Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumos de Odontopediatria Discentes: Ana Carolina Damásio, Bruno Henrique, Fábio Guilherme, Flaviane Gregório, Júlia Viana, Isolda Nyala. Capítulo 3 Epidemiologia do traumatismo na dentição decídua. A partir de estudos de lesões traumáticas em dentes decíduos, percebeu-se que sua frequência é muito elevada. Tanto em crianças quanto em adolescentes em idades escolares. Para a realização de medidas preventivas o cirurgião dentista deve ter conhecimentos dos aspectos epidemiológicos destas lesões. Epidemiologia e saúde: A epidemiologia tem sido definida como o ramo das ciências da saúde que estuda, na população, a ocorrência, a distribuição e os determinantes dos eventos relacionados à saúde. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os objetivos dos levantamentos epidemiológicos são inicialmente fornecer um quadro completo das condições de saúde da população e, subsequentemente, controlar as mudanças nos níveis e padrões das doenças. Fornece, a partir dos dados coletados, indicadores que servem de suporte ao planejamento, execução e avaliação das ações de saúde. Dados epidemiológicos são importantes para descrever a frequência e as prováveis causas de injúrias traumáticas, além de indicar possíveis populações de risco. Estabelecer quantidades de medições e demanda de tratamentos a nível individual ou coletivo, estimando custos e implantando estratégias. Prevalência: É a frequência com que a população apresenta uma doença. A prevalência de traumatismos alveolodentários normalmente envolve o registro das sequelas que permaneceram, sejam elas fraturas coronárias ou deslocamentos. A maioria dos estudos de prevalência não inclui fraturas radicular e do tecido ósseo pelas5dificuldades de se obterem dados radiográficos. Nessa perspectiva, uma vez ocorrendo um traumatismo com determinado individuo, ele sempre será́ contabilizado como “caso prevalente”. Dessa forma, o conceito mais utilizado e que mais se adequa a traumatismos alveolodentários é o de “Prevalência de Toda a Vida”. Incidência: É a proporção de indivíduos que desenvolvem a doença, em um período especifico. Frequência de novos eventos oriundos de uma população sob risco de adoecer. Isto se caracteriza como frequência dinâmica: pois expressa mudança no estado de saúde. Independentemente da medida de frequência a ser utilizada, ela sempre deve se referir às dimensões de tempo, espaço e população. Em relação aos traumatismos alveolodentários, estudos de intervenção, com ênfase para ensaios clínicos randomizados, são difíceis de serem conduzidos, considerando as questões éticas envolvidas na participação de sujeitos submetidos a estresse físico e emocional e necessitando tratamento de urgência. Assim, devem ser destacados os estudos observacionais, com ênfase para os seccionais e de coorte. Estudos seccionais: Observação direta de uma determinada quantidade planejada de indivíduos em uma única oportunidade. Também chamados estudos de prevalência, uma vez que o resultado que se objetiva frequentemente é a prevalência de uma doença, um sinal, uma sequela ou outro agravo à saúde, relacionando indivíduos afetados no numerador e examinados no denominador. Também pode-se observar relação entre doenças. EX: crianças obesas e a incidência de traumatismo dentário. Porem relações causais não podem ser estabelecidas, por não haver estudo relacionando a doença/situação de risco, causa ou efeito para o trauma. Estudos de coorte: Um grupo definido de indivíduos é selecionado e estudado/observado a longo prazo. Desta maneira pode-se estudar a doença ou achar chegando em desfechos para a mesma de forma inesperada. Os indivíduos devem ter algum fator em comum, seja patológico ou ter participado de uma experiencia em comum. Desta maneira um grupo da corte pode ser composto de crianças da mesma idade, que com o passar do tempo vai ser observada para realizar a prevalência de traumatismo. Estes estudos podem ter dois ou mais coortes: selecionando crianças com idades similares, porem em condições de habitação distintas. Deste modo torna-se possível determinar o risco em relação a condição distinta entre os mesmos. Embora os estudos de coorte sejam capazes de produzir grande evidencia científica, como as relações de causalidade, apresentam algumas desvantagens, como alto custo, tempo maior para planejamento, execução e análise, não podem ser utilizados para eventos raros e o grande risco de perdas, Podem ser classificados em prospectivos (também conhecidos como concorrentes) e retrospectivos (também denominados não concorrentes ou históricos) em função da relação temporal entre o início do estudo (coleta de informações) e a ocorrência do desfecho. Retrospectivos: Tanto a exposição como o desfecho já́ ocorreram antes do início do estudo. Prospectivos: A exposição pode ou não ter ocorrido antes do início do estudo, mas o desfecho ainda não ocorreu. Entre as desvantagens de ambos os métodos de pesquisa, destaca-se, nos estudos prospectivos, o fato de que as injúrias traumáticas somente serão registradas se o paciente procurar atendimento, o que raramente ocorre em lesões menores, como concussão e fraturas de esmalte, podendo haver subcontratem de tais lesões. Além disso, o acesso e os custos dos serviços nos diferentes países e a ansiedade dos pais e responsáveis de crianças menores na procura por atendimento podem também influenciar nos dados populacionais. Além das pesquisas dependerem de relatos dos pais oque vem gerando graves erros. Prevalência e distribuição: Embora possa haver diferença nos estudos de traumatismos em dentição decídua para dentição permanentes, esta variação é caudas por diferenças entre regiões e ambientes. Estas diferenças podem ser diferenças nos critérios que a instituição que está recolhendo informações (escolas, faculdade, hospitais), leva-se em consideração os critérios que foram levados em conta para à obtenção da amostra. Estes critérios variam de acordo com o sistema de saúde das regiões, pode variar o acesso dos pacientes ao sistema. Distribuição quanto a idade: Com base em estudos, pode-se afirmar que existem fases da vida do indivíduo que se caracterizam como mais propensas às injúrias traumáticas. O traumatismo alveolodentário é pouco comum no primeiro ano de vida em função da época de erupção dos dentes decíduos e da limitação dos movimentos da criança em relação ao meio ambiente nesse período. No momento que a criança adquire autonomia e começam a explorar o ambiente, o que ocorre a partir de um ano de idade, é natural que aumente a incidência de injúrias traumáticas. A maioria das lesões nos dentes decíduos é verificada em crianças entre 1 e 3 anos de idade. Credita-se esse fato em função da criança, nesse estágio de vida, iniciar seus primeiros movimentos independentes, sobre- tudo ao aprendizado do andar, porém ainda sem coordenação motora suficiente que lhe permita movimentos precisos e seguros. Além da ansiedade dos pais em procurar um tratamento pode ser um ponto que aumenta a incidência. Retoma-se novo ciclo ao risco de lesões na faixa etária de 7 a 10 anos, provavelmente em decorrência de práticas esportivas e brincadeiras radicais. Considera-se também que a faixa etária entre 15 e 17 anos, embora não represente risco iminente. Distribuição quanto ao sexo: Há uma unanimidade entre os autores que os meninos sofrem mais traumatismos. Isto pode ser explicado por uma maior incidência na pratica de esportes e ou de maior risco. Esta relação é de 2:1. Em dentição decídua os estudos comprovam baixa diferença na incidência em relação ao sexo. Distribuição quanto ao tipo de lesão: Tipos de lesão se diferem bastante quando comparada a dentição decídua a permanente. Fraturas dentaria acometem mais os dentes permanentes, já as luxações acometem com mais frequência a dentição decídua.É justificado principalmente em função da maior plasticidade e flexibilidade do osso alveolar em idades precoces, o que favorece os deslocamentos. Entretanto alguns estudos indicam prevalência de fraturas de esmalte, isso provavelmente decorre pela busca de hospitais ou faculdade de odontologia quando há a ocorrência de luxações e traumas mais severos. A classificação de Garcia-Godoy, por exemplo, considera alteração de cor e/ou presença de fistula como sinais de concussão, enquanto outros autores agrupam-nas separadamente. Também há a importância de realizar estudos retrospectivos das injurias teciduais, porem muitas das vezes são deixadas de lado pelos pais ou responsável, o que pode indicar a menor prevalência. Estudos retrospectivos, em geral, apresentam as fraturas coronárias, seguidas de alteração de cor como mais prevalentes. Nos estudos prospectivos, as lesões aos tecidos de sustentação costumam apresentar maior prevalência, pois os pacientes chegam momentos após ter ocorrido o traumatismo, enquanto as fraturas de esmalte e as concussões são pouco comuns por serem desprezadas pelos pais e responsáveis. Distribuição quanto à localização da lesão traumática: Os autores também consideram que o incisivo central superior é o dente mais afetado, seguido pelo incisivo lateral superior e incisivos inferiores, enquanto outros dentes são raramente afetados. Em relação ao número de dentes afetados, em- bora a maioria dos traumatismos pareça comprometer apenas um dente, traumatismos múltiplos que lesam dois ou mais dentes apresentam alta prevalência, principalmente na dentição decídua. É importante compreender que normalmente os sinais clínicos são mais evidentes em apenas um dente. Capítulo 4 PREVENÇÃO DE TRAUMATISMOS NA DENTIÇÃO DECÍDUA PREVENÇÃO X PROMOCAO DE SAÚDE Durante décadas o conceito de prevenção esteve ligado à história. Compreendendo então, prevenção primária: envolvendo a promoção de saúde e proteção específica; prevenção secundária: representada pelo diagnóstico precoce e intervenção imediata; prevenção terciária: correspondendo a limitação do dano e reabilitação. Esse modelo serviu de base nos programas de atenção básica à saúde bucal e nos curso de odontologia. Porém, na prática, todas as atenções se dirigiram a prevenção terciária, momento em que a doença já estava instalada. Esse modelo já é considerado ineficaz à algum tempo, devido às suas limitações. Além disso, a marca principal da odontologia preventiva é a educação voltada apenas ao indivíduo, o que requer tempo, representa alto custo e pode trazer poucos resultados. Esse modelo também permite entender que saúde é a ausência de doenças e que as pessoas e que devem ser categorizadas de acordo com sua patologia ou grupo de risco que apresentam. Essa visão revela a dificuldade que os profissionais da saúde e da epidemiologia tem de lidar com a interface entre o biológico e o social. No final da década de 70, uma nova abordagem vem questionar os antigos paradigmas e permite a elaboração de dois novos documentos: A carta de Ottawa para promoção de saúde e o Documento da Organização Mundial de Saúde. Fazendo então, com que o foco não seja os indivíduos de alto risco, e sim as condições de alto risco. Sendo assim, a promoção à saúde tem como objetivo diminuir as diferenças, assegurar igualdade e equidade, promovendo meios que permitam a população desenvolver ao máximo a sua saúde. A promoção à saúde não envolve só a elaboração de políticas públicas, mas também a criação de ambientes favoráveis, como mais acesso a informações. Cabe ao profissional da saúde desenvolver estratégias (coletivas, institucionais e familiares) que visem diminuir os indicies de traumatismo, mesmo reconhecendo que o problema é resultado do desequilíbrio do individuou com o seu meio. Atualmente, a atenção odontologia pode ser dividida em quatro níveis, que embora distintos estão interligados: a atenção geral, envolvendo condições de habitação, renda, ambiente e saúde geral; a atenção primária, correspondendo a educação, prevenção, e práticas curativas indispensáveis; a atenção básica, envolvendo grupos prioritários social e epidemiologicamente e serviços de especialistas socialmente mais necessários; e atenção complexa, com a necessidade de serviços mais especializados dirigidos e patologia com menos prevalência. O segundo, terceiro e quarto níveis são focados especificamente na saúde bucal. Então, a prevenção de Traumatismos na Dentição Decídua envolve desde medidas direitas a primeira esfera (como melhorias no ambiente e nas condições habitacionais) até medidas de proteção específica (como uso de protetores bucais, quando necessário). ETIOLOGIA E FATORES PREDISPONENTES O conhecimento da etiologia e fatores predisponentes representa a base para o desenvolvimento de programas de prevenção ao traumatismo alveolodentario. Sendo assim, a responsabilidade do cirurgião dentista não se restringe ao atendimento clínico do paciente, podendo ser necessárias denúncias e notificamos a autoridades competentes. Em relação a etiologia, o traumatismo físico pode ser resultado de violência ou acidente. O acidente é um evento inevitável e não intencional. A violência, por sua vez, é um evento representado por ações realizadas por indivíduos, grupos, classes ou nações. Por tanto, o traumatismo por violência deve ser entendido como não acidental. TRAUMATISMO ACIDENTAL Precisamos compreender três fatores sobre o traumatismo na infância: 1- o acidente é um evento multifatorial, 2- representa um desequilíbrio entre a criança e seu meio e 3- apresenta caráter evolutivo. Por ser de caráter multifatorial, acaba dificultando que se elabore possíveis fatores etiologicos e predisponentes para o traumatismo. Os conceitos mais recentes nos permitem compreender que o acidente ocorre a partir de uma série de eventos que levam ao desequilíbrio da criança e do seu ambiente. Tal conceito, é importante pois possibilita a adoção de medidas preventivas que buscam a manutenção do equilíbrio, contrapondo a ideia de que um acidente é fruto de uma fatalidade. O nível socioeconômico parece influenciar na ocorrência de traumatismos alveolodentarios, devido a medidas de segurança utilizadas. Porém, dados que associam o traumatismo alvelodentario a condições socioeconômicas devem ser analisados com cautela. Outro fator que deve ser considerado é a idade ou o estágio de desenvolvimento da criança, os conhecimentos sobre os fatores de risco nas diferentes idades permite a intervenção preventiva e educativa apropriada. Entre os tipos de acidentes que geram traumatismos alveolodentarios mais comum estão os domésticos, prática de esportes ou atividades recreativas sem a devida orientação. Estudos mostram que a obesidade infantil também pode estar relacionada ao traumatismo de dentes anteriores . Devemos considerar que qualquer condição sistêmica que altere o equilíbrio, como alterações neurológicas, distúrbios convulsivos e deficiências físicas, aumentam a probabilidade de traumatismo. Crianças hiperativa são especialmente susceptíveis a traumatismo dentários. Grupos que apresentam maior risco, devem receber orientação constante. Existem outros aspectos que predispõem a criança a ocorrência do traumatismo, estão ligados a características faciais. A ausência de selamento labial e a presença de trepasse horizontal acentuado parecem ser os fatores locais mais importantes no aumento da suscetibilidade ao traumatismo. Além disso, crianças com essas características aprestam frequência nos traumatismos. Segundo Mohlin Kurol, procedimentos ortodônticos de natureza preventiva ou interceptativa podem ser indicados para reduzir o risco de lesões traumáticas. Dependendo do diagnóstico, estes tratamentos poderão ser levados e efeito no período de dentição decíduaou mista. A experiência clínica e a literatura mostram que, especificamente na lesão de cárie, a severidade das lesões aumentam mesmo se tratando de pequenos traumatismos. O que em uma situação normal seria suportado pela estrutura dentária. A compreensão do caráter multifatorial dos acidentes na infância permitirá o direcionamento de esforços de educação para a segurança e, consequentemente, a prevenção dos traumatismos. TRAUMATISMO NÃO ACIDENTAL O traumatismo nas estruturas orofaciais é um achado frequentemente nos casos de maus tratos infantis. Assim, cabe a equipe odontologia reconhecer seus sinais e sintomas, já que é provável o comparecimento dessa criança nos serviços odontológicos para tratamento clínico de rotina ou da sequelas de abuso (quando bucais). A primeira exposição da criança a violência frequentemente acontece no próprio lar. Como algumas marcas deixadas não são físicas, e sim emocionais, o profissional pode não perceber o que aflige, perdendo a oportunidade de provê-lo das intervenções. Privar a criança de algo que ela necessite, é considerado negligência. A própria ausência de tratamento dentário tem sido considerada uma forma de negligência, evidentemente quando o núcleo familiar possuir conhecimento sobre às necessidades odontológicas da criança e existir acesso e condições de tratamento. O profissional, além de ser capaz de realizar diagnóstico da suspeita de abuso infantil, também deve tomar uma série de medidas para a proteção da criança. Devem ser notificados, sendo fundamental documentação clínica adequada para permitir o direcionamento das medidas exigidas pelo caso. A suspeita de abuso deve ser corretamente conduzida, já que um diagnóstico errado pode causas um impacto negativo no núcleo familiar. O estatuto da criança e do adolescente, torna obrigatória aos profissionais da área da saúde a notificação dos maus tratos. A maioria dos cirurgiões dentistas desconhece os mecanismos para o correto diagnóstico, sendo assim, algumas cidades brasileiras apresentam um modelo de ficha. Caso o profissional não tenha acesso a ficha padronizada, recomenda-se um relatório mais completo possível e do encaminhamento do mesmo ao Conselho Tutelar da cidade ou ao Juizado da Infância e da Juventude, ou a qualquer autoridade judiciária existente na região. Traumatismo cranofacias que devem ser pesquisados, cabeça: traumatismo craniano, alopecia traumática, esquimoses atrás das orelhas; olhos: hemorragia de retina e olhos roxos; nariz: fratura e deslocamento; lábios: esquimoses, laceração e abrasão angular (marcas de mordaça); intrabucal: ruptura do freio, felação forçada (contusão palatal) e raizes residuais; maxila e mandíbulas: fratura ou fraturas e maloclusao por fraturas prévias; dentes: traumatismo dentário com ausência de explicação razoável, ausência de tratamento de cárie rampante, ausência de tratamento, sangramento ou infeções óbvias. Na suspeita de abuso sexual, o cirurgião dentista deve proceder a coleta do material da mucosa bucal e língua com auxílio de um cotonete, já que a presença de sêmen pode ser detectada na cavidade bucal. Doença sexualmente transmissíveis como sífilis ou gonorreia perioral em crianças são sinais de abuso sexual. Talvez a forma de maus tratos a criança mais difícil de identificar seja a Síndrome de Munchausen por procuração. É caracterizada por ser um distúrbio no qual o agente (geralmente a mãe) conta uma história fictícia, produz falsos sinais e sintomas e “cria” a doença na criança. O que vai gerar uma série de avaliações médicas, exames e uma frequência hospitalização por tempos prolongados. A intervenção precoce nos casos de maus tratos de crianças permite uma melhor oportunidade para a obtenção de tratamentos necessários para preservar e fortalecer a unidade familiar. Não se esquecendo que devem ser promovidas as condições necessárias e adequadas para o desenvolvimento físico e emocional da criança. AÇÃO PROFISSIONAL NA PROMOÇÃO Compreedemos então que os traumatismos tem causa, origem e determinantes epidemiológicos como qualquer doença, podendo ser evitados ou controlados. Cabe então, ao profissional da saúde reconhecer a melhor forma de atuar nas diferentes situações. O cirurgião dentista precisa entender que ele é capaz de dirigir ações ao núcleo da família e à coletividade, visando a segurança das crianças, podem contribuir também com conhecimentos científicos visando a diminuição de lesões traumáticas. MEDIDAS DE PROTEÇÃO Existem duas formas de proteção contra traumatismos: passiva e ativa. Proteção passiva: a vítima é protegida independente de sua ação, colaboração ou conhecimento; sendo mais efetiva na infância. Por exemplo a proteção em casa, que pode ser realizada por meio da proteção dos objetos que oferecem maior risco. Proteção ativa: requer uma ação em situações consideradas de risco, como uso de cintos de segurança e protetores bucais. A literatura tem mostrado um número significativo de traumatismo devido a esportes de contato, o impacto sobre a mandíbula durante o esporte geralmente é direto . O que tem levado ao desenvolvimento de protetores bucais, capacetes e protetores de face. Função dos protetores bucais: manter os tecidos moles afastados dos dentes; previnir que dentes antagonistas entre em contato de forma violenta; fornecer suporte a mandíbula absorvendo impactos e previnir traumatismos neurológicos. Princípios dos protetores bucais: adaptação precisa na boca; retenção suficiente para não acontecer deslocamento durante o uso; conforto; não interferir nos tecidos moles; confeccionado com material de fácil manipulação, flexível o suficiente para absorver impactos. Os protetores bucais devem ser inspecionados regulamente para verificar sua adaptação, especialmente em crianças em fase de crescimento. ACONSELHAMENTOS EM SEGURANÇA Visa a prevenção de acidentes na infância envolvendo um conjunto de ações educativas repetidas e com nível de compreensão adequado à população, podem ser direcionadas ao núcleo familiar, instituições de ensino ou a comunidade. Além de ações educativas, também é importante a participação no controle e prevenção de acidentes na infância. Mapeando situações de risco na comunidade e fornecendo estratégias de prevenção. Cada faixa etária apresenta uma série de fatores partículas associados ao risco de acidentes, em função de sua especificidade biopsicossocial. Capítulo 6 Reações do Dente Decíduo ao Traumatismo O traumatismo pode ser definido como uma interrupção na continuidade dos tecidos e a cicatrização é o reestabelecimento dessa continuidade, que pode resultar em reparo (continuidade dos tecidos restaurada, porem o tecido cicatrizado apresenta anatomia e função diferente do original) ou regeneração tecidual (a anatomia e a função são restauradas). Dentina, cemento, osso e gengiva apresentam alta capacidade de regeneração, já a polpa e o ligamento periodontal, as vezes se regeneram e outras tem reparo com tecido cicatricial ou osso. Quando ocorre um traumatismo, a lesão libera vários sinais às células. Esses sinais determinam sua proliferação, migração ou diferenciação. A regeneração tecidual depende de três pré requisitos (e são esses que vão ajudar no acompanhamento dos casos); presença de células específicas do tecido lesado, presença de condições que permitam a migração de células específicas para o local da lesão e ausência de corpos estranhos ou bactérias. A resposta pulpar depende do tipo de traumatismo que o dente sofreu, como por exemplo: dentina exposta, exposição da polpa ao meio externo, exposição da polpa ao ligamento periodontal, rompimento parcial ou total ou esmagamento do feixe vasculonervoso. Cada tipo de lesão gera um tipo de resposta de cicatrização e defesa já que interferem no suprimento neurovascular da polpa.Quando a resposta é a cicatrização da lesão pulpas, o tecido danificado é substituído por um tecido recém-diferenciado, ocorrendo a invasão de macrófagos, novos vasos e células progenitoras pulpares na zona traumatizada. Quando a resposta é defesa, o objetivo é manter sob controle ou até neutralizar a invasão bacteriana. O processo de cicatrização inicia do ápice à coroa e depende do estágio de desenvolvimento radicular. Caso ocorra ruptura do tecido pulpar, a resposta será revascularização ou necrose parcial ou total. Os traumas que podem ocorrer e afetar o ligamento periodontal são: compressão, tensão e cisalhamento e estas resultam em hemorragia e edema, ruptura ou contusão do LP. O edema e hemorragia ocorre reabsorção superficial (com maior frequência). A ruptura do ligamento se caracterizam inicialmente pela ocupação da região rompida por vasos sanguíneos e fibroblastos em proliferação, cicatrização gradativa das fibras principais e cicatrização total, 1 semana depois, 2 semanas depois, e 8 semanas depois do trauma, respectivamente. A contusão ocorre após intrusão, luxação lateral ou avulsão. Macrófagos e osteoclastos removem os restos de tecido necrosado do LP, osso e cemento. Dependendo da idade do paciente pode ocorrer uma reabsorção superficial ou inflamatória. Pode ocorrer infecção do LP após o traumatismo, e a via é o culco gengival ou a partir do canal radicular (pelo forame apical, canais acessórios ou túbulos dentinários). Hiperemia Pulpar É a resposta inicial da polpa a qualquer traumatismo alveolodentário, caracterizando-se pela congestão dos capilares pulpares, podendo ser reversível ou não. Estudos apontam que uma hora após o traumatismo verifica-se aumento no número de vasos sanguíneos. Por não haver circulação colateral na polpa, a hiperemia pulpar pode redundar em estrangulamento de vasos, isquemia e necrose pulpar. Não é possível ver em exames a manifestação da hiperemia, mas é observado, comumente uma coloração levemente avermelhada ao se comparar com os dentes contíguos, quando coloca um feixe de luz na superfície vestibular. Tambem (em dentes decíduos) pode haver sensibilidade à percussão (mas pode ser também por conta da injuria ao LP). Não existe tratamento para hiperemia, o ideal é recomendar uma dieta pastosa ou liquida nas primeiras 48 a 72 horas após o traumatismo. O prognostico é favorável e é necessário acompanhar o caso. Hemorragia Pulpar É o extravasamento de sangue para fora dos capilares pulpares. Depos do trauma, a hiperemia e o aumento da pressão podem romper os capilares, levando à hemorragia pulpar. Há o escurecimento do dente devido a desintegração de eritrócitos e à liberação de pigmentos que tiveram acesso aos túbulos dentinários. O sangue pode ser reabsorvido, não mudando a coloração do dente. Não há necessidade de terapia pulpar, caso o dente tenha cor escurecida por meses ou anos, indica que não é devido a hemorragia pulpar. Deve ser feito um acompanhamento clinico e radiográfico para detectar possíveis alterações na polpa e no periodonto. Obliteração Pulpar Também denominada como calcificação pulpar, é uma condição que a câmara e o canal radiculares são obliterados por conta da deposição progressiva de tecido duro. Se caracteriza por ser uma resposta a uma restrição do suprimento neurovascular da polpa. É uma resposta ligada à luxações, mas sem etiologia conhecida. O tecido mineralizado que se forma varia histologicamente, de acordo com a origem e a diferenciação das células envolvidas em sua produção. A obliteração pulpar pode ser causada pela aceleração do processo fisiológico de aposição de tecido duro nas paredes do canal radicular. Pode ser parcial ou total, podendo ser classificada com uma radiografia (diminuição da luz do canal), e a cor da coroa fica amarela. Quase não há possibilidade para o tratamento dessa patologia e normalmente não interfere no processo de reabsorção do dente decíduo e nem na erupção do seu sucessor. Portanto não está indicado nenhum tratamento e o prognostico geralmente é favorável. Alteração da Cor da Coroa A alteração da polpa pode indicar diversos estágios, como expressão de estados pulpares, rápida degeneração pulpar ou menor grau de inflamação (quando amarela). Quando a cor muda para cinza pode indicar a diminuição do suprimento vascular e isquemia pulpar. A mudança para amarela pode indicar a obliteração pulpar, ficando primeiro cinza-avermelhado ou cinza-claro e depois vai se modificando para amarelo. A alteração dessa cor da coroa pode ocorrer em dias, semanas ou meses após o trauma, a modificação radiográfica depende da condição que determinou a alteração da cor da coroa; hemorragia, obliteração ou necrose pulpar. O profissional deve estar atento à qual causa levou a mudança da cor da coroa e ainda há controvérsias sobre fazer ou não o tratamento pulpar, mas de acordo com estudos, não se indica o tratamento para alteração de cor sem qualquer sinal de necrose pulpar clínico ou radiográfico. Reabsorção Dentinária Inerna É um processo destrutivo do dente decíduo, que inicia pelas paredes internas dentinárias, na câmara ou canal radiculares. Esse processo pode ser lento ou rápido, podendo levar à perfuração da raiz ou coroa. Essa patologia não apresenta manifestação clinica, quando localizada na coroa, `}a medida que avança em direção ao esmalte, pode-se observar clinicamente uma mancha rósea característica. Caso não haja tratamento, pode ocorrer perfuração da fina camada de esmalte e exposição da polpa. Radiograficamente há um alargamento em forma oval com contornos regulares no canal radicular ou aumento das dimensões da câmara pulpar. O tratamento é a endodontia, pois o fator responsável por esse processo de rabsorção é a inflamação da polpa. Reabsorção Radicular Externa Se caracteriza pela perda progressiva de estrutura radicular, da raiz para o interior do dente. Podem ser subdivididas em superficiais, inflamatórias e substitutivas. A inflamatória é a mais frequente e está relacionada à polpa necrosada e infectada. A reabsorção tende a cessar à medida que gradativamente cementoblastos e outras células blásticas recobrirem a superfície dentinária, o que depende da diminuição do exsudato e infiltrado inflamatório e do retorno ao pH normal. Essa patologia não necessita de tratamento e o prognóstico é favorável, e em alguns casos preconizam a exodontia. Mas se o remanescente radicular apresentar ao menos 2/3 da raiz, a endodontia é o tratamento mais indicado, pois o fator que alimenta a reabsorção (necrose) está sendo eliminado. Reabsorção Substitutiva É caracterizada pela substituição progressiva de tecido dentário por tecido ósseo. Histologicamente, verifica-se reação de reparo que leva a um entrelaçamento mecânico ou fusão entre osso alveolar e superfície radicular. Com o passar do tempo, observa-se a substituição do cemento e dentina por osso alveolar. Clinicamente é caracterizada por uma diferença entre o plano incisal do dente afetado e os adjacentes. Radiograficamente, tem uma interrupção na membrana periodontal do dente que apresenta reabsorção substitutiva. É um processo irreversível, não tem tratamento para sua interrupção, deve ser acompanhado clinica e radiograficamente. Pode alterar o processo de rizólise e atraso na erupção do seu dente sucessor, se isso ocorrer, deve extrair o decíduo. Necrose Pulpar Pode ocorrer por rompimento do feixe vasculonervoso na hora do trauma ou por hiperemia, que comprime os vasos apicais. E também tem a necrose pulpar secundaria, que ocorre após a obliteração do canal pulpar. A fístula é o sinal clínico indicador de necrose pulpar em dentes decíduos traumatizados, também pode se observar a alteração da cor, radiograficamente é visível uma zona de rarefação apical. O tratamento é a endodontia. Capitulo 7Classificação das lesões traumáticas A classificação das lesões traumáticas, mais do que um simples exercício acadêmico, permite uma padronização do diagnóstico e tratamento, facilitando uma rápida decisão terapêutica, o que está intimamente ligado a um prognóstico mais favorável. As fraturas dos tecidos dentários ocorrem geralmente após traumatismos diretos. As linhas de fratura envolvem a superfície coronária e/ ou radicular, podendo determinar a exposição do tecido pulpar. Em 1962, Ellis sugeriu a seguinte classificação para dentes anteriores traumatizados: Classe 1 – Fratura coronária simples (com pouca ou nenhuma dentina afetada). Classe 2 – Fratura coronária extensa (com considerável dentina afetada, sem exposição pulpar). Classe 3 – Fratura coronária extensa (com consi- derável dentina afetada e exposição pulpar). Classe 4 – Dente traumatizado sem vitalidade (com ou sem perda de estrutura dentária). Classe 5 – Dentes perdidos como resultado de traumatismo. Classe 6 – Fratura radicular (com ou sem perda de tecidos coronários). Classe 7 – Deslocamento dentário (sem fratura coronária nem radicular). Classe 8 – Fratura coronária total e sua recolo-cação. Classe 9 – Traumatismo a dentes decíduos. A Organização Mundial da Saúde, em 1978, considerou os seguintes critérios: Fratura do esmalte dentário. Fratura coronária sem envolvimento pulpar. Fratura coronária com envolvimento pulpar. Fratura radicular. Fratura da coroa e da raiz do dente. Fratura inespecífica do dente. Em 1981, baseando-se na classificação da OMS, Garcia-Godoy6 estabeleceu a seguinte escala: Classe 0: Trinca de esmalte. Classe 1: Fratura de esmalte. Classe2:Fratura de esmalte-dentina sem exposição pulpar. Classe3:Fratura de esmalte-dentina com exposição pulpar. Classe 4: Fratura de esmalte-dentina-cemento sem exposição pulpar. Classe 5: Fratura de esmalte-dentina-cemento com exposição pulpar. Classe 6: Fratura radicular. Em 1984, Andreasen1 sugeriu a seguinte classificação: Infração coronária (fratura incompleta do es- malte). Fratura coronária não complicada (fratura confinada ao esmalte ou dentina sem envolvi- mento pulpar). Fratura coronária complicada (fratura envol- vendo o esmalte e a dentina com envolvimento pulpar). Fratura coronorradicular não complicada (fratura de esmalte, dentina e cemento sem envolvimento pulpar). Fratura coronorradicular complicada (fratura de esmalte, dentina e cemento com envolvi- mento pulpar). Fratura radicular (fratura envolvendo dentina, cemento e polpa). Recentemente, Andreasen; Andreasen classificaram as lesões traumáticas envolvendo os tecidos duros dentários com base no sistema adotado pela OMS, modificando-o e atribuindo os números de códigos, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças. Lesões traumáticas aos tecidos de sustentação: Os tecidos de sustentação são inevitavelmente afetados em qualquer traumatismo que envolva a dentição decídua. A alta prevalência de desloca- mentos dentários determina que o profissional, ao abordar o paciente infantil, esteja habilitado a reconhecer o tipo de lesão aos tecidos de sustenta- ção, e assim estabelecer uma estratégia de trata- mento correta. Lesões traumáticas aos tecidos moles: A classificação corresponde ao tipo de lesão, ou seja, ao dano que o acidente traumático provocou nos tecidos envolvidos. Pode-se, também, com base na no- menclatura, depreender sobre a severidade do ferimento. Lesões traumáticas ao tecido ósseo: As lesões aos tecidos de sustentação sempre determinam lesões no tecido ósseo, cuja mag-nitude depende da severidade e tipo de injúria traumática. A lesão ao tecido ósseo em que ocor- re esmagamento e compressão é denominada cominuição. Poderá também ocorrer fratura al-veolar, podendo estar restrita à parede alveolar vestibular ou lingual ou atingir todo o processo alveolar. A lesão mais severa ocorre quando há envolvimento de base óssea, designada fratura de maxilar, compreendendo a fratura da mandíbula ou maxila. Capítulo 8 CONDUTA CLÍNICA: PRONTO-ATENDIMENTO E POSERVAÇÃO Os traumatismos alvéolodentários em dentição decídua podem provocar alterações nos tecidos dentários, de sustentação, moles e ósseo e a conduta clínica resume-se no bom diagnóstico, tratamento e proservação. A permanência dos dentes decíduos na cavidade contribui para uma abordagem simplista e de sucesso e o diagnóstico da extensão do truma, a respeito da perda de estrutura dental, é geralmente inconclusivo. O traumatismo de um dental é seguido de hiperemia pulpar, cuja magnitude não pode ser determinada pelos métodos de diagnóstico disponíveis, com tudo, congestão e alterações do fluxo sanguíneo na polpa podem ser suficientes para iniciar alterações degenerativas e necrose pulpar. O plano de tratamento é estabelecido pela preocupação com o germe da dentição permanente. A frequência de consultas durante a proservação depende do tipo de lesão traumática e respostas associadas. Logo, o profissional deve alertar aos pais para que observem eventuais modificações no quadro, como escurecimento da coroa do dente ou aparecimento de fístula, decorrente de necrose pulpar. LESÕES DE TECIDOS DENTÁRIOS As fraturas em dentição na decídua sãos mais comuns e devido a maleabilidade do osso alveolar em idades precoces, o que favorece deslocamentos dentários, e em qualquer lesões nos tecidos dentários haverá o envolvimento dos tecidos de sustentação. Fraturas coronárias As fraturas coronárias na dentição decídua normalmente são resultados de um impacto frontal em que a força aplicada sobre o dente excede a resistência do esmalte e da dentina ao cisalhamento. Logo, o dente é fraturado, acompanhando a direção dos prismas de esmalte, estabelecendo desde diminutas trincas, até uma possível exposição pulpar. Os princípios de tratamento e prognóstico dependem da extensão da fratura e do envolvimento dos tecidos de sustentação. A luxação é associada com fraturas coronárias, com ou sem exposição pulpar, foi a principal fonte de problemas pulpares após o trauma. Trinca de esmalte A trinca consiste na fratura incompleta do esmalte, sem perda de estrutura dentária e representam a forma mais simples de lesão das estruturas mineralizadas. São perpendiculares ao longo eixo do dente, mas também podem ser paralelas a ele e seguem a orientação dos prismas, terminando na junção amelodentinária. Clinicamente são identificadas como fissuras ou rachaduras na coroa dentária e durante o exame físico, deve-se variar a direção e a intensidade da iluminação para um diagnóstico preciso. As trincas de esmalte não exigem tratamento específico. Aplicações tópicas de flúor ou o selamento com materiais adesivos são condutas sem base científica. Deve ser realizado, entretanto, acompanhamento clínico e radiográfico, principalmente porque outros tipos de injúrias podem estar presentes, envolvendo os tecidos de sustentação ou a polpa. Em função do prognóstico favorável, a rotina de acompanhamento é realizada nas consultas de manutenção do paciente. Fratura de esmalte É a perda de estrutura dentária limitada ao esmalte e entre as fraturas coronárias, é a mais frequente. São atingidos os ângulos de dentes anteriores, e raramente o centro da borda incisal, podendo também ocorrer a luxações. Da mesma forma que as trincas, segue a orientação dos prismas de esmalte. Para confirmar sua extensão, deve-se examinar após secagem e em condições ideais de iluminação. Diferenças de cor e sensibilidade ao toque ou jatos de ar indicam uma provável exposição de dentina. O exame radiográfico pode evidenciar uma perda superficial de esmalte, sem o envolvimento da dentina.Nas fraturas de esmalte, os túbulos dentinários não são expostos e, consequentemente, não existe risco imediato para o tecido pulpar. Entretanto, convém estar atento para possíveis lesões aos tecidos de sustentação. O arredondamento das bordas cortantes proporciona bons resultados estéticos e funcionais, porém, esse desgaste deve ser cuidadoso e realizado sob refrigeração para não traumatizar ainda mais a polpa. Pode ser feito também um alisamento dos bordos com lixa de aço, tomando cuidado com os tecidos moles. Uma fratura de esmalte mais extensa, quando existir a preocupação estética dos pais e responsáveis, pode exigir uma restauração com resina composta. O acompanhamento clínico e radiográfico das fraturas de esmalte, como nas trincas, é realizado nas consultas de manutenção do paciente, a fim de detectar possíveis alterações da polpa ou periodonto. Fratura de esmalte e dentina É a perda de estrutura dentária limitada ao esmalte e dentina, sem exposição pulpar. No esmalte, normalmente a linha de fratura segue a orientação dos prismas, enquanto na dentina as linhas de tensão determinam o trajeto da fratura. Na fratura de esmalte e dentina, os túbulos dentinários são expostos ao meio bucal, provocando aumento de sensibilidade e respostas inflamatórias. Mesmo risco de complicações pulpares ser pequeno, deve-se considerar que a possibilidade de necrose pulpar fica significantemente aumentada em caso de luxação associada. É frequente que a fratura se estenda até a face palatina, requerendo proteção da dentina exposta. O exame radiográfico demonstra a perda de tecido e acrescenta informações importantes, tais como o tamanho da câmara pulpar, o estágio de desenvolvimento radicular e o nível de reabsorção das raízes dos dentes decíduos. O tratamento consiste na proteção do complexo dentinopulpar e na restauração da função normal e estética que é obtido por meio de RRC. Embora pouco usual para dentes decíduos, a colagem do fragmento coronário pode eventualmente ser considerada. Alguns fatores influenciam na decisão de realizar ou não uma restauração definitiva imediata. Em muitas situações, como por exemplo no caso de lesão aos tecidos de sustentação associada, ou na falta de cooperação da criança, uma restauração temporária pode ser indicada. Além disso, dependendo da extensão do tecido dentinário exposto, o tratamento pode restringir-se ao alisamento dos bordos cortantes. Em função do prognóstico favorável, o acompanhamento clínico e radiográfico deve ser realizado nas consultas de manutenção do paciente. Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar Nesse caso, polpa que é afetada diretamente e responde com a formação de tecido de granulação. Não se pode esperar que a reparação ocorra espontaneamente, uma vez que a infecção leva a inflamação e necrose. Logo após o traumatismo, a polpa exposta é coberta por uma camada de fibrina. Seguem-se respostas agudas de inflamação, que aos poucos se estendem em sentido apical. Pode ocorrer ainda a proliferação de tecido de granulação e a formação de um pólipo pulpar e caso permaneça sem tratamento, ocorre necrose pulpar. A manutenção da vitalidade pulpar depende da extensão da exposição pulpar, do tempo decorrido entre o traumatismo e o atendimento, da severidade das lesões associadas ao periodonto e da idade do paciente. As fraturas de esmalte e dentina com exposição pulpar, normalmente apresentam uma pequena hemorragia no local da exposição, embora em aberturas pulpares puntiformes não haja necessariamente hemorragia visível. Além disso, normalmente estão associadas a lesões aos tecidos de sustentação. O exame radiográfico fornece informações quanto ao tamanho da câmara pulpar, o estágio da formação radicular e o nível de reabsorção da raiz. Assim como nas fraturas coronárias sem envolvimento pulpar, as radiografias servem também como parâmetro para controles posteriores. O objetivo principal do tratamento é manter a saúde dos tecidos envolvidos, e da vitalidade pulpar. A necrose pulpar, entretanto, não inviabiliza a manutenção do dente decíduo, desde que respeitados os princípios terapêuticos específicos. A escolha de procedimentos não é clara, dividem-se as opções terapêuticas em conservadoras (capeamento pulpar direto, curetagem pulpar ou pulpotomia) e radical (tratamento endodôntico). O restabelecimento estético-funcional segue os mesmos princípios das fraturas de esmalte e dentina. O acompanhamento clínico e radiográfico das fraturas de esmalte e dentina, com exposição pulpar, independentemente da abordagem na polpa, deve ser realizado nas consultas de manutenção do paciente. O prognóstico depende de uma abordagem correta do tecido pulpar, bem como da extensão do envolvimento dos tecidos de sustentação. Fratura coronorradicular Fratura que envolve esmalte, dentina e cemento. Quando acomete o tecido pulpar, recebe a denominação complicada e quando restrita aos tecidos duros é dita não complicada. A maioria dessas fraturas ocorrem devido um impacto horizontal que gera um cisalhamento que causando uma fratura seguindo os prismas do esmalte da superfície vestibular da coroa e, então, adota um trajeto oblíquo. O impacto horizontal produz zonas de compressão cervicalmente na porção palatina e apicalmente na porção vestibular da raiz. As zonas de forças de cisalhamento que se estendem entre as zonas de compressão determinam o trajeto da fratura. O limite palatino da fratura geralmente é subgengival, na altura do rebordo alveolar. Durante o seu curso através da dentina, a fratura expõe a polpa. A linha de fratura em geral é única, mas podem ocorrer fraturas múltiplas, iniciando-se a partir da fratura primária. A manifestação clínica característica é sua extensão além do limite gengival. De forma diversa às fraturas coronárias, o fragmento fraturado pode ser mantido em posição pelas fibras periodontais. Por esse motivo, durante o exame físico, pode passar despercebido quando os fragmentos permanecerem justapostos. Os sintomas são dor e mobilidade, durante a mastigação. O alcance do exame radiográfico é limitado e raramente contribui para o diagnóstico, pois a linha de fratura é geralmente perpendicular ao feixe central, entretanto, servirá como parâmetro de comparação para as consultas de controle. O tratamento está relacionado à sua extensão subgengival, devendo iniciar-se pela remoção do fragmento para que sejam obtidas informações precisas sobre a área lesada. Normalmente, a extensão subgengival contra-indica a manutenção do dente. O tratamento mais usual, dessa forma, é a exodontia. Entretanto, quando a fratura se estender até cerca de 2 mm além do limite gengival, pode-se optar pela restauração com resina composta. A abordagem terapêutica é semelhante à adotada nas fraturas coronárias, com ou sem exposição pulpar, respeitando-se os princípios biológicos dos tecidos periodontais. Em função da complexidade da lesão traumática e do próprio procedimento res taurador, recomenda-se acompanhamento clínico e radiográfico 3, 6 e 12 meses após o traumatismo. Fratura radicular Caracteriza-se por uma fratura que envolve dentina, cemento e polpa. São classificadas de acordo com a localização, podendo seguir orientação longitudinal,transversal ou oblíqua e acometer o 1/3 radicular apical, médio ou cervical. As fraturas radiculares decorrem de impactos horizontais e determinam alterações imediatas no tecido conjuntivo pulpar, nos tecidos periodontais, no cemento e na dentina.. O impacto frontal tendea forçar o fragmento coronário no sentido palatino em uma posição levemente extruída. A reparação de fraturas radiculares depende, por um lado, da polpa e, por outro, do periodonto. Os processos de cicatrização nesses dois tecidos ocorrem de forma independente um do outro, podendo inclusive ser competitivos na intenção de bloquear o local da lesão. O reparo com deposição de tecido calcificado se caracteriza por um calo de tecido duro feito às expensas de dentina e cemento. Na ausência da formação do calo, ocorre a interposição de tecido conjuntivo unindo os dois fragmentos, sem deposição mineral. As superfícies da fratura são cobertas por cemento, após uma reabsorção inicial. Quando o fragmento apical não acompanha o crescimento do processo alveolar, ocorre a interposição de tecido ósseo entre os fragmentos. O exame físico da fratura radicular em geral revela um dente levemente extruído, frequentemente com deslocamento para palatino ou lingual. Clinicamente, pode ser visível hemorragia no sulco gengival e o paciente queixa-se de contato oclusal prematuro e dor quando toca no dente. Por outro lado, é difícil distinguir se o deslocamento observado provém de fratura radicular ou de luxação. O diagnóstico diferencial torna-se dependente do exame radiográfico. Em alguns casos, a fratura da parede alveolar pode resultar em mobilidade coronária semelhante à que ocorre nas fraturas radiculares. Para diminuir essa possibilidade de erro diagnóstico, um exame digital cuidadoso da superfície óssea deve ser realizado no momento do teste de mobilidade do dente. O diagnóstico radiográfico de uma fratura radicular pode ser muito difícil. A imagem nítida da linha de fratura é obtida nos casos em que o feixe principal de raios X incidir paralelamente à linha de fratura. Porém, quando a incidência for oblíqua à linha de fratura, ela é duplamente projetada e pode ser falsamente interpretada como uma fratura dupla. Dessa forma, quando há suspeita de fratura, devem ser feitas várias tomadas radiográficas de diferentes angulações. Além disso, por vezes, uma fratura radicular não é evidenciada em um primeiro momento. Isso ocorre porque a solução de continuidade só é evidenciada pelo exsudato inflamatório, vários dias após a ocorrência do traumatismo. Assim, é importante obter nova radiografia em um prazo de 30 dias. Além do exame radiográfico ser imprescindível no diagnóstico diferencial, serve como controle para as consultas de acompanhamento. Deve-se considerar também que o exame radiográfico na dentição decídua apresenta algumas peculiaridades. Devido à superposição dos dentes permanentes, é dificultada a detecção de fraturas próximas ao ápice. Além disso, o processo de rizólise pode dificultar o diagnóstico de fraturas radiculares. O tratamento das fraturas radiculares está diretamente relacionado à localização e orientação da linha de fratura. Nas fraturas transversais nos terços apical e médio, a abordagem inicial consiste na aproximação dos fragmentos quando se encontram deslocados. O reposicionamento da porção coronária é realizado por pressão digital sob anestesia, com o objetivo de facilitar a cicatrização da polpa e do ligamento periodontal, e proporcionar o realinhamento do dente à sua posição natural. Essa conduta deve ser realizada na maior brevidade possível. Com o passar do tempo, o espaço entre os fragmentos é ocupado pelo coágulo, o que dificulta e contraindica a reaproximação. Além disso, os fragmentos precisam ser mantidos em posição. Portanto, uma contenção é usualmente necessária quando o terço médio estiver envolvido e o dente apresentar mobilidade considerável. Períodos de estabilização relativamente longos parecem propiciar um tipo mais favorável de cicatrização. Além disso, a contenção de dentes com raízes fraturadas deve ser mais rígida que as utilizadas na estabilização de outros traumatismos com deslocamento. As fraturas no terço apical, por sua vez, nor malmente são reparadas sem tratamento. Na verdade, muitas vezes, não são detectadas até que eventualmente sinais de reparo são evidenciados radiograficamente. Na ocorrência de fraturas transversais no terço cervical é indicada a exodontia. Esse é o tratamento de escolha devido à grande mobilidade do fragmento coronário, que dificulta a contenção, além da maior frequência de infecções pela comunicação com o meio bucal, o que impede o reparo. A reabsorção fisiológica do fragmento radicular pode ser esperada, especialmente em fraturas do terço apical. Infecções no fragmento apical são raras e levam geralmente à sua exfoliação espontânea. Nas fraturas longitudinais ou oblíquas e quando ocorre fratura da parede alveolar concomitante, indica-se a exodontia. O fracasso desses casos está ligado à grande extensão da linha de fratura dificultando o reparo, bem como a imobilização. Uma vez realizada a opção de manter o dente, o prognóstico sempre é menos favorável na fratura radicular do terço médio. Recomenda-se o acompanhamento clínico e radiográfico 1, 3, 6 e 12 meses após o traumatismo e, posteriormente, nas consultas de manutenção do paciente. Concussão É um traumatismo de pequena intensidade sobre os tecidos de sustentação, sem determinar mudança de posição ou mobilidade à estrutura dentária. A concussão determina hemorragia e edema no ligamento periodontal, sem haver o rompimento de suas fibras, podendo haver dano ao suprimento neurovascular da polpa. A atividade de reabsorção geralmente é autolimitada, sendo suspensa 10 dias após o traumatismo, deixando como cicatriz cavidades de reabsorção ao longo da superfície radicular. Em relação à polpa, deve-se considerar a possibilidade de hemorragia perivascular e edema, mas com poucas chances de suspensão total da circulação pulpar. Clinicamente, o dente não apresenta deslocamento ou aumento de mobilidade, havendo apenas sensibilidade ao toque durante os movimentos mastigatórios e respostas à percussão, tanto no sentido horizontal quanto no vertical. Radiograficamente, não são observadas alterações, sendo utilizadas somente para acompanhamento de caso. Muitas vezes, o diagnóstico de concussão será ocasional, a partir de achados radiográficos de reabsorção. Quando identificada, a concussão não requer intervenção específica imediata. Prescreve-se, entretanto, uma dieta líquida ou pastosa nas primeiras 48 horas e orienta- se no sentido de que seja evitado o uso de chupeta ou mamadeira nesse período, a fim de permitir uma rápida cicatrização dos tecidos lesados. Em relação ao prognóstico, o risco de necrose pulpar é de baixa ocorrência, tal como o risco de reabsorção radicular. Quanto à proservação, recomenda-se o acompanhamento clínico e radiográfico 30 e 120 dias após o traumatismo. Alteração de cor na coroa dentária nos primeiros dias após o traumatismo normalmente se relaciona apenas à hemorragia interna. Se não houver sinais ou sintomas que indiquem a necessidade de intervenção, a rotina de acompanhamento clínico e radiográfico para detectar possíveis alterações na polpa ou periodonto é realizada nas consultas de manutenção do paciente. A ocorrência de alteração de cor da coroa nesse período posterior indica necrose pulpar. Os pais devem ser orientados no sentido de retornarem para consulta em caso de qualquer sinal ou sintoma possivelmente relacionado ao traumatismo, tais como fístula, mobilidade ou edema na região traumatizada. Subluxação É um traumatismo de intensidade baixa a moderada nos tecidos de sustentação, que determina mobilidade dentária sem haver mudança de posição. Caracteriza-se pela ruptura de algumas fibras doligamento periodontal, o que determina sangramento discreto no sulco gengival e mobilidade dentária. Apesar desse sangramento no sulco gengival ser apontado como sinal característico da subluxação, é difícil de ser visualizado, pois pode se diluir pela saliva muito rapidamente. Após a subluxação, o dente apresenta mobilidade leve, moderada ou severa no sentido horizontal, entretanto mantém sua posição original na arcada. O sinal clínico mais elucidativo para o diagnóstico e que o diferencia da concussão é o sangramento em torno do sulco gengival, o que indica dano aos tecidos periodontais. Há queixa de sensibilidade à mastigação e percussão, o que faz com que algumas crianças desloquem lateralmente a mamadeira, a chupeta e a apreensão de alimentos. O exame radiográfico, tal como na concussão, não evidencia qualquer alteraçao. Entretanto, é importante para afastar a possibilidade de fratura radicular ou óssea, bem como para avaliar eventuais sequelas de traumatismo anterior. Além disso, serve como parâmetro para controles posteriores. Geralmente, a subluxação não requer tratamento. Em casos de mobilidade dentária acentuada, uma contenção pode proporcionar mais conforto ao paciente, embora pareça não interferir no processo de cicatrização. Recomenda-se dieta líquida ou pastosa nas primeiras 48 horas após o traumatismo, bem como evitar chupeta e mamadeira. Em função da sensibilidade, a higienização fica dificultada. Sugere-se, dessa forma, a aplicação de solução de clorexidina a 0,12% com gaze sobre o local traumatizado, duas vezes ao dia, durante o processo de cicatrização. O prognóstico envolve a possibilidade de alteração de cor da coroa e obliteração do canal radicular, sendo pequeno o risco de necrose pulpar e reabsorção radicular externa do tipo inflamatória. Quanto à proservação da subluxação, recomenda-se controle clínico e radiográfico 30 e 120 dias após o traumatismo. A rotina de acompanhamento posterior segue as observações já relatadas na concussão, sendo realizada nas consultas de manutenção do paciente. Luxação lateral A luxação lateral consiste no deslocamento do dente no sentido palatino, vestibular, mesial ou distal. Na luxação lateral ocorre ruptura e compressão das fibras do ligamento periodontal, podendo também haver fratura da parede alveolar. O tecido pulpar é seriamente danificado a partir da agressão ao feixe vasculonervoso, o que pode determinar, além da desorganização da camada odontoblástica, a ruptura do feixe vasculonervoso, com consequente necrose pulpar. No deslocamento mais frequente, em que a coroa se move para palatino e a raiz para vestibular, o impacto causa compressão das fibras do ligamento periodontal no lado para o qual a raiz se deslocou (vestibular) e ruptura no lado oposto (palatino). Com o rompimento das fibras pode haver invasão de microrganismos ao longo da superfície radicular, e infecção local. Na região onde ocorre estiramento, as fibras vinculadas ao osso alveolar, quando rompidas, têm chance de reposição, mas não as vinculadas ao cemento, o que determina reabsorção cementária inflamatória. O dente com luxação lateral assume nova posição na arcada, podendo haver mobilidade, sangramento e laceração dos tecidos periodontais adjacentes. Normalmente, a coroa se move para palatino, o que é facilmente detectado pela inspeção visual. Nas luxações mais graves, o ápice pode ser palpado mediante pressão digita na mucosa vestibular. A oclusão deve ser verificada, podendo ser evidenciada alguma interferência oclusal. Os princípios de tratamento da luxação lateral são avaliados em conjunto durante os exames físico e complementares. São eles: Grau de rizólise: a mobilidade do dente traumatizado pode ser atribuída à luxação lateral. Entretanto, pode estar relacionada à proximidade da exfoliação. Se o exame radiográfico constatar rizólise igual ou superior a 2/3 (menos de 1/3 de raiz remanescente), o tratamento indicado é a exodontia. Tempo de corrido entre o momento do traumatismo e o atendimento: o reposicionamento dentário só é aconselhável nas primeiras horas após o traumatismo em função do risco de a pressão do coágulo causar dano no folículo do germe do dente permanente. Magnitude do deslocamento: se o deslocamento for muito extenso no sentido anteroposterior, determinando dano mais severo aos tecidos de sustentação, deve-se considerar a possibilidade de exodontia, já que é mínima a chance de recuperação das fibras rompidas e maior a possibilidade de fratura da parede alveolar. Se o deslocamento for de pequena magnitude, a própria musculatura bucal – lábios e língua – muitas vezes reposiciona o dente. Ocorrência de fratura da parede alveolar: em qualquer uma das direções de deslocamento, mas especialmente quando for no sentido ântero-posterior, existe a possibilidade de fratura óssea. Embora sempre deva ser considerada a possibilidade de redução da fratura e contenção dos dentes envolvidos; fraturas extensas normalmente indica-se a exodontia. Relação com o germe do dente permanente: os exames físico e radiográfico devem determinar a proximidade entre o dente deslocado e o germe do dente permanente. No caso de o deslocamento da coroa do dente decíduo ocorrer para vestibular (o que normalmente acompanha o deslocamento da raiz para palatino), o risco ao dente permanente é grande e em geral a exodontia é o procedimento de escolha. Nos movimentos da coroa para palatino, o prognóstico costuma ser favorável, sem comprometer a erupção do dente permanente. Interferência oclusal: as interferências oclusais normalmente são eliminadas pelo reposicionamento dentário. Se o dente luxado estiver ocluindo numa condição que interfira na fisiologia da arcada dentária, pode ser feito desgaste. Entretanto, se o deslocamento for grande e não for possível eliminar o contato prematuro, a possibilidade de exodontia deve ser considerada. Luxação intrusiva A luxação intrusiva, também denominada intrusão, consiste no deslocamento do dente para o interior do seu alvéolo, seguindo uma direção axial. Na luxação intrusiva ocorre o esmagamento e a ruptura das fibras do ligamento periodontal e do feixe vasculonervoso, o que pode comprometer o suprimento neurovascular da polpa. Estudos experimentais em dentes permanentes evidenciam picnose nuclear, desintegração da camada odontoblástica e evolução para autólise pulpar, poucas horas após o traumatismo. Normalmente, ocorre interrupção total da circulação, o que leva à isquemia e ao colapso da parede dos vasos. > Grau I: intrusão parcial suave, na qual mais de 50% da coroa é visível. > Grau II: intrusão parcial moderada, onde menos de 50% da coroa é visível. > Grau III: intrusão severa ou total da coroa. Quanto à proservação da luxação intrusiva, recomenda-se acompanhamento clínico e radiográfico 7, 30, 60 e 120 dias após o traumatismo. Luxação extrusiva A luxação extrusiva consiste no deslocamento parcial do dente para fora de seu alvéolo com a ruptura total de grande quantidade de fibras do ligamento periodontal, proporcionalmente à força do impacto, o que com frequência determina o rompimento do feixe vasculonervoso. Em geral, o dente fica preso por fibras do ligamento periodontal palatino. O tratamento da luxação extrusiva depende dos mesmos fatores apresentados no tratamento da luxação lateral. Dessa forma, para tomar a melhor decisão de tratamento, o profissional deve estar atento para o grau de rizólise, tempo decorrido entre o traumatismo e o atendimento, magnitude do deslocamento, ocorrência de fratura da parede alveolar, relação com o germe do dente permanente e interferências oclusais. Apesar de o dente extruído se apresentarpara fora do alvéolo, não deve ser subestimada a possibilidade de dano ao sucessor. Avulsão A avulsão, também denominada exarticulação ou luxação total, consiste no deslocamento total do dente para fora de seu alvéolo determinando a ruptura do ligamento periodontal e dos nervos e vasos sanguíneos do tecido pulpar na sua porção mais apical. Além disso, o tecido ósseo pode ser afetado e com frequência o germe do dente permanente é atingido no momento do traumatismo. O tratamento depende da vitalidade do ligamento remanescente no dente avulsionado que determina se o mesmo será reimplantado ou não. LESÃO DOS TECIDOS MOLES Os traumatismos alveolodentários em crianças são frequentemente acompanhados de lesões nos tecidos moles bucais e da face. Na maioria das pesquisas que avaliam a frequência de lesões traumáticas de interesse odontológico, não constam dados sobre lesões em tecidos moles da face e/ ou cavidade bucal. Além disso, a maioria das informações provém de estudos realizados em ambiente hospitalar ou serviços de pronto-atendimento. A amostra utilizada, nesses casos, interfere significativamente na transposição dos dados a uma determinada população. Mesmo assim, esses estudos são importantes para nortear ações relativas à prevenção, tratamento e proservação de injúrias traumáticas na população infantil. A contusão se caracteriza por ser uma injúria mecânica, geralmente causada por impacto, que resulta em hemorragia e edema sob a pele ou mucosa não lacerada. A abrasão é uma escoriação ou remoção circunscrita de uma camada superficial da pele ou mucosa (neste caso denominada ulceração), provocada por grande atrição tecidual. A laceração é uma lesão caracterizada por corte no tecido, em que se verifica solução de continuidade. Dependente da força empregada, a laceração pode ser provocada por golpe ou superfície com bordo cortante. Os princípios de tratamento das lesões de tecidos moles incluem uma fase de diagnóstico, em que a natureza, a extensão e a contaminação da lesão são examinadas. É indispensável salientar que o reconhecimento das alterações teciduais requer uma sequência metodológica investigativa. A abordagem aqui descrita obedece ao protocolo do exame ao paciente traumatizado. LESÕES NA PELE O tratamento das lesões na pele depende do tipo de lesão. No caso de se constatar unicamente contusão, a família deve ser orientada quanto à colocação de gelo no local atingido. Se houver abrasão, o foco do atendimento se direciona para a limpeza e desinfecção. No caso de laceração, a questão principal do tratamento é verificar a nece sidade ou não de sutura. Para facilitar o diagnóstico, inicialmente o ferimento e os tecidos circundantes são lavados com detergente ou soro fisiológico, podendo ser necessária a administração de anestesia local. Se houver a presença de corpos estranhos, eles devem ser removidos com uma pequena cureta ou lâmina cirúrgica. O ferimento é deixado aberto ou coberto com um curativo. Lesões gengivais A gengiva pode apresentar várias sequelas. A abrasão da gengiva requer como tratamento a remoção de possíveis corpos estranhos. A laceração da gengiva, por sua vez, requer, após a administração de um anestésico local, limpeza com soro fisiológico e remoção de corpos estranhos. A gengiva lacerada é trazida de volta para sua posição normal, depois que os dentes deslocados foram reposicionados. Após o posicionamento da gengiva, o número necessário de suturas é executado para impedir o deslocamento do tecido. O paciente é colocado sob um regime de higiene bucal usando solução à base de clorexidina a 0,12% com gaze, por 7 dias, após os quais as suturas são removidas. Lesões labiais Dependendo do ângulo do impacto, diferentes lesões podem ocorrer. No caso de um impacto frontal, as superfícies vestibulares de incisivos protrusos podem agir como uma baioneta, resultando em divisão sagital do lábio. Devido à orientação circunferencial do músculo orbicular da boca, essas lesões geralmente se abrem (lacerações), com sangramento arterial intenso devido à rica vascularização na região. Contudo, a hemorragia logo é suspensa com vasoconstrição e coagulação. Lesões na língua O impacto do mento com a língua pode causar penetração dos incisivos na ponta da língua, lacerando-a. Um ferimento localizado na superfície dorsal da língua sempre deve ser examinado quanto a uma segunda lesão ventral. Se há fraturas coronárias concomitantes, fragmentos podem estar localizados no interior da lesão, os quais podem ser revelados por um exame radiográfico. Os princípios de tratamento incluem limpeza da lesão, remoção de corpos estranhos e suturas das porções dorsal e ventral da lesão. Após a administração de anestesia local, regional ou geral, os corpos estranhos são removidos, a lesão é limpa com soro fisiológico e realiza-se a sutura dos planos musculares Capítulo 9 Consequências na Dentição Permanente O grande número de traumatismos em dentição decídua que pode ser associado a distância anatômica com o germe do dente permanente sucessor é gigantesca, esses traumas podem determinar algumas alterações em desenvolvimento. Tais danos ocorrem na hora do trauma, podendo ser por impacto direto da raiz do dente decíduo no germe do sucessor, tenso medio e longo prazos, como consequência. Além do mais, traumas caudados próximos só tecido ósseo em regiões onde se localizam os germes do dente que irão se desenvolver pode com certeza interferir na odontogênese . Essas consequências podem ir de uma hipocalcificação do esmalte e até uma interrupção do desenvolvimento desse germe. Tendo assim a relevância dos prejuízos acusados nas várias funções bucais, como mastigação, fonação e deglutição, englobando também problemas de etéricos e psicológicos. E de fato muito difícil ter um controle destes traumatismos em dentições decídua, mas podemos sim, evitar danos ou limita-lós consideravelmente. É de suma importância o profissional estar atento aos aspectos histopatológicos clínicos e epidemiológicos que envolvem os danos em dentes permanentes por meio de traumatismo de dentes decíduos. O profissional deve estar bem instrumentalizado para definição de diagnóstico e ter condutas imediatas perante ao traumatismo que possuem capacidades de danos na dentição decídua. Vários estudos epidemiológicos informam que de 12% a 69% dos danos em dentes permanentes são a partir de um traumatismo nos dentes decíduos, por conta da proximidade anatômica do dente decíduo e o germe do sucessor. As sequelas que podem ser causadas envolvem dois fatores de suma importância que é a força do impacto e a sua direção e o estágio de formação do dente que vai suceder o decíduo, e está diretamente relacionado a idade do indivíduo. Tipos de Traumas Os tipos de traumas mais frequentes estão relacionados a avulsão e a luxação intrusiva, pois ocorre uma grande aproximação do elemento traumatizado e o germe em formação. A direção de impacto que mais pode oferecer risco é a força aplicada na face palatina do incisivo decíduo que faz o deslocamento da coroa para a vestibular e da raiz para a palatina, geralmente assim invadindo o folículo do germe em formação. Idade das Crianças O deslocamento do germe dentário sucessor está totalmente relacionado ao tipo de sequela que poderá ocorrer. Alguns artigos e estudos mostram que o risco é maior quando o traumatismo atinge crianças de quatro anos, que é a época onde se ocorre a formação da coroa dos incisivos. As sequelas mais graves estão relacionadas após deslocamento dentário de crianças de 3 anos de idade, por conta da sensibilidade desses germes dentários. A fase inflamatóriapode interferir de maneira direta na mineralização ou maturação final desse germe. A hipoplasia de esmalte pode ser uma sequela relacionada também a idade que a criança sofreu o trauma, que é aproximadamente durante os três anos de idade, período onde em que se completo a coroa dos incisivos centrais permanentes, fazendo assim que a parte mais vulnerável seja a porção radicular. O profissional deve estar atento ao diagnostico definitivo em relação a ocorrência ou não de sequelas e inflamações pois a mesma pode causar hipoplasia, hipocalcificação e até a interrupção da formação do dente sucessor. Danos na porção coronária Hipocalcificação do esmalte É uma alteração de cor localizada podendo ser mancha-branca ou amarelo- marrom no esmalte e está associada também ao traumatismo gerando uma interferência na mineralização do esmalte. A idade do paciente na época do traumatismo pode variar de dois a sete anos. Sendo onde aparece a macha, por sua vez, corresponde a área que estava sendo mineralizada na época do traumatismo. Aspectos clínico e radiográfico Apresentam manchas opacas com coloração branca ou amarelo-marrom , com tamanhos variados, ocorrendo com mais frequência na superfície dos vestibular dos incisivos centrais superiores. Princípios de tratamento e prognóstico Tendo como tratamento e prognóstico a recuperação estética a critério do profissional e do paciente. Hipoplasia de esmalte Envolve a fase de aposição do esmalte trazendo anomalias na sua estrutura. Esse defeito se da pela alteração no alinhamento ou na atividade mineralizadora dos ameloblastos. O traumatismo pode causar danos irreversíveis nessa fase, como a parada da formação da matriz do esmalte. A extensão dessas manchas podem variar de tamanho e não se pode ser vistas radiografia mente antes da erupção dentária, tendo em vista o diagnóstico somente depois da erupção. Aspectos clínico e radiográfico Presença de esmalte com defeito estrutural com descoloração branca ou amarelo-marrom. Radiograficamente consegue-se ver uma linha radiolúcida referente ao sulco porém só quando não estiver relacionado a sequela. Princípios de tratamento e prognóstico Tratamento favorável, sendo consistente na recuperação estética e funcional dos dentes envolvidos. Dilaceração Coronária Está relacionada a dilaceração do desvio do eixo de formação de parte da coroa dentária, provocado por um descolamento traumático axial do tecido duro, sendo que na maioria dos casos o traumatismo atinge o germe em que até metade da coroa está formada, como consequência não se forma parte do esmalte da superfície vestibular, assim começando a formação de um cone de tecido duro que se projeta para dentro do canal radicular. Dentes com dilaceração coronária pode desenvolver necrose pulpar mesmo com ausência de cárie dentária. Aspectos clínico e radiográfico No exame radiográfico é possível ver o encurtamento em relação ao homólogo, e uma radiografia lateral consegue-se observar a direção da dilaceração, podendo também optar pela radiografia panorâmica. Princípios de tratamento e prognóstico Somente 50% dos casos de dilaceração o elemento fica retido, podendo envolver recursos cirúrgicos e ortodônticos no tratamento, tudo depende do grau de dilaceração e idade do paciente. Danos a porção radicular Duplicação radicular Consiste na formação de duas raizes separadas no dente em desenvolvimento, pode ser raramente observada e ocorre por uma divisão na alça cervical no momento do traumatismo, que resulta na formação de duas raizes. Estudos apontam que uma papila dentária rompida é capaz de de reconstruir e formar uma raiz extra. Aspectos clínico e radiográfico Radiograficamente apresentam uma raiz distal e outra mesial. Princípios de tratamento e prognóstico Acompanhamento clínico e radiográfico nas consultas de manutenção do paciente. Dilaceração radicular É um desvio da raiz em relação ao longo eixo do dente, uma sequela que atinge normalmente os incisivos centrais superiores após traumatismos severos como luxação intrusiva e avulsão. Aspectos clínico e radiográfico Os dentes com dilaceração de mantêm retidos e normalmente a coroa é palpável de fundo de sulco vestibular. Radiograficamente observa-se o incisivo impactado e encurtamento da raiz. Princípios de tratamento e prognóstico Envolvem recursos cirúrgicos e ortodônticos já que a maioria dos elementos com esse problema não erupcionam espontaneamente. Os fatores de boa conduta variam de acordo com o grau de dilaceração e a época que é feito o prognóstico. Suspensão da rizogênese Suspensão da formação radicular do dente, causado por um traumatismo na dentição decídua entre cinco a sete anos. Pode estar relacionado ao desenvolvimento de uma cicatriz tecidual após a perda prematura de um dente decíduo, assim, impedindo a formação radicular ou a erupção do seu sucessor. Aspectos clínico e radiográfico Pode ter mobilidade dentária devido a deficiência de suporte e radiograficamente apresenta encartações nas raizes. Princípios de tratamento e prognóstico O tratamento limita-se no acompanhamento clínico e radiográfico nas consultas de manutenção do paciente. Danos nos germes dentários Distúrbios de erupção Está relacionado ao tecido conjuntivo ao redor do germe dentário, pois a guia de erupção deste dente parece estar ausente, geralmente por perda precoce do dente decíduo, causando formação de uma camada fibrosa na gengiva, atrasando a erupção dentária. Aspectos clínico e radiográfico A impactação ou retenção do dente permanente é um distúrbio comum em casos de na formação de coroa ou raiz, e pode ser identificado através de radiografias panorâmicas. Princípios de tratamento e prognóstico Podem envolver acompanhamento clínico e radiograficamente, chegando a precisar de meio cirúrgicos e ortodônticos para tração e posicionamento do elemento dentário. Má formação semelhante a Odontomas Entidade rara após traumatismos na dentição decídua. Essa sequela parece ocorrer durante as fases iniciais da adontogênese, afetando a fase da morfodiferenciação. Aspectos clínico e radiográfico Geralmente não erupcionam e na radiografia observa-se uma massa radiográfica. Princípios de tratamento e prognóstico Prognóstico desfavorável, tratamento consiste na remoção cirúrgica das malformações semelhantes ao odontoma. Sequestro do germe dentário É uma paralisação no processo de formação do germe, relacionado a uma sequela de traumatismo severo na dentição decídua com presença de infecção como fator complicador, podendo também haver reabsorção óssea, presença de supuracão, edema e fístula. Aspectos clínico e radiográfico Radiograficamente pode-se ver alterações osteolíticas ao redor do germe. Princípios de tratamento e prognóstico Prognóstico desfavorável, consiste na remoção cirúrgica do germe dentário.
Compartilhar