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07 CONCEPÇÃO MARXISTA DA HISTÓRIA

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INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
Caroline Silveira Bauer
O materialismo 
histórico: concepção 
marxista da história
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os conceitos de materialismo histórico e dialético.
  Analisar a concepção marxista da história.
  Discutir sobre a concepção marxista da história e a pesquisa brasileira.
Introdução
A expressão “materialismo histórico” e o termo “marxismo” costumam ser 
utilizados como sinônimos, mas não o são. A primeira faz referência a um 
paradigma, um arcabouço conceitual e teórico de leitura da sociedade. 
Já o segundo, ainda que preserve muitas das considerações do mate-
rialismo histórico, foi uma instrumentalização política das formulações 
de Marx e Engels. Somente a partir da segunda metade do século XX os 
historiadores procuraram se distanciar do dogmatismo e da simplificação 
da reflexão histórica e teórica de Marx e Engels realizada por diferentes 
matizes de partidos políticos. Assim, se aproximaram das obras originais 
e resgataram a complexidade do pensamento dos autores.
Neste capítulo, você vai conhecer o materialismo histórico, a sua 
conjuntura de formulação e os seus principais conceitos. Você também 
vai estudar a concepção de história de Marx e Engels e ver quais são 
os seus legados para a historiografia. Por fim, você vai verificar como o 
materialismo histórico influenciou a pesquisa histórica brasileira.
Principais conceitos
O pensamento marxista se consolidou em torno do materialismo dialé-
tico e do materialismo histórico. Esta última terminologia é, em geral, a 
mais empregada para designar a teoria marxista da história. Além disso, 
Barros (2011) chama a atenção para que não se confunda ou se sobrepo-
nha materialismo histórico e marxismo, que muitas vezes são utilizados 
como sinônimos. Nesse sentido, o autor propõe uma diferenciação entre 
o marxismo-leninismo, como programa de ação política, e o materialismo 
histórico, como um paradigma, um método e uma abordagem teórica para 
a compreensão dos processos históricos.
O materialismo histórico enquanto paradigma foi forjado por Karl Marx 
(1818–1883) e Friedrich Engels (1820–1895) em diálogo com o campo histo-
riográfico e com demais produções das ciências humanas realizadas ao longo 
do século XIX. Suas obras reúnem os conceitos e a teoria que sustentam o 
materialismo histórico. Além disso, em diversas análises os autores colocaram 
em prática essa leitura da realidade.
Conheça um pouco mais sobre a vida de Karl Marx no vídeo disponível no link a seguir, 
produzido nas comemorações do bicentenário do nascimento do autor.
https://goo.gl/MRwq8v
Para Barros (2011), o materialismo histórico possui um núcleo conceitual 
mínimo, composto pelas ideias de dialética, de materialismo e de historici-
dade, além de três conceitos incontornáveis (práxis, luta de classes e modo 
de produção). Contudo, outros conceitos também aparecem seguidamente na 
obra de Marx. A seguir, você vai conhecer algumas definições elaboradas a 
partir do Dicionário de Conceitos Históricos (2009).
O materialismo histórico: concepção marxista da história2
  Dialética: é um método de análise, fundamentado na contradição, que 
organiza o raciocínio para a busca da verdade, analisando uma situação 
contraditória de dada realidade. Para comprovar uma tese, o investigador 
usa uma antítese, ou seja, a negação da própria tese original. Mas a 
negação não é suficiente para a compreensão do fenômeno investigado, 
pois toda negação, em si mesma, contém alguma positividade (não se 
pode negar sem afirmar alguma coisa). É preciso então aproveitar as 
contribuições positivas que existem na tese e na antítese para se chegar 
a uma síntese dos dados conseguidos. De forma simples, a síntese 
seria o conjunto de conclusões às quais o investigador chega por meio 
da análise dialética, mas que não se apresenta como definitivo, visto 
que toda realidade está sujeita ao princípio da contradição. Começa 
então uma nova situação em que o movimento tese–antítese–síntese 
ressurge, dando origem a outra situação, que pode ser observada pelo 
movimento tese–antítese–síntese. Marx construiu uma dialética em 
torno da matéria, formulando o materialismo dialético em oposição à 
dialética dos idealistas Hegel e Fichte.
  Luta de classes: Marx definiu classe social como a posição comum de 
um conjunto de indivíduos no interior das relações sociais de produção. 
Para ele, classe era um grupo social com uma função específica no 
processo produtivo. Por exemplo, os proprietários de terra, os capita-
listas e os trabalhadores constituem classes distintas. Cada um deles 
ocupa um lugar específico no processo de produção: alguns possuem 
a terra, outros, o capital; e os trabalhadores, a habilidade de trabalho. 
As diferentes funções dão a cada classe interesses conflitantes, além 
de ideias e maneiras de agir diferentes. A história, por sua vez, seria 
o relato desses conflitos. Nesse sentido, a tradição marxista tende a 
conceituar classe com base no lugar que cada grupo ocupa na economia. 
Os estudos de Marx e Engels estiveram voltados principalmente para 
as estruturas de classe das sociedades capitalistas, não dando muita 
atenção às relações de classe em outras sociedades. Por um lado, ao 
afirmarem que a história de todas as sociedades tinha sido até então a 
história da luta de classes, os autores deram a entender que houve classes 
sociais em vários períodos históricos. Por outro lado, defenderam que 
a classe era uma característica específica das sociedades capitalistas.
3O materialismo histórico: concepção marxista da história
  Modos de produção: é uma das formulações do materialismo histórico 
que divide a história (sobretudo a história europeia) em épocas distintas 
e sucessivas. Para Marx, os modos de produção correspondem a estágios 
específicos das forças e relações de produção de dada formação social. 
O modo de produção, em linguagem menos teórica, seria o modo pelo 
qual determinada sociedade organiza a sua vida econômica, o trabalho, 
as estruturas políticas e jurídicas e mesmo as manifestações culturais. 
Todos os aspectos da vida em sociedade (desde os aspectos materiais 
até os mentais) estariam determinados pelo modo de produção da vida 
material. Para o materialismo histórico, é a maneira concreta de uma 
sociedade organizar sua produção que dá forma a todo o edifício so-
cial existente nela. Os modos de produção identificados por Marx 
correspondem, em linhas gerais, à história do mundo europeu, desde 
as comunidades primitivas até a última fase, o comunismo. As seis 
épocas históricas ou modos de produção concebidos por Marx são: 
comunismo primitivo; sociedade escravocrata antiga; feudalismo; ca-
pitalismo; socialismo e comunismo. O funcionamento da economia, em 
cada um desses estágios, apresenta níveis de tecnologia e de relações 
de produção particulares.
  Materialidade: para o materialismo dialético, as condições materiais 
de existência (a economia) são o verdadeiro móvel das ações huma-
nas. Assim, a dialética seria o método para se perceber e superar as 
contradições sociais e históricas frequentes nas diversas sociedades 
humanas ao longo da história. O pensamento de Marx consiste em partir 
do real (dos homens reais e de suas contradições) e não das ideias ou 
da mente, como faz Hegel. De acordo com o materialismo dialético, o 
desenvolvimento histórico da humanidade não se dá pela sucessão de 
fatos isolados, mas por um processo que envolve movimento e mudança 
(que, por sua vez, implicam contradições).
  Práxis: a teoria marxista, de profunda inspiração filosófica, trouxe 
inovações para se pensar o homem e o mundo no século XIX. Marx 
foi o primeiro a mostrar que o significado de uma teoria só pode ser 
compreendido em relação à prática histórica correspondente. Uma teoria 
não pode ser pensada e entendida sem correspondência com o contexto 
histórico. Toda teoria deve, portanto, estar enraizada narealidade histó-
rica e dizer alguma coisa que possa transformá-la. Dessa forma, Marx 
buscou conciliar reflexão filosófica e prática política, teoria e práxis 
(entendida como a ação humana que transforma o mundo e a si mesma).
O materialismo histórico: concepção marxista da história4
A concepção de história de Marx
O historiador espanhol Pierre Vilar afi rmou, certa vez, que muitos se intitulam 
“historiadores marxistas”, mas poucos se dedicam à “[...] estrita aplicação 
de um método de análise teoricamente elaborado para a mais complexa das 
matérias de ciência: as relações sociais entre os homens e as modalidades 
de suas mudanças” (VILAR, 1995, p. 146). Vilar (1995) afi rma que Marx se 
preocupou com a formulação de uma ciência: coerente, dotada de um esquema 
teórico sólido; total, do ponto de vista de recobrir a totalidade de uma análise; 
e dinâmica, passível de ser debatida a partir das mudanças que se sucedem.
Nesse sentido, os questionamentos levantados pelo historiador espanhol 
são bastante pertinentes para você compreender a concepção de história de 
Marx: teria sido Marx um historiador marxista? Marx desejou alguma vez ser 
historiador, ou tentou alguma vez escrever história? (VILAR, 1995).
Leia um trecho da obra de Marx que trata dos modos de produção:
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio 
condutor aos meus estudos, pode ser formulado em poucas palavras: na 
produção social da própria vida, os homens contraem relações determi-
nadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção 
estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento 
das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de 
produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a 
qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspon-
dem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção 
da vida material condiciona o processo geral de vida social, política 
e espiritual. [...] Em grandes trações podem ser caracterizados, como 
épocas progressivas da formação econômica da sociedade, os modos 
de produção: asiático, antigo, feudal e burguês moderno. As relações 
burguesas de produção constituem a última forma antagônica do processo 
social de produção, antagônicas não em um sentido individual, mas de 
um antagonismo nascente das condições sociais da vida dos indivíduos; 
contudo, as forças produtivas que se encontram em desenvolvimento no 
seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiais 
para a solução deste antagonismo. Daí que com esta formação social se 
encerra a pré-história da sociedade humana (MARX, 1978, p. 129–130).
5O materialismo histórico: concepção marxista da história
Sem dúvidas, em sua vasta produção, Marx escreveu “história” tal como 
é concebida nos dias de hoje, mas talvez não como era entendida naquele 
momento, em que o campo recém começava a ganhar contornos disciplinares. 
Seu “raciocínio histórico” ia da teoria à empiria e vice-versa, questão que foi 
colocada pela historiografia apenas na década de 1960. Em seus trabalhos sobre 
a França, segundo Vilar (1995), é possível encontrar, além da “aplicabilidade” 
da leitura da sociedade francesa por meio do materialismo histórico, questões 
fundamentais para a história, como reflexões sobre as estruturas da sociedade 
e as noções de atualidade e de acontecimento.
Entretanto, Hobsbawm (1998, p. 172–173) adverte que esses trabalhos não 
podem ser considerados “históricos”:
O desenvolvimento dessa influência de Marx na literatura histórica não é 
evidente por si mesma, pois, embora a concepção materialista da história seja 
o cerne do marxismo e embora tudo o que Marx escreveu esteja impregnado 
de história, ele próprio não escreveu muita história tal como os historiadores a 
entendem. Nesse sentido, Engels era mais historiador, escrevendo mais obras 
que poderiam ser razoavelmente catalogadas nas bibliotecas como “história”. 
[...] O que chamamos de escritos históricos de Marx consistem quase exclusi-
vamente de análise política corriqueira e comentários jornalísticos, associados 
a um certo grau de contexto histórico. Suas análises políticas usuais, como 
Lutas de classes na França e O 18 Brumário de Luís Bonaparte, são realmente 
notáveis. Seus volumosos escritos jornalísticos, ainda que de interesse irregu-
lar, contêm análises do maior interesse — entre os quais seus artigos sobre a 
Índia — e, em todo caso, são exemplos de como Marx aplicava seu método 
a problemas concretos, tanto de história quanto de um período que depois 
se converteu em história. Mas não eram escritos como história, tal como a 
entendem aqueles que se dedicam ao estudo do passado. Por fim, o estudo 
de Marx sobre o capitalismo contém uma quantidade enorme de material 
histórico, exemplos históricos e outros materiais relevantes para o historiador.
Aqui reside uma das grandes diferenças entre a obra de Marx e a daqueles 
que se apropriaram dela para conformar o marxismo dogmático: Marx valorava 
muito a “fase de investigação” de suas pesquisas, ou seja, a empiria possuía 
uma importância muito grande. Assim, a utilização de seu arcabouço con-
ceitual e teórico como uma “doutrina” é um reducionismo de seu método de 
análise, pois a empiria está diretamente em diálogo com as fontes utilizadas 
por Marx (VILAR, 1995). A explicitação desse método não está contida em 
sua obra, mas é realizada por seus comentadores. Contudo, Marx inaugurou 
uma leitura da realidade que ele chamava de socio-histórica, encontrando 
nas contradições sociais, nas lutas de classe e nos modos de produção uma 
interpretação sobre as sociedades.
O materialismo histórico: concepção marxista da história6
Assim, o conceito fundamental para compreender a interpretação de história 
de Marx é o conceito de modo de produção enquanto estrutura determinada 
e determinante das relações sociais. De acordo com Vilar (1995, p. 155), a 
originalidade dessa formulação assenta-se em três pontos:
Mas sua originalidade não é a de ser um objeto teórico. É a de ter sido, e 
continuar sendo, o primeiro objeto teórico a exprimir um todo especial, en-
quanto os primeiros esboços de teoria, nas ciências humanas, se limitavam ao 
econômico e tinham visto nas relações sociais dados imutáveis (a propriedade 
da terra para os fisiocratas) ou condições ideais a serem preenchidas (liber-
dade e igualdade jurídicas para os liberais). A segunda originalidade, como 
objeto teórico, do modo de produção é ser uma estrutura de funcionamento e 
de desenvolvimento, nem formal nem estática. A terceira é que essa estrutura 
implica o princípio (econômico) da contradição (social), contudo a necessidade 
de sua destruição como estrutura, de sua desestruturação.
Para analisar, na prática, a compreensão de Marx sobre a história, leia, a 
seguir, um trecho de O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, que hoje pode ser 
considerada uma obra de história do tempo presente, já que Marx a escreveu 
no calor dos acontecimentos:
Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre 
vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas 
com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A 
tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro 
dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-
-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses 
períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em 
seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, 
os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar nessa linguagem 
emprestada. Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a Revolução 
de 1789–1814 vestiu-se alternadamente como a república romana e como o 
império romano, e a Revolução de 1848 não soube fazer nada melhor do que 
parodiar ora 1789, ora a tradição revolucionária de 1793–1795. De maneira 
idêntica, o principiante queaprende um novo idioma traduz sempre as pa-
lavras deste idioma para sua língua natal; mas só quando puder manejá-lo 
sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da 
nova terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente 
nela (MARX, 2003, p. 7).
7O materialismo histórico: concepção marxista da história
Barros (2011, p. 91) interpretou da seguinte forma o trecho anterior de Marx:
A história [...] mostra suas duas facetas: aquilo que se impõe sobre os homens 
a partir de condições objetivas herdadas das gerações anteriores, e aquilo 
que vai sendo transformado por sua ação, por seu confronto através das lutas 
sociais. A história é para ele espaço de aprisionamentos e de liberdades. Há 
épocas em que a história parece se impor tiranicamente sobre esses homens, 
deixando-lhes margens estreitas, no interior das quais, contudo, eles se mo-
vimentam; e há épocas em que esses mesmos homens parecem tomar para si 
a tarefa de revolucionar seus destinos.
Essas ideias são retomadas por Marx em outra obra, A Ideologia Alemã:
A história nada mais é do que a sucessão das diferentes gerações, cada uma 
das quais explora os materiais, capitais e as forças de produção a ela transmi-
tidos pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em condições 
completamente diferentes a atividade precedente, enquanto de outro lado 
modifica as circunstâncias através de uma atividade totalmente diferente 
(MARX, 2001, p. 70).
Você sabe o que foi o 18 de brumário de Luiz Bonaparte? Foi um golpe de Estado 
ocorrido na França em 2 de dezembro de 1851 (no calendário instituído pela Revolução 
Francesa, a data era 18 de brumário). O golpe foi promovido pelo então presidente 
da República, Luiz Bonaparte, que dissolveu o sistema republicano e instaurou a 
monarquia. Luiz Bonaparte se declarou imperador e passou a se intitular Napoleão III.
O que os historiadores devem a Karl Marx?
O título desta seção também é o título de um artigo escrito por Eric Hobsbawm 
em que o historiador avalia a contribuição da obra de Marx para a história. 
De acordo com Hobsbawm, Marx rompe com as práticas historiográfi cas 
hegemônicas do século XIX, dedicadas ao estudo da diplomacia e do político, 
das guerras e dos grandes líderes. Ao proporem que a a história é a história 
da luta de classes ou que é a história dos modos de produção, Marx e Engels 
sugeriam uma inversão da perspectiva de análise, deslocando os interesses 
para as bases econômico-sociais das sociedades.
O materialismo histórico: concepção marxista da história8
Para Hobsbawm (1998), é necessário separar o que foi a contribuição de 
Marx para a historiografia do que ele chamou de “marxismo vulgar”, uma 
apropriação sem critérios de algumas ideias do pensamento do filósofo alemão. 
Segundo o autor britânico, o “marxismo vulgar” pode ser compreendido como:
1. A “interpretação econômica da história”, ou seja, a crença de que “o fator 
econômico é o fator fundamental do qual dependem os demais”; e, mais 
especificamente, do qual dependiam fenômenos até então não considerados 
com muita relação com questões econômicas. Nesse sentido, essa interpre-
tação se superpunha ao
2. Modelo da “base e superestrutura” (utilizado mais amplamente para explicar 
a história das ideias). A despeito das próprias advertências de Marx e Engels e 
das observações sofisticadas de alguns marxistas, esse modelo era usualmente 
interpretado como uma simples relação de dominância e dependência entre 
a “base econômica” e a “superestrutura”, na maioria das vezes mediada pelo
3. “Interesse de classe e a luta de classes”. Tem-se a impressão de que diversos 
historiadores marxistas vulgares não liam muito além da primeira página do 
Manifesto Comunista, e da frase: “a história [escrita] de todas as sociedades 
até agora existentes é a história das lutas de classes”.
4. “Leis históricas e inevitabilidade histórica”. Acreditava-se, acertadamente, 
que Marx insistira sobre um desenvolvimento sistemático e necessário da 
sociedade humana na história, a partir do qual o contingente era em grande 
parte excluído, de qualquer maneira, ao nível de generalização sobre os mo-
vimentos de longo prazo. Daí a constante preocupação nos escritos históricos 
dos primeiros marxistas com problemas como o papel do indivíduo ou do 
acidente na história. Por outro lado, isso podia ser — e em grande parte 
era — interpretado como uma regularidade rígida e imposta, como, por 
exemplo, na sucessão das formações socioeconômicas, ou mesmo como um 
determinismo mecânico que às vezes se aproximava da sugestão de que não 
havia alternativas na história.
5. Temas específicos de investigações históricas derivavam dos próprios inte-
resses de Marx, por exemplo, na história do desenvolvimento capitalista e da 
industrialização, mas também, por vezes, de comentários mais ou menos casuais.
6. Temas específicos de investigação não derivavam tanto de Marx quanto do 
interesse dos movimentos associados a sua teoria, por exemplo, nas agitações 
das classes oprimidas (camponeses, operários), ou nas revoluções.
7. Várias observações sobre a natureza e limites da historiografia derivavam 
principalmente do elemento número 2 e serviam para explicar as motivações 
e métodos de historiadores que afirmavam não estarem fazendo mais que a 
busca imparcial da verdade [...] (HOBSBAWM, 1998, documento on-line).
Para Hobsbawm (1998), a contribuição de Marx para a historiografia resi-
diria, então, em outro âmbito, não nesse do “marxismo vulgar”. O marxismo 
não seria a única teoria estrutural-funcionalista da sociedade, embora possa 
ser considerada a primeira delas. Ele é distinto de grande parte das outras 
9O materialismo histórico: concepção marxista da história
teorias de duas formas. Primeiro, porque hierarquiza os fenômenos sociais 
(tais como infraestrutura e superestrutura). Depois, porque afirma que toda 
sociedade vive tensões internas (contradições) que se contrapõem à tendência 
do sistema de se manter como um interesse vigente.
Ainda de acordo com Hobsbawm (1998), a relevância desses aspectos do 
marxismo se relaciona ao campo da história. Afinal, são tais aspectos que 
permitem explicar por que e de que maneira as sociedades se alteram, ou seja, 
os fatos da evolução social. Portanto, de acordo com o historiador, a força de 
Marx está em sua insistência tanto na existência da estrutura social quanto na 
sua historicidade. Atualmente, afirma Hobsbawm (1998, documento on-line), 
“[...] quando a existência de sistemas sociais é geralmente aceita, mas à custa 
de sua análise a-histórica, quando não anti-histórica, a ênfase de Marx na 
história como dimensão necessária talvez seja mais essencial do que nunca”.
Assim, como você pode notar, a influência de Marx sobre os historiadores, 
e não somente os historiadores marxistas, deu-se não apenas pela concepção 
materialista da história, mas também em relação a suas observações sobre 
aspectos, períodos e problemas específicos do passado. É importante, dessa 
forma, não cometer o erro de compreender o pensamento de Marx a partir de 
fórmulas concisas que foram popularizadas e frequentemente aceitas como 
um “resumo” da teoria marxista.
A influência de Marx na historiografia brasileira
De acordo com os historiadores Malerba e Jesus (2016), existem alguns indícios da 
presença do pensamento de Marx em materiais produzidos no Brasil desde o fi nal 
do século XIX. Porém, sua infl uência se tornou notória nas primeiras décadas do 
século XX. Primeiramente, a obra de Marx foi utilizada como um corpo doutri-
nário que orientou o ativismo político e funcionou como uma inspiração teórica 
para refl exões sobre a sociedade, com infl uências nas ciências humanas e sociais.
No Brasil, a virada do século XIX para o XX, mais precisamente a década de 
1930, representa um momento de elaboração de muitas análises que problemati-
zavam a realidade nacional. Veja o que afirmam Malerba e Jesus (2016, p. 144):
Neste período decisivo da história brasileira,jovens ativistas e intelectuais 
de esquerda que se destacariam como protagonistas do pensamento político 
e acadêmico nas décadas seguintes estiveram envolvidos em uma atmosfera 
de mudança coletiva quanto à sua percepção sobre o país e, especialmente, na 
forma como avaliaram o papel do Brasil no cenário geopolítico global. A partir 
de tais diagnósticos, eles produziram diferentes projetos para o futuro do país.
O materialismo histórico: concepção marxista da história10
No conjunto desses pensadores, destaca-se Caio Prado Júnior (1907–1990), a 
quem pode ser atribuído o título de “[...] fundador da historiografia marxista no 
Brasil” (MALERBA; JESUS, 2016, p. 143). Na impossibilidade de abarcar aqui 
todos os historiadores marxistas brasileiros e os debates desenvolvidos por eles, 
a seguir você vai conhecer melhor a produção de Caio Prado Júnior e o debate 
empreendido por ele sobre o “sentido” da colonização no Brasil. Contudo, você 
deve ter em mente que a historiografia marxista brasileira desenvolveu-se em 
diferentes áreas. Entre as discussões mais intensas, considere:
  aquelas sobre a posição do País no sistema capitalista mundial (desde o 
mercantilismo) e as condições para a realização da revolução no Brasil, 
correlatas à discussão sobre a colonização brasileira;
  aquelas sobre a historiografia do mundo do trabalho, com ênfase nos 
estudos sobre o sistema escravista, a formação da classe trabalhadora 
e as mobilizações operárias ao longo do século XX, em sua relação 
com o Estado brasileiro.
Trabalhando com noções de “essência” e “sentido”, Caio Prado Júnior, em 
Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pela primeira vez em 1942, 
procurou compreender a gênese da economia e da sociedade brasileiras. Para 
o autor, ir à “essência de nossa formação” significava buscar um sentido 
para a colonização do Brasil ter-se dado de determinada forma. Tratava-se 
da busca de um “objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção 
a considerações que não fossem o interesse daquele comércio [europeu]” 
(PRADO JUNIOR, 1971, p. 32).
Como você pode notar, Prado Júnior considerava a formação econômico-
-social brasileira o resultado de uma intencionalidade de Portugal, uma nação 
vanguardista disposta a conquistar mercados e metais, de acordo com a lógica 
colonial-mercantilista dos séculos XV e XVI. Assim, para ele, não haveria outra 
alternativa à colônia brasileira a não ser se organizar conforme os interesses 
metropolitanos portugueses, já que, segundo o autor, os fatos que constituem 
um país “[...] seguem uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se 
sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação” 
(PRADO JUNIOR, 1971, p. 7).
Portanto, a economia e a sociedade brasileiras dos séculos XVI a XIX organi-
zaram-se a fim de atender a uma demanda externa. Aqui, pode-se perceber uma 
referência aos ciclos de produção brasileiros: primeiramente o cultivo do açúcar, 
depois a exploração do ouro e, em seguida, a produção de café. Assim, a economia 
voltara-se para necessidades externas, ignorando, ou desprezando pela insigni-
11O materialismo histórico: concepção marxista da história
ficância, a existência e a demanda do mercado interno. A sociedade formara-se 
com a hierarquização da propriedade de bens, da cor e da raça, bem como pela 
miscigenação populacional dos três séculos posteriores ao descobrimento.
Veja o que afirma Prado Júnior (1971, p. 31–32):
Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos constitu-
ímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros [...] e em seguida café, 
para o comércio europeu [...]. Foi com tal objetivo, objetivo exterior, voltado 
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem do interesse 
daquele comércio, que se organizaram a sociedade e a economia brasileiras. 
Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país.
Como você pode observar, Prado Júnior evidencia a sua concepção da 
colônia como uma projeção da economia mercantil. A economia e o mercado 
internos não possuíam significância para a análise. Contudo, Malerba e Jesus 
(2016, p. 146–147) ressaltam a importância que a obra desse autor possui para 
a historiografia brasileira:
Formação do Brasil Contemporâneo (1942) é, sem dúvida, até hoje, um dos livros 
mais importantes sobre a história do Brasil. Visto em perspectiva, o impacto da 
abordagem oferecida por Caio Prado Jr. impressiona por sua capacidade de criar 
uma tradição analítica que se renova ao longo de décadas. Em termos práticos, 
este livro inaugurou uma espécie de escola de pensamento sobre o Brasil colonial. 
Como consequência, é certamente um dos livros mais lidos por estudantes de 
história em todo o Brasil. E, o mais interessante, na maioria das vezes, é lido 
não apenas como necessário para compreender a história da historiografia, mas 
principalmente como um texto com conteúdo empírico e estrutura conceitual e 
analítica ainda amplamente aceita pela comunidade acadêmica.
Com o desenvolvimento da historiografia sobre a América Portuguesa, as 
análises de Prado Júnior se encontram defasadas em inúmeros pontos. Contudo, 
no momento da publicação de Formação do Brasil Contemporâneo, a obra 
representou uma grande contribuição ao realizar a leitura da sociedade brasileira 
a partir de uma perspectiva do materialismo histórico. Contudo, você não pode 
se esquecer de que essa leitura está impregnada de um marxismo militante, que, 
como você viu anteriormente, levou a algumas deturpações do pensamento de 
Marx e condicionou as análises a uma interpretação generalizante e universalista 
a partir de “etapas”. É possível perceber isso no seguinte trecho de Evolução 
Política do Brasil e Outros Estudos, publicado pela primeira vez em 1933: 
O materialismo histórico: concepção marxista da história12
[...] em outras palavras, é a superestrutura política do Brasil colônia que, já 
não correspondendo ao estado de forças produtivas e à infraestrutura eco-
nômica do país, se rompe, para dar lugar a outras formas mais adequadas às 
novas condições econômicas e capazes de conter a sua evolução (PRADO 
JUNIOR, 1969, p. 49).
Caio Prado Júnior herdou do pensamento marxista essa concepção “eta-
pista”, uma deturpação da ideia de totalidade. No momento em que escreveu 
Evolução Política, o autor estava preocupado em explicar as desigualdades da 
sociedade brasileira. Assim, seu olhar para o passado estava condicionado a 
encontrar as origens e os motivos pelos quais a sociedade brasileira da década 
de 1930 era tão desigual.
Por fim, é importante você notar que o marxismo não foi apropriado por 
estudiosos brasileiros somente como o fez Caio Prado Júnior. Nas décadas de 1970 
e 1980, foram realizados debates sobre a história da escravidão e a formação da 
classe trabalhadora brasileira que possuem grande sofisticação intelectual. Além 
disso, é preciso chamar a atenção, como faz Malerba (2002, p. 35–36), para o 
fato de que “[...] não há tema ou período da história do Brasil cuja investigação 
historiográfica não aponte para alguma matriz marxista fundamental, que tenha 
resultado em prolixo debate e com a qual qualquer pesquisador tem que se haver”.
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13O materialismo histórico: concepção marxista da história
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O materialismo histórico: concepção marxista da história14

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