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Sobre a psicopatologia da vida cotidiana

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Sobre a psicopatologia da vida cotidiana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VOLUME VI 
(1901) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dr. Sigmund Freud 
 
 
 
 
SOBRE A PSICOPATOLOGIA DA VIDA COTIDIANA (1901) 
 
 
ESQUECIMENTOS, LAPSOS DA FALA,EQUÍVOCOS NA AÇÃO, SUPERSTIÇÕES E 
ERROS 
 
Nun ist die Luft von solchem Spuk so voll, 
Dass niemand weiss, wie er ihn meiden soll. 
Fausto, Parte II, Ato V, Cena 5 
 
Desses fantasmas tanto se enche o ar, 
Que ninguém sabe como os evitar. 
 
 
INTRODUÇÃO DO EDITOR INGLÊS 
ZUR PSYCHOPATHOLOGIE DES ALLTAGSLEBEN (Über Vergessen, Versprechen, 
Vergreifen, Aberglaube und Irrtum) 
 
 
(a) EDIÇÕES ALEMÃS: 
1901 Monatsschr. Psychiat. Neurolog. 10 (1) [Julho], 1-32, e (2) [Agosto], 95-143. 
1904 Em forma de livro, Berlim: Karger. 92 págs. (Reimpressão revista.) 
1907 2ª ed. (Ampliada.) Mesmos editores. 132 págs. 
1910 3ª ed. (Ampliada.) Mesmos editores. 149 págs. 
1912 4ª ed. (Ampliada.) Mesmos editores. 198 págs. 
1917 5ª ed. (Ampliada.) Mesmos editores, iv + 232 págs. 
1919 6ª ed. (Ampliada.) Leipzig e Viena: Internationaler Psychoanalytischer Verlag. 
iv + 312 págs. 
1920 7ª ed. (Ampliada.) Leipzig, Viena e Zurique: Mesmos editores. iv + 334 págs. 
1922 8ª ed. Mesmos editores. (Reimpressão da anterior.) 
1923 9ª ed. Mesmos editores. (Reimpressão da anterior.) 
1924 10ª. ed. (Ampliada.) Mesmos editores. 310 págs. 
1924 G.S., 4, 11-310. 
1929 11ª ed. Mesmos editores. (Reimpressão da 10ª ed.) 
1941 G.W., 4. iv + 322 págs. 
 
(a) TRADUÇÃO INGLESA: 
Psychopathology of Everyday Life 
1914 Londres: Fisher Unwin; Nova Iorque: Macmillan. vii + 342 págs. (Tradução e 
Introdução de A. A. Brill.) 
1938 Londres: Penguin Books. (Nova Iorque, 1939.) 218 págs. (Mesmo trad.) 
1938 Em The Basic Writings of Sigmund Freud, Nova Iorque: Modern Library. 
Págs. 35-178. (Mesmo trad.) 
1949 Londres: Ernest Benn. vii + 239 págs. (Mesmo trad.) 
1958 Londres: Collins. viii + 180 págs. (Mesmo trad.) 
 
A presente tradução inglesa, inteiramente nova, é da autoria de Alan Tyson. 
 
Das outras obras de Freud, apenas uma, as Conferências Introdutórias (1916-17), rivaliza 
com esta em termos da grande quantidade de edições que teve em alemão e do número de 
línguas estrangeiras para as quais foi traduzida. Em quase cada uma das numerosas edições 
incluiu-se novo material no livro e, nesse aspecto, poder-se-ia pensar em semelhança com A 
Interpretação dos Sonhos e os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, aos quais Freud fez 
constantes acréscimos durante toda sua vida. Na verdade, contudo, os casos não se assemelham. 
Nesses dois outros livros, o material novo, em sua maior parte, consistiu em ampliações 
importantes ou em correções dos dados clínicos e das conclusões teóricas. Em Sobre a 
Psicopatologia da Vida Cotidiana, a quase totalidade das explicações e teorias básicas já estava 
presente nas primeiras edições; a grande massa dos acréscimos posteriores consistiu meramente 
em exemplos e ilustrações adicionais (parcialmente fornecidos pelo próprio Freud, mas sobretudo 
por seus amigos e discípulos), destinados a esclarecer melhor o que ele já havia examinado. Sem 
dúvida, a Freud compraziam particularmente tanto as próprias anedotas quanto a fato de ele 
receber uma confirmação tão ampla de seus pontos de vista. Mas o leitor não consegue deixar de 
sentir, vez por outra, que a profusão de novos exemplos interrompe e até confunde o fio central da 
argumentação subjacente. (Ver, por exemplo, em [1]-[2] e [3]) 
Aqui, como no caso dos livros de Freud sobre os sonhos e os chistes, porém talvez em 
maior escala, o tradutor tem de enfrentar o fato de que uma grande parcela do material com que irá 
lidar depende de jogos de palavras totalmente intraduzíveis. Na versão anterior, Brill deu ao 
problema uma solução drástica; omitiu todos os exemplos que continham termos impossíveis de 
traduzir para o inglês e inseriu diversos exemplos próprios que ilustravam pontos semelhantes aos 
omitidos. Esse foi, sem dúvida, um procedimento inteiramente justificável naquelas circunstâncias. 
Na época da versão de Brill, a obra de Freud era quase desconhecida nos países de língua inglesa 
e era importante não criar obstáculos desnecessários à divulgação deste livro, expressamente 
projetado pelo próprio Freud para o leitor comum (em [1], nota de rodapé). O êxito com que Bill 
logrou esse objetivoevidencia-se pelo fato de que, em 1935, sua tradução já tivera dezesseis 
edições e muitas outras iriam seguir-se a elas. Ademais, os exemplos de Brill eram excelentes em 
sua maioria e, com efeito, dois ou três foram incluídos por Freud em edições posteriores do original 
alemão. Ainda assim, existem objeções óbvias a que se perpetue essa situação, especialmente 
numa edição que vise aos estudiosos mais aplicados dos textos de Freud. Em alguns casos, por 
exemplo, a omissão de parte do material ilustrativo de Freud inevitavelmente acarretava a omissão 
de algum comentário teórico importante ou interessante. Além disso, embora Brill anunciasse em 
seu prefácio a intenção de “modificar ou substituir alguns dos casos do autor”, essas substituições, 
no texto, em geral não são explicitamente indicadas, e o leitor fica às vezes sem saber ao certo se 
está lendo Freud ou Brill. A tradução de Brill, convém acrescentar, foi feita a partir da edição alemã 
de 1912 e permaneceu inalterada em todas as reimpressões posteriores. Desse modo, ela passa 
ao largo do imenso número de acréscimos feitos ao texto por Freud nos dez ou mais anos 
subseqüentes. O efeito total das omissões devidas a essas diferentes causas é estarrecedor. Das 
305 páginas de texto da última edição, tal como impressas nas Gesammelte Werke, cerca de 90 a 
100 páginas (isto é, quase um terço do livro) até hoje nunca foram publicadas em inglês. O caráter 
integral da presente tradução, por conseguinte, é contrabalançado pela perda indubitável de 
facilidade de leitura, em virtude da política da Edição Standard de lidar com os jogos de palavras 
pelo método prosaico de fornecer as expressões originais em alemão e explicá-las com o auxílio 
de colchetes e notas de rodapé. 
Encontramos a primeira menção feita por Freud a um ato falho na carta enviada a Fliess 
em 26 de agosto de 1809 (Freud, 1950a, Carta 94). Ali ele diz: “finalmente compreendi uma 
coisinha de que suspeitava há muito tempo” - o modo como um nome às vezes nos escapa e em 
seu lugar nos ocorre um substituto completamente errado. Um mês depois, a 22 desetembro (ibid., 
Carta 96), ele dá outro exemplo a Fliess, dessa vez o conhecido exemplo de “Signorelli”, publicado 
naquele mesmo ano em forma preliminar na Monatsschrift für Psychiatrie und Neurologie (1898b) e 
depois usado no primeiro capítulo da presente obra. No ano seguinte, a mesma revista publicou 
um artigo de Freud sobre as lembranças encobridoras (1899a), tema que ele tornou a examinar de 
modo bem diferente no Capítulo IV, adiante. No entanto, seu tempo estava inteiramente tomado 
pelo trabalho de terminar A Interpretação dos Sonhos e preparar seu estudo mais breve, Sobre os 
Sonhos (1901a), e ele só se dedicou seriamente a Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana no fim 
do ano de 1900. Em outubro daquele ano (Freud, 1950a, Carta 139), ele pede a anuência de Fliess 
para a utilização, como epígrafe da obra, da citação do Fausto, que de fato veio a ser impressa na 
página de rosto. A 30 de janeiro de 1901 (Carta 141) ele informa que a obra está “em ponto morto, 
semi-acabada, mas logo terá prosseguimento”, e a 15 de fevereiro (Carta 142), anuncia que 
terminará a obra dentro de mais alguns dias. Na verdade, ela surgiu em julho e agosto, em duas 
edições do mesmo periódico de Berlim que havia publicado os estudos preliminares. 
Três anos depois, em 1904, a obra foi publicada pela primeira vez em volume separado, 
praticamente sem nenhuma alteração, mas, daí por diante, fizeram-se acréscimos quase contínuosno decorrer dos vinte anos seguintes. Em 1901 e 1904 o livro tinha dez capítulos. Dois outros (que 
agora constituem os Capítulos III e XI) foram acrescentados pela primeira vez em 1907. Na 
biblioteca de Freud foi encontrado um exemplar da edição de 1904 com folhas de anotações 
inseridas, nas quais ele anotara sucintamente outros exemplos. A maioria destes foi incorporada 
às edições posteriores: outros, desde que parecessem interessantes, foram aqui incluídos em 
notas de rodapé nos lugares apropriados. 
 
A especial simpatia com que Freud encarava os atos falhos se devia, sem dúvida, ao fato 
de eles serem, juntamente com os sonhos, o que lhe permitiu estender à vida psíquica normal as 
descobertas que antes fizera em relação às neuroses. Pela mesma razão ele os empregava 
regularmente como o melhor material preliminar para introduzir nas descobertas da psicanálise os 
estudiosos que não eram médicos. Esse material era simples e, pelo menos à primeira vista, imune 
a objeções, além de se referir a fenômenos experimentados por qualquer pessoa normal. Em seus 
textos expositivos, Freud às vezes preferia os atos falhos aos sonhos, que envolviam mecanismos 
mais complicados e tendiam a conduzir rapidamente para águas mais profundas. Eis por que 
inaugurou sua grande série de Conferências Introdutórias de 1916-17 dedicando aos atos falhos as 
três primeiras - nas quais, por sinal, reaparecem muitos dos exemplos das páginas seguintes; e 
deu aos atos falhos prioridade semelhante em suas contribuições à revista Scientia (1913j) e à 
enciclopédia de Marcuse (1923a). Apesar de esses fenômenos serem simples e facilmente 
explicáveis, Freud pôde com eles demonstrar aquilo que, afinal, foi a tese fundamental 
estabelecida em A Interpretação dos Sonhos; a existência de dois modos distintos de 
funcionamento psíquico, por ele descritos como os processos primário e secundário. Ademais, 
outra crença básica de Freud encontrava apoio convincente no exame dos atos falhos - sua crença 
na aplicação universal do determinismo aos eventos psíquicos. É nessa verdade que ele insiste no 
último capítulo do livro: teoricamente, seria possível descobrir os determinantes psíquicos de cada 
um dos menores detalhes dos processos anímicos. E talvez o fato de esse objetivo parecer mais 
fácil de atingir no caso dos atos falhos tenha sido outra razão para que exercessem sobre Freud 
uma atração especial. De fato, ele tornou a referir-se exatamente a esse ponto em seu breve artigo 
“As Sutilezas de um Ato Falho” (1935b), um de seus últimos escritos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I - O ESQUECIMENTO DE NOMES PRÓPRIOS 
 
 
Na edição da Monatsschrift für Psychiatrie und Neurologie de 1898 publiquei um pequeno 
artigo, sob o título “O Mecanismo Psíquico do Esquecimento” [Freud, 1898b], cujo conteúdo 
recapitularei aqui e tomarei como ponto de partida para discussão mais ampla. Nele apliquei a 
análise psicológica ao freqüente caso do esquecimento temporário de nomes próprios, explorando 
um exemplo altamente sugestivo extraído de minha auto-observação; e cheguei à conclusão de 
que essa situação específica (reconhecidamente comum e sem muita importância prática) em que 
uma função psíquica - a memória - se recusa a funcionar admite uma explicação de muito maior 
alcance do que a valorização usual que se dá ao fenômeno. 
A menos que eu esteja muito enganado, um psicólogo a quem se pedisse para explicar a 
razão por que, em tantas ocasiões, deixa de nos ocorrer um nome próprio que pensamos conhecer 
perfeitamente se contentaria em responder que os nomes próprios sucumbem mais facilmente ao 
processo do esquecimento do que outros conteúdos da memória. Ele a 
presentaria razões plausíveis para essa preferência dada aos nomes próprios, mas não 
suspeitaria que quaisquer outras condições desempenhassem um papel em tais ocorrências. 
Minha preocupação com o fenômeno do esquecimento temporário de nomes nasceu da 
observação de certas características que podem ser reconhecidas com bastante clareza em alguns 
casos individuais, embora, na verdade, não em todos. Trata-se dos casos em que o nome não só é 
esquecido, como também erroneamente lembrado. Em nosso afã de recuperar o nome perdido, 
outros - nomes substitutos - nos vêm à consciência; reconhecemos de imediato que são incorretos, 
mas eles insistem em retornar e se impõem com grande persistência. O processo que deveria levar 
à reprodução do nome perdido foi, por assim dizer, deslocado, e por isso conduziu a um substituto 
incorreto. Minha hipótese é que esse deslocamento não está entregue a uma escolha psíquica 
arbitrária, mas segue vias previsíveis que obedecem a leis. Em outras palavras, suspeito que o 
nome ou os nomes substitutos ligam-se demaneira averiguável com o nome perdido: e espero, se 
tiver êxito em demonstrar essa ligação, poder esclarecer as circunstâncias em que ocorre o 
esquecimento de nomes. 
O nome que tentei lembrar em vão, no exemplo escolhido para análise em 1898, foi o do 
artista que pintou os afrescos magníficos das “Quatro Últimas Coisas” na catedral de Orvieto. Em 
vez do nome que eu procurava - Signorelli -, impunham-se a mim os nomes de dois outros pintores 
- Botticelli e Boltraffio - embora fossem imediata e decisivamente rejeitados por meu juízo como 
incorretos. Ao ser informado por outra pessoa do nome correto, reconheci-o prontamente sem 
hesitação. A investigação das influências e das vias associativas pelas quais a reprodução do 
nome assim se havia deslocado de Signorelli para Botticelli e Boltraffio levou aos seguintes 
resultados: 
(a) A razão por que o nome Signorelli foi esquecido não deve ser procurada numa 
peculiaridade do próprio nome, nem em qualquer característica psicológica do contexto em que ele 
se inseriu. O nome esquecido era-me tão familiar quanto um dos nomes substitutos - Botticelli - e 
muito mais familiar do que o outro nome substituto - Boltraffio -, sobre cujo portador eu mal sabia 
dar outra informação senão a de que pertencia à escola de Milão. Além disso, o contexto em que o 
nome fora esquecido me parecia inofensivo e não me trouxe maiores esclarecimentos. Eu viajava 
em companhia de um estranho, indo de Ragusa, na Dalmácia, para um lugar na Herzegovina: 
nossa conversa voltou-se para o assunto das viagens pela Itália, e perguntei a meu companheiro 
de viagem se ele já estivera em Orvieto e se vira ali os famosos afrescos pintados por… 
(b) O esquecimento do nome só foi esclarecido quando me lembrei do assunto que 
estávamos discutindo pouco antes, e revelou ser um caso de perturbação do novo tema emergente 
pelo tema que o antecedeu. Pouco antes de perguntar a meu companheiro de viagem se ele já 
estivera em Orvieto, conversávamos sobre os costumes dos turcos que vivem na Bósnia e na 
Herzegovina. Eu lhe havia contado o que ouvira de um colega que trabalhou em meio a essas 
pessoas - que elas costumam ter grande confiança no médico e total resignação ao destino. 
Quando se é obrigado a lhes dizer que nada pode ser feito por um doente, respondem: “Herr 
[Senhor], o que se há de dizer? Se fosse possível salvá-lo, sei que o senhor o teria salvo.” Nessas 
frases encontramos pela primeira vez as palavras e nomes Bósnia, Herzegovinae Herr, que podem 
ser inseridas numa seqüência associativa entre Signorelli e Botticelli - Boltraffio. 
(c) Suponho que essa seqüência de pensamentos sobre os costumes dos turcos na Bósnia 
etc. adquiriu a capacidade de perturbar o pensamento subseqüente por eu ter afastado a atenção 
dela antes que fosse concluída. De fato, lembro-me de ter querido contar uma segunda anedota, 
que em minha memória estava próxima da primeira. Esses turcos conferem ao gozo sexual um 
valor maior que o de qualquer outra coisa, e, na eventualidade de distúrbios sexuais, caem num 
desespero que contrasta estranhamente com sua resignação ante a ameaça de morte. Certavez, 
um dos pacientes de meu colega lhe disse: “Sabe Herr, quando isso acaba, a vida não tem 
nenhum valor.” Suprimi a comunicação desse traço característico por não querer tocar nesse tema 
numa conversa com um estranho. Mas fiz algo mais: também desviei minha atenção da 
continuação dos pensamentos que poderiam ter-me surgido a partir do tema “morte e 
sexualidade”. Naquela ocasião, eu ainda estava sob a influência de uma notícia que me chegara 
algumas semanas antes, durante uma breve estada em Trafoi. Um paciente a quem eu me havia 
dedicado muito pusera fim a sua vida por causa de um distúrbio sexual incurável. Tenho certeza de 
que esse triste acontecimento e tudo o que se relacionava com ele não me vieram à lembrança 
consciente durante essa viagem a Herzegovina. Mas a semelhança entre “Trafoi” e “Boltraffio” 
força-me a supor que essa reminiscência, apesar de minha atenção ter sido de liberadamente 
desviada disso, passou a atuar em mim na época [da conversa]. 
(d) Já não me é possível considerar o esquecimento do nome Signorelli como um evento 
casual. Sou forçado a reconhecer a influência de um motivo nesse processo. Foi um motivo que 
fez com que eu me interrompesse na comunicação de meus pensamentos (a respeito dos 
costumes dos turcos etc.), e foi um motivo que, além disso, influenciou-me a impedir que se 
conscientizassem em mim os pensamentos ligados a eles, que tinham levado à notícia recebida 
em Trafoi. Eu queria, portanto, esquecer algo; havia recalcado algo. É verdade que não queria 
esquecer o nome do artista de Orvieto, mas sim outra coisa - essa outra coisa, contudo, conseguiu 
situar-se numa conexão associativa com seu nome, tanto que meu ato de vontade errou o alvo e 
esqueci uma coisa contra minha vontade, quando queria esquecer intencionalmente a outra. A 
aversão ao recordar dirigia-se contra um dos conteúdos;esqueci uma coisa contra minha vontade, 
quando queria esquecer intencionalmente a outra. A aversão ao recordar dirigia-se contra um dos 
conteúdos; a incapacidade de lembrar surgiu no outro. Obviamente, o caso seria mais simples se a 
aversão e a incapacidade de lembrar estivessem com o mesmo conteúdo. Além disso, os nomes 
substitutos já não me parecem tão inteiramente injustificados como antes da elucidação do 
assunto: por uma espécie de compromisso, eles me lembram tanto aquilo que eu queria esquecer 
quanto o que queria recordar e me indicam que minha intenção de esquecer algo não foi nem um 
êxito completo nem um fracasso total. 
(e) Muito notável é a natureza do enlace que se estabeleceu entre o nome perdido e o 
tema recalcado (o tema da morte e sexualidade etc., em que apareceram os nomes Bósnia, 
Herzegovina e Trafoi). O diagrama esquemático que agora intercalo, e que foi extraído do artigo de 
1898 [Fig. 1], visa a dar uma imagem clara desse enlace: 
O nome Signorelli foi dividido em duas partes. Um dos pares de sílabas (elli) ressurge 
inalterado num dos nomes substitutos, enquanto o outro, através da tradução de Signor para Herr, 
adquiriu numerosas 
 
Fig. 1 
e variadas relações com os nomes contidos no tema recalcado, mas, por esse motivo,não 
ficou disponível para a reprodução [consciente]. Seu substituto [para Signor] foi criado como se 
tivesse havido um deslocamento ao longo da conexão de nomes “Herzegovina e Bósnia’’, sem 
qualquer consideração ao sentido ou aos limites acústicos das sílabas. Assim, os nomes foram 
tratados nesse processo como os pictogramas de uma frase destinada a se transformar num 
enigma figurado (ou rébus). De todo o curso de acontecimentos que por tais caminhos produziu, 
em vez do nome Signorelli, os nomes substitutos, nenhuma informação foi dada à consciência. À 
primeira vista parece impossível descobrir qualquer relação entre o tema em que ocorreu o nome 
Signorelli e o tema recalcado que o precedeu no tempo, salvo por esse retorno das mesmas 
sílabas (ou melhor, seqüências de letras). 
Talvez não seja demais assinalar que as condições que os psicólogos presumem ser 
necessárias para reproduzir e para esquecer, por eles buscadas em certas relações e 
predisposições, não são incompatíveis com a explicação precedente. Tudo o que fizemos, em 
certos casos, foi acrescentar um motivo aos fatores reconhecidos desde longa data como capazes 
de promover o esquecimento de um nome; ademais, elucidamos o mecanismo da ilusão de 
memória. Também em nosso caso essas predisposições são indispensáveis para possibilitar ao 
elemento recalcado apoderar-se, por associação, do nome esquecido, arrastando-o consigo para o 
recalcamento. No caso de outro nome com condições mais favoráveis de reprodução, isso talvez 
não acontecesse. Com efeito, é provável que o elemento suprimido sempre lute por prevalecer em 
algum outro lugar, mas só tenha êxito quando depara com condições favoráveis. Em outras 
ocasiões, a supressão sobrevém sem qualquer perturbação funcional, ou, como podemos dizer 
com razão, sem qualquer sintoma. 
As condições necessárias para se esquecer um nome, quando o esquecimento é 
acompanhado de ilusão de memória, podem ser resumidas da seguinte maneira: (1) certa 
predisposição para esquecer o nome, (2) um processo de supressão realizado pouco antes, (3) a 
possibilidade de se estabelecer uma associação externa entre o nome em questão e o elemento 
previamente suprimido. É provável que não devamos superestimar a dificuldade de satisfazer esta 
última condição, de vez que, levando em conta os requisitos mínimos esperados desse tipo de 
associação, é possível estabelecê-la na grande maioria dos casos. Entretanto, existe a questão 
maisprofunda da saber se tal associação externa pode realmente ser condição suficiente para que 
o elemento recalcado perturbe a reprodução do nome perdido - se não haveria necessidade de 
alguma ligação mais íntima entre os dois temas. Numa consideração superficial, tenderíamos a 
rejeitar esta última exigência e a aceitar como suficiente a contigüidade temporal entre ambos, 
mesmo com conteúdos completamente diferentes. Numa investigação aprofundada, porém, 
descobre-se com freqüência cada vez maior que os dois elementos enlaçados por uma associação 
externa (o elemento recalcado e o novo) possuem também alguma ligação de conteúdo; com 
efeito, tal ligação é demonstrável no exemplo de Signorelli. 
O valor do conhecimento que adquirimos ao analisar o exemplo de Signorelli depende, é 
claro, de querermos declará-lo um caso típico ou uma ocorrência isolada. Devo pois afirmar que o 
esquecimento de nomes, acompanhado por uma ilusão de memória [Epinnerungstänschung], 
ocorre com freqüência incomum tal como o esclarecemos no caso de Signorelli. Quase todas as 
vezes em que pude observar esse fenômeno em mim mesmo, pude também explicá-lo da maneira 
descrita acima, ou seja, como motivado pelo recalcamento. Devo ainda chamar a atenção para 
outra consideração que confirma a natureza típica de nossa análise. Penso não haver justificativa 
para se fazer uma separação teórica entre os casos em que o esquecimento de nomes é 
acompanhado por ilusão de memória e os outros em que não ocorrem nomes substitutos 
incorretos. Esses nomes substitutos surgem espontaneamente em alguns casos; noutros, nos 
quais não afloraram espontaneamente, pode-se obrigá-los a emergir mediante um esforço da 
atenção, e eles exibem então com o elemento recalcado e com o nome ausente a mesma relação 
que teriam caso tivessem aparecido espontaneamente. Dois fatores parecem decisivos para trazer 
à consciência os nomes substitutos: primeiro, o esforço da atenção e, segundo, uma condição 
interna ligada ao material psíquico. Poderíamos buscar esta última na maior ou menor facilidade 
com que se estabelece a necessária associação externa entre os dois elementos. Assim, boa parte 
dos casos de esquecimento de nomes sem ilusão de memória pode ser acrescentada aos casos 
em que se formam nomes substitutos, aosquais se aplica o mecanismo do exemplode Signorelli. 
No entanto, certamente não ousarei afirmar que todos os casos de esquecimento de nomes devem 
ser classificados no mesmo grupo. Não há dúvida de que existem exemplos muito mais simples. 
Penso que teremos enunciado os fatos com suficiente cautela se afirmarmos: junto aos casos 
simples de esquecimento de nomes próprios, existe também um tipo de esquecimento motivado 
pelo recalque. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II - O ESQUECIMENTO DE PALAVRAS ESTRANGEIR AS 
 
 
O vocabulário corrente de nossa própria língua, quando confinado às dimensões do uso 
normal, parece protegido contra o esquecimento, Notoriamente, o mesmo não acontece com o 
vocabulário de uma língua estrangeira. A predisposição para esquecê-la estende-se a todas as 
partes da fala, e um primeiro estágio de perturbação funcional revela-se na medida desigual com 
que dispomos do vocabulário estrangeiro, conforme nosso estado geral de saúde e o grau de 
nosso cansaço. Numa série de casos, esse tipo de esquecimento exibe o mesmo mecanismo que 
nos foi revelado pelo exemplo de Signorelli. Para provar isso, apresentarei uma única análise, mas 
que se distingue por algumas características úteis: trata-se do esquecimento de uma palavra que 
não era um substantivo numa citação latina. Peço permissão para fazer um relato amplo e explícito 
desse pequeno incidente. 
No verão passado - também durante uma viagem de férias -. renovei meu contato com um 
jovem de formação acadêmica, que logo constatei estar familiarizado com algumas de minhas 
publicações psicológicas. Nossa conversa recaiu - já não me lembro como - sobre a situação social 
da raça a que ambos pertencemos, e ele, impelido pela ambição, passou a lamentar-se por sua 
geração estar condenada à atrofia (segundo sua expressão), não podendo desenvolver seus 
talentos ou satisfazer suas necessidades. Concluiu seu discurso, de tom apaixonado, com o 
célebre verso de Virgílio em que ainfeliz Dido confia à posteridade sua vingança de Enéias: 
“Exoriare…” Melhor dizendo, ele quis concluí-lo desse modo, pois não conseguiu fazer a citação e 
tentou esconder uma evidente lacuna em sua lembrança trocando a ordem das palavras: 
“Exoriar(e) ex nostris ossibus ultor.’’ Por fim, disse, irritado: “Por favor, não me faça essa cara tão 
zombeteira, como se se estivesse comprazendo com meu embaraço, mas antes me ajude! Falta 
alguma coisa no verso. Como é mesmo que diz, completo?” 
“Ajudarei com prazer”, respondi, e dei-lhe a citação correta: “Exoriar(e) ALIQUIS nostris ex 
ossibus ultor.” 
“Que tolice, esquecer essa palavra! Por falar nisso, o senhor diz que nunca se esquece 
nada sem uma razão. Gostaria muito de saber como foi que esqueci esse pronome indefinido, 
‘aliquis‘.” 
Aceitei o desafio prontamente, na esperança de conseguir uma contribuição para minha 
coleção. Disse-lhe, pois: 
-Isso não nos deve tomar muito tempo. Só tenho que lhe pedir que me diga, sinceramente 
e sem nenhuma crítica, tudo o que lhe ocorre enquanto estiver dirigindo, sem nenhuma intenção 
definida, sua atenção para a palavra esquecida. 
-“Certo; então me ocorre a idéia ridícula de dividir a palavra assim: a e liquis.” 
-O que quer dizer isso? 
-“Não sei.” - E o que mais lhe ocorre? - “Isso continua assim: Reliquien [relíquias], 
liquefazer, fluidez, fluido. O senhor já descobriu alguma coisa?” 
-Não, ainda não. Mas continue. 
-“Estou pensando” - prosseguiu ele com um sorriso irônico - “em Simão de Trento, cujas 
relíquias vi há dois anos numa igreja de Trento. Estou pensando na acusação de sacrifícios de 
sangue que agora está sendo lançada de novo contra os judeus, e no livro de Kleinpaul [1892], que 
vê em todas essas supostas vítimas reencarnações, reedições, por assim dizer, do Salvador.” 
-Essa idéia não está inteiramente desligada do tema de nossa conversa antes que lhe 
escapasse da memória a palavra latina. 
 
-“Exato. Estou pensando ainda num artigo que li recentemente num jornal italiano. Acho 
que o título era ‘O que diz Santo Agostinho sobre as mulheres’. Que entende o senhor com isso?” 
-Estou esperando. 
-“Pois agora vem algo que por certo não tem nenhuma ligação com o nosso tema.” 
-Por favor, peço-lhe que se abstenha de qualquer crítica e… 
-“Sim, já sei. Lembro-me de um magnífico senhor idoso que encontrei numa de minhas 
viagens na semana passada. Ele era realmente original. Parecia uma enorme ave de rapina. 
Chamava-se Benedito, se isso lhe interessa.” 
-Bem, pelo menos temos uma seqüência de santos e padres da Igreja: São Simão, Santo 
Agostinho, São Benedito. Acho que havia um padre da Igreja chamado Orígenes. Além disso, três 
desses nomes são também prenomes, como Paul [Paulo] em Kleinpaul. 
-“Agora o que me ocorre é São Januário e o milagre de seu sangue - parece que meus 
pensamentos avançam mecanicamente.” 
-Deixe estar; São Januário e Santo Agostinho têm a ver, ambos, com o calendário. Mas 
que tal me ajudar a lembrar do milagre do sangue? 
-“O senhor com certeza já ouviu falar nisso! O sangue de São Januário fica guardado num 
pequeno frasco, numa igreja de Nápoles, e num determinado dia santo ele se liquefaz 
milagrosamente. O povo dá muita importância a esse milagre e fica muito agitado quando há 
algum atraso, como aconteceu, certa vez, na época em que os franceses ocupavam a cidade. 
Então, o general comandante - ou será que estou enganado? será que foi Garibaldi? - chamou o 
padre de lado e, com um gesto inequívoco na direção dos soldados a postos do lado de fora, deu-
lhe a entender que esperava que o milagre acontecesse bem depressa. E, de fato, o milagre 
ocorreu…” 
-Bem, continue. Por que está hesitando? 
-“É que agora realmente me ocorreu uma coisa… mas é íntima demais para ser 
comunicada… Além disso, não vejo nenhuma ligação nem qualquer necessidade de contá-lo”. 
-Pode deixar a ligação por minha conta. É claro que não posso forçá-lo a falar sobre uma 
coisa que lhe seja desagradável; mas então não queira saber de mim como foi que se esqueceu 
da palavra aliquis. 
-“Realmente? O senhor acha? Pois bem, é que de repente pensei numa dama de quem eu 
poderia receber uma notícia que seria bastante desagradável para nós dois.” 
-Que as regras dela não vieram? 
-“Como conseguiu adivinhar isso?” 
 
-Já não é difícil. Você preparou bem o terreno. Pense nos santos do calendário, no sangue 
que começa a fluir num dia determinado, na perturbação quando esse acontecimento não se dá, 
na clara ameaça de que o milagre tem que se realizar, se não… Na verdade, você usou o milagre 
de São Januário para criar uma esplêndida alusão às regras das mulheres. 
-“Sem me dar conta disso. E o senhor realmente acha que foi essa expectativa angustiada 
que me deixou impossibilitado de reproduzir uma palavra tão insignificante como aliquis?” 
-Parece-me inegável. Basta lembrar sua divisão em a-liquis, e suas associações: relíquias, 
liquefazer, fluido. São Simão foi sacrificado quando criança; devo continuar, e mostrar como ele 
entra nesse contexto? O senhor pensou nele partindo do tema das relíquias. 
-‘’Não, prefiro que não faça isso. Espero que o senhor não leve muito a sério esses meus 
pensamentos, se é que realmente os tive. Em troca, quero confessar que a dama é italiana e que 
estive em Nápoles com ela. Mas será que tudo isso não é apenas obra do acaso?” 
-Tenho que deixar a seu critério decidir se todas essas relações podem ser explicadas pela 
suposição de que são obra do acaso. Posso dizer-lhe, no entanto, que qualquer caso semelhante 
que você queira analisar irá levá-lo a “acasos” igualmente notáveis. 
Tenho diversas razões para dar valor a essa pequena análise e sou grato a meu ex-
companheiro de viagem por ter-me presenteado. Em primeiro lugar, porque, nesse caso, pude 
recorrer a uma fonte que habitualmente me é negada. Para os exemplos aqui reunidos de 
perturbações de uma função psíquica na vida cotidiana, tenho de recorrer principalmente à auto-
observação. Empenho-meem evitar o material muito mais rico fornecido por meus pacientes 
neuróticos, já que, de outro modo, poder-se-ia objetar que os fenômenos em questão são meras 
conseqüências e manifestações da neurose. Por isso, é particularmente valiosopara meus 
objetivos que uma outra pessoa que não sofra de doença nervosa se ofereça como objeto de tal 
investigação. Essa análise é significativa em outro aspecto: ela esclarece o caso do esquecimento 
de uma palavra sem que apareça um substituto na memória. Confirma, portanto, minha afirmação 
anterior [em [1]] de que o surgimento ou não-surgimento de substitutos incorretos na memória não 
pode ser usado como base para qualquer distinção radical. 
Entretanto, a grande importância do exemplo do aliquis reside em outro dos aspectos em 
que ele difere do caso de Signorelli. Neste último, a reprodução do nome foi perturbada pelo efeito 
prolongado de uma seqüência de pensamentos iniciada e interrompida pouco antes, mas cujo 
conteúdo não tinha nenhuma relação clara com o novo tema em que se incluía o nome de 
Signorelli. A contigüidade temporal forneceu a única relação entre o tema recalcado e o temado 
nome esquecido, mas isso bastou para que eles fossem concatenados numa associação externa. 
Por outro lado, no exemplo do aliquis, nada indica a existência de um tema assim, recalcado e 
independente, que tivesse ocupado pouco antes o pensamento consciente e deixado seus ecos 
numa perturbação. Nesse exemplo, a reprodução foi perturbada em virtude da própria natureza do 
tema abordado pela citação, por erguer-se inconscientemente um protesto contra a idéia desejante 
nela expressa. A situação dever ser interpretada da seguinte maneira: o falante vinha deplorando o 
fato de a geração atual de seu povo estar privada de seus plenos direitos; uma nova geração - 
profetizou ele, como Dido - haveria de vingar-se dos opressores. Nisso ele expressara seu desejo 
de ter descendentes. Nesse momento intrometeu-se um pensamento contraditório: “Você 
realmente deseja descendentes com tanta intensidade? Isso não é verdade. Quanto não lhe seria 
embaraçoso receber agora a notícia de que espera descen-dentes do lugar que você sabe? Não: 
nada de descendentes… por mais que precisemos deles para a vingança.” Essa contradição então 
se afirma exatamente pelos mesmos meios que no exemplo de Signorelli - estabelecendo uma 
associação externa entre um de seus elementos de representação e um dos elementos do desejo 
repudiado; e dessa vez, de fato, ela o faz de maneira extremamente arbitrária, valendo-se de uma 
via associativa indireta que tem toda a aparência de artificialidade. Uma segunda coincidência 
essencial entre esse caso e o exemplo de Signorelli está em que a contradição se enraíza em 
fontes recalcadas e decorre de pensamentos que acarretariam um desvio da atenção. 
Isto é o que tenho a dizer sobre as diferenças e a afinidade interna entre esses dois 
modelos típicos do esquecimento de palavras. Ficamos conhecendo um segundo mecanismo do 
esquecimento - a perturbação de um pensamento por uma contradição interna proveniente do 
recalcado. Dentre os dois processos, penso ser este o mais fácil de se entender; e tornaremos a 
encontrá-lo várias vezes no decorrer desta discussão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III - O ESQUECIMENTO DE NOMES E SEQÜÊNCIAS DE 
PALAVRAS 
 
 
Observações como as anteriores [Capítulo II] sobre o processo de esquecimento de parte 
de uma seqüência de palavras numa língua estrangeira despertam nossa curiosidade de saber se 
o esquecimento de seqüências de palavras em nossa própria língua exige uma explicação 
essencialmente diversa. Com efeito, não costumamos surpreender-nos quando uma fórmula ou um 
poema sabidos de cor só conseguem ser reproduzidos sem fidelidade depois de algum tempo, 
com alterações e lacunas. Entretanto, de vez que esse esquecimento não atua uniformemente 
sobre a totalidade do que foi aprendido, parecendo, ao contrário desarticular partes isoladas, talvez 
valha a pena submeter à investigação analítica alguns exemplos de tal reprodução falha. 
Conversando comigo, um colega mais jovem disse achar provável que o esquecimento de 
poemas em nossa própria língua bem poderia ter motivos semelhantes aos do esquecimento de 
elementos singulares de uma seqüência de palavras em língua estrangeira. Ao mesmo tempo, ele 
se ofereceu para ser objeto de uma experiência. Perguntei-lhe com que poema gostaria de fazer o 
teste, e ele escolheu “Die Braut von Korinth”, poema de que gostava muito e do qual acreditava 
saber pelo menos algumas estrofes de cor. No começo da reprodução ele foi tomado de uma 
incerteza realmente notável. “O texto é ‘Viajando de Corinto para Atenas’”, perguntou, “ou 
‘Viajando para Corinto desde Atenas’?” Também eu hesitei por um momento, até observar, rindo, 
que o título do poema, “A Noiva de Corinto”, não deixava nenhuma dúvida sobre a direção em que 
viajava o rapaz. A reprodução da primeira estrofe sobreveio então sem dificuldade ou, pelo menos, 
sem qualquer falsificação marcante. Por algum tempo meu colega pareceu buscar o primeiro verso 
da segunda estrofe; logo continuou, recitando: 
 
Aber wird er auch willkommen scheinen, 
Jetzt, wo jeder Tag was Neues bringt? 
Denn er ist noch Heide mit den Seinen 
Und sie sind Christen und - getauft. 
 
Antes que ele chegasse a esse ponto, eu já estranhara, aguçando os ouvidos, e uma vez 
terminado o último verso, ambos concordamos em que alguma distorção havia ocorrido. Mas, 
como não conseguimos corrigi-la, corremos à biblioteca para consultar os poemas de Goethe e 
descobrimos, surpresos, que o segundo verso da estrofe tinha um teor completamente diferente, 
que fora, por assim dizer, expulso da memória do meu colega e substituído por algo 
aparentemente estranho. A versão correta dizia: 
Aber wird er auch willkommen scheinen, 
Wenn er teuer nicht die Gunst erkauft? 
“Erkauft” rima com “getauft” [“batizado” no quarto verso], e pareceu-me curioso que a 
constelação “pagão”, “cristão”, e “batizado” o tivesse ajudado tão pouco a recompor o texto. 
“Você pode me explicar”, perguntei a meu colega, “como foi que eliminou tão 
completamente um verso de um poema que diz conhecer tão bem, e será que tem alguma idéia do 
contexto de onde retirou o substituto?” 
Ele pôde dar uma explicação, embora, obviamente, com alguma relutância. “O verso ‘Jetzt, 
wo jeder Tag was Neues bringt’ me parece familiar; devo ter usado essas palavras há pouco tempo 
ao me referir a minha prática profissional, com cuja prosperidade, como o senhor sabe, estou 
agora muito satisfeito. Mas como se encaixou aí essa frase? Poderia indicar uma relação. 
 
Evidentemente, o verso ‘Wenn er teuer nicht die Gunst erkauft’ me desagradou. Ele se 
relaciona com uma proposta de casamento que foi rejeitada da primeira vez e que, tendo em vista 
a grande melhoria em minha situação material, penso agora em repetir. Não lhe posso dizer mais 
nada, mas, se for aceito agora, por certo não me será agradável pensar que, tanto antes quanto 
hoje, uma espécie de cálculo pesou na balança." 
Isso me pareceu esclarecedor, mesmo sem que eu pudesse conhecer maiores detalhes. 
Continuei, porém, com minhas perguntas: “De qualquer modo, como foi que você e seus assuntos 
particulares se mesclaram com o texto da ‘Noiva de Corinto’? Será que existem em seu caso 
diferenças de credo religioso como as que desempenham um papel importante no poema?” 
 
(Keimt ein Glaube neu, 
Wird oft Lieb’ und Treu 
Wie ein böses Unkraut ausgerauft.) 
 
Errei na suposição, mas foi curioso observar como uma única pergunta bem-dirigida deu-
lhe uma súbita perspicácia, de modo que ele pôde dar como resposta algo de que certamente não 
tinha conhecimento até então. Lançou-me um olhar aflito e contrariado, murmurando para si uma 
passagem posterior do poema. 
 
Sieh sie an genau! 
Morgen ist sie grau.e acrescentou resumidamente: “Ela é um pouco mais velha do que eu.” Para evitar magoá-
lo mais, interrompi a indagação. A explicação pareceu-me suficiente. Mas foi sem dúvida 
surpreendente que a tentativa de localizar a causa de uma falha inofensiva na memória esbarrasse 
em assuntos tão remotos e íntimos da vida particular do sujeito, investidos de um afeto tão penoso. 
Eis aqui outro exemplo, fornecido por Jung (1907, 64), em que há esquecimento de uma 
seqüência de palavra num poema famoso. Citarei as palavras do próprio autor. 
“Um homem tentava recitar o famoso poema que começa com ‘Ein Fichtenbaum steht 
einsam.’ No verso que começa por ‘Ihn schläfert‘,ele estancou irremediavelmente, pois se 
esquecera por completo das palavras ‘mit weisser Decke [com um lençol branco]’. O esquecimento 
de algo num verso tão conhecido pareceu-me surpreendente, e por isso o fiz reproduzir o que lhe 
ocorria em relação a ‘mit weisser Decke‘. Surgiu-lhe a seguinte série de associações: ‘Um lençol 
branco faz pensar numa mortalha - um lençol de linho para se cobrir um morto’ - (pausa) - ‘agora 
me ocorre um amigo íntimo - seu irmão teve há pouco morte repentina - dizem que morreu de um 
ataque cardíaco - ele também era muito corpulento - meu amigo também é corpulento, e já me 
ocorreu que isso também poderia acontecer com ele - provavelmente, ele faz muito pouco 
exercício - quando soube da morte de seu irmão, fiquei de repente angustiado com a idéia de que 
isso também poderia acontecer comigo; é que temos em nossa família uma tendência a engordar, 
e meu avô também morreu de ataque cardíaco; reparei que também estou gordo demais, e por 
isso comecei recentemente um regime para emagrecer.’ 
“Assim,” comenta Jung, “o homem se havia identificado de imediato, inconscientemente, 
com o pinheiro envolto na mortalha branca.” 
 
O próximo exemplo [1] de esquecimento de uma seqüência de palavras, que devo a meu 
amigo Sándor Ferenczi, de Budapeste, difere dos precedentes por se referir a uma expressão 
cunhada pelo próprio sujeito, e não a uma frase tomada de um autor. O exemplo também nos 
apresenta o caso não muito comum em que o esquecimento se põe a serviço de nosso bom 
senso, quando este ameaça sucumbir a um desejo momentâneo. Por conseguinte, o ato falho 
adquire uma função útil. Uma vez recobrada nossa sobriedade, damos valor à correção dessa 
corrente interna, que antes só se pudera exprimir através de uma falha - um esquecimento, uma 
impotência psíquica. 
“Numa reunião social alguém citou ‘Tout comprende c’est tout pardonner‘. Comentei que a 
primeira parte da sentença bastava; o ‘perdoar’ era uma arrogância que deveria ser deixada a 
Deus e aos sacerdotes. Uma das pessoas presentes achou muito boa essa observação, o que me 
animou a dizer - provavelmente com a intenção de garantir a opinião favorável do crítico 
benevolente - que eu pensara recentemente em algo ainda melhor. Mas quando tentei repeti-lo, 
constatei que me havia escapado. Afastei-me imediatamente do grupo e anotei as associações 
encobridoras [ou seja, as representações substitutivas]. Primeiro me ocorreram o nome do amigo e 
o da rua de Budapest que haviam testemunhado o nascimento da idéia que eu estava procurando; 
a seguir veio o nome do outro amigo, Max, a quem costumamos chamar de Maxi. Isso me levou à 
palavra ‘máxima’ e à lembrança de que dessa vez (como em meu comentário original) tratava-se 
de uma variação de uma máxima famosa. Curiosamente, meu pensamento seguinte não foi uma 
máxima, mas esta frase: ‘Deus criou o homem à sua imagem’, e depois a mesma idéia, ao 
contrário: ‘O homem criou Deus à sua imagem.’ Ato contínuo, surgiu a lembrança daquilo que eu 
procurava. Naquela época, na rua Andrássy, meu amigo me dissera: ‘Nada humano me é 
estranho’, ao que eu retrucara, aludindo às descobertas da psicanálise: ‘Você deveria ir mais longe 
e admitir que nada animal lhe é estranho.’ 
“Entretanto, depois de finalmente recordar o que procurava, foi-me ainda menos possível 
repeti-lo na roda social em que me encontrava. Entre as pessoas presentes estava a jovem esposa 
do amigo a quem eu relembrara a animalidade do inconsciente, e tive de reconhecer que ela de 
modo algum estava preparada para acolher essas verdades tão desagradáveis. Meu esquecimento 
poupou-me uma série de perguntas incômodas por parte dela e uma discussão improfícua. Esse 
deve ter sido precisamente o motivo de minha ‘amnésia temporária’. 
“É interessante que me ocorresse como associação encobridora uma frase em que a 
divindade é rebaixada à condição de uma invenção humana, ao passo que, na frase esquecida, 
havia uma alusão ao animal no homem. Capitis deminutio [isto é, a privação da condição que se 
possuía] é, portanto, o elemento comum a ambas. Evidentemente, todo o assunto não passa de 
uma continuação da cadeia de idéias sobre compreender e perdoar, instigada pela conversa. 
“Nesse caso, a ocorrência tão rápida daquilo que eu buscava talvez também se tenha 
devido a minha retirada imediata para um aposento vazio, saindo da roda social em que isso era 
censurado.” 
Empreendi desde então várias outras análises de casos de esquecimento ou reprodução 
errônea de uma seqüência de palavras, e o coincidente resultado dessas investigações inclinou-
me a supor que o mecanismo de esquecimento acima demonstrado, nos exemplos do “aliquis” [em 
[1]] e de “A Noiva de Corinto”, [em [1]] tem validade quase universal. Geralmente é um pouco 
embaraçoso comunicar essas análises, de vez que, tal como as que acabo de citar, elas levam 
constantemente a assuntos íntimos e desagradáveis para a pessoa analisada. Por isso não 
pretendo aumentar o número desse exemplos. O comum a todos esses casos, independentemente 
do material, é o fato de o esquecido ou distorcido estabelecer uma ligação, por alguma via 
associativa, com um conteúdo de pensamento inconsciente - um conteúdo de pensamento que é 
fonte do efeito manifestado no esquecimento. 
Volto agora ao esquecimento de nomes. Até aqui, não esgotamos o exame nem da 
casuística nem dos motivos subjacentes. Como esse é exatamente o tipo de ato falho que às 
vezes observo abundantemente em mim mesmo, não me é difícil apresentar exemplos. Os leves 
ataques de enxaqueca de que ainda padeço costumam anunciar-se horas antes por um 
esquecimento de nomes, e, no auge desses ataques, durante os quais não sou forçado a 
abandonar meu trabalho, é freqüente desaparecerem de minha memória todos os nomes próprios. 
Ora, são exatamente os casos como o meuque poderiam dar motivos para uma objeção de 
princípio aos nossos esforços analíticos. Acaso não se deveria concluir dessas observações, 
necessariamente, que a causa do esquecimento, em particular do esquecimento de nomes, está 
em distúrbios da circulação e da função cerebrais em geral, e não deveríamos, portanto, poupar-
nos a busca de explicações psicológicas para esses fenômenos? De maneira alguma, no meu 
entender; isso seria confundir o mecanismo de um processo, que é idêntico em todos os casos, 
com os fatores favorecedores do processo, que são variáveis e não necessários. Em vez de uma 
discussão detalhada, porém, apresentarei uma analogia para lidar com essa objeção. 
Suponhamos que eu tenha sido imprudente o bastante para passear de noite num bairro 
deserto da cidade, onde me hajam assaltado e roubado meu relógio e minha carteira. No posto 
policial mais próximo, comunico a ocorrência com as seguintes palavras: “Eu estava na rua tal e 
tal, e lá o isolamento e a escuridão tiraram meu relógio e minha carteira.” Embora, com essa 
afirmação, eu não dissesse nada de inverídico, o texto de minha comunicação me exporia ao risco 
de pensarem que não estou muito certo da cabeça. Esse estado de coisas só poderia ser 
corretamente descrito dizendo que, favorecidos pelo isolamento do lugar e protegidos pela 
escuridão, malfeitores desconhecidos roubaram meus objetos de valor. Ora, a situação no 
esquecimentode nomes não tem por que ser diferente; favorecida pelo cansaço, por distúrbios 
circulatórios e por uma intoxicação, uma força psíquica desconhecida rouba-me o acesso aos 
nomes próprios pertencentes à minha memória - uma força que, em outros casos, pode ocasionar 
a mesma falha da memória quando se está com saúde e eficiência plenas. 
Quando analiso os casos de esquecimento de nomes que observo em mim mesmo, quase 
sempre descubro que o nome retido se relaciona com um tema que me é de grande importância 
pessoal e que é capaz de evocar em mim afetos intensos e quase sempre penosos. Segundo a 
praxe conveniente e louvável da escola de Zurique (Bleuler, Jung, Riklin), também posso formular 
esse fato da seguinte maneira: o nome perdido tocou num “complexo pessoal” em mim. A relação 
do nome comigo me é inesperada e em geral se estabelece através de associações superficiais 
(tais como a ambigüidade verbal ou a homofonia); em termos genéricos, ela pode ser caracterizada 
como uma relação colateral. Alguns exemplos simples esclarecerão melhor sua natureza: 
(1)Um paciente pediu que eu lhe recomendasse uma estação de águas na Riviera. Eu 
conhecia um lugar assim bem perto de Gênova e também me lembrava do nome de um colega 
alemão que ali trabalhava, mas o nome do lugar em si me escapou, por mais que eu achasse 
conhecê-lo também. Não me restou outro recurso senão pedir ao paciente que esperasse, 
enquanto eu consultava apressadamente as mulheres de minha família. “Como é mesmo o nome 
do lugar perto de Gênova onde o Dr. N. tem seu pequeno sanatório, aquele em que fulana esteve 
em tratamento por tanto tempo?” “Claro, justamente você é que havia de esquecer esse nome. O 
lugar se chama Nervi.” Devo admitir que já tenho um bocado de trabalho com os nervos. 
(2)Outro paciente falava sobre uma estação de veraneio próxima e declarou que, além das 
duas hospedarias famosas de lá, havia uma terceira relacionada com certa lembrança dele; não 
tardaria em me dizer o nome. Contestei a existência dessa terceira hospedaria e apelei para o fato 
de ter passado sete verões ali, donde deveria conhecer o lugar melhor do que ele. Mas, estimulado 
por minha contradição, ele já se havia lembrado do nome. A hospedaria chamava-se 
“Hochwartner”. Tive então que ceder e até confessar-lhe que, por sete verões, eu morara bem 
perto dessa hospedaria cuja existência havia negado. Nesse caso, por que teria eu esquecido 
tanto o nome quanto a coisa? Creio que foi porque o som desse nome era parecido demais com o 
de um colega meu, especialista em Viena, e como no caso anterior, tocou em mim no “complexo 
profissional”. 
(3)Noutra ocasião, quando estava prestes a comprar uma passagem na estação ferroviária 
de Reichenhall, não houve meio de me ocorrer o nome da estação principal seguinte, que era 
perfeitamente familiar e por onde eu já havia passado com muita freqüência. Fui até forçado a 
procurar o nome no guia dos horários. Era “Rosenheim”. Soube então de imediato em virtude de 
que associação o nome me havia escapado. Uma hora antes eu visitara minha irmã em sua casa, 
perto de Reichenhall; como o nome da minha irmã é Rosa, sua casa era também um “Rosenheim” 
[“lar de Rosa”]. O “complexo familiar” me havia roubado esse nome. 
 
(4)Tenho uma multiplicidade de exemplos para ilustrar as atividades francamente 
bandidescas do “complexo familiar”. 
Um dia veio a meu consultório um rapaz que era irmão mais moço de uma paciente. Eu o 
vira inúmeras vezes e costumava referir-me a ele pelo nome de batismo. Depois, quando quis falar 
sobre sua visita, percebi que havia esquecido seu nome (que eu sabia não ser nada incomum), e 
não houve meio que me ajudasse a recuperá-lo. Saí então para a rua e, pela leitura dos letreiros 
sobre as lojas, reconheci seu nome tão logo deparei com ele. A análise do episódio mostrou-me 
que eu traçara um paralelo entre o visitante e meu próprio irmão, paralelo este que tentava 
culminar na pergunta recalcada: “Ter-se-ia meu irmão comportado de maneira semelhante nessas 
mesmas circunstâncias, ou teria ele feito o contrário?” O vínculo externo entre os pensamentos 
concernentes a minha própria família e à outra foi possibilitado pela situação fortuita de que, em 
ambos os casos, as mães tinham o mesmo nome: Amalia. Entendi também, posteriormente 
[nachträglich], os nomes substitutos, Daniel e Franz, que se haviam impostos a mim sem me 
fornecer nenhum esclarecimento. Estes, bem como Amalia, são nomes da [peça] Die Räuber [Os 
Ladrões], de Schiller, e foram alvo de uma piada feita por Daniel Spitzer, o “caminhante vienense”. 
(5)Numa outra ocasião, eu não conseguia achar o nome de um paciente que pertencia a 
relações da minha juventude. Minha análise seguiu um caminho muito tortuoso antes de fornecer o 
nome que eu procurava. O paciente expressara um medo de perder a visão, o que despertou a 
lembrança de um rapaz que ficara cego com um tiro; e, por sua vez, isso se relacionava com a 
figura de mais outro jovem que se ferira com um tiro. Este último tinha o mesmo sobrenome do 
primeiro paciente, apesar de não ter com ele nenhum parentesco. Entretanto, só encontrei o nome 
depois de me conscientizar de minha transferência de uma expectativa angustiada desses dois 
casos juvenis para uma pessoa da minha própria família. 
Portanto, meus pensamentos são perpassados por uma corrente contínua de “auto-
referência” da qual, em geral, não tenho nenhum indício, mas que se denuncia através desses 
exemplos de esquecimentos de nomes. É como se eu estivesse obrigado a comparar comigo tudo 
o que ouço a respeito de outra pessoas; como se meus complexos pessoais fossem postos em 
alerta todas as vezes que tenho notícia de outra pessoa. É impossível que isso seja uma 
peculiaridade individual minha; deve conter, antes, uma indicação da maneira como entendemos o 
“outro” em geral. Tenho razões para supor que, nesse aspecto, as outras pessoas sejam bem 
parecidas comigo. 
O mais belo desses exemplos foi-me contado por um Sr. Lederer, que passara por essa 
experiência pessoalmente. Durante sua lua-de-mel em Veneza, ele encontrou um senhor a quem 
conhecia superficialmente e teve de apresentá-lo à jovem esposa. No entanto, como havia 
esquecido o nome desse estranho, socorreu-se na primeira vez com um murmúrio ininteligível. Ao 
esbarrar no cavalheiro pela segunda vez, como era inevitável em Veneza, ele o afastou para um 
lado e lhe pediu que o tirasse de seu embaraço dizendo-lhe seu nome, que ele lamentava ter 
esquecido. A resposta do estranho atestou um conhecimento incomum da natureza humana. “Bem 
posso acreditar que tenha esquecido meu nome. É o mesmo que o seu; Lederer!” Não se pode 
evitar uma ligeira sensação de desagrado quando se esbarra no próprio nome numa pessoa 
desconhecida. Há pouco tempo senti isso claramente quando se apresentou em meu consultório 
um Sr. S. Freud. (Contudo, devo registrar a garantia de um de meus críticos de que, nesse 
aspecto, seus sentimentos são o oposto dos meus.) 
(6)Os efeitos produzidos pela “auto-referência” também podem ser vistos no seguinte 
exemplo relatado por Jung (1907, 52): 
“Um certo Sr. Y. apaixonou-se infrutiferamente por uma dama que pouco depois se casou 
com um Sr. X. A partir daí, apesar de conhecer o Sr. X há muito tempo e até manter relações 
comerciais com ele, o Sr. Y. passou a esquecer seu nome repetidamente, tanto que em várias 
ocasiões teve de indagar a outras pessoas qual era, quando queria corresponder-se com o Sr. X.” 
 
Mas a motivação do esquecimento nesse caso é mais transparente do que nos anteriores, 
enquadrados na constelação da auto-referência. Aqui, o esquecimento parece ser conseqüência 
direta da antipatia do Sr. Y. por seu rival mais afortunado; não quer saber nada do rival: “nunca 
saber de sua existência”. 
(7)O motivo do esquecimento de um nome também pode ser mais sutil, consistir no que se 
poderia chamar de um ressentimento “sublimado”contra seu portador. Assim, de Budapest, 
escreve a Srta. I. von K.: 
“Formulei para mim uma pequena teoria. Tenho observado que as pessoas com talento 
para a pintura não têm sensibilidade musical e vice-versa. Faz algum tempo, conversando com 
alguém a esse respeito, comentei: ‘Até agora minhas observações sempre foram confirmadas, com 
a exceção de uma única pessoa.’ Quando quis lembrar o nome dessa pessoa, constatei que o 
havia esquecido irremediavelmente, apesar de saber que seu portador era um de meus amigos 
mais chegados. Passados alguns dias, ao ouvir por acaso mencionarem o nome, logo entendi que 
estavam falando do destruidor de minha teoria. O ressentimento que eu nutria inconscientemente 
contra ele se expressara pelo esquecimento de seu nome, costumeiramente tão familiar para mim.” 
(8) O caso que se segue, relatado por Ferenczi, mostra uma maneira um pouco diferente 
de a auto-referência levar ao esquecimento de um nome. Sua análise é particularmente instrutiva 
pela explicação dada às associações substitutas (como Botticelli e Boltraffio, substitutos de 
Signorelli [em [1]]). 
“Uma dama que ouvira falar de psicanálise não conseguia lembrar-se do nome do 
psiquiatra Jung. 
“Em vez deste, ocorreram-lhe os seguintes nomes: K1 - (um sobrenome), Wilde, 
Nietzsche, Hauptmann. 
“Não lhe forneci o nome e convidei-a a associar livremente o que lhe ocorre em relação a 
cada um desses nomes. 
“A partir de K1, ela pensou imediatamente na Sra. K1 - e em como era uma pessoa 
cerimoniosa e afetada, mas com muito boa aparência para sua idade. ‘Ela não envelhece.’ Como 
caracterização comum para Wilde e Nietzsche, falou em ‘doença mental’. Depois, disse em tom 
zombeteiro: ‘Vocês, freudianos, vão continuar procurando as causas da doença mental até vocês 
mesmos ficarem loucos.’ Depois: ‘Não suporto Wilde e Nietzsche. Não os entendo. Ouvi dizer que 
ambos eram homossexuais; Wilde se relacionava com gente jovem.’ (Apesar de já ter enunciado 
nessa frase o nome correto - em húngaro, é verdade -, ela ainda assim não conseguiu lembrá-lo.) 
“Sobre Hauptmann ocorreu-lhe primeiro ‘Halbe‘ e, depois, ‘Jugend‘; e só então, depois que 
lhe chamei a atenção para a palavra ‘Jugend‘, foi que ela entendeu que estivera em busca do 
nome Jung. 
“Essa dama, que perdera o marido aos trinta e nove anos e não tinha perspectiva de voltar 
a casar-se, decerto tinha razões suficientes para evitar tudo o que a fizesse lembrar da juventude 
ou da idade. É digno de nota que as ocorrências encobridoras do nome buscado estivessem 
exclusivamente associadas com o conteúdo, não havendo associações sonoras.” 
(9) Eis um exemplo de esquecimento de nome com outra motivação muito sutil, explicado 
pelo próprio sujeito afetado: 
“Quando eu fazia uma prova de filosofia como matéria complementar, o examinador 
interrogou-me sobre a doutrina de Epicuro e, depois disso, perguntou se eu sabia quem a havia 
retomado em séculos posteriores. Respondi com o nome de Pierre Gassendi, que eu ouvira 
descreverem como discípulo de Epicuro dois dias antes, num café. Ante a pergunta surpresa sobre 
como eu sabia disso, respondi atrevidamente que há muito me interessava por Gassendi. A 
conseqüência foi um magna cum laude [com louvor] no diploma, porém, infelizmente, também uma 
obstinada tendência posterior a esquecer o nome de Gassendi. Creio que minha consciência 
pesada é culpada de minha impossibilidade de lembrar esse nome, apesar de todos os meus 
esforços. É que, na verdade, também naquela ocasião eu não deveria tê-lo sabido.” 
Para que se avalie a intensidade da aversão de nosso informante à recordação desse 
episódio do exame, é preciso que se saiba do grande valor que ele confere a seu doutorado e das 
inúmeras outras coisas às quais este tem que servir de substituto. 
(10) Intercalo aqui outro exemplo de esquecimento do nome de uma cidade. Talvez não 
seja tão simples quanto os já citados [em [1] e [2]] mas,para qualquer um que esteja algo 
familiarizado com essas investigações, parecerá digno de crédito e valioso. O nome de uma cidade 
da Itália escapou à memória do sujeito em conseqüência de sua grande semelhança fonética com 
um prenome de mulher a que se ligavam muitas lembranças carregadas de afeto, que sem dúvida 
não são integralmente relatadas aqui. Sándor Ferenczi, de Budapeste, que observou em si mesmo 
esse caso de esquecimento, tratou-o da maneira como se analisa um sonho ou uma idéia 
neurótica - por certo, com toda a razão. 
“Estive hoje visitando uma família amiga e a conversa se voltou para as cidades do norte 
da Itália. Alguém observou que elas ainda exibem traços da influência austríaca. Algumas dessas 
cidades foram mencionadas e também eu quis citar uma delas, mas seu nome não me ocorreu, 
embora eu soubesse que ali havia passado dois dias muito agradáveis - um fato que não 
combinava muito com a teoria de Freud sobre o esquecimento. Em vez do nome buscado, as 
seguintes associações impuseram-se a mim: Capua - Brescia - O Leão de Brescia. 
“Visualizei esse ‘Leão’ sob a forma de uma estátua de mármore postada diante de mim 
como um objeto concreto, mas logo reparei que ele se parecia menos com o leão do Monumento à 
Liberdade em Brescia (que só vi numa ilustração) do que com o outro famoso leão de mármore 
que vi no monumento aos mortos em Lucerna - o monumento aos guardas suíços tombados nas 
Tulherias, do qual tenho um réplica em miniatura na minha estante. E então me ocorre finalmente o 
nome buscado: era Verona. 
“Ao mesmo tempo, entendi prontamente quem era a culpada dessa minha amnésia. 
Ninguém senão uma antiga empregada da família de quem eu era convidado nessa ocasião. Seu 
nome era Veronika (Verona, em húngaro) e eu tinha por ela uma intensa antipatia, por causa de 
sua fisionomia repulsiva, de sua voz esganiçada e rouca e sua confiança insuportável, a que ela 
achava ter direito por longo tempo de serviço. Também a maneira tirânica com que, em sua época, 
ela costumava tratar as crianças da casa me era intolerável. E então compreendi também o sentido 
das associações substitutas. 
“Minha associação imediata com Capua foi caput mortuum [cabeça de morto]. Muitas 
vezes comparei a cabeça de Veronika a uma cabeça de defunto. A palavra húngara ”kapzsi“ 
(avaro) sem dúvida forneceu mais um determinante para o deslocamento. Descobri também, é 
claro, as vias associativas muito mais diretas que ligam Capua e Verona como idéias geográficas e 
como palavras italianas que têm o mesmo ritmo. 
 
“O mesmo vale para Brescia, mas também aqui encontram-se vias colaterais entrelaçadas 
na associação de idéias. 
“Naquela época minha antipatia era tão violenta que eu achava Veronika decididamente 
asquerosa, e mais de uma vez manifestei meu assombro de que, apesar disso, ela pudesse ter 
uma vida amorosa e ser amada por alguém. ‘Beijá-la’, dizia eu, ‘deve provocar náuseas!’ E por 
certo fazia muito tempo que se poderia vinculá-la à idéia dos guardas suíços tombados. 
“É muito freqüente se mencionar Brescia, pelo menos aqui na Hungria, não em conexão 
com o leão, mas com outro animal selvagem. O nome mais odiado neste país, como também no 
norte da Itália, é o do general Haynau, comumente conhecido como a ‘Hiena de Brescia‘. Assim, 
um fio de meu pensamento levava do odiado tirano Haynau, via Brescia, para a cidade de Verona, 
enquanto o outro levava, através da idéia do animal de voz rouca que freqüenta os túmulos dos 
mortos (o que contribui para determinar a emergência de um monumento aos mortos), para a 
cabeça de defunto e a voz desagradável de Veronika, tão grosseiramente insultada por meu 
inconsciente, pessoa que em sua época agira naquela casa de maneira quase tão tirânica quanto 
o general austríaco depois das lutas dos húngaros e italianos pela liberdade. 
“A Lucerna liga-se a idéia do verão que Veronika passou com os patrões nas cercanias da 
cidade de Lucerna, junto ao lago do mesmo nome. A Guarda Suíça, por sua vez,lembra que ela 
sabia tiranizar não só as crianças, mas também os adultos da família, e se comprazia [sich 
gefallen] no papel de ‘Garde-Dame’ [governanta, dama de companhia, literalmente ‘guarda de 
senhoras’]. 
“Devo assinalar expressamente que essa minha antipatia por Veronika é - 
conscientemente - um coisa há muito superada. Desde aquela época, tanto sua aparência quanto 
suas maneiras mudaram muito, para melhor, e posso tratá-la (embora para isso tenha raras 
oportunidades) com sentimentos sinceramente amistosos. Como de hábito, meu inconsciente se 
aferra com mais tenacidade a minhas impressões [anteriores]: ele é ”de efeito posterior" e 
rancoroso. 
 
“As Tulherias são uma alusão a outra pessoa, uma dama francesa idosa que, em muitas 
ocasiões, realmente ‘guardava‘ as mulheres da casa; era respeitada por todos, jovens e velhos - e 
sem dúvida um pouco temida também. Por algum tempo fui seu élève [aluno] de conversação em 
francês. A palavra élève recorda-me ainda que, estando em visita ao cunhado de meu atual 
anfitrião, no norte da Boêmia, achei muita graça ao saber que os camponeses do lugar chamavam 
os élèves da escola florestal de ‘Löwen’ [leões]. Também essa lembrança divertida pode ter 
desempenhado um papel no deslocamento da hiena para o leão.” 
(11) Também o exemplo seguinte mostra como um complexo pessoal que domine a 
pessoa num dado momento provoca o esquecimento de um nome com base numa ligação muito 
remota. 
“Dois homens, um mais velho e um mais moço, que seis meses antes haviam feito juntos 
uma viagem à Sicília, trocavam lembranças daqueles dias bonitos e memoráveis. ‘Vejamos’, disse 
o mais jovem, ‘como se chamava o lugar onde pernoitamos antes de nossa excursão a Selinunte? 
Calatafimi, não é?’ O mais velho discordou: ‘Não, tenho certeza de que não era isso, mas também 
esqueci o nome, embora me lembre muito bem de todos os detalhes de nossa estada lá. Basta eu 
saber que alguém esqueceu um nome para que isso logo me faça esquecê-lo também. [Cf. 
adiante, em [1]] Quer que procuremos o nome? O único que me ocorre é Caltanisetta, que com 
certeza não é o correto.’ - ‘Não’, disse o mais jovem, ‘o nome começa com w ou então contém w.’ - 
‘Mas não existe w em italiano’, objetou o mais velho. ‘Eu quis dizer v, e só falei w por estar muito 
acostumado com ele em minha língua.’ O homem mais velho manteve sua objeção ao v. ‘Aliás’, 
declarou, ‘acho que já esqueci uma porção de nomes sicilianos, e essa é uma boa hora para 
fazermos algumas experiências. Por exemplo, qual era o nome daquele lugar elevado que na 
Antigüidade se chamava Enna? Ah, já sei - Castrogiovanni.’ No instante seguinte o homem mais 
moço recuperou o nome perdido. ‘Castelvetrano’, exclamou, satisfeito por poder apontar o v em 
que havia insistido. Durante algum tempo, o mais velho não teve nenhuma sensação de 
reconhecimento, mas depois de ter aceito o nome, coube-lheexplicar por que o havia esquecido 
‘Evidentemente’, disse, ‘porque a segunda metade, ”-vetrano“, soa como ”veterano". ‘Sei que não 
gosto muito de pensar em envelhecer e tenho reações estranhas quando me lembram disso. Por 
exemplo, recentemente usei os mais curiosos disfarces para acusar um amigo muito estimado de 
ter perdido a juventude há muito tempo, e isso porque, numa ocasião anterior, em meio às 
observações mais lisonjeiras a meu respeito, esse amigo havia acrescentado que eu “já não era 
um homem jovem”. Outro indício de que minha resistência estava voltada contra a segunda 
metade do nome Castelvetrano é que seu som inicial ressurgiu no nome substituto Caltanisetta.’ ‘E 
quanto ao próprio nome Caltanisetta?’, perguntou o mais jovem. ‘Esse’, confessou o mais velho, 
‘sempre me pareceu ser um apelido carinhoso para uma mulher jovem.’ 
“Algum tempo depois, acrescentou: ‘Evidentemente, o nome para Enna também era um 
nome substituto. E agora me ocorre que Castrogiovanni - o nome que se impôs ao primeiro plano 
com a ajuda de uma racionalização - soa como ”giovane“, jovem, assim como o nome perdido, 
Castelvetrano, soa como ”veterano“, velho.’ 
“O homem mais velho acreditou ter assim esclarecido seu esquecimento do nome. Não 
foram investigados os motivos da mesma falha de memória no mais moço.” 
Não só os motivos, mas também o mecanismo que rege o esquecimento de nomes 
merecem nosso interesse. Num grande número de casos um nome é esquecido, não porque ele 
próprio desperte esses motivos, mas porque - graças à semelhança fonética e à homofonia - ele 
toca em outro nome contra o qual se voltam esses motivos. Como é compreensível, esse 
relaxamento das condições facilita extraordinariamente a ocorrência do fenômeno. É o que 
mostram os seguintes exemplos: 
(12)Relatado pelo Dr. Eduardo Hitschmann (1913a): “O senhor N. queria dar a alguém o 
nome da livraria Gilhofer e Ranschburg [de Viena]. Por mais que pensasse, entretanto, só lhe 
ocorria o nome Ranschburg, embora ele conhecesse muito bem a firma. Voltou para casa meio 
insatisfeito e achou o assunto suficientemente importante para perguntar a seu irmão (que 
aparentemente já estava dormindo) qual era a primeira metade do nome. O irmão o forneceu sem 
hesitação. Nisto ocorreu ao Sr. N. a palavra ‘Gallhof’, como associação a ‘Gillhofer’. Gallhof era o 
lugar onde, alguns meses antes, ele dera um memorável passeio com uma jovem atraente. Como 
lembrança, a moça o presenteara com um objeto que trazia a inscrição ‘Recordação da horas 
felizes em Gallhof [”Gallhoerf Stunden“, literalmente ”horas de Galhof"]’. Dias antes do 
esquecimento do nome, esse presente fora seriamente danificado, aparentemente de modo 
acidental, quando N. fechou uma gaveta depressa demais. N. reparou nisso com um certo 
sentimento de culpa, familiarizado que estava com o sentido dos atos sintomáticos. [Ver Capítulo 
IX.] Na época, seus sentimentos em relação à jovem eram algo ambivalentes: por certo a amava, 
mas estava hesitante frente ao desejo dela de se casarem." 
(13)Relatado pelo Dr. Hanns Sachs: “Ao conversar sobre Gênova e seus arredores, um 
rapaz quis mencionar o lugar chamado Pegli, mas só com esforço conseguiu lembrar o nome, 
depois de muito refletir. A caminho de casa, ia meditando sobre o modo desagradável como lhe 
escapara um nome tão familiar e, ao fazê-lo, foi conduzido a uma palavra de som muito 
semelhante: Peli. Ele sabia haver uma ilha com esse nome nos Mares do Sul, cujos habitantes 
ainda conservaram alguns hábitos notáveis. Lera sobre eles recentemente, numa obra de 
etnologia, e decidira nesse momento usar as informações para apoiar uma hipótese própria. 
Ocorreu-lhe então que Peli era também o cenário de um romance que ele havia lido com interesse 
e prazer - o Van Zantens glücklichste Zeit [A Época mais Feliz de Van Zanten], de Laurids Bruun. 
Os pensamentos que o haviam ocupado quase incessantemente durante o dia centralizavam-se 
numa carta, recebida naquela mesma manhã, de uma dama que lhe era muito querida. Essa carta 
o fizera temer que tivesse de renunciar a um encontro marcado. Depois de passar o dia inteiro com 
um péssimo humor, ele saíra à noite, decidido a não se atormentar mais com esses pensamentos 
irritantes, e sim a desfrutar, com a maior serenidade possível, da reunião social que tinha à frente e 
que lhe era de extremo valor. É claro que essa sua resolução poderia ser gravemente posta em 
risco pela palavra Pegli, por ser tão estreita a sua semelhança sonora com Peli; Peli, por sua vez, 
por ter adquirido um vínculo pessoal com ele através do interesse etnológico, corporificava não só 
a ‘época mais feliz’ de Van Zanten, mas também a sua, e portanto também os medos e angústias 
que ele alimentara o dia inteiro. É característico que essa simples interpretação só lhe chegasse 
assim que uma segunda carta transformou suas dúvidas na certeza feliz de revê-la em breve.” 
 
Se esse exemplo faz lembrar um outro que lhe é, por assim dizer, vizinho, no qual não se 
conseguia recordaro topônimo Nervi (Exemplo 1 [em [1]]), verifica-se como o duplo sentido de uma 
palavra pode ser substituído por duas palavras de som semelhante. 
(14)Ao deflagrar-se a guerra contra a Itália, em 1915, pude fazer em mim mesmo a 
observação de que toda uma série de nomes de lugares italianos, que de hábito me eram 
prontamente acessíveis, subtraiu-se de repente de minha memória. Como muitos outros alemães, 
eu havia criado o hábito de passar parte das minhas férias em solo italiano, e não pude duvidar de 
que esse maciço esquecimento de nomes era a expressão de uma compreensível animosidade 
pela Itália, substituindo agora minha predileção anterior. Mas, além desse esquecimento de nomes 
diretamente motivado, também se identificou uma amnésia indireta com origem na mesma 
influência. Mostrei também uma tendência a esquecer topônimos não-italianos e, investigando 
esses incidentes, descobri que tai nomes tinham alguma ligação, por meio de vagas semelhanças 
de som, com os nomes inimigos proscritos. Assim, um dia me atormentei tentando lembrar o nome 
da cidade de Bisenz, na Morávia. Quando ele finalmente me ocorreu, reconheci de imediato que 
esse esquecimento devia ser posto na conta do Palazzo Bisenzi, em Orvieto. O Hotel Belle Arti, 
onde eu me hospedara em todas as minhas visitas a Orvieto, situa-se nesse “palazzo”. As 
lembranças mais preciosas, é claro, tinham sido as mais prejudicadas pela mudança em minha 
atitude emocional. 
Alguns exemplos ajudarão também a nos lembrar da diversidade de propósito a cujo 
serviço pode colocar-se o ato falho do esquecimento de nomes. 
(15)Relatado por A. J. Storfer (1914): ‘’Certa manhã, uma dama residente em Basiléia 
recebeu a notícia de que sua amiga de infância, Selma X., de Berlim, então em viagem de lua-de-
mel, estava de passagem por Basiléia, mas ali permaneceria apenas um dia; por isso a dama de 
Basiléia apressou-se a chegar logo ao hotel. Quando as amigas se separaram, combinaram 
reencontrar-se à tarde e permanecer juntas até a hora da partida da dama berlinense. 
“À tarde, a dama de Basiléia esqueceu o encontro marcado. Desconheço os determinantes 
desse esquecimento, mas, nessa situação (encontro com uma amiga de infância recém-casada), 
são possíveis diversas constelações típicas capazes de determinar uma inibição contra a repetição 
do encontro. O ponto de interesse nesse caso está em outro ato falho, que representa uma 
proteção inconsciente para o primeiro. Na hora em que deveria estar-se reencontrando com a 
amiga de Berlim, a dama de Basiléia se achava numa roda social em outro lugar. Ali, a conversa 
recaiu sobre o casamento recente da cantora vienense de ópera de sobrenome Kurz. A dama de 
Basiléia teceu alguns comentários críticos (!) sobre esse casamento, mas, ao querer referir-se à 
cantora pelo nome, descobriu com enorme embaraço que não conseguia lembrar-se de seu nome 
de batismo. (Como se sabe, há uma tendência especial a se mencionar também o prenome, nos 
casos em que o sobrenome é monossilábico.) A dama de Basiléia irritou-se ainda mais com seu 
lapso de memória porque já ouvira a Kurz cantar muitas vezes e, comumente, sabia muito bem seu 
nome (completo). Antes que alguém mencionasse o prenome desaparecido, a conversa tomou 
outro rumo. 
“Na noite desse mesmo dia, nossa dama de Basiléia estava entre algumas pessoas que, 
em parte, eram as mesmas daquela tarde. Por coincidência, a conversa tornou a recair no 
casamento da cantora vienense e, sem qualquer dificuldade, a dama citou o nome ‘Selma Kurz’. E 
nesse instante exclamou: ‘Oh! Acabo de me lembrar: esqueci por completo que hoje à tarde tinha 
um encontro com minha amiga Selma!‘ Uma olhadela no relógio mostrou que a amiga já devia ter 
partido.” 
Talvez ainda não estejamos preparados para apreciar esse belo exemplo em todos os 
seus aspectos. É mais simples o caso seguinte, embora não se tratasse do esquecimento de um 
nome e sim de uma palavra estrangeira, por um motivo criado pela situação. (Já podemos notar 
que estamos lidando com os mesmos processos, quer eles se apliquem a nomes próprios, 
prenomes, palavras estrangeiras ou seqüências de palavras.) Foi o caso de um jovem que 
esqueceu a palavra inglesa correspondente a “ouro” - que é idêntica à palavra alemã (“Gold”) - 
para, desse modo, ter oportunidade de praticar uma ação que desejava. 
(16)Relatado pelo Dr. Hanns Sachs: “Um rapaz travou conhecimento numa pensão com 
uma moça inglesa que lhe agradou. Na primeira noite após se conhecerem, ele conversava com a 
moça na língua materna desta, que conhecia razoavelmente bem, e quis empregar a palavra inglês 
para ‘ouro’. Apesar de seus imensos esforços, o vocábulo não lhe ocorreu. Em vez dele, a palavra 
francesa or, a latina aurum e a grega chrysos impuseram-se obstinadamente como substitutas, 
tanto que ele só conseguiu rejeitá-las a muito custo, embora soubesse com certeza que não 
tinham parentesco algum com a palavra procurada. Por fim, o único caminho que encontrou para 
se fazer entender foi tocar num anel de ouro na mão da moça, ficando muito envergonhado ao 
saber por ela que a palavra tão procurada para denotar ouro era exatamente idêntica à alemã, ou 
seja, ‘gold’. O grande valor desse contato, propiciado pelo esquecimento, não estava meramente 
na satisfação inobjetável da pulsão de pegar ou tocar - pois para isso existem outras oportunidades 
avidamente exploradas pelos enamorados -, porém, muito mais, no modo como contribuiu para 
esclarecer as perspectivas do flerte. O inconsciente da dama, sobretudo se sentisse simpatia pelo 
homem com quem ela conversava, adivinharia o objetivo erótico do esquecimento, oculto por sua 
máscara de inocência. A maneira de ela corresponder ao contato e aceitar sua motivação poderia, 
assim, tornar-se um meio - inconsciente para ambos, mas muito significativo - de chegarem a um 
entendimento sobre as possibilidades do flerte iniciado pouco antes.” 
(17)Narro ainda, segundo J. Stärcke (1916), outra observação interessante que concerne 
ao esquecimento e à recuperação de um nome próprio. Esse caso se distingue pela ligação entre o 
esquecimento do nome e um equívoco na citação de algumas palavras de um poema, como no 
exemplo da “Noiva de Corinto” [em [1]]. 
“Z., um velho jurista e filólogo, contava numa roda como, em seus tempos de estudantes 
na Alemanha, conhecera um aluno excepcionalmente estúpido, e teve muitas anedotas a contar 
sobre essa estupidez. Mas não conseguiu lembrar o nome do estudante; achou que começava 
com W, mas depois reconsiderou essa idéia. Lembrou-se de que esse aluno estúpido mais tarde 
se tornara comerciante de vinhos. Depois, ao contar outra anedota sobre a estupidez do rapaz, 
tornou a exprimir seu espanto pelo fato de seu nome não lhe ocorrer, e disse: ‘Ele era tão burro 
que até hoje não entendo como consegui martelar-lhe o latim na cabeça.’ No momento seguinte, 
lembrou-se de que o nome procurado terminava em ‘. man‘. Nesse ponto, perguntamos se lhe 
ocorria algum outro nome terminado em ‘man’ e ele disse: ‘Erdmann‘ [homem da terra].’- ‘Quem é 
esse?’ - ‘Um outro estudante daquela época.’ - Sua filha, porém, observou que havia também um 
professor Erdmann. Uma averiguação mais rigorosa revelou que esse professor Erdmann era 
editor de uma revista e, recentemente, só aceitara publicar em forma abreviada um trabalho 
apresentado por Z., do qual discordava em parte etc., e Z. ficara bastante aborrecido com isso. 
(Ademais, descobri posteriormente que, anos antes, Z. provavelmente tivera expectativas de se 
tornar professor da mesma disciplina agora lecionada pelo professor Erdmann, e também nesse 
aspecto o nome talvez tivesse tocado num ponto sensível.) 
“E então, de repente, ocorreu-lhe o nome do estudante estúpido: ‘Lindeman!’ Como já se 
lembrara de que o nome terminava em ‘man’, ‘Linde [tília]’, era o que permanecera recalcado por 
mais tempo. Ao se perguntar o que lhe ocorria ao pensar em ‘Linde‘,

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