lhes o teletrabalho, a agi- lização e a digitalização dos siste- mas, com VPN e ligações seguras, com boas velocidades de internet para manter a produtividade, não pondo em causa o serviço ao cliente”. Na sua análise esta flexibilida- de foi comum às companhias de seguros, aos agentes, e outras áreas da economia, que assim con- seguiram reinventar ou reajustar os seus negócios para manter a proximidade com o cliente, “que acaba por em muitas situações ser maior do que a que teríamos em outras situações”, sublinha Sofia Amorim. Todavia, alerta que se deve ga- rantir que estes aspetos positivos, que se retiram deste “momento em que vivemos, se mantêm, que se prossigam estas boas práticas e estes bons ensinamentos e que es- tão a ter bons resultados”. Roadmap tecnológico A gestora assinalou ainda a impor- tância de a digitalização ser com- plementada por outras tecnolo- gias que também são fundamen- tais nesta situação excecional. Es- tas têm vindo a ser trabalhadas por vários intervenientes e que fazem parte do roadmap de evolução tec- nológica da i2S. Sofia Amorim referia-se a tec- nologias como a RPA (Robotic Process Automation), que permi- te a gestão de grande volume de in- formação para a qual as empresas não estariam preparadas para res- ponder em tempo útil, devido ao afluxo anormal de informação. Deu como exemplo a banca com as questões de pedido de adia- mento de pagamentos de emprés- timo, “mas com estas tecnologias conseguem agilizar e ter proces- sos mais automáticos que permi- tem responder com a celeridade que é necessária nestes tempos”, referiu Sofia Amorim. A conclusão da key account manager da i2S foi a de que “manter um serviço próximo ao cliente, flexibilizando e procu- rando entender as suas necessi- dades e responder da melhor forma, mostra que, de forma glo- bal, as empresas em Portugal já se vinham a preparar para esta evolução tecnológica, e assim conseguiram, num momento de crise, continuar com o serviço, com o cuidado e a preocupação do cliente no centro”. Investimentos na tecnologia permitiram resposta digital na pandemia “As empresas em Portugal já se vinham a preparar para esta evolução tecnológica, e assim conseguiram, num momento de crise, continuar com o serviço”, referiu Sofia Amorim. NEGÓCIOS INICIATIVAS OS SEGUROS EM PORTUGAL Alexandre Ramos, membro da comissão executiva e WEM Technology Leader da Liberty Seguros, e Luiz Ferraz, mandatário geral da Prévoir-Vie. Novos seguros dependem das resseguradoras Os seguros vão ser feitos da mesma maneira. Temos de nos ir ajustando. ALEXANDRE RAMOS Membro da comissão executiva e Technology Leader da Liberty Seguros “ “A capacidade de mediação de estar a funcionar no terre- no quase como nada tivesse acontecido, as seguradoras entraram de imediato em te- letrabalho, a atividade não parou e contribui e concorre para que a economia não pare”, assinalou Luiz Ferraz, mandatário geral da Prévoir- -Vie. “Nos seguros, as medidas de flexibilização em relação ao pagamento são uma ga- rantia de que as seguradoras, como no caso da Prévoir, não anularam os seguros en- quanto o estado de emergên- cia não for levantado”, refe- riu Luiz Ferraz. Sublinhou que só quando este momen- to estiver ultrapassado se pode negociar com os clien- tes, como se pode diluir no tempo ou no pagamento a manutenção dos seguros em vigor. Com ironia Luiz Fer- raz refere que, “ao contrário do que se faz na Europa, nos seguros a mutualização não se discute, é para aplicar por- que é um dos seus funda- mentos”. Novos clientes e novas apólices “Vamos querer continuar novas pessoas, novos clientes e para isso temos de ter as nossas apólices desenhadas para estes novos tempos”, disse Luiz Ferraz. Para isso é “Vamos querer continuar novas pessoas, novos clientes e para isso temos de ter as nossas apólices desenhadas para estes novos tempos”, disse Luiz Ferraz. QUARTA-FEIRA | 29 ABR 2020 | SUPLEMENTO | V fundamental o papel dos res- seguradores em diálogo com as seguradoras para os segu- ros, como os de vida, porque “médica e cientificamente ninguém é capaz de dizer quando é que fica completa- mente erradicada esta pan- demia ou se vai ficar em es- tado latente e os seguros têm de se adaptar e preparar para os novos tempos”. O mandatário geral da Prévoir-Vie enfatiza que “isto só se torna prático e efe- tivo se o ressegurador estiver do nosso lado, caso contrário não é uma gestão prudente, e a prudência é um ponto fundamental na atividade de um segurador de vida”. Para Luiz Ferraz nada será como dantes: “Digitali- zação, flexibilização, prova- velmente deixar de fazer 600 quilómetros para fazer uma reunião de uma hora quando se pode fazer onli- ne. Existem novas oportu- nidades num novo quadro, só os que tiverem dificulda- des em se adaptarem à mu- dança é que ficarão pelo ca- minho.” Aponta a mudança como um sentido proativo para se estar mais próximo das pes- soas, satisfazer as suas reais e concretas necessidades e isto só pode gerar novas oportunidades. “Estou com uma visão muito otimista, ainda que realista e com os pés assentes na terra, encaro de uma forma muito positi- va o nosso trabalho futuro. A nossa rede e a equipa comer- ciais nunca pararam, e eu nunca falei tanto com as pes- soas, nem nunca vi tantas pessoas como agora”, con- cluiu Luiz Ferraz. Existem novas oportunidades. Só os que tiverem dificuldade em se adaptarem à mudança é que ficarão pelo caminho. LUIZ FERRAZ Mandatário geral da Prévoir-Vie “ A covid-19 trouxe o cliente dos seguros para o centro “Durante os últimos anos as se- guradoras fizeram grandes in- vestimentos tecnológicos e pro- cessuais e na formação dos cola- boradores, o que permitiu que a resposta à crise pandémica te- nha sido tão rápida”, afirmou Alexandre Ramos, membro da equipa executiva e WEM Te- chnology Leader da Liberty Se- guros. Acredita que a maioria destas aprendizagens e destas práticas de ligação vai ficar. Na Liberty Seguros, como é uma empresa norte-americana e internacional, já havia a práti- ca do teletrabalho, mas nesta cri- se sanitária, “os desafios são muitos e a nossa prioridade foi a segurança dos empregados, não só por eles e pelas famílias, mas para garantir que se continuava a prestar o serviço. O que foi co- mum ao setor segurador, empre- sas de assistência, parceiros”, sa- lienta Alexandre Ramos. Reconhece que os planos de contingência e de continuidade não estavam preparados para esta emergência, mas, observa, o reajuste foi rápido. Tem sido importante atividade
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