Buscar

Revista-Mente-e-Cérebro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

| ESPECIAL • INCONSCIENTE | 
OS DESCONHECIDOS UNIVERSOS DA MENTE
O QUE 
MOVE 
VOCÊ? 
A motivação traz satisfação 
e favorece conquistas, 
mas nem sempre é fácil 
manter o entusiasmo. 
Para cientistas, é indispensável 
entender o que está 
por trás de nossos objetivos
ANO XIII
No 319
LER PENSAMENTO
Tecnologia permite exploração de
informações guardadas no cérebro 
ATENÇÃO 
Truque do cérebro ajuda a eleger 
estímulo para evitar as distrações 
OLFATO
Cheiro de suor da pessoa amada
diminui estresse e ansiedade 
GLÁUCIA LEAL, editora-chefe 
glaucialeal@editorasegmento.com.br
@glau_f_leal
Os “porquês” de cada um
O que faz você se levantar da cama a cada dia? Qual é a sua motivação? Quan-do se trata de trabalho, é muito frequente que as pessoas respondam ra-pidamente que o que as impulsiona é a necessidade de “ganhar dinheiro”. 
Certo, mas para quê? Por que comprar coisas ou pagar contas, qual o objetivo mais 
profundo de suas ações? Afinal, sabemos – mais ou menos claramente – que é onde 
colocamos energia (entendida aqui como empenho de tempo, capacidade intelectual 
e afetiva) que acreditamos, no mais íntimo de nós, que encontraremos satisfação.
Especialistas chegam a argumentar que a motivação – aquilo que move a ação – 
pode ser até mais importante e determinante do que o talento. Claro, sempre é pos-
sível recorrer à didática pirâmide proposta por Abraham Maslow, de 1954, para falar 
das buscas nas quais nos empenhamos ao longo da vida. Ele classificou necessidades 
humanas, em ordem de prioridade, em fisiológicas, de segurança, de amor e atenção, 
de estima e de autorrealização. Os dois textos sobre motivação, nesta edição digital de 
Mente e Cérebro, mostram que atualmente a psicologia identifica “elementos críticos” 
que oferecem suporte à motivação. Quando enfrentamos dificuldade, convém pergun-
tar o que está faltando. A resposta, em geral, se relaciona à ausência de autonomia, 
sensação de que a tarefa é inútil ou dúvida sobre nossa capacidade. Pesquisadores ob-
servam que, quando o entusiasmo se esvai, o questionamento pessoal é fundamental 
para avaliar objetivos e, eventualmente, rever escolhas. 
Como enfatizam ensinamentos budistas, o mais importante não é a experiência 
em si, mas o que restou dela após seu término. Ou seja: em quem você se trans-
formou após a tão sonhada viagem, a conclusão do curso, o sucesso da dieta, o 
casamento ou chegada do bebê ou a promoção no trabalho? O que o motivou e 
ainda continua a impulsionar suas atitudes? No final do dia, qual era mesmo o seu 
“porquê”? 
Boa leitura. 
carta da editora
3
sumário agosto 2019
capa
12 O que move você? 
 O entusiasmo tende a nos tornar mais 
comprometidos e alegres. Mas nem sempre 
a dedicação é compatível com os resultados. 
Novas pesquisas mostram a importância de 
rever objetivos e formas de alcançá-los
Motivação 
18 O que vale 
a pena buscar? 
 A satisfação está muito mais 
no empenho em conseguir o que 
queremos do que em atingir nossos 
objetivos. Essa conclusão ajuda a entender 
por que aceitamos postergar o prazer
6 Máquinas que 
leem pensamentos
 Parece enredo de filme de ficção científica, mas 
é realidade: técnicas de imageamento cerebral 
já permitem a exploração de informações 
armazenadas do cérebro 
22 Truque cerebral 
para evitar distrações 
 Quando algo nos atrai em um momento 
em que precisamos nos concentrar, 
a mente “escolhe” apenas um estímulo 
por vez para ser alvo de interesse
26 Pintinhos bons de 
matemática
 Assim como as crianças, filhotes de galinha 
parecem ter preferência inata por algarismos 
menores à esquerda e maiores à direita
30 Cheiro da pessoa amada 
diminui estresse
 Mulheres que cheiram a camisa suada 
do parceiro relataram ter menos reações 
de ansiedade do que aquelas que sentiram o odor 
de um estranho ou de uma roupa não usada
34 A forma secreta 
das letras
 Cientistas encontram pistas sobre 
a razão de associarmos certas letras e palavras 
com formatos circulares ou pontiagudos
www.mentecerebro.com.br
 
Presidente: Edimilson Cardial
Diretoria: Carolina Martinez, 
Marcio Cardial e Rita Martinez 
Editora-chefe: Gláucia Leal
Editora de arte: Sheila Martinez
Colaboradores: Maria Stella Valli 
e Ricardo Jensen (revisão)
Tratamento de imagem: 
Paulo Cesar Salgado
Produção gráfi ca: 
Sidney Luiz dos Santos
 
Escritórios regionais:
Brasília – Sonia Brandão
(61) 3321-4304/9973-4304 
sonia@editorasegmento.com.br
Rio de Janeiro – Edson Barbosa 
(21) 4103-3846 /(21) 988814514 edson.
barbosa@editorasegmento.com.br 
 
MARKETING/WEB
Diretora: Carolina Martinez
Gerente de marketing: 
Mariana Monné
 
ASSINATURAS E CIRCULAÇÃO
Supervisora: Cláudia Santos
Eventos Assinaturas: Simone Melo 
Mente e Cérebro é uma publicação 
mensal da Editora Segmento com 
conteúdo estrangeiro fornecido por 
publicações sob licença de 
Scientifi c American.
Spektrum der Wissenschaft
Verlagsgesellschaft, Slevogtstr. 3-5
69126 Heidelberg, Alemanha
Editor-chefe: Carsten Könneker
Gerentes editoriais: 
Hartwig Hanser e Gerhard Trageser
Diretores-gerentes: 
Markus Bossle e Thomas Bleck
MENTE E CÉREBRO ON-LINE
Visite nosso site e participe de 
nossas redes sociais digitais.
www.mentecerebro.com.br
facebook.com/mentecerebro
twitter.com/mentecerebro
Instagram: @mentecerebro 
REDAÇÃO
Comentários sobre o conteúdo 
editorial, sugestões, críticas às 
matérias e releases.
redacaomec@editorasegmento.com.br
tel.: 11 3039-5600
fax: 11 3039-5610
Cartas para a revista Mente e Cérebro:
Rua Paulistania, 551 - 
São Paulo/SP - CEP 05440-001
Cartas e mensagens devem trazer o 
nome e o endereço do autor. 
Por razões de espaço ou clareza, elas 
poderão ser publicadas de forma 
reduzida.
PUBLICIDADE 
Anuncie na Mente e Cérebro e fale com 
o público mais qualifi cado do Brasil.
almir@editorasegmento.com.br
CENTRAL DE 
ATENDIMENTO AO LEITOR
Para informações sobre sua assinatura, 
mudança de endereço, renovação, 
reimpressão de boleto, solicitação de 
reenvio de exemplares e outros serviços 
São Paulo (11) 3039-5666
De segunda a sexta das 8h30 às 18h,
atendimento@editorasegmento.com.br
www.editorasegmento.com.br
Novas assinaturas podem ser solicitadas 
pelo site 
www.lojasegmento.com.br 
ou pela 
Central de Atendimento ao Leitor
Números atrasados podem ser 
solicitados à 
Central de Atendimento ao Leitor 
pelo e-mail 
atendimentoloja@editorasegmento.
com.br ou pelo site 
www.lojasegmento.com.br 
MARKETING
Informações sobre promoções, 
eventos, reprints e projetos especiais.
marketing@editorasegmento.com.br
 
Editora Segmento
Rua Paulistania, 551 
São Paulo/SP - CEP 05440-001
www.editorasegmento.com.br
 
Edição no 319, agosto de 2019, 
ISSN 1807156-2.
Saiba com antecedência qual será o tema da capa da próxima edição
www.mentecerebro.com.br
Acompanhe a @mentecerebro 
no Instagram
3 CARTA DA EDITORA
54 LIVRO � LANÇAMENTO
O oráculo da noite
seções
especial 
38 Universos além 
da consciência
 Temos na mente signifi cados 
codifi cados, revestidos de metáforas 
e imagens, que surgem nos sonhos, 
chistes, atos falhos e associações 
42 Estranhos 
mundos internos
 Esse intrigante aspecto psíquico 
que infl uencia escolhas organiza 
memórias e experiências que 
preferimos esquecer ou dos quais não 
queremos saber. E se revela em sonhos, 
amores, desejos e fantasias
47 A mente 
no laboratório 
 Mais de um século depois 
de Freud apresentar sua teoria, 
cientistas se rendem a evidências 
de que temos uma instância mental 
sobre a qual não temos controle
Inconsciente
tecnologia
6
Nos últimos anos, 
as técnicas de 
imageamento cerebral 
avançaram tanto que 
se tornaram capazes 
de perscrutar – e em 
alguns casos alterar 
– conhecimentos 
guardados no cérebro
Máquinas 
que leem 
pensamentos
7
A 
ideia de que a mente está completamente prote-
gida das intrusões externas persistiu por séculos. 
Mas hoje essa suposição pode não ser mais válida. 
Sofisticados equipamentos de neuroimageamento 
e interfaces cérebro-computador detectam a atividade elétri-ca de neurônios, o que permite a decodificação e até altera-
ção de sinais do sistema nervoso que acompanham proces-
sos mentais. Embora tais avanços tenham grande potencial 
para as áreas de pesquisa e medicina, eles trazem um desafio 
ético, jurídico e social: de repente se torna importante deter-
minar se, ou em que condições, é legítimo obter acesso à 
atividade neuronal de outra pessoa ou interferir nela.
Essa questão tem especial relevância porque muitas neu-
rotecnologias se desviaram de uma configuração médica 
e passaram a fazer parte do domínio comercial. Tentativas 
de decodificar informações mentais por meio do imagea-
mento também estão ocorrendo em processos judiciais em 
tribunais, às vezes de modo bastante questionável cientifi-
camente. Há quase uma década, por exemplo, uma mulher 
indiana foi condenada por homicídio e sentenciada à prisão 
perpétua com base em um exame de varredura cerebral 
que mostrava, de acordo com o juiz, “conhecimento expe-
riencial” sobre o crime.
O potencial uso de tecnologia neural como um detector 
de mentiras durante interrogatórios ganhou atenção espe-
cial. Apesar do ceticismo de especialistas, empresas já es-
tão comercializando tecnologia baseada em imageamento 
por ressonância magnética funcional e eletroencefalografia 
para detectar mentiras. As forças armadas americanas tam-
tecnologia
8
bém têm testado técnicas de monitoramento, mas por outra 
razão: a ideia é utilizar estímulo neural para aumentar o es-
tado de alerta e a atenção dos soldados.
A tecnologia de leitura cerebral pode ser vista como só 
mais uma etapa de uma tendência inevitável do mundo digi-
tal de avançar um pouco mais sobre nosso espaço pessoal. 
Talvez não estejamos dispostos a aceitar essa intromissão 
em nosso universo mental. As pessoas poderiam, de fato, 
considerar tal tecnologia como algo que exige a revisão de 
conceitos acerca dos direitos humanos básicos e até mes-
mo da criação de “direitos neuroespecíficos”.
Diante da evolução tec-
nológica, é possível falar 
hoje em direito à liberda-
de cognitiva. Isso daria às 
pessoas a possibilidade de 
tomar decisões livres e in-
formadas sobre a aplicação 
prática do conhecimento 
científico que possa vascu-
lhar seus conhecimentos 
ou até afetar seus pensa-
mentos. Num futuro próximo, o direito à privacidade mental 
deveria nos proteger tanto de intrusões não consentidas de 
terceiros em nossos “arquivos” cerebrais, quanto da coleta 
não autorizada dessas informações.
Violações de privacidade no âmbito neural poderiam ser 
até mais perigosas do que as convencionais, uma vez que 
ultrapassam o nível do raciocínio consciente, deixando-
-nos expostos ao risco de ter nossa mente lida involunta-
riamente. Por mais que lembre enredo de filme de ficção, 
Empresas como Facebook, 
Netflix e Samsung já cogitam 
traduzir pensamentos direto 
do cérebro do usuário para 
o computador; num futuro 
próximo, o controle cerebral 
poderá substituir o teclado 
e o reconhecimento da fala
tecnologia
o fato é que esse perigo existe não apenas em estudos de 
marketing predatório ou tribunais que poderiam utilizar a 
tecnologia em demasia, mas também em usos que afeta-
riam consumidores em geral.
Esta última categoria, aliás, está crescendo. Há poucos 
meses, o Facebook revelou um plano para criar uma inter-
face “discurso-para-texto” com o intuito de traduzir pensa-
mentos direto do cérebro para o computador. Ensaios pare-
cidos são feitos por empresas como a Samsung e a Netflix. 
No futuro, o controle cerebral poderia substituir o teclado e 
o reconhecimento da fala como forma principal de interagir 
com computadores.
Se tais ferramentas se tornarem cada vez mais 
comuns – como é bem possível que ocorra 
–, novas possibilidades de uso indevido 
surgirão, inclusive violações de segu-
rança. Cientes de que dispositivos 
neurológicos conectados ao cére-
bro são vulneráveis a sabotagem, 
neurocientistas da Universidade de 
Oxford sugerem que a mesma fra-
gilidade se aplica a implantes ce-
rebrais e que podem levar a um 
fenômeno chamado brainjacking, 
que seria uma espécie de “hackea-
mento” da mente. Tal possibilidade 
pode exigir a reconsideração do que 
entendemos hoje como direito à integri-
dade mental, já reconhecida como uma prerroga-
tiva indispensável para a saúde mental. 
tecnologia
9
Essa nova interpretação, porém, tem desdobramentos: 
não só protegeria pacientes contra uma possível recusa a 
tratamentos para doenças mentais, mas também defenderia 
as pessoas de modo geral contra manipulações prejudiciais 
de nossa atividade mental pelo uso indevido da tecnologia.
Por fim, o direito à “continuidade psicológica” pode pro-
teger a vida mental contra alterações feitas por terceiros. 
Um exemplo: o mesmo tipo de intervenção em estudo 
para reduzir a necessidade de sono nas forças armadas 
poderia ser adaptado para tornar soldados mais belige-
rantes ou destemidos.
A neurotecnologia traz benefícios, mas para diminuir riscos 
indesejados precisamos de um debate aberto que envolva 
neurocientistas, psicólogos, psicanalistas, médicos peritos le-
gais, especialistas em ética e cidadãos comuns. Para alguns, 
podem parecer precipitadas essas preocupações, mas o 
mundo se transforma rápido, frequentemente nos surpreen-
de. Afinal, há 15 anos você imaginava o quanto a tecnologia 
ocuparia sua vida hoje e o faria tão dependente de seu celu-
lar ou computador?
tecnologia
10
Entenda o que eles pensaram.
E se prepare para pensar 
a educação daqui para frente.
c o l e ç ã o
Reserve sua coleção e receba em casa
www.lojasegmento.com.brLançamento no
A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas 
em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, 
consultar, debater e aplicar no dia a dia de trabalho.
Conheça e entenda a contribuição de cada pensador para a pedagogia,
saiba identifi car suas teses principais e os resultados que suas ideias 
geram até hoje nas escolas.
 
Conte também com extensa bibliografi a comentada para ajuda-lo 
a organizar os próximos passos e continuar aprendendo. História 
da Pedagogia. Essencial para quem quer fazer história na educação.
c o l e ç ã o
A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas 
em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, 
P i a g e t • V i g o t s k i • W a l l o n • F r e i r e • R o u s s e a u • D e w e y
LI
G
H
T
História da Pedagogia
C o l e ç ã o
Realização:
capa • motivação
Pessoas motivadas 
procuram se superar e 
buscar melhores resultados, 
são mais entusiasmadas, 
responsáveis, comprometidas 
e, principalmente, mais 
satisfeitas. O problema é 
que nem sempre nosso 
empenho está alinhado com 
os resultados que obtemos. 
Novas pesquisas indicam a 
importância de rever rotas
O que 
move 
você? 
capa • motivação
 
1313
T
odo mundo que cursa psicologia – ou mesmo outras 
formações na área de ciências humanas – em algum 
momento assiste à aula sobre a famosa pirâmide de 
Abraham Maslow (1908-1970). O psicólogo america-
no estabeleceu uma hierarquia, expressa graficamente, locali-
zando as necessidades mais básicas (como alimentação, por 
exemplo) na base da figura geométrica. No topo, ficam aspec-
tos ligados à realização pessoal. Psicólogos e neurocientistas 
acreditam, porém, que as coisas não são tão simples. O que 
nos faz trabalhar, estudar, viajar, tomar banho, fazer ginástica, 
correr riscos, iniciar e manter relacionamentos? Resolvidas as 
necessidades básicas, o que nos move mesmo é uma exigên-
cia interna de autonomia, conhecimento, envolvimento e dina-
mismo. Fácil? Nem tanto. Em 
plena era da tecnologia, em 
que as possibilidades se mul-
tiplicam diante dos nossos 
olhos, muitos pesquisadorestêm questionado ideias sim-
plistas sobre as necessida-
des e os anseios humanos.
Alguns estudiosos veem 
a maior fonte da motiva-
ção humana na ampliação 
das próprias competências e falam de dois sistemas de 
razões antagônicas que se formaram ao longo da evolu-
ção: curiosidade e medo, ambos repletos tanto de oportu-
nidades quanto de riscos. É o caso do psicólogo Clemens 
Trudewind, pesquisador da Universidade de Bochum, na 
Alemanha, que durante algum tempo estudou essa inte-
ração. Ele comprovou algo que muitos pais e educadores 
Quando enfrentamos 
dificuldade, convém 
perguntar o que está 
faltando; a resposta, em 
geral, se relaciona a falta de 
autonomia, sensação de que 
a tarefa é inútil ou dúvida 
sobre nossa capacidade
1414
já sabiam: crianças curiosas e destemidas resolvem pro-
blemas com mais eficácia do que as temerosas e passi-
vas. No entanto, a curiosidade e o medo não são opostos: 
os pequenos muito medrosos e ao mesmo tempo curiosos 
também se revelaram bons solucionadores de problemas, 
segundo Trudewind. Razões supostamente antagônicas, 
portanto, não são obrigatoriamente excludentes.
Três elementos críticos
Uma grande vantagem bastante prática da motivação é que 
ela nos faz mais entusiasmados, comprometidos, empenha-
dos em buscar os melhores resultados e, em última instân-
cia, felizes – no que quer que estejamos empenhados. Além 
disso, aumenta a capacidade criativa e favorece as habili-
dades de comunicação. Especialistas chegam a argumentar 
que a motivação – aquilo que move a ação – pode ser até 
mais importante e decisiva para o sucesso do que o talento.
Mas, afinal, de onde vem esse ânimo de direcionar a 
energia (um misto de empenho de tempo, capacidade in-
telectual e afetiva) em direção a um objetivo? A psicologia 
identifica três “elementos críticos” que oferecem suporte à 
motivação. A boa notícia é que todos podem ser ampliados 
e ajustados em nosso próprio benefício.
n Autonomia. Os psicólogos Edward L. Deci e Richard 
M. Ryan, da Universidade de Rochester, acreditam que au-
mentamos nosso grau de motivação quando nos sentimos 
responsáveis. Os pesquisadores trabalham com grupos 
de estudantes, atletas e funcionários e descobriram que 
a percepção de autonomia prediz a energia com a qual os 
indivíduos perseguem uma meta.
capa • motivação
15
Junto com o psicólogo Arlen C. Moller, Deci e Ryan desen-
volveram vários experimentos para avaliar as consequên cias 
emocionais e cognitivas de uma ação controlada por outras 
pessoas em comparação aos efeitos das próprias escolhas. 
Eles descobriram que os voluntários que tiveram a oportu-
nidade de desenvolver uma ação com base em suas opi-
niões (contra ou a favor de algum tema) persistiram mais 
tempo em uma atividade subsequente de resolução de um 
quebra-cabeça (tarefa aparentemente desvinculada da an-
terior). Os cientistas afirmam que agir sob coação gera uma 
espécie de “tributário mental”, enquanto perseguir um obje-
tivo no qual acreditamos nos deixa energizados.
n Valor. Motivação também costuma persistir quando per-
manecemos fiéis às nossas crenças. Atribuir valor a uma ativi-
dade pode restaurar o senso de autonomia, uma descober-
ta de grande interesse para os educadores. Em um artigo de 
capa • motivação
16
revisão, os psicólogos Allan Wigfield e Jenna Cambria, pesqui-
sadores da Universidade de Maryland, observaram que vários 
estudos haviam encontrado correlação positiva entre a valori-
zação de um assunto na escola e a vontade do estudante de 
investigar a questão de forma independente.
Felizmente, valores podem ser mudados. O psicólogo Chris-
topher S. Hulleman, professor da Universidade da Virgínia, 
descreveu uma intervenção realizada no final do semes-
tre letivo com dois grupos de estudantes do ensino médio. 
Um deles escreveu sobre como a ciência se relacionava 
com sua vida e outro deveria simplesmente resumir o que 
fora aprendido nas aulas de ciências. Os resultados mais 
marcantes vieram de estudantes com baixas expectativas 
de desempenho. Aqueles que descreveram a importância 
da ciência em sua vida melhoraram suas notas e relataram 
maior interesse, em comparação aos alunos em situação 
semelhante no grupo de resumo-escrita. Em suma, parece 
que pensar sobre algo (uma situação, uma área de conhe-
cimento etc.) tende a aumentar nosso comprometimento.
Não por acaso, um tema básico de meditação analítica 
do budismo é o fato de que o praticante vai morrer, mas 
não sabe quando isso vai acontecer, o que leva à reflexão 
sobre a preciosidade da vida – e à motivação para desfru-
tá-la de forma significativa.
n Competência. Gostamos do que fazemos ou fa-
zemos o que gostamos? Tudo indica que, à medida que 
dedicamos mais tempo a uma atividade, percebemos que 
nossas habilidades melhoram nessa área e adquirimos 
senso de competência. Psicólogos das universidades De-
mocritus da Trácia e da Tessália, ambas na Grécia, entre-
capa • motivação
17
vistaram 882 alunos sobre suas atitudes e o engajamento 
com o atletismo durante um período de dois anos. Os pes-
quisadores descobriram uma forte ligação entre o sucesso 
obtido por um aluno nos esportes e o desejo de praticar 
determinada modalidade. A conexão funcionou em ambas 
as direções – a prática tornou os jovens mais propensos 
a se considerar competentes e o senso de competência 
determinou a perseverança na prática esportiva. Estudos 
semelhantes, considerando atividades como música e ren-
dimento acadêmico, reforçam essas constatações. 
A psicóloga Carol S. Dweck, 
pesquisadora da Universida-
de Stanford, mostrou que a 
competência está bastante 
associada às próprias crenças. 
Em uma série de estudos, ela 
descobriu que aqueles que se 
apoiam mais em talentos ina-
tos que no trabalho árduo de-
sistem mais facilmente quan-
do enfrentam um novo desa-
fio, porque temem que ele exceda sua capacidade.
Já acreditar que o empenho promove a excelência nos 
ajuda a continuar aprendendo. Em geral, quando enfrenta-
mos dificuldades para atingir aquilo que desejamos, con-
vém perguntar o que está faltando. Muitas vezes, a respos-
ta está em uma (ou mais de uma) destas três áreas: falta 
de autonomia, sensação de que a tarefa é inútil ou dúvida 
sobre sua capacidade. Enfrentar essas fontes de resistên-
cia pode fortalecer sua determinação. A escolha é pessoal, 
claro. (Leia mais sobre o tema na pág. seguinte.)
A curiosidade e 
o medo não são opostos; 
estudos mostraram que 
crianças muito medrosas 
e ao mesmo tempo 
curiosas se revelaram 
boas solucionadoras 
de problemas
capa • motivação
18
Neurocientista da 
Universidade de Washington 
mapeou centenas 
de cérebros de animais 
e constatou que o prazer 
está muito mais em buscar 
o que queremos 
do que em conseguir. 
Talvez isso explique 
por que suportamos 
postergar o recebimento 
de recompensas
O que 
vale a 
pena 
buscar? 
capa • motivação
19
N
o começo da década de 50, o psicólogo James 
Olds, professor da Universidade Mc-Gill, no Ca-
nadá, chegou à conclusão de que a busca pela 
satisfação e a satisfação em si são processadas 
na mesma região no cérebro dos ratos. Outras pesquisas 
realizadas depois revelaram que o funcionamento men-
tal de seres humanos segue a mesma lógica. Isso explica 
por que buscamos prazeres continuamente. Mas a maioria 
das pessoas também consegue postergar a realização dos 
seus desejos: na expectativa de viver algo que queremos, 
nosso cérebro já nos dá uma 
provinha da satisfação.
O professor de psicologia e 
neurociência da Universidade 
de Michigan Kent Berridge, 
vencedor do prêmio Grawe-
meyer de psicologia em 2018, 
fez uma descoberta funda-
mental sobre motivação: nos-
so cérebro tem dois sistemas 
de recompensa, um que nos 
leva a querer e outro, à sensação de satisfação. Sentimos 
vontade de obter algo e, na sequência, a alegria da con-
quista. Por estarem muito próximos, esses dois movimen-tos mentais confundiram os cientistas, mas hoje se sabe 
que eles podem funcionar separadamente.
Quando estamos muito ansiosos, estressados, ou sob o 
efeito de drogas, por exemplo, a vontade de conseguir o 
que almejamos é potencializada e a capacidade de escolha 
fica comprometida. Talvez você mesmo já tenha se flagra-
do, em momentos de grande tensão e cansaço, compran-
capa • motivação
Nosso cérebro tem dois 
sistemas de recompensa, 
um que nos leva a querer 
e outro, à sensação 
de satisfação. Sentimos 
vontade de obter algo 
e, na sequência, 
a alegria da conquista
20
do e comendo com avidez (mesmo sem fome) guloseimas 
pouco saudáveis, das quais sequer gosta de verdade. Po-
demos pensar que naquele momento você queria aquilo, 
embora realmente não gostasse.
O neurocientista Jaak Panksepp, pesquisador da Uni-
versidade de Washington, mapeou centenas de cérebros 
de animais e constatou que o prazer está muito mais em 
buscar o que queremos do que em conseguir. Talvez isso 
explique, do ponto de vista da neurociência, por que su-
portamos postergar o recebimento de recompensa – como 
o pagamento no fim do mês ou uma boa nota depois de 
passar o fim de semana estudando para a prova. Segundo 
Panksepp, isso também é observado no comportamento 
de muitos mamíferos que preferem procurar comida a en-
contrá-la de uma forma fácil.
Entre humanos, a lógica pode ser a mesma em muitas 
áreas da vida. Por exemplo, na paquera ou no início do na-
moro, em que existe a constante motivação da conquista, 
em contraste com a “calmaria” da relação estável após al-
gum tempo.
Algo maior
Durante uma das mais comentadas palestras do TED, a 
maior convenção de ideias do mundo, que acontece anu-
almente na Califórnia, o professor do departamento de 
psicologia da Universidade de Chicago Mihaly Csikszent-
mihalyi fez uma pergunta à plateia: “O que faz a vida valer 
a pena?”. Em 15 minutos de apresentação, ele chegou à 
seguinte conclusão: Não podemos ter uma ótima vida sem 
o sentimento de que fazemos parte de algo maior do que 
nós mesmos.
capa • motivação
21
Talvez seja esse o propósi-
to maior da nossa motivação. 
Além de atender às nossas ne-
cessidades biológicas de so-
brevivência, de sermos recom-
pensados por aquilo que faze-
mos bem feito e realizar com 
autonomia algo que importa, 
precisamos ter a sensação de 
que o que queremos e do que 
gostamos tem um significado.
Ganhar dinheiro? Assistir a sé-
ries? Viajar? Receber elogios? 
Ter um corpo considerado boni-
to segundo os padrões de bele-
za vigentes? Tudo isso é ótimo. 
Mas se empenhar continuamen-
te em conseguir o que se deseja 
pode ser muito mais gratificante. 
Principalmente se o objetivo não 
for obter apenas satisfação pes-
soal, mas encontrar um objetivo 
maior para motivar suas ações. 
capa • motivação
Durante a maior parte da vida, 
buscamos recompensas – 
que podem aparecer em forma 
de bens materiais, prazeres sensoriais 
ou afeto – e evitamos punições, 
mas em geral nos frustramos
atenção
22
Diante de uma situação em que 
precisamos nos concentrar, mas vários 
estímulos nos atraem simultaneamente, 
“escolhemos” apenas um para nos ater
Truque cerebral 
para evitar 
distrações 
23
V
ocê está dirigindo por uma rodovia por onde não 
costuma transitar e sabe que a saída está em algum 
lugar desse trecho da estrada, mas nunca a utilizou 
antes e não quer perdê-la. Enquanto olha atenta-
mente para um lado em busca do sinal de saída, numerosas 
distrações se intrometem em seu campo visual: cartazes, um 
conversível charmoso, o toque do celular.
Como o seu cérebro se concentra na tarefa que está rea-
lizando? Para responder a essa pergunta, neurocientistas em 
geral estudam o modo como o cérebro reforça sua resposta 
para o que você está procurando, condicionando-se com um 
impulso elétrico especialmente forte quando vê o que pro-
cura. Outro “truque” 
neurológico pode 
ser igualmente im-
portante: segundo 
um estudo divulga-
do pelo periódico 
científico Journal 
of Neuroscience, o 
cérebro enfraque-
ce sua reação deliberadamente perante tudo o mais, de modo 
que, comparativamente, o alvo de interesse ganhe destaque. 
E o mais curioso: fazemos isso sem sequer perceber.
Os neurocientistas cognitivos John Gaspar e John McDonald, 
ambos pesquisadores da Universidade Simon Fraser, na Co-
lúmbia Britânica, Canadá, chegaram a essa conclusão depois 
de pedirem a 48 universitários que fizessem testes de atenção 
em um computador. Os voluntários deveriam identificar rapida-
mente um círculo amarelo isolado em meio a um conjunto de 
atenção
Neurocientistas acreditam que a 
ampliação dessa linha de pesquisa 
poderá ajudar a compreender o 
que ocorre no cérebro de pessoas 
com transtorno de déficit de 
atenção e hiperatividade (TDAH)
24
círculos verdes sem serem distraídos por um círculo vermelho 
ainda mais chamativo. Durante todo esse tempo os pesquisa-
dores monitoraram a atividade elétrica no cérebro dos estu-
dantes por meio de uma rede de eletrodos conectados a seu 
couro cabeludo. Como primeira evidência direta desse pro-
cesso neural em ação, os padrões registrados revelaram que 
o cérebro dos participantes do experimento consistentemente 
suprimira reações a todos os círculos, exceto quando se referia 
àquelas formas geométricas que estavam procurando.
“Neurocientistas estão cientes da supressão há algum tem-
po, mas ela não tem sido tão estudada quanto mecanismos 
que aumentam a atenção”, salienta McDonald. “A novidade é 
que, com esse trabalho, determinamos como é possível evitar 
distração por meio da supressão.”
O neurocientista acredita que pesquisas desse tipo algum 
dia poderão ajudar os cientistas a entender o que ocorre no 
cérebro de pessoas com problemas de atenção, como o trans-
torno de défi cit de atenção e hiperatividade (TDAH). E, em um 
mundo cada vez mais permeado de distrações, o que é um 
importante fator para acidentes de trânsito, qualquer insight 
sobre como o cérebro concentra atenção deve despertar tam-
bém a nossa.
atenção
inteligência
26
Assim como as crianças, 
filhotes de galinha 
parecem ter preferência 
inata por algarismos 
menores à esquerda 
e maiores à direita
Pintinhos 
bons de 
matemática
27
P
ense em um número. Agora imagine um maior. 
Tente visualizar os dois na sua frente. Se você 
enxerga o menor do lado esquerdo, apenas 
confirma um dado encontrado frequentemente: 
tendemos a posicionar números no espaço da esquerda 
para a direita. Cada vez mais evidências, incluindo pes-
quisas com bebês lactentes pré-verbais, sugerem que 
nascemos com essa tendência, que pode ser facilmente 
influenciada pela cultura e alterada. O curioso é que um 
estudo publicado pelo periódico científico Science, por 
uma equipe de pesquisado-
res da Universidade de Tren-
to, na Itália, mostra que be-
bês de uma espécie comple-
tamente diferente também 
preferem colocar os algaris-
mos maiores nessa ordem.
Os cientistas treinaram pin-
tinhos de três dias de vida 
para andar em torno de um 
painel em busca de alimen-
to. Num primeiro momento, 
alguns filhotes aprenderam a encontrar comida atrás de 
uma divisão em que havia cinco pontos desenhados. Em 
seguida, os cientistas, coordenados pela psicóloga cog-
nitiva Rosa Rugani, substituíram o painel por outros dois. 
Quando essas novas separações mostravam duas mar-
cações cada uma, os animais caminhavam inicialmente 
para a marca da esquerda em 70% das vezes. Quando 
inteligência
Os resultados mostram 
que as escolhas dos 
animais dependem de 
quantidades relativas, 
e não de qualquer 
preferência absoluta 
por algum número, 
e indicam que essa 
predisposição é inata
28
os painéis exibiam oito, os pintinhos tendiam a escolher 
o número da direita, como se tivessem certa preferência 
pela disposição numérica. 
Os pesquisadores repetiram então o experimento com 
outros filhotes, que foram treinadoscom divisões exibin-
do 20 pontos e testados com marcação de oito ou 32. Sur-
preendentemente, em ambos os ensaios, os animais viraram 
à esquerda para os números pequenos e à direita para os 
grandes. Os cientistas escolheram como menor o oito em 
um contexto e maior no outro para mostrar que o efeito de-
pende de quantidades relativas, e não de qualquer prefe-
rência absoluta por algum número. 
Os resultados confirmam fortemente a ideia de que essa 
predisposição é inata. A pesquisa indica, porém, que a prefe-
rência pode ser facilmente modificada pela experiência; por 
isso, é bem provável que substituí-la não represente muita 
dificuldade para cérebros jovens numa cultura que escreve 
nesse sentido. Falantes de árabe, por exemplo, mostram ten-
dência espacial inversa. Outros povos que escrevem da di-
reita para a esquerda e os dígitos na outra direção, como em 
hebraico, não mostram nenhuma predileção particular.
Os autores do estudo sugerem que esses resultados estão 
relacionados com o fato de que cérebros não são simétri-
cos. O hemisfério direito domina o processamento visuoes-
pacial, levando a uma preferência para o lado esquerdo do 
espaço para comandar a atenção – o que talvez explique por 
que tendemos a pensar nos “primeiros” números nessa di-
reção enquanto contamos. O esquema espacial pode surgir 
também de um mapa físico dos algarismos no cérebro, algo 
encontrado em humanos no córtex parietal posterior direito, 
mas ainda não observado em animais.
inteligência
sentidos
30
Cheiro da pessoa 
amada diminui 
estresse
Em um novo estudo, os pesquisadores descobriram que as 
mulheres que tinham cheirado a camiseta suada do parceiro 
relataram ter menos estresse do que aquelas que sentiram o 
cheiro de um estranho ou de uma roupa não usada
31
E
stá ansioso com a situação caótica do país, com o 
trânsito ou com o compromisso assumido de fa-
lar em público? Tente cheirar a camiseta suada da 
pessoa amada. Estranho? Talvez, mas um estudo 
experimental recente revelou que o odor do parceiro afetivo 
pode reduzir os níveis de estresse psicológico e fi siológi-
co, mesmo quando a pessoa não está presente. Já o cheiro 
de um estranho tende a aumentar os níveis de estresse, de 
acordo um estudo publicado no periódico científi co Journal 
of Personality and Social Psychology.
“Muitas mulheres usam a camisa do parceiro e homens às 
vezes preferem o lado que a companheira normalmente ocu-
pa na cama quando ela está fora”, diz a doutora em psicologia 
Marlise Hofer, pesquisadora da Universidade de British Co-
lumbia.  “Ao observar esses comportamentos, fi quei curiosa 
para saber se traziam algum benefício efetivo”, conta Hofer. 
Ela e outras três pesquisadoras recrutaram 96 casais hete-
rossexuais para participar do estudo. Os homens foram ins-
truídos a usar uma camiseta branca por 24 horas e evitar usar 
desodorante, fumar ou comer alimentos como alho ou cebo-
la, que interferem diretamente no odor exalado. Após usarem 
as peças durante cinco horas, as devolveram ao laboratório. 
As camisetas foram dobradas e congeladas pelo avesso, em 
embalagens individuais, com a área da axila voltada para cima 
para preservar o aroma, e descongeladas duas horas antes do 
início do teste de estresse.  Aliás, há algo curioso no método: 
congelar uma peça de roupa preserva o odor do usuário por até 
dois anos, segundo as pesquisadoras. Os homens foram esco-
lhidos para usar as roupas porque costumam ter suor mais forte, 
enquanto as mulheres tendem a ter um olfato mais apurado. 
sentidos
32
As participantes deveriam cheirar, aleatoriamente, uma 
entre três tipos de camisetas por um minuto: a de seu par-
ceiro, outra de um estranho ou uma peça limpa, não usada, 
sem saber de qual se tratava. As pesquisadoras pergunta-
ram a cada uma se acreditavam que a roupa tinha sido usa-
da por seu parceiro. Na sequência, as voluntárias passa-
ram por um teste psicológico, destinado a induzir estresse, 
composto pela simulação de uma entrevista de emprego 
e um desafio mental que consistia em contar, de 2027 a 1 
(ordem decrescente), o mais rápi-
do possível, por 17 segundos, en-
quanto eram observadas por uma 
banca de “juízes”, previamente 
instruídos a não sorrir.
As pesquisadoras coletaram 
amostras de saliva das mulheres 
sete vezes ao longo do experimen-
to, para medir os níveis de cortisol, 
o hormônio associado ao estres-
se. Para controlar as diferenças na 
produção de cortisol, as voluntá-
rias foram submetidas ao teste de 
estresse durante a mesma fase de seus ciclos menstruais.
As mulheres também responderam ao mesmo questio-
nário cinco vezes, indicando quão ansiosas, tensas ou des-
confortáveis se sentiam numa escala de zero (nada) a 100 
(muito). No geral, tanto antes como depois do exercício de 
matemática e da entrevista simulada de trabalho, as que ti-
nham cheirado a camiseta do parceiro relataram se sentir 
menos estressadas do que aquelas que sentiram o cheiro 
de um estranho ou de uma roupa não usada. Os níveis de 
sentidos
As camisetas foram 
dobradas e congeladas 
pelo avesso, em 
embalagens individuais, 
com a área da axila 
voltada para cima para 
preservar o aroma, e 
descongeladas duas 
horas antes do início 
do experimento
cortisol caíram principalmente quando a mulher não só to-
mava contato com o cheiro do marido ou namorado, mas 
também o reconhecia. “O cheiro associado à percepção de 
que o odor é do companheiro reduz sensivelmente a res-
posta do estresse fi siológico”, afi rma Hofer. 
As mulheres que cheiraram o odor da axila de um estranho 
apresentaram nível mais alto de cortisol. No entanto, elas não 
relataram se sentir especialmente estressadas. “Isso sugere 
que as reações ao hormônio podem representar mobiliza-
ção de energia dentro do sistema metabólico em preparação 
para uma ameaça potencial (a resposta de lutar ou fugir) e 
que a reação ao cortisol pode não ser acessível à experiência 
subjetiva de estresse”, escrevem as pesquisadoras no artigo 
sobre o experimento. 
sentidos
33
linguagem
34
Os idiomas variam muito de uma 
cultura para outra, mas raízes comuns 
podem ser encontradas na maioria 
deles. A ciência tem pistas sobre a 
razão de associarmos certas letras com 
formas redondas ou pontiagudas
A forma 
secreta 
das letras
35
V
ocê sabe o que quer dizer bouba, takete, malu-
mi e kiki? Se não tem ideia, não faz mal, pois de 
fato as palavras não têm nenhum significado. 
Apesar disso, por décadas os vocábulos têm 
sido estudados por linguistas fascinados pela maneira 
como esses termos podem transmitir significado em mui-
tos idiomas. Pesquisas da década de 1920 já demonstra-
vam que crianças e adultos, independentemente do idio-
ma que falavam, combinavam as palavras bouba e malu-
mi com formas arredondadas e kiki e takete com forma-
tos pontiagudos. O porquê 
permanece um enigma. 
Consoantes e vogais não 
têm nenhuma relação ine-
rente com o significado na 
maioria das expressões. 
A letra “o” em “octógono”, 
por exemplo, não está liga-
da de maneira “natural” a 
formas de oito lados, nem 
azul ao tom, à cor que associamos à palavra, por exemplo. 
Então, o que haveria de tão especial em bouba e takete?
Hoje os cientistas apresentam uma resposta parcial a 
essa pergunta: consoantes parecem carregar significado 
além das palavras que ajudam a formar. Em um estudo 
recente com 71 falantes de francês publicado na Langua-
ge and Speech, pesquisadores europeus liderados pela 
psicolinguista Mathilde Fort, da École Normale Supérieu-
re, em Paris, mostraram que os participantes associavam 
consistentemente palavras com b, m e l com formas re-
linguagem
Consoantes parecem 
carregar significado além 
das palavras que ajudam 
a formar; um estudo recente 
com 71 falantes de francês 
mostrou associação de 
palavras com b, m e l com 
formas arredondadas 
36
dondas e termos contendo k e t com forma-
tos pontiagudos,independentemente 
das vogais com as quais eram 
combinadas. Os resultados 
sugerem que bouba e kiki 
podem ser semelhan-
tes às palavras ono-
matopaicas em in-
glês “crash” (colisão) 
e “crunch” (masti-
gação), em que as 
consoantes forne-
cem um sentido 
simbólico de som 
do barulho do im-
pacto, independente-
mente das vogais. A di-
ferença seria que b, m e 
l têm esses significados em 
vários idiomas, não apenas em 
inglês, como k e t.
Um pequeno experimento de acom-
panhamento, no entanto, mostrou que o efeito não é limi-
tado a algumas consoantes. Participantes de uma amos-
tra de 23 pessoas também combinaram palavras com d, 
n, s, p, sh e zh com formas arredondadas e termos com 
f, v e z com formatos pontiagudos. Assim como antes, os 
indivíduos pareciam ignorar as vogais. O resultado, que o 
simbolismo sonoro não pode explicar, sugere que temos 
reações fundamentais a certos sons, que persistem ape-
linguagem
Em diferentes 
culturas há reações 
semelhantes a certos 
sons, que persistem 
apesar da ampla 
diversidade de 
línguas; cientistas 
acreditam que certos 
sons desencadeiam 
associações específicas 
no cérebro
sar da ampla diversidade de paisagens 
melódicas de línguas do mundo todo. 
É provável que as consoantes de cada 
grupo tenham algo em comum que de-
sencadeia essas associações no cére-
bro, mas os cientistas ainda não desco-
briram de que se trata essa propriedade 
– a acústica simples não pode explicar. 
De qualquer forma, a descoberta mos-
tra que as consoantes em geral desem-
penham papel excepcional no idioma.
De fato, algumas línguas, como árabe 
e hebraico, priorizam as consoantes so-
bre vogais, muitas vezes omitindo es-
tas últimas nos textos. A raiz do termo 
“escrever” em árabe é /ktb/. Se preen-
chermos essas letras com vogais dife-
rentes, teremos uma variedade de pa-
lavras relacionadas, como kataba (ele 
escreveu), yaktubna (eles escrevem) 
e kitab (livro). A presença desses idio-
mas no mundo – e a ausência de qual-
quer um que priorize vogais – ajuda a 
reforçar a ideia de que as consoantes 
são fundamentais. As vogais continuam 
necessárias porque tornam possível di-
zer as palavras em voz alta. Mas são as 
consoantes que fazem o trabalho duro 
de transmitir significado.
linguagem
37
especial • inconsciente
38
Há em nossa mente 
significados codificados, 
revestidos de metáforas 
e imagens; sentimentos 
reprimidos, porém, 
reaparecem disfarçados 
e deslocados, tanto 
nos sonhos quanto 
no cotidiano 
Universos 
 além da 
consciência
por Gláucia Leal
3939
O 
inconsciente é por definição incognoscível. O psi-
canalista está, portanto, na posição infeliz de um 
estudioso daquilo que não se pode conhecer”, es-
creveu Thomas Ogden, em The primitive edge of 
experience, de 1989. Na verdade, podemos pensar o incons-
ciente sob duas ópticas. Como adjetivo, é possível associá-lo ao 
que escapa à consciência, sem estabelecer discriminação entre 
conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente. Para 
melhor compreender, vale observar aqui que a concepção de 
consciência parece semelhante à de atenção: estamos cons-
cientes daquilo para o que nos voltamos e inconscientes daquilo 
com que não nos ocupamos.
Poderíamos, segundo essa 
lógica, estar conscientes de 
situações e fenômenos para 
os quais voltássemos nossa 
atenção – entraríamos então 
no que Freud chamou de 
pré-consciente. Aquilo para o que evitamos dar atenção por 
acharmos que pode deflagrar perturbação e dor está no in-
consciente reprimido. É possível, nesse caso, falar do incons-
ciente como substantivo, no sentido tópico. Trata-se, assim, de 
uma instância psíquica, faz parte da primeira teoria do aparelho 
psíquico desenvolvida por Freud, constituído de material recal-
cado, não diretamente acessível à consciência.
A consciência pode ser comparada com o que está visível na 
tela do computador. Temos acesso imediato a outras informa-
ções “pulando” para outra parte do documento ou mudando 
de janela. Esse gesto seria análogo às partes consciente e pré-
-consciente da mente. Mas pode ser mais difícil acessar outros 
especial • inconsciente
4040
conteúdos, pois podem estar criptografados ou atachados, po-
dem exigir senha ou ainda ter sido corrompidos, de modo que 
a informação esteja embaralhada e, portanto, incompreensível. 
A ideia de que guardamos motivações sobre as quais não 
temos controle (e, por vezes, nem mesmo, ciência) traz à tona 
a hipótese que oferece consistência a comportamentos e vi-
vências que, de outra forma, pareceriam completamente inco-
erentes. Freud se deu conta de que lapsos verbais e de escrita, 
falhas da memória, ações confusas e outros equívocos podem 
ser, em um nível mais profundo, não casuais – mas inconscien-
temente intencionais. Para ele, os sonhos constituem um cami-
nho privilegiado para o inconsciente, embora não seja possível 
desvendá-los completamente. 
Da mesma forma que os sonhos, outras formas de comu-
nicação podem apresentar representações de desejos e ob-
servações inconscientes que empregam os mesmos meca-
nismos oníricos. Os significados inconscientes são codificados, 
revestidos de metáforas e imagens. Um exemplo muito co-
mum disso se dá em situações em que sentimos raiva, mas re-
primimos essa emoção por sabermos que desencadeará sen-
timentos dolorosos e em especial quando é dirigida a alguém 
com quem temos relação mais próxima. Assim, os sentimentos 
reprimidos são disfarçados e deslocados – e aparecem, por 
exemplo, quando criticamos outra pessoa.
especial • inconsciente
Lapsos verbais e de escrita, falhas 
da memória, ações confusas e outros 
equívocos podem ser, em um nível 
mais profundo, não casuais, mas 
inconscientemente intencionais
41
É possível pensar na se-
guinte situação: a orienta-
dora de pesquisa de uma 
jovem avisa que vai ausen-
tar-se do país durante um 
período crítico do trabalho. 
A estudante pode até com-
preender, de forma sincera, 
as razões da orientadora. 
Mas, prosseguindo a conversa, ela fala de um caso que ouvira: 
uma mãe havia deixado o filho pequeno sozinho em casa para 
fazer compras, a criança acordou e terminou se ferindo ao cair 
da escada. A mensagem inconsciente é clara: a orientadora é 
tida como a mãe negligente, a aluna é o filho desprotegido.
A queda faz alusão ao risco que ela julga correr. Consciente-
mente, a garota fala como adulta, mas inconscientemente se 
ressente com a orientadora que não cumpre a função de mãe. 
Cabe considerar que a consciência tem gradações. É frequen-
te que vivências infantis que evocaram grande vergonha ou 
culpa fiquem tão abafadas que se torna muito difícil resgatá-
-las, sendo possível ter apenas indícios desse material. Já uma 
introspecção momentânea, aliada a alguma capacidade psico-
lógica de tolerar o desconforto de lidar com algum conteúdo 
que estava inconsciente, pode levar o desejo que parecia es-
condido ao pleno conhecimento. 
Do mesmo modo, no decorrer de uma terapia psicanalí-
tica na qual o paciente é encorajado a falar e pensar com 
maior liberdade para estabelecer associações, seus anseios 
e temores tendem a se aproximar, gradualmente, da cons-
ciência. (Leia mais sobre o tema no artigo na próxima pág.)
A AUTORA
GLÁUCIA LEAL é 
jornalista, psicóloga 
e psicanalista, 
especialista em 
psicossomática 
psicanalítica. 
Editora-chefe de 
Mente e Cérebro. 
especial • inconsciente
PARA SABER MAIS
Freud nosso de cada dia. 
Gláucia Leal. Em: Por 
que Freud hoje? Coord. 
Daniel Kupermann. 
Zagodoni, 2017. 
 
O estranho (1919). 
Em: Freud (1917-1920) - 
“O homem dos lobos” 
e outros textos. Sigmund 
Freud. Obras Completas. 
Companhia das 
Letras, 2010. 
42
Esse intrigante aspecto psíquico que 
influencia escolhas organiza memórias e 
experiências que preferimos esquecer ou dos 
quais não queremos saber. E se revela em 
sonhos, amores, desejos e fantasias
especial • inconscienteEstranhos 
mundos 
internos
43
G
rande parte dos nossos conteúdos psíquicos são 
inacessíveis ao próprio conhecimento. E apesar 
de “escondidos”, surgem disfarçados e influen-
ciam nossas escolhas. Recentemente, ao pesqui-
sar a ação de neurotransmissores, o psiquiatra Eric Kandel, 
ganhador do Nobel de Medicina em 2000, comprovou que o 
inconsciente tem também o papel de intensificar as emoções 
e sensações de angústia que pareciam ocultas. O incons-
ciente freudiano não é apenas a inconsciência, no sentido da 
não consciência ou no de uma outra consciência. Trata-se 
de uma instância simultaneamente “descoberta e inventada”, 
uma vez que é um sistema que organiza nossas memórias, 
desejos e experiências que pretendemos esquecer ou dos 
quais não queremos saber. Ele existiu desde sempre, desde 
que sonhamos, amamos ou fantasiamos. 
O psicanalista Jacques Lacan acrescentou que há incons-
ciente desde que falamos com os outros. Os animais não têm 
inconsciente não porque não são racionais, ou porque não te-
Características da mente oculta(*) 
• Impulsos ou ideias incompatíveis podem existir simultaneamente sem
parecer contraditórios. É aceitável que amor e ódio se expressem ao mesmo
tempo, sem que haja discordância.
• Os significados podem ser facilmente deslocados de uma imagem para outra.
• Muitos significados podem ser reunidos em uma única imagem; 
é o que chamamos de condensação.
• Processos inconscientes são atemporais e as ideias não têm ordem
cronológica. Conteúdos referentes a anos atrás podem surgir misturados
aos mais recentes.
• O inconsciente independe do mundo externo, representa a realidade
psíquica, interna. Por isso, sonhos e alucinações são percebidos
como reais.
(*) Identificadas por Freud no texto O inconsciente, de 1915.
especial • inconsciente
44
nham consciência e muito 
menos porque estão pri-
vados de afetos e emo-
ções – mas exclusivamen-
te porque não falam. 
Na verdade, o que Freud 
inventou foi uma forma de 
usar o inconsciente para 
alguma coisa – aliviar o 
sofrimento psíquico e os 
sintomas, de modo a tor-
nar a vida das pessoas 
mais interessante e, quiçá, 
menos dolorosa. Ele criou um método para ler o inconsciente 
e libertar o desejo do qual ele é feito, usando uma maneira 
reduzida e muito mais concentrada de inconsciente que se 
chama transferência. Após algum tempo de análise, muitas 
pessoas se perguntam, surpresas, “o que acontece”, ao per-
ceberem que passaram a agir de forma menos repetitiva e 
mais autônoma, sem, contudo, saber precisar de forma exata 
os momentos nos quais se deram as transformações. É o in-
consciente que “acontece” entre analista e analisando. Com 
essa constatação, Freud mudou também nosso entendimen-
to do que é uma patologia mental. A mesma neutralização do 
inconsciente se dá com o que chamamos de “psicológico”.
O vizinho, o passado, a amnésia
Se o inconsciente sempre existiu, o que Freud inventou foi 
um método de tratamento, usando o inconsciente como hi-
pótese de trabalho e reforçando a ideia de que esse aspecto 
especial • inconsciente
psíquico é algo que ocorre na relação entre pessoas, na for-
ma como nós nos interpretamos e nos entendemos – ou nos 
desentendemos. Podemos pensar que o inconsciente tem 
três capítulos principais: o sexual, o infantil e o recalcado. 
São as três figuras deste estranho que nos habita: o vizinho 
lascivo que “só pensa naquilo”, o passado de enganos e ilusões e 
a amnésia deliberada para coisas desagradá-
veis. Para Freud, sonhos são a “via régia 
para o inconsciente”. Segundo ele, 
porém, aquilo de que nos lembra-
mos ao acordar é resultado da 
elaboração onírica, resultante 
da passagem do conteúdo la-
tente para uma representação 
consciente, o que implica um 
processo de deformação da-
quilo que está escondido em 
nossa mente. Para que esse “dis-
farce” ocorra, os elementos são 
fundidos, combinados, deslocados e 
os pensamentos, expressos em palavras, 
sensações e principalmente imagens.
Em 1919 Freud escreveu o ensaio das Unheimliche, na 
maioria das vezes traduzido para o português como O es-
tranho e, mais recentemente, por Paulo César de Souza, di-
reto do alemão (e publicado pela Companhia das Letras), 
como O inquietante. Souza reconhece, porém, que é “des-
necessário chamar a atenção do leitor para a insuficiência 
desse termo”. Em seu texto, o criador da psicanálise não tra-
ta propriamente do inconsciente, mas de temas afins, como 
especial • inconsciente
45
castração, compulsão à repetição, pulsão de 
morte, narcisismo e o duplo, tomando 
como ponto de partida o conto de 
E. T. de A. Hoffman, O homem 
da areia. Para Freud, o estra-
nhamento tem origem em 
traumas da infância, é recal-
cado no inconsciente e se 
torna algo, de alguma for-
ma, “familiar” e ao mesmo 
tempo “suspeito”; ele chega 
à conclusão de que o inquie-
tante é algo já conhecido, en-
clausurado no inconsciente – e 
quando vem à tona causa sensação 
de medo, terror, estranheza. 
O conto de Hoffman revela estreita ligação entre o medo 
de perder os olhos com a castração na fase edípica. Nessa 
época, “poetas e escritores já dominavam um pensamento 
diferente daquele racional imposto pela ciência positivista 
que Freud bem articulou à nova ciência humana emergen-
te, a psicanálise”, escreve a psicanalista Sandra Edler, na 
apresentação do livro Freud e o estranho, organizado por 
Bráulio Tavares (Casa da Palavra, 2007). “A qualquer mo-
mento podemos nos confrontar com um episódio estranho, 
sem explicação à primeira vista, e por isso mesmo pertur-
bador; mas Freud nos lembra de que vamos acabar por 
reencontrá-lo ou ainda reviver a inquietante sensação de 
estranheza que experimentamos. (Leia mais sobre o tema 
no artigo na próxima pág.)
”
especial • inconsciente
46
especial • inconsciente
Um século depois de Freud apresentar a teoria 
de que habita em nós uma instância sobre a qual 
não temos controle – mas se mostra em nossas 
ações e pensamentos – muitos cientistas se 
rendem a evidências e buscam estudá-la
A mente no 
laboratório 
47
especial • inconsciente
H
á mais de um século, quando o criador da psica-
nálise lançou a ideia de que temos em nós um 
aspecto inconsciente, foi inevitável que fosse de-
flagrada a desconfiança dos cientistas, que se per-
petua ao longo de décadas. Não é para menos, a proposta de 
Sigmund Freud é intrigante. Segundo ele, essa parte da mente 
abriga pensamentos, desejos e lembranças que, por seu teor 
excessivo, sexual ou violento, não suportamos manter por per-
to – e, por isso, são removidos para uma espécie de “porão” 
psíquico para que não tenhamos de lidar com eles a cada ins-
tante. Apesar de nossos esforços para manter esses conteú-
dos recalcados, eles continuam vívidos e vez por outra retor-
nam mais ou menos disfarçados.
Como esse aspecto não é, por definição, facilmente acessí-
vel, não é simples estudá-lo – embora se apresente inúmeras 
vezes por meio de atos falhos e no conteúdo dos sonhos, por 
exemplo. Depois de muitas abordagens buscarem negar ou 
ignorar essa instância – o que, aliás, é compreensível, visto que 
parece realmente desconfortável ter um “estranho morando 
dentro de nós” –, a ciência tem se rendido e procurado com-
preendê-la melhor.
Atualmente, o domínio da 
inconsciência, descrito mais 
genericamente no âmbito da 
neurociência cognitiva como 
qualquer processo que não 
permita a ativação da cons-
ciência, é rotineiramente estu-
dado em centenas de labora-
tórios que usam técnicas psi-
cológicas objetivas baseadas 
em análises estatísticas. 
48
especial • inconsciente
Dentre tantos, dois experimentos revelam algumas capacida-
des da mente inconsciente – embora nem de longe na profun-
didade proposta por Freud e estejam mais ligados à percepção 
do que ao profundo universo da inconsciência abordada pela 
psicanálise. Os dois experimentos abordam um aspecto interes-
sante dessa(ainda) misteriosa instância psíquica: ambos bus-
cam compreender processos de “mascaramento”, a ocultação 
de objetos da cena apresentada. Ou seja: as pessoas que parti-
cipam dos estudos olham, mas simplesmente não veem o que 
seus olhos captam. 
O primeiro estudo resultou 
de uma colaboração entre os 
pesquisadores Filip van Ops-
tal, da Universidade Ghent, 
Bélgica, Floris P. de Lange, da 
Universidade Rad-boud Nij-
megen, na Holanda, e Stanis-
las Dehaene, do Collège de 
France, em Paris. Dehaene, 
diretor da Unidade de Neuroi-
mageologia Cognitiva (Inserm-CEA, na sigla em francês), é mais 
conhecido por suas investigações sobre mecanismos cerebrais 
responsáveis por contas e números. Ele explora até que ponto 
uma simples adição ou uma média podem ser calculadas de for-
ma automática – o que ele acredita que ultrapasse os limites da 
consciência. Somar 7, 3, 5 e 8 geralmente é considerado um pro-
cesso cognitivo consciente e sofisticado.
Porém, Van Opstal e seus colegas provaram o oposto de for-
ma indireta, mas bastante convincente. Durante o experimento, 
a imagem de um conjunto de quatro números arábicos com 
Ao longo do tempo, várias 
abordagens psicológicas 
buscaram negar ou ignorar 
a instância inconsciente em 
nós, o que é compreensível, 
já que para muitos é 
desconfortável ter um 
“estranho morando em nós” 
49
especial • inconsciente
um único dígito (1 a 9, excluindo o 5) era projetada rapidamente 
numa tela. Voluntários tinham de indicar, o mais rápido possí-
vel, se a média dos quatro números era maior ou menor que 5. 
Cada rodada era precedida por uma pista oculta que podia ser 
válida ou inválida. A pista consistia num flash mostrando outro 
conjunto de quatro números cuja média era menor ou maior 
que 5. Estes eram precedidos e seguidos por marcas hashtag 
ou jogo da velha (#) no lugar dos números visualizados de re-
lance durante o flash. As marcas efetivamente escondiam as 
pistas de modo que, conscientemente, não era possível ver 
esse conjunto de números. Convidar os participantes a adivi-
nhar se a média dos quatro números escondidos era menor ou 
maior que 5 também não funcionou: ela era aleatória.
No entanto, a pista ainda influenciava a reação dos participan-
tes. Quando a dica implícita era válida, a resposta final era cons-
cientemente mais rápida que quando a pista era inválida. Na 
ilustração, a média dos quatro indícios invisíveis (3,75) era menor 
que 5, enquanto a média dos números-alvo visíveis era maior 
que 5. Resolver esse conflito requer mais tempo de proces-
samento (cerca de 1/40 de segundo). Isso significa que a pista 
aciona a atividade neural representada pela declaração “menor 
que 5” que, por sua vez, interfere no estabelecimento imediato 
Em menos de 3 segundos somos capazes 
de detectar imagens incongruentes; 
sofisticadas redes neurais 
do córtex codificam as imagens, 
pois aprendemos que certos 
objetos combinam e outros não
50
especial • inconsciente
de uma associação de neurônios representando “maior que 5”. 
Essas pistas invisíveis e indetectáveis influenciam no compor-
tamento e sugerem que “saber sem se dar conta disso” pode, de 
alguma forma, ajudar a estimar a média dos quatro números de 
um dígito. É pouco provável que nesses casos as pessoas ajam 
seguindo as regras algébricas precisas que as crianças apren-
dem na escola. Mas o processo pode basear-se na heurística 
(método para fazer descobertas). Por exemplo, para cada nú-
mero maior que 5, realmente aumenta a probabilidade de o vo-
luntário apertar o botão “maior que 5”. Este é apenas o último de 
uma batelada de experimentos que demonstram a capacidade 
de “codificação do conjunto”, uma habilidade da mente de esti-
mar, em poucos segundos, a expressão emocional dominante 
de uma multidão de rostos ou das dimensões aproximadas de 
pontos agrupados, mesmo que as faces ou os pontos isolada-
mente não sejam conscientemente identificados.
Capa de Harry Potter
Creio que a possibilidade que temos de agrupar rapidamente 
todos os diferentes elementos contidos numa cena e colocá-
-los no mesmo contexto é uma das principais características da 
consciência. Intrigados com essa questão, os neurocientistas 
Liad Mudrik e Dominique Lamy, da Universidade de Tel Aviv, e 
Assaf Breska e Leon Y. Deouell, da Universidade Hebraica em 
51
especial • inconsciente
Jerusalém, dispuseram-se a testar até 
que ponto é possível integrar incons-
cientemente todas as informações de 
um único quadro numa experiência vi-
sual unificada e coerente.
Os psicólogos israelenses usaram a 
“supressão por flashes contínuos”, uma 
técnica poderosa de ocultação, para 
tornar as imagens “invisíveis”. Nesse 
processo, padrões coloridos aleatórios, 
que mudam rapidamente, são dispa-
rados na forma de flashes em um dos 
olhos enquanto a imagem de uma pes-
soa realizando qualquer tarefa vai de-
saparecendo lentamente no outro olho. 
Em poucos segundos, a figura torna-se 
completamente invisível e o observa-
dor vê apenas formas coloridas. A cena 
que vai se tornando gradativamente 
mais intensa acaba finalmente irrom-
pendo e o espectador consegue vê-la. 
Algo parecido com a capa de invisibili-
dade de Harry Potter que, com o passar 
Num piscar 
de olhos
Participantes do experimento 
viam quatro números durante 
600 milissegundos e precisavam 
decidir rapidamente se a média 
ultrapassava 5. Máscaras com 
marcas hashtag (#) garantiam que 
os quatro números sugeridos não 
seriam vistos conscientemente; no 
entanto, a média pode ser estimada 
de forma “automática”.
do tempo, vai sumindo e revela o que está por baixo. O aspec-
to fascinante do estudo de Liad Mudrik é que o tempo até a 
cena se tornar visível depende do conteúdo da imagem.
Imagens reais de uma mulher colocando uma pizza no 
forno, um garoto mirando um alvo com arco e flecha ou 
um jogador de basquete saltando para fazer um arremes-
so levam 2,64 segundos para se tornar visíveis, enquanto 
os quadros não naturais são mascarados por 2,50 segun-
52
especial • inconsciente
dos. A diferença é pequena, mas significativa: 
a mente inconsciente detecta coisas incon-
gruentes nessas imagens. Uma mulher coloca um tabuleiro 
de xadrez no forno, a flecha a ser disparada é substituída 
por uma raquete de tênis e a bola de basquete se transfor-
ma em uma melancia.
Os psicólogos verificam se as duas imagens, a congruente 
e a incongruente, estão realmente invisíveis e não podem ser 
distinguidas uma da outra quando mascaradas. Essa desco-
berta implica que a inconsciência reconhece que há algo er-
rado nas imagens, que o objeto manuseado está fora do con-
texto. A forma como a mente conduz esse processo é mui-
to intrigante, talvez porque as vastas e intrincadas redes do 
córtex cerebral que codificam as imagens tenham aprendido 
que certos objetos combinam, outros não. 
Considerando o número quase infinito de combi-
nações de objetos e contextos, é possível que essa 
solução seja realizada pelo cérebro? Ou será que 
as técnicas de ocultação suprimem a visibilidade 
da imagem, mas não impedem completamente o 
acesso consciente a elas? Somente mais pesqui-
sas poderão responder a essas perguntas. Assim, 
talvez no futuro possamos finalmente conhecer a 
capacidade da inconsciência cognitiva e ter mais 
informações sobre o papel fundamental desempe-
nhado pela consciência neste nível mais prático. Já 
para acessar aspectos mais profundos da estância 
inconsciente proposta por Freud nada melhor do 
que recorrer à psicanálise. 
53
livro | lançamento
Do misticismo 
à psicobiologia
Livro de Sidarta Ribeiro trata do sonho, 
uma atividade mental governada por emoções 
e processos neuroquímicos, que nos permite 
simular futuros possíveis, esquecer, 
criar, ensaiar comportamentos e aprender
O oráculo da noite – A 
história e a ciência do 
sonho. Sidarta Ribeiro. 
Companhia das Letras, 
2019. 472 págs. R$ 79,90. 
E-book: R$ 39,90.Ao longo da história, as experiências oníricas guiaram decisões de líderes e várias culturas, e ainda hoje muitas pessoas fazem escolhas (como adiar viagens, por exemplo) com base nos sonhos. Em linhas psicote-
rápicas que valorizam o papel da instância inconsciente, como a psicanálise 
e a psicologia analítica, essas manifestações noturnas são recursos importan-
tes para compreender desejos e processos mentais nem sempre óbvios. Em O 
oráculo da noite, o neurocientista Sidarta Ribeiro, pós-doutor pela Universidade 
Duke, se pergunta – indagações que certamente já passaram pela cabeça de 
muita gente: o que é o sonho, afinal? Qual seu propósito? Como compreender 
suas mensagens simbólicas e detalhes tantas vezes intrigantes?
54
livro | lançamento
55
 Para oferecer respostas, de forma instigante e inteligente, o professor de neu-
rociência, fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (UFRN), busca embasamento em consistentes informa-
ções antropológicas, psicanalíticas e literárias, além das mais recentes referências 
sobre biologia molecular, neurofisiologia e medicina. O neurocientista assinala, 
por exemplo, que experiência onírica foi provavelmente a primeira demonstração 
para nossos ancestrais de que a percepção sensorial pode ser apenas um teatro 
de ilusões. No momento em que foi possível experimentar vividamente a riqueza 
dessa formação psíquica, e lembrar-se disso na vigília, tornou-se possível perceber 
que nem tudo que é pensado deve corresponder a uma percepção ou ato motor na 
vida real. Daí para a imaginação consciente (incluindo o planejamento do futuro 
e a lembrança do passado, articulados) 
pode ter sido um pulo. 
Colunista de Mente e Cérebro du-
rante 12 anos, Ribeiro recorre a histó-
ria, filosofia, narrativas sobre amores, 
monges e demônios para compor um 
panorama atraente e ao mesmo tempo 
aprofundado. Ele ressalta que, hoje, a 
ciência sabe que sonhar – uma ativi-
dade mental governada por emoções, motivações e processos neuroquímicos – 
nos permite simular futuros possíveis, esquecer, criar, ensaiar comportamentos. 
E aprender durante a noite sem nos submetermos aos riscos da realidade. 
O ato de compartilhar essas experiências por meio da linguagem talvez te-
nha inaugurado a religião, confirmando para todos os membros da tribo que 
além dessa realidade há outras, fato atestado por todos ao despertar de manhã. 
Desvendar os mecanismos e funções oníricas esclarece muito sobre a origem 
da consciência humana. Embora numa época em que se dorme tão pouco os 
sonhos muitas vezes sejam desacreditados, menosprezados ou simplesmente 
esquecidos, seu uso como tecnologia psicológica e pedagógica se torna cada vez 
mais poderoso, à medida que adquirimos conhecimento sobre a melhor forma 
de dormir e sonhar.
Desvendar os mecanismos e funções 
oníricas esclarece muito sobre a 
origem da consciência humana; 
o uso do sonho como tecnologia 
psicológica e pedagógica é um 
recurso pessoal poderoso
Entenda o que eles pensaram.
E se prepare para pensar 
a educação daqui para frente.
c o l e ç ã o
Reserve sua coleção e receba em casa
www.lojasegmento.com.brLançamento no
A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas 
em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, 
consultar, debater e aplicar no dia a dia de trabalho.
Conheça e entenda a contribuição de cada pensador para a pedagogia,
saiba identifi car suas teses principais e os resultados que suas ideias 
geram até hoje nas escolas.
 
Conte também com extensa bibliografi a comentada para ajuda-lo 
a organizar os próximos passos e continuar aprendendo. História 
da Pedagogia. Essencial para quem quer fazer história na educação.
c o l e ç ã o
A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas A coleção que apresenta as visões essenciais da pedagogia organizadas 
em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, em seis volumes acondicionados em estojo. Para você ter sempre à mão, 
P i a g e t • V i g o t s k i • W a l l o n • F r e i r e • R o u s s e a u • D e w e y
LI
G
H
T
História da Pedagogia
C o l e ç ã o
Realização:

Outros materiais