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Cadernos Magis - Civil - Parte Geral

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Cadernos MAGIS – Civil – Parte Geral 
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Sumário 
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO: ................................. 7 
1. Aspectos Iniciais: ....................................................................................................................... 7 
1.1. Estrutura da LINDB: .............................................................................................................. 7 
2. Fontes do direito: ....................................................................................................................... 8 
2.1. Visão clássica ...................................................................................................................... 8 
3. Vigência da Norma: Artigo 1º e 2ºLINDB ............................................................................... 10 
3.1. Início da vigência .............................................................................................................. 10 
3.2. Fim da vigência ................................................................................................................ 12 
4. Obrigatoriedade das normas: Art. 3º da LINDB ..................................................................... 13 
5. Integração da norma: .............................................................................................................. 14 
5.1. Analogia: ........................................................................................................................... 14 
5.2. Costumes .......................................................................................................................... 15 
5.3. Princípios Gerais de Direitos: .......................................................................................... 15 
6. Interpretação da norma: Art. 5º LINDB ................................................................................. 16 
7. Aplicação da norma no tempo: Art. 6º LINDB ........................................................................ 17 
7.1. Relações jurídicas continuativas: ..................................................................................... 18 
7.2. Ultratividade da norma .................................................................................................... 18 
8. Aplicação da norma no espaço: ............................................................................................... 19 
DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL ........................................................................... 20 
1. Introdução ............................................................................................................................... 20 
2. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais ........................................................................ 22 
DAS PESSOAS NATURAIS .......................................................................................... 23 
1. Conceito de personalidade jurídica ......................................................................................... 23 
2. Pessoa Física ou Natural .......................................................................................................... 23 
3. Natureza jurídica do nascituro e teorias explicativas .............................................................. 24 
3.1. Teoria Natalista ................................................................................................................ 24 
3.2. Teoria da Personalidade Condicional .............................................................................. 25 
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3.3. Teoria Concepcionista ...................................................................................................... 25 
4. Capacidade de direito e de fato ................................................................................................ 26 
4.1. Conceitos correlatos à capacidade: .................................................................................. 26 
5. Teoria das incapacidades – Arts. 3º e 4º do CC ...................................................................... 27 
5.1. Incapacidade absoluta ...................................................................................................... 28 
5.2. Incapacidade relativa ....................................................................................................... 28 
6. Questões de concurso relacionadas à capacidade e à incapacidade ........................................ 30 
6.1. A questão do ausente ........................................................................................................ 30 
6.2. Benefício de restituição (ou restitutio in integrum) ......................................................... 30 
6.3. Reflexos da redução da maioridade civil .......................................................................... 31 
6.4. Idade avançada e incapacidade civil ................................................................................ 31 
7. Emancipação............................................................................................................................ 32 
7.1. Emancipação voluntária ................................................................................................... 32 
7.2. Emancipação judicial ....................................................................................................... 33 
7.3. Emancipação legal ............................................................................................................ 33 
7.4. Questões especiais relacionadas à emancipação .............................................................. 37 
8. Extinção da pessoa natural (ou física) ..................................................................................... 38 
8.1. Morte encefálica ............................................................................................................... 38 
8.2. Morte presumida .............................................................................................................. 38 
8.3. Comoriência ..................................................................................................................... 41 
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ....................................................................... 42 
1. Teoria geral dos direitos da personalidade .............................................................................. 42 
1.1. Personalidade Jurídica, capacidade jurídica e direitos da personalidade ........................... 42 
1.2. Cláusula geral de proteção da personalidade: dignidade da pessoa humana .................. 43 
1.3. Momento aquisitivo dos direitos da personalidade ......................................................... 45 
1.4. Questões polêmicas relacionadas à aquisição dos direitos da personalidade ................. 45 
1.5. Momento extintivo dos direitos da personalidade ........................................................... 47 
1.6. Questões polêmicas relacionadas à extinção dos direitos da personalidade ................... 47 
1.7. Fontes dos direitos da personalidade ............................................................................... 49 
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1.8. Direitos da personalidade e liberdades públicas .............................................................. 50 
1.9. Direitos da personalidade da pessoa jurídica .................................................................. 50 
1.10. Conflito entre direitos da personalidade e direitos de comunicação social ..................... 52 
1.11. Características dos direitos da personalidade .................................................................. 54 
1.12. Proteção jurídica dos direitos da personalidade ..............................................................57 
1.13. Direitos da personalidade das pessoas públicas .............................................................. 66 
2. Dos direitos da personalidade em espécie ............................................................................... 67 
2.1. Direito ao corpo vivo (art. 13 do CC) ................................................................................ 68 
2.2. Tutela jurídica do corpo morto (art. 14 do CC) ................................................................. 71 
2.3. Livre consentimento informado ou autonomia do paciente (art. 15 do CC) .................... 73 
2.4. Direito ao nome (arts. 16 a 19 do CC) ............................................................................... 74 
2.5. Direito à imagem (Art.20) ................................................................................................ 77 
2.6. Direito à privacidade (Art. 21) .......................................................................................... 78 
DOMICÍLIO ................................................................................................................ 80 
1. Conceito ................................................................................................................................... 80 
1.1. Morada ................................................................................................................................. 80 
1.2. Residência ........................................................................................................................ 80 
1.3. Domicílio .......................................................................................................................... 80 
2. Pluralidade de domicílios ........................................................................................................ 81 
3. Domicílio profissional ............................................................................................................. 81 
4. Mudança de domicílio ............................................................................................................. 81 
5. Domicílio aparente ou ocasional ............................................................................................. 82 
6. Domicílio da pessoa jurídica (art. 75 do CC) ........................................................................... 82 
7. Classificações de domicílio ...................................................................................................... 83 
7.1. Domicílio voluntário ........................................................................................................ 83 
7.2. Domicílio de eleição ......................................................................................................... 83 
7.3. Domicílio legal ou necessário ........................................................................................... 83 
7.4. Outras Classificações ........................................................................................................ 84 
DAS PESSOAS JURÍDICAS ......................................................................................... 86 
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1. Introdução e conceito .............................................................................................................. 86 
2. Teorias explicativas da pessoa jurídica.................................................................................... 87 
2.1. Corrente negativista ......................................................................................................... 87 
2.2. Corrente afirmativista ...................................................................................................... 87 
3. Constituição da pessoa jurídica ............................................................................................... 88 
4. Extinção da pessoa jurídica ..................................................................................................... 90 
4.1. Dissolução convencional .................................................................................................. 90 
4.2. Dissolução administrativa ................................................................................................ 90 
4.3. Dissolução judicial............................................................................................................ 90 
5. Espécies de pessoa jurídica de direito privado ........................................................................ 91 
5.1. Entes despersonalizados .................................................................................................. 92 
6. Tipos fundamentais de pessoas jurídicas ................................................................................ 93 
6.1. Fundações ......................................................................................................................... 93 
6.2. Associações (Arts. 53 a 61) ............................................................................................... 97 
6.3. Sociedades (Arts. 966 e seguintes) ................................................................................... 99 
7. Desconsideração da pessoa jurídica (“disregard doctrine”) ................................................. 103 
7.1. Noções introdutórias ...................................................................................................... 103 
7.2. Tratamento legal ............................................................................................................ 105 
7.3. Questões especiais referentes à desconsideração da pessoa jurídica ............................ 108 
BENS JURÍDICOS ..................................................................................................... 112 
1. Noções introdutórias .............................................................................................................. 112 
1.1. Terminologias ..................................................................................................................... 112 
1.2. Conceito de bem jurídico ................................................................................................. 113 
2. Classificação dos bens jurídicos ............................................................................................. 114 
2.1. Quanto a tangibilidade .................................................................................................... 114 
2.2. Quanto a mobilidade ....................................................................................................... 114 
2.3. Quanto a fungibilidade .................................................................................................... 117 
2.4. Quanto à consuntibilidade ou ao consumo ..................................................................... 117 
2.5. Quanto à divisibilidade ................................................................................................... 118 
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2.6. Quanto à individualidade ................................................................................................ 119 
2.7. Quanto à dependência (bens reciprocamente considerados) ........................................ 120 
2.8. Quanto ao titular do domínio ......................................................................................... 123 
2.9. Res nullius e res deperdita ............................................................................................. 124 
3. Bem de Família ...................................................................................................................... 125 
3.1. Referencial histórico ...................................................................................................... 125 
3.2. Espécies de bem de família ............................................................................................125 
FATOS JURÍDICOS ................................................................................................... 131 
1. Conceito .................................................................................................................................. 131 
2. Classificação ............................................................................................................................ 131 
2.1. Fato jurídico em sentido estrito ...................................................................................... 131 
2.2. Ato-fato (Pontes de Miranda) ......................................................................................... 131 
2.3. Ações ou fatos humanos ................................................................................................. 132 
NEGÓCIOS JURÍDICOS............................................................................................. 135 
1. Conceito ................................................................................................................................. 135 
2. Teorias explicativas do negócio jurídico ................................................................................ 135 
2.1. Teoria voluntarista (teoria da vontade ou willens theorie) ............................................ 135 
2.2. Teoria objetivista ou da declaração (erklärungstheorie) ............................................... 135 
2.3. Teoria da pressuposição ................................................................................................. 136 
3. Classificação dos negócios Jurídicos ..................................................................................... 136 
3.1. unilaterais, bilaterais e plurilaterais .............................................................................. 136 
3.2. gratuitos e onerosos ........................................................................................................ 137 
3.3. Neutros e bifrontes ......................................................................................................... 138 
3.4. Inter vivos e mortis causa ............................................................................................... 138 
3.5. Principais, acessórios e derivados .................................................................................. 138 
3.6. Solenes (formais) e não solenes (de forma livre) ........................................................... 139 
3.7. Simples, complexos e coligados ..................................................................................... 139 
3.8. Dispositivos e obrigacionais ........................................................................................... 140 
3.9. Negócio fiduciário e negócio simulado ........................................................................... 141 
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4. Planos do negócio jurídico ...................................................................................................... 141 
4.1. Plano de existência (ou substantivo) .............................................................................. 142 
4.2. Plano de validade ........................................................................................................... 144 
4.3. Plano da eficácia do negócio jurídico ..............................................................................147 
5. Defeitos ou vícios do negócio jurídico .................................................................................... 157 
5.1. Vícios da vontade ou consentimento .............................................................................. 158 
5.2. Vícios sociais ................................................................................................................... 171 
6. Teoria da invalidade .............................................................................................................. 186 
6.1. Princípio da conservação ................................................................................................ 187 
6.2. Nulidade absoluta (negócio jurídico nulo) ..................................................................... 187 
6.3. Nulidade relativa (negócio jurídico anulável) ................................................................. 191 
6.4. Nulidade ou anulabilidade superveniente ..................................................................... 194 
6.5. Conversibilidade do negócio jurídico nulo ..................................................................... 195 
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA: Art. 189 a 211 CC ...................................................... 197 
1. Introdução ..............................................................................................................................197 
1.1. Características da prescrição e da decadência ................................................................... 198 
2. Prescrição ............................................................................................................................. 200 
2.1. Início do prazo prescricional .......................................................................................... 202 
2.2. Renúncia à prescrição .................................................................................................... 203 
2.3. Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição ..................................... 204 
3. Decadência .............................................................................................................................208 
 
 
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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO 
BRASILEIRO: 
1. Aspectos Iniciais: 
Inicialmente, é importante consignar que a Lei de Introdução é uma norma de sobredireito (“norma 
sobre normas” ou “lex legum). 
Dessa maneira, se de um lado as normas jurídicas são dirigidas a todos (generalidade), de outro a 
LINDB é destinada ao legislador e ao aplicador do Direito (juiz, por exemplo). Exemplos: 
Art. 4º: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios 
gerais de direito”. 
Art. 5º: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. 
A LINDB, na verdade, é um diploma legal multidisciplinar que se aplica universalmente a qualquer 
ramo do direito. É, portanto, um código geral sobre a elaboração e aplicação das normas jurídicas; tem como 
objetivo, a elaboração, vigência e aplicação de leis. Seja qual for o ramo do direito, as normas devem ser 
elaboradas e aplicadas conforme LINDB. 
A lei de introdução, que hoje introduz as normas do direito brasileiro Lei 12.376/2010, era a até 2009 
a parte introdutória ou a lei introdutória ao Código Civil, antigo Decreto-lei 4.957/42. 
Em verdade, a Lei de Introdução nunca fez nem faz parte do Código Civil, a prática de se utilizar de 
uma “lei introdutória” remonta ao direito francês, que após a revolução francesa, vinha de anos de 
absolutismo e uma nova legislação alterou fundamentalmente a sociedade e acrescentando valores até então 
desconhecidos, ex. propriedade privada, por isso, necessitando de regras de transição para o sistema, foi 
criada a Lei de introdução ao Código Civil Frances, em 1.804, adaptando a sociedade àquelas mudanças. 
No Brasil, antes da entrada em vigor do Código Civil de 1.916, houve também, nesse mesmo modelo 
uma Lei de Introdução, que foi alterada pelo Decreto-lei 4.957/42, entretanto, no país a lei se preocupou 
também em criar regras introdutórias para todas as normas, e não somente ao Código Civil. 
Assim, a Lei 12.376/2010, acabou por adequar as coisas, alterando seu nome, e aclarando a situação1. 
1.1. Estrutura da LINDB: 
A estrutura da Lei é elaborada para cuidar de todo ciclo da norma, fazendo com que o sistemajurídico 
tenha um mecanismo seguro para recepcionar todas as leis. 
i. Vigência das Normas: Art. 1º e 2º; 
ii. Obrigatoriedade das normas: Art. 3º 
 
1 Questão n. 1: a alteração do nome de “LICC” para “LINDB” tem justificativa? Sim, pois a Lei de Introdução é 
dirigida não só ao Direito Civil como a todos os ramos do Direito. Exemplo: Direito Internacional (público ou privado) 
- por assim ser a LINDB também é denominada de “Estatuto do Direito Internacional”. 
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iii. Integração das normas: Art. 4º 
iv. Integração das normas: Art. 5º 
v. Aplicação da norma no tempo: Art. 6º 
vi. Aplicação da norma no espaço: Art. 7º/ 18º 
2. Fontes do direito: 
2.1. Visão clássica 
Tendo como parâmetro a Lei de Introdução, a palavra “fonte” tem tanto o sentido de origem como o 
de quais sejam as manifestações jurídicas (ou formas de expressões do Direito). 
2.1.1. Fontes formais: constam da Lei de Introdução como fontes. 
2.1.1.1. Fonte formal primária: lei (sistema da “civil law”) 
O Direito Brasileiro sempre foi filiado à escola da Civil Law, de origem romano-germânica, pela qual 
a lei é fonte primária do sistema jurídico. Assim ainda o é, apesar de todo o movimento de valorização do 
costume jurisprudencial, notadamente pela emergência da súmula vinculante como fonte do direito, diante 
da Emenda Constitucional 45/2004. 
Dessa maneira, segundo Goffredo Telles Jr, seguido por Maria Helena Diniz, a lei é a norma jurídica. 
Ela é um imperativo autorizante: 
a) Imperativo: emanado de autoridade competente, sendo dirigida a todos (generalidade/vigência 
sincrônica). 
b) Autorizante: autoriza ou não autoriza condutas. 
Ademais, a norma jurídica tem obrigatoriedade. Assim, ninguém pode deixar de cumprir a lei 
alegando não a conhecer. 
Art. 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. 
Fundamentos do art. 3º (correntes): 
i. Ficção. 
ii. Presunção. 
iii. Necessidade social (prevalece em concurso), cf. Zeno Veloso, Maria Helena Diniz e Flávio 
Tartuce. 
Lembrar que a regra do art. 3º da LINDB não é absoluta. Ex.de exceção: possibilidade de anulação 
de um negócio jurídico por erro de direito (Art. 139 CC desconhecimento da lei2). 
Obs.: Não confundir “subsunção” com “integração”: 
i. Subsunção: aplicação direta da lei. 
 
2 CC, art. 139: “O erro é substancial quando: (...) 
III- sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio 
jurídico”. 
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ii. Integração: aplicação da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do Direito. 
Obs.: A súmula vinculante (CF, art. 103-A) é uma fonte formal, pois tem previsão na Constituição 
Federal de 1988. Ela está em uma posição intermediária entre a fonte primária e as secundárias (natureza 
“sui generis”). É a posição de Walber Moura Agra. 
2.1.1.2. Fontes formais secundárias (art. 4º): analogia, costumes e princípios gerais do 
Direito 
O tema será tratado em maiores minúcias no item 5, em resumo, as fontes formais secundárias 
aplicam-se na falta da lei, ou seja, quando a lei for omissa (LINDB, art. 4º), havendo a chamada lacuna 
normativa. 
As fontes formais secundárias são denominadas de “ferramentas de correção do sistema” (Maria 
Helena Diniz). São elas: analogia, costumes e princípios gerais do Direito. 
Segundo uma corrente clássica, a ordem acima deve ser rigorosamente obedecida, é o entendimento 
de Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro. 
Entretanto, segundo uma visão contemporânea (prevalente, mas importante analisar a posição da 
banca) o juiz não é obrigado a aobservar a ordem do Art. 4º. uma vez que os princípios constitucionais têm 
prevalência de aplicação. Corrente defendida por Zeno Veloso, Tepedino e Daniel Sarmento3. 
Ademais, os princípios constitucionais não são aplicados somente em caso de lacuna, eles podem ter 
aplicação imediata. Exemplo: julgamento da inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC (sucessão do 
companheiro). 
2.1.2. Fontes não formais: não constam da Lei de Introdução como fontes. 
Subdividem-se em: 
i. Doutrina. 
A doutrina é interpretação do Direito feita pelos estudiosos. Exemplos: dissertações de mestrado, teses 
de doutorado, manuais, cursos, tratados e enunciados do CJF (Jornadas de Direito Civil) - os enunciados 
não tem força vinculativa. 
ii. Jurisprudência. 
É a interpretação do Direito feita pelos Tribunais. Exemplos: súmulas dos Tribunais Superiores (STF 
e STJ). 
É importante lembrar que o Código de Processo Civil de 2015 valorizou sobremaneira a jurisprudência 
que passou a ter força vinculativa - exemplos: CPC, arts. 332, § 1º, 489, § 1º, 926, 927. Assim, pode-se 
sustentar que o CPC quebra com a ideia de que a jurisprudência é fonte não formal. 
A jurisprudência consolidada pode ser considerada como costume judiciário (Maria Helena Diniz). 
iii. Equidade 
 
3 Nesse sentido, é de se notar que o próprio art. 8º do novo CPC, que complementa o art. 5º da LINDB, cita, em 
primeiro lugar, o princípio da dignidade da pessoa humana. 
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Na visão clássica do Direito Civil, a equidade, entendida por Arinstóteles como a justiça do caso 
concreto, era tratada não como um meio de suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar 
o juiz nessa missão, Washington de Barros Monteiro e Maria Helena Diniz compartilham essa ideia. 
De outro lado, uma visão contemporânea, e mais exigida em provas, equidade é fonte do Direito 
retirada do art. 5º da LINDB, o qual faz menção ao fim social da norma e ao bem comum (dar a cada um o 
que é seu). 
Assim, é possível concluir que equidade é fonte do Direito Civil, pois o Código Civil de 2002 adotou 
um sistema aberto baseado em cláusulas gerais, na lição de Pablo Stolze e Pamplona. 
Ato contínuo de estudo, a equidade, de acordo com a doutrina, pode ser classificada da seguinte forma: 
a) Equidade legal – aquela cuja aplicação está prevista no próprio texto legal. Exemplo pode ser 
retirado do art. 413 do CC/2002, que estabelece a redução equitativa da multa ou cláusula penal 
como um dever do magistrado (“A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a 
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for 
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio”). 
b) Equidade judicial – presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por 
equidade o caso concreto. Isso pode ser notado pelo art. 127 do CPC/1973, pelo qual “o juiz só 
decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Como visto, a norma foi repetida pelo art. 140, 
parágrafo único, do CPC/2015. 
3. Vigência da Norma: Artigo 1º e 2ºLINDB 
3.1. Início da vigência 
Inicialmente é importante consignar que a lei entra em “vigor” quando preenche três requisitos: 
a) Quando a lei Existe. 
b) Quando a lei é Válida (requisitos formais). 
c) Quando a lei é Eficaz (aplicabilidade). 
No dirieto civil são apontadas três fases para o início da vigência das normas: 
a) Elaboração; 
b) Promulgação; 
c) Publicação. 
A lei passa a existir no momento de sua promulgação, entretanto, o fato de ela existir ainda não implica 
em sua obrigatoriedade, ou vigência. 
Seguindo-se as fases de publicação e vacatio legis, que é o lapso temporal destinado às pessoas para 
que tomem conhecimento de uma nova lei. 
Obs.: Os atos administrativos em geral, normalmente não possuem vacatio legis, entrando em vigor 
na data de sua publicação. 
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Assim o Art. 1º da Lei de Introdução as Normasdo Direito Brasileiro tratam diretamente da do 
momento da vigência da norma, estabelecendo a regra geral para a vacatio legis, 45 dias depois de 
oficialmente publicada, no território nacional, e três meses no território estrangeiro. 
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de 
oficialmente publicada. 
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses 
depois de oficialmente publicada. 
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). 
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste 
artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. 
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
Observa-se que o Art. 1º deve ser lido em consonância com o Art. 8º da LC 95/98, que estabelece que: 
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela 
se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de 
pequena repercussão. 
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a 
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua 
consumação integral. 
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após 
decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’ 
Assim, não sendo a lei de pequena repercussão, a vigência da lei deverá ser declarada de modo 
expresso e contemplar prazo razoável (vacatio), entretanto, toda vez que o legislador não estabelecer o prazo 
expressamente, vale a regra geral do Art. 1º da LINDB. 
O período de vacatioserá computado incluindo o primeiro E o último dia, entrando a lei em 
vigor no dia subsequente à consumação integral. Assim, sob o ponto de vista prático, o resultado 
será o mesmo do previsto no Art. 1324 do Código Civil, em que pese teoricamente, diferentes. 
Uma vez publicada, a lei já existe, ela apenas não tem vigência, por isso, a modificação de uma lei em 
período de vacatio, destinada a corrigi-la, o prazo para a entrada em vigor, começará a correr 
novamente, mas apenas para a parte alterada. Ou seja, interrompe-se o prazo de vacatioapenas no 
 
4CC 132: “ Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído 
o do vencimento. § 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2o Meado 
considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de 
início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. 
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que foi alterada, a parte inalterada, o prazo continua a correr. Mas, se a intenção for mudança do conteúdo, 
ela deverá ser feita por lei nova, com um novo prazo. 
Obs.: De acordo com paragrafo 4º do Art. 1º, se a correção tiver por objeto lei lá em vigor, deverá ser 
feito por lei nova. 
Assim, uma vez em vigor, cumprida a vacatio, a lei se submete ao princípio da continuidade, 
previsto no Art. 2º da LINDB. 
Art. 2º: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou 
revogue. 
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou 
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem 
modifica a lei anterior. 
§ 3ºSalvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a 
vigência.” 
3.2. Fim da vigência 
3.2.1.Revogação da Lei: 
Pela LINDB, a principal forma de retirada da vigência de uma lei é pela revogação desta por outra 
norma jurídica. 
Nesse sentido, a revogação de uma lei pode ser: 
a) Quanto ao modo 
i. Expressa: Quando a própria lei expressa a revogação. Ou seja, a regovação é taxativamente prevista 
na norma anterior nos termos do Art. 9º da LC 95/985 
ii. Tácita: Quando houver incompatibilidade da lei anterior com a posterior ( revogação por 
incompatibilidade); Quando houver regulamentação total da matéria pela lei nova. 
Obs.: Se a lei nova que traz disposições “a par” são disposições ao lado das previstas na lei antiga, 
assim, a lei anterior permanece intacta, não sendo revogada ou modificada, conforme Art. 2º, § 2º da 
LINDB. Trata da lei com sentido complementar, a qual não revoga disposições anteriores sobre o tema. 
Exemplo: Lei dos alimentos gravídicos (Lei n. 11.804/08): não revogou o Código Civil de 2002 em matéria 
de alimentos (apenas acrescentou). 
 
5Art. 9º: “A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.” 
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b) Quanto à extensão (amplitude) 
i. Revogação total (ab-rogação). 
ii. Revogação parcial (derrogação). 
3.2.2. O fenômeno da repristinação: 
A repristinação é o restabelecimento dos efeitos de uma lei que foi revogada pela revogação da lei 
revogadora. 
Entretanto, no Brasil, tal fenômeno não admitido, nos termos do Art. 2º § 3º da LINDB6. 
Ex.: Lei A → Lei B → Lei C. A Lei C revoga a Lei B, os efeitos da Lei A não serão restabelecidos. 
Assim, a revogação da lei revogadora não estabelece os efeitos da lei revogada, salvo se assim estiver 
expressamente previsto na norma revogadora. 
Obs.: Entretanto, se a lei revogadora , expressamente restabelecer os efeitos da lei revogada, o que 
estará em vigor é a lei revogadora, não a lei revogada, ainda assim, na teoria isso não é repristinação. 
O que se admite, entretanto, em alguns casos excepcionais, é o chamado efeito repristinatório, Ex. 
A Lei 9.868/98 nos seus artigos 27 e 28, estabelece que a lei declarada inconstitucional, deverá ser tratada 
como nula, e “do nulo nada vem” assim, será tratada como um inexistente jurídico, e se não houver qualquer 
modulação de seus efeitos pelo STF, terá o chamado efeito repristinatório, trazendo de volta a lei revogada 
ao vigor. 
4. Obrigatoriedade das normas: Art. 3º da LINDB 
É a chamada proibição de alegação de erro de direito, ou seja, presume-se que todos conheçam a lei. 
Assim, durante a vacatio legis, que é o período utilizado para que todos se interem a respeito da 
inovação ao ordenamento jurídico, presume-se que todos assim, o façam. 
Entretanto, essa presunção é relativa, uma vez que há diversas regras que a excepcionam, 
admitindo assim a alegação do “erro de direito”, observa-se porém que tal alegação só pode ser feita 
quando a própria lei autoriza. Ex. CC 139, III, CC 1.561, Lei de Contravenções Penais, art. 8º e CP 65, 
II. 
 Art. 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. 
Embora toda lei sejam obrigatórias, é de se observar que elas podem ser: 
a) Cogentes: São aquelas que não admitem mudanças em seu conteúdo pela vontade das partes, 
são imperativas, de ordem pública, Ex. Impedimentos matrimoniais 
b) Dispositivas: São aquelas que permitem a modificação de seu conteúdo protetivo pelos 
interessados, Ex. Art. 490 do CC. 
 
6 § 3ºSalvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.” 
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5. Integração da norma: 
O sistema jurídico brasileiro consagra a vedação ao non liquet, isso significa que é vedado ao juiz 
deixarde julgar um caso concreto, alegando o desconhecimento da lei (iuria novit curiae) ou ausência de 
legislação. 
Há uma exceção prevista no Art. 376 do NCPC7, pois o juiz agora pode alegar o desconhecimento da 
norma, determinando que a parte prove a existência e a vigência da norma, quando o direito alegado for 
municipal, estadual, desde que alienígena ao estado onde tem jurisdição, consuetudinário e estrangeiro8. 
Em relação a eventuais lacunas na legislação, a Art. 4º prevê que quando a lei for omissa, o juiz decidirá 
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Art. 4o: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios 
gerais de direito.” 
Os critérios são taxativos e preferenciais, dessa forma, havendo lacuna, primeiro parte-se para a 
analogia, em seguida aos costumes e por fim aos princípios gerais de direito. 
Esses são os únicos modos de integração do direito, que significa o preenchimento de lacunas 
para garantir a unicidade do ordenamento jurídico. 
O ordenamento, em hipóteses taxativamente previstas em leis, permite que o juiz possa decidir com 
base na equidade, essas são hipóteses excepcionalíssimas. Ex. Art. 723, p. único do NCPC decisões 
nos processos de jurisdição voluntária; 
5.1. Analogia: 
A analogia é aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximo não havendo lei 
para determinado caso concreto. 
Esta comparação pode feita com i) Uma outra norma (Analogia Legal ou legis): ou seja integra-se com 
a comparação de uma lei prevista para um caso parecido (análogo); ii) O sistema jurídico como um todo 
(Analogia Jurídica ou Iuris). 
O ordenamento restringe o uso da analogia em sede do Direito Penal e Tributário, só se admitindo o 
uso da analogia em favor do réu ou do contribuinte, respectivamente, é a chamada Analogia in bonam 
partem. 
 
7 “Art. 376: A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a 
vigência, se assim o juiz determinar.” 
8 O protocolo de Las Leñas estabelece que quando se tratar de lei dos países do Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai, 
Venezuela e Brasil) não é necessário a prova da vigência e do teor delas, ainda presume-se que o juiz brasileiro a conheça. 
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Para o professor, a analogia, em que pese prevista na legislação como meio de integração do direito, 
ela tecnicamente seria um mecanismo de interpretação do direito, onde se interpreta o caso concreto, a luz 
de um caso semelhante. 
Como Ex. no julgamento do STF sobre a união homoafetiva (Inf. n. 625) ficou decidido que a união 
homoafetiva é entidade familiar, e que todas as normas da união estável heteroafetiva aplicam-se, por 
analogia, para a união estável homoafetiva. 
É importante ainda não confundir9 “analogia” com “interpretação extensiva”: 
a) Analogia: outra norma é aplicada (há integração do direito). 
b) Interpretação extensiva: apenas amplia-se o sentido da norma já aplicável ao caso (não há 
integração mas sim subsunção). 
5.2. Costumes 
Costumes são práticas e usos reiterados com conteúdo lícito e relevância jurídica. Ex. CC, art. 113, as 
chamadas “regras de trafego”. 
De se notar que no direito brasileiro, há três tipos de costume: 
a) Contra Legem: é a hipótese de costume “contra a lei”, que implicam num descumprimento da 
lei, é caso de ato ilícito. O direito brasileiro não admite costumes desse tipo, a não ser que a 
lei contrariada tenha caído em desuso. 
b) Secundum Legem: é a hipótese em que a lei brasileira determina a aplicação dos costumes, Ex. 
Art. 445, § 2º do CC10, é caso de aplicação da própria lei, ou seja, não há integração, mas sim 
subsunção. 
c) Praeter Legem: é a hipótese de inexistência da norma reguladora nem de casos análogos em que 
o juiz terá de se valer efetivamente dos costumes para julga o caso concreto. Esse é o tipo 
específico da integração do direito. Exemplo: cheque pós-datado – S. 370 STJ: “Caracteriza dano 
moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado”. 
5.3. Princípios Gerais de Direitos: 
Princípios Gerais do Direito são regramentos básicos aplicáveis a determinado instituto jurídico e que 
são abstraídos das normas, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais 
(Rubens Lmongi Frana). 
 
9 Exemplo: regra: “aqui não podem circular os camelos amarelos”: Aplicar a regra a camelos marrons: 
interpretação extensiva. Aplicar a regra a dromedários: analogia. 
10 “§ 2º: Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão estabelecidos em lei especial, 
ou, na falta dessa, pelos usos locais(...)” 
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16 
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Pelo conceito acima é possível observar que os princípios podem ou não estar expressos nas normas 
jurídicas. Ex. Função social do contrato: expresso no Código Civil (art. 421) e implícito ao CDC. 
Segundo Paulo Bonavides, com a Constituição de 1988 os antigos princípios gerais do Direito 
ganharam status constitucional, tendo prioridade de aplicação. Eles passaram a ser aplicados mesmo 
havendo lei para o caso concreto. 
Observa-se que os princípios, segundo o Nelson Nery, podem ser divididos em duas grandes 
categorias: 
a) Princípios Fundamentais: Que tem força normativa, vinculativa, essa força normativa se 
apresentam uma vez que os princípios dessa espécie decorrem de normas escritas, porém de 
conteúdo aberto, Ex. Presunção de inocência, presunção de hipossuficiência, pluralidade das 
famílias, boa fé objetiva. 
b) Informativos/Gerais: São os “postulados” na lição de Humberto Ávila, são apenas três, a. Não lesar 
a ninguém; b. Viver honestamente; c. Dar a cada um o que é seu; Não tem força normativa, seria 
um “critério de desempate”. 
6. Interpretação da norma: Art. 5º LINDB 
Interpretar é definir o seu sentido e o seu alcance, assim, toda a aplicação de norma deve ser precedida 
de uma interpretação. 
Ainda que a lei seja clara ela deverá ser interpretada, justamente para que se conclua pela sua clareza. 
Nesse sentido, a LINDB estabelece no Art. 5º um “caminho” para que a norma seja devidamente 
interpretada. 
Art. 5o: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem 
comum”. 
Assim, é possível afirmar sem dúvida que a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro adotou 
uma interpretação sociológica, consagrada na expressão “fins sociais a que se dirige a norma” posição 
adotada, inclusive, pelo STJ11 . 
Quanto ao resultado, a interpretação da lei pode conduzir a um: 
a. Resultado Ampliativo: é o caso de interpretação de direitos fundamentais e sociais, pois eles 
necessitam um alargamento de seu alcance; 
b. Resultado Restritivo: é o caso das normas sancionatórias, ex. claro Art. 114 do CC12. 
 
11 A finalidade social a que se dirige a norma jurídica (STJ, REsp.41.110/SP). 
12 “Art. 114: Os negócios jurídicos benéficos e a renuncia interpretam-se restritivamente.” 
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17 
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c. Resultado Declarativo: é o caso das normas em relação do direito administrativo, uma vez que 
vigora para elas o princípio da legalidade. 
6.1.1. Desacordos morais razoáveis13: 
Não se pode invocar tais desacordos para diminuir ou excluir direitos fundamentais das minorias. 
A posição do STF tem sido no sentido proteger as minorias contra os desacordos morais. Ex. ADPF 
54/DF, permitiu o aborto do feto encefálico, mesmo que a posição majoritária fosse contra às minorias; 
7.Aplicação da norma no tempo: Art. 6º LINDB 
O direito brasileiro acolhe expressamente o princípio da irretroatividadeda lei, ou seja, a lei nova se 
destina em regra, aos fatos pendentes e futuros, não se aplicando aos fatos pretéritos. 
Dessa forma, a irretroatividade é regra e retroatividade é exceção. 
Entretanto, a lei nova poderá prever desde que expressamente, efeitos retroativos, porém tal efeito 
não pode ser considerado absolutamente, vez que encontra limites estabelecidos na LINDB, quais sejam, 
respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e a coisa julgada. 
Art. 6º: “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como 
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de 
outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.” 
O ato jurídico perfeito é aquele em que os efeitos jurídicos já se exauriram, uma manifestação de 
vontade lícita e consolidada 
O direito adquirido é aquele que já se incorporou ao patrimônio do titular, assim, não há direito 
adquirido em matérias existenciais. Obs.: O STF entende que não se pode alegar direito adquirido em face 
do poder constituinte seja originário ou derivado. 
A coisa julgada é a qualidade que reveste os efeitos de uma decisão judicial contra a qual já não cabe 
mais recurso. 
Obs.: é de se ressaltar que proteção desses institutos pode ser mitigada, o seja não são absolutas. Ex. 
O STJ (REsp.226.436/PR) tem decidido pela flexibilização da coisa julgada em ações que discutem filiação. 
 
13 STF, RE 845.779/SC, rel. Min. Luís Roberto Barroso: Reconhece o direito de indenização de um transexual que foi retirado 
de um banheiro feminino num shopping, está em vista para o Min. Luiz Fux, que estuda a aplicação da teoria do desacordo moral 
razoável. 
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A partir desses conceitos, pode-se afirmar que o direito adquirido é o mais amplo de todos, englobando 
os demais, uma vez que tanto no ato jurídico perfeito quanto na coisa julgada existiriam direitos dessa 
natureza, já consolidados. Em complemento, a coisa julgada também deve ser considerada um ato jurídico 
perfeito, sendo o conceito mais restrito. Tal convicção pode ser concebida pelo desenho a seguir: 
14 
7.1. Relações jurídicas continuativas: 
São aquelas que derivam de atos jurídicos que se protraem no tempo, Ex. Casamento. 
Sobre a matéria, o tratamento é dado pelo Art. 2.035 do CC: 
art. 2.035: “A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste 
Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após 
a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes 
determinada forma de execução.” 
Assim, há que se observar em relação à existência e à validade nessas relações jurídicas, se aplica 
a norma do tempo da celebração, já em relação à eficácia, a norma aplicada é aquela que esta atualmente 
em vigor. Ex. Casamento em 1992, se aplica para verificar se o casamento é existente ou válido, observa-se 
o CC/16, mas em relação aos efeitos (p. ex. regime de bens), observa-se o CC/02. 
7.2. Ultratividade da norma 
É a possibilidade de aplicação de uma lei já revogada, mesmo depois de sua revogação. 
 
14 Tartuce, Flávio Manual de direito civil : volume único / Flávio Tartuce. – 8. ed. rev, atual. e ampl. – 
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. 
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É de se observar que no direito penal, a freqüência desse fenômeno é maior, uma vez que acontece em 
casos benéficos ao réu e em casos de leis temporárias ou excepcionais, entretanto, no direito civil, há poucos 
casos em que isso acontece. 
Para o direito civil, para que uma norma seja ultrativa, deverá haver expressa autorização legal. 
Ex. clássico, Art. 1.784, prevê o “principio da Saisine” ou seja a norma que regula a sucessão é aquela vigente 
no tempo da sua abertura, que coincide com o tempo da morte do de cujus, o que é corroborado pela Súmula 
112 do STF.15 
8. Aplicação da norma no espaço: 
A premissa básica para a aplicação da norma no estado é o princípio da territorialidade, ou seja, no 
território brasileiro, em regra, aplica-se a lei do Brasil, conssagrando a nossa soberania. Entretanto, em 
alguns casos excepcionais, pode-se aplicar leis estrangeiras. 
Por isso, concluí-se que o Brasil adota o princípio da territorialidade mitigada. 
Obs.: é possível inclusive que se aplique a lei brasileira no estrangeiro, p. ex. Art. 18, §§ 1º e 2º da 
LINDB16. 
É possível também a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro, nos casos do chamado 
estatuto pessoal, que nada mais é do que a lei do domicílio da pessoa, aplicada no Brasil. É o típico 
caso do Art. 7º da LINDB: 
Art. 7º “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
Assim com relação ao nome, direitos da personalidade, a capacidade e os direitos de 
família, aplica-se a lei do domicilio da pessoa, ainda que ela esteja no Brasil. Ex As regras do casamento 
serão as regras da Alemanha, se a pessoa for casada e domiciliada lá, ainda que esteja residindo aqui no 
Brasil. 
É de se observar que a aplicação do estatuto pessoal não é absoluta, pois sofre limitação pela 
soberania brasileira, ou seja, há um controle de legalidade ou “filtragem constitucional” em relação às 
 
15 STF 112: “O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.” 
16 Art. 18, §§1º e 2º: as autoridades consulares podem celebrar separação e divórcio de brasileiros no estrangeiro, sem 
interesse de incapazes e dês que assistidas por advogado e de modo consensual. 
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matérias do “estatuto pessoal”. Dessa forma, não se aplicará uma lei estrangeira no Brasil se esta violar a 
soberania nacional. 
Para além dessas quatro hipóteses, Nome, Direitos da Personalidade, Capacidade de Direito de 
família, aplica-se o “estatuto pessoal” em a: 
 Bens Imóveis: Lei do local onde estão situados; 
 Bens Móveis e Penhor: Lei do domicílio do titular 
 Contratos Internacionais: Lei da residência do proponente, salvo disposição em contrário 
 Sucessão17: Se os bens estiverem no Brasil e pertencentes à um estrangeiro  Lei mais 
favorável ao herdeiro brasileiro; 
 
É importante lembrar que a carta rogatória, o laudo arbitral e a sentença jurídica estrangeira podem 
ser homologados no Brasil para seu devido cumprimento, respeitados os requisitos: 
i. Prova do trânsito em julgado (STF 420)18; 
ii. Compatibilidade com o ordenamento interno; 
iii. Cumprimento das formalidades legais (CPC 483-4). 
Satisfeitos os requisitos o STJ expede o seu exequatur, e uma vez homologada, a execução ficará 
a cargo de um juiz federal de 1º instância, nos termos do Art. 109, X da CF. 
DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 
1. Introdução 
Na vigência do Código Civil de 1916, inspirado no liberalismo econômico que vigia há época, buscava-
se a tutela do patrimônio do indivíduo. O objetivo do CC de 1916 era criar instrumentos jurídicos para 
permitir que o indivíduo acumulasse riqueza e formasse o seu patrimônio, o que era feito através da 
celebração de contratos. Por tal razão, garantia-se ao indivíduo uma liberdade de contratar absoluta, porque 
entendia-se que, quantomais liberdade o indivíduo tivesse, mais potencialidade ele teria sobre suas mãos 
de acumular riqueza e formar seu patrimônio. 
Essa visão do CC de 1916 não poderia ser diferente, já que ele era reflexo do Código Napoleônico, que 
foi emanado pós-revolução francesa. No final da revolução francesa, foi o momento em que a burguesia se 
ascendeu ao poder, e o objetivo da burguesia era justamente acumular patrimônio e formar riqueza. Por tal 
razão, entendia-se que quanto menos o Estado intervisse nas relações privadas mais o indivíduo acumularia 
riqueza para formar o seu patrimônio. 
 
17 A aplicação da lei brasileira será sempre feita por um juiz brasileiro nos termos do Art. 23 do NCPC, apenas a 
lei aplicável ao caso será a lei estrangeira. 
18 STF 420: “Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.” 
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21 
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Todavia, no Século XX, pós Segunda Guerra mundial, a sociedade sentiu a necessidade de ter 
constituições humanistas, solidaristas, que buscassem proteger o ser humano em face do Estado. O fim da 
segunda guerra mundial marca o término do regime nazista, o término do regime fascista, onde diversos 
direitos dos seres humanos foram afrontados. O advento dessas novas constituições (humanistas e 
solidaristas), exigiu-se uma reconstrução do direito privado. 
O direito privado que até então era individualista, patrimonialista e voluntarista mostrava-se em 
confronto com os valores humanistas e solidaristas consagrados pelas constituições da Europa Ocidental. 
Se foi o fim da segunda guerra mundial, na Europa ocidental, que fez nascer novas constituições, no 
Brasil, por sua vez, foi o término do período da ditadura militar. Com o término do período da ditadura 
militar, adveio a Constituição de 1988, que é uma Constituição democrática que trouxe como núcleo de 
proteção jurídica o ser humano. 
Ela trouxe como objetivo fundamental, tal como previsto no seu art. 3º, promover o bem de todos, 
sem distinção de raça, cor, sexo, nacionalidade etc.; reduzir as desigualdades sociais e regionais; construir 
uma sociedade livre, justa e solidária. Portanto, a Constituição de 1988 trouxe como valor social a ser 
resguardado o ser humano, a igualdade e a solidariedade. 
É fato que o Código Civil estava em conflito com a CF de 1988 uma vez que regida por esses novos 
valores. Por exemplo: a Constituição, no seu art. 226, §3º, previa uma igualdade entre o homem e a mulher. 
Já o CC de 1916, colocava o homem como chefe da família. A Constituição, no art. 226, §5º, reconhecia a 
união estável como entidade familiar. Já o CC de 1916, que sequer mencionava a união estável, só reconhecia 
o casamento como uma entidade familiar. A Constituição, no ser art. 227, estabelecia uma igualdade jurídica 
entre os filhos havido dentro do casamento, os filhos havidos fora do casamento, como também os filhos 
advindos da adoção. O CC de 1916, por sua vez, só reconhecia os filhos advindos de dentro do casamento. 
Contudo, o advento da Constituição de 1988 e a sua força normativa exigiu uma reconstrução do 
direito privado, exigiu uma releitura do direito privado, instaurando-se, assim, o que a doutrina denominou 
de direito civil- onstitucional. 
Direito civil-constitucional nada mais é do que uma releitura dos institutos do direito 
privado à luz dos valores consagrados na Constituição. Passou-se a não mais conceber uma 
relação jurídica privada, um Código Civil, institutos de direitos privados, que não fossem reformulados à 
luz dos valores consagrados na Constituição. 
Sob o advento da Constituição de 1988, inaugurou-se um novo Código Civil, qual seja o Código Civil 
de 2002. Pensou-se, então, que, com o advento do CC de 2002, estava formalizado/concretizado o direito 
civil- constitucional, porque era o momento oportuno de o legislador inserir, efetivamente, dentro do Código 
Civil, os valores consagrados na Constituição. De fato, o legislador tentou, notadamente, ao regular os 
direitos da personalidade, porque, no CC de 1916, sequer havia direitos da personalidade. Os direitos da 
personalidade passaram a surgir com o advento da Constituição. Assim, neste ponto, o Código Civil de 2002 
avançou e trouxe a regulação dos direitos da personalidade. Mas, de acordo com a doutrina, o legislador foi 
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tímido, o que não aconteceu sem motivo, porque, apesar de ser o CC de 2002, o projeto era de 1970, período 
da ditadura militar. Portanto, o legislador não tinha como avançar tanto, já que em 1970 sequer havia a 
Constituição de 1988. 
Por tal razão, hoje, compete ao interprete, tanto do Código Civil quanto da Constituição, 
fazer essa inserção contínua dos valores constitucionais dentro das relações privadas. 
Não á toa que o STF, na ADPF 132 e na ADI 4277, trouxe a igualação jurídica da relação homoafetiva. 
Poderia ter o CC de 2002 reconhecido a relação jurídica entre pessoas do mesmo sexo, mas não o fez. Coube 
ao interprete fazê- lo. Em outro momento, o STF acabou com a distinção existente, no Código Civil, entre o 
regime sucessório do casamento e o regime sucessório da união estável, declarando a inconstitucionalidade 
do art. 1790 do CC, que era dissonante do art. 1829. Ora, se a Constituição reconhece os vários tipos de 
entidades familiares, não se pode ter um regime sucessório para o casamento e um regime sucessório diverso 
para a união estável. Nota-se, com análise de tais casos, o quão importante é a figura do interprete na 
concretização do direito civil constitucional. 
2. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais 
Os interpretes da Constituição elegeram como forma de inserir os valores constitucionais dentro das 
relações privadas a eficácia horizontal dos direitos fundamentais 
Assim, em última análise, a eficácia horizontal trata-se da aplicação direita dos direitos fundamentais 
às relações privadas. 
Como visto, a Constituição, por sua força normativa, tem todos os seus preceitos aplicáveis às relações 
privadas, exigindo uma releitura do direito privado. 
Os direitos fundamentais não se aplicam apenas nas relações entre o particular e o Estado (relação 
vertical). Os direitos fundamentais, como fruto do próprio art. 5º, §3º, da Constituição têm aplicação 
direta às relações privadas. 
Percebe-se que o direito privado é marcado, notadamente, por um princípio que era chamado de 
autonomia da vontade. A autonomia da vontade nada mais é do que o poder que o ordenamento jurídico 
outorgava ao indivíduo para manifestar a sua vontade na busca e satisfação de um interesse próprio, 
privado, particular, livre de qualquer ingerência estatal, justamente, porque o objetivo era permitir que o 
indivíduo manifestasse seu interesse privado e se relacionasse com outras pessoas, formando o seu 
patrimônio. 
Com o advento da Constituição de 1988, com o advento da sua força normativa, é óbvio 
que, para garantir que os valores constitucionais fossem preservados nas relações 
privadas, precisou o Estado intervir nas relações privadas, estabelecendo limites ao 
exercício da autonomia da vontade. 
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O fato de o Estado estabelecer limites ao exercício da autonomia da vontade, a Constituição de 1988, 
provocou uma releitura do princípio da autonomia da vontade, passando a ser denominado de autonomia 
privada. Portanto, modernamente é tecnicamente é incorreta a expressão “autonomia da vontade”. 
Assim, a autonomia privada é o poder que o ordenamento jurídico outorga ao indivíduo 
para manifestar a sua vontade na busca, satisfação, de um interesse próprio, privado, 
particular, respeitadas as limitações impostas pelo ordenamento jurídico. 
Importante observar que tais limitações não existiam durante o períododa autonomia da vontade. 
Elas passaram a existir com o advento da Constituição de 1988, tanto que o princípio ganhou um novo nome, 
que é princípio da autonomia privada. 
Essas limitações são a obediência aos preceitos constitucionais, notadamente, limitações impostas 
fruto da aplicação direita dos direitos fundamentais às relações privadas. 
Ex.: O STF estabeleceu que não era permitido aos membros integrantes de uma pessoa jurídica de 
direito privado, excluir qualquer um de seus membros sem que lhe outorgasse o direito ao contraditório e à 
ampla defesa. Hoje, o exercício da autonomia privada sofre restrições, uma dessas restrições é a aplicação 
direta dos direitos fundamentais. 
A partir desse julgado, ficou o ordenamento jurídico em estado de alerta no sentido de que os direitos 
fundamentais não são oponíveis apenas em face do Estado, mas também em face dos particulares19. 
DAS PESSOAS NATURAIS 
1. Conceito de personalidade jurídica 
Personalidade jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita 
do direito. Ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito: 
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
A primeira parte do Código Civil é estática. Esse conceito é um conceito estático fundamental, técnico-
jurídico. Pode haver outros, em outros âmbitos do conhecimento. 
2. Pessoa Física ou Natural20 
Teixeira de Freitas chamava pessoa física ou natural de “ente de existência visível”. 
 
19 (RE 201819, Relator (a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda 
Turma, julgado em 11/10/2005, DJ 27-10-2006 PP-00064 EMENT VOL-02253-04 PP-00577 RTJ VOL-00209-02 PP-
00821) 
20 Em provas de Direito Civil empregar a expressão “pessoa natural” ou “pessoa humana” (CF, art. 1º, III) - não empregar 
“pessoa física” (expressão mais ligada ao Direito Tributário ou Direito Bancário) ou “homem” (utilizada pelo CC/16). 
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Um dos problemas mais difíceis do Direito Civil brasileiro é determinar em que momento a pessoa 
física ou natural adquire personalidade jurídica. Aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte 
do art. 2º do Código Civil: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. 
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a 
concepção, os direitos do nascituro. 
Todavia, a própria concepção de “nascimento com vida” já inspira cuidados, devendo ser entendida 
como o funcionamento do aparelho cardiorespiratório do recém-nascido, independentemente da sua 
aparência física, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana21. 
3. Natureza jurídica do nascituro e teorias explicativas 
A segunda parte do art. 2º determina que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com 
vida, “mas a lei põe a salvo os direitos do nascituro”. Trata-se de uma das mais instigantes contradições em 
uma lei, na medida em que só é sujeito de direito quem possui personalidade (Caio Mário), mas mesmo 
assim a lei fala em direito. O nascituro teria ou não personalidade jurídica? 
Segundo Limongi França, o nascituro é aquele ente já concebido, com vida intrauterina, mas ainda 
não nascido. Ou seja, é um embrião, mas com vida intrauterina. Os embriões de laboratório não são 
nascituros. 
Não devem ser confundidos os conceitos de nascituro, natimorto e concepturo. O natimorto é aquele 
nascido morto e que, nos termos do Enunciado 1 da I Jornada de Direito Civil, gozaria de proteção quanto 
ao nome, imagem e sepultura. 
Enunciado 1 - Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos 
direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. 
O concepturo é também chamado de prole eventual. Trata-se daquele que ainda nem foi concebido 
(art. 1.799, I, do Código Civil): 
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: 
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a 
sucessão; (...) 
A questão atinente à personalidade jurídica do nascituro é altamente controvertida na doutrina, 
havendo três teorias explicativas fundamentais: teoria natalista, teoria da personalidade condicional e teoria 
concepcionista. 
3.1. Teoria Natalista 
 
21 Em sentido contrário, o art. 30 do Código Civil da Espanha, antes da Lei nº 20, de 21 de julho de 2011, exigia forma humana 
e tempo mínimo de sobrevivência de 24 horas. 
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Sustentada por grande parte da doutrina brasileira (Silvio Venosa, Silvio Rodrigues, Vicente Ráo), a 
teoria natalista aponta no sentido de que a personalidade jurídica somente é adquirida a partir 
do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não deve tecnicamente ser 
considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. 
Há, é claro, natalistas mais ou menos radicais. Esse conceito é o mais extremo da teoria (“o nascituro 
é coisa”). 
A leitura da ementa da ADI 3510, referente ao julgamento da Lei de Biossegurança, reforça a teoria 
natalista, sustentada pelo Ministro Relator. Na verdade, a teoria é a mais interessante para justificar a 
possibilidade de realização de experimentos em embriões de laboratório. Todavia, esta matéria ainda não 
está pacificada. Há vários julgados que defendem a teoria concepcionista. 
3.2. Teoria da Personalidade Condicional 
Para a teoria da personalidade condicional, o nascituro gozaria de direitos personalíssimos desde a 
concepção, mas somente consolidaria a sua personalidade para efeitos patrimoniais sob a condição 
(suspensiva) de nascer com vida. Alguns se referem a ela como Teoria da Personalidade Formal. 
Não é uma teoria muito original, na medida em que englobada pela terceira. É “pouco corajosa”, na 
medida em que considera a personalidade somente para determinados casos (cinge a personalidade 
somente para direitos personalíssimos). 
Como entusiastas desse posicionamento, podem ser citados Washington de Barros Monteiro, Miguel 
Maria de Serpa Lopes Na doutrina atual, Arnaldo Rizzardo segue o entendimento da teoria da personalidade 
condicional. 
3.3. Teoria Concepcionista 
A teoria concepcionista é defendida desde Teixeira de Freitas, passando por Clóvis Beviláqua, Maria 
Helena Diniz e chegando a modernos autores como Silmara Chinelato, Pablo Stolze, Cristiano Chaves, 
Neslson Rosenvald e Flávio Tartuce. Sustenta que o nascituro teria personalidade jurídica desde 
a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. A jurisprudência ainda não reconhece todos esses 
efeitos, como o de a mãe herdar, no caso de o nascituro não nascer com vida. 
Para efeito de concurso público, não existe uma resposta única. Deve-se checar a posição do 
examinador. Essa questão é aberta e não deve cair em prova objetiva. Com o julgamento da Lei de 
Biossegurança, a teoria natalista ganhou força, mas não há consenso na doutrina. 
Em conclusão, observa-se que a temática pertinente à natureza jurídica do nascituro é altamente 
controvertida, parecendo ser ainda muito atual o pensamento de Clóvis Beviláqua22, segundo o qual: 
“aparentemente o codificador adota a teoria natalista por ser mais prática, mas em diversos pontos 
experimenta a influência concepcionista, reconhecendo ao nascituro direitos, como se fosse uma pessoa”. 
 
22 “Comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil”, Ed. Rio, 1975, p. 178. 
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O nascituro, segundo alguns julgados no Brasil, que reforçaram a Lei 11.804/2008, teria direito aos 
alimentos (alimentos gravídicos). Pablo Stolze discorda da posição quesustenta a legitimidade da mãe para 
o ajuizamento da ação, que seria titular do direito aos alimentos, na medida em que o que justifica os 
alimentos é justamente a presença do nascituro. 
Vale observar, ainda, que para além da doutrina contemporânea, a teoria concepcionista tem 
prevalecido junto ao Tribunal Cidadão23. 
4. Capacidade de direito e de fato 
Quando se fala em capacidade, dois conceitos devem ser devidamente enfrentados: a capacidade de 
direito e a capacidade de fato. 
A capacidade de direito (ou de gozo) é uma capacidade genérica, que qualquer pessoa tem (o nascituro, 
na linha concepcionista, teria também capacidade de direito), ao passo que a capacidade de fato traduz a 
aptidão para, pessoalmente, praticar atos da vida civil, o que nem toda pessoa tem, diante das situações de 
incapacidade absoluta ou relativa (artigos 3o e 4o do Código Civil). 
Na linha de pensamento de Orlando Gomes, hoje a noção de capacidade de direito se confunde com a 
de personalidade. Quando uma pessoa reúne as duas formas de capacidade (normalmente quando atinge a 
maioridade civil), diz-se que ela possui capacidade civil plena. 
Segundo Tartucce, capacidade de direito/gozo (sujeito de direitos e deveres) + capacidade de 
fato/exercício (para exercer) = capacidade civil plena. 
4.1. Conceitos correlatos à capacidade: 
Importante que não se confunda a noção de capacidade com o conceito de legitimidade. No dizer de 
Calmon de Passos, a legitimidade / legitimação traduziria a pertinência subjetiva para a prática de 
determinado ato. Ou seja, uma pessoa pode ser plenamente capaz, mas faltar-lhe legitimidade para a prática 
de um ato específico (ex.: dois irmãos, maiores e capazes, não têm legitimidade para casar entre si, nos 
termos do art. 1521, IV, do Código Civil24). 
Segundo Tartuce, “o próprio legislador utiliza os termos legitimação25 e legitimidade como sinônimos. 
Exemplificando, o art. 12, parágrafo único, do CC/2002, trata dos legitimados processualmente para as 
 
23 (...) atualmente há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, 
dos quais o direito à vida é o mais importante, uma vez que garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou 
mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito 
à vida, que é direito pressuposto a todos os demais. Portanto, o aborto causado pelo acidente de trânsito subsume-se 
ao comando normativo do art. 3.º da Lei 6.194/1974, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, 
ou o perecimento de uma vida intrauterina” (STJ, REsp 1.415.727/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 04.09.2014). 
24 Art. 1.521. Não podem casar: (...) IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
25 Para o autor, legitimidade pode ser conceituada também como “a capacidade processual, uma das condições 
da ação (art. 3.º do CPC/1973, repetido parcialmente pelo art. 17 do CPC/2015)”. 
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medidas de tutela dos interesses do morto, fazendo uso do termo legitimação. O certo seria mencionar a 
legitimidade.”. 
Finalmente, é necessário atenção ao conceito de personalidade, que é é a soma de caracteres da pessoa, 
ou seja, aquilo que ela é para si e para a sociedade. 
Segundo Tartuce, capacidade e personalidade se diferenciam na medida em que a capacidade é a 
medida da personalidade, ou seja, “a personalidade é um quid (substância, essência) e a capacidade 
um quantum”. 
5. Teoria das incapacidades – Arts. 3º e 4º do CC 
Os incapazes sempre estiveram tratados nos arts. 3.º e 4.º do CC/2002 até as mudanças inseridas pela 
Lei 13.146/2015. 
O EPD regulamenta a Convenção de Nova Iorque, a qual é um tratado de direitos humanos que tem 
força de emenda à Constituição (CF, art. 5º, § 3º). 
A Convenção estabeleceu premissas fundamentais, são elas: 
 ) Igualdade. 
a) Inclusão com autonomia. 
b) Vedação da discriminação. 
Assim, observa-se que o objetivo da alteração legislativa foi a plena inclusão da pessoa com algum tipo 
de deficiência, tutelando a sua dignidade humana. Deixa-se de lado, assim, a proteção de tais pessoas como 
vulneráveis, o que era retirado do sistema anterior. Em outras palavras, a dignidade-liberdade substitui a 
dignidade- vulnerabilidade. 
A pessoa com deficiêcica nesses casos passa a ser capaz para o Direito Civi, de modo que para os atos 
existenciais e familiares sempre haverá capacidade plena, nesse contexto, merece destaque o art. 6.º da Lei 
13.146/2015, segundo o qual a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: a) 
casar-se e constituir união estável; b) exercer direitos sexuais e reprodutivos; c) exercer o direito de decidir 
sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; 
d) conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; e) exercer o direito à família e à 
convivência familiar e comunitária; e f) exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como 
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. 
Ademais, o art. 84 do Estatuto da Pessoa com Deficiência, também em prol da inclusão comdignidade- 
liberdade, estabelece que a pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade 
legal em igualdade de condições com as demais pessoas. Eventualmente, quando necessário, a pessoa com 
deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. 
Assim, podem existir limitações para os atos patrimoniais, e não, como visto, para os existenciais, que 
visam a promoção da pessoa humana. 
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Podendo-se concluir que a regra passa a ser a tomada de decisão apoiada para esses atos, 
um procedimento judicial em que a própria pessoa com deficiência, por sua iniciativa, indica apoiadores 
para auxiliá-la no ato (duas pessoas idôneas). 
De modo que somente em casos excepcionais caberá a ação de restrição para atos patrimoniais. No 
direito posto, que está em vigor, a ação adotada seria a de interdição relativa 26(CPC). 
5.1. Incapacidade absoluta 
Como exposto, os únicos absolutamente incapazes previstos no Código Civil a partir da vigência do 
Estatuto da Pessoa com Deficiência são os menores de 16 anos, denominados menores impúberes. Leva-se 
em conta o critério etário, não havendo necessidade de qualquer processo de interdição ou de nomeação de 
um curador (presunção absoluta de incapacidade). 
Assim, não existem mais maiores de idade que sejam absolutamente incapazes. 
Conforme será visto mais a frente, os menores impúberes podem praticar atos de menor 
complexidade, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto (Enunciado n. 138 – 3ª 
Jornada27), são os chamados “atos fatos jurídicos”. 
5.2. Incapacidade relativa 
A incapacidade relativa está prevista no art. 4º do Código Civil: 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, 
de 2015) (Vigência) 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada 
pela Lei nº 13.146, de 2015) 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 
13.146, de 2015) 
Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos são os chamados menores púberes, para esses, o 
Código adota um critério etário de incapacidade relativa sem necessidade de ação específica – não há ação 
de interdição de menor de idade. 
O menor púbere pode praticar atos civis mais complexos

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