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139 Fisiologia da Água e dos Eletrólitos 7 A troca de nutrientes e dejetos entre o sangue e os tecidos é realizada por uma ex- tensão de capilares, equivalente a aproxi- madamente 700 metros quadrados. Aque- las trocas requerem a presença da água, como o meio nobre em que as células vi- vem e realizam as suas funções; a perma- nência da água nos diferentes comparti- mentos do organismo, depende da presen- ça de um teor adequado de diversos eletrólitos. As alterações da distribuição da água e dos eletrólitos, são bastante comuns e podem levar à complicações de extrema gravidade, ou mesmo determinar a morte do indivíduo. A circulação extracorpórea pode produzir distúrbios da composição hídrica e eletrolítica do organismo, capa- zes de gerar numerosas complicações. O reconhecimento das principais funções desempenhadas pela água e pelos eletrólitos é fundamental para a prevenção das com- plicações e suas seqüelas. A água corresponde à maior parte do peso dos indivíduos. Em um neonato, a água corresponde a cerca de 75 a 80% do peso. Aos 12 meses de idade o teor de água do organismo é de 65% e na adolescência alcança o valor de 60% no sexo masculino e 55% no feminino, que se mantém na vida adulta. Essa pequena diferença se deve à maior quantidade de tecido gorduroso no organismo feminino. O tecido gorduroso tem um baixo teor de água em relação aos músculos e aos órgãos internos. A água do organismo está distribuida em dois grandes compartimentos: o intra- celular e o extracelular. A água do interior das células (líquido ou compartimento in- tracelular), corresponde a cerca de 40% do total do peso do indivíduo, enquanto a água do líquido extracelular corresponde a 20%. O compartimento extracelular correspon- de à água do plasma sanguíneo (4%) e à água do líquido intersticial (16%), como demonstra a tabela 7.1. A água se desloca ativa e continua- mente entre os diferentes compartimentos do organismo, regulando a sua composi- ção, conforme esquematizado na figura 7.1. O fator determinante da movimenta- Tabela 7.1. Mostra o teor de água dos diversos compartimentos do organismo e o volume total em cada compartimento, em um adulto de 70Kg de peso. Fundamentos da Circulação Extracorpórea - Cirurgia Cardíaca Pediátrica Maria Helena L. Souza e Decio O. Elias 2 ed - 2006 - Centro Editorial Alfa Rio 140 FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA ção da água entre os diversos comparti- mentos líquidos é o gradiente osmótico; a tendência natural da água é determinar o equilíbrio osmótico. O plasma e o espaço intersticial trocam água através das mem- branas capilares; o interstício e o interior das células, trocam água através das mem- branas celulares. As proteinas do plasma são um importante regulador da quantida- de e da distribuição de água, em virtude da pressão oncótica exercida pelas suas macromoléculas. O volume de um compartimento líqui- do do organismo, por exemplo, o líquido intersticial, pode ser medido, pela intro- dução de substâncias que se dispersam uni- formemente pelo compartimento. O grau de diluição da substância, permite calcu- lar o volume total do compartimento. Den- tre as substâncias usadas com aquela fina- lidade, destacam-se a uréia, a antipirina, a tiouréia e outras marcadas com radioisó- topos, como o deutério e a albumina. NECESSIDADES DIÁRIAS DE ÁGUA A água do organismo provém de duas fontes principais. A ingestão de líquidos e a água contida nos alimentos contribuem com cerca de 2.100 ml/dia para os líquidos do organismo, enquanto a oxidação dos carbohidratos libera cerca de 200 ml/dia. As necessidades de água dos indivídu- os variam de acordo com as taxas metabó- licas e com a eliminação hídrica. As crian- ças de baixo peso necessitam mais água em relação aos adultos, em virtude do meta- bolismo mais acelerado que apresentam. De um modo geral, as necessidades de água de um indivíduo podem ser estimadas com base nas calorias metabolizadas, na super- fície corporal ou em relação ao peso. O or- ganismo humano necessita, diariamente, de 1.800ml de água, por cada metro qua- drado de superfície corporal. As necessi- dades de água dos diferentes indivíduos es- tão relacionadas na tabela 7.2, conforme o peso corporal. Aqueles valores referem-se à indivíduos sadios, sem disfunção renal, cardiovascular ou metabólica e, portanto, sem restrições à ingestão normal de água. As alterações da água consistem, prin- cipalmente, de desidratação, quando há perda excessiva de líquidos do organismo ou, ao contrário, hiperidratação, quando Fig. 7.1. Diagrama mostrando o intercâmbio líquido entre os diferentes compartimentos do organismo. A água atravessa as membranas capilar e celular para as diferentes trocas. Tabela 7.2. Necessidades diárias de água em relação ao peso. Um indivíduo com peso entre 10 e 20Kg necessita de 1.000ml + 50ml por cada quilo de peso acima de 10. Exemplo: um indivíduo com 15Kg de peso, necessita diariamente de 1000ml + 50 x 5 = 1.250ml. 141 CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS há oferta excessiva de líquidos ao organis- mo. Na circulação extracorpórea, princi- palmente em crianças, não é rara a ocor- rência de hiperidratação, causada pelo ex- cesso de soluções cristalóides no perfusa- to. Devemos considerar que durante um procedimento cirúrgico, a administração de água e eletrólitos é feita pelo perfusionista através o perfusato; pelo anestesista, atra- vés das soluções venosas administradas durante a operação e pelo cirurgião, atra- vés da administração das soluções cardio- plégicas, principalmente a cardioplegia cristalóide. Sem controle adequado, a soma dos volumes infundidos pode ultrapassar em muito, as necessidades diárias dos pa- cientes que, além de tudo, receberão mais líquidos no pós-operatório imediato. A hiperidratação pode também ocor- rer em pacientes com quantidades de pro- teinas abaixo do normal. A pressão oncótica do plasma fica reduzida e permi- te o extravasamento de líquidos do plasma para o espaço intersticial, especialmente se a oferta líquida não for adequadamente dimensionada. Quando há perda excessiva ou insufi- ciente administração de sódio, também pode ocorrer hiperidratação. A causa é a redução da pressão osmótica do líquido extracelular, em relação ao interior das cé- lulas. A água passa do interstício para o líquido intracelular, para refazer o equilí- brio osmótico. O paciente hiperidratado pode apre- sentar edema de face ou generalizado, ascite, derrame pleural, insuficiência respiratória, astenia, desorientação, de- lírio e convulsões ou outras manifesta- ções neurológicas. A migração da água entre os diferen- tes compartimentos, depende da concen- tração dos eletrólitos, para que o equilíbrio hídrico do organismo seja mantido. ELETRÓLITOS Os eletrólitos, quando em uma solução aquosa, comportam-se como íons. Os íons são a menor porção de um elemento quí- mico que conserva as suas propriedades. Os cátions são os íons que tem carga elé- trica positiva, como o sódio (Na + ) e o po- tássio (K + ). Os anions são os íons que tem carga elétrica negativa, como o cloro (Cl - ) ou o bicarbonato (HCO 3 - ). O equilibrio químico de uma solução significa a existên- cia de igual número de cátions e anions. Os eletrólitos são quantificados em miliequivalentes, que correspondem à milésima parte de um equivalente grama, ou simplesmente equivalente. O equiva- lente de uma substância é a menor porção da substância, capaz de reagir quimicamen- te e, corresponde ao peso atômicoou ao peso molecular, dividido pela valência. Em geral, nos líquidos do organismo, os eletrólitos são considerados em termos de miliequivalentes por litro (mEq/l). COMPOSIÇÃO ELETROLÍTICA DOS LÍQUIDOS ORGÂNICOS Os líquidos orgânicos tem uma com- posição semelhante, sob o ponto de vista da atividade química e das pressões osmóticas. A natureza dos íons, contudo, difere entre os compartimentos intracelu- lar e extracelular. O líquido extracelular inclui o liquido 142 FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA intersticial e o plasma sanguíneo. O liqui- do extracelular tem grandes quantidades de sódio e cloreto. O sódio é o cátion pre- dominante do líquido extracelular, en- quanto o potássio é o cátion predominan- te no líquido intracelular. Aproximada- mente 95% do potássio existente no organismo está situado no interior das cé- lulas. A distribuição do magnésio, como o potássio, também é predominantemente intracelular. Os principais eletrólitos celulares são o potássio, magnésio, fosfato, sulfato, bi- carbonato e quantidades menores de sódio, cloreto e cálcio. O liquido intracelular possui grande quantidade de potássio e pequena quanti- dade de sódio e de cloreto. As grandes pro- teinas e alguns tipos de ácidos orgânicos ionizáveis, existem exclusivamente no lí- quido intracelular; não existem no plasma e no líquido intersticial. As diferenças de composição entre os liquidos intracelular e extracelular são muito importantes, para o desempenho adequado das funções celulares. O liquido extracelular inclui ainda a linfa, o liquor, o liquido ocular e outros liquidos especiais do organismo, menos importantes em relação à regulação hídrica e eletrolítica. A tabela 7.3 demostra a comparação da composição eletrolítica dos principais liquidos orgânicos, o intravascular (plas- ma), o intersticial e o intracelular. Quando analisamos os solutos dos lí- quidos orgânicos, pela sua carga iônica, separando os cátions dos anions, observa- mos o perfeito equilibrio químico entre os diversos compartimentos (Tabela 7.4). O plasma tem 154 mEq de cátions e 154 mEq de anions. O mesmo equilibrio entre cáti- ons e anions é demonstrado para os líqui- dos intersticial e intracelular. O plasma e o líquido intersticial são os grandes responsáveis pela regulação da água do organismo; a sua composição eletrolítica é praticamente a mesma, exceto pela presença das proteinas no plas- ma. Os íons presentes nos liquidos orgâni- cos desempenham funções essenciais à manutenção do perfeito equilíbrio funcio- nal celular. Sódio (Na + ): O sódio é o cátion mais abundante no líquido extracelular; é fun- damental na manutenção do equilíbrio hídrico. A perda de sódio causa redução da pressão osmótica do líquido extracelular, que resulta na migração de água para o in- terior das células. O aumento da concen- tração do sódio no líquido extracelular, ao contrário, aumenta a sua pressão osmótica e favorece o acúmulo de água no interstí- cio, produzindo edema. Tabela 7.3. Compara a composição eletrolítica do plasma, do líquido intersticial e do líquido intracelular. O plasma e o líquido intersticial são semelhantes entre sí e diferem substancialmente do líquido intracelular. 143 CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS O sódio tambem é importante na pro- dução do impulso para a condução cardía- ca e para a contração muscular. Um meca- nismo especial chamado de bomba de sódio, controla o fluxo de sódio e potássio atra- vés da membrana celular, mantendo o sódio no exterior e o potássio no interior das cé- lulas. A concentração do sódio é controla- da pelos rins, pela secreção de aldosterona e pela secreção do hormônio antidiurético. Potássio (K + ): O potássio é o cátion intracelular mais importante; é transpor- tado para o interior das células pelo meca- nismo da bomba de sódio e tem ação fun- damental na condução do impulso elétri- co e na contração muscular. O acúmulo excessivo de potássio no lí- quido extracelular (hiperpotassemia) pode causar redução da condução elétrica e da potência da contração miocárdica, levan- do à parada cardíaca em assistolia. Esse efeito do potássio é o princípio fundamen- tal da sua utilização nas soluções cardio- plégicas. Cálcio (Ca ++ ): O cálcio é essencial à formação dos dentes, ossos e diversos ou- tros tecidos. É tambem um fator importante na coagulação do sangue. A presença de pequenas quantidades de cálcio é essenci- al à manutenção do tônus e da contração muscular, inclusive miocárdica; a deficiên- cia do cálcio (hipocalcemia), pode produ- zir efeitos semelhantes aos do excesso de potássio. Magnésio (Mg ++ ): O magnésio é um íon importante na função de numerosas enzimas e participa ativamente no meta- bolismo da glicose, de diversos outros hidratos de carbono e das proteinas. Parti- cipa também, ativamente, nos processos da contração e irritabilidade neuromuscular; o seu excesso (hipermagnesemia) pode pro- duzir relaxamento muscular, inclusive miocárdico, além de alterações da condu- ção elétrica cardíaca. Cloro (Cl - ): O anion cloro (cloreto) é predominante no líquido extracelular; sua função principal é a manutenção do equilí- brio químico com os cátions presentes. O clo- ro participa ainda nos efeitos tampão do san- gue em intercâmbio com o bicarbonato. Bicarbonato (HCO 3 -): A função mais importante do íon bicarbonato é a regula- ção do equilíbrio ácido-basico, em que par- Tabela 7.4. Composição do plasma, líquido intersticial e líquido intrace- lular em relação aos seus cátions e anions. Plasma e líquido intersticial tem composição semelhante e são isotônicos. O líquido intracelular é levemente hipertônico em relação ao plasma e ao interstício. 144 FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA ticipa com o ácido carbônico (dióxido de carbono + água ), formando o principal sistema tampão do organismo. Para que ocorra o intercâmbio de água por osmose, através da membrana capilar ou celular, é necessário que haja diferença na concentração total de solutos nos dois lados da membrana. As membranas celu- lares e capilares são permeáveis à agua e aos solutos dos líquidos orgânicos e não são permeáveis às proteinas. OSMOSE E PRESSÃO OSMÓTICA Um soluto é uma substância, como o cloreto de sódio, cloreto de potássio, glicose, ou proteina, que pode ser dissolvi- da em um solvente, para formar uma solu- ção; a solução salina, por exemplo, tem o cloreto de sódio como soluto e a água como o solvente. Na prática, as soluções podem ser clas- sificadas conforme o tamanho das párticulas do soluto ou conforme a sua na- tureza. Uma solução cristalóide é aquela que contém partículas homogeneamente dis- persas no solvente até que ocorra a passa- gem de uma corrente elétrica ou a sua mis- tura com outra solução. Os solutos das so- luções cristalóides, ou simplesmente cristalóides, são pequenos íons, ácidos e ba- ses simples, aminoácidos, pequenas molé- culas orgânicas, como glicose e frutose, pe- quenas moléculas nitrogenadas, como uréia e creatinina ou pequenas cadeias de poli- peptídeos. O limite superior para o tama- nho das partículas cristalóides está em tor- no de 50.000 Daltons. Uma solução coloidal ou, simplesmente, coloide, contém partícu- las que quando deixadas em repouso por um tempo prolongado, tendem a deposi- tar, perdendo a homogeneidade; o proces- so de deposição pode ser acelerado por centrifugação e outros meios físico-quí- micos. As partículas que formam as so- luções coloidais tem peso molecular mai-or que os solutos cristalóides, acima de 50.000 Daltons. As membranas biológicas, membrana capilar e membrana celular, não permitem a passagem dos coloides e permitem a livre passagem de água e dos cristalóides. Se colocarmos uma solução de cloreto de sódio (NaCl) em um lado de uma mem- brana permeável à água e ao sal, e colocar- mos água pura no outro lado da membra- na, as moléculas de sódio, cloro e água, vão passar livremente através dos dois lados da membrana, até que a concentração de sódio e cloro nos dois lados seja a mesma. A passagem da água e dos eletrólitos Na + e Cl - para o lado da membrana, onde a sua concentração é menor, ocorre pelo fenô- meno da osmose. A pressão osmótica corresponde à pressão exercida pelas partículas ou íons de soluto em uma determinada solução. A pressão osmótica é medida em osmol ou miliosmol (mOsm). Uma molécula de cloreto de sódio, por exemplo, se dissocia em dois íons, Na + e Cl - ; portanto, a solu- ção de uma molécula de cloreto de sódio exercerá uma pressão osmótica de 2 osmol/ litro de água ou por Kg de água (1litro de água = 1 Kg). O intercâmbio de água entre os dife- rentes compartimentos é governado pela osmose. As membranas celulares e capila- res são muito permeáveis à água e o inter- 145 CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS câmbio diário é enorme, entre os compar- timentos líquidos do organismo. Quando a pressão osmótica se altera, a água se move através das membranas, para resta- belecer o equilíbrio e manter o estado isosmótico. A regulação da água, entre o líquido intracelular e o líquido intersticial, é representada na figura 7.2. A tonicidade compara as diferentes soluções em termos da pressão osmótica que exercem. Duas soluções com o mes- mo número de partículas dissolvidas por unidade de volume, tem a mesma pressão osmótica e são chamadas, soluções isotônicas. Quando uma solução tem um número maior de partículas, é dita hipertônica em relação à outra e, finalmen- te, se o número de partículas de uma solu- ção é menor que a solução de compara- ção, diz-se que ela é hipotônica. O padrão de comparação que nos interessa, é o plas- ma sanguíneo. As soluções que serão mis- turadas ao plasma, devem ser isotônicas, a fim de evitar alterações significativas da pressão osmótica. As soluções hipertônicas, se necessário, podem apenas ser adminis- tradas em pequenos volumes, para corrigir déficits de algum eletrólito específico. As moléculas de colóides, em geral, são adicionadas às soluções para acrescentar pressão oncótica. As soluções coloidais, são o plasma sanguíneo, as soluções de albumina, gelatina (Isocel), dextran (Rheomacrodex) e hidroxietil starch (Hetastarch). PRESSÃO OSMÓTICA E PRESSÃO ONCÓTICA (COLOIDO-OSMÓTICA) A pressão osmótica de uma solução depende do número de partículas ou mo- léculas na solução. Quanto menor o peso da molécula de uma substância, mais mo- léculas existirão, em um determinado peso da substância. Dessa forma, 1 grama de cloreto de sódio conterá um número infi- nitamente maior de moléculas do que 1 grama de albumina; o peso da molécula de cloreto de sódio é 58,5 enquanto o peso da molécula de albumina é 80.000. Podemos, portanto, afirmar que 1 grama de cloreto de sódio exerce uma pressão osmótica muito maior que 1 grama de albumina. Quando em uma solução, adicionamos um soluto como a albumina, cuja molécu- la é de elevado peso, confinada por uma membrana impermeável à albumina, esta exercerá uma grande pressão oncótica (ou coloido-osmótica). A adição de grandes moléculas, como albumina, dextran e outras, aumenta a pressão oncótica da solução. Contudo, Fig. 7.2. Regulação do intercâmbio de água entre o líquido extracelular (E) e o líquido intracelular. C, representa uma célula. Em A, está representada a situação normal do equilíbrio entre os dois líquidos, intra e extracelular. A concentração iônica normal de 300mOsm/l existe em ambos. Se adicionarmos solutos (íons), ao líquido extracelular, aumentando a sua osmolaridade para 450mOsm/l, a água passa do interior da célula para o líquido extracelular, representado em B. A célula de desidrata. Se, diluirmos os solutos no líquido extracelular, reduzindo a sua osmolaridade para 200 mOsm/l, a água passa para o interior da célula, como representado em C, produzindo edema celular acentuado, que pode, inclusive, romper a célula. 146 FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA como o número de moléculas na solução é pequeno, o seu efeito sobre a pressão osmótica é negligível. A pressão oncótica é expressa em milímetros de mercúrio (mmHg) e tem grande importância na manutenção da água do plasma e na cap- tação da água do líquido intersticial. Quan- do a pressão oncótica do plasma está redu- zida a água tende a migrar para o líquido intersticial. PERDAS DIÁRIAS DE ÁGUA O organismo normal mantém o equilí- brio entre o ganho e a perda diária de água, regulando a diurese, o suor e as perdas insen- síveis. Qualquer interferência nos mecanis- mos normais da regulação, pode gerar distúr- bios do equilíbrio dos líquidos e de eletrólitos. Durante a circulação extracorpórea, a oferta excessiva de líquidos ou de eletrólitos atra- vés o perfusato, pode romper aquele equi- líbrio e produzir complicações. A perda diária de água corresponde à eliminação pela urina, pelas fezes, pela eva- poração nos pulmões, durante a respiração (perda insensível), e pela formação do suor, dependendo da temperatura ambiente e do grau de atividade física. A perda total diária de um indivíduo adulto é de aproxi- madamente 2.400 à 2.900 ml (tabela 7.5). O adequado equilíbrio da água e dos eletrólitos do organismo deve ser lembra- do na preparação da perfusão, na escolha dos componentes do perfusato e nos volu- mes necessários ao procedimento. As so- luções para o perfusato devem ter a com- posição química e a pressão osmótica idên- ticas ao plasma, para minimizar a possibilidade de produzir distúrbios hídricos e eletrolíticos. A liberação de radicais livres e de nu- merosas citoquinas e outros agentes pró- inflamatórios durante a circulação extra- corpórea altera a permeabilidade das mem- branas capilares e celulares e contribui substancialmente para alterar os volumes de água contidos nos diferentes comparti- mentos do organismo. Esse processo é par- te importante da reação inflamatória sis- têmica do organismo e, quando intenso, pode produzir complicações difíceis de controlar ou reverter. Tabela 7.5. Perdas diárias de água de um adulto, pelas diversas vias de eliminação. 147 CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS REFERÊNCIAS SELECIONADAS 1. Andersson,B. –Regulation of body fluids. Annu. Rev. Physiol. 39,185,1977. 2. Boldt,J.; Bormann,B.V.; Kling,D.;Hoge,R.;Hempelman,G. – The influence of cardiopulmonary bypass operations on lung water content. In Hagl,S.; Klövekorn,W.P.; Mayr,N.; Sebbening,F.: Thirty Years of Extracorporeal Circulation. Klinik fur Herz und Gefäbchirurgie, Munich,1984. 3. Casartelli ,C.; Brugger,E. – Distúrbios Hidroeletrolíticos. In Piva,J.P.; Carvalho,P.; Garcia,P.C.; Terapia Intensiva em Pediatria, 3a. edi- ção. Medsi Editora Médica e Científica Ltda. Rio de Janeiro, 1992. 4. Chien,S. – Present state of blood rheology. In Messmer,K.; Schmmid-Schoenbein,H.: Hemodilution. Theoretical basis and clinical applications. Karger, Basel, 1972. 5. Dearing,J. – Solutions: Composition and Therapy – A Self Study Module, Vol. I. 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