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336456712-TESAURO-linguagem-de-representacao-da-memoria-documentaria-pdf

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VERA LUCIA DOYLE DODEBEI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TESAURO 
linguagem de representação da memória documentária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2001
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Mestre 
MANOEL ADOLPHO WANDERLEY 
 
Aos meus alunos da 
Universidade do Rio de Janeiro -UNIRIO 
 
 3 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
1 Em defesa das linguagens documentárias, P. 
 
2 Representação e meta-representação, p. 
 
3 Língua e linguagem, p. 
 
4 Tesauro – parte 1 : análise do domínio. p. 
 
5 Tesauro – parte 2 : relações conceituais, p. 
 
6 A propósito, p. 
 
Referências bibliográficas, p. 
1 Em defesa das linguagens documentárias 
 
 
Até a primeira metade do século XX, a prática biblioteconômica demonstrava que a 
organização de documentos podia ser conduzida por instrumentos previamente construídos, 
de âmbito geral e com total independência do uso efetivo que se pudesse fazer dos acervos. 
Nesse sentido, o papel do bibliotecário era, fundamentalmente, o de guardião dos bens do-
cumentais, embora já existisse a consciência da sua função de intermediação entre a neces-
sidade de informação do usuário e a efetiva disponibilização desta pela biblioteca. 
 A formação profissional do bibliotecário era, assim, centrada em dois eixos princi-
pais. O primeiro, indicava a forte presença dos conteúdos de cultura geral, tais como o do-
mínio de idiomas, a Filosofia e a História, na tentativa de assegurar que a intermediação se 
procedesse com bom índice de sucesso. O conhecimento profundo do acervo fazia do bi-
bliotecário o próprio instrumento de interação entre documento e usuário. O segundo eixo, 
das técnicas de organização do acervo, era representado por um conjunto de normas, tais 
como os códigos de catalogação e as tabelas de classificação. Nesse caso, o papel do bi-
bliotecário se restringia ao de adaptar o conteúdo dos documentos ao instrumento codifica-
dor1. 
 Por volta de 1940, a explosão documental gerada pelo processo de especialização 
do saber obriga os bibliotecários a questionar não só o seu objeto de estudo, como os pro-
cedimentos utilizados na organização dos acervos documentais2. O livro, até então conside-
rado o objeto de estudo inquestionável da Biblioteconomia, passa a disputar espaço com 
outros gêneros e suportes documentais, principalmente artigos de periódicos e relatórios de 
pesquisa, sendo esses últimos os que mais enfaticamente representaram a era da especiali-
zação do conhecimento. 
 Essa primeira mudança de paradigma no âmbito da organização e disponibilização 
do conhecimento produz discussões sobre as técnicas de análise documentária3 vigentes. Se 
no passado, a leitura que se podia fazer dos documentos (representação genérica) não aten-
dia mais às necessidades de especificidade dos temas produzidos pela comunidade científi-
ca, era necessário o desenvolvimento de instrumentos que, ainda no plano da representação 
de conteúdo, dessem conta do saber ultra-especializado. Como conseqüência, os especialis-
tas em análise documentária não encontram nas linguagens documentárias tradicionais (or-
 5 
ganização do conhecimento geral) as condições necessárias para representar os conteúdos 
informativos dos textos técnico-científicos produzidos e que deveriam constituir uma no-
va memória documentária. 
 É nesta ocasião que são estimulados estudos e experiências sobre a construção de 
linguagens artificiais que pudessem representar o universo conceitual de campos específi-
cos do conhecimento. Essas linguagens, genericamente denominadas /linguagens documen-
tárias/, passam a ser objeto de estudo, não só dos bibliotecários, como de lingüistas e ou-
tros profissionais preocupados com a representação de conteúdos informativos para fins de 
recuperação e disseminação da informação, tradução automática, análise de conteúdo4, 
análises literárias, semióticas e lingüísticas, realizadas manualmente ou de forma automáti-
ca. No entanto, rapidamente verifica-se que, a despeito de sua eficaz função de recupera-
ção da informação, a construção de linguagens documentárias para campos específicos do 
conhecimento vem a representar tarefa interdisciplinar extremamente onerosa. 
 Aliados ao problema da interdisciplinaridade na produção de conhecimentos, da 
dificuldade de indexar documentos utilizando linguagens universais e do elevado custo de 
construção de linguagens especializadas, dois fatores - o aumento de documentos em su-
porte eletrônico e a informatização do armazenamento dos registros desse mesmo conhe-
cimento - conduziram as atenções dos especialistas para a antítese da representação sintéti-
ca, ou seja, o acesso direto ao documento primário, em linguagem natural. No entanto, a 
recuperação da informação em linguagem natural deve considerar a digitalização de textos 
completos e o uso de operadores lingüísticos, sendo que esses últimos são ainda objeto de 
estudos experimentais5. 
 Ao considerarmos que o acesso à informação armazenada em bases de dados digi-
talizados possa ser feito mediante a busca do texto completo, temos que forçosamente re-
fletir sobre algumas questões. Em primeiro lugar, o problema diz respeito ao tempo des-
pendido na localização da informação desejada. Tomando como exemplo uma biblioteca 
tradicional contendo cerca de cem mil volumes, dispostos fisicamente por data de registro 
no acervo, e sem qualquer instrumento de busca representativo do conteúdo, como índices 
ou catálogos, quanto tempo um usuário levaria para localizar as informações necessárias? 
Seria necessário percorrer milhões de páginas para selecionar aquelas que satisfizessem a 
sua necessidade de informação. Transportando o exemplo para uma biblioteca virtual, onde 
esses mesmos textos sofreram um processo de infografia6, a questão do acesso ainda per-
 6 
manece no âmbito da velocidade. Mesmo tendo como atenuantes do tempo despendido na 
busca, a possibilidade de utilizar todo o léxico disponibilizado, ou seja, selecionar pala-
vras-chaves em língua natural, e, ainda, considerar que o tempo de comparação da máquina 
é muito superior ao visual humano, o resultado da busca fica comprometido pelas caracte-
rísticas próprias das línguas naturais. Essas características das línguas naturais, principal-
mente a polissemia, a homonímia, a sinonímia, além da função sintática, interferem no 
resultado significativo da busca, quer dizer, não garantem que a informação recuperada 
possa ser a mais próxima possível da informação desejada, dentro do mesmo campo se-
mântico. 
 Um outro aspecto a ser considerado em defesa das linguagens documentá-
rias é a sua função referencial. Como disse Samuel Johnson7, o conhecimento é de 
dois tipos: conhecemos um assunto por nós mesmos ou sabemos onde podemos encontrar a 
informação sobre ele. No último caso, o conhecimento torna-se público, formando estoques 
de informação que precisam estar organizados para a socialização do seu uso8. Essa orga-
nização do conhecimento público, principalmente no que diz respeito à disponibilização 
deste pelas grandes redes de comunicação, implica em processos de normalização na 
apresentação da informação. A normalização temática seria, portanto, mais uma função das 
linguagens documentárias, definida por Wanderley9 como: a capacidade de obter, por 
ocasião das respostas aos pedidos de informação, um máximo de indicações relevantes ou 
pertinentes e, para tal, de coincidência entre as descrições de autoria do indexador e as do 
usuário, numa palavra, a normalização. 
 Quanto à normalização descritiva, a grande contribuição para o compartilhamento 
da informação foi dada por Paul Otlet. Rayward10, em artigo publicado no Journal of Ame-
rican Society of Information Science (JASIS), afirma que Paul Otlet é uma importante e 
negligenciada parte da história da Ciência da Informação,uma vez que, junto com os cole-
gas belgas, criou um complexo de organizações em tudo semelhantes aos atuais sistemas 
de hipertexto/hipermídia. No seu Traité de Documentation (1934), um dos primeiros trata-
dos sistemáticos do que hoje pode-se chamar de Ciência da Informação, Otlet especula 
sobre telecomunicações, conversão texto-voz e sobre o que era necessário para as esta-
ções de trabalho computadorizadas, embora, é claro, ele não tivesse usado essa teminolo-
gia. 
 7 
 Uma das grandes contribuições de Otlet, além de ampliar o conceito tradicional de 
documento, foi a de estender essa ampliação ao conceito de bibliografia, hoje nomeada de 
base de dados, quando em meio digital ou até mesmo webgrafia, se disponibilizada virtu-
almente nas grandes redes (web). O desenvolvimento de um sistema que permitisse uma 
racional organização do conhecimento foi a meta de Otlet, que iniciava o convívio com a 
explosão documental, ou, como chamou posteriormente Bradford, o Caos Documentário11. 
O sistema idealizado partia de um princípio que Otlet chamou de “princípio monográfico”. 
A idéia era a de registrar partes do conteúdo de uma obra isoladamente em fichas, o que 
permitiria uma organização temática hierarquizada. Essa técnica pode ser comparada hoje 
à construção dos hipertextos, onde o usuário não percorre o “texto” de forma linear, mas 
“navega”, a partir da construção de estratégias de busca singulares das cadeias de informa-
ção, pelas partes, ou nós de classes de informação. Assim, o usuário pode se movimentar 
da referência bibliográfica ao texto completo, à imagem, ao som, a outras referências, a 
outras imagens; parafraseando Umberto Eco12, numa navegação in progress. 
 Além disso, no que diz respeito à representação da informação para a recuperação 
posterior por múltiplos usuários, ou à forma de descrever a informação de modo a manter 
uma síntese do pensamento do autor, Otlet sugeria que o “princípio monográfico” deveria 
ser aplicado aos resumos (abstracts) que acompanhavam as referências bibliográficas, e 
que serviam como um refinamento à pesquisa de fontes. A idéia era destacar o que o livro 
amalgamava, para reduzir tudo que fosse complexo a unidades passíveis de serem descri-
tas em folhas ou fichas separadas. O sentido, portanto, era o de recuperar apenas o que fos-
se de novo no conhecimento já disseminado. Assim, Otlet sugeria a desconstrução do 
texto para sua reconstrução, a partir das seguintes constatações: 
a) os livros apresentam apenas parte do conhecimento científico (completude) 
b) apresentam conhecimentos falsos e verdadeiros (erro) 
c) apresentam a mesma coisa mais de uma vez (repetição) 
d) dividem a mesma informação por vários setores ou capítulos (dispersão) 
e) não apresentam a informação por graus de importância (valor) 
 
 Sem dúvida, mesmo quando se busca a imparcialidade, só se pode desconstruir e 
refazer um texto em função de determinações arbitrárias, uma vez que toda e qualquer clas-
sificação só opera no sentido da arbitrariedade. O sonho de Otlet em relação à construção 
 8 
do “Livro Universal”, organizado por áreas particulares do conhecimento, nunca foi con-
cretizado e embora o objetivo de Otlet não tenha sido alcançado nesse sentido, as suas idéi-
as foram extremamente úteis no que se refere à análise e síntese dos conteúdos informati-
vos. O princípio da indexação da informação e da construção de resumos para facilitar a 
recuperação da informação contou com as regras de análise documentária criadas para a 
organização do “Biblion” ou Livro Universal, ou seja, a literatura deve ser analisada, iso-
lando-se quatro categorias gerais: fatos - interpretação dos fatos - estatísticas - fontes. 
 Além disso, outra contribuição importante ao acesso às fontes bibliográfi-
cas foi o desenvolvimento das normas técnicas para a descrição da forma e do conteúdo 
bibliográfico. Inegavelmente, Otlet e sua equipe nos legaram as bases do que chamamos 
hoje de redes de informação, que funcionam interligando as representações do conhecimen-
to em todos os campos do saber, para todos os tipos de objetos e relatos, ainda necessitando 
urgentemente de normalização. Essa normalização diz respeito aos formatos de apresenta-
ção da informação, aos protocolos de acesso às bases de dados, enfim, a uma nova lingua-
gem que de documentária passa a cibernética e que, em alguns casos, se aproxima da lin-
guagem pictórica, dos hieróglifos. 
 Se considerarmos as possibilidades de localização da informação desejada na Web, 
tal como sintetiza SAÀDANI13, vemos que as melhores chances de obtê-la são aquelas que 
utilizam operadores matemáticos na combinação e a restrição de conceitos representativos 
da pergunta para a qual se deseja uma resposta. Não uma resposta objetiva, mas a indicação 
de fontes de informação moduladas isto é, de uma cadeia de complexidade que parte dos 
sites até se chegar ao texto primário. Vale lembrar que, neste momento, temos a possibili-
dade de encontrar ou não o texto primário digitalizado. 
 Caso já pudéssemos utilizar os operadores lingüísticos ainda em estudo, tais como 
os sintagmas nominais discutidos por Brito14, a pergunta feita em lingua natural não preci-
saria ser decomposta em conceitos organizados por operadores matemáticos. Na prática, no 
entanto, ao pesquisarmos um assunto na Web, chegamos a duas conclusões: a primeira é a 
de que os engines (programas de busca de informações) são especialmente eficientes na 
localização de sites genéricos sobre o domínio do campo semântico de interesse; a segun-
da conclusão é a de que um bom resultado refinado para um assunto específico só é ofere-
cido pelas bases de dados que operam com operadores matemáticos, isto é, que utilizam a 
interface da linguagem documentárias entre documentos e usuários. Seria prematuro, con-
 9 
tudo, afirmar que ambos os sistemas se complementam e continuarão a coexistir por longo 
tempo. 
 Enquanto aguardamos os resultados dos estudos nos campos da Lingüística e das 
Ciências Cognitivas, a utilização das linguagens documentárias nos parece, ainda, indis-
pensável para a organização e o acesso ao conhecimento público. 
 
 
 
 
 
NOTAS E CITAÇÕES 
 
1 O primeiro Curso de Biblioteconomia no Brasil foi criado pelo Decreto n. 8.835, de 11/07/1911. Iniciou em 
abril de 1915 na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, tendo como diretor Manuel Cícero Peregrino Silva. 
O programa deste curso pioneiro se inspirava no modelo francês (École de Chartes), dando ênfase ao aspec-
to cultural e informativo. Em 1929, o "Mackenzie College", hoje Universidade Mackenzie, de São Paulo, 
criou um Curso de Biblioteconomia, inspirado no modelo norte-americano, que enfatizava os aspectos téc-
nicos da profissão. Cf. http://www.ced.ufsc.br/bibliote/encontro/bibli7/eb7art2.html 
 
2 Sobre a impacto desta questão na Biblioteconomia Cf. DODEBEI, V.L., MENDONÇA DE SOUZA, Alfre-
do. Ciência da Informação: formação e interdisciplinaridade. Rio de Janeiro: IBICT/CNPQ/ ECO/USP, 
1992. 
 
3 Coyaud define (tradução livre) Análise Documentária como toda operação efetuada sobre o documento 
bruto, a fim de torná-lo utilizável (i.e. “recuperável”) para a pesquisa documentária. Cf. COYAUD, Mauri-
ce. Analyse et recherche documentaire. In: __________. Linguistic et documentation: les articulations lo-
giques du discours. Paris: Larousse, 1972. p130 
 
4 O conceito de análise de conteúdo apresentado pela autora diz respeito ao conjunto de técnicas destinadas 
a ressaltar do conteúdo de diversas categorias de documentos escritos, certos elementos singulares de onde 
se inferem características psico-sociológicas do objeto analisado. Cf. CUNHA, Isabel M. R. Ferin. Análise 
documentária : parâmetros teóricos. In: ANÁLISE documentária: a análise da síntese. São Paulo: USP, 
1986. p. 42. 
 
5 Estudos fundamentadosna Inteligência Artificial, na Sintaxe e em menor escala na Semântica. Cf. COU-
LON, Daniel. Informática e linguagem natural: uma visão geral dos métodos de interpretação de textos 
escritos. Brasília, IBICT; Rio de Janeiro, SENAI, 1992. 
 
6 O conceito de infografia para o autor é o de digitalização computadorizada. VIRILIO, Paul. A máquina de 
visão. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. p. 9 
 
7 VICKERY, B. C. Knowledge representation: a brief review. Journal of Documentation, 42, n. 3, p. 145-
159, Sept. 1982. 
 
8 A esse respeito consultar um novo campo de especialização denominado Arquitetura da Informação. Em 
Matthew Cutler: O que é exatamente arquitetura de informação? Para os webmasters, é a organização cons-
ciente de grandes volumes de informação, de forma que os usuários possam navegar de forma fácil e efici-
ente em seus site - função semelhante ao design... A criação de uma estrutura de informação sólida deveria 
fazer parte da estratégia de Internet desde o início. O fio condutor deveria ser a criação da noção de hierar-
quia, um conceito de localização de cada item em termos de importância e sua relação com o todo. O objeti-
 10 
 
vo é oferecer informação suficiente para os visitantes decidirem facilmente onde ir, mas não a ponto de fica-
rem sobrecarregados de dados e confusos, ou de serem levados para onde não querem ir. Cf. 
http://www.uol.com.br/webworld/tecnologia/arquitet2.htm 
 
9 WANDERLEY, Manoel Adolfo. Linguagem documentária: acesso à informação. Rio de Janeiro, Ci. Inf., 
v. 2, n. 2 , p. 175-217, 1973. p. 180 
 
10 RAYWARD, W. Boyd. Visions of Xanadu: Paul Otlet (1868-1944) and hypertext. Journal of the Ameri-
can Society for Information Science, v. 45, n. 4, p. 235-250, 1994. 
 
11 BRADFORD, S. C. The documentary chaos. In: ____. Documentation. London: Crosby Lockwood & Son, 
1953. cap. IX. 
 
12 ECO, Umberto. A estrutura ausente: introducão à pesquisa semiológica. São Paulo: Perspectiva, 1991. p. 
90, 91. 
 
13 SAÀDANI, Lalthoum; BERTRAND-GASTALDY, Suzanne. La représentation dans Internet des comnais-
sances dún domaine. Documentation et bibliothèques, jan./mars, p. 27 – 42, 2000. 
 
14 BRITO, Marcílio de. Sistemas de informação em linguagem natural: em busca de uma indexação automáti-
ca. Ci. Inf., Brasília, v. 21, n. 3, p. 223-232, set./dez., 1992. 
2 Representação e meta-representação 
 
 
 Neste capítulo pretendemos discutir os modelos de organização do conhecimento, a 
partir das interfaces dos conceitos de conhecimento, representação, informação e memória. 
Essa discussão tem por objetivo delinear o funcionamento das memórias documentárias no 
universo das representações sociais e, particularmente, fundamentar o papel das lingua-
gens documentárias como metalínguagens na produção de conhecimentos. 
No âmbito da Ciência da Informação, o conhecimento é discutido no seu aspecto 
representacional, tal como em Vickery1, que o distingue em dois tipos: conhecimento pes-
soal e conhecimento público. Neste enfoque, o significado mais apropriado de público leva 
em consideração a idéia de conhecimento pessoal publicado, disponível para uso e, portan-
to, intencionalmente acumulado. O conjunto das representações do conhecimento vai, as-
sim, se transformar em estoques de informação que de algum modo precisam estar ordena-
dos para melhor serem utilizados. É nesse momento que se formam as memórias documen-
tárias, consideradas construções simbólicas do conhecimento. 
 As memórias documentárias, como constructos do conhecimento gerado pela soci-
edade, reúnem cadeias de representações presentes na dinâmica social, desde a produção do 
conhecimento até a sua assimilação e reprodução. Essas representações são objeto de estu-
dos de vários campos do saber que as analisam a partir de fundamentos teóricos diversifi-
cados, as quais podem ser estruturadas em modelos, por exemplo, matemáticos, psico-
cognitivos, sistêmicos2. Os modelos derivam da necessidade humana de entender a realida-
de, aparentemente complexa e são, portanto, representações simplificadas e inteligíveis do 
mundo, permitindo vislumbrar as características essenciais de um domínio ou campo de 
estudo. Esta simplificação exige criatividade, tanto sensorial quanto intelectual, o que im-
plica em admitir-se que, na construção de modelos, algumas características da realidade, 
que não se referem diretamente aos objetos buscados, são desprezadas ou abandonadas, em 
função da maior inteligibilidade ou facilidade de compreensão. De fato, não teria sentido 
substituir a realidade (aparentemente complexa) por modelos ainda mais complexos. 
Como observam Haggett e Chorley3, os modelos são “aproximações altamente sub-
jetivas, no sentido de não incluírem todas as observações e mensurações associadas, mas, 
como tais, são valiosos por ocultarem detalhes secundários e permitir o aparecimento dos 
 12 
aspectos fundamentais da realidade”. Desta forma, os modelos são, sempre, aproximações 
seletivas que, eliminando aspectos acidentais, permitem o aparecimento dos aspectos fun-
damentais, relevantes ou interessantes, do mundo real, sob alguma forma generalizada. 
 Além da simplificação/simplicidade, os modelos têm como característica, o fato de 
serem estruturados, isto é, os aspectos selecionados da realidade são explorados em ter-
mos de suas relações com outros modelos e aspectos dessa realidade. Uma outra caracterís-
tica, também muito importante, dos modelos, é a sua natureza sugestiva (a visão global de 
um modelo) que permite ao conhecimento um avanço mais significativo do que aquele que 
se poderia obter pela análise de apenas uma das suas partes. Na medida, no entanto, em que 
um modelo é apenas uma aproximação à realidade, ele é uma analogia, que permite re-
formular o conhecimento sobre alguns aspectos do mundo real. 
 Os modelos têm por essência, o fato de serem simples, acurados, estruturados, su-
gestivos, representando analogias ao mundo real, que podem ser reaplicados a novos con-
juntos de observações e nesse sentido, são necessários por constituírem uma ponte entre os 
níveis da observação e do teórico. Os modelos são, portanto, construcões da mente huma-
na, que têm função psicológica, aquisitiva, organizacional, normativa, sistemática, constru-
tiva e de parentesco, o que permite a comunicação das idéias científicas, na medida em que 
muitos modelos se aplicam a mais de um conjunto de observações, de mais de uma área do 
conhecimento. Como observa Clarke4, a existência de um modelo pressupõe a existência 
de uma teoria subjacente, uma vez que um modelo é apenas uma expressão simplificada, 
formal e esquemática de uma teoria, implícita ou explícita, desenvolvida para uma situação 
particular. Um estudo cuidadoso de grupos de modelos, aparentemente expressando um 
delineamento comum de teorias para diferentes situações pode, assim, ajudar a expor e a 
articular teorias latentes, de um modo poderoso e concreto. É ainda Clarke quem afirma 
que as hipóteses são geradas a partir da expressão modelada de uma teoria, surgindo a ex-
planação das hipóteses testadas, as quais são testadas usando-se análises relevantes em ca-
tegorias significativas de dados. 
 Os modelos são tipificados de várias formas, em função das próprias ideologias 
inerentes de cada autor ou área de conhecimento. Assim, para Haggett e Chorley, os mo-
delos podem ser descritivos e normativos - o primeiro trata de certa descrição estilística da 
realidade, e o segundo, do que se pode esperar que acorra sob certas condições estabeleci-
das. Já para Clarke, podem ser operacionais e de controle, o que, em essência, não altera a 
 13 
proposição de Haggett e Chorley. Também em Ciência da Informação tais classificações 
são variadas. Burt e Kinnucan5agrupam os modelos em cognitivos (ou mentais), conceitu-
ais e semâticos, mas, de um modo geral, este padrão classificatório não modifica os anteri-
ores. 
 Em termos pragmáticos, no entanto, considerando-se forma e expressão, os mode-
los podem ser agrupados ou classificados em uma série interminável de tipos. Sem se pre-
tender a exaustividade, pode-se reconhecer, ainda de acordo com Clarke, os seguintes tipos 
de modelos: físicos/concretos, ou mentais/lógicos. Dentre os primeiros destacam-se os mo-
delos em escala real ou reduzida, dinâmicos ou estáticos. Dentre os segundos deve-se men-
cionar os modelos lógico-conceituais, os matemáticos e estatísticos, os gráficos, os sistêmi-
cos, os semânticos e as simulações por computador, para mencionar apenas os mais impor-
tantes. 
 Um modelo que se revela correto ou útil numa infinidade de aplicações, em circuns-
tâncias distintas e sobre dados diferentes, que apresenta, ao mesmo tempo, um amplo poder 
explanatório, pode ser definido como um paradigma. Como observam Haggett e Chorley, 
os paradigmas podem ser considerados como modelos estáveis da atividade científica, sen-
do, em certo sentido, modelos em escala ampla, mas diferindo dos modelos no sentido de 
que raramente são formulados tão especialmente, tratando-se de modelos de busca do 
mundo real, e não de modelos limitados a alguma área específica do conhecimento huma-
no. Neste sentido, os paradigmas podem ser entendidos como super-modelos, dentro dos 
quais os modelos são colocados em escala mais reduzida. 
 Um paradigma deve ser analisado, e entendido, em função da sua escala, domínio e 
poder explanatório. Nas ciências sociais, costumam ser agrupados de acordo com seus ne-
xos essenciais. Desta forma, os vários autores reconhecem paradigmas ecológicos, locacio-
nais/geográficos, morfológicos, antropológicos/etnológicos, evolucionistas e sistêmicos, 
dentre outros. 
Em Ciência da Informação, aparentemente, é o paradigma sistêmico, que deriva da 
teoria geral de sistemas de Von Bertalanffy, aquele que é mais empregado. Opondo-se à 
visão extremamente mecanicista do mundo, que predominava na ciência, Von Bertalanffy 
apud6 desenvolveu uma teoria a que designou Teoria Geral dos Sistemas, propondo-se a 
visualizar o mundo, e o universo, em termos de um grande conjunto interconectado, dentro 
do qual poder-se-ia separar subconjuntos (ou subsistemas) para análise. De acordo com 
 14 
Marcondes e Sayão7, inicialmente Bertalanffy abordou o problema de sistemas dentro de 
uma perspectiva quase utilitária, dando a impressão de que a visão sistêmica se provou 
necessária a partir do instante em que se tornou essencial lidar com complexidade. 
A tecnologia nos conduziu a pensar não em termos de máquinas simples, mas em 
termos de sistemas... Uma máquina a vapor, um automóvel, um aparelho de rádio, esta-
vam dentro da área de competência de um engenheiro, mas quando começamos a lidar 
com mísseis, veículos espacias, isto é, problemas que envolvem tecnologias heterogêneas, 
como por exemplo, relacionamento homem-máquina, mecânica, eletrônica, problemas 
financeiros, econômicos, sociais e políticos, torna-se necessária uma outra forma de abor-
dagem. 
Para Bertalanffy isto significa uma mudança nas categorias básicas de pensamento, 
da qual a complexidade da tecnologia moderna é unicamente uma manifestação, possivel-
mente não a mais importante. De um jeito ou de outro, nós somos forçados a lidar com 
complexidade, com o “todo” ou “sistemas”. A implicação disso é uma reorientação básica 
do pensamento científico. O conceito de sistema não é novo, remontando à filosofia da 
Grécia clássica. No entanto, foi com a 2ª Guerra Mundial que tal termo passou a ser usado 
como sinônimo de metodologia, ou seja, o arranjo lógico de processos ou meios para atin-
gir fins. Na atualidade, um sistema é visto como um conjunto de elementos, propriedades e 
relações, podendo ser definido como um conjunto de elementos em interação, que realizam 
determinadas funções para determinados propósitos. 
 Sistemas suportam processos, e mesmo que se faça distinção entre sistemas naturais 
e aqueles feitos pelo homem, na verdade, estes últimos sempre apresentam algo dos primei-
ros. Um processo, por sua vez, é uma seqüência de eventos, sob controle, para a obtenção 
de resultados específicos, sendo um fenômeno dependente do tempo. Fundamentalmente, 
envolve troca, transformação, transmissão de energia, matéria, informação. A distinção 
fundamental entre sistema e processo é que este último é o aspecto dinâmico do primeiro. 
Todo sistema inclui um processo, e, como sistemas não existem no vácuo, interagem com 
seu meio ambiente, podendo ser difícil estabelecer-se os limites entre ambos. São os pro-
pósitos ou objetivos que, além de estabelecerem as razões de existência do sistema, descre-
vem-lhe os limites com o meio ambiente, sendo óbvio que este também está sujeito a mu-
danças. A adaptação de um sistema ao meio ambiente, em geral, é crucial, e depende inte-
gralmente da retro-alimentação. 
 Ainda de acordo com Marcondes e Sayão, o fato de a ciência moderna ser caracteri-
zada por um alto grau de especialização, um alto grau de compartimentação, de fragmenta-
 15 
ção dos papéis e responsabilidades dos cientistas, engendra, entre outras coisas, uma neces-
sidade vital de estruturas técnicas e de técnicas complexas para cada disciplina. Dessa for-
ma, “os físicos, os biólogos, os psicólogos e os cientistas sociais estão encapsulados em 
seus universos particulares. É difícil estabelecer um diálogo entre um casulo e outro”. Essa 
fragmentação se contrapõe a um outro aspecto interessante, que possivelmente foi o fato 
determinante no processo de concepção da teoria geral dos sistemas por Bertalanffy. “Fa-
zendo um levantamento na evolução da ciência moderna, nos deparamos com um fenôme-
no surpreendente. De forma independente, problemas e concepções similares foram traba-
lhados e desenvolvidos em áreas completamente diferentes”. Dessa forma, existem mode-
los, princípios e leis que se aplicam a sistemas generalizados ou suas subclasses, não im-
portando sua área, a natureza de seus elementos componentes, nem a relação ou forças 
entre eles. Parece então legítimo aspirar a uma teoria de princípios universais passível de 
ser aplicada aos sistemas em geral. É nesse sentido que Bertalanffy postula uma nova dis-
ciplina nomeada Teoria Geral dos Sistemas, cujo objetivo e formulação derivarão de prin-
cípios válidos para sistemas em geral. 
 “A conseqüência de se aceitar a existência de propriedades gerais dos sistemas é o 
aparecimento de similaridades estruturais, ou seja, isomorfismo entre diferentes áreas. E-
xiste uma correspondência nos princípios que governam o comportamento de entidades 
intrinsecamente distintas”. Um exemplo simples é a lei do crescimento exponencial, que se 
aplica ao crescimento de bactérias, animais ou humanos, ao mesmo tempo que ao cresci-
mento da pesquisa científica, medido pelo número de publicações”. A partir destas propo-
sições, Bertalanffy conclui que esta correspondência é proporcionada pelo fato de que as 
entidades envolvidas podem ser consideradas como sistemas, isto é, um complexo de ele-
mentos em interação. Isto faz com que estes fenômenos, embora tendo origens distintas, 
estejam subjugados a um princípio geral comum. De fato, “são muitos os exemplos de 
princípios idênticos que são descobertos várias vezes, pois os pesquisadores de um campo 
desconhecem que a estrutura teórica do seu trabalho ou pesquisa já está desenvolvida em 
outro campo”. Bertalanffy é bastante enfático quando afirma que a teoria geral de sistemas 
é uma ferramenta útil na transferência de modelos de uma área para outra. 
 Indo mais adiante, Bertalanffy afirma que existe um outro aspecto ainda mais im-
portante na teoria de sistemas, o qual está relacionado com o conceito de complexidade 
organizada (organized complexity).A física clássica, diz Bertalanffy, resolve com sucesso 
 16 
os problemas concernentes à complexidade desorganizada (unorganized complexity), atra-
vés da segunda lei da termodinâmica e das leis da probabilidade. Um exemplo disso é o 
comportamento de um gás. “Em oposição, o problema fundamental atual é o relacionamen-
to à complexidade organizada. Conceitos tais como organização, holística, diretividade 
(directivness), teleologia e diferenciação, fogem ao escopo da física convencional. Entre-
tanto, eles surgem a todo instante, na biologia, nas ciências comportamentais e sociais; e 
são indispensáveis quando se trata de organismos vivos e grupos sociais. Dessa forma, um 
problema básico proposto pela ciência moderna é a teoria geral da organização. A teoria 
geral de sistemas está, em princípio, capacitada a delinear tais conceitos e, em alguns casos 
específicos, estabelecer para eles análises quantitativas”. 
 Como Bertalanffy observou, com muita propriedade, a física convencional, modelo 
para todas as ciências, apresenta limitações graves, geralmente ignoradas pelos cientistas. 
De fato, a física convencional lida somente com sistemas fechados, isto é, sistemas isola-
dos de seu meio ambiente. A segunda lei da termodinâmica, por exemplo, só se aplica a 
sistemas fechados. Os sistemas vivos, entretanto, são sistemas abertos. O mesmo se pode 
afirmar quando se trata da teoria geral da comunicação, ou da informação, que incorporam 
a noção de feedback e de ruído, portanto, sistemas abertos ao seu meio ambiente. 
 Neste sentido, como observaram Haggett e Chorley8, discutindo a Nova Geografia, 
a informação é suscetível de tratamento em termos da teoria geral da informação. “Nesse 
contexto, as informações concretas, factuais, só têm relevância dentro de um corpo de refe-
rência mais geral, e esta operação básica de como definir um fato relevante só pode ser 
realizada com base num arcabouço teórico. Há também níveis diferentes de organização 
das informações relevantes. 
 Burt e Kinnucan9, analisando os modelos utilizados em Ciência da Informação para 
o Annual Review of Information Science and Technology, dizem que a modelagem da in-
formação refere-se à identificação de componentes de modelos e seus elos, aos modos de 
expressão, ao processo de construção do modelo, e ainda ao delineamento dos paradigmas 
que afetam aos modelos que estão sendo construídos. Paradigmas refletem ao mesmo tem-
po os propósitos e as fronteiras de um modelo. Lyytinen10 considera dois paradigmas para a 
modelagem. O primeiro refere-se ou é um mapeamento da realidade, e é essencialmente 
uma técnica descritiva para representar alguma coisa que é claramente compreendida mas 
 17 
que apresenta um comportamento ambíguo. A necessidade de certeza nesse enfoque traz 
uma limitação severa à sua aplicabilidade. 
 O segundo paradigma de Lyytinen diz respeito ao desenvolvimento da linguagem 
formal, e é concentrado na representação da estrutura, conteúdo e uso da mensagem lin-
güística, já que ele pode tratar mais acuradamente com a natureza ambígua das configura-
ções da realidade. 
 Considerando-se a totalidade dos modelos de informação, tem-se idéia de um conti-
nuum, no qual em um extremo está o ser humano, com suas idiossincrasias, que podem ser 
entendidas como o seu conhecimento, e no outro extremo está o sistema de informação. 
Entre essses extremos, encontram-se representações que oscilam entre um ou outro pólo, as 
quais procuram explicar as diferenças entre eles. Modelos do primeiro pólo são os modelos 
cognitivos. Do segundo, são modelos de dados. Na faixa intermediária, aparecem os mode-
los conceituais (mentais, estruturais, semânticos, etc). 
 Em Ciência da Informação, o modelo mais amplamente utilizado foi, ao longo dos 
anos, o de Shannon e Weaver11, que propuseram um modelo matemático para explicar a 
comunicação entre dois pólos - o emissor e o receptor. Tal modelo, criticado, adaptado, 
modificado, continua, ainda hoje, sendo amplamente utilizado, na medida em que, de modo 
acurado, simples e preditivo, propicia uma boa idéia de como se dá a comunicação huma-
na. É, em essência, um modelo matemático, da mesma forma que as leis de Zipf, Bradford 
e outras, amplamente utilizadas na Bibliometria, mas é, também, um modelo sistêmico, na 
sua concepção geral, interligando o emissor ao receptor. Outros modelos valem-se de com-
parações com o funcionamento de computadores, ou voltam-se para a representação do 
conhecimento; há modelos envolvidos com inteligência artificial, outros com tomada de 
decisão. Em resumo, a Ciência da Informação absorve ou “importa” numerosos gêneros de 
modelos, que, de ângulos distintos, descrevem a sua realidade. 
Para estudar as representações documentárias destacamos o modelo de caráter sis-
têmico denominado Ciclo da informação, ou modelo de transferência da informação, que 
reduz a realidade da representação do conhecimento a seis etapas: produção, registro, aqui-
sição, organização, disseminação e assimilação. Essas etapas, amplamente apresentadas 
como paradigmáticas na Ciência da Informação, procuram simplificar os processos criados 
pela produção, acumulação e uso de conhecimentos e os produtos gerados em suas várias 
formas representacionais, quer sejam fontes primárias, secundárias ou terciárias. Este é o 
 18 
modelo, até o momento, mais adequado para representar o processo de transferência da 
informação, o papel exercido por cada segmento social envolvido nesta transferência e a 
estrutura das instituições de preservação da memória social. Com alguns acréscimos à pro-
posta original de Lancaster12, a figura abaixo incorpora ao modelo o conceito de memória 
documentária, dividindo o universo do conhecimento em dois subconjuntos: informação e 
documento. 
 
O primeiro universo, inscrito na parte superior do círculo, descreve a dimensão na 
qual se dão as trocas de informação, sendo essa realidade representada pelas etapas de pro-
dução, registro e assimilação. Esse subconjunto, que existe independentemente das etapas 
inferiores, permite a análise das ações decorrentes da geração de novos conhecimentos dis-
seminados de modo informal ou formalizados em registros materias (incluídos os eletrôni-
cos), em redes eventuais ou organizadas sistematicamente. Seu campo de estudo, interdis-
ciplinar, reúne principalmente os fundamentos da psico-cognição, da comunicação, da so-
ciologia de redes de informação, da economia e mercadologia. 
 19 
� Produção de conhecimentos 
Com a mudança do paradigma da ciência, que deixa de se pautar pela verticalidade (es-
pecialização), se conduzindo mais no sentido da horizontalidade das abordagens transdis-
ciplinares, as informações produzidas pela sociedade dificilmente podem ser 
antecipadamente organizadas por campos de interesse, em categorias fixas e imutáveis. 
Essas informações são disponibilizadas por vários segmentos da sociedade e é no momento 
da procura ou busca que as interseções de significado vão ocorrer. Isto é, a priori, não se 
pode afirmar que um texto de medicina possa somente interessar aos médicos, assim como 
uma foto da clonagem de ovelhas ser útil apenas aos geneticistas. Aliados ao fator de 
gênero, os atributos de qualidade (valor intrínseco), quantidade e conveniência da 
informação produzida na atualidade devem ser considerados nesse universo dependente 
dos produtos (informação), o qual se configura no que chamamos de sociedade da 
informação. � Registro 
Quanto à diversificação dos suportes (registro), as informações produzidas poderiam, 
grosso modo, ser classificadas em textuais, visuais, sonoras ou tridimensionais e, ainda, por 
uma combinação dessas categorias. Com efeito, os suportes vão se desenvolvendo em fun-
ção dos avanços tecnológicos, configurando-se aí não só a sua diversidade como também a 
duplicidade. Hoje temos condições de acessar uma revista científica em papel, em CD-
ROMe até em microformas (técnica muito utilizada preservação e reprodução de docu-
mentos) ou em arquivo eletrônico, que parece ser o meio mais rápido e de baixo custo para 
a disseminação da informação. Temos a possibilidade de analisar uma escultura, com todos 
os detalhes técnicos, em um museu virtual, como em um museu tradicional. Pode-se ter 
acesso a um acontecimento em torno de um produto como por exemplo a mostra Monet, no 
Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, que intercalou a pintura original, fotos da tela e 
vídeos temáticos das seqüências inspiradoras do pintor na confecção de um grupo de obras 
sob um mesmo tema. Os suportes são os mais variados e, às vezes, passam a se constituir 
em acessórios à localização da informação, ou seja, fazem parte do universo de restrição à 
uma estratégia de busca temática, à exceção das pesquisas que visam ao suporte como ob-
jeto de interesse, passando o tema a ser secundário. 
� Assimilação 
A assimilação das informações geradas pelo conhecimento e que proporcionarão a 
produção de conhecimentos novos pode ser estudada, entre outros, sob o ângulo da veloci-
 20 
dade de sua obsolescência. Como cita Virilio13, ao lado das dimensões espaço e tempo, 
existe hoje uma outra dimensão, que é a luz. Não a luz no sentido puro da claridade, da 
visão, do entendimento, mas a luz em sua versão de trajeto. Para Virilio, o que nos move 
hoje no sentido das representações sociais não é mais o espaço e o tempo, mas o movimen-
to, o trajeto, invertendo assim o conceito de velocidade da luz para a luz da velocidade. É o 
tempo real que importa. Não é mais uma questão de localização absoluta, mas de percep-
ção relativa, a qual Virilio nomeia de energia cinemática da relatividade. Quanto mais ve-
loz a apresentação dos produtos à sociedade, mais rápido estes ficam obsoletos. O senti-
mento predominante da sociedade atual pode ser caracterizado pela ansiedade de informa-
ção. Ansiedade no sentido de saber que existe uma informação relevante e não conseguir 
acessá-la em tempo hábil, ou de produzir uma informação importante e não conseguir dis-
ponibilizá-la. Qual informação e quanto dela é assimilada, é uma questão complexa, men-
surável apenas indiretamente pela quantidade e qualidade dos novos conhecimentos produ-
zidos. 
O segundo subconjunto, representado pela parte inferior do círculo, ao contrário do 
primeiro, não tem existência independente. As seis etapas completas são necessárias ao 
ciclo de vida da informação, embora só o subconjunto representado pela seleção, represen-
tação e disseminação se configurará em memória documentária. O campo de estudo da 
memória documentária e seus fundamentos mais específicos são a teoria da classificação, a 
teoria do conceito e as teorias da comunicação, que são denominadas, no seu conjunto, 
teorias da organização do conhecimento e, especificamente, teoria da memória documentá-
ria. 
Segundo Wanderley14, toda coleção documentária pode ser representada por um 
quadro de entrada dupla chamado usualmente matriz documentária, em que se atribui cada 
linha a um documento e cada coluna a uma das múltiplas características a partir das quais 
serão ulteriormente procurados os documentos. Com base nessa representação simbólica, 
seria possível edificar a teoria geral da organização das memórias documentárias ou o 
conjunto de elementos que permite o acesso aos documentos de uma coleção a partir de 
suas características, e a sistemática dos processos de seleção. 
 
 
 
 21 
 
A representação da informação é composta, assim, dos seguintes elementos: 
 
• Objetos (coisas que queremos representar) 
 
• Propriedades (caraterísticas de tais coisas) 
 
 Para uma eficaz memória seletiva é possível levar-se a segmentação da matriz até 
aos elementos, linhas ou colunas tomadas isoladamente, a cada uma das quais se atribuirá 
um elemento seletivo, isto é, uma célula de memória. 
 
 
 
 
 
 22 
 
 
Usam-se os objetos e as propriedades por pertinência recíproca, isto é: o objeto 
constitui um conjunto ou uma classe de propriedades e, portanto, um conjunto ou uma clas-
se de objetos constitui uma propriedade. Cada termo divide o conjunto de termos perpendi-
cularmente em duas partes - os que lhe pertencem e os que não lhe pertencem. 
 Os processos informacionais de representação do objeto tratam, portanto, das rela-
ções entre as coisas e as suas características, e da maneira de manipular as representações 
em seus vários suportes, em vez de manipular as próprias coisas. A memória documentá-
ria pode ser explorada tradicionalmente, como é o caso das fichas unitermo, ou eletronica-
mente, nos arquivos seriais e invertidos que estão presentes nos modelos de busca em bases 
de dados bibliográficos e nos motores de busca (search engines) da Internet. 
 O primeiro aspecto sob o qual a memória documentária pode ser percebida, o con-
creto, torna tal representação uma imagem geométrica da estrutura material da memória; o 
outro, o abstrato, prende-se ao conteúdo ideológico da coleção, isto é, à organização de 
dados e das noções características dos documentos contidos nela. Salvo raríssimas exce-
ções, as coleções documentárias ultrapassam, quer horizontal, quer verticalmente, a possi-
bilidade de utilização de semelhante matriz materializada de modo direto no papel, num 
espaço e em duas dimensões. 
 Cada célula de memória é igualada ao elemento seletivo obtido pela escolha do cru-
zamento de atributos ideológicos com a seqüência material da disposição dos documentos. 
Tal cruzamento é, no entanto, limitado à escolha de atributos feita pelo analista da infor-
 23 
mação e, ainda, à dificuldade imposta pela própria natureza da língua natural, na qual se 
apresentam tanto os documentos como os pedidos de busca de um documento na coleção. 
Tanto pelo aspecto quantitativo, isto é, o número de atributos escolhidos, como pelo quali-
tativo - possibilidades de interpretações semânticas - , a memória documentária ainda se 
caracteriza como memória virtual de acesso ao documento primário. Ela não oferece a 
garantia do acesso, apenas a possibilidade. 
 Montgomery15 descreve a estrutura da memória documentária em um modelo de 
concepção sistêmica, denominado Sistema de Recuperação da Informação (SRI), no qual 
os dados de entrada são, ao mesmo tempo, as representações das demandas de informação 
pelo público e as representações do acervo ou coleção. O sistema processa essas represen-
tações, comparando-as e devolvendo-as sob a forma de novas representações direcionadas 
a cada demanda. A retroalimentação é garantida pelas novas produções de conhecimento 
que serão selecionadas para o ingresso no sistema de informação. Esse processo, denomi-
nado de Recuperação da Informação, pode ser considerado como um filtro, pelo qual só 
transitam as informações demandadas, embora nem sempre essas se configurem como as 
mais necessárias. 
O modelo abaixo toma por base as simplificações apresentadas por Montgomery, 
que já demonstrava a intenção de salientar a importância das representações documentárias 
no sucesso do “casamento” entre público e acervo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 24 
 
A análise do modelo SRI nos conduz às etapas inscritas na parte inferior do círculo, já 
configurada como memória documentária. 
� Seleção 
A primeira etapa do subconjunto da memória documentária e terceira etapa do ciclo da 
informação é identificada pelos processos de seleção e aquisição que não são processos ao 
acaso, ao contrário, devem ser planejados em função das características da instituição que 
mantém acervos documentais. Ambos valem-se do princípio da economia. Quer dizer, fun-
cionam como filtros da sociedade da informação, a fim de favorecer o equilíbrio entre as 
necessidades de informação do público usuário e a oferta da sociedade. Segundo Mc Gar-
ry16, “necessidade” é um conceito básico nos estudos de informação mas difícilde definir 
satisfatoriamente. Essencialmente, ele implica a “falta” de algo que se estivesse presente 
contribuiria para nosso bem-estar e para facilitar o alcance de quaisquer objetivos que te-
nhamos em mente. O conceito de necessidade passa pelos termos “vontade”, “desejo”, “an-
seio” e “exigência” e está intimamente ligado à idéia de motivação. 
 Assim, a seleção, principalmente, é um processo redutor, e como tal faz uso da 
comparação como indicador de tomada de decisão para a aquisição. A função das unidades 
 25 
que gerenciam a seleção e a aquisição de documentos é, pois, voltada à comparação entre a 
oferta de informações com as demandas da comunidade usuária. No plano quantitativo, o 
processo de aquisição é ainda mais redutor, uma vez que deve ajustar as escolhas qualitati-
vas aos recursos postos à disposição pela instituição. Sem dúvida, este primeiro componen-
te do que chamamos universo documental, dentro do ciclo de vida da produção de conhe-
cimentos, é o que vai influenciar com maior peso a representatividade das memórias do-
cumentárias em relação às trocas de informação na sociedade. 
 Se a seleção já implica em redução de informação, a próxima etapa, representação 
do conhecimento, é ainda mais redutora. A complexidade do tema aliada a interdisciplina-
ridade das abordagens nos leva a uma discussão mais detalhada do que possa ser o conceito 
de representação para a Ciência da Informação, seus fundamentos teóricos e seu uso na 
organização da memória documentária. 
� Representação do conhecimento 
Fala-se em representação hoje como um conceito redentor que poderia dar conta de to-
do gênero de discussão. Discutir o conceito isoladamente, sem impor limitações de domí-
nios e de espaço-tempo seria o mesmo que tentar conceituar cultura, liberdade, memória, 
expressões metafóricas e complexas que, sem o cuidado da reflexão, passam a ocupar o 
lugar de todos os significados. Do ponto de vista desse espaco-tempo-acontecimento, a 
literatura nos mostra que vem existindo uma fértil discussão sobre o conceito de represen-
tação em cada domínio, na tentativa de explicitar a operação interna de um campo do co-
nhecimento e sua interação com as bordas ou os limites de campos vizinhos. Na Ciência da 
Informação, particularmente, podemos observar o nascimento e a evolução das expressões 
/representação do conhecimento/ e /representação da informação/ bastando para isso efetu-
ar um estudo da literatura17. Quanto à última expressão, /representação da informação/, 
uma busca direta na Internet resultou em 34.000 referências, na forma de artigos acadêmi-
cos, programas de disciplina, consultorias comerciais, encontros e eventos em vários domí-
nios com ênfase porém, na esfera da organização do conhecimento. 
As abordagens que traçam uma genealogia do conceito representação, especialmen-
te sobre o binômio conhecer-representar, se inscrevem no campo da filosofia tal como em 
Foucault18 que leva ao extremo essa discussão ao resgatar pela linguagem a idéia do mundo 
com representação. Mas é exatamente na filosofia da linguagem que as interpretações ou 
leituras feitas de filósofos sobre esta questão ora privilegiam a noção de representação, ora 
 26 
a excluem como condição necessária do conhecer. No campo da Lingüística, por exemplo, 
Magro19 considera a noção de representação como um desses recursos explicativos que tem 
integrado as reflexões dos fenômenos humanos, especialmente os fraseáveis em termos 
cognitivos – e esses vão desde os fenômenos evolutivos, genéticos, imunológicos e neuro-
lógicos, até os psicológicos, cognitivos e lingüísticos. Nesse mesmo texto, a autora conclui 
que a atribuição de significado a nossas experiências é uma conseqüência , e não um pré-
requisito, de nosso estar nas interações no meio, nas coordenações de atividades que consti-
tuem o linguajar e que, portanto a noção de representação pode e deve ser dispensada. 
 As acepções de representação e representação do conhecimento são inúmeras, tais 
como a noção de representação sob a ótica da construção como em Gomez20, ou com o 
significado de intermediação, considerando que a as representações se colocam entre o 
meio e o homem. Kobashi21 destaca que a Ciência da Informação adota essa última acep-
ção, ao considerar representação como um conceito mediador entre emissor e receptor, 
objetivado pelos processos e produtos da condensação de conteúdos informativos e, neste 
caso opta pela expressão representação da informação. 
No âmbito das produções sociais de sentido, Becker22 discute a idéia de representa-
ção social (absorvendo algumas acepções do conceito mencionadas anteriormente) no sen-
tido durkheimiano de representações coletivas, as quais são referenciadas nos campos da 
história da cultura, antropologia, sociologia e psicologia, e indica que as possibilidades 
teóricas e metodológicas de operarmos as representações sociais implicam nos seguintes 
aspectos: 
• qualquer representação da realidade social é necessariamente parcial, menor do 
que aquilo que se poderia vivenciar e achar disponível no real; 
• a mesma realidade pode ser descrita de um enorme número de maneiras, visto 
que descrições podem ser respostas para qualquer uma dentre uma multidão de 
questões; 
• representações só têm existência completa quando alguém as está usando, lendo 
ou assistindo, ou escutando e, assim, completando a comunicação através da in-
terpretação dos resultados e da construção para si próprio da realidade que o pro-
dutor pretendeu mostrar. 
 Esses aspectos, por estarem referenciados ao estágio mais complexo da cadeia de 
representações, isto é, o social, são atributos inerentes a todos os demais estágios ou níveis 
 27 
de representação e podem ser sintetizados por três conceitos: redução semântica, pluralida-
de de significados e produção de sentido. 
 
� Redução semântica 
A mediação exercida pela Ciência da Informação entre indivíduos e representa-
ções sociais faz com que a redução semântica se imponha à pluralidade de significados 
como forma de garantir a produção de sentido. Toda intermediação é em si é um fe-
nômeno redutor de significados. O menor nível de redução semântica se daria, por e-
xemplo, em uma comunicação telepática entre dois indivíduos. Qualquer meio que se 
interpusesse entre emissor e receptor já representaria uma alteração na fonte, como é o 
caso da linguagem. A escrita acrescenta mais um nível de redução em relação à mesma 
fonte e, portanto, toda proposta de representação de linguagens de representação reduz 
a informação na fonte. Se a linguagem, em si, já é redutora do pensamento, todas as 
formas de síntese da linguagem com o propósito de acesso à informação são, também, 
formas ainda mais acentuadas de redução de significado. Inegavelmente, a cadeia de 
reduções semânticas faz parte da base teórica da memória documentária para que a or-
ganização do conhecimento em unidades mínimas seja passível de decodificação. O 
princípio da economia de símbolos é o que nos permite usufruir do conhecimento con-
figurado nessas memórias. É nesse momento que faz sentido incorporar um novo con-
ceito, o da meta-representação. A representação do conhecimento com esta acepção 
pode ser entendida como uma cadeia necessária de reduções que se inicia com a con-
cepção indo até a representação da representação, meta-representação ou representação 
documentária. 
 
Representação sensível 
⇐ Representação conceitual 
⇐ Representação verbal 
⇐ Representação social 
 ⇐ Representação documentaria (meta-representação) 
 
� Pluralidade de significados 
O pensamento humano, que opera com conteúdos dependentes da palavra, implica 
sempre uma influência recíproca entre o sujeito pensante e o conteúdo que a palavra encer-
 28 
ra. A linguagem é vista como o instrumento do pensar, sua realidade imediata, tanto para o 
ouvinte quanto para o falante. Merleau Ponty23 amplia esse conceitoe afirma que a palavra 
não é a tradução de um sentido mudo, mas criação de sentido. A linguagem não “veste” 
idéias: ela encarna significações, estabelece a mediação entre o eu e o outro e sedimenta 
os significados que constituem a cultura. O pensamento, segundo Spirkin24, nasce junto 
com a linguagem e constitui a atividade cognoscitiva do sujeito feita imediatamente por 
meio da palavra. A linguagem cumpre, então, dois papéis: um como fator de comunicação 
(objeto - relação do sujeito com o objeto - relação existente entre sujeitos), outro como 
organizador do pensamento. Gorsky25 confirma o discurso de Spirkin, dizendo que a lin-
guagem está vinculada ao pensamento direta e indissoluvelmente e é essa conexão essenci-
al que determina o papel que a linguagem desempenha na esfera do conhecimento. Richau-
deau26 adiciona ênfase à tese, considerando que a riqueza do aparelho lingüístico permitiu a 
transcendência da sua função inicial e a linguagem se transformou em suporte do conheci-
mento, da imaginação, do sonho, dos prazeres. A linguagem não exprime somente o pen-
samento humano pré-existente, mas se constitui no próprio pensamento.27 
 Sobre o segundo aspecto, observa Spirkin28 que a escrita constitui a forma visual de 
fixar a linguagem, surgindo quando a sociedade já havia alcançado um nível elevado de 
desenvolvimento. Portanto, um produto normal da ampliação dos meios de intercomunica-
ção das pessoas, estimuladas pelas necessidades práticas da vida social. A escrita é, assim, 
resultado da atividade criadora e consciente dos seres humanos. Como linguagem articula-
da, adquire um caráter até certo ponto independente e constitui uma forma de atividade 
extremamente abstrata. A escritura pictográfica evoluiu gradativamente no sentido da sig-
nificação. Da representação completa do objeto, o homem passou à representação esque-
mática. Por sua vez, a escrita ideográfica ou hieroglífica constituiu um sistema de signos e 
regras acerca de seu emprego que serviu para comunicar um pensamento qualquer. 
 Do ponto de vista do desenvolvimento do pensamento, o aparecimento do alfabeto 
significou que o homem chegou a ter a idéia de que a palavra consta de elementos particu-
lares. O sistema alfabético, portanto, surgiu no estágio em que a linguagem fonética e o 
pensamento abstrato haviam alcançado seu pleno desenvolvimento. A escrita fonética, a-
través da linguagem, se converteu em realidade material do pensamento. Então, ao propor-
cionar ao pensamento um caráter de certo modo independente (da realidade física dos obje-
 29 
tos), a linguagem foi uma das forças que contribuíram para criar não somente uma cultura 
espiritual, como para desenvolver a cultura material. 
 Ainda em Gorsky, a linguagem não só constitui uma condição necessária para a 
formação de nossos pensamentos, como também permite consolidar os êxitos da atividade 
cognoscitiva do indivíduo, fixar a experiência adquirida por uma geração e transmitida às 
gerações futuras. Portanto, o papel da linguagem para o conhecimento se revela a partir da 
transmissão dos conhecimentos adquiridos, na passagem do nível sensorial para o racional 
e no processo de formação de conceitos, tanto do discurso da ontogênese, como da filogê-
nese. O pensamento pode então ser igualado à concepção, dentro da escala associativa sen-
sação →percepção →concepção, no sentido de criação e, portanto, com independência do 
real objetivo. O pensamento não se dissocia do real, mesmo considerando os conceitos de 
juízos e raciocínios. A reflexão sobre a realidade natural existe, dado que tanto o conteúdo 
como a forma de cada conceito, de cada juízo e de cada raciocínio particulares são um re-
flexo do mundo material. 
 Gorsky trata, ainda, do problema correspondente ao sentido da palavra, da correla-
ção que existe entre o sentido e o significado e ainda entre sentido e conhecimento. Usa, 
para tal, o raciocínio aristotélico de propriedades ou características e diferença na identifi-
cação de grupos ou classes de conceitos e seus possíveis relacionamentos. A aproximação 
de um objeto sob o aspecto da sensação, percepção ou representação nos conduz ao objeto 
único e não à sua classe. As sensações e percepções não precisam ser fixadas materialmen-
te, mas as concepções sim. A suposição de que existam estrelas e o sol é da ordem da per-
cepção. A relação, ou seja, as estrelas são sóis, é da ordem da concepção. Para tanto, há a 
necessidade de atribuição do signo, no caso a palavra, para expressar ou fixar o pensamen-
to (ou concepção). Logo, o processo de pensar se caracteriza pela capacidade de formar 
conceitos, de generalizar. E, nesse sentido, o processo de pensamento é, por sua vez, um 
processo no qual se opera com palavras. 
 Ainda assim, embora possamos afirmar que o signo representa o pensamento, o fato 
mesmo da representação conduz à idéia de redução semiótica, tal que as representações 
variam não só pela forma de apresentação como pelo modo de interpretação. Do mesmo 
modo que posso representar uma relação por meio de uma abstração pictórica, como por 
exemplo: a rosa é maior que o livro - e desenhar uma rosa grande e um livro pequeno, a 
 30 
interpretação vai variar conforme o universo retórico presente à comparação. O desenho 
poderia ser interpretado como: gosto de rosas grandes e de livros pequenos, etc. 
 
� Produção de sentido 
Sem dúvida que, se nas etapas anteriores já há uma configuração de redução semió-
tica, o acesso ao conhecimento mediado por representações documentárias intensifica essa 
perda, considerada por Lara29 uma questão crucial do tipo: “Como representar adequada-
mente as informações sem comprometer o seu significado?” ou “Como resolver o proble-
ma da quase ausência de articulação entre os descritores para a recuperação de informações 
veiculadas pelos textos?”. As palavras são neutras. Elas assumem significados conforme 
sua inserção contextual. As palavras isoladas não significam nada, ou significam, virtual-
mente, tudo. É a condição de referência a determinados contextos que lhes confere signifi-
cado. 
 Se considerarmos, como em Gomez30, que a busca de uma informação que seja 
uma resposta pertinente e relevante às nossas perguntas requer, na modernidade, a recons-
trução de um complexo cenário onde sejam agregadas as populações de fontes e canais de 
informação de modo a permitir processos seletivos, organizados e econômicos de busca e 
recuperação, tal reconstrução vai forçosamente fazer uso de atalhos semânticos no sentido 
clássico do processo operacional presente na idealização das representações documentárias. 
Quer dizer, desconstruir o “texto” para reconstruí-lo de forma reduzida. Sem dúvida que ao 
lado da redução simbólica fica configurada a redução de significado. O paradoxo da produ-
ção de sentido no campo das memórias documentárias deve ser entendido como uma ten-
são necessária: reduzir informação para obter conhecimento. 
 Os produtos obtidos pelos processos de representação documentária, em seus vários 
graus de redução semântica, quer sejam: o texto ou objeto na íntegra, resumos, referências 
bibliográficas, índices temáticos ou notações de classes sob as formas de codificações tex-
tuais, imagéticas, sonoras e digitais, organizadas em inventários, catálogos, repertórios, 
índices, bibliografias vão ser disseminados à sociedade em função da sua demanda por 
informações. 
 
� Disseminação da Informação 
 31 
O processo de transmissão do conhecimento não é exclusivo ao modelo de organização 
da memória documentária. Ao contrário, faz parte da natureza humana a transferência de 
informações adquiridas para a geração de novos conhecimentos. No passado, a tradição 
oral era o único meio de transmissão ou difusão da informação. Segundo Mc Garry31, para 
facilitar a memorização e a evolução, a tradição coletiva era conservada na poesia ou na 
prosa rítmica e os mitos e lendas eram usados comouma espécie de enciclopédia tribal. 
Sem quaisquer outros registros paralelos para comparar, o mito, a história e a realidade 
social fundem-se num só, configurando a era da oralidade mítica. Após as escritas cunei-
formes e hieroglíficas, o alfabeto permitiu à humanidade registrar e comunicar idéias 
por meio de símbolos visuais, caracterizando a era da escrita. Por fim, o desenvolvimen-
to tecnológico dos meios de comunicação visual, sonoro e eletrônico, encurtou as distân-
cias espaço-temporais, criando uma realidade em espaço virtual e em tempo real, corres-
pondendo à era da informática-mediática, ou simulação32. 
O conceito de disseminação da informação se subordina aos conceitos de transmis-
são, divulgação ou veiculação de informações. Contudo, apresenta um diferenciador, ou 
seja, o atributo de domínio específico e geral ao mesmo tempo, ou campo de interação en-
tre o que as memórias documentárias adquirem e representam e o que necessita o ator que 
delas faz uso. A rede de relações que se estabelece entre as representações da memória 
documentária permite que a disseminação de um item extrapole a sua unidade material 
(forma e conteúdo), levando o usuário à possibilidade de obtenção de vários itens pertinen-
tes à sua necessidade de informação. Latour33 exemplifica essa característica das redes de 
informação utilizando a expressão centros de cálculo, nos quais cada informação nova, 
cada sistema de projeção favorece todos os outros. 
 Paradoxalmente a essa capacidade de extensão referencial de um item, a dissemina-
ção de informações faz uso de estratégias redutoras para impedir a oferta de informações 
não desejadas. Essas estratégias, consideradas atalhos ou filtros, não diferem daquelas 
utilizadas no nosso cotidiano quando recebemos e enviamos informações por correio tradi-
cional, correio eletrônico, telefone, fax ou por transferência eletrônica de arquivos. Nesse 
sentido, fazemos uso de guias e catálogos, geralmente organizados por temas de interesse 
ou domínios, assim como os catálogos de produtos e serviços, editores de livros e revistas 
técnicas. 
 32 
 Não poderia ser diferente nos acervos de bibliotecas, arquivos, museus, como tam-
bém no universo virtual das grandes redes de informação. Para este último, hoje nos vale-
mos de páginas de índices temáticos, organizadas em sistema hipertexto, que nada mais são 
do que uma sucessão de filtros ou de atalhos pelos quais o usuário vai selecionando o ca-
minho mais propício à localização de uma dada informação. Tais atalhos visam, portanto, a 
diminuir a ansiedade de informação, facilitando o acesso mais rápido aos conteúdos que 
venham a satisfazer uma determinada necessidade de informação. Do ponto de vista das 
instituições de memória, a disseminação é não só o estágio final do ciclo de vida do docu-
mento, como a tarefa social de garantir o direito à informação. Sem a disseminação o ciclo 
total se rompe, impedindo as novas construções e a geração de novos conhecimentos. 
 A meta-representação ou representação documentária, explicitada pelos modelos do 
ciclo de vida da informação e do sistema de recuperação da informação (SRI), deve ainda 
sofrer uma análise, no sentido de ser isolado o conceito de linguagem de comunicação, em 
especial o conceito de linguagem documentária, discussão que organizará o próximo capí-
tulo. 
 
 
NOTAS E CITAÇÕES 
 
1 VICKERY, B. C. Knowledge representation: a brief review. Op. cit., p. 145 
 
2 MENDONÇA DE SOUZA, Alfredo, DODEBEI, Vera Lucia. Modelos e sistemas em Ciência da Informa-
ção. Rio de Janeiro, UFRJ/ECO, 1992. (Terceiro Seminário apresentado à diciplina “Linguagem e Ciência 
da Informação III”). 
 
3 HAGGETT, P., Chorley, R. J. Modelos, paradigmas e a nova Geografia. In: ________. Modelos sócio-
econômicos en Geografia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos / USP, 1975. 
 
4 CLARKE, D. Models in archaeology. London : Methuen, 1972. 
 
5 BURT, P. V. , KINNUCAN, M. T. Information models and modeling techniques for information systems. 
Annual Review of Information Sciences and Technology. Holanda: Elsevier, v. 25 
 
6 MARCONDES, C. H. , SAYÃO, L. F. Teoria Geral dos Sistemas: Sistemas de Informação Rio de Janeiro: 
UFRJ/ECO, 1992. (Seminário apresentado à disciplina “Linguagem e Ciência da Informação V”, Curso de 
Doutorado em Ciência da Informação) 
 
7 MARCONDES, C.H. , SAYÃO, L.F. Op. cit., p. 15 
 
8 HAGGET, P., Chorley, R.J. op. cit. 
 
9 BURT, P.V., KINNUCAN, M.T op. cit. 
 
10 LYYTINEN, K. Two views of information modelling. Information & Management, v. 12, n. 1, jan. 1987. 
 
 33 
 
11 SHANONN, C. E., WEAVER, W. The mathematical theory of communication. Urbana: Univesity of 
Illinois Press, 1949. 
 
12 LANCASTER, F. W. Information retrieval systems: characteristics, testing and evaluation. 2. ed. New 
York: Wiley, 1979. 
 
13 VIRILIO, Paul. A máquina de visão. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. p. 9 
 
14 WANDERLEY, Manoel Adolfo. Organização da memória documentária: a matriz documentária. Rio de 
Janeiro: UNIRIO/CCH, 1980. (Notas de Aula) 
 
15 MONTGOMERY, Christine A. Automated language processing. Annual Review of Information Science 
and Technology. v. 4, p.145-174, 1969. 
 
16 Mc GARRY, K. J. Da documentação à informação: um contexto em evolução. Lisboa: Editorial Reserva, 
1984. 
 
17 Cf. MARCONDES, Carlos Henrique. Representação e economia da informação. Ci. Inf., Brasilia, v. 30, n. 
1, p. 61-70, jan./abr. 2001. 
 
18 FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas. São Paulo: Martins 
Fontes, 1994. 
 
19 MAGRO, Cristina. Representação, Virtus Dormitiva e linguagem. In: OLIVEIRA. P. ; BENN-IBLER, V. 
e MENDES, E. (orgs) Revisitações: Edição Comemorativa dos 30 anos da Faculdade de Letras. Belo Hori-
zonte: Editora FALE/UFMG. 1999. p. 29 – 44. 
 
20 GOMEZ, Maria Nelida Gonçalez. A representação do conhecimento e o conhecimento da representação: 
algumas questões epistemológicas. Ci. Inf., Brasilia, v. 22, n. 3 p. 217-222, set./dez. 1993. 
 
21 KOBASHI, Nayr Yumiko. Análise documentária e representação da informação. INFORMARE – Cad. 
Prog.Pós-Grad. Ci.Inf., Rio de Janeiro, v.2, n.2 p. 5-27, jul./dez. 1996. 
 
22 BECKER, Howard S. Apud. JARDIM, José Maria. Cartografia de uma ordem imaginária: uma análise do 
sistema nacional de arquivos. Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação. Escola de Comunicação, 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994. p.98 
 
23 MERLEAU PONTY, Maurice. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1992. p22 
 
24 SPIRKIN, A.G. Origen del lenguaje y su papel en la formacio del pensamiento. In: Les theories de 
l’action. Paris, Hachette, 1972 
 
25 GORSKY, D. P. Lenguaje y conocimiento. In: Pensamiento y lenguaje. Mexico: Grijalbo, 1966. p. 68-105. 
26 RICHAUDEAU, F. Langage et action. In: LES THÉORIES de l’action. Paris : Hachette, 1972. 
 
27 Alguns lingüistas e psicólogos contestam essa tese, principalmente os discípulos de Piaget, que deduziram 
de seus trabalhos experimentais a pré-existência do pensamento sobre a linguagem. Cf. Richaudeau, op. cit. 
p. 208. No entanto, vale a pena investigar se os experimentos piagetianos são da ordem da ontogênese ape-
nas, ou se estedem-se também à filogênese. 
 
28 SPIRKIN, A. G. op. cit., p. 114. 
 
29 LARA, Marilda Lopes Ginez de. Algumas contribuições da semiolologia e da semiótica para a análise das 
linguagens documentárias. Ci. Inf. , Brasilia, v. 22, n. 3, p. 223-226, set./dez. 1993. 
 
30 GOMEZ, Maria Nélida Gonzalez de. Op. cit. 
 
 3431Na opinião de Claude Levi-Strauss, a diferença essencial entre sociedades com escrita e sociedades sem 
escrita é que as primeiras são pluralistas e contém sempre mais de um ponto de vista, mais de uma possibili-
dade de ação. As sociedades primitivas, ou sem escrita, tendem a ser monolíticas; os modos de fazer vigen-
tes não são postos em questão e a tradição fornece definitivamente o plano de como as coisas devem fazer-
se. O pluralismo cria tensão e debate e desencadeia o futuro. Cf. Mc GARRY, K. J. op. cit., p. 43, 44. 
 
32 DODEBEI, Vera Lucia Doyle. Espaços mítico e imagético da memória social. In: Memória e espaço. Rio 
de Janeiro: 7 Letras, 2000. p. 63-71. 
 
33 LATOUR, Bruno. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: O poder das 
bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000. p. 29 
3 Língua e Linguagem 
 
 
 De acordo com a escala de complexidade das representações sociais, as linguagens 
documentárias são consideradas meta-representações ou representações documentárias, ao 
lado de outras formas de representação da informação, como resumos, catálogos, biblio-
grafias, índices, inventários, repertórios. Embora todos esses produtos pertençam ao gêne-
ro das representações documentárias, uma vez que são construídos para referenciar um 
objeto, a fim de permitir a sua distribuição e localização na memória documentária, eles 
não devem ser classificados como linguagem documentária. Os conceitos de linguagem 
documentária encontrados na literatura reduzem, por vezes, todas as formas de representa-
ção documentária à linguagem documentária, igualando assim, os dois conceitos. 
A primeira explicação possível para esse fato reside no emprego indiscriminado da 
terminologia utilizada pelos campos teórico-conceituais da representação documentária 
importados do modelo europeu, cujo foco está centrado na analyse documementaire e do 
modelo americano, que utiliza a information indexing como expressão genérica para as 
operações documentárias. A dicotomia conceitual documentação/ informação também fica 
clara na preferência dos dois modelos. Coyaud1, na introdução de seu trabalho, interroga o 
uso da expressão Ciência da Informação para as atividades documentárias, de vez que con-
sidera o problema da documentação complexo demais para ser reduzido aos métodos ma-
temáticos ou simplesmente científicos e, ainda instáveis para constituir uma possível ciên-
cia documentária. Organiza seu discurso, definindo as expressões analyse documentaire, 
indexation e langages documentaires , reservando à análise documentária o conceito ge-
nérico de processo documental que pode ser descrito em três níveis de complexidade cres-
cente: 
1º extração de palavras-chaves (i.e. de palavras naturais, não transformadas) do títu-
lo ou do corpo do documento; 
2º indexação (i.e. análise feita com a ajuda de descritores que, diferentemente das 
palavras-chaves naturais são palavras que simbolizam os conceitos organizados 
em um léxico documentário tais como as linguagens documentárias hierárquicas 
e/ou facetadas) 
 36 
3º constituição de resumo (construção de texto novo, podendo ser indicativo dos 
temas essenciais ou detalhado). 
Essa complexidade crescente, mencionada por Coyaud, lança uma luz em parte dos 
descaminhos da terminologia utilizada sem reflexão no campo das representações docu-
mentárias. Pode-se admitir, por exemplo, que não devemos falar em indexação, quando a 
análise for feita por extração de palavras naturais do texto analisado. No entanto, a expres-
são indexação há muito tempo vem sendo utilizada para indicar os dois processos, tanto o 
de extração de palavras naturais como o de extração somado à tradução em descritores. O 
que fica esclarecido, neste caso, é que os índices (naturais ou transformados) e os resumos 
resultantes destas análises não são linguagens documentárias. São, apenas, produtos da 
representação documentária. Essa é a idéia de Coyaud, que coloca a linguagem documentá-
ria na ordem dos produtos necessários à operação de transformação da língua natural em 
uma linguagem artificialmente construída para favorecer a comunicação documentária, 
preservando nestas as funções semânticas e sintáticas da primeira. Reserva-se, assim, a 
caraterística natural para a língua2 e a característica documentária para a linguagem, justi-
ficando a imprecisão da expressão “linguagem de indexação em língua natural”. 
Segundo Wanderley3, as linguagens documentárias recebem denominações diver-
sas, tais como linguagens de indexação (Melton, J.); linguagens descritoras (Vickery, B.); 
codificações documentárias (Grolier, E.); linguagens de informação (Soergel); vocabulários 
controlados (Lancaster, F.W); lista de assuntos autorizados (Montgomery, C.); e, ainda, 
linguagens de recuperação da informação, linguagens de descrição da informação. Anali-
sando os substantivos utilizados, temos: linguagem, codificação, vocabulário e lista. Para 
os qualificadores: descritoras, documentárias, informação, (termos) controlados, assuntos 
autorizados. De um modo geral, poder-se-ía afirmar que nas expressões, tanto os substanti-
vos como os adjetivos são sinônimos. As escolhas deixam transparecer as orientações teó-
rico-metodológicas adotadas pelos autores, refletidas no binômio observado anteriormente, 
isto é: informação/documentação, além da demonstração da igualdade do peso conceitual 
entre os objetos da análise: assunto, informação, descritor e, também entre as estruturas 
das representações: código, linguagem, vocabulário e lista. 
As imprecisões terminológicas situam-se em três níveis da abordagem ao problema 
da representação documentária: no objeto da análise, nos processos e nos produtos da re-
presentação. Lancaster4, menciona o problema da instabilidade terminológica ao afirmar 
 37 
que na bibliografia de Biblioteconomia e Ciência da Informação faz-se uma distinção entre 
as expressões, indexação de assuntos, catalogação de assuntos e classificação e que essas 
diferenças são inexpressivas, servindo apenas para causar confusão. Sem dúvida, o proces-
so maior que permeia e fundamenta todas essas operações é o da classificação, vista como 
a condição do pensamento de operar comparações, identificando semelhanças e diferenças 
entre os objetos e seus conceitos, tal como em Grolier5: todos os sistemas de organização 
intelectual da informação têm uma base comum e esta é a classificação, e em Rangana-
than6: classificação é o processo de tradução do nome de um determinado objeto da 
linguagem natural para uma linguagem classificatória. Já para Wanderley7, a indexa-
ção é a representação dos elementos dos documentos e a classificação é a representação 
do documento como um todo”, definição mais próxima das observações de Lancaster, nas 
quais afirma que todas essas expressões dizem respeito ao processo de classificação de um 
objeto em um campo conceitual, mediante a atribuição de um rótulo que pode ser um as-
sunto, um termo/descritor ou uma notação, mas que, objetivamente, a confusão terminoló-
gica se deve à incapacidade de distinção entre as etapas de análise conceitual e de tradução 
na indexação. 
Essa conclusão de Lancaster, da qual compartilhamos, nos leva à segunda explica-
ção que aponta o escasso interesse por parte dos bibliotecários nas discussões sobre o cam-
po teórico da representação documentária, resultando em poucas contribuições na produção 
literária. O maior número de textos existentes volta-se para as aplicações das representa-
ções e das linguagens a domínios especializados, sem manifestar o interesse em abordagens 
conceituais. 
No Brasil, um dos primeiros trabalhos que se vale das contribuições teóricas de ou-
tros campos do conhecimento, em especial da Lingüística, é também uma das primeiras 
dissertações do Mestrado em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de informação 
em Ciência

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