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SOBRE A MEMÓRIA DOS LUGARES

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SOBRE A MEMÓRIA DOS LUGARES 
 
 
 
 
MARCIO LUIS FERNANDES 
 
 
 
 
 
INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR: 
PROFESSOR DE GEOGRAFIA NAS REDES PÚBLICAS ESTADUAL E MUNICIPAL 
DO ESTADO E DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO; 
PESQUISADOR ESPECIALISTA EM POLÍTICAS TERRITORIAIS NO ESTADO DO 
RIO DE JANEIRO – UERJ; 
MESTRE E DOUTOR EM GEOGRAFIA – UERJ. 
LATTES: http://lattes.cnpq.br/8848001402702194 
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4201071A6 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO, 28 DE ABRIL DE 2020
http://lattes.cnpq.br/8848001402702194
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4201071A6
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SOBRE A MEMÓRIA DOS LUGARES 
 
Como temos defendido em pesquisas anteriores (FERNANDES 2010; 2015; 
2020), aos lugares são atribuídas muitas dimensões de significado (BUTTIMER, 
2015). Um dos caminhos apontados por diferentes autores a fim de explorar o 
dinâmico e multifacetado universo vivido seria por meio do vislumbre dos acervos 
íntimos e particulares de seus vivenciadores. 
Todavia, como toda experiência vivida remonta, inexoravelmente, ao passado, 
se quisermos seguir este percurso, precisaremos recorrer ao subsídio das 
memórias individuais e coletivas dos indivíduos e grupos sociais 
(LOWENTHAL,1982; 1985; 1998; ABREU, 1998; MELLO, 2002; HALBWACHS, 
2013; BUTTIMER, 2015). 
Por mais que uma localidade se transforme, em decorrência de uma marcha 
urbanizadora, por exemplo, ela sempre conservará um conteúdo residual de 
temporalidades pretéritas. Há, porém, uma gama de acontecimentos que não 
deixam vestígios físicos. Estes, muitas vezes, ficam registrados na memória 
geográfica dos indivíduos que acompanham tais mudanças. 
O que pensamos e sentimos em relação às nossas geografias se fundamenta, 
obviamente, em experiências vivenciadas em algum lugar do/no passado. A 
partir deste enlace, tudo o que ocorre em nosso chão experienciado, passa a 
compor nossa própria existência (LOWENTHAL, 1998). 
A vida cotidiana tem o lugar como base, sendo este o resultado de todos os 
nossos momentos, o somatório de nossas memórias e o produto e junção de 
todas as nossas experiências vividas (MENDILOW, 1960). Possuído pelo 
passado, Lowenthal admite viver em um emaranhado de épocas. Para o referido 
pensador, o passado reside em nós por meio de nossas memórias e lembranças 
de diferentes momentos (LOWENTHAL, 1985; 1998). 
Por povoar os pensamentos dos seres humanos, o passado está vivo em nossa 
memória (HIGHET, 1949). Na verdade, os cenários e experiências vislumbrados 
e vivenciados tornam-se parte de nossa lembrança (BUTTERFIELD, 1965). 
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Assim, “toda consciência do passado está fundada na memória. Através das 
lembranças recuperamos consciência de acontecimentos anteriores, 
distinguimos ontem e hoje, e confirmamos que já vivemos um passado” 
(LOWENTHAL, 1998, p.75). 
A memória possui caráter pessoal e coletivo ao mesmo tempo. As lembranças 
dos indivíduos e grupos sociais sustentam seu sentido de identidade em relação 
ao seu chão experienciado. Nossa vida está impregnada por nossas memórias. 
A todo instante, trazemos de volta algum acontecimento do passado 
(LOWENTHAL, 1998). 
As lembranças tendem a acumularem-se com a idade. Nosso estoque de 
recordações aumenta à medida que a vida transcorre e as experiências 
multiplicam-se. Embora haja lembranças individuais e coletivas, a memória é 
sempre pessoal. As recordações deixam de ser pessoais apenas quando 
decidimos compartilhá-las (LOWENTHAL, 1998). 
A memória dos distintos espaços e lugares está inscrita, não apenas em alguns 
artefatos do passado que persistem em sua paisagem como testemunhos 
geográficos, mas – principalmente – nas lembranças das experiências vividas 
por homens e mulheres em seu universo vivido. Neste quadro, o lugar 
transcende a materialidade, ainda que não dissociado desta, pois as lembranças 
espaciais eternizam-se em nossas memórias geográficas (MELLO, 2002; 
FERNANDES, 2020). 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABREU, Maurício de Almeida. Sobre a Memória das Cidades. Revista da 
Faculdade de Letras — Geografia I série, Porto, v.14, p. 77-97, 1998. 
 
 
BUTTERFIELD, Roger. “Henry Ford, the Wayside Inn, and the Problem of 
'History is Bunk'". Massachusetts Historical Society Preccedings, Massachusetts, 
v. 77, p. 5366,1965. 
 
 
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BUTTIMER, Anne. Lar, Horizonte de Alcance e o Sentido de Lugar. Revista 
Geograficidade, Niterói, v.5, n.1, p. 4-19, verão 2015. 
 
 
FERNANDES, Marcio Luis. Decodificando geografias pretéritas e hodiernas de 
Ilha de Guaratiba (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGEO/UERJ, 
2010. 99 f. 
 
 
______. Ilha de Guaratiba: um lugar descortinado por seus moradores 
desaguando no Rio olímpico (Tese de doutorado). Rio de Janeiro: 
PPGEO/UERJ, 2015. 189 f. 
 
 
______. Geografias memoráveis: sobre os lugares e suas memórias 
geográficas. Novas Edições Acadêmicas: Rio de Janeiro, 2020. 
 
 
HALBWACHS, Morrice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2013. 224 p. 
 
 
LOWENTHAL, David. Geografia, experiência e Imaginação: Em direção a uma 
epistemologia geográfica. In: CHRITOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da 
Geografia. São Paulo: DIFEL, 1982. p. 103-141. 
 
 
______. The Past Is a Foreign Country. Cambridge: Cambridge University Press, 
1985. 
 
 
______. Como Conhecemos o Passado. Projeto História – Revista do programa 
de estudos pós-graduados de história, São Paulo, v. 17, p. 63-201, 1998. 
 
 
MELLO, João Baptista Ferreira de. A Restauração dos Lugares do Passado. 
Revista GeoUERJ, Rio de Janeiro, n.12. p. 63-69, 2002. 
 
 
MENDILOW, Adam Abraham. Time and the novel. London: John 
Spencer/Badger, 1960.

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