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Formação do Pensamento Político Moderno

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Fundamentos das
ciências sociais
Aula 4 - A formação do
pensamento político moderno e
as questões básicas da Ciência
Política
INTRODUÇÃO
A Ciência Política é o estudo da política, ou seja, dos sistemas, das organizações e
dos processos de governos, ou de qualquer sistema equivalente de organização
humana que tente assegurar segurança, justiça e direitos civis. Nicolau Maquiavel
(1469-1527) é reconhecido como precursor da Ciência Política moderna pelo fato de
haver escrito sobre o Estado e as formas de manter o poder, separando os
interesses estatais dos dogmas e interesses da Igreja.
OBJETIVOS
Descrever as contribuições dos teóricos formadores do pensamento político
moderno.
Descrever a concepção weberiana de dominação e poder.
Avaliar a visão marxista do papel do Estado na sociedade de classes.
A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO POLÍTICO
MODERNO: ESTADO DE NATUREZA, CONTRATO
SOCIAL E ESTADO CIVIL NA FILOSOFIA DE
HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU
Com a derrocada do Feudalismo e a ascensão da burguesia, na Europa, surgiu o
Iluminismo: um movimento intelectual que rompeu de�nitivamente com qualquer
herança medieval, buscando compreender a sociedade e suas relações como
fenômenos sujeitos a leis naturais. Essa nova visão possibilitou a construção de
modelos sociais, políticos e econômicos centrados na ideia do Estado como um
"contrato social", que permitiria aos homens passar de um "estado de natureza" - em
que predominava a barbárie - para um "estado civil" - em que predominam as leis.
O termo contratualismo indica uma classe abrangente de teorias que tentam explicar
os caminhos que levam as sociedades a formarem Estados, com o objetivo de
manter a ordem social. Essa noção de contrato indica que as pessoas abrem mão de
certos direitos para um governo ou uma autoridade, a �m de obter as vantagens da
paz social e da ordem. Na origem do processo de re�exão sobre o modelo de
organização política que emerge do feudalismo para o capitalismo, ganham
destaque quatro autores que estabeleceram as bases do contratualismo:
Fonte: Wikimedia
Os teóricos do contratualismo in�uenciaram as várias revoluções burguesas que
transformaram o cenário político no �nal do século XVIII - como a Guerra de
Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789). Esses
eventos históricos criaram as bases das modernas repúblicas e do Estado de Direito,
cujo documento que representa a ideia do contrato social é a Constituição.
O ILUMINISMO: A BASE FILOSÓFICA DA CRIAÇÃO
DO ESTADO BURGUÊS
Com o surgimento do Iluminismo, no século XVIII, a sociedade passou a ser cada
vez mais abordada como uma problemática maior para os adeptos da “�loso�a das
luzes”. A partir desse momento, estabeleceu-se uma importante discussão sobre a
compreensão da vida em sociedade: a passagem do “estado de natureza” para o
“contrato social”. De acordo com Marilena Chauí, o conceito de estado de natureza
tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem
isoladamente.
Agora, vamos conhecer a concepção dos autores sobre o estado de natureza.
, THOMAS HOBBES
As principais concepções do estado de natureza foram a de Thomas Hobbes e a de Jean-
Jacques Rousseau.
Na concepção de Hobbes (século XVII), os indivíduos vivem isolados e em luta permanente,
vigorando a guerra de todos contra todos – “o homem lobo do homem”. Nesse estado, reina
o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos
outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas
atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e
ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias. A posse não tem reconhecimento e,
portanto, não existe. A única lei é a força do mais forte, que pode tudo enquanto tiver força
para conquistar e conservar.
, JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Já na concepção de Rousseau (século XVIII), os indivíduos vivem isolados pelas �orestas,
sobrevivendo com o que a natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo
gesto, pelo grito e pelo canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de
felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente,
termina quando alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. A divisão entre o “meu” e o “teu”,
isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de sociedade, que corresponde, agora, ao
estado de natureza hobbesiano da guerra de todos contra todos.
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma
percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da
força.
, JOHN LOCKE
Outro autor importante para a formação da ideologia burguesa foi John Locke, pioneiro do
pensamento político liberal. Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social e tem
as funções que Hobbes lhe atribui, mas sua principal �nalidade é garantir o direito natural da
propriedade. Dessa forma, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a
nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita
que é proprietário graças a seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da
sociedade.
O problema, então, é garantir o direito à propriedade e impedir que algum tirano com poderes
absolutos negue esse direito. A solução para esse problema seria apresentada por Charles-
Louis de Secondat.
, MONTESQUIEU
A estabilidade do regime ideal implica que a correlação entre as forças reais da sociedade
possa se expressar, também, nas instituições políticas. Em outras palavras, o funcionamento
das instituições deveria permitir que o poder das forças sociais contrariasse e, portanto,
moderasse o poder das demais. Entendida dessa forma, a teoria dos poderes de
Montesquieu se torna vertiginosamente contemporânea. Ela se inscreve na linha direta das
teorias democráticas – aquelas que apontam a necessidade de arranjos institucionais para
impedir que alguma força política possa, a priori, prevalecer sobre as demais, reservando-se
a capacidade de alterar as regras depois de completado o jogo político.
Nesse contexto, a Europa presenciou muitas e importantes mudanças no cenário político,
econômico e social.
FORMAS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA EM MAX
WEBER
A dominação deve ser entendida, segundo Weber, como uma probabilidade de
mando e de legitimidade deste. A crença é condição fundamental para que a relação
entre aquele que manda (domina) e aquele que obedece (dominado) se realize.
Portanto, não é toda e qualquer relação de poder que é legitimada, é preciso que
aquele que obedece acredite voluntariamente naquele que tem poder de mando.
O poder é sempre uma probabilidade, pois depende de outro para ser exercido.
Weber fornece o exemplo da relação de poder entre senhor e escravo que é carente
de uma relação voluntária, não havendo, portanto, legitimidade e sim obrigação; a
consequência é que na primeira oportunidade os indivíduos fogem desta relação,
abandonam seus senhores.
Atenção
, Para Max Weber, a legitimidade é a crença social em determinado regime, que visa obter a
obediência mais pela adesão do que pela coação, o que acontece sempre que os
respectivos participantes representam o regime como válido. Nesse caso, a legitimidade se
torna a fonte do respeito e da obediência consentida. Sua teoria trata dos tipos ideais de
dominação legítimos.
Weber de�ne os três tipos puros de dominação
como:
Racional-legal ou burocrática
A dominação racional-legal é exercida dentro de um quadro
administrativo composto de regras e leis escritas que devem
ser seguidas por todos, não havendo privilégios pessoais. Ela é
apoiada na crença de uma "legitimidade de ordens estatuídas
e nos direitos de mando dos chamados a exercer autoridade
legal". Esta é baseada em relações impessoais e os
funcionários são incorporados ao quadro administrativo,
através de um contrato, não por suas características pessoais,
mas por sua competência técnica. Eles são livres, sendo que
suas obrigações se limitam aos deveres e objetivosde seus
cargos que estão dispostos dentro de uma hierarquia
administrativa e suas competências são rigorosamente
�xadas. Realizam seu trabalho e em troca recebem um salário
�xo e regular que varia conforme a responsabilidade do cargo,
que é exercido em forma exclusiva ou como principal
ocupação. Há possibilidade de fazer carreira, podendo subir na
hierarquia da pro�ssão, através do tempo de serviço ou por
competência, ou ambos. Importante ressaltar que os
funcionários trabalham em seus cargos sem a apropriação dos
mesmos. A dominação burocrática é puramente técnica, com
o objetivo de atingir o mais alto grau de e�ciência e nesse
sentido é, formalmente, o mais racional conhecido meio de
exercer a dominação sobre os seres humanos.
Dominação tradicional
A dominação tradicional repousa na crença das tradições,
costumes que existem desde outros tempos. É a legitimidade
na crença dos indivíduos nas ordens e poderes senhorias
tradicionais. A autoridade é exercida e legitimada pela tradição
e por normas escritas. O quadro administrativo, neste caso,
pode ser recrutado não pela competência técnica, mas por
vínculos pessoais e laços de �delidade. As tarefas não estão
claramente de�nidas, como na dominação racional, e os
privilégios e deveres encontram-se sujeitos a modi�cações de
acordo com a vontade de governante. Há outros tipos de
dominação tradicional que são: o patriarcalismo, onde o poder
é exercido segundo regras �xas de sucessão; e o
patrimonialismo ou gerontocracia, que é a autoridade exercida
pelos mais velhos, em idade, sendo os melhores conhecedores
da tradição sagrada. Em um corpo administrativo encontramos
o patrimonialismo quando os funcionários ligam-se ao chefe
por laços de �delidade pessoais.
Carismática
A dominação carismática pode ser caracterizada pelo seu
caráter de tipo extraordinário e irracional. Weber de�ne
carisma como uma qualidade pessoal considerada
extraordinária atribuída a um indivíduo que possui poderes ou
qualidades sobrenaturais. Esses indivíduos são enviados por
Deus para o cumprimento de uma "missão". Portanto, este
indivíduo é reconhecido como um líder por seus seguidores e,
assim, a autoridade carismática é legitimada. Os carismáticos,
geralmente, são profetas religiosos, políticos, demagogos, e
apresentam, na maioria das vezes, provas de seu poder,
fazendo milagres ou revelações divinas. Entretanto, Weber
aponta para possibilidade de uma existência permanente de
um líder carismático. Tal fenômeno foi chamado de rotinização
do carisma. Para que isso ocorra são necessárias mudanças
profundas, pois implicam a transformação da autoridade
carismática em tradicional ou legal. Sendo assim, as
atividades do corpo administrativo passam a ser exercidas de
forma regular, seja através da constituição de normas
tradicionais, seja por promulgação de regras legais. Haverá um
problema a ser resolvido, que é o da sucessão daquele que
não será eleito, geralmente o líder carismático escolhe entre
aqueles de sua con�ança ou então por hereditariedade.
A construção dos tipos ideais de autoridade é primordial para a compreensão do
desenvolvimento das instituições, nas quais a burocracia é a mais importante, por
ser a mais característica da sociedade moderna ocidental que tem em sua essência
o pensamento racional.
Esses três tipos de dominação não são encontrados isoladamente, na realidade, eles
coexistem. A sociedade brasileira é um bom exemplo dessa coexistência, pois as
relações de trabalho nas organizações (lugar, em princípio, exemplar da relação
impessoal) são, ao contrário, pessoais e permeadas de privilégios. A seleção nem
sempre atende aos critérios meritocráticos, competência comprovada para o cargo.
Em muitos casos as relações pessoais valem muito mais do que um diploma.
A RELAÇÃO ESTADO-SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO
MARXISTA
Wikimedia
Segundo Marx e Engels, em A ideologia Alemã - Feuerbach (São Paulo: Hucitec,
1987), o Estado é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante fazem
valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de uma
época.
Segue-se que todas as instituições comuns são mediadas pelo Estado e adquirem
através dele uma forma política. Daí a ilusão de que a lei se baseia na vontade e,
mais ainda, na vontade destacada de sua base real - na vontade livre da mesma
forma, o direito é reduzido novamente à lei.
Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo
(glossário) é o conjunto de ideias �losó�cas, econômicas, políticas e sociais
baseadas na concepção materialista e dialética da História. O marxismo interpreta a
vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de
classes daí consequentes.
Críticos do liberalismo, Marx e Engels distinguem os conceitos de:
A emancipação social ocorreria mediante a revolução comandada pelo proletariado.
Marx e Engels não eram favoráveis à revolução exclusivamente por razões
"altruístas", a lógica da Revolução estaria embutida na própria lógica das
contradições do sistema capitalista. (glossário)
O marxismo in�uenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do
século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação de fatos
sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Ultrapassou as ideias dos seus
precursores, tornando-se uma corrente político-teórica que abrange uma ampla
gama de pensadores e militantes, nem sempre coincidentes, e assumindo posições
teóricas e políticas por vezes antagônicas.
O direito privado desenvolve-se simultaneamente com a propriedade privada, a partir
da desintegração da comunidade natural (...).
Quando, mais tarde, a burguesia adquiriu poder su�ciente para que os príncipes
protegessem seus interesses com o �m de derrubar a nobreza feudal por meio da
burguesia, o desenvolvimento propriamente dito do direito começou em todos os
países - na França, no século XVI - e, em todos eles, à exceção da Inglaterra, tiveram
que ser introduzidos princípios do direito romano para o posterior desenvolvimento
do direito privado (em particular, no caso da propriedade mobiliária)".
Karl Marx – A Ideologia Alemã
Marx a�rma que o aparelho jurídico do Estado, nesse tipo de sociedade, tem como
objetivos:
• Organizar e justi�car a dominação da burguesia sobre o proletariado;
• Favorecer os negócios da classe dominante.
Dessa forma, para Marx, não existe Estado representativo do conjunto da sociedade.
Seu papel é o representante dos interesses da burguesia.
ATIVIDADE
Veja o discurso de Martin Luther King e faça uma análise do tipo de dominação, na
perspectiva weberiana, expressa por esse líder religioso.
VÍDEO
Resposta Correta
Glossário
LEI DA SELVA
Para cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidiram passar à
sociedade civil, isto é, ao estado civil, criando o poder político e as leis. Essa passagem
ocorreu por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciaram à liberdade
natural e à posse natural de bens, riquezas e armas, e concordaram em transferir a um
terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O
contrato social fundou, portanto, a soberania.
CHARLES-LOUIS DE SECONDAT
Mais conhecido como Montesquieu, em O espírito das leis (1748), mostra, claramente, a
imbricação de funções e a interdependência entre os Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário.
MUDANÇAS NO CENÁRIO POLÍTICO, ECONÔMICO
E SOCIAL
Como as Revoluções Francesa e Industrial, que formaram a base do Estado moderno. Por
isso, o que se chama, normalmente, de Revolução Burguesa é o processo pelo qual o
sistema capitalista passou a dominar a vida humana, que se estendeu pelo mundo inteiro.
Embora países como Holanda e Portugal tenham vivenciado o capitalismo mercantil antes,
Inglaterra e, depois, França mergulharam nessa sucessão de transformações que marcaram
a mudança radical da sociedade.
MARXISMO
O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que possui a capacidade
de trabalhar e desenvolvera produtividade do trabalho. Esse fato diferencia os homens dos
outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o
que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas.
CONTRADIÇÕES DO SISTEMA CAPITALISTA
Tais contradições engendrariam a crise que culminaria na revolução:
"A revolução, portanto, vai além das manifestações de vontade dos revolucionários. Ela está
inscrita na própria história real, e por isso, está também na lógica (dialética) que a
desvenda".
E isso se deve ao fato de que a ascensão burguesa acaba por produzir seus próprios
"coveiros" – o proletariado – segundo as palavras de Marx e Engels no Manifesto
Comunista.

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