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Curso Damásio - Módulo 15

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COMPLEXO JURÍDICO
DAMÁSIO DE JESUS
A excelência no ensino do Direito
Curso do Prof. Damásio
Curso do Prof. Damásio
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XV
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal
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DAMÁSIO DE JESUS
A excelência no ensino do Direito
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MÓDULO XV
DIREITO ADMINISTRATIVO
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DIREITO ADMINISTRATIVO
1. TEORIA DA IMPREVISÃO
A Teoria da Imprevisão estabelece que eventos novos, não previstos e imprevisíveis pelas partes, que causem reflexos na execução ou no equilíbrio econômico-financeiro do contrato, autorizam a sua revisão. A utilização dessa teoria restabelecerá o equilíbrio entre o encargo e a retribuição, tornando o contrato justo para as partes.
O art. 65, inc. II, “d”, da Lei n. 8.666/93 dispõe sobre a cláusula rebus sic stantibus, que vigora nos contratos privados e tem a finalidade de evitar a ruína do contratado. Os contratos regidos pela lei em estudo poderão ser alterados, por acordo das partes, para restabelecer a relação pactuada inicialmentee tendo por objetivo a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro na hipótese de ocorrência de fatos imprevisíveis – ou previsíveis com conseqüências incalculáveis, ou ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe –, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual.
1.1. Requisitos
Para a aplicação da Teoria da Imprevisão, é necessária a ocorrência de: 
· fatos supervenientes; 
· fatos imprevisíveis, ou previsíveis de conseqüências incalculáveis.
1.2. Hipóteses 
Autorizam a aplicação da Teoria da Imprevisão, desde que preenchidos os requisitos anteriores:
· o caso fortuito;
· a força maior;
· o fato do príncipe;
· o fato da administração.
1.2.1. Caso fortuito e força maior
Caso fortuito é o evento da natureza. Exemplo: contrato para construir uma escola; choveu além do previsível, o prazo do contrato não pode ser cumprido. 
 Força maior consiste no ato humano. Exemplo: o contratado se compromete a construir uma obra, mas seus funcionários entram em greve.
Tanto o caso fortuito como a força maior são hipóteses que autorizam a aplicação da Teoria da Imprevisão, pois ou criam para o contratado um desequilíbrio econômico-financeiro ou impedem a execução do contrato.
1.2.2. Fato do príncipe e fato da administração
Fato do príncipe e fato da administração são os fatos produzidos pelo Poder Público que possibilitam a aplicação da Teoria da Imprevisão.
O fato do príncipe incide sobre todos os contratos, demandando alteração das cláusulas iniciais. Ocorrerá quando um fato geral, por determinações estatais, positivas ou negativas, imprevisíveis, onerar substancialmente a execução do contrato. Exemplo: o aumento de um tributo tem repercussão em todos os contratos do Poder Público com particulares nos quais incida aquele tributo. Verifica-se o fato do príncipe quando uma determinação geral do Poder Público afeta o cumprimento do contrato de maneira substancial.
O fato da administração é a atitude, omissiva ou comissiva, adotada pelo Poder Público que incide direta e especificamente sobre um contrato individualizado. Exemplo: construção de uma escola em local habitado, sem que o Poder Público providencie a desapropriação necessária. A determinação do Poder Público, no fato da administração, não é geral – é isso que o diferencia do fato do príncipe.
1.2.3. Observações
 Circunstâncias, situações imprevistas e imprevisíveis são, para Hely Lopes Meirelles, aquelas que já existiam antes de o contrato ser celebrado, mas que as partes desconheciam, porque foram omissas em sondar as possibilidades de execução do pactuado; exemplo: o contrato visa a construção em terreno arenoso e descobre-se que esse é rochoso, fazendo-se necessária a explosão do perímetro.
Há autores que não consideram tal situação imprevisível, porque não é superveniente.
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MÓDULO XV
DIREITO CIVIL
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DIREITO CIVIL
Prof. Vitor Frederico Kümpel
1. PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL
Há quatro formas de perda da propriedade imóvel dispostas no Código Civil: alienação, renúncia, abandono e perecimento do bem imóvel.
Nos casos de alienação e renúncia, os efeitos da perda estão subordinados à transcrição do título de transmissão ou do ato de renúncia no registro do lugar do imóvel.
Perde-se, ainda, a propriedade imóvel, mediante desapropriação por necessidade ou utilidade pública. Os casos de necessidade pública eram dispostos no art. 590, § 1.º e seus incisos, do Código Civil de 1916. Por ser matéria de ordem pública, não estão previstas no Código Civil de 2002.
2. AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL
Há quatro formas de aquisição de bens móveis:
· tradição: corresponde à entrega do bem sem formalidades;
· acessão: forma natural de aquisição de mobilidade;
· usucapião: aquisição pelo tempo;
· ocupação: assenhoreamento de bem móvel abandonado.
A forma mais usada na aquisição de bens móveis é a tradição, que é a entrega efetiva do bem.
A ocupação é uma forma de aquisição somente de bem imóvel, visto que, em nosso sistema, o bem imóvel abandonado ou de ninguém incorpora-se ao Poder Público.
A acessão e o usucapião são formas comuns de aquisição de bens móveis e imóveis.
Não existe direito hereditário sobre bens móveis, visto que, com a abertura da sucessão, todos os bens são legalmente considerados imóveis.
3. CONDOMÍNIO
É uma espécie de propriedade em que dois ou mais indivíduos são titulares em comum de um bem, exercendo cada qual posse e propriedade sobre fração ou parte da coisa. Dentro desse conceito, tem-se o princípio da exclusividade, em que se verifica que dois ou mais titulares não podem ter o mesmo direito real sobre a mesma coisa. 
O condomínio trabalha com uma ficção, visto que os condôminos são titulares da mesma coisa em abstrato. O condomínio é instável, ou seja, nasce para ser extinto, visto que ninguém é obrigado a remanescer em condomínio.
3.1. Classificação
3.1.1. Condomínio tradicional 
Regido pelo Código Civil. O condomínio tradicional é bipartido. Pode ser ordinário ou especial:
a) Ordinário 
Chamado de condomínio pro indiviso: todos os condôminos exercem posse e propriedade sobre o bem em sua integralidade.
b) Especial 
Chamado de condomínio pro diviso: todos os condôminos exercem posse e propriedade sobre parte certa da coisa; pode ser:
· compáscuo: também chamado de condomínio de passagem – segue as mesmas regras da servidão;
· partes específicas: é o condomínio de muros, cercas, valas etc. – tem natureza jurídica de relação de vizinhança; somente haverá o condomínio se o muro integrar o imóvel dos dois titulares.
3.1.2. Condomínio por unidades autônomas 
Tal modalidade de condomínio não era prevista pelo Código Civil de 1916, porém, hoje está estabelecido nos artigos 1.331 a 1.358. A Lei n. 4.591/64 é recepcionada naquilo que obviamente não contraria o novo Código Civil.
Divide-se em duas espécies:
· condomínio de apartamentos: regido pelo novo Código Civil e pela Lei n. 4.591/64;
· condomínio de casase terrenos (condomínio “privê”): regido pelo novo Código Civil, pelas Leis n. 4.591/64 e 6.766/79.
3.2. Estrutura Jurídica
3.2.1. Propriedade 
O jus utendi é limitado ao exercício do outro condômino; o jus fruendi é proporcional à qualidade ou quantidade das cotas; o jus disponendi é ilimitado; no jus serviendi todos os condôminos são titulares da ação reivindicatória e da nunciação de obra nova. A coisa comum não pode ser modificada sem a expressa anuência de todos os condôminos.
Observação: condomínio germânico é aquele indissolúvel (ex.: regime de comunhão de bens entre marido e mulher: enquanto permanece o casamento não se dissolve o condomínio).
Observação: condomínio romano é aquele que pode ser dissolvido quando as partes desejarem.
3.2.2. Posse 
Todos os condôminos são titulares do jus possidendi. O exercício da posse é pessoal, dependendo de expressa anuência de todos. A tutela possessória é ampla, podendo ser proposta contra terceiros ou mesmo contra outro condômino. 
Se o bem for divisível por natureza, pode gerar usucapião.
3.2.3. Responsabilidade 
A responsabilidade ocorre em relação às despesas e dívidas do bem, que serão proporcionais às cotas assumidas pelos condôminos. Se a despesa for assumida por um dos condôminos em benefício do condomínio, haverá sub-rogação e direito de regresso em face dos demais condôminos proporcionalmente às cotas de cada um.
O condômino que causar dano será responsável por ele. A responsabilidade civil é personalíssima, não se estendendo aos demais condôminos. 
3.3. Extinção
Deve-se observar a natureza do bem:
· Bem divisível: é aquele que pode ser fracionado sem perder suas qualidades. Há sempre uma presunção de divisibilidade quando houver dúvida.
· Bem indivisível: pode ser indivisível pela sua natureza, quando a fração se tornar pequena demais, tornando o bem economicamente inviável, por exemplo: um diamante. Pode ser indivisível por determinação legal, por exemplo: hipoteca. Pode ainda ser indivisível por vontade das partes, por exemplo: doação com cláusula de indivisibilidade, que tem duração máxima de cinco anos.
Se o bem for divisível, cada condômino pode alienar sua cota parte, independentemente do direito de preferência, que somente deverá ser observado quando o bem for indivisível (preempção).
Preempção, ou direito de preferência, é a prerrogativa que o condômino tem, em relação ao estranho, de, em igualdade de condições, adquirir a coisa comum. A preempção pode ser legal ou convencional.
3.3.1. Preempção legal
Quando um condômino desejar alienar a cota parte que possui em um bem indivisível, deverá notificar o outro condômino para exercer o direito de preferência. Essa notificação é formal e obrigatória. 
No caso de haver dois ou mais condôminos exercendo o direito de preferência, a lei confere alguns critérios de desempate: 1. Terá preferência o condômino que tenha feito benfeitorias na coisa. 2. Caso não haja benfeitorias, preferirá quem tiver o maior número de cotas. 3. No caso de não haver benfeitorias e as cotas serem iguais, preferirá aquele que primeiro depositar o valor em juízo. 4. Se nenhum dos condôminos depositar o valor em juízo, deverá ser feito um sorteio.
Se o bem for alienado sem que se outorgue o direito de preferência aos demais condôminos, estes poderão ingressar com uma ação anulatória no prazo de seis meses da data da ciência da venda, com o objetivo de anular o contrato e exercer o direito de preferência.
A preempção legal atinge também a relação de locação. O proprietário de um bem somente poderá aliená-lo se notificar o locatário para que exerça seu direito de preferência na aquisição da coisa. No caso de sublocação, prefere o sublocador ao locatário. Havendo vários locatários, o primeiro critério de desempate é a data do contrato (o contrato mais antigo terá preferência); caso seja um único contrato de locação, terá preferência o locatário mais velho; por último, se não houver como utilizar os dois primeiros critérios, deve-se fazer um sorteio.
O locatário também terá direito à ação anulatória no prazo de seis meses, caso o bem seja alienado sem sua notificação, para o exercício do seu direito de preferência.
3.3.2. Preempção convencional
É uma cláusula especial no contrato de compra e venda, na qual o comprador outorga ao vendedor a possibilidade de readquirir a coisa, na hipótese de venda, em igualdade de condições com terceiros. Quando o comprador quiser vender o bem, deverá notificar o vendedor para exercer seu direito de preferência em 30 dias (para bens imóveis) ou em 3 dias (para bens móveis). Essa prerrogativa não se transmite aos herdeiros, é personalíssima. Se o bem for vendido sem que o antigo vendedor exerça o direito de preferência, o prejudicado não terá direito à ação anulatória, somente à indenização por perdas e danos.
Observação: na preempção, o vendedor tem uma faculdade de comprar o bem no caso de o comprador vendê-lo. Difere da retrovenda, que não constitui nova alienação, mas sim pacto adjeto, pelo qual o vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado em certo prazo (artigo 505 do Código Civil). 
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MÓDULO XV
DIREITO COMERCIAL
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DIREITO COMERCIAL
Crimes Falimentares
Arts. 186 a 199 da Lei de Falência
1. PRESSUPOSTOS DO CRIME FALIMENTAR
· Existência de devedor comerciante.
· Existência de sentença declaratória de falência.
· Ocorrência de algum fato previsto nos arts. 186, 187 e 188 da Lei de Falência. São eles:
“Art.186. Será punido o devedor com detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, quando concorrer com a falência algum dos seguintes fatos:
I – gastos pessoais, ou de família, manifestamente excessivos em relação ao seu cabedal;
II – despesas gerais do negócios ou da empresa injustificáveis, por sua natureza ou vulto, em relação ao capital, ao gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas;
III – emprego de meios ruinosos para obter recursos e retardar a declaração da falência, como vendas, nos 6 (seis) meses a ela anteriores, por menos do preço corrente, ou a sucessiva reforma de títulos de crédito;
IV – abuso de responsabilidade de mero favor;
V – prejuízos vultosos em operações arriscadas, inclusive jogos de Bolsa;
VI – inexistência dos livros obrigatórios ou sua escrituração atrasada, lacunosa, defeituosa ou confusa;
VII – falta de apresentação do balanço, dentro de 60 (sessenta) dias após a data fixada para o seu encerramento, ou sem a rubrica do juiz sob cuja jurisdição estiver o seu estabelecimento principal.
Parágrafo único. Fica isento da pena, nos casos dos incs. VI e VII desse artigo, o devedor que, a critério do juiz da falência, tiver instrução insuficiente e explorar comércio exíguo”.
“Art. 187. Será punido com reclusão, por 1 (um) a 4 (quatro) anos, o devedor que, com o fim de criar ou assegurar injusta vantagem para si ou para outrem, praticar, antes ou depois da falência, algum ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores.”
“Art. 188. Será punido o devedor com a mesma pena do artigo antecedente, quando com a falência concorrer algum dos seguintes fatos:
I – simulação de capital para obtenção de maior crédito;
II – pagamento antecipado de uns credores em prejuízo de outros;
III – desvio de bens, inclusive para compra em nome de terceira pessoa, ainda que cônjuge ou parente;
IV – simulação de despesas, de dívidas ativas ou passivas e de perdas;
V – perdas avultadas em operações de puro acaso, como jogos de qualquer espécie;
VI – falsificação material, no todo ou em parte, da escrituração obrigatória ou não, ou alteração da escrituração verdadeira;
VII – omissão, na escrituração obrigatória ou não, de lançamento quedela devia constar, ou lançamento falso ou diverso do que nela devia ser feito;
VIII – destruição, inutilização ou supressão, total ou parcial, dos livros obrigatórios;
IX – ser o falido leiloeiro ou corretor.”
A sentença declaratória da falência é a condição de punibilidade do crime falimentar.
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES FALIMENTARES 
2.1. Ante-falimentares
São aqueles cuja conduta se verifica antes da sentença declaratória de falência. Exemplo: art. 186, incs. I, II e III .
2.2. Pós-falimentares
Trata-se de crimes cuja conduta se verifica após a sentença declaratória da falência. Exemplo: art. 189, incs. II. IV; art. 187.
Observação 1:
Se o comerciante delega a terceiros, por exemplo a seu contador, a obrigatoriedade de escriturar seus livros, há crime falimentar?
 Temos duas posições:
· 1.ª corrente: não há crime falimentar, porque o falido não pode ser responsabilizado, já que delegou essa responsabilidade a terceiro;
· 2.ª corrente: há crime falimentar, com o fundamento de que há culpa in vigilando e in eligendo. Sendo assim, o falido é responsável.
Observação 2:
Os arts. 189, 190 e 191 ampliam a capacidade ativa para fins de responsabilidade criminal falimentar.
“Art. 189. Será punido com reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos:
I – qualquer pessoa, inclusive o falido, que ocultar ou desviar bens da massa;
II – quem quer que, por si ou interposta pessoa, ou por procurador, apresentar, na falência ou na concordata preventiva, declarações ou reclamações falsas, ou juntar a elas títulos falsos ou simulados;
III – o devedor que reconhecer, como verdadeiros, créditos falsos ou simulados;
IV – o síndico que der informações, pareceres ou extratos dos livros do falido inexatos ou falsos, ou que apresentar exposição ou relatórios contrários à verdade.”
“Art. 190. Será punido com detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, o juiz, o representante do Ministério Público, o síndico, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro que, direta ou indiretamente adquirir bens da massa, ou, em relação a eles, entrar em alguma especulação de lucro.”
“Art. 191. Na falência das sociedades, os seus diretores, administradores, gerentes ou liquidantes são equiparados ao devedor ou falido, para todos os efeitos penais previstos nesta Lei.”
3. PRESCRIÇÃO DO CRIME FALIMENTAR
A regra é que se opera a prescrição do crime falimentar em dois anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência (art. 199, par. ún., da Lei de Falência). 
Dispõe a Súmula n. 147 do STF: “A prescrição do crime falimentar começa a correr da data em que deveria estar encerrada a falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou que julgar cumprida a concordata”.
A data que vai ser usada é a que ocorrer antes.
O art. 132, § 1.º, prevê que:
“Salvo caso de força maior, devidamente provado, o processo da falência deverá estar encerrado 2 (dois) anos depois do dia da declaração”.
É importante salientar também, os termos da Súmula n. 592 do STF, “Nos crimes falimentares aplicam-se as causas interruptivas da prescrição, previstas no Código Penal”.
4. INTERDIÇÃO PARA O EXERCÍCIO DO COMÉRCIO – ART. 195 DA LEI DE FALÊNCIA
“Art. 195. Constitui efeito da condenação por crime falimentar a interdição do exercício do comércio.”
Se for pena de detenção, o comerciante sofrerá interdição de 3 anos, mas se a pena for de reclusão, a interdição será de 5 anos.
A interdição não é pena acessória, é efeito da sentença penal condenatória.
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MÓDULO XV
DIREITO CONSTITUCIONAL
Processo Legislativo
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Processo Legislativo
1. INTRODUÇÃO 
O processo legislativo compreende o conjunto de atos observados na proposta e na elaboração de emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções e medidas provisórias (artigo 59 da Constituição Federal). 
A Lei Complementar n. 95/98, que regulamenta o parágrafo único do artigo 59 da Constituição Federal, dispõe sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. É a denominada “lei das leis”, alterada pela Lei Complementar n. 107/01. 
1.1. Das Emendas à Constituição (Poder Constituinte Derivado Reformador)
O artigo 60 da Constituição Federal dispõe que esta poderá ser emendada mediante proposta: 
· de um terço (1/3), no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
· do Presidente da República; 
· de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros (maioria absoluta quanto ao número de Assembléias e maioria simples quanto aos seus membros). 
José Afonso Da Silva sustenta que a proposta de Emenda Constitucional pode decorrer de iniciativa popular, posição polêmica que não está expressamente prevista no artigo 60 da Constituição Federal, mas que tem por base a regra de que todo o poder emana do povo (artigo 1.º, parágrafo único, da Constituição Federal).
A proposta de Emenda Constitucional é discutida e votada em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos em cada uma, considerando-se aprovada se obtiver, em todos esses turnos (quatro no total), três quintos (3/5) dos votos favoráveis dos respectivos membros (e não apenas dos presentes à sessão).
A Emenda Constitucional aprovada será promulgada (terá sua existência atestada) pelas mesas diretoras da Câmara e do Senado Federal. Dessa forma, as emendas constitucionais não estão sujeitas a sanção ou promulgação pelo Presidente da República.
A matéria constante de proposta de Emenda Constitucional rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa – ordinariamente fixada entre 15 de fevereiro e 15 de dezembro de cada ano (artigos 57 e 60, § 5.º, ambos da Constituição Federal). Não se aplica à Emenda Constitucional rejeitada ou tida por prejudicada, portanto, a regra prevista no artigo 67 da Constituição Federal (que autoriza a reapresentação, na mesma sessão legislativa, de proposta de lei relativa à matéria rejeitada, desde que assinada por mais da metade de todos os membros de alguma das Casas).
A Constituição Federal não pode ser emendada na vigência de Intervenção Federal, Estado de Defesa e Estado de Sítio (limitações circunstanciais). 
Não será objeto de deliberação a proposta tendente a abolir a forma federativa dos Estados; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. Conforme vimos, essas são cláusulas pétreas explícitas e impõem uma limitação expressa material ao Poder de Emenda. 
Há, também, cláusulas pétreas implícitas, que definem a limitação implícita material ao Poder de Emenda. É defeso a proposta de Emenda Constitucional que pretenda modificar o titular do Poder Constituinte (que é o povo – artigo 1.º, parágrafo único, da Constituição Federal), que queira alterar a rigidez do procedimento de Emenda Constitucional, que objetive mudar o exercente do Poder Reformador ou que intente suprimir as cláusulas pétreas.
A Constituinte de 1987, que gerou a Constituição Federal de 1988, foi convocada pela Emenda Constitucional n. 26, de 27.11.1985. 
A primeira Constituição do Brasil foi a de 1824, outorgada por D. Pedro I.
O Decreto n. 1, redigido por Rui Barbosa em 1889 (Proclamação da República), deu origem à convocação da Assembléia Constituinte que elaborou a primeira Constituição Federal Republicana (1891). Após, tivemos as Constituições Federais de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Total de sete constituições, embora parte da doutrina considere a reforma constitucional de 1969 como uma nova Constituição (outorgada). 
As constituiçõesestaduais seguem as diretrizes da Constituição Federal, nos termos do artigo 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
A Lei Orgânica de um Município é votada em dois turnos, com interstício (intervalo) mínimo de 10 dias entre eles, e aprovada por 2/3 de todos os membros da Câmara Municipal, que a promulgará (artigo 29 da Constituição Federal). Também não está sujeita à sanção ou à promulgação pelo Chefe do Poder Executivo, a exemplo das normas constitucionais. 
1.2. Leis Complementares e Ordinárias
A iniciativa das leis complementares e ordinárias, segundo o artigo 61 da Constituição Federal, cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição Federal. 
A Iniciativa – fase introdutória do processo legislativo, consiste na competência atribuída a alguém ou a algum órgão para apresentar projeto de lei ao Legislativo, podendo ser concorrente (artigos 24 e 61, caput, combinado com 128, § 5.º, todos da Constituição Federal), privativa (exemplo: artigos 22 e 61, § 1.º, da Constituição Federal) ou conjunta (fixação dos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal, artigo 48, inciso XV, da Constituição Federal). 
Algumas leis são de iniciativa exclusiva do Presidente da República (artigo 61, § 1.º, da Constituição Federal), como as que fixam ou modificam os efetivos das Forças Armadas, as que dispõem sobre a Defensoria Pública da União, sobre servidores públicos da União e dos Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria de civis etc. 
Quanto à organização do Ministério Público da União, a iniciativa de lei é concorrente do Presidente da República e do Procurador-Geral da República (artigo 61, § 1.º, e artigo 128, § 5.º, ambos da Constituição Federal). 
O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa, hipótese em que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal terão, sucessivamente, 45 dias para se manifestar sobre a proposição, sobre o projeto de lei (e não apenas sobre o pedido de urgência). As eventuais emendas apresentadas pelo Senado Federal devem ser apreciadas em dez dias pela Câmara dos Deputados. Os prazos não correm nos períodos de recesso (artigo 64, Constituição Federal). 
Caso as Casas não se pronunciem no prazo previsto pela Constituição, o projeto será incluído na Ordem do Dia, sobrestando-se as deliberações sobre os demais assuntos até que se ultime a votação. Trata-se do chamado procedimento legislativo sumário ou abreviado (regime de urgência encontrado no § 1.º, artigo 64, da Constituição Federal). O Ato Institucional de 9.4.1964 previa que o projeto de lei seria tacitamente aprovado caso não fosse votado nos 45 dias (aprovação por decurso de prazo). A Constituição Federal de 1988 não prevê a aprovação tácita na hipótese, determinando, porém, a imediata inclusão do projeto na Ordem do Dia, exigindo a manifestação expressa do Congresso Nacional. 
Não cabe o procedimento abreviado para projetos de Código (artigo 64, § 4.º, parte final, Constituição Federal). 
Não é admitido o aumento das despesas previstas nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, exceto as emendas à Lei Orçamentária anual que indicarem os recursos necessários (admitidos apenas os recursos decorrentes de anulação de outras despesas). 
Também não é admitido o aumento das despesas previstas nos projetos sobre a organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público (artigo 63 da Constituição Federal), regras que foram reforçadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/00). 
A Emenda Constitucional n. 19/98 trouxe a possibilidade de iniciativa conjunta, conforme consta da atual redação dos artigos 37, inciso XI, e 48, inciso XV, da Constituição Federal. 
Pelos dispositivos anotados, a fixação dos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que servem como limite (“teto”) de remuneração para todos os ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional (dos três Poderes e no âmbito federal, estadual e municipal), ocorrerá por lei de iniciativa conjunta dos presidentes: da República, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. 
Assim como a proposta decorrente da iniciativa popular, os projetos de lei de iniciativa dos Deputados Federais, do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Procurador-Geral da República terão início na Câmara dos Deputados. As propostas apresentadas por Senadores terão por Casa iniciadora o próprio Senado Federal.
Conforme prescreve o artigo 47 da Constituição Federal, um projeto de lei ordinária será aprovado se obtiver maioria de votos a seu favor, presente a maioria dos membros da Casa (maioria absoluta quanto ao quórum de instalação, e maioria simples dos presentes para a aprovação). A maioria simples, também denominada maioria relativa, varia de acordo com o número de presentes à sessão.
Projeto de lei complementar (relembre-se que só é exigida lei complementar quando a Constituição é expressa nesse sentido, a exemplo do artigo 148 da Constituição Federal), por sua vez, somente será aprovado se obtiver voto favorável da maioria absoluta dos membros das duas Casas, ou seja, voto da maioria dos membros e não apenas voto da maioria dos presentes – maioria absoluta = 257 Deputados Federais (dos 513) e 41 Senadores (do total de 81).
Para Walter Ceneviva, o quórum qualificado, exigido para a aprovação de uma lei complementar, impede a sua aprovação por acordo de lideranças, posição que parece a mais acertada. Sobre o tema, observar argumentos favoráveis e contrários expostos por Hugo de Brito Machado
. 
Embora não haja previsão expressa de lei complementar no âmbito municipal, inúmeras leis orgânicas, inclusive a do Município de São Paulo (artigo 40), exigem voto favorável da maioria absoluta dos vereadores para a aprovação de determinadas matérias. Sobre o tema, bem tratou o Prof. Jeferson Moreira de Carvalho
. 
1.3. Casa Iniciadora e Casa Revisora
A primeira Casa a examinar um projeto de lei (exame que estabelece a fase constitutiva) é a Casa iniciadora (normalmente a Câmara dos Deputados – Câmara Baixa), onde o projeto é submetido à Comissão de Constituição e Justiça e às comissões temáticas pertinentes, recebendo um parecer e seguindo para votação em plenário. 
Em alguns casos a votação pode ser feita nas próprias comissões (artigo 58, § 2.º, inciso I, da Constituição Federal), salvo se 1/10 dos membros da Casa discordar e exigir que a votação seja submetida ao plenário. A matéria é disciplinada no Regimento Interno de cada uma das Casas. Pode haver acordo de lideranças e votação simbólica no caso de projetos de lei ordinária. 
Sendo de iniciativa de senador, a Casa iniciadora é o próprio Senado (Câmara Alta).
Aprovado pela Casa iniciadora em um único turno (2 turnos, com 3/5 dos votos em cada Casa, só são exigidos para a Emenda Constitucional), o projeto de lei complementar ou ordinária é enviado para a Casa revisora.
Na Casa revisora, o projeto de lei também passa por comissões e em seguida é submetido à votação em plenário ou comissão:
· Se aprovado sem emendas, o projeto será enviado para sanção (expressa ou tácita) do Presidente da República. Há matérias, porém, que são de competência exclusiva do Congresso ou de alguma de suas Casas (artigos 49, 51 e 52 da Constituição Federal) e, conseqüentemente, dispensam a sanção. Essas matérias de competência exclusiva costumam ser exteriorizadas por meio de decreto-legislativo ou de resolução.
· Se rejeitado pela Casa revisora, o projeto de lei é arquivado. 
· Na hipótese de a Casa revisora aprovar o projeto com emendas (que podem ser aditivas, modificativas, substitutivas,de redação, corretivas de erro ou supressivas de omissão), aquele volta à Casa iniciadora para a apreciação das emendas: 
· se as emendas forem aceitas, o projeto segue para a sanção; 
· se as emendas forem rejeitadas pela Casa iniciadora, o projeto de lei segue sem elas para a sanção, pois prevalece a vontade da Casa iniciadora quando a divergência for parcial, diverso do que ocorre se a Casa revisora rejeitar o projeto, determinando o seu arquivamento (divergência integral). 
· É vedada a apresentação de emenda à emenda - a subemenda.
· Aprovado pelo Legislativo, o projeto, em forma de autógrafo (que reflete o texto final do projeto aprovado pelo Legislativo), segue para a sanção ou veto.
1.4. Da Sanção e do Veto
Sanção é a aquiescência (concordância) do Chefe do Poder Executivo aos termos de um projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo.
A sanção não supre vício de iniciativa, caso a matéria, de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo, tenha sido objeto de proposta apresentada por parlamentar, por exemplo.
Pelo veto, o Chefe do Executivo demonstra sua discordância com o projeto de lei aprovado pelo Legislativo, quer por entendê-lo inconstitucional (veto jurídico), quer por entendê-lo contrário ao interesse público (veto político). O veto é sempre expresso e motivado. 
Como o prazo para o veto é de 15 dias úteis (artigo 66, § 1.º, da Constituição Federal), entende-se que o prazo para sanção também é de 15 dias úteis (o § 3.º do artigo 66 da Constituição Federal não é explícito nesse sentido). Não havendo manifestação expressa do Chefe do Executivo nesse lapso, verifica-se a sanção tácita.
O veto pode ser total (recair sobre todo o projeto) ou parcial (atingir o texto de um artigo, de um parágrafo, de um inciso ou de uma alínea). Não cabe veto parcial sobre uma palavra ou grupo de palavras, fato que muitas vezes alterava completamente o sentido do projeto. A parte não vetada é promulgada, publicada e entra em vigor.
No veto parcial, o Congresso reexamina apenas a parte vetada, enquanto o restante, sancionado tácita ou expressamente, deve ser promulgado e posto em vigor na data prevista, por vezes antes mesmo da reapreciação da parte vetada. 
O veto, total ou parcial, deve ser comunicado em 48 horas ao Presidente do Senado. A contar de seu recebimento pelo Presidente do Senado Federal (que também é Presidente do Congresso Nacional), em 30 dias o veto será apreciado em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, considerando-se derrubado (rejeitado), caso a maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional (o primeiro número inteiro acima da metade de todos os membros de cada uma das Casas), em escrutínio secreto, votar contra ele. 
O veto, portanto, é relativo (superável) e não absoluto, pois pode ser derrubado pelo Poder Legislativo. 
Mesmo nas sessões conjuntas do Congresso Nacional, deputados e senadores votam separadamente. 
Caso não seja votado em 30 dias, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, com prejuízo de outros assuntos (artigo 66, § 6.º, da Constituição Federal), exceto da medida provisória. 
Caso o veto não seja derrubado pelo Congresso Nacional, a disposição vetada será arquivada como rejeitada. 
A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer uma das Casas do Congresso Nacional, conforme estabelece o artigo 67 da Constituição Federal (Emenda Constitucional rejeitada não pode ser objeto de novo projeto na mesma sessão legislativa, ainda que haja proposta da maioria absoluta).
Rejeitado o veto, o projeto é convertido em lei e encaminhado para a promulgação pelo Chefe do Executivo.
Se a lei decorrente de sanção tácita ou do veto derrubado não for promulgada pelo Presidente da República em 48 horas, a promulgação será praticada pelo Presidente do Senado. Se este não o fizer em 48 horas, será promulgada pelo Vice-presidente do Senado, conforme artigo 66, § 7.º, da Constituição Federal. 
A promulgação, segundo Pontes de Miranda, “constitui mera atestação da existência da lei”. Atesta que a lei perfeita e acabada é executável (observada a vacatio legis) e obrigatória. 
Conforme leciona Alexandre de Moraes, citando os ensinamentos de José Afonso da Silva, Michel Temer, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e Pontes de Miranda, “(...) o projeto de lei torna-se lei, ou com a sanção presidencial, ou mesmo com a derrubada do veto por parte do Congresso Nacional, uma vez que a promulgação refere-se à própria lei”. Encerra-se aqui a fase constitutiva do processo legislativo.
Celso Bastos
, por sua vez, sustenta que a promulgação “é um ato de natureza constitutivo formal, porque, embora sendo a promulgação que confere o nascimento ou existência à lei, ela mesma não é uma manifestação substantiva de vontade, mas tem um caráter de natureza mais formal”.
A promulgação e a publicação integram a fase complementar do processo legislativo, sendo que o § 7.º do artigo 66 da Constituição Federal refere-se à promulgação de lei e não à promulgação de projeto de lei (conforme bem observa Pedro Lenza).
As emendas constitucionais são promulgadas pelas Mesas da Câmara e do Senado, conforme artigo 60, § 3.º, da Constituição Federal.
Após a promulgação, deve seguir-se a publicação da lei. Pela publicação, leva-se ao conhecimento do povo a existência da lei. 
Compete a publicação à autoridade que promulga o ato. 
A publicação é condição para que a lei se torne exigível, obrigatória. É feita pelo Diário Oficial (da União, se lei federal).
1.5. Vacatio Legis
A vigência da lei pode ou não coincidir com a data de sua publicação. Vacatio legis é o nome que se dá ao intervalo entre a data da publicação da lei e sua vigência.
No silêncio a esse respeito, a lei começará a vigorar em todo território nacional 45 dias após sua publicação, conforme estabelece a Lei de Introdução ao Código Civil. Contam-se como dias corridos, sem suspensão ou interrupção, excluindo-se o dia do começo e computando-se o do encerramento. 
Nos Estados estrangeiros, quando admitida, a lei brasileira começa a vigorar três meses após a sua publicação. 
Se, antes de a lei entrar em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada à correção, o prazo da vacatio legis começará a correr, em sua integralidade, a partir da nova publicação. 
A correção do texto de lei já em vigor é considerada lei nova, submetendo-se a novo período de vacatio legis. 
Salvo disposição expressa em sentido contrário, a lei é editada por prazo indeterminado, permanecendo em vigor mesmo que decorra muito tempo sem que seja aplicada. 
A revogação, que pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação), deve ocorrer de forma expressa, conforme determina o artigo 9.º da Lei Complementar n. 95/98. Havendo flagrante omissão legislativa nesse sentido, há que se admitir a revogação tácita na forma prevista pela Lei de Introdução ao Código Civil (decorrente da incompatibilidade da lei nova com a lei anterior). 
Uma lei pode ter sua eficácia suspensa caso seja declarada inconstitucional em ação direta de inconstitucionalidade, não dependendo de deliberação do Senado Federal.
O inciso X do artigo 52 da Constituição Federal, portanto, só é aplicável quando o Supremo Tribunal Federal reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei em um caso concreto, incidenter tantum, hipótese na qual, em princípio, a declaração de inconstitucionalidade só produza efeito entre as partes envolvidas no processo.
Uma lei já promulgada pode ser revogada antes mesmo de entrar em vigor, bastando para tanto que uma lei incompatível com ela entre em vigor.
Salvo expressa disposição em sentido contrário, a lei anterior, já promulgada, é revogada quando a lei nova entra em vigor. 
Os itens 4 e 5 do artigo 263 da Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente , que fixavam as penas nos casos em que as vítimas de estupro e atentado violento ao pudor eram menores de 14 anos, foram revogados,antes mesmo de entrarem em vigor, pelo artigo 9.º da Lei n. 8.072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos, tratando das mesmas hipóteses e entrando em vigor na data de sua publicação, 25.7.1990. Tais disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente, portanto, foram revogadas durante a vacatio legis. 
Tal fato ocorreu porque o Estatuto da Criança e do Adolescente , embora só tenha entrado em vigor no dia 12.10.1990, foi promulgado em 13.7.1990, ou seja, já havia sido promulgado quando a lei nova entrou em vigor (25.7.1990). 
1.6. Da Repristinação
O sistema legislativo brasileiro não adotou a repristinação. Pelo efeito repristinatório, a revogação de uma lei revogadora restaura automaticamente os efeitos da lei revogada por ela. 
A Lei de Introdução ao Código Civil, artigo 2.º, § 3.º, trata a respeito: “salvo disposição expressa em sentido contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. 
1.7. Leis Delegadas 
As leis delegadas são elaboradas pelo Presidente da República que, para tanto, solicita prévia delegação ao Congresso Nacional. 
Por meio de resolução, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício, o Congresso Nacional delegará poderes ao Presidente da República a fim de que este edite regra jurídica nova. 
Não são objetos de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional ou de qualquer uma de suas casas, a matéria reservada a lei complementar ou a legislação sobre: 
· a organização do Poder Judiciário, do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
· nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
· planos plurianuais e matéria orçamentária. 
A resolução pode determinar a apreciação da proposta de lei delegada pelo Congresso Nacional por votação única, vedadas as emendas constitucionais (delegação restrita). O Congresso pode, no entanto, rejeitar a proposta integralmente. 
Na delegação plena, o Presidente da República edita a lei e não depende de qualquer aprovação do Congresso Nacional. 
A delegação deve ser temporária e pode ser revogada. Não se trata de abdicação do poder de legislar, pois não retira do Legislativo suas atribuições. Assim, o Legislativo pode aprovar lei posterior, revogando a lei delegada, ou mesmo editar decreto legislativo, sustando os atos do Poder Executivo que ultrapassem os limites da Delegação (artigo 49, inciso V, da Constituição Federal).
Nos casos de lei delegada, não há que se falar em iniciativa, sanção, veto ou promulgação.
A publicação no Diário Oficial da União é obrigatória. 
1.8. Das Medidas Provisórias 
Em casos de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (artigo 62 da Constituição Federal). 
Governador de Estado e Prefeito não podem editar medida provisória, já que o instrumento caracteriza exceção (que deve ser interpretada restritivamente) ao princípio pelo qual legislar é atividade do Poder Legislativo. Neste sentido, revendo posição anterior e contrária, as lições de MICHEL TEMER
. Contra, admitindo que governadores e prefeitos editem medidas provisórias, desde que haja previsão na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica Municipal, Uadi Lammêgo Bulos
 e Alexandre De Moraes
.
Há precedentes do Supremo Tribunal Federal, dos anos de 1991 e 1993, relativos ao artigo 27 da Constituição de Tocantins, que negaram liminar e validaram medida provisória editada pelo governador daquele Estado (ADIns n. 425 e 812).
O Supremo Tribunal Federal tem decidido que cabe ao Chefe do Poder Executivo e ao Poder Legislativo a avaliação subjetiva da urgência da medida provisória, ressalvada a hipótese em que a falta da urgência é flagrante e pode ser objetivamente avaliada pelo Poder Judiciário (ADIns n. 1.397/97 e 1.754/98).
Supremo Tribunal Federal
Descrição: Ação Direta de Inconstitucionalidade – medida cautelar
Número: 1.397
Acórdão no mesmo sentido: Proc.-RE n. 0221856, ano 98, UF-PE, Turma 2 
Julgamento: 28.4.1997
Ementa
Constitucional. Administrativo. Medida Provisória: Urgência e relevância: Apreciação pelo Judiciário. Reedição da Medida Provisória não rejeitada expressamente. Constituição Federal, artigo 62. Conselho Nacional de Educação: Câmara de Educação Básica. Medida Provisória 661, de 18.10.1994. Lei n. 9.131, de 24.11.1995.
I – Reedição de Medida Provisória não rejeitada expressamente pelo Congresso Nacional: possibilidade. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ADIn n. 295-DF e ADIn n. 1.516-RO.
II – Requisitos de urgência e relevância: caráter político: em princípio, a sua apreciação fica por conta dos Poderes Executivo e Legislativo, a menos que a relevância ou a urgência evidencie-se improcedente. No sentido de que urgência e relevância são questões políticas, que o Judiciário não aprecia: RE n. 62.739-SP, Baleeiro, Plenário, RTJ 44/54; RDP 5/223.
III – Pedido de suspensão cautelar da alínea “c” do § 1.º do art. 9.º da Lei n. 4.024/61, com a redação da Lei n. 9.131/95, bem assim das alíneas “d”, “e”, “f” e “g” do mesmo artigo: indeferimento.
IV – Medida cautelar indeferida.
OBSERVAÇÃO: votação por maioria
Resultado: indeferida
Veja ADMC-295, ADIn-1.516, RE-62.739, RTJ-44/54
Origem: DF – Distrito Federal 
Partes: Reqte.: Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – Confenen – Reqdos.: Presidente da República e Congresso Nacional 
Relator: Carlos Velloso 
Sessão: TP – Tribunal Pleno
Juis, 21, Saraiva
1.8.1. Prazo de vigência das medidas provisórias
Até a edição da Emenda Constitucional n. 32/01, a medida provisória perdia eficácia, desde a sua edição, se não fosse convertida em lei (ou reeditada) no prazo de 30 dias (a partir de sua publicação), se fosse rejeitada pelo Congresso ou se fosse declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, devendo o Congresso Nacional disciplinar as relações jurídicas dela decorrentes por meio de decreto legislativo. 
Impunha-se a convocação extraordinária do Congresso, caso a medida provisória fosse editada em período de recesso, regra que não subsiste. 
De acordo com a Emenda Constitucional n. 32/01, a medida provisória perde a eficácia, desde a sua edição, se não for convertida em lei no prazo de 60 dias. Admite-se a prorrogação automática do prazo por mais 60 dias, uma única vez, caso os 60 dias originários se esgotem sem a apreciação da medida provisória pelas duas casas do Congresso Nacional.
A prorrogação é automática porque o Presidente da República não pode retirar a medida provisória do Congresso Nacional. Poderá, sim, editar uma nova medida provisória que suspenda os efeitos da primeira, cabendo ao Congresso Nacional deliberar pela conversão em lei de uma delas e regulamentar as relações jurídicas decorrentes das normas rejeitadas. 
Os prazos (originário e suplementar) são contados a partir da publicação da medida provisória e ficam suspensos durante os períodos de recesso do Congresso Nacional (§ 4.º, do artigo 62, da Constituição Federal). Não é correto afirmarmos, portanto, que o prazo de 120 dias é absoluto.
Observe-se, porém, que havendo medidas provisórias em vigor na data de eventual convocação extraordinária do Congresso Nacional (convocação que pode ocorrer nas hipóteses do artigo 57 da Constituição Federal), elas serão automaticamente incluídas na pauta de votação (§ 8.º do artigo 57 da Constituição Federal, redação da Emenda Constitucional n. 32/01). 
A medida provisória rejeitada pelo Congresso Nacional, ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo, não poderá ser reeditada na mesma sessão legislativa (ano legislativo). Matéria, objeto de medida provisória, que tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal não poderá ser objeto de nova medida provisória enquanto não houver alteração constitucional. A insistência do Presidente da República, em qualquer hipótese, poderá caracterizar crime de responsabilidade, nos termos dos incisos II e VII do artigo 85 da Constituição Federal.As medidas provisórias editadas em data anterior à publicação da Emenda Constitucional n. 32/01 continuam em vigor, sem limitação de prazo, até que medida provisória posterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional. 
Caso o Congresso Nacional venha a rejeitar a medida provisória, em 60 dias deverá disciplinar (por decreto-legislativo) as relações jurídicas dela decorrentes, pois, do contrário, as relações jurídicas, constituídas e decorrentes de atos praticados durante a sua vigência, conservar-se-ão por ela regidos.
1.8.2. Tramitação da medida provisória
Editada a medida provisória, o Presidente da República deverá, de imediato, remetê-la para a apreciação do Congresso Nacional.
No Congresso Nacional, inicialmente, a medida provisória terá sua constitucionalidade analisada por comissão mista (formada por deputados e senadores) e, em seguida, será votada, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das casas parlamentares. 
A votação será iniciada na Câmara dos Deputados, e a medida provisória não se sujeita à votação pelas comissões (ao explicitar a votação pelo plenário, a Emenda Constitucional n. 32/01 afastou a delegação interna corporis – artigo 58, § 2.º, inciso I, da Constituição Federal – para votação de medida provisória).
Caso, em 45 dias – contados de sua publicação, a medida provisória não seja apreciada, entrará em regime de urgência, ficando sobrestadas, até que se encerrem as votações, todas as demais deliberações legislativas da Casa por onde tramita. 
1.8.3. Aprovação, sem emendas, da medida provisória
A medida provisória aprovada sem alteração do seu mérito será promulgada pelo Presidente do Senado, que encaminhará o seu texto, em autógrafos, ao Presidente da República, para publicação como lei.
“A edição da medida provisória paralisa temporariamente a eficácia da lei que versava sobre a matéria. Se a medida provisória for aprovada, opera-se a revogação. Se, entretanto, a medida for rejeitada, restaura-se a eficácia da norma anterior. Isso porque, com a rejeição, o Legislativo expediu ato volitivo consistente em repudiar o conteúdo daquela medida provisória, tornando subsistente anterior vontade manifestada de que resultou a lei antes editada”
.
Considera-se a medida provisória convertida em lei a partir de sua aprovação (votação encerrada no Poder Legislativo) pelo Congresso Nacional, não se computando no prazo o período de promulgação (48 horas). 
1.8.4. Rejeição da medida provisória e suas conseqüências
Sendo a medida provisória rejeitada, de forma expressa (votação em plenário) ou tácita (pelo decurso do prazo, originário e suplementar, sem apreciação), perderá eficácia desde a sua edição, devendo o Congresso Nacional, em 60 dias (contados da rejeição ou da perda da eficácia), disciplinar as relações jurídicas decorrentes da medida provisória. Caso o prazo não seja observado pelo Congresso Nacional, as relações jurídicas, constituídas e decorrentes de atos praticados durante a vigência da medida provisória, conservar-se-ão por ela regidas (§ 11 do artigo 62 da Constituição Federal).
Trata-se de convalidação por decurso de prazo, que dá à medida provisória os efeitos das leis temporárias (aplica-se a medida provisória às relações jurídicas surgidas durante a sua vigência). A regra tem por base o princípio da segurança das relações jurídicas e não viola a separação dos Poderes, já que essa espécie de convalidação só prevalece caso haja omissão do Poder Legislativo.
O antigo decreto-lei (excluído de nosso ordenamento jurídico pela Constituição Federal e que era cabível somente para disciplinar as matérias expressamente previstas na Constituição Federal), se não fosse votado em 60 dias, era considerado tacitamente aprovado. 
1.8.5. Emendas parlamentares
Aprovada uma emenda parlamentar (admitida pelas Resoluções n. 01/02, do Congresso Nacional) que efetiva modificações em uma medida provisória, o Congresso Nacional deverá elaborar projeto de lei de conversão a ser submetido à apreciação do Presidente da República sujeito, então, à sanção ou ao veto. É vedada a apresentação de emendas que versem matéria estranha àquela tratada na medida provisória. 
Consumadas as alterações (pela sanção expressa ou tácita do projeto de lei de conversão), cabe ao Congresso Nacional, em 60 dias (contados da sanção), apreciar o projeto de decreto-legislativo (que deve ser apresentado concomitantemente ao projeto de lei de conversão), disciplinando assim as relações jurídicas surgidas durante a vigência da redação original.
Até que o projeto de lei de conversão seja sancionado ou vetado (se nada for manifestado em 15 dias úteis, considera-se tacitamente sancionado pelo Presidente da República), a medida provisória (redação originária), que foi apreciada pelo Congresso Nacional dentro dos prazos previstos nos §§ 3.º e 7.º do artigo 62 da Constituição Federal, manter-se-á integralmente em vigor (vigência prorrogada até que haja a sanção ou o veto). 
Caso o projeto de lei de conversão seja vetado, a medida provisória deverá ser tida por rejeitada, cabendo ao Congresso Nacional, em 60 dias, regular por meio de decreto legislativo, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante a vigência da redação originária (que, na hipótese, prorrogou-se até o veto). 
Quer na hipótese de sanção, quer na hipótese de veto do projeto de lei de conversão, não sendo observado o prazo de 60 dias para a edição do decreto legislativo, as relações jurídicas surgidas durante a vigência da medida provisória conservar-se-ão por ela regidas (convalidação por decurso de prazo, que dá à medida provisória os efeitos das leis temporárias quanto aos atos constituídos e decorrentes de atos praticados durante a sua vigência, conforme sustentado anteriormente).
Em respeito ao princípio da segurança das relações jurídicas e à natureza e aos efeitos das medidas provisórias, não há que se admitir o veto parcial pelo Presidente da República (de alínea, inciso, parágrafo ou artigo do projeto de lei de conversão) ou a derrubada do veto pelo Poder Legislativo.
1.8.6. Matérias que não podem ser disciplinadas por medidas provisórias 
É expressamente vedada a edição de medida provisória: 
· sobre matérias relativas a: 
· nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; 
· direito penal, processual penal e processual civil; 
· organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia dos seus membros; 
· planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no artigo 167, § 3.º (que trata de despesas imprevisíveis e urgentes); 
· que vise à detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou de qualquer outro ativo financeiro; 
· reservada à lei complementar; 
· já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República; 
· relativa à competência exclusiva do Congresso Nacional e suas casas.
Embora não haja regra expressa nesse sentido, há autores que defendem não ser cabível medida provisória para disciplinar matérias que não podem ser objeto de lei delegada, já que a respeito delas o Presidente da República não poderia dispor, nem mesmo com prévia autorização do Poder Legislativo (Ricardo Cunha Chimenti. Apontamentos de Direito Constitucional São Paulo: Paloma, 2002. p. 154).
1.8.7. Matérias de Direito Tributário
As medidas provisórias vinham sendo utilizadas para disciplinar matérias tributárias não reservadas às leis complementares, com a anuência do Congresso Nacional e de muitos Tribunais, sendo que a Emenda Constitucional n. 32/01 não afasta essas interpretações. 
Antes da Emenda Constitucional n. 32/01, a análise do princípio da anterioridade (artigo 150, inciso III, “b”, da Constituição Federal) tinha por base a data da primeira publicação da edição da medida provisória (RE n. 232.896, j. de 2.8.1999), interpretação que deve subsistir em relação aos demaistributos, mas que fica prejudicada em relação aos impostos. 
De acordo com o § 2.º da redação atual do artigo 62 da Constituição Federal, medida provisória – que implique em instituição ou majoração da espécie de tributo denominado imposto – só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte, se houver sido convertida em lei até o último dia do exercício em que for editada. Somente poderão ser instituídos ou majorados por medida provisória aqueles impostos que não dependam de lei complementar, ou desde que satisfeitas as exigências da alínea “a”, do inciso III do artigo 146 da Constituição Federal, por norma anterior à medida provisória.
Quanto aos impostos, tanto os previstos nos incisos I, II, IV e V do artigo 153 da Constituição Federal (impostos de função extrafiscal), como no artigo 154, inciso II, também da Constituição Federal (imposto extraordinário), não se aplica o princípio da anterioridade e, assim, a medida provisória poderá ter incidência imediata.
Ao menos até a edição da Emenda Constitucional n. 32/01, o Supremo Tribunal Federal vinha admitindo a instituição de contribuição para a seguridade social, sobre as fontes já previstas no artigo 195 da Constituição Federal, por simples lei ordinária e, conseqüentemente, por medida provisória. 
“A lei que institui contribuição social com base no § 4.º, do art. 195, da Constituição (sobre outras fontes que não as expressamente previstas na Constituição Federal) tem de ser de natureza complementar, conforme consta da parte final daquele parágrafo (que remete ao art. 154, inc. I, da Constituição Federal) e já foi decidido na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.103”
. Luciano Amaro
 e Paulo de Barros Carvalho
, com base no artigo 146, inciso III, da Constituição, entendem exigível lei complementar para a instituição de qualquer contribuição social.
De qualquer forma, deve ser observada a anterioridade nonagesimal prevista no § 6.º do artigo 195 da Constituição Federal (contagem a partir da publicação da medida provisória), circunstância que, no caso concreto, pode mostrar-se incompatível com a urgência inerente às medidas provisórias. 
1.8.8. Regulamentação por medida provisória de norma alterada por emenda à Constituição
Pela Emenda Constitucional n. 6/95, que alterou a redação do artigo 246 da Constituição Federal, foi vedada a utilização da medida provisória na regulamentação de artigos da Constituição Federal alterados por Emenda Constitucional promulgada a partir de 1995 (da Emenda Constitucional n. 05/95 até a Emenda Constitucional n. 32/01). Os artigos que não tiveram sua redação alterada por emendas constitucionais e aqueles cujas alterações ocorreram antes de janeiro de 1995, ou após a promulgação da Emenda Constitucional n. 32/01, podem ser regulamentados por medida provisória. 
1.9. Decreto Legislativo
O decreto legislativo tem como conteúdo matéria de competência exclusiva do Congresso Nacional (artigo 49 da Constituição Federal) e quem o promulga é o Presidente do Senado. 
Trata-se de norma geral da qual a Constituição não exige a remessa ao Presidente da República para sanção ou promulgação. 
O decreto legislativo veicula preferencialmente assuntos de caráter genérico e sua aprovação, em regra, ocorre por maioria simples. 
1.10. Resoluções
Por fim temos as resoluções, que são de competência privativa do Congresso Nacional ou de qualquer uma de suas Casas.
As resoluções têm por conteúdo matérias concretas, a exemplo da suspensão de lei declarada inconstitucional (artigo 52, inciso X, da Constituição Federal) e da delegação de poderes legislativos ao Presidente da República (artigo 68, § 2.º).
A promulgação é feita pelo Presidente da casa que expedir o ato ou, se do Congresso Nacional, pelo Presidente do Senado Federal. A aprovação exige, em regra, maioria simples.
Também as resoluções não estão sujeitas à sanção do Presidente da República.
A regulamentação dos decretos legislativos e das resoluções consta do regimento interno de cada uma das casas legislativas.
1.11. Da Hierarquia das Normas
Para os que adotam a classificação das leis segundo uma hierarquia, elas se dividem em constitucionais, complementares e ordinárias. Para esses doutrinadores, a lei complementar se sobrepõe à ordinária, de tal forma que a lei ordinária não pode revogar a lei complementar ou contrariar suas normas.
Outros autores, porém, alertam: com exceção das emendas constitucionais, todas as demais espécies normativas se situam no mesmo plano. 
Entende-se que a lei complementar não é superior à lei ordinária, nem esta é superior à lei delegada.
Cada uma das espécies tem seu próprio campo de atuação. Não há que se falar em hierarquia.
Quanto à origem legislativa, porém, poderemos verificar hierarquia entre as leis. Temos as leis federais, estaduais e municipais. Conforme leciona Washington de Barros Monteiro
 , “num Estado federal, como o nosso país, existe verdadeira hierarquia nas leis. A lei magna é a Constituição Federal, a lei fundamental, a lei primeira. Depois, vêm as leis federais ordinárias; em terceiro lugar, a Constituição Estadual; em seguida, as leis estaduais ordinárias e, por último, as leis municipais. Surgindo confronto entre elas, observar-se-á essa ordem de precedência quanto à sua aplicação”. O mestre cita acórdãos publicados in RT 170/556 e 297/339.
A existência de hierarquia é clara na hipótese de competência concorrente, conforme o § 4.º do artigo 24, Constituição Federal.
1.12. Divisão da Competência Legislativa
Competência legislativa é o poder que cada um dos entes políticos tem de editar leis. Costuma ser dividida em privativa, concorrente, suplementar ou residual.
À União compete legislar privativamente sobre as matérias previstas no artigo 22 da Constituição Federal. Lei complementar federal, contudo, pode delegar aos Estados competência para legislar a respeito das matérias previstas naquele artigo (conforme prevê seu parágrafo único).
Há leis nacionais (que regulam interesses gerais em todo o País) e leis meramente federais (dirigidas exclusivamente à organização de interesses específicos da União).
Nas hipóteses do artigo 24 da Constituição Federal, temos a denominada competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal. Quanto a essas matérias, cabe à União estabelecer normas gerais (diretrizes gerais de abrangência nacional), sendo que Estados e Distrito Federal possuem competência para suplementar as normas gerais e, assim, garantir a plena aplicabilidade das mesmas no âmbito regional.
Verifica-se que a função principal dos Estados e do Distrito Federal é legislar de forma detalhada sobre as matérias estabelecidas no artigo 24 da Constituição Federal, observadas as regras gerais fixadas pela União. 
Inexistindo lei federal sobre as normas gerais, previstas no artigo 24 da Carta Magna, Estados e Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena (legislarão sobre as normas gerais e sobre as especificações regionais que atendam às suas peculiaridades). A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspenderá (mas não revogará) a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. 
Aos Municípios compete legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e a legislação estadual no que couber, respeitando as diretrizes nacionais e regionais.
Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios, exceto quanto à organização do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar, nos termos dos incisos XIII e XIV do artigo 21 da Constituição Federal (que serão organizados por lei federal). 
Por fim, temos a denominada competência residual (ou remanescente) dos Estados membros. São reservadas ao Estado as competências que a Constituição Federal não lhes veda nem atribui à União, ao Distrito Federal e aos Municípios.
Em matéria tributária, porém, a competência residual foi atribuída à União, que, mediante lei complementar, poderáinstituir impostos não previstos expressamente na Constituição Federal, nos termos do seu artigo 154, inciso I.
COMPLEXO JURÍDICO
DAMÁSIO DE JESUS
A excelência no ensino do Direito
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XV
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO
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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO
1. PROCEDIMENTO NOS DISSÍDIOS INDIVIDUAIS
A fase postulatória estabelece a área de abrangência do processo. Por meio da petição inicial, o autor postula os direitos que entende possuir e determina os limites da lide, que servirão de parâmetro para o juiz na condução processual e na sentença final.
Nessa fase estudamos a petição inicial, a resposta do réu e o que pode acontecer na audiência.
1.1. Petição Inicial
Também chamada de reclamatória, exordial, petitória ou prefacial, segue os requisitos previstos no art. 840, § 1.º, da Consolidação das Leis do Trabalho; a saber:
· designação do Juízo;
· qualificação das partes;
· breve exposição dos fatos dos quais resultou o dissídio;
· pedido;
· data;
· assinatura.
Observe-se que o referido dispositivo diferencia-se do art. 282 do Código de Processo Civil, que também trata dos requisitos da inicial. Nesse artigo o legislador determina que a petição inicial indicará os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, incluirá o requerimento de citação do réu, a indicação das provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados e o valor da causa.
Na inicial trabalhista tais requisitos não existem. No lugar da fundamentação jurídica exigida pelo processo comum, basta uma breve exposição dos fatos. Tal propositura está de acordo com o fato de que, no processo do trabalho, as partes não precisam de advogado. A exordial trabalhista revela-se mais simples, mas não menos técnica. A sua técnica, revelada pela letra da norma, é apropriada aos princípios específicos que norteiam o processo trabalhista. Tanto assim é que não se pode considerar inépcia a inexistência de fundamentação adequada e, ainda, há a necessidade de se dar ao autor oportunidade para esclarecer e completar a inicial.
Enunciado n. 263 do Tribunal Superior do Trabalho:
“O indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indispensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é cabível se, após intimada para suprir a irregularidade e em dez dias, a parte não o fizer”. 
A citação do réu também não precisa ser requerida, porque é feita assim que recebida e protocolada a reclamação (art. 841 da CLT), mediante registro postal (art. 841, § 1.º, da CLT).
O Enunciado n. 16 do Tribunal Superior do Trabalho dispõe:
“Presume-se recebida a notificação 48 horas depois de sua regular expedição. O seu não recebimento, ou a entrega após o decurso desse prazo, constituem ônus de prova do destinatário”.
A inicial trabalhista não precisa indicar valor. Não é requisito do art. 840, § 1.º, da Consolidação das Leis do Trabalho. A necessidade de valor vem expressa na Lei n. 5.584/70, art. 2.º, todavia, ainda assim não se tem como requisito, porque a dicção do artigo é no sentido de fixação do valor pelo juiz, quando indeterminado.
1.2. Da Resposta do Réu
A resposta do réu abre-se num leque de oportunidades: preliminares, exceções, contestação e ou reconvenção.
O fato é que deve ser apresentada no dia da audiência, tendo em vista o princípio da eventualidade (art. 845 da CLT).
Outro princípio que tem vigência plena, em audiência, é o da oralidade. A reclamatória será lida, ou dispensada a leitura, e a defesa será feita oralmente dentro do prazo de vinte minutos (art. 847 da CLT).
Poderá haver: defesa direta do mérito, defesa indireta do mérito, defesa processual peremptória e defesa processual dilatória.
O art. 300 do Código de Processo Civil é no mesmo sentido da norma processual da Consolidação das Leis do Trabalho, ao dizer que o réu deve alegar na contestação toda matéria de defesa, as razões de fato e de direito. 
Em matéria de defesa processual cabe a explicação rápida: peremptória é a defesa processual que, se aceita, extingue o processo (inépcia, ilegitimidade, coisa julgada, perempção etc.); dilatória, provoca a paralisação do processo, opõe obstáculos para o conhecimento do mérito (inexistência ou nulidade da citação; conexão; incapacidade etc.). Após resolvidos tais obstáculos, passa-se ao mérito.
1.2.1. Defesa contra o mérito
A defesa contra o mérito ataca a pretensão, item por item. Diz-se direta quando se dirige contra o pedido, nos seus fundamentos: nega os fatos ou os admite, mas nega suas conseqüências jurídicas. Diz-se indireta quando, não obstante verdadeiros os fatos, opõe a eles outros fatos. É a chamada objeção, que pode consistir na argüição de fatos – impeditivos, modificativos ou extintivos – ou na denominada exceção substancial, que é a alegação de outros fatos que, tendo por conteúdo um direito do réu, façam obstar um efeito jurídico afirmado pelo autor.
1.3. As Preliminares
Aqui servimo-nos do art. 300 do Código de Processo Civil: “Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: 
I – inexistência ou nulidade da citação;
II – incompetência absoluta;
III – inépcia da petição inicial;
IV – perempção;
V – litispendência;
VI – coisa julgada;
VII – conexão;
VIII – incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
IX – convenção de arbitragem;
X – carência de ação;
XI – falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.”
Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício as demais preliminares (art. 300, § 4.º, do CPC).
1.4. As Exceções
Na Justiça do Trabalho, somente as exceções de suspeição ou incompetência podem ser opostas com suspensão do feito. As demais serão alegadas como preliminares na defesa.
Aplicação dos arts. 799, 800 e 801 do Código de Processo Civil. Apresentada a exceção de incompetência, abre-se vista ao excepto, por 24 horas improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na audiência ou sessão que se seguir.
1.5. A Reconvenção
Reconvenção é a ação do réu contra o autor, no mesmo processo. Fundamenta-se no Princípio da Economia Processual. Aplicável o art. 315 do Código de Processo Civil:
 “O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento de defesa.”
1.6. A Defesa
Alega-se com a defesa toda matéria que possa contrariar os pedidos. A compensação e a retenção somente poderão ser argüidas como matéria de defesa (art. 767 da CLT).
Curso do Prof. Damásio
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO VIII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO
1. ORDEM JURÍDICA ECONÔMICA
1.1. Conceito
A ampliação da presença do Estado no sistema econômico, com a multiplicação de normas legais de toda a espécie para pôr em prática a política econômica, acabou por fazer surgir uma mudança radical na forma de ver o Direito e a aplicação das normas. Nesse sentido surgiram inúmeras manifestações acerca da percepção do fenômeno do Direito Econômico, como decorrência da imbricação entre as duas áreas – o mercado e o Estado. 
O Direito Econômico pode ser visto de duas maneiras: como método de análise e interpretação do direito e como ramo do mesmo. Como ramo do direito, pode-se dizer que se trata de um ramo sui generis que deriva do fato de suas normas, em grande número de casos, estarem inseridas formalmente em outros ramos jurídicos, marcando-os, porém, com o seu caráterespecífico de normas instrumentais de políticas econômicas. Trata-se, por exemplo, do chamado dirigismo contratual ou determinações cogentes quanto a cláusulas que devam ou não constar em contratos privados civis ou comerciais, ou mesmo de normas sobre reajustes de aluguéis, que incidem sobre uma relação típica de Direito Civil etc. 
Assim, pode-se afirmar que o Direito Econômico permeia todo o ordenamento jurídico, como um direito de sobreposição, por se sobrepor a outros ramos jurídicos na regulação de determinadas relações sociais.
Por outro lado, o Direito Econômico como método de análise e interpretação do Direito consiste precisamente em se utilizar todo o conhecimento quanto à mecânica funcional dos sistemas econômicos, inclusive do seu direcionamento pelas normas de política econômica.
Além do Direito Econômico propriamente dito, quer visto como método, quer como ramo, atente-se para o surgimento de uma série de novos ramos especiais na árvore jurídica dele derivados, cada um deles especializado em setores próprios, tais como o Direito urbanístico, o Direito agrário, o das comunicações, o de energia e tantos outros.
Não se pode, entretanto, confundir normas de Direito Econômico e o mero conteúdo econômico da norma jurídica. O caráter de Direito Econômico é impresso quando as normas assumem a função de buscar objetivos explicitamente definidos de política econômica. 
1.2. Ordem Econômica e Regime Político e Jurídico
Os artigos 173 e 174 da Constituição Federal procuram definir o papel que deve passar a ser desempenhado pelo Estado.
O artigo 173 refere-se à exploração direta de atividade econômica pelo Estado, limitando-a. Enquanto os textos da Constituição Federal 67/69 previam ser facultado ao Estado a intervenção e o monopólio na atividade econômica, a Constituição Federal/88 determina que a exploração direta de atividade econômica pelo Estado “só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou relevante interesse coletivo”, prevendo, portanto, proibição que permite exceções.
Convém, todavia, limitar o conceito de segurança nacional, como o fez Celso Bastos
, ao mencionar que “a expressão segurança nacional há de ater-se àquelas atividades que dizem respeito diretamente à produção de bens e serviços necessários ao regular funcionamento e, até mesmo, ao satisfatório aparelhamento das Forças Armadas”.
No tocante ao conceito de interesse coletivo devemos interpretá-lo conforme os princípios econômicos constitucionais, principalmente o de atingir uma justiça social tendo como primazia a iniciativa privada. O autor mencionado acrescenta que “é necessário que se comprove que o Estado terá melhores condições de atingir o interesse coletivo do que os particulares”.
A organização jurídica do nosso sistema econômico vem disciplinada com maior relevância no § 1.º do artigo 173 da Constituição Federal, pois tem a finalidade de impedir que o Estado atue no mercado econômico utilizando-se de sua supremacia em relação ao particular, assim o constituinte estabelece o regime jurídico a ser atendido pelo Estado visando, desta forma, uma competição isonômica, privilegiando-se o princípio da livre concorrência.
 Corroborando com tal finalidade a Carta Magna, nos parágrafos 2.º e 3.º do referido artigo, estabelece que as empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado e que caberá à lei regulamentar as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade. 
Devemos lembrar que o Estado não tem como objetivo o lucro, embora isso não signifique que ele não possa recebê-lo, mas sim a regularização do mercado em virtude de sua intervenção.
Conseqüentemente, verificamos o papel essencial da lei que disciplina o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, estabelecendo que devem constar os seguintes requisitos:
· sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;
· a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias;
· licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da Administração Pública;
· a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
· os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores. 
Não há vedação constitucional quanto à existência do poder econômico e sim, consoante o § 4.º do artigo 173 da Constituição Federal, quanto ao abuso do mesmo, que corresponde na sua utilização visando à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, portanto, o Estado intervém para garantir, além da livre iniciativa, os demais princípios da ordem econômica, referentes à liberdade de atuação das empresas no mercado.
O abuso do poder econômico será reprimido tanto administrativamente – Lei n. 8.884/94 – quanto penalmente – Lei n. 8.137/90, sem prejuízo ainda de eventual responsabilidade civil pelos prejuízos causados.
O artigo 174 delineia o papel do Estado como “agente normativo e regulador da atividade econômica”, esclarecendo que essas funções se corporificam na fiscalização, no incentivo e no planejamento, lembrando que este é indicativo para o setor privado e determinante para o setor público.
1.2.1. Atividade estatal e iniciativa privada 
Dentre as considerações sobre o novo papel do Estado no âmbito da atividade econômica, indispensável a menção sobre o fenômeno da privatização que, segundo Uadi Lammêgo Bulos
 “é a alienação de direitos para garantir ao Poder Público, de modo direto ou através dos entes controlados, preponderância nas deliberações sociais, elegendo a maioria dos administradores da sociedade”. Tem por objetivo transferir tudo aquilo que não deve permanecer com o Estado, em respeito aos pórticos da livre iniciativa e da economicidade – artigo 70 da Constituição Federal.
 A Constituição Federal de 1988, ao traçar os parâmetros da Ordem Jurídico-Econômica Brasileira, limita a intervenção do Estado no domínio econômico, a ser estudado em módulo próprio.
Vê-se, portanto, que o Constituinte de 1988 mudou inteiramente a situação anterior, vigente ao tempo da Constituição Federal 67/69, quando a atividade estatal era supletiva da iniciativa privada, justificando-se, àquela época, de forma ampla, a exploração direta, pelo Estado, da atividade econômica.
Agora, após o texto de 1988, “a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo”, exigindo-se ainda que os imperativos e o relevante interesse sejam definidos em lei. 
Pelo conjunto dos elementos significativos utilizados pelo legislador constituinte, conclui-se que sua intenção foi a de vedar, proibir, que o Estado aja como empresário.
Essa opção política, econômica e social é importante que seja entendida em toda a sua profundidade, uma vez que ela condiciona o encaminhamento legislativo destinado a dar efetividade ao mandamento constitucional. 
É oportuno verificarmos a distinção estabelecida por Celso Bastos
 entre a prestação de serviço público com cunho econômico e uma atividade econômica qualquer, ou seja, na prestação de serviço público “entra um ingrediente muito importante que não está presente” na exploração pelo Estado de atividade econômica, “qual seja, o fato do regime jurídico do serviço público não ser idêntico ao do exercício das atividades comerciais e industriais”. 
Assim, a partir da Constituição Federal de 1988, as atividades ditas essenciais do Estado são aquelas discriminadas no Título VIII da Carta Magna, ou seja, a seguridade social, saúde, educação, e demais problemas correlatos.
Todavia, existem os serviços públicos não essenciais,

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