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CURSO DE DIREITO PRÁTICA FORENSE CIVIL Prof. Igor Kiel Olivo Aula 05 AULA 05 RESPOSTAS DO RÉU INTRODUÇÃO A CONTESTAÇÃO é a peça de defesa por excelência. Mas não é a única! Tradicionalmente, a resposta do réu constitui um ônus processual, considerando-se que o réu somente se manifestará se essa for sua vontade, que determinará também a forma de reação. A inércia do réu, algo absolutamente admissível no processo civil, gerará em regra sua revelia, fenômeno ligado à inexistência jurídica de contestação, com as limitações previstas no art. 345, CPC. Para além da contestação e da reconvenção, há outras formas de respostas do réu que precisam ser destacadas, tais como: A) a nomeação à autoria; B) o chamamento ao processo; C) a denunciação da lide; D) o reconhecimento jurídico do pedido; E) a impugnação ao valor da causa e; F) a impugnação à concessão dos benefícios da assistência judiciária, desde que manejadas pelo réu e no prazo de defesa. G) a alegação de litisconsórcio multitudinário. CONTESTAÇÃO Trata-se do principal instrumento de exercício do direito de defesa, representando a forma processual pela qual se insurge contra a pretensão do autor. NCPC/2015 – aumento de questões possíveis a serem abordadas na contestação (art. 337 CPC), tais como a Reconvenção, incompetência absoluta, impugnação ao valor da causa e gratuidade judiciária, dentre outras. PRAZO: O prazo para oferecimento de contestação é de 15 dias (art. 335, caput, CPC). Obs: Se o réu for Ministério Público (art. 180, CPC), ente público (art. 183, CPC), réu assistido pela Defensoria Pública (art. 186, CPC) ou litisconsorte com advogado diferente do outro litisconsorte (art. 229, CPC), o prazo é de trinta dias. O termo inicial do prazo deve observar o art. 335, CPC. ATENÇÃO: Incumbe ao réu alegar, na contestação, TODA matéria de defesa PRINCÍPIO DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA Art. 336 CPC A impugnação específica é um ônus do réu de rebater pontualmente todos os fatos narrados pelo autor, tornando-os controvertidos, fazendo com que componham o objeto da prova. O momento de tal impugnação, em regra, é a contestação, operando-se a “preclusão consumativa” se apresentada essa espécie de defesa o réu deixar de impugnar algum dos fatos alegados pelo autor. Obs: Não se aplica o ônus da impugnação especificada ao advogado dativo, ao curador especial e à Defensoria Pública (art. 341, parágrafo único, CPC), que podem elaborar contestação por “negativa geral”. Os três incisos do art. 341, CPC, preveem exceções ao princípio da impugnação específica dos fatos, impedindo que um fato alegado pelo autor que não tenha sido impugnado especificamente seja presumido verdadeiro: Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. A doutrina costuma dividir as matérias de defesa passíveis de alegação em sede de contestação em dois grandes grupos, cada qual com suas subdivisões: I. Defesas processuais: dilatórias, peremptórias e dilatórias potencialmente peremptórias; II. Defesas de mérito: defesas de mérito diretas e indiretas. Defesas processuais (art. 336 – Princípio da Concentração da Defesa) Doutrinariamente é também denominada como “defesas indiretas”, por não terem como objeto a essência do litígio, encontrando-se previstas no art. 337, CPC. Dizem respeito à regularidade formal do processo (instrumento), e não ao mérito, devendo o réu apontar os vícios que porventura comprometam a validade do procedimento. Tradicionalmente, são divididas em: a) dilatórias: o acolhimento não põem fim ao processo, aumentando somente o tempo de duração do procedimento; b) peremptórias: fazem com que o processo seja extinto sem a resolução de mérito. Análise das hipóteses previstas no art. 337 CPC A) Dilatórias: inexistência ou nulidade da citação (art. 337, I, CPC); incompetência do juízo (art. 337, II, CPC); conexão/continência (art. 337, VIII, CPC). B) Peremptórias: inépcia da petição inicial (art. 337, IV, CPC); perempção (art. 337, V, CPC); litispendência (art. 337, VI, CPC); coisa julgada (art. 337, VII, CPC); convenção de arbitragem (art. 337, X, CPC); falta de interesse de agir (art. 337, XI, CPC). C) Dilatórias potencialmente peremptórias: incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização (art. 337, IX, CPC); falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar (art. 337, XII, CPC); incorreção do valor da causa (art. 337, III, CPC); ilegitimidade de parte (art. 337, XI, CPC). Defesas de mérito Enquanto as defesas processuais têm por objeto a regularidade do processo, as defesas de mérito dizem respeito ao direito material alegado pelo autor. É o conteúdo da pretensão do autor o objeto de impugnação por meio da defesa de mérito. 1. Defesa de mérito direta O réu enfrenta frontalmente os fatos e os fundamentos jurídicos narrados pelo autor na petição inicial, buscando demonstrar que os fatos não ocorreram conforme narrado ou ainda que as consequências jurídicas pretendidas pelo autor não são as mais adequadas ao caso concreto. Desenvolve-se dentro dos fatos e da fundamentação jurídica que compõem a causa de pedir exposta pelo autor em sua petição inicial. 2. Defesa de mérito indireta O réu, sem negar as afirmações lançadas pelo autor na inicial, alega um fato novo, que tenha natureza impeditiva, modificativa ou extintiva do direito do autor. Amplia-se, assim, o objeto de cognição do juiz. *Art. 373 – Distribuição estática do ônus da prova São fatos impeditivos aqueles que, anteriores ou simultâneos ao fato constitutivo do direito impedem que esse último gere seus regulares efeitos (Ex: contrato celebrado por incapaz ou com vício de consentimento). Os fatos extintivos são aqueles que colocam fim a um direito, sendo necessariamente posteriores ao surgimento da relação jurídica de direito material (Ex: prescrição, pagamento, remissão da dívida etc.). Já os fatos modificativos são, necessariamente, posteriores ao surgimento da relação de direito material, atuando sobre a relação jurídica de direito material, gerando sobre ela uma modificação subjetiva ou objetiva (Ex: cessão de crédito sem ressalva, com a modificação do credor, no primeiro caso, e novação objetiva e parcelamento da dívida no segundo caso). Há, também, as exceções previstas nos incisos do art. 342, CPC, as quais podem ser alegadas após a apresentação da contestação, referentes a: (I) matérias defensivas relativas a direito superveniente (fato ou situação jurídica que surgiu após a apresentação da defesa e que é relevante para o julgamento da causa); (II) matérias que o juiz pode conhecer de ofício (de ordem pública, decadência, prescrição); (III) matérias que, por expressa previsão legal, podem ser alegadas a qualquer tempo e grau de jurisdição (ausência de citação, decadência convencional – art. 211 CC v.g.). RECONVENÇÃO É o exercício do direito de ação do réu dentro do mesmo processo em que primitivamente o autor originário tenha exercido o seu direito de ação. Em regra, o réu só se opõe às alegações do autor, ou seja, somente se defende; entretanto, em alguns casos, o réu poderá formular uma pretensão em face do autor (“contra-ataque”), exercendo o direito de ação, passando a figurar como se fosse um verdadeiro autor. A reconvenção é uma mera faculdade, podendo o réu que deixar de reconvir e ingressar de forma autônoma com a mesma ação que teria ingressado sob a forma de reconvenção. As condições e pressupostos de uma reconvenção são as mesmas de qualquer ação (legitimidade das partes e interesse de agir). Relativamente à legitimidade de partes, a novidade é a de que o art. 343, §§ 3º e 4º, CPC, passa a prever,de forma expressa, que a reconvenção pode ser proposta contra o autor e um terceiro, e que a reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro. Aplica-se, aqui, a regra do litisconsórcio multitudinário (art. 113, §§ 1º e 2º, CPC). Entretanto, por se tratar de uma medida de caráter incidental, além das condições e pressupostos comuns a qualquer ação, deve preencher alguns pressupostos e condições específicas: a) Litispendência: para que exista reconvenção, é indispensável que exista a demanda originária; a reconvenção é demanda nova em processo já existente; b) Forma: o art. 343, CPC, estabelece que a contestação e reconvenção sejam apresentadas em única peça processual, podendo o réu reconvir independentemente de contestar (art. 343, § 6º, CPC). c) Identidade procedimental: a lei exige que haja uma compatibilidade procedimental entre a ação principal e a reconvenção. A ação originária e a ação reconvencional seguirão juntas, sendo, inclusive, decididas por uma mesma sentença; d) Competência: o juízo da ação originária é absolutamente competente para a ação reconvencional, de modo que, sendo a competência absoluta dessa ação diferente da ação originária, será proibido o ingresso de ação reconvencional, devendo a parte ingressar com a ação autônoma perante o juízo absolutamente competente; e) Conexão: a reconvenção deverá, obrigatoriamente, ter conexão com os fundamentos de defesa ou com os fundamentos da demanda proposta pelo autor (art. 343, caput, CPC). Observações: Apresentada a reconvenção, e não sendo caso de indeferimento liminar, o autor reconvindo será intimado, na pessoa do seu advogado, para responder no prazo de 15 (quinze) dias. A resposta mais comum será a contestação à reconvenção – e sua ausência gera o efeito da revelia – mas nada impede outras espécies de resposta além da contestação, como a denunciação da lide e o chamamento ao processo. A reconvenção da reconvenção, em tese, é possível. Parte da doutrina entende que seu cabimento está condicionado às hipóteses de reconvenção com fundamento na conexão com os fundamentos de defesa (Dinamarco e Marinoni). Reconvenções sucessivas poderão ser inadmitidas no caso concreto com fundamento na economia processual sempre que o juiz entender que mais uma reconvenção prejudicará significativamente o andamento procedimental. REVELIA A revelia é um ato-fato processual, consistente na não apresentação tempestiva da contestação. Em outras palavras, ocorre a revelia quando o réu, citado, não aparece em juízo apresentando sua resposta, ou, comparecendo ao processo, não apresenta sua resposta tempestivamente. A revelia produz os seguintes efeitos: a) Presunção de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor (art. 344, CPC); b) Os prazos contra o réu revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial (art. 346, CPC); c) Preclusão em desfavor do réu do poder de alegar algumas matérias de defesa (ressalvadas aquelas previstas no art. 342, CPC; d) Possibilidade de julgamento antecipado do mérito da causa, caso se produza o efeito material da revelia (art. 355, II, CPC). Em regra, todavia, cabe ao autor o ônus de provar os fatos constitutivos do seu direito. Nem mesmo quando há revelia do réu há a procedência automática dos pedidos, podendo o juízo examinar se as alegações formuladas na inicial encontram o mínimo de verossimilhança para considerá- las verdadeiras. (AREsp Nº 1.002.761 - MT (2016/0276803-7), Relatora: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, julgado em 01/02/2017, DJe 03/02/2017). Assim, “a revelia, que decorre do não oferecimento de contestação, enseja presunção relativa de veracidade dos fatos narrados na petição inicial, podendo ser infirmada pelos demais elementos dos autos, motivo pelo qual não acarreta a procedência automática dos pedidos iniciais.” (REsp 1335994/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe 18/08/2014) MODELO PEÇA 1ª passo: Endereçamento; Será sempre perante o juízo pelo qual corre o processo. EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ... 2ª passo: Qualificação das partes Segue a mesma ritualística que a inicial, entretanto, pode se considerar o já devidamente qualificado. Processo nº... FULANO, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, por meio de seu advogado abaixo assinado, constituído através do instrumento procuratório em anexo, com endereço profissional (endereço com-pleto), onde receberá intimações de estilo, e-mail..., apresentar CONTESTAÇÃO, com fulcro no art. 336 do CPC, contra BELTRANO, já também qualificado, pelos fatos e fundamentos que passa a expor: 3ª passo: Resumo dos fatos Breve resumo da petição inicial. Ex: O réu se envolveu num acidente de trânsito, vindo a ser abalroado por um transporte autônomo de passageiros conhecido por “lotação”, dirigido pelo Sr. FULANO DE TAL, que vinha com velocidade acima da permitida onde ocorreu o acidente. Devido à colisão, CICLANO acabou por abalroar no automóvel do Sr.BELTRANO, autor da demanda, configurando-se o conhecido “engavetamento”. Por equívoco, o autor responsabilizou o ora requerente, pelos danos causados ao seu veículo de forma descabida, uma vez que CICLANO sempre observou as leis de trânsitos e seu automóvel estava em perfeitas condições. Na oportunidade, também seguia a risca todas as precauções, bem como as regras de trânsito vigentes. Com base nos dados fornecidos por seu cliente (enunciado da questão) narre os fatos. Seja cuidadoso e minucioso. 4ª passo: Das preliminares As preliminares da contestação estão arroladas no artigo 337 do CPC. Elas são elementares. Elas podem ser dilatórias ou peremptórias. Dilatória é a defesa que retarda o andamento da marcha processual, não tem força para extingui-la. Ex: INC. ABSOLUTA ou RELATIVA. A defesa peremptória é fulminante. Arguida e aceita extinguirá o processo SEM julgamento do mérito (art. 485). Ex: Litispendência, Coisa Julgada, carência de ação. Atenção: será fundamental consultar o artigo 337 do CPC. Preliminarmente, cumpre ressaltar que o réu é parte ilegítima para figurar no feito nos termos do art. 337, XI, do CPC. Isso porque, conforme se verifica no contrato trazido ao processo, o réu não figura como locatário, mas, sim, terceira pessoa. 5ª passo: Prejudiciais de mérito Decadência e prescrição são matérias que extinguem o processo COM resolução do mérito. Vide art. 487, CPC. Vale destacar que a pretensão, em tela, já está prescrita, tendo em vista que a lei civil... Assim sendo, requer a extinção do processo com resolução do mérito, com base no artigo 487 do CPC. 6ª passo: Fundamentos A matéria de mérito deve ser trabalhada aqui. Eis a grande finalidade da peça contestatória. O advogado deverá basear-se em jurisprudência, doutrina e legislação a fim de impugnar as alegações dos autos. Ex: Há ausência do dever de indenizar em relação ao contestante, pois não houve sequer culpa deste, que observa atentamente as leis de trânsito e na oportunidade do ocorrido encontrava-se com seu veículo em perfeitas condições, não incorrendo em qualquer imprudência ou imperícia em relação ao acidente, desconstituído de ato ilícito seu envolvimento com o fato, conforme art. 186 e 927 do CC/02, estando desobrigado à indenização pleiteada na peça vestibular. 7ª passo: Reconvenção – art. 343 Eis o momento do réu/reconvinte formular suas pretensões. Indica-se demonstrar conexão, justificando o cabimento da reconvenção. Indicação dos artigos da lei material e processual que incidem sobre a hipótese fática do caso concreto. 8ª passo: Requerimentos/pedidos O pedido da contestação se limita a pedir que o juiz acolha as preliminares arguidas e, no mérito, que seja o pedido julgado improcedente. Deve o réu, ainda, requerer a produção de provas e as custas e honorários para que sejam arcados pelo autor. Ante todo o exposto, requer que aceite a ilegitimidadeda parte e que, por conseguinte se extinga o processo sem resolução do mérito, com base no art. 485 do CPC. Caso V. Excelência assim não entenda, o que não se espera, requer então que se julgue improcedente o pleito indenizatório requerido pelo Sr. Júlio, uma vez que não há nexo de causalidade e consequentemente inexiste o dever de reparação. Atesta provar o alegado por meio de prova documental, depoimento pessoal das partes, prova testemunhal e todos os demais meios de prova em direito admitidos. Requer, ainda, a condenação o autor/reconvindo no pagamento de custas e honorários advocatícios sucumbenciais, nos moldes do art. 85, parágrafo 1º do CPC. Quanto à reconvenção: Em razão da reconvenção, cujas razões foram lançadas acima, requer o julgamento de sua procedência, a fim de que... Requer a intimação do autor na pessoa de seu advogado para, querendo apresentar resposta no prazo de 15 dias. Dá-se à presente reconvenção, nos termos do art. 292 do CPC o valor de... 9ª Passo: Encerramento Pede-se o deferimento daquilo que fora postulado, seguindo-se do local, data e advogado. Por exemplo: Termos em que pede deferimento. Local, data, Advogado
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