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Teresa Southwick Um beijo do sheik

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Teresa Southwick – Um beijo do sheik 
 
 
 
Desesperada por trabalho, a linda americana Crystal Rawlins teria 
feito qualquer coisa para se tornar a babá dos filhos do sheik Fariq 
Hassan. E dar uma pequena alterada em sua aparência para 
conseguir o emprego de seus sonhos num local exótico parecia um 
detalhe ínfimo. Mas então ela conheceu seu patrão e se deparou com 
um incrível homem alto, moreno e... uau! Ferido emocionalmente, o 
sheik Fariq Hassan não confiava em mulheres belas. Felizmente, sua 
nova babá estava longe de ser atraente. Entretanto, ele foi cativado 
pelo espírito fogoso de Crystal, e pelos beijos apaixonados. Ela, sem 
dúvida, também se sentia atraída por ele. Então, por que continuava 
a evita-lo? E que segredos ela escondia atrás daqueles óculos e das 
roupas largas? 
 
 
CAPÍTULO I 
 
Crystal Rawlins ajustou os óculos grandes e feios, 
certificando-se de que cobriam o máximo possível de seu rosto. 
Não se sentia nada bem com aquilo, mas era necessário para o 
disfarce. Chegara a hora do show. 
- Sou Crystal Rawlins - disse perante a mesa de mogno do 
escritório de Sua Alteza, o sheik Fariq Hassan. 
- Sim, a nova babá. Seja bem-vinda a EI Zafir, srta. Rawlins. 
Prazer em conhecê-Ia. 
Moreno, alto e bonito, o homem era a pura definição de um 
pedaço de mau caminho. O protótipo do príncipe de contos de 
fadas. 
Sorrindo, Fariq estendeu a mão. 
"Apertar a mão do pecado..." O estranho pensamento cruzou a 
mente de Crystal, quando aceitou o cumprimento, e estremeceu 
perante a firmeza dos dedos quentes. Por alguma razão, não se 
achava preparada para o toque dele. O contato, embora breve, 
mexeu com todos os seus sentidos. 
Em geral, quando se apresentava em seu primeiro dia num 
emprego, maquiava-se com esmero e usava roupas que a faziam 
se sentir profissional e confiante. Mas aquele não era como os 
outros empregos que tivera, em termos de circunstâncias, valor 
monetário e importância. E os riscos nunca foram tão grandes 
antes... 
Por ironia do destino, uma melhor aparência podia provocar sua 
demissão. Se isso acontecesse, quem pagaria as despesas 
médicas de sua mãe? Credores ameaçavam tirar tudo que ela 
possuía, inclusive a casa na qual Crystal crescera. 
Mas, independente do preço a pagar, não deixaria que isso 
ocorresse. 
- Estou muito satisfeita em conhecê-Io enfim, Alteza. Fiz 
algumas pesquisas e descobri coisas fabulosas sobre seu país. 
Estou grata pela oportunidade de trabalhar aqui. 
Fariq a avaliava. 
- Mesmo que o contrato seja de três anos? Terá férias, é lógico, 
mas é muito tempo para estar longe de seu lar. 
- Estabilidade profissional é uma coisa boa. 
Ele assentiu. 
- É verdade. E é estabilidade para meus filhos, também. 
- Sua tia falou-me que manter o cargo ocupado tem sido um 
problema. 
- Sim, foram cinco babás em um ano. 
- Asseguro-lhe que tenho intenção de cumprir meu contrato. 
- Ótimo. Posso ver por que titia a tem em tão alta consideração, 
após conhecê-la em Nova York. 
- A princesa Farrah tem um excelente gosto. - Ela parou. Aquilo 
parecia uma terrível falta de modéstia. - Isto é, Sua Alteza 
parece ser uma mulher exigente, e com grande percepção e 
excelente gosto para moda. 
- Para babás também, espero. 
- E para sobrinhos. 
- Como? 
Crystal desviou o olhar e respirou fundo, para recuperar o 
fôlego antes que os nervos a entregassem. Até aquele lapso, 
achava que conseguira fingir tranqüilidade. 
- Falei sobre seu escritório. Também é incrível. 
- Obrigado. 
Fariq era pai dos gêmeos de cinco anos que ela fora contratada 
para cuidar. Era importante começar com o pé direito. Esperara 
o nervosismo do primeiro dia de trabalho, mas não daquela 
maneira. Porém, o sheik era tão bonito que chagava a 
perturbar. 
Crystal sempre acreditara que beleza era atributo superficial. O 
caráter, sim, importava. E aquela era sua chance de ganhar 
dinheiro. 
Estava diante de seu patrão, o homem mais lindo que já vira na 
vida, e tudo o que tinha era a face lavada. O que não daria para 
estar maquiada e com uma bela roupa... 
Tentava impor-se uma aparência modesta, conforme a exigência 
para a função. O que era um desafio para ela, uma vez que 
recebera o título de rainha da beleza em Pullman, Washington, 
sua cidade natal. Naquela outra época, aparência era o 
principal degrau para o sucesso. Agora, vivenciava o outro lado 
da moeda. O príncipe a veria através dos óculos horrorosos, em 
sua saia azul-marinho longa e sem forma, nos sapatos 
grosseiros. Sem contar os cabelos tão puxados para trás que 
chegavam a alterar-lhe as feições delicadas. 
Se Fariq não a visse assim, Crystal seria demitida de imediato e 
perderia a chance de embolsar o generoso salário, que era sua 
razão principal para estar lá. Os outros motivos eram a 
oportunidade de viajar e a experiência ganha. 
- Sente-se, por favor, srta. Rawlins. - Fariq indicou a cadeira à 
frente da escrivaninha. 
Esboçando um sorriso gentil, ela aceitou o oferecimento. 
- Então, como foi sua viagem de Washington? O lar das 
deliciosas maçãs, certo? 
- Não em Pullman. É trigo, só trigo o tempo todo. E minha 
viagem foi muito longa, Alteza. Perdi a conta de quantos estados 
atravessei. 
-Sim. 
Fariq Hassan era o filho do meio do rei Gamil e, pelo visto, não 
desperdiçava palavras. A pesquisa de Crystal sobre a fantástica 
fann1ia real daquele pequeno país do Oriente Médio revelou que 
eles não mantinham um perfil social baixo. O irmão mais novo 
dele, Rafiq, era do tipo playboy. O mais velho, herdeiro do trono, 
Kamal, era considerado pela imprensa como o mais elegível 
solteiro do reino. Fariq era separado da esposa, e perseguido 
por algumas das mulheres mais bonitas do mundo. 
Nada a se admirar. Já vira a foto dos três irmãos juntos, e eles 
eram, sem dúvida, de arrebatar corações femininos. Além do 
fisico poderoso e dos cabelos negros, o sheik número dois tinha 
uma aparência tão magnética que ameaçava hipnotizá-Ia. 
Crystal se orgulhava de sua recente habilidade adquirida de 
negligenciar um rosto bonito. Aprendera a ser impenetrável ao 
charme dos seres humanos comuns. Mas Fariq Hassan não era 
nada comum. 
- Já se recuperou da longa viagem, senhorita? 
- Quase. Aliás, gostaria de agradecer por sua gentileza de ter me 
dado essa oportunidade de adequar-me ao fuso horário. Foi 
ótimo ter um tempo para repousar. Assim, posso causar uma 
impressão mais favorável a você e a seus f1lhos. 
- Fale sobre sua experiência com crianças. - Fariq a estudava 
com cuidado, mas os olhos não deram pista de nada, além de 
uma curiosidade normal. 
Se alguém tivesse aprendido a captar o menor interesse 
masculino usando o radar feminino, esse alguém era Crystal. 
Tivera muitas experiências indesejáveis, e decidira nunca mais 
ser objeto de desejo. A reação neutra do sheik era um sinal de 
que o disfarce estava funcionando. Mas então por que se sentia 
um tanto desapontada com o fato de ele não a ter achado nem 
um pouco interessante? 
- Paguei minha faculdade com o que ganhei cuidando de 
crianças. "E com o prêmio que recebi em um concurso de 
beleza." - Sou formada em pedagogia. Depois de terminar a 
faculdade, trabalhei por um ano com uma família próspera em 
Seattle. Vossa Alteza deve ter minhas cartas de recomendação. 
- Suas referências são impecáveis. Pedagoga, então? 
Aqueles olhos negros pareciam ver através dela. Estaria o sheik 
desvendando seu disfarce? 
- Algum dia eu gostaria de exercer minha profissão. -Crystal se 
aprumou no assento, endireitou os ombros e o encarou em sua 
melhor atitude "não tenho nada a esconder". 
- Não tem desejo de construir uma família? - Ele arqueou uma 
sobrancelha. 
- Um dia. Mas há coisas que quero fazer antes de me dedicar a 
amor, casamento e filhos. 
- Em que ordem? 
- Que ordem poderia ser? 
Fariq sorriu. 
- Filhos depois casamento. 
As faces de Crystal esquentaram com a sugestão de ir para 
cama antes de se casar. Algo natural nos dias atuais, mas havia 
algo estranho em falar de forma tão íntima com aquele homem. 
- Alteza, não sou ingênua para não saber queisso acontece. 
Mas não comigo. 
- Entendo. Mas as moças americanas não se orgulham da 
habilidade de ter uma carreira e família ao mesmo tempo? Para 
que esperar, srta. Rawlins? 
- Não é assim que quero fazer isso. Adoro crianças, motivo pelo 
qual escolhi uma carreira na área de educação. No entanto, 
quando tiver meus filhos, pretendo estar em casa para criá-los. 
E quando chegar a hora certa, voltarei ao trabalho.O fato de 
trabalhar em escolas me permitirá passar feriados e férias com 
minhas crianças. 
- Ah! Uma planejadora. Muito organizada... - Ele franziu o 
cenho. 
- Você desaprova? 
- Muito pelo contrário. Gosto do modo como raciocina. 
Porém, pela expressão dele, o sheik parecia não acreditar nela. 
Crystal juntou as mãos sobre o colo. 
- Posso lhe fazer uma pergunta? 
- Sim. 
- Perdoe-me se isso parece impertinente, mas como educadora 
aprendi que é importante criar uma atmosfera na qual 
nenhuma questão seja vista como tola. 
Ele sorriu. 
- Compreendo. Agora que você se qualificou, por favor, faça sua 
pergunta tola. 
- Pois bem. Trata-se de algo que preciso esclarecer. 
Essa...conversa que estamos tendo parece uma entrevista. 
- Perdão? 
- Não sei se me enganei, mas tive a impressão de que eu já 
estava contratada para o cargo. . 
- Sim. Tia Farrah ficou muito impressionada com você, e 
respeito muito a opinião dela. Mas trata-se de meus filhos, srta. 
Rawlins. A decisão final é minha. 
- Quer dizer que se discordar da princesa Farrah... 
- ...você voltará aos Estados Unidos no próximo avião. 
- O que me faz levantar outra questão. 
- Tola? - Ele sorriu com malícia. 
- Espero que não. - Pigarreou. - Por que pediu uma babá 
americana? Por que não uma mulher de seu próprio país, 
familiarizada com os costumes de EI Zafir? 
- Meus filhos aprenderão sobre nosso país comigo e com minha 
família. Mas muitos de nossos negócios estão no Ocidente, e 
Hana e Nuri, no futuro, terão de interagir com representantes 
da América do Norte. Será capaz de prepará-los para isso, 
senhorita, coisa que alguém daqui não poderia fazer. É um 
requerimento que considero muito importante. 
Ela engoliu em seco. 
- Sobre as qualificações do cargo, Alteza... 
- Não estão claras o bastante? 
- Sim, mas... posso saber por que você requisitou que fosse uma 
mulher simples e comum? 
- Acredito que a frase tenha sido: "uma americana comum e 
discreta, com alguma inteligência e que seja boa com crianças" . 
Crystal pensou que podia ser tão discreta quanto quisesse. 
Julgava-se inteligente o bastante para ter se formado com 
louvor, e quanto a gostar de crianças... era a mais nova de cinco 
filhos, e todos os irmãos mais velhos lhe deram sobrinhos que 
ela adorava. Contudo, era a parte "mulher comum" que a 
intrigava. 
Com "comum e discreta", Crystal tinha certeza de que Fariq 
queria dizer "feia e sem atrativos". Aquilo não a ofendia, mas 
estava curiosa. 
- Entendo o significado do resto. Mas sua tia não explicou por 
que esse requisito era tão importante. 
- Porque mulheres bonitas são... - ele hesitou, adquirindo um 
olhar sério - ...geladas e quentes ao mesmo tempo. Uma 
distração nada conveniente. 
Crystal esperara arrogância. Preparara-se para ela, e não se 
desapontara. Entretanto, até ter levantado o tema, Fariq vinha 
sendo educado e amistoso. A súbita frieza revelou-lhe que o 
sheik tinha uma história, e não a surpreenderia se uma linda 
mulher estivesse envolvida. Queria muito saber o que 
acontecera com ele. E ficaria ali tempo bastante para descobrir. 
Ou melhor, se ele não descobrisse seu disfarce e a despedisse. 
Quer dizer que mulheres bonitas não eram uma distração 
conveniente? Ela ficou perturbada. Um sheik podia então 
safar-se das obrigações sobre os próprios atos, culpando os 
outros por suas falhas? 
- Alteza, deixe-me constatar se compreendi. Se você não é capaz 
de controlar seus impulsos, a culpa será da mulher por ter 
nascido bonita? 
Ela empinou o queixo, encarando-o, deixando que Fariq a visse 
bem. Se seu disfarce não podia esconder a mentira, era melhor 
saber logo. E também não achava que sua beleza física ou a 
falta dela deveria ser a maior qualificação para cuidar dos filhos 
dele. 
Fariq a observou por vários segundos, mas Crystal não se 
desviou. Talvez tivesse sido ousada demais, mas se ele não a 
quisesse com sua ousadia, que tudo acabasse de uma vez. 
Sobretudo pelo bem das crianças. 
- Deixe-me ver se entendi. Está me perguntando. de quem é a 
culpa se sou incapaz de me concentrar na presença de uma 
garota bonita? 
- Isso mesmo. 
- É dela, claro! 
- Então há algo que você precisa saber antes de prosseguirmos. 
Ele pôs as mãos sobre o tampo e se inclinou para a frente. 
- E o que é? 
- Minha filosofia em lidar com crianças é que a pessoa sempre 
precisa assumir a responsabilidade por seus atos. 
- E há algo que você precisa saber sobre mim. 
- Prossiga. 
- Não sou criança. E nunca me engano. 
Fariq era tão absurdamente másculo, de um jeito tão primitivo, 
que a primeira frase dele soou quase ridícula. Aquilo quase a 
distraiu da segunda afirmação. Nunca se enganava? 
- É sempre bom saber o que pensa meu patrão sobre o assunto. 
Isso é, assumindo que você ainda é meu patrão. - Ela prendeu a 
respiração. 
- Acho que minha tia escolheu bem. Você será boa para a 
função. 
Crystal devia estar radiante por ter passado na entrevista. 
Estava contratada. Vencera o obstáculo! Mas, por estranho que 
fosse, sentia-se vazia com seu sucesso. Fariq acreditava que ela 
era tão sem graça quanto fingia ser. 
Suspirou. Ainda assim, tinha de respeitá-lo. Apesar do apoio da 
tia e do fato de que pessoas na posição de Fariq pagavam para 
se livrar de responsabilidades com os filhos; ele amava tanto os 
garotos que insistira em conhecê-la. Era óbvia a relevância que 
dava a aprovar a pessoa que cuidaria deles. 
- Estou muito ansiosa para conhecer seus filhos, Alteza. 
- Vou levá-la para vê-los. - Havia uma nota de orgulho na voz 
dele e um brilho carinhoso nos olhos. 
Fariq se levantou, rodeou a mesa e gesticulou para que ela o 
precedesse. Ao chegarem à pesada porta de madeira do 
escritório, ambos alcançaram a maçaneta, e as mãos se 
tocaram. 
- Permita-me, senhorita. 
- Obrigada. . 
No corredor, fora da sala, Crystal olhou em volta. Os sapatos de 
salto baixo afundaram no carpete felpudo. Painéis de madeira 
alinhados exibiam fotos encantadoras de El Zafir em vários 
estágios de desenvolvimento. 
Jamais Crystal vira tanto luxo. Piso de mármore, grandes 
escadarias, uma fonte no hall e lindos jardins. Havia móveis 
caríssimos, peças em ouro por todos os lugares, quadros 
inestimáveis, vasos e tapeçarias. E o número de dormitórios 
daria para abrigar um pelotão inteiro do exército americano. 
Quando chegara à ala de negócios para sua primeira reunião 
com o príncipe, o nervosismo obscurecera sua visão. Agora que 
o emprego era certo, podia notar muito mais. 
Eram quatro os escritórios. O do rei era o primeiro, portanto, o 
do príncipe herdeiro, seguido pelo de Fariq. À direita no fim do 
corredor estava o último, que supôs pertencer a Rafiq, o caçula. 
Então, ouviu risadinhas agudas de crianças. 
Olhando para cima, bem para cima, para seu patrão e guia, 
Crystal apontou na direção do barulho: 
- Eles foram para lá. 
O sheik a guiou até o último escritório, e lá, num enorme sofá 
de couro, estavam duas crianças e um homem que só podia ser 
o irmão de Fariq. Uma garotinha se sentara em um joelho dele, 
e bagunçava-lhe os cabelos. Ao mesmo tempo, o príncipe Rafiq 
fazia cócegas no menino, que ocupava seu outro joelho. A 
criança gargalhava, implorando para que ele parasse. Sem 
dúvida, aqueles eram os gêmeos de cinco anos de quem tomaria 
conta. . 
- E dizem que os homens são incapazes de múltiplas tarefas... - 
Crystal não pôde resistir ao comentário. 
Fariq levantou as sobrancelhas, brincalhão. 
- Guarde bem esse segredo. 
De repente a menininha e o garoto gritaram ao mesmo tempo: 
- Papai! 
Pulando dos joelhos do tio, correram para ele, cada um 
abraçando-lhe uma perna. Fariq se agachouno nível deles e os 
estreitou. 
- Olá, minha pequena. - Deu um beijinho carinhoso no nariz da 
menina. - E meu filhote? - Sorriu para o menino e acariciou-lhe 
os cabelos. - Há alguém aqui que quer conhecer vocês. 
De súbito, dois pares de olhos escuros muito curiosos e um 
pouco tímidos viraram-se para ela. 
- Esta é a srta. Rawlins. O que vocês dizem? 
- Olá. - O garoto olhou para o pai. - Quero dizer... prazer, 
senhorita. . 
Fariq assentiu. 
A menininha ainda se mantinha agarrada na perna do pai. 
- Prazer - imitou o irmão. 
O príncipe sorria com ternura para a filha. 
- E aquela babá de meia-tigela é meu irmão mais novo, Rafiq. 
- Alteza... - Crystal fez uma leve reverência. 
O príncipe se levantou e arrumou a cabeleira revolta, tentando 
corrigir o dano causado pela sobrinha. Qualquer homem que 
pudesse brincar com crianças à custa de sua aparência era 
valorizado na opinião de Crystal. 
- É um prazer conhecê-la, srta. Rawlins. - Rafiq estendeu-lhe a 
mão. 
- O prazer é meu, Alte... 
- Chame-me de Rafiq. Eu insisto - acrescentou antes que ela 
pudesse protestar. 
- Obrigada. - Crystal fitou primeiro o menino, e a irmã dele. - 
Estes devem ser Nuri e Hana. 
- Como sabe nossos nomes? - Hana, impressionada, piscou. 
Em quinze anos, talvez menos, a população masculina de EI 
Zafir estaria fazendo fila na porta do palácio, pensou Crystal. 
Hana era uma criança muito linda. 
- Sua tia Farrah me contou, querida. Quando a encontrei em 
Nova Y ork, ela me mostrou fotos de vocês dois. 
- Seus óculos são muito grandes. E muito feios. - Nuri era tão 
bonito quanto a irmã, e sem dúvida herdara um pouquinho da 
arrogância do pai. 
- Você é muito observador. 
- Seus cabelos foram muito esticados, não dói? - Hana quis 
saber. 
- Não, é só impressão. - Mas o começo de uma dor de cabeça 
negava as palavras de Crystal. - Posso fazer uma pergunta, 
Alte... 
- Fariq - corrigiu ele. - Meu irmão tem razão. Vamos eliminar as 
formalidades excessivas dentro de casa. 
- Certo, Fariq. Você costuma trazer as crianças para cá com 
freqüência? 
- De modo algum. Mas meu irmãozinho resolveu dar essa 
abertura aos dois e bancar a ama-seca hoje. Talvez porque se 
culpe pela partida súbita e nada digna da última babá. 
- Não foi culpa minha! 
- Não minta, tio - disse Nuri. - A babá estava em sua cama. 
- Como você sabe disso? - A fachada carrancuda de Rafiq foi 
destruída por um meio sorriso. 
- Tia Farrah contou para vovô - explicou o garoto. - E ele falou 
que a nova babá teria de ser uma velha feia. 
- Como ouviu isso, Nuri? - Fariq estava aborrecido. 
- Ele estava escondido atrás do sofá de tia Farrah, de novo. - 
Hana olhou para Crystal. - Estou feliz que você não seja nem 
velha, nem feia. 
- Que amor... - Crystal agradecia aos céus por alguém da 
família real poder vê-la além do disfarce. 
- Minha pequena, não deve delatar seu irmão. - O príncipe 
aconselhou a filha. 
- Mesmo que seja verdade e que ele seja malvado? 
- Mesmo assim. Lealdade familiar é um tesouro. 
Fariq gostou da expressão embaraçada no rosto de seu irmão e 
esforçou-se para não rir das palavras do filho. Não sabia que o 
menino conhecia detalhes do caso, mas era a mais pura 
realidade. 
Então, flagrou Crystal observando Rafiq e perguntou-se o que 
ela estaria pensando. 
- Como todas as mulheres que Rafiq conhece, a antiga babá se 
apaixonou por ele. Só que as atitudes da moça não a levaram ao 
resultado que tinha em mente. 
Crystal arregalou os olhos. 
- Acho que posso adivinhar o que era esse resultado, uma vez 
que estou aqui e ela não. 
- Demissão instantânea - confirmou Rafiq. - E tive de convencer 
o rei a não degolá-la. 
Hana deu risada. 
- Você está mentindo de novo, tio! 
- Sim, minha pequena. Seu tio é mentiroso - concordou Fariq. - 
Ele alega ter tentado recusar os assédios dela. 
- E foi o que fiz - protestou Rafiq. - Muito inocente, entrei em 
meu quarto e lá estava ela. Eu me virei e saí na mesma hora. 
Papai acreditou em mim. 
- O rei não estava interessado em explicações - Fariq se dirigia a 
Crystal. - Ordenou que meu irmão desistisse de flertar com as 
empregadas, achasse uma esposa e se acomodasse. As palavras 
exatas dele foram: "Não quero justiça, apenas paz e 
tranqüilidade". 
- Posso entender por quê. . 
- Mas ainda havia a necessidade de encontrar uma outra babá. 
Uma vez que a mãe dos gêmeos morrera. O pensamento foi 
seguido por uma familiar onda de raiva. A falecida esposa ainda 
tinha o poder de deixá-lo zangado. 
- Eu estava em negociações para trazer um hotel e uma famosa 
loja de departamentos para EI Zafir, por isso pedi a tia Farrah 
que fosse até uma conhecida agência de empregos em Nova Y 
ork. 
Fariq não discordara da estipulação do pai. Para ser franco, 
achara uma ótima idéia acrescentar "mulher comum" à lista de 
exigências. Não desejava lidar com uma pessoa que escondesse 
um coração palpitante e exibisse a face de um anjo. Uma vez 
fora o bastante. 
Por isso, decidira que Crystal preenchia à risca as exigências do 
rei. E seus filhos tinham um olhar afiado, decidiu, orgulhoso. 
Os óculos dela eram mesmo muito grandes e feiosos, mas não 
podiam esconder os belos olhos verdes. Olhos de gato. 
Brilhavam com inteligência e humor. E o pouco da pele do rosto 
que ficava exposta parecia bem sedosa. 
Os cabelos eram loiros, e o estilo severo do penteado escondia 
qualquer atrativo que Crystal pudesse ter. A saia azul marinho 
larga e comprida estava coberta por um blazer, que Fariq 
desejou que fosse um pouco mais curto e mais bem cortado, 
para que tivesse uma idéia melhor do corpo dela. Os tornozelos, 
que podia ver, mostravam grande potencial para o resto das 
pernas escondidas. 
O sheik foi obrigado a admitir que estava um pouco curioso dos 
contornos daquela jovem. Mas a curiosidade matou o gato... 
Deveria, sim, era estar agradecido pelos trajes conservadores 
que restringiam sua visão. Porque precisava de uma babá, e sua 
tia garantira que Crystal era perfeita. 
Tinha de concordar. Gostara de sua maneira direta e franca. Ela 
falava o que estava pensando. O que ele achava ótimo. 
Então havia o senso de humor, que Fariq notara na conversa 
entre eles. Era evidência de um raciocínio vivaz e rápido. 
Descobriu que gostava de Crystal, e a constatação era um aviso. 
Que optou por negligenciar. Aquilo apenas significava que a 
interação deles em relação às crianças seria mais eficiente. 
Concordava com a tia. Crystal parecia perfeita. Exceto por um 
pequeno detalhe: o sorriso. Fariq o vira poucos minutos antes, 
quando os lábios dela se levantaram, revelando dentes brancos 
magníficos numa expressão adorável. 
Quando Crystal tornara a sorrir, dessa vez carinhosamente, 
para Hana, Fariq experimentou uma estranha sensação no 
peito. Tentou reprimi-la quando ouviu-lhe a voz macia e 
melodiosa. Crystal irradiava calor humano. Algo importante 
para os filhos dele. Nada mais importava. 
Crystal abaixou-se para olhar direto para a criança. 
- Hana, concordo com seu pai sobre não delatar, mas também 
me lembro de como é gostoso provocar um irmãozinho, não é? 
- Você tem um irmão? - Rafiq quis saber. 
- Quatro. - Crystal se endireitou. - Sou a mais nova. E tenho 
vergonha de admitir que cansei de delatá-los, em minha 
infância. 
Fariq a olhou. 
- Como eles lidavam com isso? 
- Nada bem. Mas não havia muito que pudessem fazer. Meu pai 
ordenava que eles não encostassem a mão em mim."Não se bate 
em garotas", dizia sempre. 
- Um homem que bate em mulher é um animal irracional. 
- Seu pai é, sem dúvida, um senhor honrado. O que fez com que 
criasse uma filha honrada. Em meu país não há tolerância para 
abusadores de mulheres. A transgressão é punida com 
severidade. 
- Assim como mentiras e seduções - acrescentou Rafiq. 
Fariq pensou ter visto a linda pele de Crystal empalidecer. 
Por isso, virou-se para o irmão e indagou: 
- A que se refere? Suas mentiras e seduções colocaram a última 
babá no olho da rua. 
- Sou honrado e só falo a verdade, Fariq. Não sei por que papai 
me responsabiliza pelo comportamento abomináveldaquela 
moça. Não foi culpa minha. 
Bem, talvez não tivesse sido mesmo. Como poderia evitar que as 
mulheres o achassem charmoso? 
Rafiq fitou Crystal. 
- Você acha que sou do tipo que pode ser desonesto? 
- Mal o conheço... - Ela arregalou os olhos quando se deu conta 
de sua resposta. - O que eu quis dizer fo.. 
- Esqueça isso, Crystal. Não há necessidade de tentar consertar. 
Sua primeira resposta para meu irmão foi precisa. 
- Então tente me conhecer. - Rafiq piscou. - No jantar desta 
noite. A família toda estará lá. 
"Lá vai ele de novo", pensou Fariq. "Sempre jogando charme." 
Mas por algum motivo, a atenção do irmão em relação a Crystal 
o perturbou. Seria a inocente observação dela sobre a ordem de 
amor, casamento e filhos? Que coisa! Crystal era ingênua 
demais para lidar com os flertes de Rafiq. 
- Sim, por favor! - Hana juntou as mãos num gesto de súplica, 
dirigido a Crystal. 
Fariq conhecia a filha. A garotinha, que não costumava confiar 
com facilidade, aceitara bem aquela mulher. 
- Titio está certo. Você deve conhecer a família. O jantar é às 
sete. 
- Está bem, querida, obrigada. 
Ela respondeu de pronto, mas Fariq teve a impressão de que 
sua mais nova funcionária parecia ter sido sentenciada à 
decapitação na praça Casbah. 
E decidiu que descobriria o motivo disso. 
CAPITULO II 
Fazia quatro horas que Crystal deixara a ala de negócios do 
palácio, pálida e apavorada, após receber o convite para jantar 
com a família real inteira. 
Nesse momento, estava sentada à mesa deles, perguntando se 
conseguiria enganar a todos com seu disfarce. Afinal, Rafiq 
mencionara sobre degolar a última babá! Ele parecera estar 
brincando, mas muitas verdades eram ditas em brincadeiras. 
- Acho que a nova babá é uma fraude. - A princesa Farrah a 
estudava. 
Crystal ficou paralisada e sentiu o sangue gelar. 
- Perdão? - disse, esforçando-se para olhar para a princesa. . 
- Você está tão calada, tão diferente da jovem cheia de 
vivacidade que conheci em Nova York... 
Certo. O humor da família real surgia através do exagero. 
- Segundo minha mãe, quando não se tem certeza do que dizer, 
é melhor ficar calada. 
- Uma mulher sábia, sua mãe - comentou o rei Gamil. 
- Sim, Majestade, ela é. - Crystal notou que o rei a observava. 
Ele devia ter por volta de cinqüenta e cinco anos. Era ainda 
muito bonito, e o brilho prateado nas têmporas lhe dava um ar 
distinto. 
Vicki Rawlins, a mãe de Crystal, teria adorado jantar com a 
fann1ia real de EI Zafir. Casada e mãe antes de se despedir da 
adolescência, Vicki costumava verbalizar os arrependimentos de 
nunca ter experimentado a vida fora da cidade de Pullman. 
Depois que Crystal se formou na faculdade, seus pais se viram, 
enfim, na posição de realizar as viagens com que Vicki sonhara 
por tanto tempo. Mas o destino não cooperou, contrariando 
todos. O devastador acidente de carro de sua mãe fora seguido 
por uma recuperação cara, lenta e dolorosa. 
Apesar disso, ou talvez por causa disso, Vicki encorajou Crystal 
a fazer tudo o que tivesse vontade, antes de se casar e construir 
uma família. E ficou felicíssima quando descobriu que a filha 
conseguira aquele emprego. Isso e o salário generoso eram as 
razões pelas quais Crystal estava tão determinada a fazer 
daquela experiência profissional um sucesso. 
Fracasso não era uma opção. 
- O fato de você estar tão quieta significa que não está se 
divertindo conosco? 
- Pelo contrário, Majestade. Nunca tive um jantar tão 
maravilhoso. 
Todos os presentes notariam que seus nervos se achavam à flor 
da pele? 
- Fico satisfeito que esteja gostando da refeição. - Gamil colocou 
o garfo de ouro sobre o prato. 
- E a companhia é ímpar, também. 
Crystal via que os filhos do rei tinham herdado a bela e distinta 
aparência do pai. Durante o coquetel antes do jantar, ela 
conhecera o príncipe Kamal, o mais velho dos irmãos. 
Como os outros, ele era alto, moreno e lindíssimo. Embora, em 
sua humilde opinião, Fariq fosse de longe o mais formoso. 
Mas qualquer um podia ver a beleza da família real de EI Zafir, 
o que era, sem dúvida, um dos motivos de sempre aparecerem 
nos jornais. 
A princesa Farrah era irmã do rei, e parecia preencher o posto 
de pulso feminino forte para o viúvo. A idade dela era impossível 
de adivinhar. Podia ter de quarenta a sessenta anos. Era 
fabulosa, com seus cabelos escuros e curtos, penteados em 
estilo refinado, e num caríssimo vestido Chanel azul-celeste. Os 
olhos pretos eram enormes e expressivos. A princesa Johara, a 
única filha do rei, tinha dezessete anos. Era uma garota 
adorável, com grandes olhos negros e semblante delicado. 
Sentou-se do mesmo lado da mesa que Crystal. Hana estava 
entre elas, com Nuri a sua frente. 
- Não posso evitar sentir que existe um outro motivo para sua 
timidez - comentou Fariq. - Algo que não seja cautela. 
- Verdade? 
- É possível que esteja estranhando o novo ambiente, Crystal? 
- De modo algum... 
Crystal nascera e fora criada numa cidade pequena. Aquela 
noite, seu ambiente incluía a família real inteira de um país 
distante, rico em petróleo. Estava em uma sala preenchida com 
os móveis mais caros que já vira. Velas brilhavam em castiçais 
de cristal presos na parede, e o perfume das flores dava graça à 
mesa de jantar, assim como numerosos arranjos dispostos de 
forma artística nas laterais. A toalha que cobria o tampo devia 
custar mais do que seu salário mensal. Era natural que não se 
achasse adequada àquilo tudo. 
- Agora que você mencionou, Fariq, estou mesmo um pouco 
intimidada. 
- Por favor, não fique - pediu a princesa Farrah. - Somos apenas 
pessoas normais. 
- Defina "normal". - Crystal riu. -Alteza, minha família nunca 
teve um coquetel antes do jantar. E para as refeições 
costumamos vestir camiseta, jeans e tênis. 
Olhou para seu vestido marrom deselegante e suspirou. 
Mesmo se soubesse antes qual era o traje apropriado, não 
poderia ter usado nada belo. 
A seu lado, Hana escorregou da cadeira e foi para debaixo da 
mesa pegar o guardanapo que caíra de seu colo. 
O rei franziu o cenho e pigarreou. 
- Talvez sejamos um pouco mais formais do que uma família 
média. Porém, concordo com Farrah: relaxe e seja você mesma. 
Posso dizer que minha irmã fez um trabalho admirável ao 
contratá-la. Creio que será uma babá esplêndida para Nuri. E 
talvez para Hana, se ela resolver sair de debaixo da mesa. 
A garota pôs uma mão na boca para reprimir uma risadinha e 
fitou Crystal. Depois de piscar para a menina num gesto de 
cumplicidade, ela deu um tapinha na cadeira a seu lado, e a 
criança voltou a se sentar. 
- Obrigada, Majestade. Aprecio sua aprovação. - E sorriu para o 
rei. 
A adrenalina começava a se acomodar, depois de ter, pelo que 
tudo indicava, alcançado êxito com seu disfarce. Até aquele 
momento, tudo ia bem. Ninguém vira através dos horrorosos 
óculos e das roupas de mau gosto. Devia ficar radiante, alegre. 
Mas não estava. E aquilo a confundia. 
- Posso perguntar onde você estudou? - Kamal quis saber. 
Ele era mais sério que os irmãos. Rafiq era amigável e 
charmoso, Fariq, tranqüilo e sério, embora tivesse revelado 
traços de humor sob o exterior reservado. Mas ela ainda não 
vira Kamal dar um único sorriso. 
- Na Universidade de Washington, Alteza. 
- Que curso fez? 
- Pedagogia. E depois me especializei em comportamento 
infantil. 
- Que outros atributos a qualificam para cuidar de meus 
sobrinhos? 
Crystal olhou para Fariq e teve certeza de que havia uma ponta 
de divertimento no semblante dele. "Lá vamos nós de novo. 
Outra entrevista. A terceira!" 
- Trabalhei durante a faculdade, cuidando de crianças para 
famílias distintas durante as férias de verão e inverno. Todas as 
minhas referências estão no currículo, que dei à princesa 
Farrah. 
- Vou dar uma olhada nelas. 
Crystal se perguntou se aquelas pessoas alguma vez se 
comunicavam entre si. Então, não pôde resistir a uma questão e 
olhou ao redor: 
- Há mais alguém que queira me entrevistar e se certificar de 
que sou qualificada? 
A princesa Farrah sorriu paraela. 
- Não deixe que os homens Hassan a assustem, minha querida. 
O cargo é seu desde que a contratei em Nova York. Meus 
sobrinhos apenas são curiosos demais e querem manter a pose. 
Fariq depositou o copo de água de cristal sobre a mesa. 
- Não é questão de curiosidade. Estamos falando de meus filhos. 
- Concordo. E os meninos são muito amados por mim também. 
A agência de Nova York tem reputação ilibada. Com a ajuda 
deles, conduzi uma pesquisa meticulosa para encontrar a babá 
perfeita. Hana e Nuri estarão em excelentes mãos. Crystal é 
uma jovem admirável. 
- O tempo dirá - disse ele. 
Crystal achou que as palavras de Fariq, e sobretudo seu 
cinismo, continham desafios ocultos. Contudo, antes que 
pudesse pensar naquilo, Johara se dirigiu ao pai. 
- Quero ir a Nova York. 
- É apenas uma cidade - afirmou o rei, dispensando o 
comentário. - Você está muito mais segura aqui. É sua casa e o 
lugar ao qual pertence. 
- Não quero estar segura. Não quero pertencer a algum lugar. 
Quero experiências novas. Gostaria de viver minha vida sem 
todos me dizendo... 
O rei balançou a mão, impaciente. 
- Bobagem, Johara. Está na hora de abandonar seus sonhos 
tolos. 
- Não são sonhos tolos! 
- Basta - decidiu o rei. - Não quero mais ouvir sobre suas 
fantasias de adolescente. Não fale mais nesse assunto! 
A jovem o encarou, furiosa, mas o obedeceu, calando-se. 
Entretanto, a hostilidade irradiava dela em ondas quase 
tangíveis. 
Crystal não podia culpá-la. Sabia que Gamil era conhecido 
como um monarca que ouvia as necessidades de seu povo e os 
guiava o melhor possível. Mas se não começasse a ouvir e 
prestar atenção ao que acontecia embaixo do próprio teto, as 
coisas poderiam ficar ruins. 
EI Zafir podia estar localizado do outro lado do mundo em 
relação aos Estados Unidos, mas Crystal apostava que os 
adolescentes de lá compartilhavam os mesmos desejos, 
necessidades e características. E um desses desejos era ser 
valorizado e levado a sério, sem mencionar perseguir a 
felicidade... e independência. 
- Conte-me, Crystal, tem algum partido político de sua 
preferência em seu país? 
Embora ela tivesse vontade de sacudi-lo e dizer-lhe para 
perguntar à filha quais eram suas crenças, conteve-se. 
- Sim, Majestade. Sou uma republicrata. 
Todos se calaram, e Crystal sentiu seis pares de olhos sobre si. 
Teriam sido oito, mas as crianças se moviam nas cadeiras, 
brincando de se esconder atrás do guardanapo. Era só uma 
questão de tempo antes que ambos desaparecessem debaixo da 
mesa. 
- Republicrata? - Fariq franziu o cenho. - Estudei a política 
americana, mas nunca ouvi falar desse partido. 
- Ninguém mais ouviu. Tem apenas um membro: eu. 
Basicamente tiro o melhor dos democratas e dos republicanos, e 
voto conforme minha consciência. 
- Ah! Dança conforme a música. 
"Mestiça, vira-lata. É assim que ele deve estar me vendo." 
- Isso mesmo. 
- Cruzamento de raças em política. - O rei achou graça. 
- Isso demonstra responsabilidade e inteligência. Você não 
apenas segue como um carneirinho. É uma mulher capaz de 
pensar por si mesma. 
- Essa sou eu, Majestade. Cruzamento de raças em política e 
ancestralidade. Não tenho pedigree. 
- Graças a Deus - opinou Rafiq, a expressão séria. - Tenho 
muita experiência com cavalos, e os puros-sangues dão muito 
problema. 
- Concordo com você, Rafiq. Sempre dei preferência aos cães 
vira-latas. Eles são doces, menos complicados e muito mais 
fiéis. 
- Sim. - Fariq tomou um gole de champanhe. - E as pessoas se 
parecem muito com os animais, nesse quesito. 
Crystal enrubesceu. Era possível que ele tivesse lido seu 
pensamento? Entendera que ela se referira ao fato de que o 
pedigree da família real podia torná-lo uma criatura aborrecida? 
- Não tenho certeza se entendi sua colocação, Fariq. 
- Cavalos puros-sangues podem ser difíceis e exigentes. Nada 
diferente de meus próprios filhos. Pedi alguém com inteligência, 
energia e qualidade para orientá-los. Uma coisa que não 
discutimos são seus pontos de vista sobre a educação de 
crianças. 
- Eu ficaria feliz em lhe expor minha filosofia quando você 
quiser. 
- Que tal agora? 
- Certo. Isso poupará tempo, já que todos estão aqui. O que 
gostaria de saber? 
- Qual sua opinião sobre castigo? - Fariq pôs o guardanapo de 
linho ao lado do prato. 
- Sou a favor, mas acho que a punição deve ser proporcional à 
falta. 
Naquele momento, a pequena Hana, sem querer, empurrou o 
prato com o cotovelo, batendo-o no copo, que caiu e se quebrou, 
espalhando água na toalha. 
- Oh, Bá! - exclamou a menininha, escondendo o rosto no 
ombro de Crystal. 
Ela pôs o braço em volta da criança. 
- Não se preocupe, querida. Acidentes acontecem. 
- Johara! - O rei, severo, lançou um olhar zangado para a filha, 
enquanto um empregado se apressava em limpar a mesa. - As 
crianças são sua responsabilidade esta noite. Faça com que se 
comportem! 
- Mas, papai, eles já estão sentados há muito tempo! 
- Leve-os para os quartos. 
- Com prazer. - A princesa se ergueu. - Hana, Nuri, venham 
comigo. 
Crystal deu um abraço rápido na garotinha antes de deixá-la ir 
com sua tia adolescente. Depois que eles se foram, um silêncio 
estranho preencheu o ambiente. 
Fariq pigarreou. 
- E que punição daria para essa falta? 
- Em primeiro lugar, isso não foi uma falta, mas um acidente. 
Se Hana tivesse feito de propósito, seria diferente. Em segundo, 
concordo com a princesa Johara. Crianças de cinco anos 
agüentam mais ou menos quarenta e cinco minutos sem 
atividade. E Hana e Nuri passaram disso com louvor. Ficaram 
sentados até agora, e precisavam de espaço para serem 
crianças. 
- O que você teria feito? 
- Eu já os teria levado para o quarto e começado a rotina de 
colocá-los para dormir. 
- Mas eles fazem parte da família real- protestou o rei. 
- Crianças da família real, Majestade, e não pequenos adultos. 
Conforme forem amadurecendo, serão capazes de lidar com as 
exigências das circunstâncias. No entanto, têm , apenas cinco 
anos. 
- Mas Johara... 
- Perdoe-me, Majestade. A princesa não teve culpa. Controlar 
garotos de cinco anos não é uma tarefa fácil. 
- Crystal, você tem toda razão - interveio a princesa Farrah, com 
delicadeza. - Alego ignorância na arte da educação de crianças, 
uma vez que não sou mãe. Gamil também não é nenhum 
especialista, uma vez que seus quatro filhos foram criados por 
babás e em colégios internos. Eu sabia que você seria perfeita 
assim que a conheci. 
- Obrigada, Alteza - Crystal agradeceu e, quando olhou em 
volta, viu que todos os homens Hassan concordavam com as 
palavras dela. Experimentou uma grande satisfação. 
Em geral era sua aparência o que a fazia ser notada. Na 
realidade, quase se casara com um rapaz que decidira que ela 
seria a esposa certa para desfilar ao lado de um advogado na 
escalada do sucesso. Ele lhe dissera para manter os 
pensamentos para si mesma, endireitar a coluna e sorrir 
lindamente. Crystal o mandou procurar outra pessoa. 
Era gostoso ser levada a sério por seu cérebro privilegiado. 
Naquele emprego, sua aparência era na verdade um obstáculo a 
transpor. Mas o tremor de alegria que lhe percorreu a espinha 
quando descobriu que Fariq a olhava com intensidade fez com 
que desejasse um pouquinho de batom, rímel e roupas 
elegantes. 
Entretanto, não dava para ter as duas coisas. Até que, 
passando algum tempo, conseguisse convencer aquelas pessoas 
de que era mais do que adequada para cuidar dos filhos de 
Fariq, seria forçada a manter o segredo. 
- Por que você não tem filhos, meu bem? 
Fariq resolveu se adiantar: 
- A srta. Rawlins acredita em amor, casamento e filhos, titia. 
Nessa ordem. 
- Sei. E você ainda não encontrou um homem que faz seu 
coração bater mais rápido? 
Contra a vontade, o olhar de Crystal foi para Fariq. Rápido, ela 
se desviou. 
- Não, Alteza. Quase fiquei noiva uma vez, mas... 
- Quase? - Fariq quis saber. - E agora? 
- Ele está fora de minha vida. - Deu de ombros, Crystal 
começava a se sentir no banco da inquisição espanhola. 
- Quer dizer que, para esquecer a dorda separação, aceitou este 
cargo longe de seu país? - inquiriu Kamal. 
- Desde que eu era garotinha, minha mãe me treinou para 
experimentar o mundo antes de assumir responsabilidades 
maiores. 
- Treinou? Interessante escolha de palavras. - Fariq arqueou 
uma sobrancelha. 
- Tenho quatro irmãos, que seguiram o exemplo de meus pais, 
casando-se jovens e iniciando família em seguida. Sou a única 
que não fez isso, portanto, a grande esperança de minha mãe é 
que eu siga os passos que ela não pôde dar. Pretendo deixá-la 
orgulhosa. 
- Então o conselho de sua mãe é nossa sorte. 
- Espero que continue pensando dessa maneira, Fariq. 
- Ela tirou os óculos por um momento e esfregou o nariz no 
local ardido onde eles se apoiavam. 
A princesa Farrah inclinou-se em sua direção. 
- Crystal, você precisa mesmo usar isso? 
A pergunta a pegou de surpresa. Quando achava estar segura 
para baixar a guarda, algo inesperado surgia. Assim, pôs logo os 
óculos de volta. 
- Por que, Alteza? 
- Porque seus olhos são lindos. E sua pele é maravilhosa. Pelo 
que posso ver, você não está usando nada de maquiagem.. 
- Não. - Crystal suspirou. - Fico cega como um morcego sem 
óculos. Miopia com astigmatismo. - Pelo menos aquilo era 
verdade. - Sem eles, não poderia enxergar do outro lado da 
mesa. 
- Que pena... Sem esses óculos você poderia ser bem bonita. Já 
pensou em usar lentes de contato? 
- O que isso importa? - Fariq se irritou. - Ela é boa como está. 
Beleza é uma qualidade supervalorizada, e para mim, inútil. 
Rafiq apoiou os cotovelos sobre a mesa. 
- Não me diga que meu irmão prefere as feias! 
- Eu não disse isso. 
- Se beleza não mexe com você, quais os atributos femininos 
que acha excitante? - Kamal sorriu de leve. . 
- Honestidade - Fariq afirmou sem hesitação. 
De todos os atributos que ele poderia ter nomeado, aquele era o 
que Crystal não poderia dizer que tinha. Ao menos não cem por 
cento. 
Fariq era muito considerado por toda a alta sociedade. Seu 
nome esteve ligado a algumas das mulheres mais lindas do 
mundo. Mas dizia estar mais interessado em sinceridade do que 
em beleza. Aquilo a aturdiu. 
Por isso, falou a única coisa em que pôde pensar: 
- Minha mãe sempre diz que beleza não se põe na mesa. Mas 
que ninguém gosta de comer no chão. 
Todos riram, e Crystal ficou feliz por ter conseguido quebrar o 
clima tenso. Só esperava que a princesa Farrah parasse de 
querer melhorá-la. Sobretudo porque ela era mulher, e 
mulheres não podiam resistir a ficar mais belas. E não era uma 
super-heroína. Não tinha cartas dentro da manga para 
preservar seu ego alterado. Mas também não queria imaginar o 
que poderia acontecer se Fariq descobrisse que podia ficar 
esplêndida se quisesse. 
CAPITULO III 
Fariq jogou o documento que tinha em mãos sobre a mesinha 
de centro de sua suíte. Quanto mais tentava se concentrar no 
trabalho, mais pensava na nova babá de seus filhos. Descobrira 
que Crystal era uma curiosa mistura de força e inteligência. 
Jurara nunca mais se deixar levar por um rosto bonito. 
Estava quebrando seu juramento pensando nela daquele jeito? 
Crystal não era o tipo de garota maravilhosa com as quais se 
envolvia. Mas achava-a agradável e surpreendente. 
Olhou para as portas francesas abertas para a varanda quando 
um barulho do lado de fora chamou-lhe a atenção. 
Levantando-se do sofá, foi até lá e espreitou. Apesar das muitas 
nuvens que cobriam a lua, avistou uma figura encostada contra 
o parapeito da varanda, do lado de fora dos quartos em que 
seus filhos dormiam. 
- Olá - Fariq cumprimentou. 
Crystal virou-se ao som da profunda voz e levou a mão ao peito. 
- Que susto! Achei que estivesse sozinha. 
- E estava. Mas ouvi um ruído e saí. Esta varanda vai até minha 
suíte... todos os dormitórios são conectados por ela, e daqui 
podemos ver o mar. Minha suíte é aquela. - E apontou. 
- Só vim tomar um pouco de ar. Perdoe-me se o perturbei. 
- Você não me perturbou, Crystal. 
Na verdade, ela o perturbara antes mesmo de descobri-la na 
varanda. O sheik notou que os cabelos de Crystal não estavam 
mais puxados naquele estilo severo, e a brisa do Mar da Arábia 
soprava mechas em seu rosto. Apesar da parca luz, podia ver 
que os fios batiam um pouco acima da cintura. 
A maioria das mulheres contemporâneas não usava cabeleira 
tão longa. Porém, Crystal não era uma mulher da moda. 
Os cabelos eram lindos, mas a tentação de correr os dedos 
através deles o incomodou. 
Conforme a visão se ajustava à escuridão noturna, Fariq notava 
mais alguns detalhes que fizeram seu pulso acelerar. 
Crystal vestia uma camisola de seda branca e renda, com uma 
gola alta e discreta. De alguma maneira aquilo era muito 
erótico. 
Ela não pusera um robe. Porque acreditava estar sozinha? 
A vida com sua esposa o ensinara a questionar tudo. Por isso, 
perguntou-se se Crystal não sabia mesmo da presença dele ali, 
ou se tinha algum plano arquitetado. No entanto, a maneira 
como se encolhia complementava sua imagem virginal. 
Fariq se aproximou o bastante para inalar o perfume sedutor da 
pele feminina. 
- É melhor eu entrar. Está tarde. 
Ele adorou sua entonação um tanto rouca. 
- Claro, você ainda está se ajustando ao fuso horário. Deve estar 
cansada. 
- Não sei por que não tenho conseguido dormir. 
- Nesse caso, fique, por favor, Crystal. Faça-me companhia. 
O que o fez pedir aquilo? Não era nada sábio solicitar a 
companhia de uma mulher. De nenhuma mulher. O que havia 
de especial em Crystal que mexia com seu bom senso? 
- Está bem. 
Quando ela concordou sem demora, Fariq decidiu que bastava 
daquela bobagem. Crystal era a babá de suas crianças, e era 
sobre isso que tinham de conversar. 
- Hana e Nuri... estão dormindo? 
- Sim, como anjinhos. 
- Quero agradecer-lhe por tê-los defendido no jantar desta noite 
perante o rei. 
- Não há necessidade, Fariq. Eles estavam se comportando 
como qualquer criança de cinco anos, e não fizeram nada de 
errado. Seu pai tem quatro filhos. Deveria entender isso. 
- Faz muito tempo que crescemos e, como minha tia contou, 
papai entregou nossos cuidados a outros. 
Óbvio. Porque se mantinha ocupado dirigindo o país. Ainda 
encostada contra o parapeito, Crystal cruzou os braços. 
- Como pai deles, era eu quem deveria tê-los defendido. 
- É difícil saber qual o comportamento típico da idade quando 
não se é treinado para cuidar de crianças. 
- Obrigado por estar tentando me compreender. 
Os dentes muito brancos brilharam quando ela sorriu. 
- É apenas a verdade, Fariq. A maioria dos pais trabalha e só vê 
os filhos à noite. É a babá quem acaba conhecendo melhor 
quando eles estão tentando testar os limites dos adultos e 
trapacear. 
- A realidade é que meus filhos devem ser preparados para 
padrões diferentes daqueles das crianças da mesma idade deles. 
- Mas ainda são crianças - ela protestou. 
- Crianças da família real. Hana e Nuri sofrerão muito mais 
cobrança por causa de quem são. 
- E isso poderá desviá-los do caminho certo se não estiverem 
preparados. 
- É trabalho seú certificar-se de que isso não aconteça. 
- E darei o melhor de mim. Mas os dois também precisarão da 
orientação de alguém que viva a mesma realidade. 
- Alguém como o pai? 
- Sem dúvida. E os tios. Johara tem muito jeito com os 
pequenos, uma compreensão instintiva. 
- Assim como você. 
A aproximação sensível e protetora dela em relação a seus filhos 
o agradara muito. 
- Obrigada. - Crystal pigarreou. - Estava pensando sobre... o 
porquê... 
- Sim? 
- Bem, não posso deixar de me perguntar o que aconteceu com 
as outras babás. Por que cinco em um ano? 
- É sábio conhecer os erros dos-outros a fim de evitá-los. 
- Cometerei erros novos - brincou. 
- Vamos esperar que não sejam ofensas que a levem a ' ser 
degolada. ' 
- Vamos esperar que você esteja brincando. 
- Estou. - Fariq riu. - Bem, sobre a última babá você já sabe. 
- Sei. Posso garantir que não aparecerei na cama de ninguém 
sem ser anunciada. 
- É muito bom ouvir isso. - Embora uma parte dele não 
estivesse muito confortada. - Uma foi por saudadede casa. Da 
outra, as crianças não gostaram, e a que veio depois, eu não 
gostei. E a última... 
O sheik ia falar, mas o modo como os cabelos longos de Crystal 
balançaram com o vento o distraiu. 
- Sim? 
- A última fugiu com o chofer. 
- Então a vida do palácio é muito parecida com uma novela. 
Posso ver por que o rei não quer mais confusão. - Ela deu 
risada. Um som adorável que havia muito tempo Fariq não 
escutava; pelo menos não lá, na varanda de sua suíte. Não 
ficava ali com uma mulher desde muito antes de sua esposa ter 
partido. 
A vivacidade do riso de Crystal era também divergente de sua 
palidez quando concordara em jantar com a família real. 
Nesse instante ele se dava conta de que ela apenas achara a 
perspectiva estressante. Mas conseguira disfarçar o tremor 
quando dissera o que pensava ao rei. E aos irmãos dele. 
- Espero que o jantar não tenha sido uma experiência muito 
difícil para você, Crystal. Quando Rafiq insistiu no convite, 
pareceu-me que estava indo para a forca. 
- Foi mais fácil do que eu esperava. 
- O que achou de minha família? 
- Eles me lembram a minha. Para ser franca, eu estava nervosa 
porque pensei... 
Ele se inclinou contra o parapeito, apenas longe o bastante para 
evitar roçar o braço no dela. 
- O quê? 
- Não deve ser apropriado que eu diga. 
- Sou eu quem está pedindo. Prometo não usar suas palavras 
contra você. 
- Como se eu acreditasse nisso... 
- Duvida de mim? 
- Sem dúvida! 
O sheik se endireitou e olhou fixo para ela. 
- Sou um príncipe de EI Zafir e jurei honrar o nome Hassan. Se 
eu não for sincero, a fúria de mil tempestades de areia poderá 
descer sobre mim. 
- Nossa! Você tem um dom para o drama. - Crystal suspirou. - 
Eu ia dizer que estava nervosa por conhecer todos os parentes 
ao mesmo tempo, porque achei que a riqueza os tornavam 
diferentes. 
- Esnobes? 
- Palavra sua, não minha. Mas me enganei. São seres humanos 
como quaisquer outros. Amam, respeitam e provocam um ao 
outro. 
- Posição social e fortuna não deveriam alterar a natureza 
básica, o caráter e a decência de uma pessoa. 
- Concordo. Todos fizeram com que eu me sentisse à vontade e 
bem-vinda. Até mesmo Johara, que é uma típica adolescente, 
sedenta por aventura, e aberta. Embora tenha se calado quando 
foi ordenada a fazê-lo, coisa que uma adolescente em meu país 
dificilmente faria. 
- Isso é porque aqui o fato de não calar poderia resultar em 
perder a língua. 
Crystal arregalou os olhos. 
- Está brincando, não está? 
- Sim. 
Crystal deu risada. 
- Ainda bem. De qualquer modo, a princesa Johara é 
maravilhosa com os gêmeos. 
- As crianças adoram minha irmãzinha. 
- Sorte sua. Assim, pôde contar com ela durante os intervalos 
entre as babás. 
- Talvez, mas Johara é teimosa e rebelde. 
Muito parecida com a mãe das crianças, e isso abalava a paz 
interior dele. 
- Ela vai crescer e superar. 
- Espero que tenha razão, Crystal. Mas, enquanto iss os garotos 
seguem o exemplo dela. Fico preocupado que iss possa ser 
desfavorável. 
- Tenho certeza de que sua ansiedade é exagerada. 
- Tomara. Entretanto, é uma felicidade que você tenha chegado 
para cuidar deles. Hana e Nuri a aceitaram de imediato. Além 
disso, meus instintos me dizem que você é honesta, firme e 
sensível. 
- Eu não fugiria com o ouro da família real, se é o que você quer 
dizer. 
- Não me referi a isso. Seu passado foi bastante investigado. 
- Imagine se não seria. 
- Como qualquer um que trabalha no palácio. Tia Farrah 
afirmou que não havia nada inesperado no relatório final. 
- Ela disse mais alguma coisa? 
- Só que você era perfeita para mim. Isto é, para o cargo. 
- É bom saber. - Crystal andou até as portas francesas e a luz 
do quarto iluminou-lhe os lábios carnudos. - Agora se me dá 
licença, creio que vou descansar. Amanhã assumo as tarefas 
com os meninos por período integral. Boa noite, Fariq. 
Crystal tirou a louça do desjejum da mesa da suíte de Fariq e 
começou a enxaguá-la para colocá-la na máquina de lavar. 
Fingir que aquilo era um apartamento de luxo em vez de um 
dos muitos quartos do palácio a fazia se sentir mais confortável. 
A cozinha não era tão enorme quanto a principal do palácio, 
mas era equipada com os mais modernos eletrodomésticos. 
Havia um balcão central com fogão e espaço para trabalhar com 
os alimentos. 
Ao enxaguar as travessas, ocorreu-lhe que passara a marca de 
seis semanas em EI Zafir e amara cada minuto. Hana e Nuri 
pareciam estar se adaptando bem à rotina estruturada que ela 
organizara para eles. 
Fariq passara a maior parte do tempo viajando, o que a 
intrigou. A primeira das muitas viagens de negócios aconteceu 
na manhã seguinte à conversa deles na varanda. A observação 
casual do príncipe sobre o passado dela ter sido investigado a 
fizera correr de perto dele. Mas depois, mais calma, Crystal se 
deu conta de que se alguma coisa problemática tivesse sido 
descoberta não a teriam contratado. 
Sabia que o sheik viajava muito, mas de alguma forma não 
esperara que ele partisse tão rápido. Acreditou que esperaria só 
se certificar de que as crianças ficariam bem com ela. Sem 
cluvida era um homem ocupado e cheio de responsabilidades, 
mas a maior delas não deveria ser com os próprios filhos? 
Depois daquela noite na varanda, sua intuição feminina ficou 
atiçada. Todas as noites Fariq telefonava e, depois de falar com 
os garotos, mandava chamá-la e pedia um relatório do dia deles. 
As conversas não diminuíram o fascínio de Crystal. Ao 
contrário, aguçaram-no ainda mais. A voz profunda e medutora 
era como uma dose concentrada de sensualidade. 
- Bom dia. 
Lá estava a voz... Deus, aquilo podia acabar sendo perigoso! 
Virando-se da pia, Crystal encontrou os olhos negros. 
- Bem-vindo. Quando chegou? 
- Ontem, tarde da noite. - Ele a fitou de cima a baixo, 
observando a blusa branca simples de manga comprida e a saia 
azul marinho até os tornozelos. - Onde estão os meninos? 
- Lavando o rosto e escovando os dentes para irem à aula. 
Fariq franziu o cenho. 
- O que está fazendo? 
- Arrumando esta louça. As crianças prepararam seu próprio 
cereal. 
- Basta que chame os empregados da cozinha para suprir suas 
necessidades aqui. 
Crystal apoiou as costas no mármore da pia, enxugando as 
mãos no pano de prato. 
- É bom para eles aprender a fazer coisas sozinhos. Isso lhes dá 
um senso de realização. 
- Entendo. 
Se entendia, então por que aquela expressão cômica? 
- Quis que eles tomassem um café da manhã saudável e 
inventei uma combinação de canela, passas, nozes e mel. O dois 
se divertiram ao preparar tudo. 
- Poderia ter chamado os empregados para lavar a louça. 
- Sei disso, mas... - Crystal ajeitou os óculos no nariz 
procurando um modo de explicar. 
- O que foi? Não se lembra de que prometi não usar suas 
palavras contra você? 
Crystal sorriu. 
- Procuro dar a Hana e a Nuri um senso de proporção entre o 
ambiente deles e o resto do mundo, Fariq. Isso faz algum 
sentido para você? 
- Pode apostar. 
- Que bom! Desenvolvi uma rotina balanceada para eles, 
incorporando música e arte com um professor da universidade 
local, assim como leitura, matemática e algumas aulas de 
língua estrangeira, conforme você requisitou. 
Assentindo, o sheik encostou-se no balcão central e cruzou os 
braços. 
- E importante que tenham fluência em vários idiomas. 
- Inglês em primeiro lugar, certo? - Crystal se recordou do 
memorando que recebera por fax. Fariq tinha mesmo os filhos 
como prioridade em sua vida. - Criei alguns jogos para tornar o 
processo divertido. Hana e Nuri mal percebem que estão 
aprendendo. E adoram a escola. Se eu deixasse, acho que a 
freqüentariam sete dias por semana. 
- E por que não deixa? 
Ela o encarou. 
- Questão de equilíbrio. Você também devia ter algumas aulas 
sobre isso. 
- Está querendo dizer que trabalho demais? 
Crystal deu de ombros. 
- Se a carapuça serviu... 
- Pode ser. Enterrei-me muito nos afazeres desde... 
- Desde? - incentivou-o, quando ele parou. 
- Não é importante. 
A conversa foi interrompida por gritinhos vindo da sala de estar.Crystal sorriu. 
- Seus anjinhos chegaram. 
- Papai! - Hana entrou correndo, carregando um panda de 
pelúcia. - Obrigada pelo presente! Adorei! 
- Eu também - disse o irmão, bem atrás dela, com outro 
brinquedo. 
Fariq abaixou-se, abriu os braços e recebeu seus filhos com 
carinho. Os dois eram como pequenas esponjas absorvendo 
cada gota de afeição dele. Crystal desejou que Fariq estivesse 
mais presente. Hana e Nuri precisavam tê-lo por perto. A doce 
cena a deixou com os olhos marejados, e ela se virou para 
acabar de colocar a louça na máquina. 
- A Bá fez cereal para nós, papai - Hana o informou. 
- Eu gostei - acrescentou Nuri. 
- Então ela é uma boa cozinheira? 
- Oh, sim! - responderam em uníssono. 
- Talvez Crystal faça um pouco para mim. 
Haveria um duplo significado nas palavras do sheik? 
perguntou-se Crystal. Era provável que nunca viesse a saber a 
resposta. 
- Ei, vocês dois, está na hora da escola. Terão aula de música e 
artes com a srta. Kelly. Eu os levo. 
- Papai, você irá conosco? 
- Claro, Hana. Senti muita saudade de vocês. - Então, sorriu 
para a filha e olhou para Crystal. 
Teria sentido saudade dela também? O pensamento era 
ridículo, mas inevitável, uma vez que Crystal fora obrigada a 
admitir a si mesma que notara a ausência dele mais do que 
gostaria. Muito mais, para ser sincera. 
O príncipe vestiu o paletó antes de deixarem a suíte e, por 
insistência dos filhos, caminharam os quatro de mãos dadas, 
lado a lado, até a área do palácio preparada para as aulas. 
- Vou desenhar um retrato seu, Bá - Hana falou assim que 
chegaram à porta da sala, onde a professora se encontrava. 
- Eu adoraria. - Crystal abaixou-se e deu um abraço e um beijo 
na menina. - E quanto a você, meu rapazinho? O que fará hoje? 
- Vou aprender uma música para cantar para você. 
- Uma de minhas coisas favoritas! - E ela beijou-lhe a face. 
O sorriso de resposta de Nuri era tão charmoso, tão parecido 
com o do pai, que o coração dela bateu mais forte. Crystal abriu 
a porta. 
- Vejo-os daqui a pouco. 
- Até mais, Bá. 
Os dois entraram na sala, acenando. 
- Vemos você depois, papai. 
A porta se fechou, deixando Crystal sozinha com Fariq. 
Compelida a preencher o estranho silêncio, comentou: 
- Acaba de testemunhar um exemplo de nossa típica manhã, 
Fariq. As crianças sentem demais sua falta. 
- Tanto que desenham e cantam para você. 
Ora, ora... Como podia amenizar o orgulho ferido de um 
príncipe? 
- Apenas porque você ficou fora muito tempo, e eles se 
acostumaram a se reportar a mim. Mas logo voltam ao normal, 
pode esperar. 
- Não quero discutir isso. - Consultou o relógio. - Preciso ir. 
De novo? Crystal se irritou. 
- Vai telefonar para Hana e Nuri esta noite? 
- Por que eu faria isso? 
- É o que faz sempre, não é? 
- Quando estou viajando a negócios. 
- Ah, então não vai deixar o país? 
Por que o coração dela pulsou tão forte? 
- Estou indo para meu escritório. 
Crystal o viu andar em direção à ala de negócios do palácio. 
Ele não ia partir! Uma grande alegria a invadiu, mas ela se 
conteve. Aquele tipo de reação era um desastre para seus 
objetivos. 
Tinha de se concentrar em suas funções. Era hora de verificar 
as lições que as crianças tinham feito na escola. Descendo a 
escadaria, seguiu em direção à ala familiar e parou em frente à 
suíte. Antes de entrar uma criada se aproximou. 
- O que foi, Salima? 
- A princesa Farrah requer sua presença, srta. Rawlins. 
- Obrigada. Já estou indo. 
A suíté da princesa ficava no final do corredor. Crystal já 
estivera lá algumas vezes para compartilhar o chá da tarde com 
a irmã do rei ou para levar as crianças para visitar a tia-avó. 
Seguindo até lá, ia pensando em com que rapidez se adaptar a 
todo aquele luxo. No começo, temia se perder e nunca mais 
achar o caminho de volta. Porém, já se ambientara ao 
gigantesco espaço. 
Parando à soleira, bateu na porta e recebeu permissão para 
entrar. 
O elegante hall de entrada era suntuoso. Ela já entrara em 
todas as suítes da família real, uma vez que as crianças 
visitavam os parentes com regularidade. Era incrível a diferença 
na decoração de cada uma delas. A de Fariq acomodava os 
garotos e era a única com cozinha. Seus irmãos solteiros e o rei 
tinham dormitórios maiores e lindamente decorados. 
No entanto, o da princesa Farrah era o mais elegante de todos. 
O piso era de mármore com uma mesa circular de madeira no 
centro. Em cima, um vaso de cristal sempre com flores frescas, 
que preenchia o ambiente com uma fragrância doce. A sala de 
estar continha obras de arte inestimáveis. 
- Alteza? 
- Aqui dentro, minha querida. 
Crystal foi até ela. 
- Por favor, sente-se, meu bem. Obrigada por ter vindo tão 
rápido. 
- Não tem por quê. - Crystal se sentou no sofá semicircular. As 
portas francesas, abertas agora, davam vista para o Mar da 
Arábia. - O que posso fazer por você? 
- Quero falar sobre Nuri e Hana. Acho... - Uma batida na porta 
a interrompeu. - Entre. 
Passos masculinos decididos soaram no mármore. Em 
segundos, Fariq apareceu. A pulsação de Crystal disparou, e ela 
se retraiu e juntou as mãos no colo. 
O príncipe olhou para as duas e as cumprimentou com um 
aceno de cabeça. 
- Bom dia. 
- Meu sobrinho, obrigada por ter vindo logo. 
- Você disse que se tratava de meus filhos, tia. Acabei de 
deixá-Ios. Espero que não haja nada de errado. 
Crystal sentiu a almofada do sofá afundar-se com o peso. Fariq 
se sentou tão perto que ela não precisaria mover-se muito para 
lhe dar um beijo no rosto. A idéia a pôs atônita. E não melhorou 
quando Fariq a fitou como se tivesse lido sua mente. Um calor 
intenso subiu-lhe às faces. A vida no palácio se tornava muito 
mais simples quando ele viajava. O sheik a atordoou de tal 
forma que ela quase se esqueceu do assunto em pauta. 
- Há algo sobre Hana e Nuri de que não tenho conhecimento, 
Alteza? Sou aberta a sugestões. Não me importo de ouvi-las; 
afinal, você os conhece melhor do que eu e... - Crystal parou de 
tagarelar quando Fariq se aproximou e pôs um dedo sobre seus 
lábios para silenciá-la. Engoliu em seco. 
Ele sorriu. 
- Vamos ouvir o que minha tia tem a dizer. 
- Certo. 
Farrah os encarou. 
- Crystal, sabe andar a cavalo? 
O que aquilo tinha a ver com a história? 
- Cavalguei algumas vezes, mas não diria que tenho grande 
experiência. Isso é um problema? 
A princesa sorriu. 
- De modo algum. Mas creio que é uma habilidade que deveria 
desenvolver. Pelas crianças. 
Era algo que ela sempre quisera fazer. Que conveniente! 
Quando tarefas e sonhos se encaixavam, a vida se transformava 
no paraíso. Não teria nenhum problema com aquilo. A seu lado, 
Fariq assentiu, pensativo. 
- Acho que entendo o que quer dizer, titia. E concordo. Eu 
mesmo ensinarei Crystal a lidar com um cavalo. 
Crystal virou-se para fitá-lo. 
Sim, teria um sério problema com aquilo. 
CAPÍTULO IV 
Sob um lindo céu azul, Fariq estava na frente do estábulo, 
saboreando o ar fresco. Os aromas da areia e do oceano 
misturavam-se com o perfume de jasmim brotando, dando-lhe 
uma sensação de aconchego. 
Com as viagens de negócios, sentira falta do lar, e um passeio a 
cavalo era tudo de que precisava. O exercício beneficiaria o 
corpo, a mente e o espírito. 
Após deixar sua tia, Fariq pedira que Crystal trocasse de roupa 
e o encontrasse ali. Farrah e Johara cuidariam das crianças, 
proporcionando a ele a tarde livre para ensinar à babá a arte de 
cavalgar. Aquela idéia pareceu-lhe mais prazerosa do que teria 
imaginado. 
Aquilo não era nada bom. Mas uma visão dos grandes óculos e 
dos cabelos amarrados com força o fez rir. Não havia ameaça 
nenhuma. Crystal preenchia as requisições do trabalho com 
sucesso, apenas isso. 
De repente, seu íntimo o avisou que dera a Crystal mais atenção 
do que qualquer coisa de que pudesse se lembrar em muito 
tempo. Mesmo viajando, esperava ansioso pelas conversas 
noturnas com ela ao telefone sobre seus filhos. A voz sedutora 
de Crystal lhe proporcionava uma distração deliciosa dos 
afazeres. 
E agora que estava de volta em casa, o interessepor ela 
aumentara. Sobretudo naquele momento, quando a observou 
vindo em sua direção pelo caminho de pedra ladeado por 
jasmins e primaveras. 
Crystal era uma figura intrigante. As pernas, que Fariq vinha 
tentando imaginar por baixo das saias largas, agora se 
mostravam bem definidas pela atraente calça jeans. E as curvas 
tentadoras dos quadris e das coxas excediam suas expectativas. 
A seu lado, um dos cavalos agitou-se, levantando poeira com a 
pata. Fariq alcançou a cerca e acariciou-lhe o focinho. 
- Paciência, amigo. Logo ensinaremos tudo o que ela precisa 
saber. 
A perspectiva fez seu corpo tremer, e o sheik quis saber o 
motivo de sua reação. Aquilo não era nada mais que sua tarefa: 
certificar-se de que ela era competente com um cavalo era 
apenas pelo bem de seus filhos. 
Crystal chegou perto e ajeitou os óculos no rosto, olhando para 
a calça marrom dele e a camisa de seda branca. 
- Por acaso não estou com trajes apropriados? 
Fariq correu o olhar pela camiseta branca de algodão e gostou 
da maneira como os seios pequenos e firmes marcavam o 
tecido. 
- Contanto que fiquemos dentro dos limites do palácio, está bem 
assim. Se avançarmos para dentro do deserto, você precisará 
estar mais bem protegida. Porém, hoje não iremos muito longe. 
Conforme suas habilidades forem aumentando e resolvermos 
nos aventurar além destas terras, o pessoal de segurança irá 
nos acompanhar. 
- Isso é necessário? 
- Apenas uma precaução para mim como membro da família 
real. Não deixarei que nada lhe aconteça. 
Crystal franziu o cenho. 
- Quanto ao traje, como saberei o que é apropriado? 
Fariq não podia ver a expressão dos olhos dela por causa das 
lentes éscuras, mas a viu mordiscar o lábio, nervosa. A boca, 
notou, era carnuda e tentadora. Estranho, não percebera isso 
antes... Talvez pela falta de maquiagem não lhe chamara tanto a 
atenção. Mas o gesto tenso o instigou. O que a deixara nervosa? 
- Não se preocupe. Como seu patrão, é minha responsabilidade 
providenciar tudo o que for necessário para que realize suas 
tarefas. - Arqueou uma sobrancelha quando olhou para os tênis 
dela. - Botas são essenciais. 
Ela. olhou para os pés. 
- Você é o especialista. No entanto, muito ocupado. Deve haver 
mais alguém que possa me ensinar esses detalhes. Não que eu 
não aprecie sua dedicação, mas é mesmo necessário que 
conduza essas aulas de montaria? 
- Farei tudo o que puder para me certificar de que meus filhos 
estarão seguros. 
- Certo. Agora, voltemos um passo. Por que é tão importante 
que eu aprenda a lidar com os cavalos? O que isso tem a ver 
com os garotos? 
- Equitação é um esporte da alta sociedade e encorajado pelo 
rei. E cinco anos é a idade certa para Hana e Nuri começarem a 
praticar. 
Fariq pretendera iniciar as aulas quando surgiu a crise com a 
última babá. Entre as viagens de negócios e a procura por uma 
substituta, a equitação fora adiada. 
- E é sua função cuidar de todas as atividades deles. Por 
conseqüência, deve ser competente em cima de uma sela. 
- Eu não os ensinarei. Só os acompanharei nos passeios. É 
isso? 
- Sim. Não lhe parece razoável que saiba como montar para 
poder acompanhá-los? 
- Se faz parte de minhas funções, por que não estava na lista 
dos pré-requisitos? 
Crystal se movimentou, e a luz do sol fez com que os cabelos, 
embora presos com uma grande fivela no alto da cabeça, 
emitissem brilhos avermelhados, criando um efeito suave. 
- Fariq? 
- Hum? - Ele se endireitou, esforçando-se para se concentrar no 
assunto. - Ah, os requisitos... Não era necessário uma amazona 
habilitada. Outras considerações eram mais importantes, uma 
vez que sua formação superior prova que é capaz de aprender. 
- Mas cavalgar é diferente. Requer coordenação e um pouco de 
habilidade atlética. - Ela olhou para os cavalos e franziu o 
cenho. - E um tanto de coragem. 
- Não estou preocupado com isso. Qualquer mulher que deixa 
tudo para trás e se aventura a trabalhar numa terra do outro 
lado do mundo é valente e determinada. 
- E quanto à babá que você perdeu por estar com saudade de 
casa? 
- É mais madura do que ela, Crystal. E suspeito que tenha certo 
gosto por aventuras. A menos, é claro, que tenha mentido. 
Ela ficou imóvel de repente. 
- Como? 
- Para minha tia - explicou ele, questionando a reação dela. - 
Você disse a ela que gostaria de aprender a montar. Não foi 
sincera? 
- Oh! - Suspirou, aliviada. - Sim, eu adoraria aprender. 
- Então por que a relutância? 
- É que não me sinto bem em tirá-lo de afazeres mais 
importantes. Um dos cavalariços não poderia me ensinar? 
As aulas iriam requerer contato pessoal íntimo. Um outro 
homem iria colocar a mão nela? Fariq se revoltou com a 
possibilidade. Porque era sua obrigação proteger a empregada , 
responsável por seus filhos. E por nenhuma outra razão. Mas 
Crystal parecia hesitante em compartilhar sua companhia. 
Será que o achava entediante? 
De imediato descartou a idéia. Ela não dera nenhuma indicação 
disso. Para ser franco, os encontros deles tinham sido bastante 
amigáveis. Para ambos, podia jurar. 
Fariq recordou quando ela lhe contara sobre os planos pessoais: 
viajar, então amor, casamento e filhos. A veemência dela o 
surpreendera. 
Estudou-a e viu a tensão em seus músculos. Se não o achasse 
desagradável, estaria atraída por ele? Ah, isso, sim, o agradou! 
- Eu a ensinarei a montar, Crystal. 
- Mas, Fariq... 
- Sou o cavaleiro mais competente dos Hassan, e você está aqui 
para cuidar de meus filhos. Portanto, é minha responsabilidade 
ensiná-la. E não quero mais falar disso. 
- Perfeito. 
Enfim, ela se rendera. Mas o sheik achou o processo 
estimulante. Quando fora a última vez em que se esforçara 
tanto para convencer uma mulher a passar algum tempo com 
ele? 
Bem, não ia desperdiçar um segundo sequer tentando 
responder àquela questão. Muito mais interessante era a 
perspectiva de tocá-la... no contexto de ensiná-la. 
- Primeiro você tem de conhecer seu animal. Este é meu cavalo, 
Midnight. - Fariq acariciou o pescoço do garanhão preto, e então 
apontou para a égua marrom ao lado dela. - Essa é Topázio. Foi 
escolhida especialmente para você. Tem uma natureza doce, e a 
servirá bem. Uma verdadeira jóia. 
Como Crystal?, perguntou-se ele. Preciosa e ainda assim forte? 
Capaz de suportar as condições cruéis do deserto? O tempo 
diria. 
Sem hesitação, Crystal ergueu a mão e acariciou a égua. 
Topázio esfregou o focinho em seu ombro, muito afetuosa. 
- Boa menina! - ela exclamou, rindo. - Fiz um passeio pelas 
instalações do estábulo e posso entender por que ela é tão feliz 
aqui. Os cavalos são muito bem-cuidados. 
- Sim, e a temperatura do ar-condicionado é controlada para o, 
conforto dos animais. 
- Só lhes falta um microondas e uma televisão de alta definição. 
Embora aquelas rações dietéticas que vi os cavalariços lhes 
dando não me pareçam tão apetitosas... 
Fariq estava hipnotizado pelo sorriso dela e pelo modo como 
transformava-lhe a expressão, tornando-a quase linda. 
- São todos puros-sangues. É questão de bom senso proteger o 
investimento e proporcionar-Ihes o melhor ambiente. 
- E quanto aos cidadãos neste país? Todos são bem tratados 
assim? 
Ah, uma liberal... Ou, como se auto denominava, uma 
republicrata. Crystal tinha muito o que aprender, e não apenas 
como montar um cavalo. 
- Temos muitos programas para ajudar as pessoas. 
- É bom saber disso. - Crystal deslizou a mão na sela bordada. - 
Quando vou me sentar nela? 
Pelo jeito, ela escolhera não continuar aquela conversa. 
- Agora. Se estiver pronta. - Fariq certificou-se de que a sela 
estava bem presa. - Lembre-se de montar sempre do lado 
esquerdo. Ponha o pé esquerdo no estribo e balance perna 
direita por cima do traseiro dela. Muito bem. 
Fariq virou-se para Midnight e escutou o ruído de couro. 
Quando olhou por cima do ombro, Crystaljá estava montado em 
Topázio, sorrindo largo para ele. 
- Perdi sua técnica, mas vejo que foi bem-sucedida. 
- Cresci assistindo a filmes de caubói. Alguma coisa deve ter 
entrado em minha cabeça.- Parece que sim. - O sheik se sentiu um pouco desapontado 
por ela não ter precisado de sua assistência. Depois de ajustar a 
extensão dos estribos, montou Midnight. 
- Pegue as rédeas, mas mantenha-as soltas na mão esquerda. 
Isso. Agora, movimente a mão na direção que você quer que ela 
vá ou puxe de leve se quiser que Topázio pare. Joelhos e coxas 
firmes em volta do animal. 
- Sim. 
Quando ele cutucou o garanhão para andar, ela fez com que 
Topázio o seguisse. 
- Acho que todos aqueles filmes de faroeste não foram horas 
desperdiçadas na frente da tevê. Você está indo muito bem, 
Crystal. 
- Não minta. Não se esqueça de que mentindo você estará 
arriscando a fúria das tempestades de areia. 
- Eu nunca minto. 
- Nunca? Existem algumas mentiras que até cabem, se 
aplicadas no momento oportuno. Mentirinhas, como dizemos 
nós, americanos. Se sua tia lhe perguntasse se o último vestido 
que comprou a fazia parecer mais gorda, o que diria? 
- A verdade. Eu não seria desonesto. Isso é uma falha de caráter 
abominável. 
- Concordo que certas coisas demandem veracidade absoluta, 
mas às vezes pequenos detalhes não são importantes para o 
grande cenário. Por que é tão rígido, Fariq? 
- As razões não são importantes. O que é imperativo que 
entenda, Crystal, é que desprezo a mentira em qualquer que 
seja o assunto ou a ocasião. 
- Entendo. 
Não, não entendia. A inocente Crystal jamais poderia sair a 
maneira como a vida o ensinara quão preciosa era a verdade. A 
esposa estava fora de seu caminho, mas as cicatrizes 
permaneceriam. A única coisa boa que ela lhe dera foram seus 
filhos, que eram tudo para ele. Pelos dois e por todas as 
crianças de EI Zafir, Fariq trabalhava para fazer seu país um 
sucesso, valorizado na ordem mundial. Para tal, precisava 
diversificar a base econômica vigente. 
Viver só de petróleo era um risco. Por isso, o sheik viajava tanto 
a negócios. Naquela mesma manhã, Crystal criticara suas 
ausências freqüentes e falara sobre o fato de Hana e Nuri não 
terem mãe. Mas se ela tivesse conhecido Fátima, teria entendido 
que eles estavam melhor sem ela. 
Entenderia também o porquê do comportamento rebelde de 
Johara, bem como de a influência que ela exercia sobre os 
gêmeos ser fonte de preocupação. 
Olhando de soslaio, notou que Crystal estava calada e tensa. A 
boca carnuda, tão tentadora momentos atrás, mostrava-se 
agora comprimida. O corpo estava rígido sobre Topázio. 
- Relaxe, Crystal. Você está indo muito bem. 
- Obrigada. 
Bem demais para seu gosto, pensou Fariq. Se ela não estivesse 
indo tão bem, seria necessário tocá-la. 
Questionando sua sanidade mental, deu-se conta de que 
estivera antecipando o momento de tocar a babá de seus filhos 
enquanto estivesse a ensiná-la a cavalgar. Mas Crystal 
combinava com um cavalo como um camelo com o deserto. 
Bem, o fato era que deveria lutar contra a tentação de descobrir 
o formato e textura das curvas que ela, por fim, revelava. 
Depois de uma hora de montaria, as costas de Crystal 
começaram a reclamar, sem mencionar o interior das coxas. 
Também notou certa tensão nos ombros e braços, mas achou 
que aquilo tinha algo a ver com seu estado emocional. 
Enquanto cavalgavam calados, refletiu sobre a declaração de 
Fariq de que ele jamais mentia. Toda mulher sabia que os 
homens não eram muito comprometidos com a verdade. 
Por que ela teve de trabalhar justo para o único do planeta que 
jamais contava ou aceitava uma mentirinha inocente? A culpa, 
que agora aumentara, a fez perguntar-se se devia ou não 
revelar-lhe seu segredo. Mas então lembrou-se das contas 
médicas de sua mãe. 
E das crianças. Cinco babás em um ano... Hana e Nuri 
pareciam adorá-la. Seria justo com eles? 
Portanto, decidiu que, quando o pai das crianças pudesse ver 
que ela era boa para os filhos, abriria o jogo, esperando que o 
sheik entendesse. Ele, decerto, não iria achar seu 
comportamento honrado. Mas não era o bem estar dos filhos a 
razão principal? Enquanto isso, Crystal sacrificaria seu corpo 
para o trabalho. 
- Foi muito bem para sua primeira aula, Criystal. E seus 
cabelos se soltaram. 
Ele acabara de notar? O balanço fizera com que os cabelos se 
soltassem da fivela fazia muito tempo. Com a necessidade 
urgente de agarrar-se às rédeas, não pudera fazer nada sobre 
isso. 
- Eu devia tê-los prendido melhor. 
Mas a expressão nos olhos negros dizia que ele discordava. 
- Há cor em suas faces outra vez. Você está rosada. Gostou do 
passeio? 
- Muito. - Ela tentou recordar a última vez em que se divertira 
tanto. 
Fariq parou Midnight na frente do estábulo e desmontou como 
um autêntico cavaleiro. 
Virando-se, ficou surpreso ao ver que Crystal ainda permanecia 
montada. Um meio sorriso curvou-lhe os lábios. 
- Uma coisa é assistir a faroeste; outra bem diferente é estrelar 
em um, não é? 
- Se você está perguntando se minha coluna está infeliz, a 
resposta é sim. 
Vendo o sorriso dele se ampliar, ela resmungou: 
- Não precisa ficar tão satisfeito com isso. 
- Não estou. Montar é um esporte que exige muito dos 
músculos, em certas áreas vulneráveis. Até que você se 
acostume com a sela, o efeito é estressante. - Aproximando-se, 
ele estendeu os braços. - Eu a ajudo a descer. 
- Obrigada, mas posso fazer isso. 
Crystal se segurou na ponta da sela, jogou a perna direita por 
cima do animal e deixou-se escorregar até que os pés tocassem 
o solo, poupando os músculos. Pronto, aquela parte não fora 
tão complicada. Mas, quando soltou a sela e virou-se para dar o 
primeiro passo, as pernas amoleceram. Fariq alcançou-a com 
rapidez, apoiando-a. 
- Talvez eu tenha exagerado em sua primeira aula. 
- Eu me diverti muito. Além disso, não teria feito diferença o 
período que cavalgamos. Minhas áreas vulneráveis estariam 
praguejando contra você de qualquer modo. 
Outras áreas vulneráveis estavam muito felizes de estarem 
aninhadas contra o peito largo dele. A pressão dos braços fortes 
e as pernas musculosas pressionadas nas dela provocaram um 
tipo diferente de tremor que não tinha nada a ver com as aulas 
de equitação. O coração disparou. 
Fariq sorriu. 
- Ainda assim, eu deveria ter sido mais sensível com sua falta 
de experiência. Prometo recompensá-la. 
Como? 
Quando as pupilas dele brilharam, Crystal chegou a pensar que 
tivesse feito a pergunta em voz alta. Fariq a fitava com desejo. 
Aquela expressão perigosa no rosto dele rouboulhe a habilidade 
de raciocinar. 
No próximo instante, Fariq baixou a cabeça e a beijou. Um 
arrepio a percorreu, como se um choque elétrico a tivesse 
atingido. Aquela era a única explicação para o gemido lascivo 
preso em sua garganta. 
Com um murmúrio indefinido, ele escorregou a língua para o 
interior de sua boca, intensificando o beijo. Sensações incríveis 
percorreram cada célula de Crystal quando ele a abraçou mais 
forte. 
Os seios pressionados contra o tórax musculoso latejaram. 
As poderosas pernas contra as suas a deixaram não apenas 
chocada, mas radiante pela evidência da volúpia dele. 
Quando o sheik levantou a mão para acariciar-lhe os cabelos, 
ela se deliciou. O polegar alisou-lhe a orelha, aquecendo-a por 
inteiro. E durante todo tempo, os deliciosos lábios a mantinham 
prisioneira. Então, Fariq se afastou um pouco e ofegante. 
- Você é cheia de surpresas. Tão brilhante e misteriosa quanto o 
deserto. 
Com a pulsação latejando nos ouvidos, Crystal não sabia o que 
dizer. 
- Fariq, eu... 
Ele respirou fundo e tocou o aro dos óculos dela. 
- Minha pequena jóia do deserto, deixe-me ver seus olhos. 
Fariq ia tirar-lhe os óculos? O receio da conseqüência a trouxe 
de volta à realidade, e Crystal se afastou rápido. Aqueles óculos 
escuros eram seu único disfarce no momento, sua única defesa. 
E isso era tudo de que mais precisava. 
Deus! Por que aquele beijo? O rei fora categórico quanto a 
envolvimentos no palácio. Quem seria culpado por isso? 
- Eu... tenho de ir. 
- Ainda não, Crystal. Deixe-me... 
- Não. Os gêmeos devem estar sentindo minha falta. 
- Eles sabem que você está comigo. 
- Mas não os avisei pessoalmente

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