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*Pós-Graduação em Direito Civil e Processual Civil da Universidade Estácio de Sá, Campus Moreira Campos. E-mail: karla.fernandess@gmail.com. EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL KARLA FERNANDES SOARES* RESUMO O presente artigo visa desenvolver uma breve análise da ação de execução fundada em título extrajudicial, através de uma pesquisa exploratória, utilizando-se, para tanto, da pesquisa bibliográfica. O artigo introdutoriamente aborda a definição da jurisdição executiva, a fim de estabelecer as diferenças entre a jurisdição executiva e a jurisdição de conhecimento. Em seguida, uma breve abordagem da tutela executiva, dos princípios que norteiam a execução, seus elementos, pressupostos processuais, condições, a definição legal e obrigatoriedade de existência de um título, bem como da configuração do inadimplemento para a promoção da execução. Ao final, faz-se uma análise da espécie de execução fundada em título extrajudicial, tema alvo do presente trabalho e os meios de defesa disponíveis ao executado. O artigo não tem o objetivo de esgotar a temática, mas sim de apresentar elementos para o desenvolvimento da execução extrajudicial. Palavras-Chave: Execução, Título, Extrajudicial, Inadimplemento. 1 INTRODUÇÃO Introdutoriamente, antes de adentramos ao estudo da execução fundada em título extrajudicial, imperioso se faz definir o tema jurisdição, assim como, estabelecer as diferenças entre a jurisdição executiva e a jurisdição de conhecimento. Pois bem, temos a jurisdição como a função do Estado de eliminar os conflitos de interesses, ou seja, é o poder que o Estado detém para aplicar o direito a um determinado caso, com o objetivo de solucionar conflitos de interesses, resguardando assim a ordem jurídica e a autoridade da lei. Podemos dizer, ainda, que a Jurisdição é gênero, do qual são espécies a jurisdição de conhecimento e a jurisdição executiva. E mais, que a jurisdição executiva é consequência da execução de conhecimento, quando fundada em título judicial. Na jurisdição de conhecimento, a nova processualística busca pela verdade formal, atribuindo o direito a uma das partes, seja ao autor ou ao réu, através do que 2 parece ser verdadeiro. Para tanto, às partes é dada a oportunidade de produzirem provas, investigando fatos, analisando documentos, colhendo o depoimento de testemunha, ouvindo as partes, objetivando, assim, a prolação de uma sentença justa. A sentença, portanto, simboliza o ápice da jurisdição de conhecimento. Na jurisdição executiva, no entanto, já se sabe quem é o autor do direito. Por isso afirmamos anteriormente que a jurisdição executiva é consequência da jurisdição de conhecimento. Eis que uma vez não satisfeita voluntariamente a obrigação imposta pela sentença recorre-se à jurisdição executiva, para que o devedor cumpra coercitivamente a decisão judicial. Assim, quando não cumprida voluntariamente a obrigação determinada em sentença ou estabelecida em título executivo, pode o credor solicitar a intervenção estatal para obrigar o devedor a cumpri-la. Para tanto, ressalte-se, é necessário que reste comprovado o inadimplemento do devedor e a existência de um título executivo. Isso porque, a sentença somente estabelece o direito, declara a sua existência. E o título executivo, por sua vez, apenas comprova a obrigação a ser cumprida. É necessário, contudo, a satisfação do direito em si, após a prolação de sentença, bem como a realização da obrigação disposta em título executivo, podendo, portanto, ser perquirida por meio da jurisdição executiva. Esclarecido isto, passaremos, então, sem o intuito de esgotar o tema, ao estudo da execução fundada em título extrajudicial, mas antes faremos uma breve abordagem sobre a tutela executiva, apontando as diferenças das duas vias executivas existentes, os princípios que norteiam o processo de execução, os títulos executivos e, finalmente, a execução extrajudicial e os meios de defesa do executado. 2 TUTELA EXECUTIVA A tutela executiva tem como objetivo a realização de um direito já declarado ou definido em título judicial ou extrajudicial, visando à eliminação de um inadimplemento. É uma espécie de tutela jurisdicional, concretizada mediante execução forçada, que opera exclusivamente em favor do credor. Nas palavras de Misael Montenegro Filho, “a execução é o instrumento processual utilizado pelo credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação definida no título judicial ou extrajudicial, em benefício deste e independentemente da vontade do devedor, e mesmo contra a sua vontade”. (2018, p.559) 3 Com efeito, a finalidade da execução é promover coercitivamente o cumprimento de uma obrigação certa, líquida e exigível. Desse modo, constatada a resistência ao adimplemento espontâneo da obrigação, faz-se necessária a intervenção estatal para garantir o cumprimento da obrigação. Para tanto, a via jurisdicional executiva, assim como o processo de conhecimento, sujeita-se às condições da ação e pressupostos processuais para seu desenvolver e validade, mas algumas características são peculiares ao processo de execução, a saber: exigibilidade da obrigação e título executivo. Assim sendo, o credor somente terá direito à plena satisfação da obrigação, fim maior da execução, se demonstrar que é detentor de interesse processual e que todos os pressupostos processuais estão presentes. Antes para forçar o cumprimento de uma obrigação, por muito tempo, permitiu-se a imposição de meios cruéis e extremamente danosos ao devedor. Porém, com a evolução do Direito, a dívida passou de uma fase em que o próprio indivíduo respondia pela execução, para uma fase em que apenas o patrimônio do devedor responde pelo débito. Evitando, com isso, a possibilidade de prisão, da escravatura e até a morte dos devedores, antes admitidas. No Direito Brasileiro, apenas o patrimônio do devedor responde pela dívida, não sendo, portanto, permitida a prisão de um indivíduo por dívidas, salvo na situação que envolve o devedor de alimentos (inciso LXVII do art. 5º da CF). Então, considerando a impossibilidade de prisão do devedor, por vezes, é necessária a utilização das medidas de apoio, as quais destacamos a fixação de multa diária, para estimular o adimplemento da obrigação específica. No que se refere à evolução do procedimento da execução, até o Código Processual Civil de 1939, a execução era considerada uma fase complementar do processo de conhecimento, que, segundo dispunha o art. 298 do CPC/1939, quando representada por um título extrajudicial, exigia a propositura de ação especial, ação executiva, com procedimento especial. Porém, com o novo código, o processo de execução sofreu algumas modificações pontuais. De modo que existem atualmente duas vias de execução: a do cumprimento das sentenças, fundada em título judicial, e a da execução de títulos extrajudiciais. Assim, podemos pontuar algumas diferenças entre a execução fundada em título judicial e a execução fundada em título extrajudicial, vejamos: quando fundada 4 em título judicial, instaurada após a prolação da sentença resolutiva de mérito, é tida como uma fase processual, que designamos fase de cumprimento de sentença. Porém, quando fundada em título extrajudicial, que são os títulos de crédito a que a lei confere eficácia executória, a execução tem natureza jurídica de ação, e não de fase do processo. Essas diferenças se justificam pela exigência de uma petição inicial, na execução de título extrajudicial, seguida da citação do devedor e da prática de vários outros atos, como a penhora de bens, a apresentação da defesa pelo devedor, intitulada embargos à execução, o julgamento dessa defesa, a adjudicação ou a arrematação do bem penhorado, a entrega do produto da venda forçada ao credor e a prolação de uma sentença. Nesses termos, quando dianteda certeza prévia do direito do credor e a lide se resumir no descumprimento da obrigação, o processo de execução limita-se ao conhecimento liminar da existência do título do credor, para, em seguida, utilizar a coação estatal sobre o patrimônio do devedor, e, independentemente da vontade deste, realizar a prestação a que tem direito o credor. Trata-se do processo de execução, em que o órgão judicial invade a esfera patrimonial do devedor para sub- rogar-se na posição obrigacional dele em face do credor. Importante que se diga que, apesar das duas vias de execução serem tratadas como institutos distintos, as normas que regulam o procedimento da execução fundada em título extrajudicial são aplicáveis também ao procedimento de cumprimento de sentença, complementando-as, assim como a quaisquer outros atos executivos. (art.771, CPC) Por outro lado, conforme disposto no parágrafo único do art. 771 do CPC, as disposições relativas ao procedimento comum e ao cumprimento de sentença aplicam-se subsidiariamente ao processo de execução. Demais disso, partindo da premissa que a execução somente poderá ser promovida quando caracterizada a inadimplência do devedor, importuno ressaltar que, ante o adimplemento do devedor, tão logo a propositura da ação, nos termos do art. 788, esta deverá ser extinta. Entretanto, em respeito ao princípio da causalidade, objeto de estudo do tópico seguinte, tal adimplemento repentino do devedor, não afasta a obrigação do executado de efetuar o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, desde que o devedor tenha sido citado, na execução fundada em título extrajudicial. 5 Ademais, será nula a execução, se o título carecer de força executiva, se o executado não for regularmente citado ou se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo, que lhe deu causa. (art.803, CPC) Isto posto, para melhor compreensão, iniciaremos o estudo dos princípios que norteiam o processo de execução. 3 PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM A EXECUÇÃO A constitucionalização do processo nos trouxe a percepção que o processo, além de garantir segurança jurídica e acesso à ordem jurídica justa, deve estar em plena sintonia com os valores contidos na Constituição Federal de 1988. Para Cândido Rangel Dinamarco, “a tutela constitucional do processo tem o significado e escopo de assegurar a conformação dos institutos do direito processual e o seu funcionamento aos princípios que descendem da própria ordem constitucional”. (2009, p.227) Nesses termos, fundamental atentar para a relevância dos princípios processuais que norteiam a execução, orientando a prática de atos tanto na jurisdição de conhecimento como na jurisdição executiva. A priori, em relação à tutela jurisdicional executiva é mister destacar o princípio da duração razoável do processo, contido no art. 4º da Constituição Federal, carreando maior eficácia ao acesso à justiça, e o princípio da cooperação entre as partes, expresso no art. 6º do mesmo diploma legal, a fim de se obter, “em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva". Dessa forma, conclui-se que o acesso à justiça compreende a obtenção da prestação jurisdicional em tempo razoável, com a máxima efetividade possível, devendo, para tanto, todos cooperarem entre si. Apesar dos dois princípios acima citados representarem um norte a guiar todo o processo, principalmente quando inserido na tutela executiva, não se pode deixar de advertir que, seja em fase processual, seja como ação autônoma, a execução sempre se submeterá aos demais princípios gerais e fundamentais a todo o processo civil, notadamente: do juiz natural, da isonomia, do contraditório, da ampla defesa, da motivação das decisões judiciais, da publicidade do processo e dos atos processuais. No entanto, adiante iremos nos ater a expor os principais princípios do processo de execução, com as devidas adaptações em decorrência das características da ação ou da fase processual que examinamos. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 6 3.1 PRINCÍPIO DA UTILIDADE AO CREDOR A finalidade da execução é a efetivação do crédito em favor do credor. Desse modo, preceitua o princípio da utilidade que o processo de execução deverá ser útil ao exequente. Não se justificando, assim, a instauração de processo executivo que apenas traga prejuízo ao devedor sem trazer qualquer proveito prático ao credor. Tanto que, o art. 836 do CPC determina que “não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução”. Então, tomando como base que a execução é um meio de pagamento ao credor, caso a penhora se mostre inútil à satisfação da dívida, não se deve promover a execução, haja vista que servirá exclusivamente como punição ao devedor. 3.2 PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO Partindo do pressuposto que o processo de execução se destina à satisfação do direito do exequente, proferido no processo de conhecimento ou assentado em título extrajudicial, questiona-se que referido princípio é um desdobramento do princípio da máxima utilidade da atuação jurisdicional, condensada na afirmação de que o processo deve proporcionar a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquilo a que tem direito. E, ainda, que está intimamente ligado ao direito à razoável duração do processo, haja vista que a efetividade requer não apenas a satisfação de um direito, mas também a sua efetivação em razoável tempo. Para Alexandre Freitas Câmara (2004, p. 153), que, assim, discorre sobre o princípio da Efetividade da Execução: A execução forçada, destinada que é a satisfazer o direito de crédito do exequente, só será efetiva à medida que se revelar capaz de assegurar ao titular daquele direito exatamente aquilo que ele tem direito de conseguir. Assim, na execução por quantia certa, o processo de execução só será efetivo se for capaz de assegurar ao exequente a soma em dinheiro a que faz jus. Deve-se, porém, prevenir que a execução, que muitas vezes representa medida de extrema força contra o devedor, na medida em que implica invasão de sua esfera patrimonial, não pode levar o devedor e sua família a uma situação que ofenda a dignidade humana. Razão pela qual alguns bens são caracterizados como impenhoráveis, a fim de assegurar um mínimo à sobrevivência digna do executado. 7 A bem da verdade, é que a realidade tem nos mostrado o contrário, pois os processos de execução, de modo geral, apresentam pouco efetividade, resultando, por vezes, na completa frustração do credor quanto à satisfação do seu crédito, principalmente quando figura no polo passivo a Fazenda Pública. 3.3 PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE PARA O DEVEDOR Antes de falarmos do princípio da menor onerosidade para o devedor, é importante ressaltar que a execução opera exclusivamente em favor do credor, ou seja, é promovida em atenção e no proveito do credor. Sendo assim, não pode o devedor se beneficiar das prerrogativas máximas na fase processual ou na ação de execução, eis que promoveria desequilíbrio entre as partes, e por conseguinte, infringiria o princípio da isonomia. No entanto, não se pode afirmar, com isso que a execução somente se encerra em favor do credor, uma vez que ao devedor é dada a oportunidade de defesa. Que se utilizando dessa máxima, pode desconstituir os atributos de certeza, de liquidez e de exigibilidade da obrigação constante do título que embasou a execução. Mesmo assim, reafirma-se que a finalidade da execução é a efetivação do crédito em favor do credor. Para isso, resta ao devedor atos processuais desconfortáveis que são praticados durante o procedimento executivo, como o aperfeiçoamento da penhora de bens, adesignação de dia e hora para a realização do leilão judicial, a arrematação do bem penhorado, o pagamento ao credor, entre outros. Contudo, o art. 805 do CPC, ainda que diante da legalidade em obrigar coercitivamente o cumprimento da prestação, resguarda o direito que tais atos executórios sejam praticados de uma forma menos onerosa para o devedor. Todavia, ao executado que alegar onerosidade cabe indicar outros meios menos gravoso. Veja- se: Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. Corroborando com o exposto, Misael Montenegro Filho (2018, p.561) afirma: O princípio da menor onerosidade para o devedor representa um favor, garantindo que, dentre várias formas possíveis de (naturalmente) se sacrificar 8 o devedor, que se adote a técnica menos agressiva, que menos o traumatize. Se o devedor possui dois bens, cada qual de valor suficiente para garantir o adimplemento da obrigação, a lei lhe confere a prerrogativa de requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente (art. 847, caput). Por outro lado, não pode o executado alegar em seu favor genericamente o princípio da menor onerosidade, pois como já dito, para tanto, deve indicar outros meios a serem adotados. Isso porque o ônus da prova é do devedor, que dele terá que se desincumbir. 3.4 PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE Determina o aludido princípio que as custas processuais ficarão a cargo do devedor, haja vista que este deu causa ao processo, em razão do seu inadimplemento. Têm-se, portanto, que as despesas da execução devem ser adimplidas por quem provocou sua instauração. Tanto assim o é que, ainda que queira o executado remir da execução, isto é, resgatar os bens penhorados mediante o pagamento do débito executado, para isso, deverá pagar, além do principal atualizado, os juros, as custas e os honorários advocatícios. (art.826, CPC) Ainda, determina o artigo 831 do CPC que a penhora deverá ser suficiente para o pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e honorários advocatícios. E mais, na fase de cumprimento de sentença, havendo custas, o executado será intimado para pagá-las, no prazo de quinze dias, juntamente com o valor principal. (art.523, CPC) Além disso, pagará o executado os honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído a causa, se efetuar o pagamento da dívida no prazo de quinze dias, mas será isento das custas processuais se adimplir voluntariamente a prestação. (art.701, CPC) Porém, como toda regra tem a sua exceção, correrá por conta integral do exequente os custos processuais em caso de desistência da execução ou quando julgado procedentes, no todo ou em parte, os Embargos aviados pelo executado. (arts. 775 e 776) 9 4 TÍTULO EXECUTIVO Preceitua a Lei Processual Civil que a execução pode fundamentar-se em título executivo judicial ou extrajudicial. Diz-se judicial, o título extraído de sentença condenatória prolatada no processo de conhecimento ou outro título judicial a ela equiparado; e extrajudicial o documento representativo de negócio jurídico, reconhecido fora da tutela do Estado. Para o doutrinador Candido Rangel Dinamarco (1997, p.208): “Título executivo é um ato ou fato jurídico indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito a que se refere.” Entretanto, somente a lei poderá criar títulos executivos. Os artigos 515 e 784 do CPC/2015 elencam os documentos qualificados como títulos executivos judiciais e extrajudiciais, respectivamente. Em relação aos títulos executivos extrajudiciais, que podem ser títulos públicos ou particulares, o ilustríssimo doutrinador Cândido Rangel de Dinamarco (2009, p.746) define: Conceitualmente, título executivo extrajudicial é sempre um ato jurídico, estranho a qualquer processo jurisdicional, que a lei do processo toma como mero fato jurídico ao agregar-lhe, ela própria, uma eficácia executiva não negociada pelas partes, não incluída no negócio e que, ainda quando ali houvesse alguma disposição nesse sentido, teria sempre apoio na lei e não na vontade das partes. Ainda, quanto aos títulos extrajudiciais, importante definir alguns deles, a fim de demonstrar o motivo de sua força executiva. Vejamos. a) Letra de Câmbio: ordem de pagamento dirigida ao devedor que será paga em favor de um terceiro; b) Nota Promissória: promessa de pagamento de quantia em data certa pelo emitente em favor do beneficiário, no caso o credor. c) Duplicata: ordem de pagamento efetuada pelo sacador/vendedor (banco/factoring) em face do sacado/comprador em virtude de uma compra e venda mercantil ou prestação de serviços (título casual/condicional). d) Debêntures: títulos representativos de um contrato de mutuo; realiza-se o empréstimo e depois o debenturista recebe o valor investido, acrescido de juros e correção monetária. e) Cheque: ordem de pagamentos à vista efetuadas pelo emitente em favor do credor em face do banco sacado. https://jus.com.br/tudo/factoring https://jus.com.br/tudo/compra-e-venda https://jus.com.br/tudo/compra-e-venda 10 De um modo geral, consagra-se o título executivo como a prova legal do crédito, e por conseguinte, a base fundamental do processo de execução; por essa razão, pressupõe alguns requisitos: liquidez, certeza e exigibilidade. Diz-se que um título é líquido quando nele está definido precisamente quanto o executado deve, e certo quando dá ao exequente segurança acerca do direito a ser cobrado. Por fim, o título é exigível quando se pode exigir, de qualquer forma, o seu cumprimento. O fato é que o título executivo se torna um meio essencial para o início de qualquer que seja a execução, inclusive a execução extrajudicial, assunto principal do presente trabalho e tema do tópico posterior. 5 EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL Como já mencionado, quando fundada em título extrajudicial, que são os títulos de crédito a que a lei confere eficácia executória, a execução tem natureza jurídica de ação, e não de fase do processo. Dessa forma, ao indivíduo detentor de título executivo extrajudicial é permitido, desde logo, quando não satisfeita a obrigação, buscar a tutela jurisdicional para promover a execução forçada do seu crédito. Sem que, para isso, seja necessário provocar a instauração de um processo de conhecimento, por vezes, longo e custoso. Porém, é de bom alvitre esclarecer que o fato de não ser forçoso a instauração de um processo de conhecimento, não há impedimento legal que obste o detentor de título extrajudicial em optar pelo processo de conhecimento, “a fim de obter título executivo judicial”. (art.785, CPC) Importante que se esclareça isso, pois parte da doutrina entendia que “carece de interesse de agir para demandar a formação de título executivo judicial aquele que já tem um título executivo extrajudicial”. (ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, 2017) Assim, segundo tal entendimento, se o credor, possuidor de título executivo extrajudicial, ajuizasse ação de cobrança, pelo rito comum, de conhecimento, não preencheria a condição da ação de interesse processual, e deveria, então, o processo ser extinto sem resolução de mérito. Apesar de superado tal entendimento e o direito do possuidor de título extrajudicial em optar pelo processo de conhecimento ter sido acolhido expressamente pelo CPC/2015, em seu art. 785, questiona-se, ainda, quais as 11 vantagens em renunciar o direito de ingressar com a execução forçada do crédito, por uma via mais rápida: a execuçãode título extrajudicial. Em resposta a esse questionamento, pode-se apontar o maior grau de certeza que detém um título executivo judicial, a inalterabilidade da coisa julgada material, o direto do credor à fase do cumprimento de sentença, em que incide multa de 10% sobre o valor do crédito em caso de não haver o pagamento voluntário, e que não reconhece o direito de parcelamento da dívida; além da aplicabilidade de meios executivos atípicos, não admitidos no processo de execução de títulos extrajudiciais, entre outras primazias. Ainda, nesse sentido, outro questionamento é em relação à possibilidade de abdicar da força executiva do título extrajudicial para se ingressar com uma ação monitória. Pelo texto do art. 700 do CPC, pode-se entender que não é possível, uma vez que, deixa claro que a ação monitória deve ser proposta por aquele detentor de prova escrita sem eficácia de título executivo. Contudo, o art. 785 nos prova o contrário, já que ao optar pela instauração do processo de conhecimento, o credor renuncia a eficácia executiva do título. E é exatamente o que vêm entendo a jurisprudência. Então, vencida essa questão da renúncia à eficácia executiva do título, iremos, a partir daqui, avançar no estudo do processo de execução, que compreende as disposições gerais, os atos necessários à satisfação do direito do credor e, consequentemente, às obrigações necessárias ao devedor para adimplir sua obrigação. 5.1 Das Disposições Gerais O processo de execução, como já se sabe, destina-se a satisfação de uma obrigação, representada em título executivo, posto que, não há execução sem título executivo, aquele que é assim determinado por lei. Assim, no intuito de efetivar a prestação da tutela jurisdicional executiva, pode o juiz em sede de execução, segundo disposições contidas nos art. 772, do Código de Processo Civil, em qualquer momento do processo, ordenar o comparecimento das partes envolvidas, alertar o executado sobre qualquer procedimento que atente à dignidade da justiça, e também, determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações relacionadas ao objeto da execução. 12 Ademais, algumas condutas do executado, comissiva ou omissiva, dispostas no art. 774 do CPC, podem ser tidas como atentatórias à dignidade da justiça, e se comprovadas, incorrerá em multa pecuniária de até 20% do valor do débito em execução atualizado, em benefício do exequente, a ser exigida na própria execução (art. 777), sem prejuízo de outras sanções de ordem processual ou material. (SCARPINELA, 2016, P.580) Dois pontos importantes, constantes nas disposições gerais da execução, é o direito conferido ao exequente de “desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”, e a responsabilidade do exequente pelos danos que os atos executivos causarem ao executado se a sentença, transitada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução. (arts.775 e 776) Por último, importante dizer, ainda, que a cobrança das multas e indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de ato atentatório à justiça, em sede de execução, será promovida nos próprios autos do processo. 5.1.1 Das Partes Quanto à legitimidade para iniciar a demanda executiva, conforme dispõe o caput do artigo 778 do CPC, pode promover a execução, “o credor a quem a lei confere título executivo”. Contudo, Fredie Didier Jr faz importante ressalva quando afirma que apesar de o Código referir-se ao “credor a quem a lei confere título executivo”, o exequente não necessariamente será credor. Uma vez que há a possibilidade do processo de execução ser ajuizado por parte ilegítima, e por conseguinte, existe a possibilidade de a parte que promove a ação não ser credora. Mas sensato dizer, então, que a execução é promovida por aquele que se declare credor. E sobrevindo a ilegitimidade, esta poderá ser arguida em embargos à execução. Além do credor, que, como vimos, possui legitimidade ordinária primária, já que atua em nome próprio por direito próprio, existem outras possibilidades de legitimidade ativa. É o que se extrai do parágrafo 1º, do citado art. 778, que estabelece a legitimidade extraordinária do Ministério Público, que litiga em nome próprio, mas na defesa de interesse alheio, nos casos previstos em lei; e do parágrafo 2º, que estabelece a legitimidade ordinária superveniente do espólio, herdeiros ou 13 sucessores do credor, do cessionário e do sub-rogado para promover a execução, independentemente de consentimento do executado. Nesse sentido, afirma Daniel Amorim Assumpção Neves que quando houver sucessão do crédito, têm-se a legitimidade ordinária secundária, que diverge da extraordinária, por se trata de litigância em defesa de interesse próprio, e não em nome próprio em defesa de interesse alheio. E difere-se da legitimidade primária ou originária, pois derivada da sucessão “causa mortis”. Ademais, a doutrina prevê, ainda, outro legitimado ativo da execução: o advogado. Posto que o art. 23 da Lei nº 8.906/94 confere ao advogado o direito de executar os honorários advocatícios de sucumbência: Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor. No tocante à legitimidade passiva, o artigo 779, do CPC, aduz que poderá figurar como executado: I- o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II- o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; III- o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV- o fiador do débito constante em título extrajudicial; V- o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; VI- o responsável tributário, assim definido em lei. Em relação ao fiador, frisa-se que, caso não tenha renunciado, tem direito ao benefício de ordem (art. 827 do CC), podendo requerer que sejam executados primeiramente os bens do devedor, quando situados no mesmo munícipio, livres e desembargados (tantos quantos bastarem para quitação do débito). No entanto, Didier (2017, p.322) faz uma interessante observação: A questão do legitimado passivo na execução passa, sobretudo, pelo exame da responsabilidade pelo cumprimento da obrigação: todo aquele a quem se puder imputar o cumprimento de uma prestação pode ser sujeito passivo da demanda executiva, seja ele o devedor principal ou o responsável, como o fiador […]. Obviamente, no caso de execução de título extrajudicial, o fiador é legitimado passivo, notadamente porque o contrato de fiança é título executivo (art. 784, V, CPC). O fiador convencional é, nesse caso, legitimado passivo, independentemente de ter havido ou não benefício de ordem. Imperioso destacar, ainda, no que se refere ao fiador, é o caso da sub-rogação na fiança, pois quando a dívida é paga pelo fiador, adquiri este o direito de executá- https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11708074/artigo-23-da-lei-n-8906-de-04-de-julho-de-1994 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109252/estatuto-da-advocacia-e-da-oab-lei-8906-94 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10683856/artigo-827-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035419/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 https://www.sajadv.com.br/cpc/art-783-a-785-do-novo-cpc/ 14 la, nos autos do mesmo processo, contra o afiançado. Com isso, confere-se ao fiador legitimidade ativa. É o que dispõe os artigos 831 do CC e 794 § 2º do CPC: Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota. Art. 794. O fiador, quando executado, tem o direito de exigir que primeirosejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, livres e desembargados, indicando-os pormenorizadamente à penhora. § 2 º O fiador que pagar a dívida poderá executar o afiançado nos autos do mesmo processo. (grifo nosso) Já em relação à legitimidade ativa do espólio, herdeiros e sucessores, têm-se que no decorrer do processo de conhecimento, é suficiente que haja prova robusta da legitimidade. Mas, depois de iniciada a execução, havendo exigência de maior rigor para aproveitamento da obrigação, deve-se instaurar o processo de habilitação incidente, previsto nos artigos 687 e 688 do CPC, com suspensão do processo. Sabe-se, porém, que a legitimidade do espólio, que representa o conjunto de bens, direitos e obrigações deixado pelo “de cujus”, persiste até o encerramento da partilha. Depois disso, esta passará aos herdeiros até o limite do seu quinhão. Assim, diante da negativa do inventariante, representante legal do espólio, em iniciar a execução ou em suceder o “de cujus”, qualquer um dos herdeiros estará legitimado, devendo o inventariante ser intimado da ação. Por fim, acerca da cumulação de dois ou mais títulos no mesmo processo de execução, de acordo com a regra do artigo 780 do CPC, permite-se que o exequente promova várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando se tratar de mesmo executado, e, desde que o juízo seja competente para todas elas e idêntico o procedimento. Portanto, podemos afirmar que o processo de execução, admite o litisconsórcio passivo e ativo, que em regra, será facultativo, apesar das possíveis exceções. Porém, para tanto, é necessário observar os requisitos previstos no art. 780 do CPC. 5.1.2 Da Competência O artigo 781 do CPC trata das regras de competência para execução de título extrajudicial. Basicamente, o dispositivo reproduz e desenvolve as regras de competência para o cumprimento de sentença. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10683501/artigo-831-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035419/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28889870/artigo-794-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28889866/par%C3%A1grafo-2-artigo-794-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174788361/lei-13105-15 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28889995/artigo-780-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 15 Da leitura do referido artigo, conclui-se que a competência é relativa, e, por conseguinte, os foros concorrentes a serem escolhidos pelo exequente. O que nos leva a algumas verificações importantes. Primeiro, já que estamos tratando de título extrajudicial, deve-se observar se há eleição de foro fixado no título. Caso não, a execução poderá ser promovida no foro de domicílio do executado ou no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, ainda que nele não mais resida o executado. Imperioso esclarecer que quando o executado possuir mais de um domicílio, pode este ser demandado no foro de qualquer um deles. Porém, se incerto ou desconhecido o seu domicílio, a ação executiva poderá ser promovida onde for encontrado o executado ou no foro de domicílio do exequente. Já no caso de litisconsórcio passivo, e sendo diferentes os domicílios dos devedores, pode o exequente escolher em qual deles promover a execução. 5.1.3 Da Responsabilidade Patrimonial A responsabilidade patrimonial caracteriza-se pela sujeição do patrimônio do devedor às medidas executivas destinadas ao cumprimento de suas obrigações. Nesses termos, aduz o artigo 789 do CPC: “O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Dessa forma, resta claro que a pretensão executiva recairá sempre sobre o patrimônio do devedor, nunca sobre sua pessoa. Mesmo quando o inadimplemento se referir a obrigações de fazer ou de não fazer, ou, ainda, de entrega de coisa. Isso porque, recusando-se o executado a cumprir com a sua obrigação, os meios executivos empregados são no sentido de forçar o cumprimento da obrigação por outras vias, que atinja o seu patrimônio e restrinja de alguma forma a livre disponibilidade deste. Nesse sentido, o art. 790 indica os bens sujeitos à execução: (i) do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória;(ii) do sócio, nos termos da lei; (iii) do devedor, ainda que em poder de terceiros; (iv) do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela dívida; (v) alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução; (vi) cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada 16 em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores; e (vii) do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica. Destaca-se para a distinção nos incisos V e VI, no que se refere ao patrimônio alienado ou gravado com ônus real quando seu reconhecimento se der em fraude à execução ou em fraude contra credores. Segundo se extrai do inciso VI, a invalidação do ato tenha deve ser requerida necessariamente em ação autônoma, enquanto a fraude à execução pode ser reconhecida no âmbito da própria execução. (SCARPINELLA, 2016, p.594) Vale, ainda, atentar para as diferentes espécies de responsabilidade patrimonial dos sócios, dispostas nos incisos ii e vii. Posto que, responsabilizar o sócio “nos termos da lei” é bem diferente de responsabilizá-lo pelo uso indevido da personalidade jurídica, que, sendo esse o caso, será direta. Já a responsabilidade do sócio, estabelecida no inciso ii, nos termos do art. 795, pode ser direta ou indireta, e, certamente, será subsidiária, sempre a depender do tipo de sociedade e da razão pela qual ela se tornou devedora. Por último, deve-se observar o chamado benefício de ordem, a ser alegado pelo codevedor, para que primeiro sejam executados os bens do devedor. Que, porém, não se aplica a quem a ele antes tenha renunciado. 5.1.4 Da Fase da Proposição Para iniciar a primeira fase, a fase da proposição da execução, em respeito ao princípio da inércia jurisdicional, deverá o exequente impulsionar o feito, por meio de petição inicial. Nesta deverão estar presentes os requisitos gerais do art. 319 CPC, com as suas devidas adaptações peculiares para ação de execução. Acolhida a inicial, o juiz determinará a citação do executado, intimando-o, via oficial de justiça a cumprir a obrigação, no prazo de 03 (três) dias, contados da citação, sob pena de penhora. (art. 829, CPC) Não conseguindo localizar o executado para proceder à citação, deverá o oficial de justiça arrestar tantos bens do devedor quantos bastem para garantir a satisfação da execução. (art.830, CPC) O arresto, dessa forma, se apresenta como uma medida assecuratória, que se justifica ante a impossibilidade da citação pessoal do devedor, e que visa garantir a efetivação da execução. 17 Transcorrido, pois, dez dias da efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará novamente o executado por duas vezes, em dias distintos, e havendo suspeita de que o executado esteja se esquivando da citação, esta será realizada com hora certa. Se, no entanto, ainda sim, restar infrutífera a citação do executado, tanto a pessoal quanto a com hora certa, cabe ao exequente requerer a citação por edital. (art. 830, §1º e §2º, CPC) 5.1.5 Da Fase de Instrução Por outro lado, considerando que a citação foi válida, inicia-se, então, a fase da instrução. Daí, findo o prazo legal de três dias para o pagamento da dívida, e permanecendo o inadimplemento, converte-se o arresto em penhora, independentemente de termo. (art. 830, §3º, CPC) 5.1.6 Da Penhora A penhora tem o objetivode individualizar o bem que será utilizado para a satisfação coativa da dívida, implicando na retirada dos bens da posse direta e livre disposição do devedor. Nos termos do artigo 830 do CPC, a penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, exceto se outros forem indicados pelo executado, que serão aceitos pelo juiz, em atenção ao princípio da menor onerosidade ao devedor, se restar comprovada que tal constrição será menos onerosa e não causará prejuízos ao exequente. Ressalte-se que a penhora deverá recair prioritariamente sobre dinheiro em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira. Não havendo, porém, dinheiro a se penhorar, pode o juiz alterar a ordem prevista no art. 835 do CPC, considerando as circunstâncias em cada caso. Por outro lado, como anteriormente demonstrado, em respeito ao princípio da utilidade ao credor não será permitida a penhora quando evidentemente o produto da execução dos bens encontrados for totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. Eis que, nesse caso, tal medida não traria qualquer utilidade ao credor, e sim, apenas, serviria de punição ao devedor. Importante mencionar, enfim, que alguns bens não se sujeitam à execução, por isso, classificados como impenhoráveis ou alienáveis, elencados no artigo 833 do CPC. https://jus.com.br/tudo/posse 18 Porém, a impenhorabilidade instada nos incisos IV e X não se aplica quando se tratar de obrigação em pagar alimentos, independentemente de sua origem, tão pouco aos valores excedentes a 50 salários mínimos mensais. Em relação a impenhorabilidade do bem família, esta se dá não apenas em respeito ao direito à moradia, previsto no artigo 6º da Constituição Federal, mas, e principalmente, pelo princípio da dignidade humana previsto no inciso III do artigo 1º da Carta Maior. Tal garantia se estende, ainda, ao imóvel de pessoas solteiras, divorciadas e viúvas, conforme a Súmula 364 do STJ. Portanto, para configurar como bem de família não importa a quantidade de indivíduos que o habitam, mas sim o fim a que se destina, qual seja, a moradia. Entretanto, dito direito não é absoluto, posto que a impenhorabilidade do bem de família é afastada quando este bem possui valor expressivo, que extrapola os padrões médios. Já que não se justifica a proteção contra a execução deste bem, uma vez que tal proteção fundamenta-se na manutenção da dignidade e subsistência da família. Por fim, quanto aos bens de família, apesar da proteção legal, existe entendimento doutrinário que estes não são inalienáveis, podendo, portanto, serem oferecidos espontaneamente em garantia pelo proprietário, que pode dispor deles conforme seu interesse, desde que não fira preceito legal. Referido entendimento se consubstancia no direito do executado de se desfazer do bem extrajudicialmente, que, consequentemente, lhe dá o direito de desfazer-se também judicialmente. (DIDIER JR, 2017) 6 DOS MEIOS DE DEFESA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL Como meio de defesa, poderá o executado apresentar embargos à execução de título extrajudicial que, diferentemente do caso de título judicial, deverá estabelecer uma relação processual incidente, fora do processo executivo propriamente dito. Os Embargos à execução constituem uma ação incidental cognitiva que tem como objetivo desconstituir o título extrajudicial executivo ou declarar sua nulidade ou sua inexistência, em contraponto à pretensão executiva. Tais questionamentos acerca da força executiva do título extrajudicial se deve, pois, segundo Humberto Theodoro Júnior (2007, p.89): 19 Embora o título extrajudicial goze de força executiva igual à da sentença, como fundamento para sustentar a execução forçada independentemente de acertamento em juízo acerca do crédito, não se apresenta revestido da imutabilidade e indiscutibilidade próprias do título judicial passado em julgado. Daí por que, ao regular os embargos manejáveis contra a execução de títulos extrajudiciais, a lei permite ao executado arguir tanto questões ligadas aos pressupostos e condições da execução forçada como quaisquer outras defesas que lhe seria lícito opor ao credor, caso sua pretensão tivesse sido manifestada em processo de conhecimento. Desse modo, a opor defesa, o embargante exercita o seu direito de ação contra o credor, no qual pretende uma sentença que extinga o processo de execução, seja pela desconstituição do título executivo ou pela declaração de sua nulidade ou inexistência. Quanto à matéria de defesa, nos termos do artigo 917 do CPC, o executado poderá alegar nos embargos à execução: I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; II - penhora incorreta ou avaliação errônea; III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa; V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento. Assim, o executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, querendo se defender da cobrança de crédito objeto de execução com base em título extrajudicial, deverá oferecer embargos à execução, no prazo de 15 (quinze) dias. Vale ressaltar que, de acordo com o §1º do art. 915 do CPC, havendo mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar será contado a partir da juntada de seu respectivo comprovante de citação. Porém, quando os executados forem cônjuges ou companheiros, o prazo para embargar será contado a partir da juntada do último mandado de citação devidamente cumprido. Ainda em relação ao prazo para opor os embargos, importuno alertar que não há que se falar de prazo em dobro, no caso de litisconsórcio, mesmo que os executados tenham procuradores diferentes, e que, na execução por carta precatória, a citação será imediatamente informada pelo juiz deprecado ao juiz deprecante, por meio eletrônico, contando-se o prazo para os embargos a partir da juntada de tal comunicação aos autos. Demais disso, têm legitimidade para embargar, além do executado, legitimado natural, o terceiro, atingido pela penhora, que garante a obrigação de outrem, e, ainda, 20 o cônjuge não devedor, mas que em razão da penhora do imóvel do casal torna-se litisconsorte. No que ser refere à autuação e distribuição dos embargos, o §1º do art. 914, do CPC, disciplina que os embargos serão atuados em apartado e distribuídos por dependência junto ao juízo da execução, e instruídos com cópias das peças processuais relevantes. Havendo a possibilidade de se penalizar advogado, ao se verificar a existência de documentos falsos. Como se vê, os embargos à execução é um poderoso instrumento de defesa do executado em face do credor. Entretanto, insta atentarmos que o procedimento para oposição desta defesa, inegavelmente, passou por importantes e necessárias mudanças, no sentido de evitar que o uso dos embargos sirva como impedimento ao desenvolvimento regular do processo executivo. Por essa razão, tem natureza jurídica de ação, decorrendo de seu exercício um processo incidente de conhecimento. Ademais, os embargos à execução não têm efeito suspensivo automático, isto é, não suspende de imediato a execução. Somente, a requerimento do embargante, se verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução esteja garantida, por penhora, depósito ou caução suficientes, será concedido o efeito suspensivo aos embargos. E mais, quando houver mais de um executado e o fundamento disser respeito exclusivamente ao embargante, a suspensão da execução não alcançará aquele que não embargou. (art.919, CPC) Cabe destacar que será liminarmente rejeitados os embargos quando intempestivos; nos casos de indeferimento da inicial e de improcedência liminar dopedido; ou quando manifestamente protelatórios. Neste último caso, a conduta será considerada atentatória à dignidade da justiça e acarretará multa ao embargante. (art.918, CPC) Porém, recebidos os embargos, ao exequente será concedido um prazo de 15 (quinze) dias para se manifestar, depois disso, o juiz julgará imediatamente o pedido ou designará audiência, e após a instrução o juiz proferirá a sentença. (art.920, CPC) Procedente a ação de embargos, ocorrerá a extinção do processo de execução, e no caso de improcedência, haverá a confirmação do direito defendido pelo credor, tendo a execução prosseguimento. Neste último caso, caberá apelação, sem efeito suspensivo, interposta pelo executado, ora embargante. 21 Por fim, importa esclarecer que implicará na perda do direito de opor embargos, o executado que, reconhecendo o crédito do exequente, pagar 30% do valor total do crédito e requerer o parcelamento do restante da dívida, nesse caso, em até seis parcelas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho visou tecer um panorama sobre os principais pontos do direito processual brasileiro atinente ao processo de execução fundada em título extrajudicial, iniciando-se pelo estudo da tutela executiva, os princípios que norteiam a execução e, também, a relevância da força executiva do título para a promoção da execução. Com a evolução do direito, mostrou-se que, atualmente, a execução se faz por duas vias: a execução fundada em sentença, na qual ter-se-á um processo sincrético, composto de fase cognitiva e fase executiva, e a execução lastreadas em títulos extrajudiciais, objeto de estudo deste trabalho, em que o regime será diverso, em ação autônoma. Isso porque, na execução fundada em título extrajudicial, diferentemente da execução judicial, não se faz necessário o processo de conhecimento para afirmar o direito perseguido, dado que o título executivo é prova do direito do credor. Assim, restou claro que os requisitos obrigatórios para a instauração de qualquer que seja a execução são o inadimplemento de obrigação, líquida, certa e exigível, e o título executivo, que é ato jurídico dotado de eficácia executiva. Cabe reafirmar que apenas a lei tem o condão de tornar um ato jurídico em título executivo. Isso porque, os títulos executivos representam uma obrigação certa, líquida e exigível e, quando falamos em títulos extrajudiciais, como já bastante claro, referimo-nos aqueles produzidos fora do processo judicial. Então, uma vez que não cumprida voluntariamente a obrigação determinada em sentença ou estabelecida em título executivo, tem o credor direito de solicitar a intervenção estatal para obrigar o devedor a cumpri-la. Para tanto, ressalte-se, é necessário que reste comprovado o inadimplemento do devedor. Porém, o mero inadimplemento do devedor não é suficiente para ensejar a execução do título onde se encontra pactuada a obrigação. Para isso, é necessário que se trate de obrigação certa, líquida e exigível, ou seja, que a obrigação possa ser cobrada. 22 Não se pode, também, deixa de mencionar que o processo de execução deve, seja em fase processual, seja como ação autônoma, sempre se submeter aos princípios gerais e fundamentais a todo o processo civil, mas, e principalmente, deve observância aos princípios específicos com as devidas adaptações em decorrência das características da ação ou da fase processual a que se examina. Pois bem. Ao fim deste trabalho, podemos concluir que a execução extrajudicial é, na verdade, uma execução forçada, a qual é vista como uma solução para o inadimplemento da execução voluntária. É atividade jurisdicional que tem como objetivo a produção de um resultado prático, equivalente ao que se produziria nos casos de adimplemento voluntário do devedor. Nesse intuito, o procedimento da execução dos títulos executivos extrajudiciais, visa dar maiores garantias aos credores e tornar esse tipo de processo mais prático e com resultados mais satisfatórios ao jurisdicionado. Para tanto, por vezes, requer-se a prática de atos necessários à realização de tal direito do credor, ou seja, atos que, de certa forma, forçam o cumprimento da obrigação. E como já demonstramos, a penhora é um dos institutos utilizados para esse fim. Importa dizer, por último, que, como em toda ação processual, na ação de execução garante-se ao executado o direito de defesa, que é exercido através dos embargos à execução. 23 REFERÊNCIAS BASTOS, Athena. Impenhorabilidade do bem de família: exceções previstas no Novo CPC. SAJ ADV, 23 de novembro de 2018. Disponível em: https://blog.sajadv.com.br/impenhorabilidade-do-bem-de-familia/. Acesso em: 20 abr. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 364. O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2008]. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj- revista-sumulas-2012_32_capSumula364.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016 / Cassio Scarpinella Bueno. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2016, p.580. BUENO, op.cit., p. 594. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. II. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 153. CÂMARA, Alexandre Freitas. Sistema processual amplia mecanismos de proteção ao crédito. Consultor Jurídico, 22 de fevereiro de 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-fev-22/alexandre-camara-renuncia-eficacia- executiva-titulo-extrajudicial. Acesso em 20 abr.2020. 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Disponível em: chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www.conjur.com.br/dl/nao- cabe-honorario-advocaticio.pdf.Acesso em: 19 abr. 2020. http://www.editoramagister.com/doutrina_27046551_PRINCIPIOS_FUNDAMENTAIS_DA_EXECUCAO_NO_DIREITO_PROCESSUAL_CIVIL_BRASILEIRO_CPC_2015.aspx http://www.editoramagister.com/doutrina_27046551_PRINCIPIOS_FUNDAMENTAIS_DA_EXECUCAO_NO_DIREITO_PROCESSUAL_CIVIL_BRASILEIRO_CPC_2015.aspx http://www.editoramagister.com/doutrina_27046551_PRINCIPIOS_FUNDAMENTAIS_DA_EXECUCAO_NO_DIREITO_PROCESSUAL_CIVIL_BRASILEIRO_CPC_2015.aspx https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/meios-de-defesa-existentes-na-execucao/ https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/meios-de-defesa-existentes-na-execucao/ chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www.conjur.com.br/dl/nao-cabe-honorario-advocaticio.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www.conjur.com.br/dl/nao-cabe-honorario-advocaticio.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www.conjur.com.br/dl/nao-cabe-honorario-advocaticio.pdf
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