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MARX E O MATERIALISMO

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1 
 
RAYLANE SOUSA
*
 
 
MARX E O MATERIALISMO HISTÓRICO 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Inicialmente, o nosso objetivo é pensar o impacto e a relevância de Marx para a historiografia 
a partir da formulação da sua concepção materialista da história. Em seguida, visamos discutir 
com maior detalhe o que é a teoria materialista da história proposta por Marx como modo de 
interpretar e transformar o mundo, apontando e explicitando a importância de conceitos, como 
“forças produtivas”, “modo de produção”, “base” e “superestrutura”. Por fim, intentamos 
refletir sobre por que esta determinada forma de abordagem da história vem sofrendo críticas 
de antimarxistas, não-marxistas e até dos próprios marxistas. Para tal discussão, utilizamos 
como esteio teórico principalmente as obras “A Ideologia Alemã (1846)”, de Marx, onde 
encontramos as suas primeiras formulações sobre o materialismo histórico e a sua concepção 
da história, e o Prefácio de 1859 à sua obra intitulada “Para a Crítica da Economia Política”. 
Fizemos uso também de obras de autores que tratam do assunto, como Hobsbawm, Josep 
Fontana, Michel Löwy, José Carlos Reis, entre outros. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Marx; História em Marx; Materialismo Histórico. 
 
 
 
1. A HISTÓRIA, O MARXISMO E A CONCEPÇÃO MATERIALISTA DA 
HISTÓRIA 
 
Tese VIII - Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que 
conduzem ao misticismo encontram sua solução racional na práxis humana e na 
compreensão dessa práxis. 
Tese XI – Os filósofos só interpretaram o mundo de diferentes maneiras; do que se 
trata é de transformá-lo.
1
 
 
 
 
*
 Graduanda em História pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Bolsista do Programa de Educação Tutorial 
(PET-História/UFC) E-mail: marques.raylane@gmail.com. O presente trabalho é orientado por Frederico de 
Castro Neves, Doutor em História; Professor da Graduação e da Pós-Graduação do Departamento de História da 
Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: fredcneves@msn.com . 
1
 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Teses sobre Feuerbach. In: A Ideologia Alemã. Tradução: Luis Cláudio de 
Castro e Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 102-103. 
mailto:marques.raylane@gmail.com
mailto:fredcneves@msn.com
 
2 
 
 Os fragmentos acima foram retirados da obra conjunta de Marx e Engels, “A 
Ideologia Alemã”, trabalho este desenvolvido em Bruxelas, entre 1845 e 1846. Para Engels, o 
nascimento do “materialismo histórico” se dá nesse período. Isto é, foi nesse momento que 
Marx formulou pela primeira vez nas “Teses sobre Feuerbach” a sua crítica à economia 
política e à filosofia do Direito e o descompasso destas com a realidade social observada. 
 A concepção materialista da história de Karl Marx é uma espécie de síntese, 
elaborada a partir das influências dos pensadores alemães Hegel e Feuerbach. É importante, 
antes de explicitarmos a concepção materialista da história e a concepção de história 
empreendida por Marx, revisarmos brevemente as influências teóricas que acompanharam a 
elaboração do pensamento de Marx sobre o materialismo histórico, sobretudo para 
entendermos sobre quais pressupostos teóricos o pensador constrói o edifício da sua teoria. 
 A obra conjunta de Marx e Engels, “A Ideologia Alemã”, é um texto destinado, 
antes de tudo, a fazer uma crítica às ideias dos jovens hegelianos, sobretudo às de Feuerbach, 
de Bauer e de Stirner, que elaboram as suas críticas sobre o mundo e a realidade em que 
vivem a partir das ideias, das abstrações teóricas, do método especulativo, sem considerar a 
realidade material, concreta, em que estão envoltos, inseridos. A crítica de Marx ao método 
especulativo utilizado por esses teóricos na avaliação do mundo e da realidade é uma tentativa 
de esclarecer o erro que eles estão cometendo ao ignorar a realidade concreta dos indivíduos e 
as suas formas de atuação. Marx defende que o mundo e a realidade devem ser analisados, 
estudados com métodos empíricos, e não especulativos, como todos os filósofos alemães de 
seu tempo estavam fazendo. 
 A influência de Feuerbach sobre o pensamento materialista de Marx reside no 
fato de Feuerbach defender, entre outras coisas, que muitas das ideologias que os homens 
criam, acreditam e defendem podem ser explicadas a partir das condições materiais em que se 
encontram. No entanto, Marx, logo na primeira das “Teses sobre Feuerbach”, afirma que o 
materialismo de Feuerbach tem um defeito, assim como todo materialismo elaborado até o 
momento, a saber, “apreende o objeto, a realidade, o mundo sensível sob a forma de objeto ou 
de intuição, e não como atividade humana sensível, enquanto práxis, de maneira não 
subjetiva.” 
2
 Já a influência de Hegel sobre o pensamento materialista histórico de Marx vai 
mais além. Marx é, em muitos aspectos, devedor de Hegel na sua interpretação materialista da 
história. A noção de história como movimento processual, dialético e progressivo é uma 
noção herdada de Hegel. Marx se apropria das ideias, métodos e conceitos formulados por 
Hegel, mas para elaborar sua própria teoria. 
 A concepção de história de Hegel pressupõe que a história da humanidade é a 
história do desenvolvimento da Ideia, do espírito abstrato ou absoluto da humanidade até a 
sua efetivação, que ocorre no Estado Moderno. É, portanto, uma concepção especulativa, 
idealista, esotérica, da história. Nessa concepção da história proposta por Hegel, o homem não 
é um sujeito que determina as suas condições sociais e materiais, mas, antes, é determinado, e 
tem as condições sociais e materiais determinados por um ser extraterreno, que está além, 
acima do homem. Contra esse tipo de história, de interpretação idealista da realidade, Marx 
levantará suas críticas e alcançará subsídios para desenvolver a sua concepção materialista da 
história. 
 Para Marx, ao contrário de Hegel, a história é feita pelos indivíduos efetivos, 
reais, e é a sua atuação e as suas condições materiais que determinam sua forma de vida e sua 
existência. Os homens são os responsáveis por produzir seus meios de subsistência e, 
consequentemente, são responsáveis por produzir sua vida material e sua história. Marx 
afirma, ao expor a sua concepção da história, 
 
 
2
 Idem, p. 99. 
 
3 
 
É aí que termina a especulação, é na vida real que começa, portanto, a ciência real, 
positiva, a análise da atividade prática, do processo, do desenvolvimento prático dos 
homens [...] Com o conhecimento da realidade, a filosofia não tem mais um meio 
para existir de maneira autônoma. Em seu lugar, poder-se-á no máximo colocar uma 
síntese dos resultados mais gerais que é possível abstrair do estudo do 
desenvolvimento histórico dos homens. Essas abstrações, tomadas em si mesmas, 
desvinculadas da história real, não têm absolutamente nenhum valor. Podem quando 
muito servir para a classificação mais fácil da matéria histórica, para indicar a 
sucessão de suas estratificações particulares. Mas não dão, de modo algum, como a 
filosofia, uma receita, um esquema segundo o qual se possam ordenar as épocas 
históricas.
3
 
 
 
 Devemos notar, de passagem, que a crítica de Marx é dirigida contra a 
afirmação que os conceitos determinam as condições materiais, como pensam os filósofos 
especulativos. A história, para Marx, não é a história do desenvolvimento do espírito abstrato 
até a sua efetivação, mas, sim, a história real, da luta de classes, do intenso conflito entre a 
burguesia e o proletariado. A primeira vez que Marx e Engels apresentaram ao público a sua 
concepção de história foi no “Manifesto do Comunista de 1848”, obra escrita a partir do 
pedido da “Liga dos Comunistas”. Nessa obra, Marx afirma: “A História de todas as 
sociedades até os dias atuais é a história da luta de classes”.
4
 Mas é em 1859, no Prefácio da 
Contribuição à Crítica da EconomiaPolítica, que Marx desenvolve mais esquematicamente a 
sua concepção de história. 
 
 
 Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações 
necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem 
a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O 
conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a 
base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual 
correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da 
vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. 
Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu 
ser social é que determina a sua consciência. Ao chegar a uma determinada fase de 
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as 
relações de produção existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com 
as relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali. De formas de 
desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se convertem em obstáculos a 
elas. E se abre, assim, uma época de revolução social. Ao mudar a base econômica, 
revoluciona-se, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida 
sobre ela. Quando se estudam essas revoluções, é preciso distinguir sempre entre as 
mudanças materiais ocorridas nas condições econômicas de produção e que podem 
ser apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais, e as formas jurídicas, 
políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em 
que os homens adquirem consciência desse conflito e lutam para resolvê-lo. E do 
mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo, 
não podemos tampouco julgar estas épocas de revolução pela sua consciência, mas, 
pelo contrário, é necessário explicar esta consciência pelas contradições da vida 
material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de 
produção. Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as 
forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem relações de pr6dução novas e 
 
3
 Idem, p. 20-21. 
4
 MARX, Karl; ENGELS Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Tradução: Antonio Carlos Braga. São 
Paulo: Editora Escala, 1998, p. 47. 
 
4 
 
mais altas antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as condições 
materiais para a sua existência. Por isso, a humanidade se propõe sempre apenas os 
objetivos que pode alcançar, pois, bem vistas as coisas, vemos sempre, que esses 
objetivos só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação as 
condições materiais para a rua realização. A grandes traços podemos designar como 
outras tantas épocas de progresso, na formação econômica da sociedade, o modo de 
produção asiático, o antigo, o feudal e o moderno burguês. As relações burguesas de 
produção são a última forma antagônica do processo social de produção, antagônica, 
não no sentido de um antagonismo individual, mas de um antagonismo que provém 
das condições sociais de vida dos indivíduos. As forças produtivas, porém, que se 
desenvolvem no selo da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições 
materiais para a solução desse antagonismo. Com esta formação social se encerra, 
portanto, a pré-história da sociedade humana.
5
 
 
 
 
 
 O fragmento acima é considerado o texto canônico dos marxistas para a 
interpretação do materialismo histórico e da concepção de história desenvolvida por Marx. 
Termos, como “forças produtivas”, “relações de produção”, “base econômica”, 
“superestrutura”, são bastante citados pelos estudiosos das obras de Marx. No entanto, alguns 
estudiosos mais criteriosos sugerem que análises aligeiradas e superficiais do tal fragmento 
podem levar a interpretações não muito coerentes da “Teoria marxista da história”, que o 
pensador deposita no excerto. Diante disso, esclarece criticamente Josep Fontana, e chama a 
nossa atenção para outra observação, que diz respeito ao materialismo histórico como método 
de abordagem da realidade observada, e não simplesmente como uma teoria da história 
formulada por Marx. 
 
 
“a verdade é que o texto do prefácio de Marx de 1859 permaneceria como 
documento essencial, suposto guia metodológico de uma “teoria marxista da 
história” que, em boa medida, estava por construir, e que, por isso mesmo, é inútil 
estudar, sem esquecer que, para Marx, o materialismo histórico era mais um método 
do que uma teoria. A consequência disto foi que a maior parte dos estudos sobre a 
teoria da história de Marx não foi além de discussões teológicas em torno do 
prefácio à Contribuição, sem confrontá-lo, como seria necessário, com outras 
formulações marxistas. ”
6
 
 
 
 
 
 O problema de interpretação que se forma a partir da análise aligeirada do 
fragmento canônico do marxismo citado anteriormente se desdobra em novos problemas, 
comuns aos estudiosos das obras de Marx, a saber, o problema do determinismo histórico e o 
problema do conceito de “base” e “superestrutura”. Quanto ao problema do determinismo 
histórico, alguns intérpretes tomam o materialismo histórico como determinismo econômico. 
Tal interpretação da teoria de Marx afirma que todos os fenômenos históricos são derivados 
de fenômenos econômicos. No entanto, devemos entender Marx dentro de seu contexto 
histórico. No momento em que formula a sua teoria, Marx está observando as transformações 
 
5
 MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 
6 FONTANA I LAZARO, Josep. Marx e o Materialismo Histórico. In: A história dos homens. Tradução: 
Heloisa Jochims Reichel e Marcelo Fernando Da Costa. São Paulo: EDUSC, 2004, p. 210. 
 
 
5 
 
econômicas que ocorrem em seu tempo. Porém, não podemos dizer que a predileção de Marx 
pelo estudo de questões econômicas o torna um reducionista. Pelo contrário, ele reconhece a 
importância do político e do cultural na análise dos fenômenos sociais. Quanto ao problema 
dos conceitos de “base” e “superestrutura”, embora sejam conceitos importantes para a análise 
do materialismo histórico, tem a ver com a questão da interpretação evolutiva da história. 
Muitos intérpretes entendem que a teoria de Marx é teleológica, evolutiva, e sustentam que, 
para Marx, “há uma tendência evolutiva inevitável das forças produtivas materiais da 
sociedade que, dessa forma, entram em contradição com as relações produtivas existentes e 
suas expressões superestruturais relativamente inflexíveis, que, então precisam recuar” 
7
. 
Marx realmente faz uma abordagem evolutiva da história da humanidade, e a aponta como 
uma sucessão de sistemas socioeconômicos, onde, por fim, o capitalismo deve ser suplantado 
pelo proletariado. No entanto, não se trata de um processo que deve ocorrer independente da 
intervenção humana. Pelo contrário, o que prevalece nesse processo é a vontade humana, 
embora condicionada historicamente. 
 O materialismo histórico de Marx, se entendido como método de abordagem da 
realidade social então observada, toma as relações sociais concretas travadas entre os homens 
como objeto de análise. Não se trata apenas de um método de investigação e classificação 
esquemática e rígida dos fatos históricos, como faziam os pensadores da corrente positivista, 
mas, antes, é um método que visa apreender a realidade histórica da humanidade com todos 
os seus desafios e todas as suas contradições. Por meio do seu método de abordagem do real 
conhecemos qual a concepção marxiana da história. Ao contrário da concepção idealista da 
história, a concepção marxiana da história não explica a prática a partir das ideias, mas 
explica a formação das ideias a partir da prática.Esta concepção da história defendida por 
Marx tenta mostrar que os homens fazem sua própria história, e através dela - da história - são 
feitos e refeitos. 
 A concepção da história proposta por Hegel é a expressão maior da 
historiografia alemã do século XIX, a qual não leva em conta os sujeitos reais, os interesses 
reais, mas sim os conceitos, as ideias. As ideias, na acepção de Hegel, determinam as ações 
dos homens, e não vice-versa. Tal concepção idealista toma a história como uma reunião de 
fatos, que devem ser analisados empiricamente, sem o elemento da vida, ou tomam a história 
como a história dos sujeitos imaginários, isto é, desencarnados, desprovidos de ação. É contra 
essa historiografia germânica idealista, especulativa, abstrata, a qual desconsidera os homens 
como seres concretos, que têm a chave da história para mudar o futuro da humanidade, que 
Marx firmemente se insurgirá em seus escritos. 
 Na concepção de história referendada por Marx, as formas de consciências que 
compõem a sociedade – a política, a religião, a filosofia, a metafísica, a estética - não podem 
ser enxergadas desvinculadamente da atividade material desenvolvida pelos homens. São os 
homens que transformam a sua realidade, o seu pensamento e os produtos oriundos do seu 
pensamento Os homens são os produtores ativos das formas de consciências que constituem a 
sociedade, e não ao contrário, como afirma Hegel. A concepção da história proposta por 
Hegel faz esta inversão: parte das coisas que o homem pensa, diz, planeja, para chegar ao 
homem concreto. Para Marx, o processo se dá de maneira inversa: ele parte do homem ativo, 
concreto, real, para o que o homem pensa, diz, imagina. Segundo Marx, 
 
 
 
7
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, 
177. 
 
 
6 
 
Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui é da terra que se 
sobe para o céu. Em outras palavras, não partimos do que os homens dizem, 
imaginam, representam, tampouco do que eles são nas palavras, no pensamento, na 
imaginação e na representação dos outros, para depois se chegar aos homens de 
carne e osso; mas partimos dos homens em sua atividade, é a partir do seu processo 
de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos e das 
repercussões ideológicas desse processo vital. E mesmo as fantasmagorias existentes 
no cérebro humano são sublimações resultantes necessariamente do processo de vida 
material, que podemos constatar empiricamente e que repousa em bases materiais.
8
 
 
 
 
 Para Marx, não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina 
a consciência. A consciência é considerada apenas como a consciência do indivíduo, um 
produto social fabricado pelo indivíduo, e nada mais. As relações legais e as formas políticas 
não podem ser compreendidas por si mesmas, independentes das condições materiais. Pelo 
contrário, as relações legais e políticas que formam a sociedade estão diretamente ligadas às 
condições materiais. 
 Esta concepção da história que Marx refuta considera que as ideias, as 
representações, as concepções são ideias autônomas e predominantes na sociedade. Dito de 
outro modo, esta concepção da história defende que as ideias dominantes na sociedade não 
estão vinculadas à classe que as produz, e não são reflexos das relações materiais, como 
inversamente defende a teoria materialista da história de Marx. Para Marx, ao contrário, as 
ideias dominantes na sociedade não são autônomas, portanto não estão desvinculadas das 
condições materiais da sociedade. As ideias, as representações, as concepções que formam a 
sociedade nunca podem ser entendidas por si mesmas, autonomamente, mas, antes, como 
determinadas pelas condições materiais. Desta forma, as ideias predominantes na sociedade 
são as ideias da classe social dominante, que detém a força material. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 É inegável a contribuição de Marx para a historiografia moderna. Em geral, no 
século XIX, a única corrente de pensamento que se encarregava de investigar o passado era a 
escola Positivista, que foi também responsável por introduzir conceitos, métodos e ideias das 
ciências naturais na investigação histórica. O materialismo histórico de Marx chega como 
alternativa à corrente positivista predominante no momento. Marx reconhece e defende como 
histórica as relações estabelecidas entre os homens, e a relação destes com o ambiente 
exterior. Esse novo olhar sobre a história e sobre as relações estabelecidas entre os homens, 
considerando o contingente, o acidental na história, foi de enorme impacto na historiografia 
moderna. 
 
8 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução: Luis Cláudio de Castro e Costa. São Paulo: 
Martins Fontes, 1998, p. 19. 
 
 
7 
 
 Marx tem um significado ímpar para a historiografia e para os historiadores. 
Apesar de ele não ser um historiador e de não ter escrito especificamente para historiadores, 
ele ainda hoje exerce fundamental influência sobre os que se dedicam a investigar a realidade 
a partir da abordagem materialista da história. Embora muitos historiadores marxistas, 
antimarxistas e não-marxistas apontem a teoria materialista da história como ultrapassada, 
obsoleta ou paradoxal, ela ainda sim tem importância para os estudos históricos na atualidade. 
Como frisa Michael Löwy, o pensamento de Marx “inaugura não uma “ciência da história” – 
que já existia antes dele – mas uma nova concepção de mundo, que permanece uma referência 
necessária para todo pensamento e ação emancipadores” 
9
. E como afirma Hobsbawm, “Marx 
continua ser a base essencial de todo estudo adequado de história, porque – até agora – apenas 
ele tentou formular uma abordagem metodológica da história como um todo, e considerar e 
explicar todo o processo da evolução social humana”.
10
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. El marximo y la historia. In: Las Escuelas históricas. 2ed. 
Madri: Akal, 2004. 
FONTANA I LAZARO, Josep. História: análise do passado e projeto social. Tradução: Luiz 
Rocari. São Paulo: EDUSC, 1998. 
______. A história dos homens. Tradução: Heloisa Jochims Reichel e Marcelo Fernando Da 
Costa. São Paulo: EDUSC, 2004. 
______. Marx e o Materialismo Histórico. In: A história dos homens. Tradução: Heloisa 
Jochims Reichel e Marcelo Fernando Da Costa. São Paulo: EDUSC, 2004. 
GARDINER, Patrick. Karl Marx (1818-1883). In: Teorias da História. Lisboa: Caloste 
Gulbenkian, 2008, p. 153-169. 
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1998. 
LÖWY, Michel. Ideologia e Ciências Sociais: elementos para uma análise marxista. São 
Paulo: Cortez, 1996. 
______. Por um marxismo crítico. Disponível em: 
WWW.pucsp.br/neils/downlouds/v3_artigo_michael.pdf. Acesso em 10 de Agosto de 2012. 
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Tradução: Luis Cláudio de Castro e 
Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
______. Manifesto do Partido Comunista. Tradução: Antonio Carlos Braga. São Paulo: Editora 
Escala, 1998. 
 REIS, José Carlos. O marxismo. In: A história entre a Filosofia e a Ciência. 3ed. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2006, p. 51-56. 
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. 
 
 
 
9
Löwy, Michael. Por um marxismo crítico. Disponível em: 
WWW.pucsp.br/neils/downlouds/v3_artigo_michael.pdf. Acesso em 10 de Agosto de 2012. 
10 HOBSBAWM, Eric. Sobre História. Tradução: Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, 
181. 
 
http://www.pucsp.br/neils/downlouds/v3_artigo_michael.pdf
http://www.pucsp.br/neils/downlouds/v3_artigo_michael.pdf

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