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Crises epilépticas e Epilepsia Epilepsia • Transtorno causado por episódios de disfunção cerebral, devido a súbita descarga neuronal desordenada e excessiva. • Caracterizada por 2 crises em um intervalo maior que 24 horas, não provocadas. Crise epiléptica • Disfunção em um conjunto de neurônios (crises focais) ou nos dois hemisférios cerebrais (crises generalizadas). • Eventos clínicos devido a disfunção neuronal; com ocorrência de fenômenos motores, sensoriais e psíquicos. Convulsão • Termo antiquado que denomina crise tônico-clônica generalizada. Zona epileptogênica Região cortical que produz as crises epilépticas e é a área que é removida cirurgicamente. Epidemiologia • Incidência bimodal: no 1º ano de vida e entre 55-75 anos. • Etiologia: fatores genéticos/perinatais, distúrbio do desenvolvimento, doenças infecciosas, toxicidade, distúrbios metabólicos, AVC, paralisia cerebral com retardo mental, traumatismo craniano, doença de Alzheimer, encefalite infecciosa, meningite e neurocisticercose. • Mais comum em adultos: epilepsia do lobo temporal. Fisiopatologia • Descarga anormal de uma rede de neurônios, seja em uma localização específica ou nos dois hemisférios cerebrais. É decorrente de desequilíbrio entre influências excitatórias e inibitórias. • Ocorre superexpressão de receptores de glutamato (NMDA) e diminuição da expressão de receptores de GABA. • Mutações nas subunidades dos canais de Na, Ca, K, Cl → Hiperestimulação dos canais. • Mutações nas subunidades dos receptores de GABA. Auras – Pródromos (fornece informação sobre a zona epileptogênica) • Auras somatossensoriais: parestesias • Auras visuais: alucinações, ilusões com luzes brilhantes • Auras auditivas: ruídos, sons estranhos • Auras olfativas: odor desagradável • Auras gustativas: gosto ruim, paladar alterado • Auras autonômicas: palpitações, sudorese • Auras abdominais: sensação epigástrica desagradável • Auras psíquicas: medo, dejà vú, desrrealização Caracterização das crises motoras • Crises mioclônicas: abalos musculares súbitos de curta duração, generalizados ou unilaterais. • Crises clônicas: contrações musculares repetidas e de curta duração, envolvendo segmentos corporais, unilateral ou generalizado. • Crises tônicas: contração muscular mantida por mais de 3 segundos, gerando postura forçada. • Crises versivas: versão forçada dos olhos e da cabeça para um dos lados. • Crises tônico-clônicas: fase inicial tônica com extensão dos membros que dura, em geral, 10 segundos e seguida de sucessivas contrações clônicas com duração de 1-2 minutos. Com alteração de consciência durante a crise e no estado pós-ictal. • Crises hipermotoras: fenômenos motores complexos, amplos e rápidos. Pode ocorrer vocalização e consciência pode estar preservada. Classificação das crises epilépticas • Crises focais (parciais): restrita a parte do hemisfério cerebral. 1. Crise focal perceptiva (s/ alteração de consciência): geralmente ocorrem alterações sensitivas, fenômenos emocionais e distúrbios motores. Comumente ocorrem sensação epigástrica desagradável, medo, dejá vù e alucinações olfatórias. 2. Crise focal disperceptiva (c/ alteração da consciência): Geralmente ocorrem automatismos oroalimentares (morder lábios, engolir repetidamente) e confusão mental pós-ictal. De 70-80% são epilepsias do lobo temporal. • Crises generalizadas: comprometem os dois hemisférios cerebrais, sem localização específica. 1. Crises tônico-clônicas generalizadas (grande mal): ocorre perda repentina da consciência, extensão tônica bilateral do tronco e membros, vocalização (grito epiléptico) e abalos musculares. Possui, geralmente, pródromos inespecíficos como: ansiedade, irritabilidade, diminuição da concentração, cefalia, apneia, sialorreia e mordedura de língua. No período pós-ictal, em maioria, o paciente dorme. 2. Crise de ausência (pequeno mal): lapsos transitórios de consciência, postura estática e interrupção da atividade de maneira abrupta. Ocorrem abalos mioclônicos discretos de pálpebras e face. Pode ser provocada por hiperventilação. 3. Ausência atípica: início e término menos diferenciados, geralmente não precipitadas por hiperventilação. 4. Crise atônica: perda do tônus muscular com queda abrupta; com alta incidência de lesões autoprovocadas. 5. Ausência com mioclonia palpebral 6. Mioclonia atônica 7. Espasmo epiléptico Diagnóstico • Anamnese e exame físico: avaliar manifestações, fatores desencadeantes, crises epilépticas, história familiar. Obter descrição detalhada da crise com auxílio do familiar que já observou (perguntar sobre aura, manifestações motoras, duração e anormalidades pós-ictais). • Eletroencefalograma: ajuda na classificação e no prognóstico. Realizado durante vigília e sono, com provas de fotoestimulação intermitente e hiperpneia. • Exames de imagem: RM e TC → avalia zona epileptogênica e procura por lesões, tumores. Tratamento Farmacológico • Geralmente prolongado (meses a anos) e prefere MONOTERAPIA. • Medicamento é aumentado lentamente até atingir dose mínima eficaz. • Em caso de falha terapêutica, tenta-se novos medicamentos. Em último caso, se faz politerapia com até, no máximo, 2 medicamentos (melhor escolha = lamotrigina + valproato). • Sucesso no tratamento: quando paciente livre de crises por 1 ano. • Gestantes: melhor escolha – lamotrigina/levatiracetam; pior escolha – valproato/fenobarbital. • Epilepsia de início focal: Fármacos de evidência A para adultos – Fenitoína, carbamazepina, levatiracetam. Outros: oxcarbazepina, valproato, lamotrigina, topiramato, fenobarbital, lacosamida, pregabalina, gabapentina, primidona, ezogabina. • Epilepsia generalizada: valproato, lamotrigina, topiramato, carbamazepina, fenitoína e fenobarbital. • Crises de ausência: melhor escolha para lamotrigina, etossuximida e valproato de sódio. Cirúrgico • Localização da zona epileptogênica: ressecção da região, corticectomia, hemisferectomia, calosotomia. Outros • Dieta cetônica • Estimulação do nervo vago Condutas • Familiar durante a crise: manter calma, proteger pessoa em crise, não imobilizar, apoiar cabeça em travesseiro, colocar deitado de lado, não dar nada para cheirar ou beber e não segurar língua. Acionar SAMU caso crise dure mais que 5 minutos. • Conduta de emergência: Checar vias aéreas, respiração, circulação e dextro → estabilizar paciente com diazepam EV e soro glicosado + MOV → posteriormente, no hospital, medicar com fenobarbital/fenitoína EV → obter história clínica, exame físico e neurológico → se paciente já tem epilepsia, avaliar aderência ao tratamento → se não, investigar crise (causas secundárias) Referências Bibliográficas 1. Descritores em Ciências da Saúde: DeCS. *. ed. rev. e ampl. São Paulo: BIREME/OPAS/OMS, 2017. Disponível em: < http://decs.bvsalud.org >. Acesso em 03 de nov. 2018. 2. GUERREIRO, Carlos A. M.; GUERREIRO, Marilisa M.. Crises Epilépticas e Epilepsias. In: LOPES, Antônio Carlos. 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