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Brasília-DF. Gestão de Compras Elaboração Rogério de Moraes Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção .................................................................................................................................. 5 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 6 introdução ..................................................................................................................................... 8 unidAdE i LOGÍSTICA ........................................................................................................................................... 9 CAPÍtuLo 1 ASpeCTOS reLevAnTeS ........................................................................................................... 9 CAPÍtuLo 2 CAnAIS de dISTrIbuIçãO ...................................................................................................... 16 CAPÍtuLo 3 GerenCIAmenTO de eSTOqueS ............................................................................................ 22 unidAdE ii OperAçõeS ...................................................................................................................................... 34 CAPÍtuLo 4 COnCeITOS e ApLICAçõeS .................................................................................................. 34 CAPÍtuLo 5 prOduçãO e SuprImenTOS ................................................................................................. 36 CAPÍtuLo 6 ArmAzenAGem.................................................................................................................... 38 CAPÍtuLo 7 dISTrIbuIçãO fÍSICA e TrAnSferênCIA ................................................................................. 43 CAPÍtuLo 8 LOGÍSTICA de reSpOSTA de ServIçOS (LrS) .......................................................................... 47 unidAdE iii TeCnOLOGIA dA InfOrmAçãO ........................................................................................................ 50 CAPÍtuLo 9 CódIGO de bArrAS e rAdIOfrequênCIA ........................................................................... 50 CAPÍtuLo 10 EntErprisE rEsourcE planning (erp) ............................................................................... 54 CAPÍtuLo 11 WarEhousE ManagEMEnt systEM (WmS) ........................................................................... 57 CAPÍtuLo 12 EfficiEnt consuMEr rEsponsE (eCr) e VEndor ManagEMEnt inVEntory (vmI) ............. 60 unidAdE iv GerenCIAmenTO dA CAdeIA de SuprImenTOS .................................................................................. 67 CAPÍtuLo 13 evOLuçãO dA LOGÍSTICA .................................................................................................... 67 CAPÍtuLo 14 GerenCIAmenTO dA CAdeIA de SuprImenTOS ..................................................................... 69 CAPÍtuLo 15 SuprImenTOS e fOrneCedOreS .......................................................................................... 79 unidAdE v neGOCIAçãO .................................................................................................................................. 86 CAPÍtuLo 16 neCeSSIdAdeS em umA neGOCIAçãO ................................................................................ 86 CAPÍtuLo 17 ArTe de neGOCIAr .............................................................................................................. 89 CAPÍtuLo 18 AvALIAçãO de eSTILOS de neGOCIAçãO ........................................................................... 102 PArA (não) finALizAr .................................................................................................................... 108 rEfErÊnCiAS .................................................................................................................................. 110 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de to rná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para não finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução Para um bom desempenho de suas funções, um gestor de uma instituição financeira deve ter conhecimentos apurados de logística, principalmente no tocante a área de Gestão de Compras. Deste modo, nosso material didático abordará temas como a produção, distribuição, estocagem de materiais, bem como a arte de negociação para aquisição de tais materiais. Este Caderno de Estudos e Pesquisa, portanto, tem o objetivo de proporcionar informações acercada Gestão de Compras, com o compromisso de orientar os profissionais da área de Instituições Financeiras, para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia. objetivos » Conhecer os conceitos e a evolução histórica da logística. » Entender as operações do gerenciamento da logística no varejo. » Identificar as soluções de tecnologia da informação na logística varejista. » Explicar a importância do gerenciamento da cadeia de suprimentos para as organizações. » Identificar aspectos relevantes da arte da negociação. 9 unidAdE iLogÍStiCA CAPÍtuLo 1 Aspectos relevantes Conforme Kobayashi (2000), “Logística é a atividade que serve para oferecer aos clientes artigos comerciais, produtos e serviços com rapidez, a baixos custos e com satisfação”. Outras definições mais detalhadas: » “A logística é uma técnica e, ao mesmo tempo, uma ciência que suporta a realização dos objetivos empresariais, a programação dos mesmos e a consecução; serve para o management, o engineering e as atividades técnicas nos temas solicitados, o projeto, o fornecimento e a preservação dos recursos” (Sole Society of Logistic Engineers). » “A logística é o processo de elaboração, implementação e controle de um plano que serve para maximizar, da produção ao consumo, enfrentando custos, a eficiência e a eficácia do fluxo e da gestão das matérias-primas, semiacabados, produtos acabados e informações; tudo isso deve ser conforme as exigências dos clientes” (Council of Logistics Management). » “É o processo com o qual se dirige de maneira estratégica a transferência e a armazenagem de materiais, componentes e produtos acabados, começando dos fornecedores, passando através das empresas, até chegar aos consumidores” (Martin Christopher). Conforme as definições citadas, a logística, além da distribuição física aos clientes de produtos e artigos comerciais, ocupa-se de oferta, da parte das empresas, de produtos, artigos comerciais e serviços. 10 UNIDADE I │ LOGÍSTICA A logística também é considerada um “sistema de distribuição física”; não se ocupando somente de bens materiais, mas também de serviços, sendo considerada como uma atividade de suporte em todos os campos para incrementar e solidificar o faturamento e as quotas de mercado das empresas. Segundo a Sole (Society of Logistics Engineers), a Sociedade dos Técnicos Logísticos, as finalidades da logística podem ser compendiadas nos “8R” seguintes: » Right Material (materiais justos) » Right Quantity (na quantidade justa) » Right Quality (de justa qualidade) » Right Place (no lugar justo) » Right Time (no tempo justo) » Right Method (com o método justo) » Right Cost (segundo o custo justo) » Right Impression (com uma boa impressão) Para satisfazer essas exigências, não é suficiente que a logística se ocupe somente da entrega aos clientes dos produtos, dos artigos comerciais e dos serviços que possui no momento. Necessita, ao contrário, reorganizar globalmente as funções de abastecimento de materiais, componentes etc., aquela de produção e de compra no atacado, a função de desenvolvimento dos produtos e de distribuição física, a função das vendas e assim por diante. É necessário estruturá-las juntamente e fazer das mesmas um sistema. As várias empresas devem definir solidariamente suas finalidades, extraindo-as dos conteúdos desses “8R”. Segundo Bowerson e Closs (2001), a missão da logística é um esforço integrado com o objetivo de ajudar a criar valor para o cliente pelo menor custo total possível. A logística existe para satisfazer às necessidades do cliente, facilitando as operações relevantes de produção e marketing. Do ponto de vista estratégico, os executivos de logística procuram atingir uma qualidade predefinida de serviço ao cliente por meio de uma competência operacional que represente o estado-da-arte. O desafio é equilibrar as expectativas de serviços e os gastos de modo a alcançar os objetivos do negócio. Ballou (2003) define: A logística empresarial como um campo de estudos relativamente novo da gestão integrada, em comparação como os tradicionais de finanças, marketing e produção. É uma tradição das empresas a organização em torno das funções de marketing e de produção. Geralmente, marketing significa vender algo e produção significa fazer algo. Embora poucas pessoas concordem que suas organizações sejam tão simples, muitos empresários dão ênfase para essas funções enquanto veem outras atividades, como Tráfego, Compras, Contabilidade e Engenharia, como Áreas de suporte. Essa atitude é justificada até certo ponto, porque os produtos de uma empresa, se não puderem ser produzidos e vendidos, pouco importam. Entretanto, tal modelo é perigosamente 11 LOGÍSTICA │ UNIDADE I simples para muitas empresas seguirem, pois falha em reconhecer a importância das atividades que devem acontecer entre pontos e tempos de produção ou compra, e de pontos e tempos da demanda. Essas são atividades logísticas e afetam a eficiência e a eficácia do marketing e da produção. Estudantes e profissionais de ambos não têm negligenciado a importância da logística. Na verdade, cada área considera a logística dentro de seu escopo de atuação. Por exemplo, Ballou lembra que a definição da gestão de marketing inclui distribuição física: Marketing (administração) é o processo de planejamento e execução da concepção, da precificação, da promoção e da distribuição de ideias, mercadorias e serviços para criar intercâmbios com grupos-alvo que satisfaçam os objetivos individuais e organizacionais. A preocupação do marketing é colocar seus produtos ou serviços em canais de distribuição convenientes de forma a facilitar o processo de troca. Por outro lado, o conceito de gestão de produção/ operações frequentemente inclui atividades logísticas. Por exemplo: “a gestão de operações tem a responsabilidade da produção e da entrega de produtos físicos e serviços”. É provável que produção/ operações sejam as mais interessadas naquelas atividades que afetam diretamente a manufatura e seus objetivos primários de produzir ao mais baixo custo unitário. A diferença nos objetivos operacionais (maximizar receitas versus minimizar custos) para essas duas áreas de gestão, pode levar à fragmentação do interesse na responsabilidade pelas atividades logísticas, bem como à falta de coordenação entre atividades logísticas como um todo. Isso, por sua vez, pode levar a baixos níveis de serviços ao cliente e a custos logísticos totais mais altos do que necessários. A logística empresarial representa uma redefinição, ou por estruturas organizacionais formais ou conceitualmente na visão dos gestores, das atividades de movimentar-estocar, que historicamente têm estado parte sob o controle do marketing e parte sob o controle da produção/operações. Se as atividades logísticas são vistas como área de ação gerencial separada, o relacionamento das atividades logísticas com as do marketing e as da produção/operações seria como mostrado na Figura 1. Figura 1: Interfaces da logística com o marketing e a produção PRODUÇÃO/ OPERAÇÕES Atividades: » Controle de qualidade » Programação da produção » Manutenção de equipamento » Planejamento da capacidade » Mensuração do trabalho Atividades de interface Atividades: » Programação da produção » Localização da planta » Compras MARKETING » Promoção » Pesquisa de mercado » Mix de produto » Gerenciamento da equipe de vendas Atividades de interface: » Padrões de serviços ao cliente » Precificação » Embalagem » Localização do varejo Marketing – interface com a logística Produção – interface com a logística LOGÍSTICA » Trnasportes » Estoques » Processamento de pedidos » Manuseio de materiais fonte: bALLOu, ronald H, 2001, p.33. 12 UNIDADE I │ LOGÍSTICA O marketing seria o responsável pela pesquisa de mercado, pela promoção, pelo gerenciamento da equipe de vendas e pelo mix de produto,os quais criam valor de “posse” ou propriedade em um produto. A produção/operações estaria envolvida com a criação de produtos e serviços. As responsabilidades-chave seriam controle de qualidade, planejamento e programação da produção, projeto do trabalho, planejamento da capacidade, manutenção, e mensuração do trabalho e padrões. A logística estaria envolvida em atividades (previamente definidas) que dão ao produto ou ao serviço valor de tempo e lugar. Essa separação das atividades logísticas da empresa em três grupos, em vez de dois, nem sempre é necessária ou aconselhável. O marketing e a produção/operações, quando amplamente concebidos e coordenados, podem realizar um trabalho eficaz de gerenciamento das atividades logísticas sem criar uma entidade organizacional adicional. Entretanto, uma área funcional separada pode ser a maneira mais eficaz de alcançar a coordenação desejada. A Figura 1 também mostra atividades que estão na interface de marketing e logística, produção/ operações e logística. Uma atividade de interface é aquela que não pode ser gerida efetivamente dentro de uma Área funcional. A interface é criada por uma separação arbitrária das atividades da empresa em um número limitado de divisões organizacionais. Gerenciar as atividades de interface por uma única função pode levar a desempenhos subótimos para a empresa por meio da subordinação das metas mais abrangentes da empresa às metas da função individual – um perigo potencial resultante da forma departamental de estrutura organizacional tão comum nas empresas de hoje. Para administrar as atividades de interface efetivamente, algum mecanismo ou incentivo para cooperação entre as funções envolvidas deve ser estabelecido. É importante notar, entretanto, que estabelecer um terceiro grupo funcional não elimina suas desvantagens. No entanto, existem duas interfaces funcionais, enquanto que antes existia apenas uma. Alguns dos problemas administrativos mais difíceis surgem dos conflitos interfuncionais que ocorrem quando alguém está tentando gerenciar atividades de interface. objetivos da Logística Empresarial Dentro dos objetivos mais abrangentes da empresa, o profissional de logística empresarial busca sua própria meta funcional que move a empresa em direção a seu objetivo maior. Especificamente, deseja desenvolver um conjunto de atividades logísticas que resultará no maior retorno possível sobre o investimento ao longo do tempo. Há duas dimensões dessa meta: » o impacto do projeto do sistema logístico na contribuição para a receita; » o custo do projeto do sistema logístico. De forma ideal, o profissional de logística deveria saber perfeitamente o valor de receita adicional que deveria ser gerada por meio de melhorias incrementais na qualidade dos serviços prestados ao cliente. Entretanto, essa receita geralmente é desconhecida com exatidão. Frequentemente, ele deve fixar o nível de serviços ao cliente a algum valor determinado, geralmente em um nível aceitável pelo cliente, pelas vendas ou por outras partes pertinentes. Nesse ponto, o objetivo logístico pode ser minimizar os custos para alcançar o nível de serviço desejável em vez de maximizar o lucro ou o retorno sobre o investimento. 13 LOGÍSTICA │ UNIDADE I Diferentemente da receita, os custos logísticos normalmente podem ser determinados tão acuradamente quanto as práticas contábeis permitirem. São elas, geralmente, de dois tipos: custos operacionais e custos de capital. Custos operacionais são aqueles recorrentes periodicamente ou aqueles que oscilam diretamente com a variação do nível de atividade. Salários, despesas de armazenagem e administrativas e outras despesas indiretas são exemplos de custos operacionais. Custos de capital são as despesas que ocorrem apenas uma vez, que não mudam com as variações normais nos níveis de atividades. Exemplos aqui são o investimento privado em frota de caminhões, o custo de construção de armazém e a aquisição de equipamentos de movimentação de materiais. Se for aceito que há conhecimento do efeito dos níveis de atividades logísticas na receita da empresa, um objetivo financeiro viável para a logística pode ser estabelecido como o seguinte (BALLOU, 2003): “Maximizar ao longo do tempo a relação da receita anual (devido ao nível de serviços prestados ao cliente) menos os custos operacionais do sistema logístico sobre o investimento anualizado no sistema logístico”. Se a valorização do dinheiro no tempo for grande, maximizar o valor presente do fluxo de caixa ou maximizar a taxa interna de retomo seria um objetivo mais apropriado a ser estabelecido. Maximizar o retomo sobre o investimento cumulativo ao longo do tempo é o único objetivo importante para assegurar a sobrevivência da empresa. indicadores de desempenho Para Martins (2002), é fundamental ver como o sistema logístico atua e qual seu objetivo de melhoria. Todos os negócios precisam estabelecer para si mesmos alvos de melhoria realistas e maneiras de atingi-los. De acordo com o mercado em que a empresa compete, os objetivos podem variar. Para alguns, o importante é a confiabilidade, isto é, entregas nas quantidades e datas acertadas, para outros pode ser a velocidade de resposta a um pedido, ou ainda a flexibilidade de mudanças em um produto de linha. Para uma empresa com longo horizonte de planejamento e que movimenta grandes quantidades de mercadorias e informações com frequência, o baixo custo de operação deve ser o objetivo principal, sendo aceitos sacrifícios na velocidade e na flexibilidade. Outras empresas, contudo, consideram os defeitos e retrabalhos gerados por danos em transporte ou armazenamento que podem ser afetados pela forma de operação do canal logístico. De qualquer maneira, objetivos quantificáveis são necessários. Esse processo torna-se fácil se considerarmos cada elo da cadeia logística como o cliente do elo precedente na cadeia. Três pontos devem ser estabelecidos claramente: » o que os clientes querem (pergunte a eles); » o nível qualitativo de serviço que os clientes recebem da empresa comparado ao nível qualitativo de serviço que recebem dos concorrentes; » como o serviço da empresa se compara (benchmarking) com os dos competidores diretos, indiretos e de outros mercados. 14 UNIDADE I │ LOGÍSTICA Em seguida, devem ser medidos os custos da cadeia logística. Os custos operacionais devem ser ponderados em relação aos custos e benefícios da empresa como um todo, antes que informações relevantes para decisão apareçam. A grande maioria dos custos pode ser medida. Alguns dos custos que devem ser mensurados são: » custos de suprimentos, como o custo de colocar uma ordem, descontos recebidos em função do tamanho das ordens e sua influência no fluxo de caixa; » custos de manter estoques, instalações e custos operacionais; » custo total de inventários, considerando o custo de manter inventário em excesso (obsolescência, refugos) e o custo de manter inventário insuficiente (perda de produção, vendas perdidas); » custos de oportunidade de aplicação de capital não imobilizado; » custos de transporte, no total e por operação/produto, incluindo a comparação entre transporte próprio e por terceiros; » custos de produção; » custos de documentação e das transações ao longo do sistema; » custos de pessoal, comparando a produtividade deles em relação às médias do setor ou por meio de estudos de tempos e movimentos; » retorno do investimento gerado por cada um deles. A próxima fase é o estabelecimento de metas exequíveis. Metas que não podem ser alcançadas só servem para atrapalhar. Metas fáceis e que aceitam o baixo desempenho conduzem a empresa ao declínio rapidamente. É essencial não aceitar o que todos “sabem” que é possível ou não. Este é um forte argumento para usar consultores externos ou contratar sangue novo – conseguir definir um objetivo atingível. Medidas confiáveis são necessárias não só para ajudar a atingir o sistema ideale começar a melhorar a maneira de fazer as coisas, mas darão uma dimensão da melhoria. Os números irão mudar à medida que a maneira de comprar, fabricar, vender e entregar mude. Para coletar e analisar esses dados de forma confiável e a baixo custo, é necessário o uso de sistemas computadorizados e talvez de um especialista para guiar a empresa na compra e implementação do sistema. Dependendo do tamanho da empresa, já estão disponíveis programas individualizados e com baixo custo. Para a melhora do desempenho logístico é necessário o uso de ferramentas que assegurem que os elementos da cadeia logística são eficientes. Elas focalizam as áreas que constituem gargalos ou que não contribuem para o nível de serviço almejado. Alguns indicadores úteis para começar um acompanhamento do desempenho logístico são: 15 LOGÍSTICA │ UNIDADE I Suprimentos » Erros em ordens de compras ordens de compras auditadas » Número de pessoas em suprimentos número total de pessoas » Valor total de compras custo total de suprimentos » Número de entregas no prazo número de entregas Manufatura » Horas produtivas (produtos entregues) padrão por hora horas trabalhadas » Unidades programadas unidades produzidas » Gastos de produção até a data orçamento de produção até a data » Horas paradas horas pagas Distribuição » número de entregas no prazo número de entregas » número de ordens entregues número total de ordens colocadas » número de duplicatas prorrogadas número total de duplicatas » número de reclamações de clientes número total de transações 16 CAPÍtuLo 2 Canais de distribuição Para Arbache (2004), existem diversas maneiras de um consumidor tomar a decisão de compra de um bem ou serviço, e a disponibilidade do produto no Ponto de Venda (PDV) é uma delas. Para alguns produtos com demanda inelástica como, por exemplo, insumos agrícolas, a presença do produto na gôndola do supermercado é primordial, pois ele é comprado por necessidade e não pela marca, sendo facilmente substituído. Por outro lado, produtos focados na qualidade podem também ser trocados caso não estejam ao alcance imediato do consumidor, dando chance ao concorrente de ampliar sua base de clientes. No entanto, colocar os produtos nos armazéns, bares, supermercados, entre outros, depende de uma série de passos que se iniciam com o produto sendo extraído in natura, passando por manufaturas e chegando ao cliente nos PDVs. Todos esses passos formam a cadeia de suprimentos. Essa cadeia pode ser vista de duas formas: antes e depois da manufatura que transforma a matéria- prima no produto acabado. Podemos chamar de logística de suprimentos (Figura 2) o abastecimento de matéria-prima na manufatura e logística distribuição, também denominada Canal de Distribuição, quando se leva o produto acabado para o varejo (NOVAES apud ARBACHE, 2004). Figura 2: Cadeia de suprimentos fonte: ArbACHe, fernando S. et al., 2004, p. 102. Neste capítulo estudaremos a cadeia de distribuição e suas influências sobre o varejo, porque o correto dimensionamento dos canais de distribuição pode minimizar diversos problemas como, por exemplo, a perda de vendas por falta do produto, ou excesso de estoque por erro no modelo de distribuição e previsão de demanda. Um canal de distribuição bem estruturado proporciona um bom nível de serviço na disponibilidade para o mercado. Uma das consequências é a possibilidade de melhoria no índice de retenção dos clientes, pois este pode ser visto como um dos valores agregados ao produto. Na prática, ao encontrar o produto pretendido com facilidade em uma determinada loja, a empresa constrói uma barreira de saída do consumidor. Pois, em muitos casos, mesmo pagando preço premium, a comodidade e a certeza de achar o que se quer podem ser de terminantes na decisão de compra. Outros benefícios podem ser atribuídos aos Canais de Distribuição como, por exemplo, a vantagem competitiva sustentável. 17 Com o avanço da tecnologia e a rápida transferência e aquisição de know-how, os produtos inovadores lançados por uma empresa são rapidamente copiados pelos concorrentes, tornando o produto um atributo competitivo pouco sustentável. O preço torna-se um complexo fator competitivo em um ambiente no qual a concorrência busca a cada dia otimizar seus custos, reduzindo de forma efetiva suas margens de lucro. Devido ao grande número de promoções e mídias expostas por todos os concorrentes, a promoção vem tendo resultados cada vez mais inexpressivos. No entanto, os canais de distribuição, quando bem dimensionados, tornam mais complexa a cópia pelos concorrentes, porque envolvem diversos membros de uma cadeia de suprimentos, sendo necessário um grau de relacionamento e estrutura previamente desenvolvidos. Para se alcançar essas variáveis é necessário tempo para o projeto e implantação, gerando uma barreira de entrada para o concorrente e, consequentemente, uma vantagem competitiva sustentável. Características e funções Não seria mais fácil para a indústria oferecer seus produtos aos clientes finais em vez de vendê-los para uma loja? Uma das características do varejo é a diversidade de produtos que ele oferece para o consumidor. Esse mix possibilita a escolha do produto que melhor satisfaz a necessidade de cada pessoa. Para uma manufatura concorrer no mercado de varejo deveria então oferecer produtos de seus concorrentes para compor o mix de produtos, aumentando a complexidade da operação. Em um ambiente cada vez mais competitivo onde o foco é o core business, o varejo demandaria recursos e esforços que poderiam ser gastos no desenvolvimento de novos produtos (NOVAES apud ARBACHE, 2004). Isso não implica que uma manufatura não possa oferecer produtos diretamente ao consumidor. Existem algumas empresas como, por exemplo, a Dell Computers, localizada em Eldorado do Sul (RS), que oferece seus produtos diretamente ao mercado por dois canais de venda específicos: a loja virtual e o call center. Os canais de venda física foram eliminados, sendo estes os únicos meios possíveis de se adquirir seus computadores. Por ser um produto tecnológico focado em nichos específicos e ter uma marca já conhecida internacionalmente, a empresa obteve sucesso em sua empreitada no Brasil. Pode ser mais rentável e menos oneroso, para determinados segmentos, especializar-se em uma atividade específica e comercializar suas competências (core competence) do que atuar em diferentes áreas para cobrir todo o processo de produção e entrega de um produto ou serviço. Para se entender melhor o canal de distribuição, ele deve ser analisado sob a ótica da logística, do marketing e de vendas. Para logística, distribuição física é um conjunto de processos operacionais coordenados, que possibilitam levar os produtos da manufatura até o PDV, chegando ao consumidor final. O marketing e as vendas procuram analisar sob o aspecto de serviços associados ao produto responsáveis pela composição da cadeia de distribuição. O modo como os Canais de Distribuição são concebidos depende, diretamente, da estratégia competitiva de atuação da empresa. Novos tipos de canais com atenção cada vez mais dirigida ao consumidor final surgem como resultado de um ambiente cada vez mais competitivo. O uso da tecnologia da informação melhora o entendimento sobre as necessidades pontuais dos clientes, possibilitando saber qual a maneira mais rápida de se colocar o produto certo na hora certa no PDVY. 18 UNIDADE I │ LOGÍSTICA Ao estabelecer um canal de distribuição para seus produtos, uma empresa almeja, entre outras coisas (NOVAES apud ARBACHE, 2006): » garantir a disponibilidade dos produtos nos locais onde de fato serão consumidos; para isso, é primordial identificar quais os consumidores certos para cada tipo de produto de uma determinada manufatura; o marketing de relacionamento pode obter informações pertinentes ao mercado, identificando o padrão de consumo de cada região, minimizando erros dedemanda; » maximizar o potencial de vendas do produto trabalhando-o nos PDVs, determinando a posição mais adequada do produto nas lojas; » desenvolver uma cadeia de suprimentos integrada e participativa, trocando informações precisas que aumentem a visibilidade de todos sobre as demandas reais; isso permite aos participantes da cadeia estruturarem-se, prevendo os recursos necessários. Para conseguir o retorno esperado de um canal de distribuição, deve-se entender que ele desempenha quatro funções básicas, que dizem respeito ao contato direto com o consumidor final: indução da demanda, satisfação da demanda, serviços de pós-venda e troca de informações (feedback). tipos de Canais Os canais de distribuição podem ser classificados como vertical, híbrido e múltiplo (NOVAES apud ARBACHE, 2006). Canais verticais Nos canais verticais, a responsabilidade sobre o produto é transferida de um intermediário para o próximo, ao se repassar o produto. O varejista, geralmente, é o último da cadeia e o único que tem contato direto com o consumidor final. Nesse tipo de canal, a coleta e a interpretação dos dados a respeito do consumidor são realizadas pelo último membro da cadeia. As tendências de demanda são, então, geradas pelos varejistas, que muitas vezes as estimam em vez de determiná-las, por causa do alto custo de implementação. Com o aumento da variedade de produtos ofertados, a compreensão dos padrões de consumo torna-se ainda mais complexa. Por desconhecer as demandas, esse canal trabalha eminentemente com estoque empurrado, gerando estoque em cada intermediário que funciona como pulmão (buffer), permitindo sempre um bom nível de serviço, porém com custo alto. Entretanto, com a evolução da tecnologia as empresas passaram a adotar o conceito de Supply Chain Management (SCM). O SCM aprimora o conceito de cooperação entre os membros de uma cadeia de suprimentos permitindo uma intensa troca de informações, possibilitando o melhor entendimento de todos os processos e necessidades pertinentes ao canal. Em vez de escolher os 19 LOGÍSTICA │ UNIDADE I intermediários da cadeia para chegar ao consumidor final, parte-se do consumidor, determinando, de acordo com as funções do canal, os melhores intermediários e fornecedores. A informação precisa traz a concepção da manufatura flexível, fabricando lotes menores com custos mais reduzidos. Esse tipo de canal permite à empresa obter dados direto dos consumidores, melhorando em seu relacionamento com o cliente e o dimensionamento real da demanda. Com esses dados, é possível também gerar padrões de consumo que possibilitam modelar as tendências futuras de consumo. A adoção da loja virtual ou de Call Center pode reduzir os intermediários de um canal vertical, tornando-o mais curto, como se pode ver na Figura 3. figura 3: Canais verticais fonte: ArbACHe, fernando S. et al., 2004, p. 108. A redução de intermediários pode gerar benefícios para alguns setores onde os preços dos produtos são mais altos e haja a necessidade de customização do bem adquirido. A escolha de um canal deve ser formulada como parte de uma estratégia competitiva para satisfazer as necessidades de um determinado grupo de consumidores considerado prioritário por uma empresa. A multinacional francesa BIC, produtora de canetas, isqueiros e barbeadores, é um exemplo de canal vertical. A empresa é líder no Brasil na categoria de isqueiros e escrita, com participação de 75% e 60%, respectivamente. O produto atinge os mais variados PDVs, em diversas áreas geográficas devido à estratégia de distribuição. Grande parte dos produtos é distribuída pelo atacadista mineiro Martins, que faz uma intensa troca de informações com a ElC, com o objetivo de aferir de forma contínua as demandas de mercado. Para gerenciar os estoques é usado o Vendar Management Inventary (VMI) que possibilitou a melhora de 80% para 95% no nível de serviço (BERTAGLIA, 2003). Produtos dessas categorias dificilmente serão comercializados diretamente pela manufatura devido ao seu baixo custo, exigindo, assim, canais verticais com dois ou três intermediários. Em relação à BIC, a Martins passa a ser o intermediário entre o varejo e a manufatura. 20 UNIDADE I │ LOGÍSTICA Canais híbridos No canal híbrido as distribuições podem ser feitas por mais de um parceiro. Esse canal se destaca por separar o processo de venda do da distribuição. Todo o relacionamento com o consumidor é feito pela empresa e a distribuição, em geral, é terceirizada, como pode ser visto na Figura 4. figura 4: Canais híbridos fonte: ArbACHe, fernando S. et al., 2004, p. 109. Um exemplo é a empresa Becton-Dickison, que comercializa produtos hospitalares. Por serem muito específicos e com alto grau de complexidade, a comercialização exige, por parte do vendedor, conhecimento técnico sobre o produto e o uso correto. Por outro lado, os compradores em geral são instituições grandes, como hospitais, que adquirem grandes lotes. O relacionamento entre esses dois membros deve ser bem estruturado e sem falha, e a manufatura deve estar sempre atenta às novas necessidades do mercado. A comercialização é feita pela própria Becton-Dickison, que contrata diversos distribuidores autorizados que fazem a entrega física. Ao hospital é permitido escolher o distribuidor que o atenda melhor. Por atender diversos clientes, esses distribuidores obtêm escala operacional reduzindo o custo logístico. Isso não ocorreria com a Becton-Dickison se ela mesma fizesse a entrega final. A principal vantagem relacionada ao canal híbrido é o contato direto com o consumidor final, obtendo informações estratégicas que possibilitam ao fabricante determinar as tendências de demanda. Um dos problemas encontrados no canal híbrido é a possibilidade de um dos distribuidores trabalhar para empresas concorrentes como canal vertical, ou seja, o próprio distribuidor realizar as vendas e o contato com o consumidor, como mostra a Figura 5. Por obter maior margem de lucro, o distribuidor pode dar preferência nas entregas para os produtos que comercializa. 21 figura 5: Canal vertical versus canal híbrido fonte: ArbACHe, fernando S. et al., 2004, p. 111. O surgimento do e-commerce permitiu a diversas manufaturas oferecerem seus produtos diretamente aos consumidores, eliminando assim inúmeros intermediários do canal vertical, podendo chegar à configuração de um canal híbrido. Após a compra pela internet, o consumidor escolhe em qual concessionária deseja pegar o carro, que faz o papal de distribuidor em um canal híbrido. O relacionamento com os clientes vem se mostrando fundamental para que as empresas possam entender a respeito dos hábitos de consumo de cada região, dimensionando melhor os canais em cada área geográfica. Canais múltiplos Outra forma de otimizar o desempenho da cadeia de suprimentos é usar mais de um canal de distribuição. A diversidade de canais ofertados aos clientes permite atingir diversos tipos de consumidores, ampliando a atuação da empresa no mercado. Uma empresa pode compor sua força de venda agregando como canais: internet, call Center e lojas físicas, satisfazendo cada nicho específico (NOVAES, 2001). Essa diversidade pode atingir consumidores que não tenham acesso às lojas físicas, por morarem em localidades distantes. Por outro lado, os consumidores tradicionais que necessitam de um atendimento mais personalizado podem adquirir seus produtos nas lojas tradicionais. O Call Center complementa todos esses canais, atingindo nichos específicos de pessoas bem como prospectando novos clientes. Um problema encontrado é a possibilidade de concorrência entre os dois canais reduzindo a rentabilidade de um deles e inviabilizando sua operação. 22 CAPÍtuLo 3 gerenciamento de estoques Segundo Ballou (2003), as necessidades de estoque de uma empresa dependem da estrutura da rede e do nível desejado de serviço ao cliente. Teoricamente, uma empresa pode manter um armazém dedicado a cada clientecom todos os itens comercializados. No entanto, são poucas as situações em que as empresas podem manter seus estoques em níveis tão elevados, por causa do risco e do custo total proibitivos. O objetivo é fornecer o serviço desejado ao cliente mantendo o mínimo em estoque, consistente com o menor custo total possível. Estoques excessivos podem compensar deficiências no projeto básico de uma rede logística e, até certo ponto, deficiências de competência gerencial. No entanto, utilizados para acomodar tais situações, resultam, em última instância, em custo logístico total mais alto do que o necessário. As estratégias logísticas são projetadas para manter o mínimo possível de recursos financeiros em estoque. O objetivo básico da gerência de estoque é obter máxima rotatividade satisfazendo, ao mesmo tempo, os compromissos com o cliente. Uma política de estoque adequada é baseada em cinco questões relativas ao processo de alocação seletiva: segmentação de clientes, especificidade de produtos, integração do transporte, necessidades relativas a operações baseadas no tempo e desempenho competitivo. Todas essas questões serão abordadas de maneira resumida. Empresas que vendem seus produtos a diversos clientes defrontam-se com ampla faixa de rentabilidades em suas transações. Alguns clientes são altamente lucrativos e têm potencial de crescimento, enquanto outros, não. A rentabilidade das operações com um cliente depende dos produtos adquiridos, dos volumes das vendas, dos preços, dos serviços de valor agregado requeridos e das atividades complementares que são essenciais para o desenvolvimento e a manutenção de uma relação de fidelidade. Clientes altamente lucrativos constituem o mercado preferencial de uma empresa. As estratégias de estoque devem concentrar-se na satisfação das necessidades desses clientes preferenciais. A chave para uma logística segmentada eficaz está no planejamento das prioridades de estoque, objetivando dar apoio aos clientes preferenciais. A maioria das empresas experimenta uma variação substancial de volume e de rentabilidade em suas linhas de produtos. Geralmente, as empresas acabam constatando que, por exemplo, menos de 20% de todos os produtos vendidos são responsáveis por mais de 80% do lucro total. Embora a chamada regra 80/20, ou princípio de Pareta, seja comum, os executivos podem evitar um custo excessivo por meio de estratégias de estoque que classificam os produtos de primeira linha. Uma avaliação realista dos produtos de volume e lucratividade baixos que, não obstante, devem ser mantidos, é a chave para que seja evitado um custo excessivo. Por motivos óbvios, as empresas sempre desejam manter alta disponibilidade e oferecer entrega consistente de produtos mais lucrativos. No entanto, para fornecer um serviço de linha completa a clientes preferenciais, muitas vezes torna-se necessária a manutenção de itens menos lucrativos em níveis elevados. A inconveniência a ser evitada é a oferta de alto desempenho de serviço em itens menos lucrativos adquiridos por clientes ocasionais e não preferenciais. Portanto, a rentabilidade da linha de 23 LOGÍSTICA │ UNIDADE I produtos deve ser considerada no desenvolvimento de uma política de estoque seletiva. Várias empresas consideram mais adequado manter itens de pouca saída ou de baixa rentabilidade em um armazém central. O nível de serviço de entrega pode ser ajustado à importância dos clientes no ato do recebimento dos pedidos. Os clientes preferenciais, por exemplo, podem ser atendidos com um serviço aéreo rápido e confiável, enquanto os pedidos de clientes não preferenciais podem ser entregues por meio de um transporte rodoviário mais barato. A seleção do sortimento de produtos a ser armazenado em uma instalação específica tem influência direta no desempenho do transporte. A maior parte das taxas de transporte é baseada no volume e nas dimensões das cargas. Portanto, pode ser interessante acumular produtos para entrega em um armazém, com o objetivo de consolidar cargas para um cliente ou para uma área geográfica. A economia correspondente no transporte pode mais do que compensar o custo mais elevado de manutenção do estoque. O compromisso de entregar produtos rapidamente para atender às necessidades do cliente é um mecanismo propulsor importante da logística. Em geral, nas operações em que prazos de entrega são críticos, procura-se reduzir os estoques por meio do desenvolvimento da capacidade de resposta rápida e precisa às necessidades dos clientes, tanto do varejo quanto da produção. Nesse sentido, a entrega rápida de produtos e materiais pode permitir a redução de estoques nas fábricas. Da mesma maneira, o reabastecimento rápido de lojas de varejo pode reduzir o estoque de segurança mantido na ponta da cadeia de suprimento. A alternativa para a formação e a manutenção de estoques de segurança é receber a quantidade exata de estoque no momento certo. Embora esses programas baseados no tempo reduzam o estoque do cliente a mínimos absolutos, a economia deve ser comparada com outros custos incorridos no processo logístico. Programas baseados no tempo, por exemplo, tendem a reduzir o tamanho das cargas, fato que aumenta a quantidade, a frequência e o custo das entregas. Isso, por sua vez, pode resultar em custos de transporte mais altos. Para que uma organização logística seja eficaz e eficiente, ela deve obter um equilíbrio entre o nível de serviço ao cliente desejado e o custo logístico total. Características e tipos de Estoque A manutenção de estoque implica riscos de investimento e de possibilidade de obsolescência. Em primeiro lugar, o investimento em estoque não pode ser usado alternativamente para obter mercadorias ou outros ativos destinados à melhoria de desempenho da empresa. Como alternativa, os recursos para investimento em estoque podem ser obtidos mediante empréstimo, opção que aumenta as despesas financeiras da empresa. Outro aspecto do risco que envolve o estoque é a possibilidade de roubos e a obsolescência. Esses fatores e o valor relativo do estoque determinam o nível de risco a que a maioria das empresas está exposta. É importante compreender que a natureza e a extensão do risco variam, dependendo da posição da empresa no canal de distribuição (BOWERSON; CLOSS, 2001). Produção Para o fabricante, o risco relativo ao estoque tem uma dimensão em longo prazo. O investimento do fabricante em estoque começa com matérias-primas e componentes inclui estoques de produção 24 UNIDADE I │ LOGÍSTICA em processo e termina em produtos acabados. Além disso, antes da venda, os produtos acabados são constantemente transferidos para depósitos próximos a atacadistas e varejistas. Embora os fabricantes, em geral, tenham linhas de produtos menores do que os atacadistas e os varejistas, seu investimento em estoque é relativamente de maior profundidade e de mais longa duração. Atacado A exposição dos atacadistas ao risco é menor do que a dos fabricantes, mas é mais profunda e de mais longa duração do que a dos varejistas. Geralmente, atacadistas compram de fabricantes grandes quantidades e vendem pequenas quantidades a varejistas. A justificativa econômica para a existência de atacadistas é a capacidade de prover seus clientes varejistas com grande variedade de mercadorias de diferentes fabricantes, em pequenas quantidades. Quando os produtos são sazonais, os atacadistas são forçados a formar estoque com grande antecedência às vendas, aumentando a profundidade e a duração do risco. Uma das maiores desvantagens do comércio atacadista é a expansão das linhas de produtos até o ponto em que elas se aproximam da quantidade de linhas dos varejistas, permanecendo a profundidade e a duração do risco características da atividade de atacado. Os atacadistas generalistas que atuam com linhas completas de eletrodomésticos e de alimentos, por exemplo, enfrentaram dificuldades na última década. A expansão das linhas de produtos aumentou a amplitudedo risco de manutenção de estoque. Além disso, a clientela varejista forçou um aumento substancial do sortimento e da duração do estoque dos atacadistas, por meio da redução de seu próprio estoque, transferindo aos atacadistas a responsabilidade de mantê-lo. A pressão decorrente da proliferação das linhas de produtos, mais do que outro fator isolado, provocou o declínio do número de atacadistas generalistas, forçando-os à especialização. varejo Para os varejistas, o gerenciamento de estoque é fundamentalmente uma questão de compra e venda. Compram uma ampla variedade de produtos e assumem risco substancial no processo de comercialização. O risco dos varejistas, quanto aos estoques, pode ser considerado amplo, mas não profundo. Por causa dos altos aluguéis de imóveis, os varejistas dão especial ênfase à rotação ou giro do estoque e à lucratividade direta do produto. A rotação do estoque é calculada como quociente das vendas anuais sobre o estoque médio. Apesar de os varejistas assumirem riscos com muitos produtos, o risco relacionado a cada produto individualmente não é profundo. O risco é diluído por mais de 10.000 unidades de manutenção de estoque (SKU, do inglês stock-keeping unit), em supermercados normais. Lojas de descontos que comercializam produtos de consumo, incluindo alimentos, têm frequentemente mais de 25.000 SKU. Lojas de departamentos podem ter até 50.000 SKU. Confrontados com essa amplitude de estoque, os varejistas tentam reduzir o risco pressionando os fabricantes a assumir níveis de responsabilidade cada vez maiores pelo estoque. Ao empurrar o estoque para trás, no Canal de marketing, os varejistas aumentaram suas exigências, para com fabricantes e atacadistas, por entregas menores e mais frequentes de cargas compostas de diversos produtos. Varejistas 25 LOGÍSTICA │ UNIDADE I especializados, ao contrário dos generalistas, têm menores riscos com a composição de seu estoque porque comercializam linhas de produtos mais estreitas. No entanto, assumem maiores riscos no que diz respeito à profundidade e à duração do estoque. Se uma empresa planeja operar em mais de um nível do canal de distribuição, deve estar preparada para assumir riscos adicionais de estoque. Cadeias de comercialização de alimentos que operam depósitos regionais, por exemplo, assumem riscos comparáveis aos dos atacadistas, os quais são superiores aos das operações de varejo. À medida que as empresas se tornam integradas verticalmente, o gerenciamento de estoque deve considerar todos os níveis do Canal de marketing. funções do Estoque A política de estoques ideal seria aquela decorrente da fabricação de produtos conforme as especificações de clientes, após a colocação de pedidos. Isso é chamado Produção sob Encomenda, e é característico de produtos customizados. Esse sistema não exige a formação de estoque de materiais ou de produtos acabados em antecipação a vendas futuras. Embora um sistema de produção e distribuição sem estoque nem sempre seja possível, é importante considerar que o valor investido em estoque deve ser avaliado em conjunto com outros recursos logísticos, para a obtenção do menor custo total. Estoque consiste em substancial investimento em ativos e, portanto, deve proporcionar pelo menos algum retorno de capital. Os contadores há muito reconheceram que existem problemas de apuração, já que os demonstrativos de resultados não refletem adequadamente os verdadeiros custos, nem mesmo as vantagens de investimentos em estoque. A falta de metodologias mais sofisticadas para a apuração dos custos de manter estoques torna difícil avaliar o trade-offs entre níveis de serviço, eficiência das operações e níveis de estoque. A maioria das empresas mantém estoque médio que excede suas necessidades normais. Segundo Bowerson e Closs (2001), essa afirmação pode ser mais claramente compreendida por meio do exame cuidadoso das quatro principais funções desempenhadas pelos estoques. Especialização geográfica Uma dessas funções é permitir especialização geográfica considerando cada unidade operacional. Por causa da demanda por fatores de produção, como energia elétrica, materiais, água e mão de obra, a localização mais econômica está geralmente longe dos principais mercados. Pneus, baterias, conjuntos de transmissão e molas, por exemplo, são componentes importantes em processos de montagem de automóveis. A tecnologia e o conhecimento especializado para produzir cada um dos componentes citados estão normalmente localizados nas proximidades das fontes dos respectivos materiais, a fim de minimizar custos de transporte. Essa estratégia leva à dispersão geográfica da produção, para que cada componente de automóvel possa ser fabricado da maneira mais econômica. A dispersão geográfica exige transferências de estoque, com o objetivo de integrar os componentes durante o estágio de montagem final. A dispersão geográfica também exige estoques para possibilitar a entrega de sortimentos de produtos aos mercados. Produtos manufaturados em vários locais são reunidos num único 26 UNIDADE I │ LOGÍSTICA depósito e, em seguida, combinados numa única carga composta de diversos produtos. A Procter & Gamble, por exemplo, usa centros de distribuição para combinar produtos de suas divisões de produtos de higiene e limpeza, saúde e alimentos, oferecendo a seus clientes a possibilidade de receber, em um único carregamento, todas as suas necessidades. Esses depósitos são exemplos de dispersão geográfica e de distribuição integrada, tornadas possíveis pela existência de estoque. A dispersão geográfica permite especialização econômica de unidades de produção e de distribuição das empresas. Quando é adotada a especialização geográfica, o estoque de materiais, os produtos semiacabados ou componentes e os produtos acabados passam a fazer parte do sistema logístico. Cada local requer um estoque básico. Além disso, o estoque em trânsito é necessário para ligar a produção à distribuição. Embora difíceis de avaliar, as economias proporcionadas pela especialização geográfica podem compensar com folga os aumentos de custo de manutenção de estoque e de transporte. Estoques intermediários Outra função do estoque que possibilita máxima eficiência operacional em unidades de produção é a acumulação de estoque de produtos não acabados entre operações de produção. Permite que cada produto seja fabricado e distribuído em lotes econômicos maiores do que a demanda de mercado. A armazenagem de produtos em antecipação à demanda permite sua distribuição a clientes em grandes quantidades, com menores custos de transporte. Na comercialização, permite que os produtos sejam paulatinamente fabricados e depois vendidos. O uso de estoques intermediários tende a regular o fluxo das operações, amenizando as incertezas. Difere da especialização geográfica: o estoque intermediário proporciona aumentos de eficiência operacional num único local, enquanto a especialização geográfica considera múltiplos locais. Até certo ponto, os modernos conceitos de competição, baseada no tempo, reduziram, sem eliminar as vantagens econômicas de estoques intermediários. Equilíbrio entre Suprimento e demanda Esta função está relacionada ao tempo decorrido entre produção e consumo. A função reguladora do estoque concilia a disponibilidade de materiais e produtos com a demanda. Os exemplos mais notáveis são a produção sazonal e o consumo durante todo o ano. O suco de laranja é um desses produtos. Um exemplo de produção durante o ano todo e de consumo sazonal é o de cervejas e sorvetes. A função reguladora de estoque concilia os aspectos econômicos de produção com as variações do consumo. Conciliar gerencialmente os aspectos referentes ao tempo de produção e à demanda envolve difícil problema de planejamento. Quando a demanda se concentra num curto período de tempo, fabricantes, atacadistas e varejistas são forçados a formar estoques muito antes do período crítico de vendas. Na fabricaçãode móveis de jardim, por exemplo, a produção deve estar em seu auge no início do outono, enquanto as vendas não acontecem antes da primavera ou do verão seguintes. O estoque dos fabricantes chega a seu maior volume entre o início de janeiro e o início 27 LOGÍSTICA │ UNIDADE I de fevereiro e passa a declinar à medida que os móveis são entregues a atacadistas e varejistas. As vendas a varejo iniciam-se na primavera e chegam a seu pico por volta do Dia do Trabalho, no início de maio. Depois do início de julho, o mercado transforma-se de “mercado vendedor” em “mercado comprador”. A competição por preço estabelece-se à medida que os varejistas tentam reduzir estoque e eliminar sua manutenção para além da estação. Portanto, do ponto de vista dos varejistas, o estoque para toda a estação de vendas deve ser planejado seis meses antes do pico de vendas. Qualquer tentativa de reabastecer estoque pouco antes do Dia do Trabalho é arriscada. Os móveis de jardim são um exemplo extremo, mas todos os produtos têm alguma espécie de variação sazonal. A acumulação de estoque permite produção ou consumo em massa, mesmo quando existe sazonalidade. A função reguladora do estoque exige investimento em estoque sazonal, que é formado com a expectativa de saída total dentro da estação. O problema crítico do planejamento é determinar a quantidade de estoque que permitirá máximas vendas, sem o risco de arcar com sobras para a estação seguinte. gerenciando incertezas O estoque de segurança (também chamado estoque regulador) ameniza variações e/ou incertezas de curto prazo, tanto de demanda quanto de ressuprimento. São dedicados esforços consideráveis ao planejamento e à determinação do estoque de segurança. Na realidade, a maioria dos excessos de estoque é resultante de mau planejamento. A necessidade de estoque de segurança decorre de incertezas de vendas futuras e de prazos de ressuprimento. Quando existem incertezas, é necessário proteger os níveis de estoque correntes. De certa maneira, o planejamento de estoque de segurança equivale a um “seguro no processo de compras”. O estoque de segurança protege a empresa contra dois tipos de incertezas. O primeiro é o do excesso de demanda sobre as quantidades projetadas, durante o ciclo das atividades. O segundo tipo envolve tempos de espera no ciclo das atividades. Pode citar como exemplo de incerteza de demanda os pedidos de clientes com quantidades maiores ou menores do que aquelas planejadas. Incertezas no ciclo de atividades decorrem de variações nos tempos de espera no recebimento e no processamento de pedidos ou no transporte. Planejamento do Estoque Esta seção descreve os parâmetros e procedimentos essenciais ao Planejamento de Estoque. O Planejamento de Estoque concentra-se, segundo Bowerson e Closs (2001), em duas situações: quando fazer o pedido de ressuprimento e quanto pedir. Embora os procedimentos sejam os mesmos para vários centros de distribuição, os parâmetros são diferentes, pois a demanda e as condições de ressuprimento diferem em cada local. 28 UNIDADE I │ LOGÍSTICA determinação do Ponto de ressuprimento (quando Pedir?) Como foi observado anteriormente, o ponto de ressuprimento determina quando devem ser iniciadas as atividades de ressuprimento. O ponto de ressuprimento, definido por item e por centro de distribuição, pode ser estipulado em unidades ou em dias de suprimento. Tal explicação concentra-se na determinação de pontos de ressuprimento sob Condições de Certeza de demanda e de Ciclo de Atividades. As Condições de Certeza implicam o conhecimento da magnitude da demanda futura e dos períodos dos ciclos de atividades. A fórmula básica de Ponto de Ressuprimento é PR = D x T em que: PR = Ponto de Ressuprimento em unidades de produto. D = demanda diária média. T = duração média do ciclo de atividades. Para ilustrar este cálculo, digamos que a demanda seja de 10 unidades por dia e o ciclo de atividades seja de 20 dias. Neste caso, PR = D x T = 10 unidades/dia x 20 dias = 200 unidades. A fórmula do Ponto de Ressuprimento acima apresentada pressupõe que a chegada de ressuprimento acontecerá quando a última unidade de estoque for expedida a um cliente. Essa constitui a abordagem mais adequada quando tanto a demanda como o período do ciclo de atividades são conhecidos. Quando há incertezas, quer quanto à demanda, quer quanto à duração do ciclo de atividades, faz-se necessária a formação de estoque regulador usualmente chamado de estoque de segurança. Este estoque, conforme visto anteriormente, atende à demanda de clientes durante ciclos de atividades mais longos ou quando a demanda média diária é mais alta do que o esperado. Quando o estoque regulador é necessário em vista de condições de incerteza, a fórmula do ponto de ressuprimento é PR = D x T + ES em que: PR = ponto de ressuprimento em unidades de produto. D = demanda diária média. T = duração média do ciclo de atividades. ES = estoque regulador em unidades. 29 LOGÍSTICA │ UNIDADE I determinação do Lote de Compra (quanto Pedir?) O princípio que rege a determinação de lotes de compra visa ao equilíbrio entre o custo de manutenção de estoque e o custo de emissão e colocação de pedidos a fornecedores. O pormenor mais importante para compreender essa relação é lembrar que o estoque médio é igual à metade da quantidade do pedido de compra. Portanto, quanto maior for a quantidade do pedido de compra, maior será o estoque médio e, consequentemente, maior o custo anual de manutenção do estoque. Todavia, quanto maior for a quantidade de pedidos de compra, menos pedidos serão necessários no período planejado e, consequentemente, menores serão os custos totais de emissão e colocação de pedidos. Os cálculos relativos à determinação de lotes de compra visam à apuração precisa de quantidades em que a soma dos custos de emitir e colocar pedidos e de manter estoque disponível é a menor possível, para o volume de vendas anual. Em resumo, os objetivos são identificar a quantidade de pedidos de compra ou o período de colocação de pedidos que minimizam o custo total de manutenção de estoque e de emissão e colocação de pedidos a fornecedores. Lote Econômico de Compra O Lote Econômico de Compra – LEC é a quantidade do pedido de ressuprimento que minimiza a soma do custo de manutenção de estoques e de emissão e colocação de mico de compra considera que a demanda e os custos são relativamente estáveis durante o ano inteiro. Como o lote é calculado especificamente para cada produto, a fórmula usada não considera as implicações de pedidos que incluem diferentes produtos. A maneia mais eficiente para calcular o Lote Econômico de Compra é por meio de uma equação matemática. A política de pedir 100, 200 ou 600 unidades pode ser encontrada aplicando-se a fórmula de cálculo de Lote Econômico de Compra adequada a essa situação. O Quadro 1 contém os dados necessários para esse cálculo. quadro 1: fatores para determinação do lote econômico de compra Volume de demanda anual Custo unitário Percentagem de custo de manutenção de estoque Custo de emissão e colocação de pedido 2.400 unidades $ 5,00 20% ao ano $ 19,00 por pedido LEC = √ (2.Co.D / Ci.U) em que: LEC = Lote Econômico de Compra. Co = custo de emitir e colocar um pedido. Ci = custo anual de manutenção de estoque. D = volume anual de vendas, em unidades. U = custo por unidade. 30 UNIDADE I │ LOGÍSTICA LEC = √ (2 x 19 x 2.400 / 0,20 x 5) LEC = √91.200 = 302 (300, arredondado o resultado da raiz quadrada) O Custo de Emissão e Colocação de um pedido é de $ 152 (2.400/300 x $ 19) e o Custo de Manutenção do Estoque é de $ 150 [300/2 x (5 x 0,20)]. Dessa forma, foi apurado o custo unitário anual de emissão e colocação de pedidos e o custo de manutenção de estoque, após arredondamento para múltiplos de 100 unidades. Nesse caso, portanto, para auferir a vantagem de compras mais econômicas, os pedidos devem ser feitos para 300 unidades,e não para 100, 200 ou 600. Seriam colocados, ao longo do ano, oito pedidos e o estoque médio seria de 150 unidades. Um lote econômico de compra de 300 unidades implica a adoção de um estoque adicional no sistema, na forma de um estoque básico, já que o estoque médio aumenta de 100 para 150 unidades disponíveis. A fórmula de Lote Econômico de Compra apura a quantidade ótima de ressuprimento, mas considera algumas hipóteses que restringem sua aplicação. Essas hipóteses são: (1) atendimento de toda demanda; (2) taxa de demanda conhecida, constante e contínua; (3) períodos de ciclo de atividades e de ressuprimento conhecidos e constantes; (4) preço constante do produto, independentemente da época e da quantidade do pedido (ou seja, não são considerados descontos relativos à quantidade de compra e transporte); (5) horizonte de planejamento infinito; (6) ausência de interação com outros itens de estoque; (7) inexistência de estoque em trânsito; e (8) disponibilidade ilimitada de capital. As restrições impostas por algumas dessas hipóteses podem ser suplantadas mediante cálculos complementares, os quais são tratados a seguir. Contudo, o conceito de lote econômico de compra demonstra a importância de análises de trade-off entre custos de manutenção de estoque e custos de emissão de pedidos para ressuprimento. O entendimento das interações entre ciclo de atividades de estoque, custo de manutenção de estoque e lote econômico de compra é útil para orientar o planejamento de estoque. Em primeiro lugar, o lote econômico de compra situa-se no ponto em que o custo anual de colocação de pedidos e o custo de manutenção de estoque são iguais. Em segundo lugar, o estoque básico é metade da quantidade do pedido. Em terceiro lugar, o valor unitário de estoque, com as demais variáveis permanecendo constantes, tem relação direta com a duração do ciclo de atividades: na realidade, quanto mais alto for o valor, com mais frequência são feitos pedidos de ressuprimento. Segundo Fleury (2000), na era da gestão Just- in-Time (JIT) dos níveis de estoque, o conceito do Lote Econômico de Compra (LEC) parece estar um pouco defasado. Será que a fórmula matemática está conceitualmente errada, ou simplesmente caiu em desuso? A fórmula do LEC calcula o tamanho ótimo do lote a partir do trade-off entre os custos de manter estoques e o custo de processar o pedido (transporte, avaliação de crédito, setup de equipamentos etc.). A sabedoria tradicional do fornecimento enxuto, entretanto, diz-nos que o tamanho de lote unitário deve ser o objetivo principal a ser perseguido. Percebemos claramente que essas duas abordagens são, em princípio, antagônicas. Mas será que elas podem ser utilizadas conjuntamente? A reconciliação dessas duas abordagens vem mediante o reconhecimento que a fórmula do LEC é válida, mas percebe o problema de forma menos dinâmica que os defensores do ressuprimento 31 LOGÍSTICA │ UNIDADE I enxuto. Por exemplo, o LEC assume que os custos de processamento do pedido são dados do sistema e, portanto calcula o tamanho de lote que vai diluir este custo sem, no entanto, incorrer em custos excessivos de manter estoques. A prática JIT faz o caminho reverso: dado que o tamanho de lote ideal é o unitário, a empresa deve se esforçar para reduzir os custos de processamento do pedido. À medida que os custos de processamento do pedido diminuem, o tamanho ótimo do lote calculado pela forma do LEC também diminui. Os defensores do JIT na indústria e do ECR no varejo tendem a colocar maior peso no custo de carregar estoques. Segundo Roberto e Rodrigues (2000), o sistema Just-in-Time é uma metodologia criada no Japão, ao final da década de 40, para eliminar atividades que não adicionavam valor na cadeia compras/ fabricação/distribuição, possibilitando a fabricação de automóveis a um menor custo. A filosofia do sistema JIT é o envolvimento de clientes e fornecedores como forma de diminuir os custos de produção com base na redução do nível dos estoques, tempos de preparação, inspeções de qualidade etc. A premissa básica é acoplar a demanda ao suprimento de itens de alto valor agregado, que geram elevados custos com a manutenção de estoque, possibilitando que estejam disponíveis na hora e local necessários à produção. Por meio de embarques sincronizados mais frequentes é obtida uma substancial economia de escala no transporte, ao mesmo tempo em que o baixo nível de estoques deixa de gerar custos para sua manutenção, uma vez que são mantidos próximos ao nível zero. O conceito operacional do JIT consiste em fabricar apenas a quantidade necessária para cada operação, para uso imediato na operação seguinte do processo. Daí, que o primeiro posto de trabalho desse fluxo necessitará de peças, componentes ou matérias-primas no exato momento de iniciar o trabalho e apenas na quantidade suficiente para montar ou fabricar as unidades solicitadas pelo segundo posto de trabalho, e assim sucessivamente. Se o passo subsequente não especificar quantidade de material e tempo, todo o processo assumirá variações na demanda, solicitando estoques para situações de pico, com um efeito multip1icativo para trás que resultará em estoques cada vez maiores, levando-nos de volta ao processo produtivo tradicional, com grandes volumes de matéria-prima e material em processamento. Desse modo, só é possível trabalhar com níveis mínimos de estoques quando a demanda for constante e previsível. Já para Dornier (2000), o Efficient Consumer Response – ECR é um método efetivo para atingir a integração setorial entre fabricantes e distribuidores, o qual contribui para o sucesso de uma estratégia integrada de marketing/distribuição/operações globais. O projeto ECR foi lançado nos EUA, em 1992, pelo Food Marketing Institute, e conduzido pela Kurt Salmon Associates. A indústria de supermercados adotou-o como uma estratégia de negócios na qual distribuidores, fornecedores e varejistas trabalharam em conjunto para levar os produtos aos clientes. O principal objetivo do ECR é racionalizar a cadeia de distribuição, a fim de aumentar o valor aos clientes. O ECR foca-se na demanda real do cliente e usa aquela informação para orientar o sistema. Os clientes puxam as mercadorias por meio da loja e do canal com suas compras, permitindo que haja menos estoque ao longo do sistema. 32 UNIDADE I │ LOGÍSTICA Fleury (2000) comenta que os defensores do JIT na indústria e do ECR no varejo tendem a colocar um peso maior no custo de carregar estoques. Em sua perspectiva, os estoques são um recurso utilizado para esconder ineficiências nos sistemas de produção e distribuição. Usando a famosa analogia do lago, os defensores do JIT na indústria argumentam que ao se baixar o nível de água (estoques), as pedras aparecem (problemas ou deficiências do sistema). A partir daí, é possível direcionar esforços para eliminar estes problemas permitindo que o barco (fluxo de produtos e materiais) navegue com maior tanquilidade. Já os defensores do ECR no varejo reconhecem que o custo de carregar estoques foi frequentemente mal calculado. Da perspectiva do varejista, se por um lado o custo da venda perdida é extremamente elevado, por outro lado um grande volume de produtos em estoque é liquidado por meio de promoções para estimular a demanda. A solução passa por um nível de estoque menor, melhor dimensionado e apoiado por um sistema de reposição eficiente. Dessa forma, os defensores do ECR e do JIT não devem rejeitar a fórmula do LEC. O tamanho de lote que equilibra os custos de processar pedidos com os custos de carregar estoques de fato leva ao menor custo total da operação. As empresas líderes perceberam não apenas a importância de reduzir estoques, mas também a necessidade de aperfeiçoar continuamente o processamento de pedidos e o transporte de modo a assegurar que o fornecimento enxuto seja a operação de menor custo total. Segundo Bowerson e Closs (2001), uma percentagem de manutenção de estoque relativamentebaixa reduz a influência do estoque em decisões que afetam o custo total e torna o custo de transporte relativamente mais importante. Como consequência, as decisões e as estratégias que afetam o custo logístico total tenderiam a minimizar as despesas de transporte com a adoção de mais centros de distribuição, os quais manteriam os produtos mais perto dos mercados. Mais centros de distribuição acarretam mais estoque, ou seja, à medida que aumenta o número de instalações, o estoque de segurança total também aumenta. Portanto, percentagens mais baixas de custo de manutenção de estoque resultam em estratégias que substituem transporte por mais estoque, este relativamente mais barato. Ao contrário, percentagens de custo de manutenção de estoque relativamente mais altas influenciam estratégias logísticas na direção contrária. Tal estratégia levaria à centralização de estoque em menor número de instalações, acarretando maiores distâncias das movimentações, o que, consequentemente, aumentaria o custo de transporte. Portanto, embora as empresas arbitrem a percentagem de custo de manutenção de estoque a ser adotada, o resultado deve refletir com precisão o componente custo de capital, pois a percentagem de custo de manutenção de estoque influencia de maneira significativa o desempenho econômico da estratégia logística. Para finalizar este capítulo nos valemos da conclusão de Ballou (2003), ao afirmar que estratégias de estoque não podem ser criadas em um vácuo competitivo. Geralmente, é sempre preferível negociar com uma empresa que tenha condições de prometer e realizar uma entrega consistente e rápida. Portanto, em algumas situações pode ser necessário manter estoque em um armazém específico para fornecer um bom serviço logístico, mesmo que isso eleve o custo total. Políticas de estoque adequadas são essenciais para a obtenção de uma vantagem de serviço ao cliente ou para neutralizar um diferencial competitivo da concorrência. Os motivos que justificam a existência de estoques de 33 LOGÍSTICA │ UNIDADE I componentes e materiais em um sistema logístico são diferentes daqueles relativos ao estoque de produtos acabados. Cada tipo e cada nível de estoque devem ser considerados do ponto de vista do custo total. A compreensão da inter-relação entre decisões sobre instalações, rede, transporte e estoque é fundamental para a logística integrada. 1. Analise a evolução histórica da logística e comente como essas mudanças ocorreram na perspectiva brasileira. 2. O que se entende por logística? 3. Que ferramentas são necessárias para a melhora do desempenho logístico? Dê exemplos de áreas em que essas ferramentas são úteis? 4. Como os canais de distribuição podem ser classificados? Comente cada um deles. 5. Disserte sobre funcionalidade do estoque, com relação a incerteza, considerando especialização geográfica, estoque intermediário e equilíbrio entre suprimento e demanda. 6. Apresente e compare as diferenças entre lote econômico de compra e Just-In-Time? 34 unidAdE iioPErAçõES CAPÍtuLo 4 Conceitos e aplicações A logística pode influenciar inúmeras atividades, tanto no nosso padrão de vida quanto nos negócios de uma empresa. Várias situações de nossa vida são afetadas, direta ou indiretamente, pelo processo logístico. Vejamos alguns exemplos: » ao ler o jornal de domingo, você seleciona uma oferta. Na segunda-feira, ao dirigir- se a uma das lojas do anunciante, não encontra o produto na prateleira; » você efetua uma compra e dias depois, ao receber a mercadoria, percebe que não é o produto que comprou; » você envia algo para uma pessoa e a mercadoria chega avariada; » seu fornecedor promete entregar a matéria-prima no início da semana e na sexta- feira você ainda está telefonando, para saber do seu material. Certamente, a maioria das pessoas não se dá conta de como esses fatos podem comprometer o desempenho de uma economia ou de uma empresa. Muito provavelmente, o consumidor que não encontra a mercadoria na loja vai procurar adquiri-la em outro lugar. Em uma economia cada vez mais dependente de resultados operacionais, na qual muitas vezes as empresas lutam para manter sua participação de mercado e aumentos percentuais são muito pequenos, o sucesso das operações passou a ser vital para elas. É nesse cenário que a logística surge como a ferramenta de maior impacto na melhoria dos resultados operacionais, pois, principalmente em países como o Brasil, nessa área as empresas podem obter grandes reduções de custo e melhoria de desempenho. A palavra logística é um termo originário do francês (loger, alojar), muito utilizado pelos militares, para designar a arte de transportar, abastecer e alojar as tropas. Mais tarde, ao ser usado no meio industrial, tomou um significado mais amplo, passando a designar a arte de administrar o fluxo de materiais, produtos e informações, de forma integrada e racional da fonte de matéria-prima até o consumidor final. 35 Operações │ UNIDaDe II Estudos recentes têm procurado demonstrar a grande utilidade da logística no relacionamento com o cliente. Ou seja, passando a entendê-la como uma ferramenta poderosa de marketing, para aproximar toda a empresa do cliente. Ao longo dos séculos, o desenvolvimento dos instrumentos logísticos tem sido vital para a história e para a economia das nações. Desde o surgimento do Império Romano até os tempos atuais, a humanidade busca cada vez mais aumentar sua capacidade de distribuir de forma eficiente, os materiais de que a sociedade precisa. A logística empresarial é uma ferramenta operacional e de planejamento estratégico, cujo desenvolvimento sustenta-se no uso de sistemas computacionais, com grande relação com as atividades de produção (manufatura), marketing e finanças. A logística tem como concepção básica a administração de forma sistêmica das atividades relacionadas ao fluxo de materiais, serviços e informações desde o fornecedor de matéria-prima até o consumidor final, procurando fazer com que os clientes tenham materiais e serviços em quantidade, condições (integridade), custo e prazo desejados. Podemos definir logística como a ferramenta de coordenação de todas as atividades envolvidas no processo de entrega do produto ao cliente final, uma vez que o atendimento das necessidades do cliente é a razão de ser das empresas. Em um mercado cada vez mais competitivo, somente aqueles que estiverem associados ao mercado consumidor conseguirão manter seus negócios no futuro. Para Arbache (2004), as principais atividades relacionadas à logística são produção, suprimentos (aquisição e controle de matéria-prima), armazenagem, distribuição física e transferência (transporte), movimentação de materiais, gestão de estoques e embalagem. Cada uma dessas atividades será discriminada a seguir. 36 CAPÍtuLo 5 Produção e suprimentos Produção Administrar a produção é coordenar todas as atividades necessárias para que uma organização gere bens ou serviços que serão consumidos pelo mercado. Ou seja, é o processo de transformação de recursos (inputs) em produtos (outputs). Qualquer atividade pode encaixar-se nesse modelo. Por exemplo, os hospitais possuem inputs (médicos, enfermeiras, camas, equipamentos médicos), cujo propósito é fornecer um serviço de melhora da saúde a todos aqueles que necessitem. Outro exemplo é o de uma empresa aérea que tem nas aeronaves, funcionários de bordo e de terra os principais inputs, para gerar o output: passageiros transportados. A produção possui um peso grande na estrutura de custos de um produto sendo, segundo alguns autores, responsável por cerca de 30% do seu custo. Portanto, é muito importante que haja por parte da empresa um cuidado especial com essa atividade. A organização industrial, ocorrida no período pós-Revolução Industrial, foi fundamentada no conceito denominado produção empurrada, no qual as empresas produzem seus produtos segundo uma previsão baseada em dados históricos de venda e os disponibilizam
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