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1 -KARL MARX- O CAPITAL (CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA) LIVRO 1: O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CAPITAL (Primeira Edição em alemão, Londres, 1867) Civilização Brasileira, 6ª edição; Rio de Janeiro, 1980. Traduzido por Reginaldo Sant’Anna da Quarta edição (publicada em 1890). Resumo de Carlos Montaño (1999) S u m á r i o VOLUME I PARTE PRIMEIRA: Mercadoria e dinheiro I. A MERCADORIA 1. Os dois fatores da mercadoria: valor-de-uso e valor (substância e quantidade do valor) 2. O duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria 3. A forma do valor ou valor-de-troca 4. O fetichismo da mercadoria: seu segredo II. O PROCESSO DE TROCA III. O DINHEIRO OU A CIRCULAÇÃO DAS MERCADORIAS 1. Medida dos valores 2. Meio de circulação 3. O dinheiro PARTE SEGUNDA: A transformação do dinheiro em capital IV. COMO O DINHEIRO SE TRANSFORMA EM CAPITAL 1. A fórmula geral do capital 2. Contradições da fórmula geral 3. Compra e venda da força de trabalho PARTE TERCEIRA: A produção de mais valia absoluta V. PROCESSO DE TRABALHO E PROCESSO DE PRODUZIR MAIS VALIA 1. O processo de trabalho ou o processo de produzir valores-de-uso 2 2. O processo de produzir mais valia VI. CAPITAL CONSTANTE E CAPITAL VARIÁVEL VII. A TAXA DE MAIS VALIA 1. O grau de exploração da força de trabalho 2. O valor do produto expresso em partes proporcionais do produto 3. A “última hora” do Senior 4. O produto excedente VIII. A JORNADA DE TRABALHO 1. Os limites da jornada de trabalho 2. A avidez por trabalho excedente. O fabricante e o boiardo 3. Ramos industriais ingleses onde não há limites legais à exploração 4. Trabalho diurno e noturno. Sistema de revezamento 5. A luta pela jornada normal de trabalho. Leis que prolongam compulsóriamente a jornada de trabalho, da metade do século XIV ao fim do século XVII 6. A luta pela jornada normal de trabalho. Limitação legal do tempo de trabalho. A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 7. A luta pela jornada normal de trabalho. Repercussões da legislação fabril inglesa nos outros países IX. TAXA E MASSA DA MAIS VALIA PARTE QUARTA: A produção da mais valia relativa X. CONCEITO DE MAIS VALIA RELATIVA XI. COOPERAÇÃO XII. DIVISÃO DO TRABALHO E MANUFATURA 1. Dupla origem da manufatura 2. O trabalhador parcial e sua ferramenta 3. As duas formas fundamentais da manufatura: manufatura heterogênea e manufatura orgânica 4. Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade 5. Caráter capitalista da manufatura XIII. A MAQUINARIA E A INDÚSTRIA MODERNA 1. Desenvolvimento da maquinaria 2. Valor que a maquinaria transfere ao produto 3. Conseqüências imediatas da produção mecanizada sobre o trabalhador 4. A fábrica 5. Luta entre o trabalhador e a máquina 6. A teoria da compensação para os trabalhadores desempregados pela máquina 7. Repulsão e atração dos trabalhadores pela fábrica. Crises da indústria têxtil moderna algodoeira 8. Revolução que a indústria moderna realiza na manufatura, no artesanato e no trabalho a domicílio 9. Legislação fabril inglesa, suas disposições relativas à higiene e à educação, e sua generalização a toda produção social 10. Indústria moderna e agricultura VOLUME II PARTE QUINTA: Produção da mais valia absoluta e da mais valia relativa XIV. MAIS VALIA ABSOLUTA E MAIS VALIA RELATIVA XV. VARIAÇÕES QUANTITATIVAS NO PREÇO DA FORÇA DE TRABALHO E NA MAIS VALIA 1. Duração e intensidade do trabalho, constantes; produtividade do trabalho, variável 2. Duração e produtividade do trabalho, constantes; intensidade do trabalho, variável 3 3. Produtividade e intensidade do trabalho, constantes; duração do trabalho, variável 4. A duração, a produtividade e a intensidade do trabalho variam simultaneamente XVI. DIVERSAS FÓRMULAS DA TAXA DE MAIS VALIA PARTE SEXTA: O salário XVII. TRANSFORMAÇÃO DO VALOR OU DO PREÇO DA FORÇA DE TRABALHO EM SALÁRIO XVIII. O SALÁRIO POR TEMPO XIX. SALÁRIO POR PEÇA XX. DIVERSIDADE ENTRE OS SALÁRIOS DAS NAÇÕES PARTE SÉTIMA: Acumulação do capital XXI. REPRODUÇÃO SIMPLES XXII. TRANSFORMAÇÃO DA MAIS VALIA EM CAPITAL 1. A reprodução ampliada. Transmutação do direito de propriedade da produção mercantil em direito de propriedade capitalista 2. Concepção errônea da economia política sobre a reprodução ampliada 3. Divisão da mais valia em capital e renda. Teoria da abstinência 4. Circunstâncias que determinam o montante da acumulação, independentemente da divisão proporcional da mais valia em capital e renda: grau de exploração da força de trabalho; produtividade do trabalho; diferença crescente entre capital empregado e consumido; grandeza do capital adiantado 5. O pretenso fundo do trabalho XXIII. A LEI GERAL DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA 1. Não se alterando a composição do capital, a procura da força de trabalho aumenta com a acumulação 2. Decréscimo relativo da parte variável do capital com o progresso da acumulação e da concentração que a acompanha 3. Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou de um exército industrial de reserva 4. Formas de existência da superprodução relativa. A lei geral da acumulação capitalista 5. Ilustração da lei geral da acumulação capitalista XXIV. A CHAMADA ACUMULAÇÃO PRIMITIVA 1. O segredo da acumulação primitiva 2. Expropriação dos camponeses 3. Legislação sanguinária contra os expropriados, a partir do século XV. Leis para rebaixar os salários 4. Gênese do arrendatário capitalista 5. Repercussões da revolução agrícola na indústria. Formação do mercado interno para o capital industrial 6. Gênese do capitalista industrial 7. Tendência histórica da acumulação capitalista XXV. TEORIA MODERNA DA COLONIZAÇÃO 4 - VOLUME I - PREFÁCIO DA 1ª EDIÇÃO ALEMÃ (LONDRES, 1867) “É mais fácil estudar o organismo, como um todo, do que suas células”. “A célula da sociedade burguesa é a forma mercadoria” (pg. 4). “A capacidade de abstração substitui” o microscópio ou os reagentes químicos, na análise das formas econômicas Como “o país mais desenvolvido não faz mais do que representar a imagem futura do menos desenvolvido”, este livro que trata do capitalismo inglês, também trata da realidade alemã (“a história é a teu respeito” disse Marx aos leitores alemães — “de te fabula narratur!”) (pg. 5). Assim, sendo que “o objetivo final desta obra é descobrir a lei econômica do movimento da sociedade moderna”, “não pode ela suprimir ... as fases naturais” de desenvolvimento das sociedades menos evoluídas, mas “ela pode encurtar e reduzir as dores do parto”. É que “uma nação deve e pode aprender de outra (pg. 5). “Aqui, as pessoas só interessam na medida em que representam categorias econômicas, em que simbolizam relações de classe e interesses de classe”; excluindo-se do processo histórico “a responsabilidade do indivíduo por relações, das quais ele” é criatura (pg. 6) Para os preconceitos da opinião pública, a máxima do grande Florentino: Segui il tuo corso, e lascia dir le genti! (Segue o teu rumo e não te importes com o que os outros digam!) (pg. 7). POSFÁCIO DA 2ª EDIÇÃO ALEMÃ (LONDRES, 1873) A Economia Política (Clássica) inglesa, pré-1830 “A economia política burguesa [que vê na ordem capitalista a configuração definitiva da produção social] só pode assumir caráter científico enquanto a luta de classes permaneça latente”. Na Inglaterra, a “economia política clássica aparece no 5 período em que a luta de classes não estava desenvolvida”, com Ricardo (quem já vê a oposição de interesses de classes entre o salário e o lucro) (pg. 10). Em 1825 “a indústria acabava de sair da infância”. Entre 1820 e 1830, dois fatores — um político (a contenda entre governos e feudos, agrupados na Santa Aliança, e as massas populares conduzidas pela burguesia) e um econômico (a disputa entre o capital industrial e a propriedade aristocráticada terra) — empurravam “a luta entre o capital e o trabalho para segundo plano” (pg. 11). A Economia Política (Vulgar), pós-1830/1848 “Com o ano de 1830, sobreveio a crise decisiva”; “a burguesia conquistara poder político, na França e na Inglaterra. Daí em diante, a luta de classes adquiriu, prática e teoricamente, formas mais definidas e ameaçadoras. Soou o dobre de finados da ciência econômica burguesa. Não interessava mais saber se este ou aquele teorema era verdadeiro ou não; mas importava saber o que, para o capital, era útil ou prejudicial ...”. “A investigação científica imparcial cedeu seu lugar à consciência deformada e às intenções perversas da apologética” (pg. 11). Aqueles que zelavam por sua reputação científica ... procuravam harmonizar a economia política do capital com reivindicações do proletariado. “Surge assim um oco sincretismo” com Stuart Mill. “É a declaração de falência da economia ‘burguesa’”. Se a crítica à economia política vulgar (apologética ou conciliadora) “representa a voz de uma classe, só pode ser a da classe cuja missão histórica é derrubar o modo de produção capitalista e abolir, finalmente, todas as classes : o proletariado” (pg. 12). Distinção entre método de exposição e método de pesquisa. A investigação tem de analisar as diferentes formas de desenvolvimento da matéria e a conexão íntima que há entre elas. A descrição (exposição) só é possível depois de concluído esse trabalho, espelhando no plano ideal o movimento do real. “Meu método dialético ... difere do método hegeliano”. Para Hegel, o processo do pensamento (idéia) é o criador do real. Para min, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado. (pg. 16). “Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É 6 necessário pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico”. POSFÁCIO DA 1ª EDIÇÃO FRANCESA (LONDRES, 1875) PREFÁCIO DA 3ª EDIÇÃO ALEMÃ (LONDRES, 1883) — Friedrich Engels Evitar o uso equivocado dos economistas alemães de chamar o empregador (aquele que, “mediante dinheiro [salário], extrai trabalho de outros”) de dador de trabalho; e o empregado (aquele de quem se extrai trabalho, mediante salário) de recebedor de trabalho (pg. 23). Modo de citar de Marx. Uma, quando se trata de informações e descrições. Outra quando se citam as asserções teóricas de outros economistas para mostrar onde, como e por quem foi pela primeira vez expresso um pensamento econômico (pg. 24). PREFÁCIO DA 1ª EDIÇÃO INGLESA (LONDRES, 1886) — Friedrich Engels Esclarecendo diferenças de expressões do senso comum e da economia política e em Marx. É que, “cada concepção nova de uma ciência acarreta uma revolução nos termos especializados dessa ciência”. Assim, “lucro e renda” não chega a atingir o conceito marxiano de mais-valia (frações da parte não paga ao trabalhador) (pg. 27). Impõe-se uma investigação da situação econômica da Inglaterra. “O funcionamento do sistema industrial da Inglaterra (impossível sem a permanente e rápida expansão da produção e, portanto, dos mercados) está emperrado. O livre-cambismo esgotou seus recursos ... A indústria estrangeira ... enfrenta a produção inglesa, por toda parte, em mercados defendidos por tarifas aduaneiras ... Enquanto a produtividade cresce em progressão geométrica, a expansão dos mercados, na melhor das hipóteses, se realiza numa progressão aritmética. O ciclo decenal de estagnação, prosperidade, superprodução e crise, que se repetiu sempre de 1825 a 1867, parece ter realmente chegado ao seu fim; mas para lançar-nos no lodaçal desesperante de uma depressão duradoura, crônica” (pgs. 28-9). 7 ... “na Europa, a Inglaterra é o único país onde a inevitável revolução social poderá realizar-se inteiramente por meios pacíficos e legais” (pg. 29). 8 P A R T E P R I M E I R A MERCADORIA E DINHEIRO CAP. I: A MERCADORIA 1. OS DOIS FATORES DA MERCADORIA: VALOR-DE-USO E VALOR (SUBSTÂNCIA E QUANTIDADE DO VALOR) (pgs. 41-48) A riqueza das sociedades capitalistas configura-se em “imensa acumulação de mercadorias”; e esta é a “forma elementar dessa riqueza”. “Por isso, nossa investigação começa com a análise da mercadoria”. A mercadoria é um objeto externo que satisfaz necessidades humanas; diretamente, como meio de subsistência, objeto de consumo; ou indiretamente, como meio de produção. A mercadoria tem duplo aspecto, segundo qualidade (diversas maneiras de usar as coisas) e quantidade (medidas de quantificação). a) Assim, a utilidade de uma coisa faz dela um valor-de-uso, o qual independe da quantidade de trabalho empregado para sua produção. O valor-de-uso só se realiza com a utilização ou o consumo. b) Mas os valores-de-uso são ao mesmo tempo veículos materiais do valor-de- troca. Este “revela-se na relação quantitativa entre valores-de-uso de espécies diferentes, na proporção em que se trocam” (proporção que varia no tempo/espaço). Assim, primeiro: os valores-de-troca da mesma mercadoria expressam um significado igual; segundo: o valor-de-troca é a forma de manifestação de uma substância que dele [do valor-de-troca] se pode distinguir. Se 1 quarter de trigo = n quintais de ferro; isto significa que as duas mercadorias tem algo em comum: elas são redutíveis, como valores-de-troca, a uma terceira que delas difere. Como valores-de-uso, as mercadorias são de qualidades diferentes. Como valores-de-troca, só diferem na quantidade. 9 Se prescindirmos do valor-de-uso de uma mercadoria, só lhe resta uma propriedade: a de ser produto do trabalho. Mas, ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, também desaparece o caráter útil dos trabalho neles corporificados (os trabalhos concretos), reduzindo-se a uma única espécie de trabalho (o trabalho abstrato). Os produtos passam apenas a representar a força de trabalho humana gasta em sua produção; desta forma são valores. Seu valor-de-troca revela-se independente de seu valor-de-uso. O que é comum na relação de permuta ou no valor-de-troca é o valor das mercadorias. Um valor-de-uso (ou um bem) só possui valor porque nele está corporificado, materializado, trabalho humano abstrato. Assim, medir a grandeza do seu valor é medir a quantidade de “substância criadora de valor” nele contida: o trabalho. A quantidade de trabalho mede-se pelo tempo de trabalho. Cada força individual de trabalho equipara-se às demais na medida em que possua o caráter de uma força média de trabalho social, precisando apenas de um tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma mercadoria. Tempo de trabalho socialmente necessário, é o tempo de trabalho requerido para produzir-se um valor-de-uso nas condições de produção socialmente normais. O que determina a grandeza do valor é portanto a quantidade de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário. Quanto maior a produtividade, menor o tempo de trabalho requerido; e quanto menor a quantidade de trabalho cristalizado na mercadoria, menor o seu valor. A grandeza do valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade, e na inversa da produtividade do trabalho. Assim: a substância do valor é o trabalho; a medida da sua magnitude é o tempo de trabalho. Uma coisa pode ser valor-de-uso, sem ser valor. Que define uma Mercadoria?: a) deve ser útil (satisfazer necessidades); b) deve ser produto do trabalho; c) deve satisfazer a necessidade de um terceiro, não a própria; 10 d) {deve chegar às mãos do terceiro através da toca} (Engels) 2. O DUPLO CARÁTER DO TRABALHO MATERIALIZADO NA MERCADORIA (pgs. 48-54) Trabalho útil é aquele que produz valores-de-uso. Os trabalhos que produzem valores-de-uso distintos são diferentes entre si: alfaiate, tecelão etc. Na medida em que não se trocam valores-de-uso idênticos,desenvolve-se a divisão social do trabalho. Como valores, diferentes mercadorias são coisas de igual substância. Ao retirar o caráter útil do trabalho, resta-lhe apenas ser um “dispêndio de força humana de trabalho”. O valor da mercadoria representa trabalho humano simplesmente. Por mais qualificado que seja o trabalho que gera a mercadoria, seu valor a equipara ao produto de trabalho simples, representando uma quantidade de trabalho simples. Ao considerar os valores de duas mercadorias diferentes põem-se de lado seus valores-de-uso. Analogamente, ao considerar os trabalhos representados nesses valores, põem-se de lado a diferença de suas formas úteis. “Os valores casaco e linho são cristalizações homogêneas de trabalho; os trabalhos contidos nesses valores são considerados apenas dispêndio de força humana de trabalho”. Ao acréscimo da massa de riqueza material produzida pode corresponder uma queda simultânea do seu valor. Isto pelo duplo caráter do trabalho. Produtividade é sempre produtividade de trabalho concreto, útil, e define o grau de eficácia da atividade produtiva. Porém, por ser a produtividade pertencente à forma concreta do trabalho, não pode ela influir no trabalho abstrato. Assim, o valor de uma mercadoria não varia em função da produtividade, se feita pelo mesmo trabalho no mesmo espaço de tempo. Assim: a) o trabalho abstrato (igual) cria o valor das mercadorias e; b) o trabalho concreto (útil) produz valores-de-uso. 11 3. A FORMA DO VALOR OU O VALOR-DE-TROCA (pgs. 48-79) As coisas são mercadorias na medida em que sejam: a) objetos úteis, e b) veículos de valor. Todas as diversas mercadorias possuem forma comum de valor; esta forma comum é a forma dinheiro do valor. Gênese da forma dinheiro. A) A forma simples, singular ou fortuita do valor. A mais simples relação de valor é a que se estabelece entre duas mercadorias: x de linho = y de casaco. 1. Os dois pólos da expressão do valor: a forma relativa e a forma equivalente do valor * Forma relativa do valor: o valor da primeira mercadoria da relação. * Forma equivalente do valor: o valor da segunda mercadoria da relação. 2. A forma relativa do valor O valor de uma mercadoria é expresso pelo valor-de-uso de outra. O valor relativo de uma mercadoria é diferente de seu valor. 3. A forma equivalente do valor A mercadoria assume a forma de equivalente por ser permutável por outra. O valor equivalente não expressa quantidade de valor, mas de valores-de-uso. Esta relação de equivalência não é uma relação física mas social, representa o valor que é comum a ambas; a forma relativa do valor de uma mercadoria expressa seu valor por algo totalmente alheio (outra mercadoria); essa expressão indica que oculta uma relação social. Peculiaridades da forma equivalente do valor: a) o valor-de-uso da mercadoria equivalente torna-se a forma de manifestação de seu contrário, o valor (da mercadoria primeira); b) o trabalho concreto (que cria a mercadoria equivalente) torna-se forma de manifestação do seu contrário, trabalho humano abstrato; c) o trabalho privado torna-se a forma de seu contrário, trabalho social. 12 4. A forma simples do valor, em seu conjunto A rigor, afirmar que uma mercadoria possui valor-de-uso e valor-de-troca é falso. A mercadoria possui valor-de-uso e “valor”; manifesta-se como valor-de-troca apenas na relação de troca com outra mercadoria diferente (nunca isoladamente). B) A forma total ou extensiva do valor: x de linho = y casacos = v de ferro = etc. Agora o valor relativo de uma mercadoria relaciona-se a um conjunto ilimitado de outras mercadorias equivalentes C) A forma geral do valor. Todas as mercadorias relacionam-se a um equivalente geral, exemplo: o couro, o ouro. D) A forma dinheiro do valor. O ouro se confronta com todas as outras mercadorias, exercendo a função de dinheiro. 4. O FETICHISMO DA MERCADORIA (pgs. 79-93) Como valor-de-uso, nada há de misterioso na mercadoria (quer a observemos como satisfactor de necessidades, quer como produto do trabalho humano). Porém, logo que se revela mercadoria se transforma simultaneamente em algo perceptível e impalpável. O misterioso não provém nem do seu valor-de-uso, nem do seu valor. A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos produtos como valores; a medida (por meio da duração) do dispêndio de força de trabalho toma a forma de quantidade de valor das mercadorias; finalmente, as relações entre produtores (onde aparece o caráter social de seus trabalhos) assume a forma de relações sociais entre os produtos, as mercadorias. A mercadoria encobre as características sociais do trabalho dos homens. <“A impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo ótico não se apresenta como sensação subjetiva desse nervo, mas como forma sensível de uma coisa existente fora do órgão da visão”; porém há uma relação física.> Mas, a forma mercadoria, a relação de valor entre elas, nada tem a ver com a natureza física desses objetos. * Assim, a relação entre mercadorias assume a forma de relações sociais. 13 * A relação social entre os homens assume a “forma fantasmagórica de uma relação entre coisas”, são coisificadas. “Chamo a isto de fetichismo”. Objetos úteis se tornam mercadorias, por serem produtos de trabalhos privados. Os produtores só entram em contatos sociais por intermédio da troca de seus produtos. “Em outras palavras, os trabalhos privados atuam como partes componentes do conjunto do trabalho social, apenas através das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e, por meio destes, entre os produtores”. Assim, as relações sociais parecem como “relações materiais entre pessoas, e relações sociais entre coisas”. “Ao igualar, na permuta, como valores, seus diferentes produtos, igualam-se seus trabalhos diferentes”. <“É mister haver produção de mercadorias plenamente desenvolvida, antes de a experiência dar origem a esse conhecimento científico”> <“Refletir sobre as formas da vida humana e analisá-las cientificamente é seguir rota oposta à do seu verdadeiro desenvolvimento histórico. Começa-se depois do fato consumado, quando estão concluídos os resultados do processo de desenvolvimento”> Por isso antes analisava-se o valor das mercadorias através dos preços. “É porem essa forma acabada do mundo das mercadorias, a forma dinheiro, que realmente dissimula o caráter social dos trabalhos privados e, em conseqüência, as relações sociais entre os produtores particulares”. O valor-de-uso se realiza para as pessoas sem a necessidade da troca (na relação homem/coisa), mas o “valor” só se realiza através da troca, num processo social. CAP. II: O PROCESSO DE TROCA (pgs. 94-104) Para a troca de mercadorias, as pessoas devem ter a vontade comum e consentida de um apossar-se da mercadoria do outro, alienando a própria. A mercadoria a tocar não tem valor-de-uso direto para seu possuidor, apenas o fato de ser depositária de valor e, assim, meio de troca. Todas as mercadorias são não-valores-de-uso para os proprietários e valores-de-uso para os não-proprietários. As relações estabelecidas entre as mercadorias (como valores-de-uso) contrapõem-se com o equivalente geral (dinheiro). O dinheiro serve para equiparar os 14 diferentes produtos do trabalho e convertê-los em mercadorias. Os produtos só viram mercadorias através da troca. Porém, um objeto só pode se tornar valor-de-troca depois de existir como não-valor-de-uso para seu possuidor, e isto ocorre quando a quantidade do objeto útil ultrapassa as necessidades diretas do seu possuidor. Por isso, passa-se a fabricar uma quantidade excedente de produtos dirigidos à troca. Ai consolida-se a dissociação entre a utilidade das coisas destinadas à satisfação direta das necessidades e a das coisas destinadas à troca. Seu valor-de-uso dissocia-se do seu valor-de-troca.Com o desenvolvimento da troca, o equivalente cristaliza-se na forma dinheiro. Duplo valor-de-uso da mercadoria dinheiro (o ouro): a) o valor-de-uso inerente a sua qualidade; b) o valor-de-uso formal que decorre de sua função social específica (de meio de troca). O dinheiro é mercadoria, não é mero símbolo (pgs.: 100, 102-3, 164-7). “Como qualquer mercadoria, o dinheiro só pode exprimir sua magnitude de valor de modo relativo em outras mercadorias. Seu próprio valor é determinado pelo tempo de trabalho ...”. “O enigma do fetiche dinheiro é, assim, nada mais do que o enigma do fetiche mercadoria em forma patente e deslumbrante”. CAP. III: O DINHEIRO OU A CIRCULAÇÃO DAS MERCADORIAS 1. MEDIDA DOS VALORES (pgs. 105-116) A primeira função do ouro consiste em “representar os valores das mercadorias”. “Assim, exerce a função de media universal dos valores e, só por meio dessa função, o ouro, a mercadoria equivalente específica, se torna dinheiro”. “Não é através do dinheiro que as mercadorias se tornam comensuráveis”. Ao contrário, elas podem medir seus valores (por meio de uma mercadoria equivalente comum, transformada em dinheiro) por serem encarnação de trabalho humano, por conterem trabalho humano. A relação que equipara ferro, linho, casaco etc. a ouro é uma relação que só existe idealmente. Porém, “embora apenas o dinheiro idealizado sirva para medir o valor”, o preço depende totalmente da substancia real do dinheiro. 15 Duas funções do ouro: a) medida de valor (por ser a encarnação social do trabalho humano) e b) estalão de preço (por ser um peso fixo de metal). <“O nome de uma coisa é extrínseco às suas propriedades. Nada sei de um homem por saber apenas que se chama Jacó”> “Preço é a designação monetária do trabalho corporificado na mercadoria”. Com a transformação da magnitude de valor em preço se da a relação de troca de uma mercadoria com o dinheiro (de existência extrínseca à mercadoria). De acordo com as circunstancias, o preço pode ser igual ou diferente da magnitude de valor da mercadoria. A forma preço tanto a) admite a possibilidade de divergência quantitativa entre magnitude de valor e preço, como b) pode esconder uma contradição qualitativa, ao preço deixar de ser expressão do valor, mesmo que o dinheiro seja apenas a forma do valor das mercadorias. “Uma coisa pode, formalmente, ter um preço, sem ter um valor”. “A forma preço implica a alienbilidade das mercadorias contra dinheiro e a necessidade dessa alienação por dinheiro”. 2. MEIO DE CIRCULAÇÃO (pgs. 116-144) [ A CIRCULAÇÃO SIMPLES ] a) A metamorfose das mercadorias “O processo de troca realiza a circulação social das coisas, ao transferir as mercadorias daqueles para que são não-valores-de-uso, para aqueles perante quem são valores-de-uso”. O processo de troca produz uma bifurcação da mercadoria em mercadoria e dinheiro, estabelecendo-se uma oposição externa onde se patenteia a oposição, imanente à mercadoria, entre valor-de-uso e valor. * Oposição imanente à mercadoria: valor-de-uso e valor. * Oposição externa à mercadoria: as mercadorias (como valores-de-uso), se confrontam com o dinheiro (como valor-de-troca) 16 A mercadoria é realmente valor-de-uso, e seu valor se expressa apenas idealmente no preço. O ouro (dinheiro) é realmente valor-de-troca, mas seu valor-de-uso se expressa apenas idealmente. O processo de troca se realiza mediante duas metamorfoses opostas e reciprocamente complementares: M-D (venda) e D-M (compra). Sendo o processo: M-D-M (1) Primeira metamorfose: M-D (venda) O produto, para o possuidor, é um não-valor-de-uso, serve-lhe apenas como valor-de-troca. A mercadoria abandona sua forma mercadoria ao ser alienada e trocada por dinheiro. Porém, a transformação de mercadoria em dinheiro (para o vendedor) é, ao mesmo tempo, transformação do dinheiro em mercadoria (para o comprador); é um processo único de compra/venda. (2) Segunda metamorfose: D-M (compra) A primeira metamorfose de uma mercadoria (M-D) é sempre a segunda metamorfose oposta de outra mercadoria (D-M). Compra é ao mesmo tempo venda. A troca (imediata, singular) é diferente da circulação de mercadorias (conjunto de todas as tocas concatenadas). Venda e compra são um ato único, idêntico, se feito por duas pessoas diferentes (comprador e vendedor); porém constituem atos polarmente opostos quando praticados pela mesma pessoa. Na medida em que a primeira metamorfose é ao mesmo tempo compra e venda, este processo, embora parcial, é autônomo (quem vende a mercadoria não precisa comprar imediatamente com seu dinheiro). Se essa independência exterior dos dois atos prossegue ilimitadamente, contra ela prevalece a unidade, por meio de uma crise. [ Crise de superprodução ] b) O curso do dinheiro O movimento das mercadorias constitui um circuito. Porém o dinheiro não pode percorrer esse circuito, sendo sempre afastado o dinheiro do seu ponto de partida 17 (fluindo das mãos de um possuidor de mercadoria para as de outro). O curso do dinheiro é repetitivo: com a função de compra, sempre sai das mãos do comprador para as do vendedor, permanecendo sempre na esfera da circulação. Já a mercadoria, mesmo passando por varias vendas, passa da esfera da circulação, na última venda, à esfera do consumo (como meio de subsistência ou de produção). “Os preços das mercadorias variam ... na razão inversa do valor do dinheiro”; e “a massa dos meios de circulação (dinheiro) varia na razão direta do preço das mercadorias”. Soma dos preços das mercadorias = montante do dinheiro que número de movimentos das peças de dinheiro funciona como meio de circulação “O montante de dinheiro lançado no processo de circulação, num momento dado, é naturalmente determinado pela soma dos preços das mercadorias que circulam, simultâneas e paralelas” [* Se 4 mercadorias (de £ 2 c/u) se venderem simultaneamente, o dinheiro em circulação necessário são £ 8. * Se 4 mercadorias (de £ 2 c/u) se venderem sucessivamente, o dinheiro em circulação necessário são £ 2.] “Se aumenta o número dos movimentos das peças de dinheiro, diminui o número das peças em circulação. Diminuindo o número dos movimentos, aumenta o número total dessas peças”. “A quantidade total de dinheiro que funciona como meio de circulação, em cada período, é determinada pela soma dos preços das mercadorias em circulação e pela velocidade em que se sucedem as fases opostas das metamorfoses”. Assim, três fatores determinam o dinheiro circulante: a) o movimento dos preços, b) a quantidade de mercadorias em circulação e c) a velocidade do curso do dinheiro. [Com esta Lei geral, o Estado pode intervir, como fez no keynesianismo, emitindo maior volume de dinheiro para estimular o consumo] Causas de queda das vendas: a) aumento da oferta de mercadorias em relação à demanda; b) queda na exportação; c) empobrecimento dos consumidores. 18 “Em conseqüência, não é o aumento puro e simples da quantidade de dinheiro”, que favoreceria os bens do comerciante, “mas a supressão de uma de essas três causas, que deprimem realmente o mercado”. c) A moeda. Os símbolos de valor A forma moeda, assumida pelo dinheiro, decorre de sua função de meio de circulação. A cunhagem, assim como o estalão dos preços, é atribuição do Estado. Ao separar o peso real do nominal, o dinheiro (ouro metálico) é substituído por meros símbolos. Na função de moeda, coisas sem valor (papel) podem substituir relativamente o ouro. Na função de representar o ouro, uma lei diz que a emissão de papel-moeda tem de limitar-se à quantidade de ouro que circula, se não fosse substituída por símbolos. Se a emissão de papel-moeda superar a quantidade de ouro, “expõe-se ao descrédito geral, mas ainda assim representa a quantidade de ouro ...”; [portanto, se desvaloriza o dinheiro]. 3. O DINHEIRO (pgs. 144-161) A mercadoriaque serve para medir o valor e (diretamente ou através de representante) de meio de circulação, é o dinheiro. a) Entesouramento “Já nos primórdios do desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolve-se a necessidade e a paixão de reter o produto da primeira metamorfose” (M- D). Para reter o dinheiro, “vende-se mercadoria não para comprar mercadoria, mas para substituir a forma mercadoria pela forma dinheiro”. “Para comprar, sem vender, é mister ter vendido antes sem comprar”. “O desejo de entesourar é por natureza insaciável”. Para reter o ouro como dinheiro (entesouramento) é mister impedi-lo de circular ou de servir de meio de compra. 19 b) Meio de pagamento [ Capital bancário ] Na forma direta [e simples] de circulação, aparece a mesma magnitude de valor sob dois aspectos: como mercadoria e como dinheiro. Com o desenvolvimento da circulação, vão aparecendo as condições em que a alienação da mercadoria [venda] se separa da realização do seu preço [pagamento]. [Ex.: os leasing, as vendas a crédito]. Assim, “o vendedor torna-se credor; o comprador, devedor”. Aqui o dinheiro adquire nova função; ele se torna meio de pagamento. Dinheiro é meio de compra (compra/venda simultâneas) ou meio de pagamento (mercadoria vai ao comprador antes deste pagar, a crédito). Cessa a simultaneidade entre os equivalentes, mercadoria (vendida) e dinheiro (para pagá-la). Agora o meio de pagamento entra na circulação depois que a mercadoria saiu dela [para o consumo]. O vendedor, troca mercadoria em dinheiro para comprar mercadorias que satisfaçam a suas necessidades. O entesourador, para guardar a mercadoria sob a forma de dinheiro. o devedor, para poder pagar a dívida. “O dinheiro de crédito decorre diretamente da função do dinheiro como meio de pagamento”. “Quando a produção de mercadorias atinge certo nível e amplitude, a função de meio de pagamento que o dinheiro exerce ultrapassa a esfera da circulação de mercadorias”. “O desenvolvimento do dinheiro como meio de pagamento acarreta a necessidade de acumular dinheiro, para atender aos débitos ...”. c) O dinheiro universal 20 P A R T E S E G U N D A A TRANSFORMAÇÃO DO DINHEIRO EM CAPITAL CAP. IV: COMO O DINHEIRO SE TRANSFORMA EM CAPITAL [ A CIRCULAÇÃO CAPITALISTA ] 1. A FÓRMULA GERAL DO CAPITAL (pgs. 165-175) “O comércio e o mercado mundiais inauguram no século XVI a moderna história do capital”. Pondo de lado o conteúdo material (os valores-de-uso) da circulação, o produto final da troca é o dinheiro. Esta é a primeira forma em que aparece o capital. Todo capital novo entra em cena (no mercado de mercadorias, de trabalho ou de dinheiro) sob forma de dinheiro, que vai se transformar em capital. O dinheiro que é apenas dinheiro se distingue do dinheiro que é capital através da diferença na forma de circulação. a- Forma simples de circulação: M - D - M (vender para comprar). b- Forma capitalista de circulação: D - M - D (comprar para vender). Aqui o dinheiro se transforma em capital. Primeira fase: D - M (compra). Segunda fase: M - D (venda). Resultado final é a troca de dinheiro por dinheiro D - D. E isto seria absurdo se as quantias de D fossem iguais. Aspectos comuns de M-D-M e D-M-D: 1. ambos circuitos se decompõem nas mesmas fases: M-D (venda) e D-M (compra); 2. aparecem os mesmos elementos materiais (mercadoria e dinheiro); 3. e os mesmos personagens econômicos (vendedor e comprador); 4. nos dois circuitos intervêm três contratantes: um apenas vende, outro só compra e o outro compra e vende. Elementos diferenciadores dos circuitos: 21 1. a sucessão inversa de ambas fases opostas: na circ. simples venda e compra, na circ. capitalista compra e venda (o ponto inicial e final, no primeiro caso, é a mercadoria, no segundo é o dinheiro) (na circ. simples o dinheiro é o intermediário, na circ. capitalista o intermediário é a mercadoria); 2. na circ. simples o dinheiro vira mercadoria (valor-de-uso), na circ. capitalista o dinheiro vira dinheiro; 3. na forma M-D-M a mesma peça de moeda muda de lugar duas vezes, na forma D-M-D é a mesma mercadoria que muda de lugar duas vezes; 4. na circ. simples o dinheiro sai definitivamente das mãos do possuidor, na circ. capitalista, o dinheiro sempre volta ao ponto de partida; 5. o circuito M-D-M se esgota quando o dinheiro da primeira venda serve para comprar mercadoria, o circuito D-M-D é infinito, sempre voltando ao ponto inicial, num circuito condenado sempre a se repetir, a começar de novo (“o movimento do capital não tem limites”); 6. o objetivo final da circ. simples é o consumo de valores-de-uso (satisfação de necessidades), o objetivo da circ. capitalista é o valor de troca (obtenção de magnitude maior de dinheiro); 7. os extremos da circ. simples são mercadorias com valores-de-uso diferentes mas com a mesma magnitude de valor (quantitativamente iguais e qualitativamente diferentes), na circ. capitalista os extremos são magnitudes diferentes da mesma mercadoria, dinheiro (mercadorias qualitativamente iguais porém quantitativamente diferentes). Dinheiro só pode se distinguir pela magnitude. Assim, na circ. capitalista, no final se retira mais dinheiro do que inicialmente lançado. Neste sentido, a forma completa é: D - M - D’, onde D’ = D + D, ou seja, a soma de dinheiro inicialmente adiantada mais um acréscimo. Esse acréscimo ou excedente chamo de mais valia (valor excedente). O dinheiro valoriza-se, incorporando a mais valia; este movimento transforma o dinheiro em capital (o dinheiro só se torna capital ao gerar valor excedente, mais valia) e o possuidor de dinheiro torna-se capitalista. 22 Assim, enquanto o entesourador retira o dinheiro do mercado, o produtor retira a mercadoria (que compra) do mercado para o consumo, o capitalista constantemente os repõe (“capital é dinheiro, capital é mercadoria”). Porém, “se o dinheiro não assumir a forma de mercadoria, ele não vira capital” [o que demostra que o capital financeiro só se reproduz se existir um capital produtivo/comercial de onde extrai mais valia]. D - M - D’ é portanto, a fórmula geral do capital. O capital mercantil, compra para vender mais caro. O capital industrial, investe dinheiro para virar mercadoria que tornar-se-á mais dinheiro. O capital financeiro (que rende juros) patenteia a forma abreviada, sem intermediação da mercadoria: D - D’. 2. CONTRADIÇÕES DA FÓRMULA GERAL (pgs. 175-186) A forma de circulação capitalista contradiz todas as leis próprias da circulação simples. [ Na circulação capitalista convivem os dois processos: M-D-M e D-M-D: a) o assalariado: M (força de trabalho) - D (salário) - M (bens de consumo); b) o produtor: M (produtos) - D (da venda da mercad.) - M (bens de consumo); c) o capitalista: D (meios de prod. e capital) - M (força de trabalho e produtos do trabalho) - D’ (lucro, mais valia) ] A) Circ. simples de valores-de-uso. Se trocam valores-de-uso diferentes mas da mesma magnitude de valor; valores equivalentes; valor = preço; ambos participantes ganham, pois alienam valores-de-uso inúteis por outras mercadorias equivalentes que lhe são úteis. B) Circ. de valores-de-troca. Se trocam valores (de troca) de diferentes magnitudes; valor = ou preço. Se ambos agentes podem ganhar na troca de valores-de- uso, isto não ocorre na troca de valores-de-troca, pois “onde há igualdade não há lucro”. “De um lado aparece como valor excedente (mais valia) o que, do outro, é perda de valor (menos valia); o que é mais para um é menos para outro”. 23 A formação de mais valia (e a transformação do dinheiro em capital) não pode ser explicada por compras/vendas de mercadorias acima/abaixo do seu valor. (pg. 181) “... a formação do capital tem de ser possível, mesmo quando o preço da mercadoria seja igual ao valor da mercadoria” (pg. 186) “Se se trocam equivalentes, nãose produz valor excedente (mais valia)”, porém, “se se trocam não-equivalentes, também não surge nenhum valor excedente. A circulação ou a troca de mercadorias não cria nenhum valor”; [este deve ser procurado em outra esfera, a da produção]. a) No capital comercial, todo o movimento se processa dentro da esfera de circulação; porém, sendo impossível explicar por meio da circulação a transformação do dinheiro em capital, o valor excedente é apropriado pelo capitalista (comercial) pelo duplo prejuízo infringido aos produtores, que compram mais caro e vendem mais barato. b) No capital usurário [financeiro], o circuito D - D’ (sem mediação da mercadoria) é inexplicável apenas do ponto de vista da troca de mercadorias. “O valor excedente (mais valia) não pode originar-se na circulação”; porém, também “é impossível que o produtor de mercadorias, fora da esfera da circulação ... consiga expandir ser valor”. “Capital, portanto, nem pode originar-se na circulação nem fora da circulação”. “Nosso possuidor de dinheiro ... tem de comprar uma mercadoria pelo seu valor, vende-la pelo seu valor e, apesar disso, colher no fim do processo mais valor de que nele lançou. Sua metamorfose em capitalista deve ocorrer dentro da esfera da circulação e, ao mesmo tempo, fora dela”. 3. COMPRA E VENDA DA FORÇA DE TRABALHO (pgs. 187-197) A mudança de valor do dinheiro não pode ocorrer no próprio dinheiro. Tampouco pode ocorrer da segunda fase: revenda da mercadoria (M-D). A mudança tem de ocorrer com a mercadoria comprada na primeira fase (D-M), porém não em seu valor (pois se trocam equivalentes), e sim do consumo de seu valor-de-uso. 24 O possuidor de dinheiro deve descobrir no mercado uma mercadoria cujo valor- de-uso possua a propriedade peculiar de ser fonte de valor; essa mercadoria é a capacidade de trabalho ou a força de trabalho. Para isto devem existir certas condições: 1. Inexistência, na troca de mercadorias, de relações de dependência. a) A força de trabalho só é mercadoria quando vendida voluntariamente pelo próprio possuidor, b) e quando este possa dispor dela; c) ambos (possuidor de dinheiro e possuidor da força de trabalho) atuam como comprador e vendedor, sendo pessoas juridicamente iguais; d) o possuidor da força de trabalho vende-a por tempo limitado. 2. O dono da força de trabalho não pode vender mercadorias que encarne trabalho, apenas vende sua força de trabalho. “Quem quiser vender mercadoria que não seja sua força de trabalho, tem de possuir meios de produção”. < Se a realização do valor da mercadoria para o capitalista (e a satisfação das necessidades do produtor) só ocorre depois da venda da mercadoria, o tempo necessário para a venda deve ser acrescido ao tempo necessário para a produção. > O possuidor de força de trabalho deve se auto-reproduzir até receber o salário. O possuidor de dinheiro, para transforma-lo em capital, deve encontrar, no mercado, trabalho livre. Livre em dois sentidos: a) o de dispor como pessoa livre de sua força de trabalho e b) o de estar livre, inteiramente despojado das coisas necessárias. < “O aparecimento do produto sob a forma de mercadoria supõe uma divisão de trabalho tão desenvolvida ... que já se terá concluído a dissociação entre valor-de-uso e valor-de-troca”. > “O que caracteriza a época capitalista é adquirir a força de trabalho, para o trabalhador, a forma de mercadoria que lhe pertence, tomando seu trabalho a forma de trabalho assalariada”. Valor da força de trabalho: é determinado pelo tempo de trabalho necessário a sua produção e reprodução. A reprodução da força de trabalho supõe a presença (e manutenção) do trabalhador, proprietário da força de trabalho. “Para manter-se precisa o indivíduo de certa soma de meios de subsistência: necessidades vitais (alimentação, roupa, aquecimento, habitação etc.); necessidades históricas e culturais 25 (desenvolvimento civilizatório, condições em que o trabalhador se constitui como classe- para-si); reprodução familiar (procriação da família e dos filhos); instrução para o trabalho (educação e treino). “O valor da força de trabalho reduz-se ao valor da uma soma determinada de meios de subsistência. Varia portanto com o valor desses meios de subsistência, ou seja, com a magnitude do tempo de trabalho exigido para sua produção”. Se o trabalhador precisar de U$ 10 (por dia) para obter seus meios de subsistência, e numa jornada de trabalho de 12 hs., o trabalhador precisar de 6 hs. para criar o valor equivalente os U$ 10, então estará vendendo sua força de trabalho pelo preço equivalente ao seu valor. Mas a força de trabalho só é paga depois. O trabalhador adianta ao capitalista o valor-de-uso da sua força de trabalho, dá crédito ao capitalista. Por outro lado, “o processo de consumo da força de trabalho é ao mesmo tempo o processo de produção de mercadoria e de valor excedente (mais valia). O consumo da força de trabalho (como o de qualquer mercadoria) se dá fora do mercado. “Por isso, juntamente com o dono do dinheiro e o possuidor da força de trabalho abandonaremos essa esfera ruidosa, onde tudo ocorre na superfície e à vista de todos, para acompanhá- los ao local reservado da produção ... O mistério da criação do valor excedente (mais valia) se desfará finalmente”. 26 P A R T E T E R C E I R A A PRODUÇÃO DA MAIS VALIA ABSOLUTA CAP. V: PROCESSO DE TRABALHO E PROCESSO DE PRODUZIR MAIS VALIA 1. O PROCESSO DE TRABALHO OU O PROCESSO DE PRODUZIR VALORES-DE-USO (pgs. 201-210) A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador a consome fazendo o vendedor trabalhar. A produção de valores-de-uso não muda sua natureza geral por ser agora em benefício do capitalista. Por isso devemos inicialmente considerar o processo de trabalho independentemente de qualquer estrutura social determinada. [ I- Natureza do Processo de Trabalho ] Trabalho é um processo onde o ser humano controla seu intercâmbio material com a natureza. Atuando e modificando a natureza externa, modifica também sua própria natureza. “Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade”. “Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira”. Os elementos componentes do processo de trabalho: 1) trabalho: atividade adequada a um fim; 2) matéria: o objeto de trabalho; 3) meios: o instrumental do trabalho. 2) Os objetos de trabalho. A terra existe independentemente do trabalho, é o objeto universal do trabalho humano. Tem objetos de trabalhos fornecidos pela natureza. Tem objetos “filtrados 27 através de trabalho anterior”, modificados pelo trabalho anterior, estes são matéria- prima. 3) Os meios de trabalho. “É uma coisa ... que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho”. Ex.”: a máquina a vapor. O processo de trabalho, ao atingir certo nível de desenvolvimento, exige meios de trabalho já elaborados. “O uso e a fabricação de meios de trabalho ... caracterizam o processo especificamente humano de trabalho”. “O que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz”. Meios de trabalho são todas as condições materiais de produção. 1) O processo de trabalho. Atividade que opera transformações no objeto. O produto é um valor-de-uso. Meios de produção: do ponto de vista do resultado do processo de produção, observa-se que tanto os meios quanto os objetos de trabalho são meios de produção. O valor-de-uso (produto de um trabalho) pode tornar-se meio de produção de outro processo. Assim, exceto as indústrias extrativas, todos os ramos industriais tem por objeto de trabalho matéria-prima (produtos de trabalhos anteriores). Matéria-prima e materiais: matéria prima é a substância principalde um produto; o material é acessório que é consumido pelo meio de trabalho. Um produto pode servir de meio de trabalho ou de matéria-prima; pode ser destinado ao consumo final ou tornar-se matéria-prima (semi produto ou produto intermediário) de outro processo. Assim, um valor-de-uso pode ser: matéria-prima, meio de trabalho, ou produto (para consumo). Consumo produtivo e consumo individual: o consumo produtivo é o consumo dos materiais e matérias-primas usados no processo produtivo; consumo individual é o consumo de um indivíduo de seus meios de vida. 28 O processo de trabalho (produzir valores-de-uso) é condição natural e eterna da vida humana. Nada nos diz sobre as condições em que ele se realiza (escravismo, capitalismo) [ II- Processo de Trabalho Capitalista ] Todos os elementos do processo de trabalho (matérias-primas, materiais, meios, força de trabalho) são comprados pelo capitalista no mercado. O processo de trabalho, quando ocorre como processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista, apresenta dois fenômenos característicos: a) o trabalhador trabalha sob o controle do capitalista b) o produto é propriedade do capitalista, não do produtor imediato, o trabalhador. Ao pagar, o capitalista, o valor diário da força de trabalho (ao comprar essa mercadoria), o uso dela lhe pertence durante toda a jornada; o possuidor da força de trabalho apenas cede o valor-de-uso que vendeu. Do ponto de vista do capital, o processo de trabalho é apenas o consumo da mercadoria que comprou (a força de trabalho) que só pode consumir adicionando-lhe meios de produção. Assim, o produto desse processo lhe pertence. 2. O PROCESSO DE PRODUZIR MAIS VALIA (pgs. 210-223) Na produção de mercadorias, o capitalista não é movido por amor aos valores- de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem substrato material, detentores de valor- de-troca. Primeiro, quer produzir um valor-de-uso que tenha um valor-de-troca. Segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la. O valor de qualquer mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção. [ Pressuposto: preços = valor das mercadorias (cf. pgs.: 246) ] [ Como o capitalista amplia, no processo produtivo, o valor adiantado? ] (a) O trabalho prévio, contido ou materializado na força de trabalho [o trabalho criador dos meios de subsistência do trabalhador] e o trabalho vivo que ela pode realizar são duas grandezas inteiramente diversas. A primeira grandeza determina seu valor-de- 29 troca, a segunda, seu valor-de-uso. O valor da força de trabalho e o valor que ela cria são duas magnitudes distintas. O fato decisivo, é o valor-de-uso específico da força de trabalho, que consiste em ser fonte de valor e de valor superior que o seu próprio valor. E isto ocorre de acordo com as leis da troca de mercadorias: o vendedor da força de trabalho (como o de qualquer outra mercadoria) realiza seu valor-de-troca alienando seu valor-de-uso. Ao comprador da força de trabalho (possuidor de dinheiro) pertence-lhe o uso dela durante a jornada. Porém, a manutenção da força de trabalho custa apenas meia jornada, sendo o valor criado pela utilização da força de trabalho o dobro do seu próprio valor-de-troca. O valor criado é maior que o valor da força de trabalho. (b) O dinheiro vira capital: ao final do processo produtivo, criou-se um valor superior ao valor adiantado pelo capitalista (com os elementos de produção). Assim, o dinheiro transforma-se em capital. Essa metamorfose (a transformação do dinheiro em capital) em parte sucede na esfera da circulação (por depender da compra da força de trabalho no mercado) e em parte não sucede nela, e sim na esfera da produção (por ser meio de produção de mais valia, no processo produtivo). - Até o trabalhador produzir o valor que repõe seu próprio valor, pago pelo capital, só se produz um valor equivalente. Ultrapassado esse ponto, o processo começa a produzir mais valia (valor excedente). < também as mercadorias que entram no processo de trabalho são consideradas quantidades determinadas de trabalho materializado>. Assim, o processo de produção que cria valor é um processo qualquer de produção de mercadorias. Apenas quando produz mais valia é um processo capitalista de produção. CAP. VI: CAPITAL CONSTANTE E CAPITAL VARIÁVEL (pgs. 224-236) O valor dos meio de produção se conserva através de sua transferência ao produto. Enquanto isso, o trabalhador acrescenta ao material (objeto) novo valor. 30 Forma específica do trabalho (pedreiro, carpinteiro, joalheiro): transfere ao produto o valor dos meios de produção. Forma abstrata do trabalho: acrescenta valor ao produto. Capital constante (elementos objetivos: meios de produção) - No processo de trabalho, o valor dos meios de produção só se transfere ao produto quando estes perdem seu valor-de-troca [quando são consumidos]. Cedem ao produto o valor que perdem. - A matéria-prima e materiais, ao serem consumidas, transferem seu valor ao produto, porém, mudam sua forma inicial. Isso não acontece com o instrumental, com os meios de trabalho, que continuam a existir separados do produto que ajudam a produzir. - Porém, os meios de trabalho (o instrumental) são desgastados no processo produtivo. Assim, à perda diária do seu valor-de-uso corresponde uma transferência diária de valor equivalente ao produto. O meio de trabalho transfere o valor perdido ou destruído no processo de trabalho. [Calcula-se a vida útil da máquina e divide-se seu valor pela quantidade de dias úteis; ai está o valor diário que transfere ao produto]. Porém, o que se consome dos meios de produção (matérias-primas, materiais, instrumentos) é seu valor-de-uso, não seu valor. Este valor reaparece no valor do produto, é transferido. Capital variável (elementos subjetivos: força de trabalho) - O processo de trabalho [a jornada] continua além do ponto em que se reproduz o simples equivalente do valor da força de trabalho. A força de trabalho, portanto, não só reproduz seu próprio valor, ela também cria valor excedente. a) A parte do capital correspondente aos meios de produção (matéria-prima, materiais e meios de trabalho) não muda a magnitude do seu valor, apenas o transfere ao produto. É portanto, a parte constante do capital. b) A parte do capital convertida em força de trabalho, sim muda seu valor; reproduz seu próprio valor mas também cria um valor excedente (mais valia). É assim, a parte variável do capital. - Do ponto de vista do processo de trabalho: elementos objetivos e subjetivos. 31 - Do ponto de vista do processo de produzir mais valia: capital constante e capital variável. CAP. VII: A TAXA DA MAIS VALIA 1. O GRAU DE EXPLORAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO (pgs. 237-246) - O Capital ( C ) decompõe-se em duas partes: dinheiro gasto em meios de produção, capital constante ( c ), e em força de trabalho, capital variável ( v ) { C = c + v } - Porém, no processo capitalista, C converte-se em C’: { C’ = (c + v) + m }, sendo m a mais valia - Se fizermos o capital constante = 0, então a magnitude relativa da mais valia (a taxa de mais valia) é a proporção em que aumenta o valor do capital variável; [assim a relação entre mais valia e capital variável]. { Taxa de mais valia = m / v } - 1º) O trabalhador, durante uma parte da jornada, só produz o valor de sua força de trabalho. Não produz seus meios de subsistência [como o escravo], mas um valor igual ao valor dos seus meios de subsistência. Tempo de trabalho necessário: parte da jornada na qual gera o valor diário da força de trabalho, só cria o equivalente ao seu valor. 2º) Porém, o trabalhador opera além dos limites do trabalho necessário; produzindo um valor excedente, uma mais valia. Tempo de trabalho excedente: parte da jornadana qual o trabalhador, ao concluir o tempo necessário, produz um valor excedente (mais valia). Só a forma em que se extrai do produtor imediato (o trabalhador) esse trabalho excedente distingue as diversas formações econômico-sociais (a sociedade da escravidão, da sociedade do trabalho assalariado, por exemplo). Assim, { Taxa de mais valia = m = trabalho excedente } { v trabalho necessário } 32 A taxa da mais valia é, portanto, a expressão precisa do grau de exploração da força de trabalho pelo capital. Porém, a taxa de mais valia não deve se confundir com a taxa de lucro [relação entre o valor excedente e o capital total gasto no processo produtivo]. { Taxa de mais valia = m / v } { Taxa de lucro = m / C = m / c+v } 2. O VALOR DO PRODUTO EXPRESSO EM PARTES PROPORCIONAIS DO PRODUTO (pgs. 247-251) O produto do processo produtivo se decompõe em 3 partes: a) uma quantidade que só representa o trabalho contido [e transferido] nos meios de produção (representa o valor capital constante); b) outra onde só figura o trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho (representa o valor do capital variável); c) e uma terceira que só representa o trabalho excedente (a mais valia). 3. A “ÚLTIMA HORA” DE SENIOR (pgs. 251-258) Tese onde Senior tenta demostrar que “todo o lucro líquido do fabricante decorre da “última hora” de trabalho, e que, por isso, a redução de 1 hora no dia de trabalho destruiria seu lucro líquido”. 4. O PRODUTO EXCEDENTE (pgs. 259) Produto excedente é a parte do produto [da produção] que representa a mais valia. Se a taxa de mais valia (o grau de exploração) não se determina na a relação entre a mais valia e o capital global, mas entre ela e o capital variável, a dimensão do produto excedente não se determina pela relação entre este e a produção total, mas na relação entre a produção excedente e a parte da produção que representa o trabalho necessário. Assim, mede-se a riqueza não pela magnitude absoluta do produto, mas pela magnitude relativa do produto excedente. 33 CAP. VIII: A JORNADA DE TRABALHO 1. OS LIMITES DA JORNADA DE TRABALHO (pgs. 260-265) Pressuposto até agora: a força de trabalho é comprada e vendida por seu valor; sendo este determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-la. A jornada de trabalho não é uma grandeza constante, mas variável. Ela pode ser dividida em duas partes: A -------- B -------- C ; sendo A-B o tempo necessário e B-C o tempo excedente. Embora a jornada de trabalho seja variável e não fixa, ela só pode variar dentro de certos limites: a) limite mínimo: o tempo mínimo em que o trabalhador deve trabalhar para viver; [o tempo necessário para produzir seus meios de subsistência]. Porém, no modo de produção capitalista a jornada de trabalho não pode nunca reduzir-se a esse mínimo. b) limite máximo: determinado duplamente. O limite físico da força de trabalho, tendo que satisfazer suas necessidades físicas: dormir, se alimentar, etc. O limite moral, satisfazendo suas necessidades sociais, espirituais (determinados pelo nível geral de civilização). < “O capital é trabalho morto que como vampiro se reanima sugando o trabalho vivo” >. O capitalista apoia-se na lei da troca de mercadorias; procurando, como qualquer outro comprador, extrair o maior proveito do valor-de-uso de sua mercadoria. Com isso tem o capitalista o direito de usar a força de trabalho para ele: “O consumo da mercadoria não pertence ao vendedor que a aliena, mas ao comprador que a adquire”. Assim, “o que de teu lado aparece como valor do capital, é do meu lado dispêndio excedente de força de trabalho”. Não resulta da natureza da troca de mercadorias nenhum limite à jornada de trabalho ou ao trabalho excedente. O capitalista quer seu direito, como comprador, de 34 prolongar o uso da sua mercadoria (prolongando a jornada). O trabalhador quer seu direito, como vendedor, de limitar a jornada de trabalho. Desta antinomia, direito contra direito, resulta que, entre direitos iguais e opostos decide a força. Assim, “a regulamentação da jornada de trabalho se apresenta, na história da produção capitalista, como luta pela limitação da jornada, um embate que se trava entre a classe capitalista e a classe trabalhadora”. 2. A AVIDEZ POR TRABALHO EXCEDENTE. O FABRICANTE E O BOIARDO (pgs. 265-275) Não foi o capital quem invento o trabalho excedente. Em toda sociedade onde uma parte possui o monopólio dos meios de produção, o trabalhador tem de acrescentar ao tempo de trabalho necessário, o trabalho excedente. Quando um povo entra no mercado mundial dominado pela produção capitalista, a venda ao exterior torna-se o interesse dominante, sobrepondo-se assim, “aos horrores bárbaros da escravatura, da servidão etc. a crueldade civilizada do trabalho em excesso”. Existem relatos dos inspetores de fábrica, subordinados ao Ministério do Interior, constituídos pela Lei fabril de 1850, que autoriza 10 horas para a jornada média. Assim, nem em crises onde a produção é interrompida o empenho de prolongar a jornada de trabalho. Quanto menos negócios, maior tem que ser o lucro sobre os negócios. 3. RAMOS INDUSTRIAIS INGLESES ONDE NÃO HÁ LIMITES LEGAIS À EXPLORAÇÃO (pgs. 275-290) O empenho em prolongar a jornada de trabalho ... levou finalmente à imposição de restrições legais ao capital. Assim, nas fábricas de renda, na indústria cerâmica, nas fábricas de fósforos, de papéis pintados. 4. TRABALHO DIURNO E NOTURNO. SISTEMA DE REVEZAMENTO (pgs. 290-299) 35 Os meios de produção (o capital constante) só existem (do ponto de vista da criação de mais valia) para absorver trabalho excedente. Durante o tempo que estão parados representam adiantamento inútil de capital. O impulso imanente da produção capitalista é apropriar-se do trabalho durante todas as 24 horas do dia. É necessário, portanto, revezar as forças de trabalho a serem empregadas nos períodos diurno e noturno; e existem diferentes métodos de revezamento. O processo de produção ininterrupto de 24 horas proporciona a oportunidade altamente desejada de ultrapassar os limites da jornada nominal de trabalho. Assim, os menores de 18 anos, para diminuir os custos salariais do trabalhadores adultos, forma compelidos a trabalhar também a noite. Sendo a produção de uma mercadoria “mero pretexto para a produção de mais valia”, se absorve mais trabalho excedente em 24 horas do que em 12. Há um prejuízo para o capital com a maquinaria ociosa. No caso do aço, a perda de fornos ociosos é de duas ordens: se os fornos forem mantidos acessos com as máquinas paradas haverá gasto inútil de combustível; se os fornos forem apagados, haverá perda de tempo para acende-los e obter o grau necessário de calor. 5. A LUTA PELA JORNADA NORMAL DE TRABALHO. LEIS QUE PROLONGAM COMPULSÓRIAMENTE A JORNADA DE TRABALHO, DA METADE DO SÉCULO XIV AO FIM DO SÉCULO XVII (pgs. 300-315) Ficou claro que o trabalhador nada mais é que força de trabalho, e todo o tempo disponível é por “natureza” e por lei, tempo de trabalho a ser empregado no aumento do capital. “Não é a conservação normal da força de trabalho que determina o limite da jornada de trabalho, ao contrário, é o maior dispêndio possível diário da força de trabalho ... que determina o limite do tempo de descanso do trabalhador”. “A produção capitalista ... não causa apenas a atrofia da força de trabalho, ... ela ocasiona [também] o esgotamento prematuro e a morte da própria força de trabalho”. 36 [A morte rápida do trabalhador obriga à rápida substituição]. “Se o prolongamento da jornada ... encurta a vida do trabalhador ... torna-se então necessária a mais rápida substituição dos elementos desgastados”. [Porém, o capitalista não perde capital, como o dono dos escravos ou o senhor dos servos, ao perder a mercadoriaforça de trabalho; pois ao ser esta “livre”, não é propriedade do capitalista, e a repõe com o exército de reserva]. “O senhor de escravos compra um trabalhador como compra um cavalo. Ao perder o escravo perde um capital ...”. Mas a solução está no aumento da oferta de força de trabalho e seu recrutamento de fora. Em 1834 os fabricantes propuseram à Poor Law Comission (Comissão de Assistência aos Pobres) que enviaram a população agrícola. Cria-se, assim, uma população excedente (excedente em relação às necessidades momentâneas do capital de expandir o valor). “O estabelecimento de uma jornada normal de trabalho é o resultado de uma luta multissecular entre o capitalista e o trabalhador”. 1) Primeiro estatuto dos trabalhadores: decretado por Eduardo III em 1349, teve como argumento a peste negra que dizimou a população, ficando salários razoáveis e limitando a jornada de trabalho. 2) Em 1496, no reinado de Henrique VII, é novamente regulado a duração da jornada. 3) Em 1562, o estatuto da Rainha Isabel, reduz os intervalos sem alterar a duração da jornada. “Para extirpar a preguiça, a licenciosidade e as divagações românticas de liberdade ...” deve “encarcerar os trabalhadores que dependam da beneficência pública” num “asilo ideal de trabalho”, numa “casa de terror”. Em 1770, essa cassa do terror para os indigentes é a fábrica. 6. A LUTA PELA JORNADA NORMAL DE TRABALHO. LIMITAÇÃO LEGAL DO TEMPO DE TRABALHO. A LEGISLAÇÃO FABRIL INGLESA DE 1833 A 1864 (pgs. 315- 339) A partir do nascimento da indústria moderna, no último terço do século XVII, ... todas as fronteiras (da jornada de trabalho) estabelecidas pela moral e pela natureza, 37 pela idade ou pelo sexo, pelo dia e pela noite, foram destruídas. “Eram as orgias do capital”. “Logo que a classe trabalhadora, atordoada pelo tumulto da produção, recobra seus sentidos, tem início sua resistência”. De 1802 a 1833 o Parlamento promulgou 5 leis sobre trabalho, porém sem recursos. Era letra morta. 1) Só em 1833, com a lei fabril, aparece uma jornada normal de trabalho para as crianças nas indústrias têxteis. O capitalista começou uma agitação contra essa lei, intimidando o governo que em 1835 reduziu a idade limite da infância de 13 para 12 anos, além de um novo sistema de turnos múltiplos irregulares que impedia o controle da jornada de trabalho dos trabalhadores (que revezavam de forma irregular). 2) Em 1844, entra em vigor a lei fabril adicional, colocando sobre proteção uma nova categoria: as mulheres. [Estas leis não são concessões do Estado; resultam das necessidades do capital e das lutas de classes]. “Essas disposições ... não resultam de uma criação cerebrina do Parlamento. Desenvolveram-se progressivamente de conformidade com as condições do modo de produção ... Sua elaboração, reconhecimento oficial e proclamação pelo Estado foram a conseqüência de uma longa luta de classes”. De 1844 a 1857 vigorou a jornada de 12 horas em todos os ramos industriais submetidos à legislação fabril. Por outro lado, o movimento cartista, em campanha pela jornada de 10 horas, atinge seu memento culminante. 3) Em 1847, a nova lei fabril, para mulheres e adolescentes (de 13 a 18 anos), estabelecia jornada de 11 horas e de 10 a partir de 1848. “O capital desfechou uma campanha inicial para impedir a plena aplicação da lei. Os fabricantes procuraram reverter isso com uma rebaixa geral de salários de até um 25%. Porém, nenhuma dessas leis limitava a jornada para o trabalhador adulto, apenas para a criança e adolescente e para a mulher. Com essas vitorias do capital (reduzindo salários e burlando a lei) surgiu uma reviravolta dos trabalhadores. 38 4) Em 1850, uma nova lei fabril, produto de compromisso entre trabalhadores e fabricantes. “Foi uma transação pela qual o trabalhador abriu mão dos benefícios de lei das 10 horas, para obter em troca um começo e um término uniformes do trabalho”. 5) A lei de 1850 foi finalmente complementada em 1853, com a proibição de empregar crianças pela manhã e à noite. 6) De 1853 a 1860, surge o renascimento físico e moral dos trabalhadores. 7. A LUTA PELA JORNADA NORMAL DE TRABALHO. REPERCUSSÕES DA LEGISLAÇÃO FABRIL INGLESA NOS OUTROS PAÍSES (pgs. 339- 345) 1º) De início, o capital satisfez seu impulso de prolongar a jornada sem limites. 2º) A instituição de uma jornada normal de trabalho é, por isso, o resultado de uma guerra civil de longa duração, mais ou menos oculta, entre a classe capitalista e a classe trabalhadora. Primeiramente travada na Inglaterra, depois na França, nos Estado Unidos. Assim, “o pomposo catálogo dos direitos inalienáveis do homem será substituído pela modesta Magna Carta que limita legalmente a jornada de trabalho ... Que transformação!”. CAP. IX: TAXA E MASSA DE MAIS VALIA (pgs. 346-356) Suposto: o valor da força de trabalho (e do trabalho necessário) é uma magnitude constante. Desse modo basta conhecer a taxa de mais valia para se saber a quantidade dela. A Massa de Mais Valia (se constante a taxa de exploração) depende de: a) número de empregados, e b) valor médio da força de trabalho. A Massa de Mais Valia é igual à mais valia de um trabalhador individual, multiplicada pelo número de trabalhadores. 1ª lei: A Massa de Mais Valia é igual à magnitude do capital variável total, multiplicada pela taxa de mais valia; ou ao valor de uma força de trabalho, multiplicado pelo grau de exploração e pelo número de forças de trabalho. M = Massa da Mais Valia 39 m = mais valia de um trabalhador individual v = capital variável (de uma força de trabalho individual) V = soma total do capital variável f = valor médio de uma força de trabalho t’/t = trabalho excedente / trabalho necessário = grua de exploração n = número de trabalhadores { M = m/v . V ou f . t’/t . n } Na produção de determinada quantidade de mais valia, o decréscimo de um fator pode ser compensado com o aumento de outro. A redução do capital variável pode ser compensada por aumento do grau de exploração (da taxa de mais valia); ou o decréscimo no número de trabalhadores pelo aumento do dia de trabalho. Ao contrário, o decréscimo na taxa de mais valia não altera a quantidade da mais valia, se há um acréscimo compensatório na magnitude do capital variável, ou no número de trabalhadores. 2ª lei: Tendência do capital de reduzir tanto quanto possível o número de trabalhadores empregados (a parte variável do capital), em contradição com sua outra tendência de produzir a maior quantidade possível de mais valia. 3ª lei: a) dados a taxa de mais valia (grau de exploração) e o valor da força de trabalho, quanto maior o capital variável tanto maior a quantidade de valor e de mais valia produzida; b) dados os limites da jornada de trabalho e de sua parte necessária, a quantidade de valor e de mais valia dependem apenas da quantidade de trabalho ou do número de trabalhadores. O valor dos meios de produção não tem qualquer influência no processo de criação da mais valia. 1) Dentro do processo de produção, o capital conquistou o comando sobre o trabalho, sobre o trabalhador. 2) Esse comando é feito coercitivamente, forçando a classe trabalhadora a trabalhar mais do que exigem as próprias necessidades. 3) De início, o capital submete o trabalhador ao seu domínio nas condições técnicas em que o encontra historicamente; não modificando imediatamente o modo de produção. 40 a) se observarmos o processo de produção do ponto de vista do processo de trabalho, para o trabalhador, os meios de produção não são capital mas simples meios e materiais para sua atividade produtiva adequada a um fim. b) Do ponto de vista do processo de criar valor, os meios de produção se transformam imediatamente em meios de absorção de trabalho alheio 41 P A R T E Q U A R T A A PRODUÇÃO DA MAIS VALIA RELATIVACAP. X: CONCEITO DE MAIS VALIA RELATIVA (pgs. 359-369) [ I. Jornada de trabalho variável ] [Mais Valia Absoluta — com jornada de trabalho variável] Sendo o tempo de trabalho necessário uma constante, tinha que variar (ampliar) a jornada de trabalho (e, assim, tempo de trabalho excedente). [ II. Jornada de trabalho fixa ] Sendo a jornada de trabalho fixa, como aumentar o tempo de trabalho excedente? Se “c” é fixo, na relação a------b------c, deve-se levar “b” na direção de “a”. “À prolongação do trabalho excedente [sendo fixa jornada de trabalho] corresponderá a redução do trabalho necessário”, mudando assim o modo de repartir-se a jornada em trabalho necessário e excedente. O valor dos meios de subsistência nos proporciona o valor da força de trabalho; e determinado o valor da força de trabalho temos a duração diária do trabalho necessário. Tendo a duração da jornada de trabalho, e do tempo necessário, podemos calcular o tempo de trabalho excedente. [Mais Valia Absoluta — com jornada de trabalho fixa] Isto só pode ocorrer rebaixando o salário do trabalhador aquém do valor de sua força de trabalho. Porém, a pesar do papel que este método representa no movimento real dos salários, fere o pressuposto de mercadorias compradas e vendidas pelo seu valor integral. [Mais Valia Relativa] Não podendo o salário ser inferior ao valor da força de trabalho (segundo o pressuposto), no entanto pode cair esse valor. [ Isto pode ser por dois mecanismos: ] 42 [ a) Mantendo o salário, mantendo o preço de venda das mercadorias (da própria indústria), no entanto aumento (por meio de tecnologia) a produtividade ou intensidade (o número de mercadorias produzida pela indústria) aumentando, portanto, a renda total e diminuindo o tempo necessário. Isto depende da produtividade da indústria em particular, independentemente das demais indústrias]. Para isso, deve-se conseguir que seja produzida a mesma quantidade de peças em menos tempo. Isto é possível aumentando a produtividade do trabalho, o que exige alteração no instrumental e/ou no método de trabalho. Isto permite encurtar o tempo de trabalho socialmente necessário, produzindo com a mesma quantidade de trabalho quantidade maior de valor-de-uso (pg. 362). Isto é possível, por uma produtividade excepcional, [isto é, maior que a produtividade média]. No mesmo espaço de tempo produz-se maior valor; assim, mantendo o salário, o tempo necessário para produzir esse valor é menor; aumentando o tempo de trabalho excedente (pg. 366). Para isto é preciso mudar as condições técnicas e sociais do processo de trabalho, mudando o próprio método de produção (pg. 362). Mais valia absoluta: é “a produzida pelo prolongamento do dia de trabalho” Mais valia relativa: é “a decorrente da contração do tempo de trabalho necessário” alterando a proporção das partes da jornada. [ b) Aumentando a produtividade das indústrias em geral e diminuindo o valor (o tempo socialmente necessário) das mercadorias (meios de subsistência), pode-se reduzir o salário do trabalhador mantendo-se, mesmo assim, equivalente ao valor da força de trabalho (que se reduz). Isto depende da produção do conjunto de indústrias que produzem artigos da cesta base (meios de subsistência), independentemente da indústria em particular ]. Posso diminuir o valor da força de trabalho (e do salário) das seguintes formas: 1) aumentando a produtividade dos ramos industriais cujos produtos determinam o valor da força de trabalho (meios de subsistência); 2) barateando os elementos materiais do capital constante, o instrumental e o material de trabalho (pg. 363). 43 A redução do valor da força de trabalho (e do salário) é igual à soma (proporcional ao peso de cada mercadoria na reprodução da força de trabalho) das reduções do tempo de trabalho necessário em todas as indústrias que contribuem com meios de subsistência. < “As tendências gerais e necessárias do capital devem ser distinguidas de suas formas de manifestação” > A mais valia para a indústria com produtividade acima da média. O verdadeiro valor de uma mercadoria não é o valor (o tempo de trabalho) individual, mas o valor social (o tempo de trabalho socialmente necessário). Na empresa de melhor produtividade, o valor individual de uma mercadoria é inferior ao seu valor social. Aumentando além do mais o volume de produção, o capitalista desta indústria deve aumentar as vendas, e faz isso diminuindo o preço (abaixo do valor social, porém acima do valor individual). [ Assim o capitalista aumenta sua vais valia de duas formas: (a) aumentando o tempo excedente (e diminuindo o necessário), (b) reduzindo os custos de produção das mercadorias abaixo do custo social (médio) ]. Generalização da tecnologia-organização/produtividade. A mais valia extra da indústria de ponta se desvanece quando se generaliza o novo modo de produção [e a tecnologia], desaparecendo assim a diferença entre o valor individual e social das mercadorias (pg. 366). O valor das mercadorias (e da força de trabalho, por ser determinada pelos valores dessas mercadorias) varia na razão inversa da produtividade do trabalho. Em contraposição, a mais valia relativa varia na razão direta da produtividade. “Por isso, é impulso imanente e tendência constante do capital elevar a força produtiva do trabalho para baratear a mercadoria e, como conseqüência, o próprio trabalhador” (pg. 367). “Poupança do trabalho por meio do desenvolvimento da produtividade do trabalho não tem como fim a atingir, na produção capitalista, a redução da jornada de trabalho. Seu objetivo é apenas reduzir o tempo de trabalho requerido para produzir determinada quantidade de mercadoria”. “O desenvolvimento da produtividade do trabalho na produção capitalista tem por objetivo reduzir a parte do dia de trabalho 44 durante a qual o trabalhador tem de trabalhar par si mesmo, justamente para ampliar a outra parte durante a qual pode trabalhar gratuitamente para o capitalista” (pg. 368-9), [não para gerar maior tempo livre ao trabalhador]. CAP. XI: COOPERAÇÃO (pgs. 370-385) “A produção capitalista só começa realmente quando um mesmo capital particular ocupa, de uma só vez, número considerável de trabalhadores, quando o processo de trabalho amplia sua escala e fornece produtos em maior quantidade”. “O ponto de partida da produção capitalista” está na “atuação simultânea de grande número de trabalhadores, no mesmo local, ... no mesmo campo de atividade, para produzir a mesma espécie de mercadoria sob o comando do mesmo capitalista”. De início, a diferença entre a produção industrial e a manufatura e o artesanato é puramente quantitativa. “A lei da produção do valor só se realiza para o produtor individual quando produz como capitalista, empregando, ao mesmo tempo, muitos trabalhadores”. “Mesmo não se alterando o método de trabalho, o emprego simultâneo de grande número de trabalhadores opera uma revolução nas condições materiais do processo de trabalho. Cooperação: é “a forma de trabalho em que muitos trabalham juntos ... no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes mas conexos” (pg. 374). A) Cooperação simples: “Quando os trabalhadores se completam mutuamente fazendo a mesma tarefa”. B) Cooperação [ manufatureira ]: Quando se repartem diferentes operações entre os trabalhadores (pg. 376). Conseqüências da cooperação: (1) maior parte dos meios de produção é usada em comum; e “meios de produção utilizados em comum cedem porção menor de valor a cada produto isolado” (dado que o total da transferência se reparte entre quantidade maior de produtos, diminuindo o valor do produto, mesmo que represente um gasto geral maior — “diminui 45 a porção de valor do capital constante que se transfere a cada produto isolado e na proporção dessa queda cai o valor global da mercadoria) (pg. 373). [ Tendo
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