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GEOMETRIA ANALÍTICA AULA 1 Profª Carolina de Almeida Santos Pinotti 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, na Geometria Analítica estudamos pontos, retas e planos, suas relações e propriedades, bem como alguns conceitos geométricos relacionados a tais objetos matemáticos. Suas aplicações encontram-se em diversos campos, como física, arquitetura, aviação, engenharias, entre outras. Veremos, ao longo da disciplina, algumas aplicações nessas áreas. O programa da disciplina abrange desde conceitos básicos, como planos cartesianos, ponto, distância entre pontos, a conceitos mais avançados, como produto vetorial, produto escalar, estudo de planos e retas. Algumas aplicações surgem no decorrer do texto da disciplina e outras em aulas práticas. Nesta aula, vamos estudar os espaços unidimensionais e bidimensionais, objetivando familiarização com algumas relações nesses espaços, e também com os sistemas de coordenadas. Vamos trabalhar com conceitos preliminares de ponto e reta, o sistema cartesiano, e algumas relações que podem ser encontradas nos planos uni e bidimensionais. Por fim, vamos também conhecer os vetores, suas propriedades e algumas operações entre dois vetores: adição, subtração e multiplicação por escalar. Concluímos o estudo de vetores na próxima aula. TEMA 1 – SISTEMA CARTESIANO ORTOGONAL Este tema trará algumas definições básicas de ponto e reta, e também alguns outros conceitos relacionados e pertinentes, como por exemplo o cálculo do baricentro de um triângulo. 1.1 Notações Como notação para pontos e retas serão utilizadas letras maiúsculas (A, B, C, Z) e minúsculas (a, b, c, ...), respectivamente. Um segmento é um pedaço de uma reta que une dois pontos, e será denotado por duas letras maiúsculas sobrescritas ( , , ,AB AC BC ). 3 Uma semirreta é um pedaço de reta que tem origem em um ponto, sendo ilimitada em uma direção. A semirreta que inicia em A e passa por B é denotada por AB , e a semirreta que inicia em B e passa por A é denotada por BA . Uma reta, ilimitada, que passa por A e B, será denotada por AB . 1.2 Retas Diz-se que uma reta é orientada quando é estabelecido um sentido para ela, como pode ser observado na figura abaixo. reta não orientada reta orientada Sobre reta, veja os itens a seguir: A reta é um conjunto de infinitos pontos; Toda reta é infinita em seus dois sentidos (sendo orientada ou não). A representação gráfica a limita por causa do desenho e do papel; Pontos colineares são pontos que determinam uma única reta. Na figura abaixo, A, B e D são colineares. O ponto C não é colinear a A, B e D. 4 Algumas definições pertinentes ao curso: Retas ortogonais são duas retas que formam um ângulo de 90° entre si, sem necessariamente se interceptarem. Isso pode ocorrer em um sistema tridimensional, não em um plano cartesiano. Na figura a seguir, por exemplo, as retas AB e CD são ortogonais. A reta PQ é uma reta paralela a CD que intersecta AB . Retas perpendiculares são retas que formam 90° entre si, e necessariamente se interceptam. Na figura, as retas AB e CD são perpendiculares. 5 1.3 Sistema Cartesiano Ortogonal Com duas retas orientadas ortogonais, pode-se formar um sistema cartesiano ortogonal, conforme a figura abaixo: As retas orientadas serão chamadas de eixos, sendo a reta horizontal o Eixo das Abscissas (eixo x) e a reta vertical o Eixo das Ordenadas (eixo y). Cada eixo tem uma escala de valores, abrangendo todos os valores reais, e crescendo no sentido das setas. O ponto onde os eixos se interceptam é a origem, de coordenadas x=0 e y=0. Existem ainda algumas particularidades para pontos sobre os eixos. Se um ponto se encontra no eixo x ou plano Ox, a sua ordenada y valerá zero. O mesmo ocorre se um ponto se encontra no eixo y ou plano Oy: a sua abscissa x valerá zero. Veja na figura a seguir, que o ponto A teve um deslocamento de x1 no eixo x, o ponto B teve um deslocamento de y1 no eixo y e o ponto C teve um deslocamento de x2 no eixo x. O ponto A e o ponto C não deslocaram no eixo y, e, portanto, sua ordenada vale 0. Da mesma forma, o ponto B não deslocou no eixo x, e, portanto, sua abscissa vale 0. y x 6 Par ordenado são as coordenadas cartesianas de um determinado ponto. Por exemplo: o ponto P, na figura abaixo, possui coordenadas 0 0,x y . Sempre a primeira coordenada do par ordenado é o valor do Eixo x e a segunda coordenada é o valor do Eixo y. Exemplo: no gráfico abaixo, as coordenadas dos pontos A, B e C são (2,3), (-2,-2) e (4,-3), respectivamente. Perceba que o ponto A foi encontrado deslocando duas casas para a direita e três casas para cima, pois tem abscissa 2 (𝑥 = 2) e ordenada 3 (𝑦 = 3), já que suas coordenadas eram (2,3). O ponto B foi encontrado deslocando duas casas para a esquerda (𝑥 = −2), e duas casas para baixo (𝑦 = −2). Por último, y0 x0 y x P -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 C A x y B 4 3 2 1 -1 -2 -3 -4 7 o ponto C foi encontrado deslocando quatro casas para a direita (𝑥 = 4) e três casas para baixo (𝑦 = −3). Perceba que o eixo x sempre fornece um deslocamento horizontal e o eixo y sempre um deslocamento vertical. Reta no R2: Uma reta r no plano cartesiano fará a divisão do plano em duas partes, de modo que uma outra reta s que não seja paralela a r obrigatoriamente intersectará r em algum ponto. Cada uma dessas partes é chamada de semiplano. Na figura a seguir pode-se perceber que r dividiu o plano em duas partes: uma está colorida e a outra está em branco. 1.4 Operações com pares ordenados Sobre pares ordenados (ou pontos), é possível estabelecer operações de adição, multiplicação por escalar ou igualdade. Veja a seguir como efetuar cada operação e seu significado graficamente. Adição de pares ordenados: Dados dois pontos 1 1,x y e 2 2,x y quaisquer, a adição será realizada coordenada a coordenada: 1 1 2 2 1 2 1 2, ,,x y x xy x y y . Ou seja, devemos somar as entradas em x de cada ponto, e tal resultado será inserido na primeira entrada do ponto resultante. A mesma ideia seguimos para y. Por exemplo: na figura a seguir, o ponto C é resultado da adição entre A e B. Temos que A=(2,3), B=(5,2). Ou seja, devemos fazer a soma: C=(2,3)+(5,2). Cada entrada é somada ao seu par correspondente: C=(2+5,3+2). Portanto temos que: C=(7,5). 8 Multiplicação por escalar: Dados um ponto ,x y e um escalar k ∈ ℝ, a multiplicação do ponto pelo escalar é realizada da seguinte forma: , ,k x y kx ky . Ou seja, o escalar k é multiplicado em cada uma das entradas do ponto. Por exemplo: na figura a seguir, o ponto B é resultado da multiplicação do ponto A pelo escalar 3. Temos que A=(1,2), logo, 1,23 3 3 63 2 ,1, B . Igualdade de pares ordenados: Dados dois pontos 1 1,x y e 2 2,x y quaisquer, os pontos serão congruentes se ocorrer, simultaneamente, 1 2x x e 1 2y y . Por exemplo: na figura a seguir, 𝐴 = (4,2) = 𝐵, ou seja, os pontos são iguais. 9 1.5 Baricentro do triângulo Utilizando as operações entre pares ordenados pode-se encontrar o baricentro de um triângulo. Baricentro é o nome dado ao ponto de encontro das medianas. Observe a figura abaixo: Mas o que são medianas? As linhas em azul do triângulo acima são suas medianas. Elas unem cada vértice do triângulo (A, B e C) com o ponto médio do lado oposto ao vértice (M, N e P respectivamente). O ponto G é o baricentro. Para calcular as coordenadas do baricentro, deve-se fazer a média aritmética dos três vértices, ou seja, somam-se as coordenadasdos três pontos e divide-as por três. Veja a fórmula abaixo: , 3 , 3 A B C A B C G G x yx x y y yx Por exemplo: considere o triângulo definido pelos pontos A=(3,2), B=(-4,- 2) e C=(7,-3), conforme a figura abaixo. Vamos calcular as coordenadas do Baricentro do triângulo ABC: Na figura, já podemos observar que o baricentro possui coordenadas (2,- 1). Utilizando a fórmula para encontrar as coordenadas do baricentro, temos: 10 , 3 3 3 4 7 2 2 3 , 3 3 3 4 7 2 2 3 , 3 3 6 3 , 2, 1 3 3 , A B C A B C G G y y yx x yx x Ou seja, o baricentro tem coordenadas (2,-1), conforme indicado na figura. TEMA 2 – SISTEMA POLAR Na seção anterior, abordamos o sistema cartesiano ortogonal. Nesta seção, veremos um sistema utilizando coordenadas polares. Dada uma reta r, um ponto O sobre esta reta e um ponto P, tem-se que O é a origem do sistema, chamado de polo do sistema, e o ponto P será descrito por P , : ρ é a distância polar e θ o argumento ou ângulo polar de P. Em outras palavras, ρ é a distância de O a P (raio de uma circunferência de centro O e que passa por P), e θ é o ângulo entre a reta r e o segmento OP. Convenção: o argumento θ será positivo quando for medido no sentido anti- horário, e negativo se medido no sentido horário. Cada ponto do plano tem um único valor de ρ. Já o argumento θ não é único, pois existem infinitos valores de ângulos congruentes. Para um valor de θ tal que 0 360º , os ângulos congruentes são todos os valores 360º k para ângulos em graus ou se 0 ≤ 𝜃 < 2𝜋, os ângulos congruentes podem ser calculados por 2k para ângulos em radianos, para cada k ∈ ℤ. Essas são as chamadas determinações do argumento. Ou seja, θ=45° pode também ser representado por -675° para k=-2, -315° para k=-1, 405° para k=1, 3645° para k=10, entre outros. O mais usual será o valor angular entre 0 e 360°: 11 Por exemplo: considere um ponto A tal que ρ=4 e θ=45°. Se um ou os dois valores forem alterados, gerará um outro ponto, como é o caso do ponto B (cujo valor de ρ é 5) e do ponto C (cujo argumento α é 120°): 2.1 Sistema polar para sistema cartesiano Muitas vezes, é necessário fazer a transformação de um sistema em outro: do sistema cartesiano ortogonal para o sistema polar ou também do sistema polar para o sistema cartesiano. Veja a figura a seguir, que representa uma junção dos dois sistemas: O ponto P pode ser escrito como P=(x,y) ou P=(ρ,θ). As relações entre os valores de x e y com os valores de ρ e θ (para 0 60º3 ) são: 2 2 2yx 12 x cos y sen y tg x Com base nas equações acima, pode-se transformar um sistema no outro, sem perda de generalidade, e de acordo com a aplicação desejada. Veja na sequência uma aplicação do sistema polar na aviação. 2.2 Aplicação na aviação Uma das diversas aplicações de coordenadas polares é na navegação aérea. Os aviões podem navegar sob duas regras de voo: visual e por instrumentos. A Regra de Voo por Instrumentos (IFR) é quando o comandante da aeronave se baseia apenas nos instrumentos no interior da aeronave para fazer a viagem, e será utiliza as coordenadas polares. Algumas vezes, o controlador de tráfego aéreo pode pedir ao comandante que voe em determinada direção magnética por um certo número de milhas náuticas ou quilômetros. Observação: 1 milha náutica = 1,852 quilômetros. Suponha que um avião esteja sobre um ponto A e deseja se deslocar a um ponto B situado a 20 milhas náuticas de A. O rumo magnético é o 146°. A uma velocidade de 120 milhas náuticas por hora, levará aproximadamente 10 minutos para chegar ao ponto de destino. Nesse exemplo, a distância de 20 milhas náuticas é a distância polar e o rumo magnético 146° é o argumento. Dependendo de qual o rumo magnético do avião no momento, o ajuste para o novo rumo vai ser diferente. Observe as figuras a seguir. O avião encontra-se no ponto A, com seu rumo na direção de B, e deseja alterar seu rumo para C. A Figura 1 exemplifica o primeiro caso, em que o avião está com 13 rumo 140°, e a Figura 2 exemplifica o caso em que o avião está com rumo 210°. Em ambos os casos, ele deseja alterar seu rumo para 146°. Perceba que, na Figura 1, para mudar de 140° para 146°, ele deve desviar-se 6° para a direita; na Figura 2, para alterar de 210° para 146°, deve desviar-se 64° para a esquerda. Figura 1 Figura 2 Uma outra aplicação na aviação é no cálculo do vento incidindo sobre o avião. Supondo que o avião esteja voando no rumo 360°, recebendo um vento vindo da magnética 60°, com uma velocidade de 13kt (1kt = 1 nó = 1 milha náutica por hora). O manual do avião aponta que o vento máximo de través (incidindo perpendicularmente ao avião, em sua lateral) é de 12kt, e o vento máximo de proa (incidindo na mesma direção do avião) é de 20kt. Sendo assim, com o vento descrito anteriormente, seria permitido decolar o avião de acordo com o manual? Veja a figura abaixo. Considere que o avião está no ponto A. Como seu rumo é 360°, sua direção é Norte, conforme o sentido da seta, o vento está incidindo a 60°, à direita do avião: 14 Para o cálculo das componentes de través e de proa, podemos utilizar o gráfico a seguir. Considere que o avião está em O. O vento incide de P a O, com uma velocidade de 13kt (comprimento do vetor OP ), com um ângulo de incidência de 60°. Devemos calcular os valores de x e y: Para calcular o valor de x (componente de través), deve-se utilizar uma das fórmulas de conversão de sistema polar para sistema cartesiano: x cos . Ou seja: cos 13 os3x c 0º Mas, como 3 cos30 2 , temos: 3 13 3 2 x 1 2 3 Considerando 3 1,7 , encontramos 13 1,7 x 11nós 2 . Para encontrar o valor de y (componente de proa) deve-se utilizar y sen . Portanto: sen 13 en3y s 0º Mas como 1 sen30 2 , substituindo esse valor encontramos: 1 13 y 13 2 2 Ou seja, 13 y 6,5 nós 2 . Como o vento máximo de través era de 12 nós e o de proa era de 20kt, e o resultado para x e y foi aproximadamente 11 e 6,5kt respectivamente, então um vento de 13kt vindo da magnética 60° é um vento ainda dentro dos limites estabelecidos pelo manual da aeronave. 15 TEMA 3 – VETORES Neste tema da aula, faremos uma introdução a vetores. Veremos a definição de vetor, algumas propriedades e vetores especiais, como os versores, e também como encontrar o módulo de um vetor. Veremos também alguns casos especiais, como paralelismo de vetores, multiplicação de vetor por um escalar e quando dois vetores são coplanares. 3.1 Definição de vetor De acordo com Camargo e Boulos (2005, p. 2), "um segmento orientado é um par ordenado (A,B) de pontos do espaço. A é a origem e B é a extremidade do segmento orientado (A,B). Um segmento orientado do tipo (A,A) é chamado segmento orientado nulo". Um segmento orientado possui três características: comprimento, direção e sentido. O comprimento é a distância entre sua origem e sua extremidade. A direção de duas retas paralelas é a mesma, mas diferente em duas retas não paralelas. Em uma mesma direção, ainda pode-se falar sobre o sentido do segmento. Dois segmentos podem ter um mesmo sentido ou sentidos contrários. Veja a figura abaixo: Os segmentos AB e GH têm o mesmo comprimento e mesma direção, mas sentidos contrários. Os segmentos AB e EF têm a mesma direção e o mesmo sentido, mas comprimentos diferentes. Já o segmento CD tem direção distinta de todos os outros, então não é possível comparar seu sentido. O comprimento de CD também é diferente do comprimento dos demais. Um vetor é, portanto,um segmento orientado, mas sem qualquer ponto de apoio. Não é preciso determinar uma origem e uma extremidade, pois um vetor é um conjunto de segmentos orientados de mesmo comprimento, direção 16 e sentido. A notação para vetores geralmente é uma letra minúscula encimada por uma seta: u , v , w , t , x , etc. Veja a seguir alguns casos particulares de vetores: O vetor nulo possui comprimento zero e pode ser denotado por 0 . O vetor com sentido oposto ao de u será o vetor u . O módulo u de um vetor é o seu comprimento e pode ser calculado por 2 2 2 A B A B A Bu y zx y zx , considerando u B A , com A A A,yA x ,z e B B B,yB x ,z . Um vetor unitário é um vetor de módulo igual a 1: 1u . Um versor de u é um vetor unitário que possui mesma direção e sentido que u , e será denotado por u ue s u v r . Um vetor pode ser utilizado para deslocar um ponto. Pode ser realizada uma adição entre um ponto e o vetor, de forma que a origem do vetor é colocada sobre o ponto e sua extremidade determinará um outro ponto. Veja a figura a seguir. Foi feita a adição do ponto P com o vetor u , da seguinte forma: P u Q ou u Q P . A origem do vetor é colocada sobre P e o vetor determinará a posição de Q: Vetores paralelos: dois vetores são paralelos quando apresentam mesma direção, podendo ser representados colinearmente. Não necessariamente apresentam o mesmo sentido e comprimento. Se possuírem mesmo sentido, são ditos equiversos, e se possuírem sentidos contrários, são ditos contraversos. Na figura a seguir, os vetores u e v são equiversos e os vetores u e w são contraversos: 17 Vetores coplanares: dois vetores quaisquer são sempre coplanares, pois considerando um ponto P sempre é possível traçar os dois vetores determinando um plano em comum. Três ou mais vetores são ditos coplanares quando existe algum plano onde estes vetores podem ser representados. Se três vetores não são coplanares então eles determinam o espaço. A figura a seguir mostra dois vetores coplanares: u e v . Os vetores u , v e w não são coplanares pois w . 3.2 Multiplicação de vetor por escalar Uma das operações que podem ser feitas com vetor é multiplicá-lo por um escalar. Dado um 𝑘 ∈ ℝ, a multiplicação de um vetor por um escalar é feita exclusivamente em seu comprimento e/ou sentido. Se k 0 ou u 0 , então ku 0 . Se k 0 e u 0 , o vetor ku é: paralelo a u , tem mesmo sentido que u , se k>0 e sentido contrário se k<0 e, além disso, ku k u A multiplicação por escalar é feita coordenada a coordenada. Ou seja, dado um vetor u x,y,z e um escalar k ∈ ℝ, a multiplicação de k por u será u k x,yk ,z k x,k y,k z . A multiplicação por escalar ainda satisfaz os seguintes itens, para qualquer vetor u e quaisquer escalares a e b reais: Elemento neutro: 1 u u Associativa: u u b aua b ab Exemplo 1: Seja u um vetor tal que 4u . Ao multiplicarmos este vetor pelo escalar 3, encontramos um vetor de comprimento 12 e mesmo sentido que u ; ao multiplicarmos este vetor pelo escalar -3, encontramos um vetor de 18 comprimento 12 mas com sentido oposto ao de u . O comprimento é o mesmo, pois ku uk , ou seja, como u 4 , temos: 3 4 3 4 12 u 4 3 4 3 4 k 1 k 2 Veja a figura abaixo, que ilustra os três vetores: u , 3u e 3u : Exemplo 2: um vetor u quando posicionado em A gera uma extremidade B. Se as coordenadas de A são 3, 2,5 e as coordenadas de B são 2,1,3 , vamos encontrar o valor de u . Vamos utilizar a fórmula do módulo de um vetor que vai de A a B: 2 2 2 A B A B A Bu x x y y z z Ou seja, 2 2 2 u 3 2 2 1 5 3 . Donde, 22 2u 1 3 2 e então, u 1 9 4 14 u.c. . TEMA 4 – OPERAÇÕES COM VETORES No tema anterior, vimos a definição de vetores e alguns casos particulares, como paralelismo, multiplicação por escalar, vetores coplanares, vetor nulo, entre outros conceitos importantes para o estudo das operações com vetores. Veremos a seguir duas operações mais básicas com vetores: adição e subtração. Essas duas operações serão utilizadas para definir dois conteúdos importantes que serão abordados no próximo tema. 19 4.1 Adição de vetores Dados dois vetores u e v , podemos realizar a adição de vetores fixando o vetor u em um ponto A, obtendo um ponto B em sua extremidade, e fixando o vetor v no ponto B, obtendo um ponto C em sua extremidade. O vetor resultante da soma dos dois vetores é um vetor com origem em A e extremidade C: Essa soma pode ser demonstrada utilizando diferença de pontos. Tem-se que A u B , ou seja, u B A ; B v C , ou seja, v C B . Adicionando u e v , encontra-se u v B A C B C A . A soma de dois vetores colineares ou paralelos é feita colocando-os em sequência. O vetor resultante é um vetor que possui mesma direção que os dois vetores; o comprimento é a adição ou a subtração dos comprimentos dos vetores, dependendo do sentido de cada um. Vejamos algumas propriedades das somas de vetores. Comutatividade: u v v u Perceba que na figura a seguir w u v v u : Associatividade: u v w u v w A figura abaixo mostra essa associatividade. 20 Elemento neutro: u 0 u Elemento oposto: u u 0 Veja a figura a seguir, que ilustra a soma de um vetor com o seu oposto. Perceba que u tem origem em A e extremidade em B. Colocando u na extremidade de u , ou seja, B, a extremidade do vetor u será A. Portanto, voltará à origem de u : Inserindo agora também algumas propriedades da multiplicação por escalar junto à soma de vetores, temos: Distributiva: a u v au av u v a Veja a figura a seguir que ilustra a propriedade distributiva. Exemplo 1: encontrar o módulo do vetor resultante da soma dos vetores u e v tais que A=(2,3) é origem de u com extremidade B=(4,7), que é origem de v . A extremidade do vetor v é o ponto C=(9,8). 21 Para resolver este problema, vamos fazer um desenho dos vetores: O módulo do vetor resultante é o comprimento de AC , ou seja: 2 2 A C A Cu v x y yx , ou seja, 2 2 u v 2 9 3 8 . Dessa forma, temos 2 2 u 5v 7 . Elevando os números ao quadrado: 49 2u v 745 . Como estamos falando de medida de comprimento, u v 74 u.c. . 4.2 Subtração de vetores Dados dois vetores u e v , a subtração de dois vetores é semelhante à adição. É definida por u v u v . Diferentemente da adição, a subtração de vetores não é comutativa. Considere dois vetores u e v da seguinte forma: A subtração u v u v será graficamente representada por: 22 Ou seja, a subtração é determinada por uma adição de u com o oposto de v . Poderá, também, ser representada por: Os vetores u e v têm extremidade no mesmo ponto, e o vetor u v tem origem na origem de u e extremidade na origem de v , como pode-se ver na imagem. Exemplo: calcular o vetor resultante da subtração entre u 3,6,1 e v 3,7,1 , ou seja, u v . Para calcular o vetor u v , vamos colocar u em um ponto qualquer. Seja A=(0,0,0) origem de u . A sua extremidade estará no ponto B=(3,6,1). Como queremos fazer a subtração entre os dois pontos, vamos encontrar o oposto de v : v 3,7,1 3, 7, 1 . Vamos fazer B como origem de v . O ponto C, extremidade de v será: v 3,6,1 3, 7 1 CB C , . Ou seja, C 3 3,6 7,1 1 6, 1,0 . Dessa forma, o vetor resultante de u v terá origem em A e extremidade C: A u v C . Logo, 0,0,0 u v 6,1,0 , donde u v 6, 1,0 . TEMA 5 - COMBINAÇÃO LINEAR E TRIPLA ORDENADA Nos temas anteriores, vimos alguns conceitos básicos de vetores e também três operações: multiplicação por escalar, adição e subtração de vetores. Utilizando esses conceitos, podemos falar sobre combinação linear de vetores, que é o conteúdo que será abordado nesta seção. Além disso, vamos ver também os vetores como tripla ordenada, que é a forma como serão vistos os vetores na maioria dos conteúdos das próximas aulas. 23 5.1 Combinação linear de vetores Uma combinação linear de vetores é uma múltipla adição de vetores multiplicados por escalares, ou seja, dados n vetores 1 2 3 nu , u , u , u, e n número reais 1 2 3 n, a , a ,a ,a , a combinação desses n vetores é um vetor v tal que 1 1 2 2 3 3 n nv a u a u a u a u , com cada ia coeficiente do vetor iu . Exemplo 1: Considerando v 4u , vamos escrever duas diferentes combinações lineares de u e v que resultem no vetor nulo. Uma possível combinação linear que resulta no vetor nulo é v 4u pois, como v 4u , ao substituirmos v , teremos v 4u 4u 4u 0 . Uma outra combinação linear possível é multiplicando todos os coeficientes por um mesmo valor. Vamos multiplicar tudo por 3. Encontramos então a seguinte combinação linear: 3v 12u . De fato, 3v 12u 3 4u 12u 12u 12u 0 . Ou seja, dado como v 4u , podemos reescrever essa equação da forma: v 4u 0 . Assim, já temos a primeira combinação linear. Além disso, podemos, sem perda de generalidade, multiplicar a equação inteira por 3: 3 v 4u 3v 12u 0 , encontrando a segunda combinação linear. O valor multiplicado pode ser qualquer escalar. Existem infinitas combinações lineares entre dois vetores linearmente dependentes. 5.2 Vetores como uma tripla ordenada Em um sistema cartesiano ortogonal, é possível escrever um vetor como uma tripla ordenada. A origem desse vetor será sempre a origem do sistema cartesiano, e ele será representado como o ponto onde há extremidade. Ou seja, o vetor u 1,3, 2 tem origem em (0,0,0) e extremidade no ponto A 1,3, 2 . Dividindo cada vetor pelo seu módulo, teremos versores como triplas ordenadas, ou seja, vetores unitários. Pode-se ainda estabelecer um versor para cada eixo. Chamando de i , j e k os versores dos eixos x, y e z, respectivamente, qualquer vetor do espaço com origem em O pode ser escrito como uma combinação linear desses versores. O versor i será representado pelas coordenadas (1,0,0), o versor j será representado pelas coordenadas 24 (0,1,0). e o versor k será representado pelas coordenadas (0,0,1). Veja a figura abaixo: É possível escrever um vetor qualquer como combinação linear dos versores i , j e k . Essa combinação é dita expressão cartesiana de um vetor. As coordenadas do vetor OP a,b,c podem ser escritas em função de i , j e k da seguinte forma: OP a i bj ck , pois OP a,b,c a,0,0 0,b,0 0,0,c a 1,0,0 b 0,1,0 c 0,0,1 a i b j ck Veja a figura a seguir para uma melhor compreensão. Exemplo: v 1,2,5 possui origem (0,0,0) e extremidade A 1,2,5 , o vetor w 3,4, 2 possui origem (0,0,0) e extremidade B 3,4, 2 . Veja que esses vetores devem ser representados no espaço tridimensional: 25 Podemos ainda escrever v e w como combinação linear de i , j e k . Ou seja, como v 1,2,5 , fazemos sua decomposição para obter: v 1,2,5 1,0,0 0,2,0 0,0,5 1 1,0,0 2 0,1,0 5 0,0,1 i 2 j 5k1 Dessa forma, v i 2 j 5k . Da mesma maneira, vamos decompor o vetor w 3,4, 2 : w 3,4, 2 3,0,0 0,4,0 0,0, 2 3 1,0,0 4 0,1,0 2 0,0,1 3 i 4 j 2 k 3 i 4 j 2k Logo, podemos escrever w 3i 4 j 2k . FINALIZANDO Nesta aula, relembramos alguns conceitos e conteúdos já estudados durante o Ensino Básico, que formam a base para a Geometria Analítica: pontos, retas e planos. Vimos também três tipos de sistemas: Sistema Cartesiano Ortogonal e Sistema Polar no plano e o Sistema Cartesiano Ortogonal em um plano tridimensional. Esta aula é a primeira do curso de Geometria Analítica, portanto são conteúdos mais básicos, que servirão de apoio para a construção do curso e para um melhor entendimento dos conceitos que vêm na sequência. As demais 26 aulas serão compostas de conteúdos novos, como produto vetorial e escalar. Tais conteúdos são a base para as aplicações que serão vistas no decorrer da disciplina. 27 REFERÊNCIAS CAMARGO, I. de; BOULOS, P. Geometria analítica: um tratamento vetorial. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2005. VENTURI, J. J. Álgebra vetorial e geometria analítica. 9 ed. Curitiba: Livrarias Curitiba, 2015. WINTERLE, P. Vetores e geometria analítica. São Paulo: Pearson, 2007.
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