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ANÁLISE DE ASSUNTO TRABALHO SOBRE ÍNDICE 2018 2 AUTORES Linete Bartalo Regina Célia Alegro Vera Lúcia Guiselli Lopes Madalena Martins Lopes Naves Jéssica Camara Siqueira Lídia Alvarenga Maria Dos Remédios Da Silva Mariângela Spotti Lopes Fujita PROF.ª DR.ª GERCINA LIMA (COORDERNAÇÃO) ANÁLISE DE ASSUNTO TRABALHO SOBRE ÍNDICE 3 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................7 2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO ......................................................................................................................8 3-Índice de documentos históricos: visão multidisciplinar das áreas de Biblioteconomia, História e Informática ...............................................................................................................................................9 3.1-A Informatização do Índice ......................................................................................................... 12 4- Estudo de fatores interferentes no processo de análise de assunto ................................................ 14 4.1-Introdução ................................................................................................................................... 15 4.2- Revisão de literatura .................................................................................................................. 17 4.3- O indexador ................................................................................................................................ 17 4.4- O processo de análise de assunto .............................................................................................. 18 4.5- Metodologia ............................................................................................................................... 19 4.6- Descrição e discussão dos resultados ........................................................................................ 21 4-7- Dados sobre os indexadores ...................................................................................................... 21 4.8- Questões sobre análise de assunto ........................................................................................... 22 4.9- Análise dos protocolos verbais durante a análise de assunto dos textos ................................. 25 4.10- Discussão dos fatores identificados durante os protocolos verbais ........................................ 25 4.11- Análise comparativa dos resultados ........................................................................................ 27 5-A semiose da imagem: análise de capas de livros ............................................................................. 29 5.1-INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 29 5.2- A imagem no estudo semiótico ................................................................................................. 32 5.3- Análise das capas de livros – metodologia ................................................................................ 33 5.4- Análise da capa do livro “Ciência da Informação” ..................................................................... 33 5.5- Análise da capa do livro Métodos para a pesquisa em Ciência da Informação ........................ 35 5.6- Análise da capa do livro Ciência da Informação – abordagens transdisciplinares, gêneses e aplicações .......................................................................................................................................... 37 5.7- Considerações Finais .................................................................................................................. 38 6-Teoria do Conceito Revisitada em Conexão com Ontologias e Metadados no Contexto das Bibliotecas Tradicionais e Digitais ......................................................................................................... 40 6.1- Introdução, problema e contexto .............................................................................................. 40 6.2- Conceito como elemento invariável .......................................................................................... 45 6.3- Tratamento e organização da informação na internet .............................................................. 48 6.4- Classificação ............................................................................................................................... 49 5 6.5- Ontologias e metadados ............................................................................................................ 51 6.6- As pesquisas no campo da classificação e da recuperação semântica na web ......................... 53 6.7- Conclusão ................................................................................................................................... 55 7- A prática de indexação: análise da evolução de tendências teóricas e metodológicas ................... 56 The indexing practice: a development analysis of theoretical and methodological trends ................. 56 7.1- R E S U M O ................................................................................................................................ 56 7.2- I N T R O D U Ç Ã O ..................................................................................................................... 57 7.3- A Indexação em revisão de literatura fundamental .................................................................. 58 7.4- Conceituação de indexação ....................................................................................................... 58 7.5- História da Indexação ................................................................................................................. 59 7.6- Aspectos teóricos e metodológicos da indexação ..................................................................... 61 7.7-Indexação alfabética de assunto ................................................................................................. 62 7.8- Indexação coordenada ............................................................................................................... 64 7.9- Indexação automática ................................................................................................................ 64 7.10- Leitura documentária ............................................................................................................... 66 7.11- Tematicidade ............................................................................................................................ 67 7.12- Aspectos Linguísticos ............................................................................................................... 68 7.13- Aspectos lógicos ....................................................................................................................... 69 7.14- Aspectos cognitivos .................................................................................................................. 70 7.15- Procedimentos de indexação ................................................................................................... 71 7.16- Revisão de literatura de relatos de experiência: resultados discutidos com os temas da revisão de literatura fundamental .................................................................................................... 72 7.17- CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 73 7.18- R E F E R Ê N C I A S ...................................................................................................................74 Í N D I C E R E M I S S I V O .................................................................................................................. 77 INDICE POR AUTORES............................................................................................................................ 78 BARTALO, Linete; ALEGRO, Regina Célia ; LOPES Vera Lúcia Guiselli 16 ........... 78 NAVES ,Madalena Martins Lopes. 22 ..................................................................................... 78 SIQUEIRA ,Jéssica Camara 36 ................................................................................................ 78 ALVARENGA,Lídia 46 .............................................................................................................. 78 SILVA, Maria dos Remédios da. FUJITA, Mariângela Spotti Lopes 61 ............................... 78 10 ANÁLISE PESSOAL ............................................................................................................................. 79 10.1 EDUARDO LEITE ALMEIDA .............................................................................................. 79 10.3 NÍLBIA ELGINA BRAZ STUART ....................................................................................... 79 6 10.3 PEDRO HENRIQUE WESTIM ............................................................................................ 80 10.4 WAGNER DA PAIXÃO SERAFIM ..................................................................................... 80 7 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho foi realizado para que possamos praticar as normas que regem a indexação com objetivo de nos tornarmos cada vez mais capacitados para exercer nossa futura profissão. O índice foi construído por profissionais das áreas de Biblioteconomia, História e Informática, visando alcançar o objetivo maior de propiciar a recuperação rápida e segura das informações constantes na referida documentação. O Índice e a enumeração detalhada dos assuntos, nomes de pessoas, nomes geográficos, acontecimentos, etc., com a indicação de sua localização no texto, com regras e normas que constam da NBR 6034. 8 2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO O que não é: ▪ Uma lista de Procedimentos s serem seguidos. O que deve ser: ▪ É um conjunto de decisões que esclareçam os interesses e objetivos de um Sistema de Informação e do sistema de Recuperação da Informação. O que a Política decide: ▪ Consistência dos procedimentos de indexação. ▪ Delimitação de cobertura temática em níveis qualitativos e quantitativos tendo em vista os domínios de assuntos e as demandas dos usuários. No entanto, para que essa correspondência aconteça, a adoção de uma política de indexação torna-se imprescindível, pois ela será norteadora de princípios e critérios que servirão de guia na tomada de decisões para otimização do serviço e da racionalização dos processos. ⇒ Entrada ▪ Os documentos são adquiridos por meio de uma política de seleção baseada nas necessidades de uma comunidade de usuários. ▪ Os documentos são organizados e representados quanto à forma através da catalogação e quanto ao conteúdo mediante a classificação, indexação e elaboração de resumos. ▪ Armazenagem dos documentos de acordo com a organização adotada pelo sistema. ▪ Construção das bases de dados bibliográficas que servirão como suporte e indicadores na recuperação da informação. ⇒ Saída ▪ O serviço de informação atende às demandas dos seus usuários mediante elaboração de estratégias de busca de informação que devem ser compatíveis com a indexação e linguagem de indexação adotada pelo sistema e mediante a difusão seletiva da informação planejada entre profissionais e pesquisadores ou usuários ou, ainda, pelos próprios usuários. 9 3-Índice de documentos históricos: visão multidisciplinar das áreas de Biblioteconomia, História e Informática Linete Bartalo Regina Célia Alegro Vera Lúcia Guiselli Lopes Resumo Descreve a elaboração de um índice para a documentação das Antigas Faculdades existentes em Londrina no período de 1956 a 1971, que deram origem à Universidade Estadual de Londrina (UEL). O índice foi construído por profissionais das áreas de Biblioteconomia, História e Informática, visando alcançar o objetivo maior de propiciar a recuperação rápida e segura das informações constantes na referida documentação. Enfatiza a necessidade da visão multidisciplinar no planejamento da organização documental desta natureza, buscando, na articulação das áreas, o aprimoramento do produto. Palavras-Chave Documentos históricos. Biblioteconomia. História. Informática. Desde que a humanidade iniciou o registro dos seus feitos, estava pressuposta uma preocupação com a recuperação desses feitos, motivada pelas mais diferentes necessidades, desde a simples curiosidade até a prova dos fatos. A criação, o registro e a disseminação do conhecimento têm sido apontados pela literatura como formas de libertação do homem (Melo, 1982). Libertação no sentido de posicioná-lo como ser histórico no tempo e no espaço em que vive, com a possibilidade de usufruir dos conhecimentos acumulados ao longo do tempo, bem como relacionar-se com esses conhecimentos no seu tempo e espaço. A possibilidade deste relacionamento, oferece ao homem a oportunidade de, vencendo estas barreiras de tempo e espaço, produzir novos conhecimentos, respaldado por aqueles conhecimentos produzidos e acumulados por seus antecessores. Neste sentido, a preocupação com a organização das fontes para a pesquisa faz-se presente em todas as áreas de produção do conhecimento, e, no trabalho aqui apresentado, desenvolve-se em relação às Antigas Faculdades de Londrina, das quais se originou a UEL (Universidade Estadual de Londrina). Em relação à história das Instituições, Côrte (1995, p. 5) lembra que “conhecer a história das Instituições e contribuir para a evolução do processo histórico é responsabilidade de todos os agentes envolvidos na 10 geração, guarda e difusão da informação, sob qualquer suporte documental.”. E alerta que “bibliotecários, arquivistas, historiadores têm, acima de qualquer outro profissional, a responsabilidade pela preservação da memória institucional, que deve ter como objetivos básicos recuperar, preservar, organizar, armazenar e tornar disponíveis as informações referentes à produção intelectual das instituições”. Fundada em 1934, Londrina ganhou sua primeira escola superior, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras em 1956 e logo em seguida, no mesmo ano, a Faculdade Estadual de Direito. Depois vieram a Faculdade de Odontologia (1962), a Faculdade de Medicina (1966) e a Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis (1968). A junção destas Faculdades deu origem, em 1971, à Universidade Estadual de Londrina. Toda a documentação acumulada neste período (1956 a 1971), registro das atividades técnico-didático-administrativas dessas Faculdades, encerra dados que contam não só as trajetórias das mesmas, como também uma parte da história da educação da cidade, da região, do país. Trata-se de exemplares únicos, investidos de importância por conter em si registros das relações e projetos que deram origem às Antigas Faculdades, que evidenciam a multiplicidade de experiências e objetivos que determinaram aquele momento, e que podem, ainda, revelar outras memórias, conforme permitam a organização da documentação e as interrogações que os pesquisadores estabelecerem. Isto posto, pergunta-se: como recuperar informações específicas espalhadas pelas 52.500 (cinquenta e duas mil e quinhentas) páginas de documentos, distribuídas entre os livros de atas dos mais diversos assuntos, processos de reconhecimento de cursos, relatórios de atividades, livrosde registro de contratações de professores e funcionários, e outros documentos? No momento da produção destes registros, a única preocupação foi com a sua fidelidade aos fatos, para fins administrativos, ou seja, ao ser produzido, sempre, o documento o é “por e para a administração” (Bellotto, 1989, p. 42). Posteriormente, a preocupação passa a ser com a preservação das informações para os mais diversos usos, destacando-se entre eles as pesquisas Institucional e Histórica, conforme salienta a autora ao concluir seu pensamento de que o documento é produzido por/para a administração “e preservado para a História”. A necessidade de organizar a massa documental das Antigas Faculdades de Londrina, visando facilitar sua recuperação, mostrou-se pelo grande volume de consultas da comunidade universitária que, ao longo do tempo, vinha aumentando. Para efeito de preservação física, o acervo foi microfilmado e a partir disto seu uso passou a ser feito pela cópia micro gráfica. São 21 rolos de microfilme com 2500 fotogramas cada. Se a recuperação das informações nos documentos originais era precária, no microfilme continua precária pois a única mudança foi o suporte. Em função desta situação, foi elaborado um projeto de pesquisa para indexação desta massa documental, “visando a recuperação rápida e segura de suas informações”. Para alcançar este objetivo geral, estabeleceu-se a seguinte metodologia: (1) análise documental, donde extraiu-se os termos que representam os assuntos; (2) registro dos termos com as respectivas indicações do número do filme, a posição do fotograma 11 no mesmo tipo de documento que contém a informação, faculdade a qual pertence, número de página do documento original, número de registro do mesmo e data; (3) criação e implementação de um software para armazenar/recuperar os assuntos; (4) implantação dos termos no sistema informatizado das Antigas Faculdades, através dos diversos terminais de vídeo distribuídos pelo Campus; (5) transferência da documentação original ao CDPH-Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da UEL; (6) disponibilização do índice à comunidade universitária. O envolvimento das áreas de Biblioteconomia, História e Informática deveu-se à necessidade de visão multidisciplinar, em função do objeto de estudo constituir-se em patrimônio histórico com um grande volume de informações. Além disso, a metodologia utilizada assim o exigia, pois a análise documental constitui-se em atividade comum às áreas de Biblioteconomia e História, apesar de ter suas especificidades, sendo que a primeira preocupa-se primordialmente com a indexação para a recuperação da informação e a segunda, principalmente com o fato, a história presente no documento. Quanto à necessidade de um software com especificidades para as informações desse acervo, foi necessário o trabalho da área de Informática. A multidisciplinaridade, nesse caso, trouxe benefícios para as três áreas, na medida em que esta articulação promoveu o aprendizado dos profissionais e dos alunos que participaram da execução do trabalho. Beneficiou ainda o usuário dessa informação por ter produzido um índice mais eficiente. A ênfase na organização da massa documental pressupõe, evidentemente, a preservação do acervo. Bellotto (1989, p. 40), coloca os objetivos que se alcançam com a preservação: “Preserva-se para que se possa obter em qualquer momento, um conjunto tal de informações que, por meio dele, possa conhecer- se, analisar e explicar a origem, o funcionamento, a atenuação e o desaparecimento (se for o caso), das entidades produtoras/ acumuladoras dos documentos (...) sendo os referenciais para o conhecimento de estruturas, de fatos e de acontecimentos que deram forma à sociedade que os produziu e os abrigou.” O trabalho desenvolvido por Drumond e Fiuza (1988, p. 244) no Projeto Memória da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG) delineia esta preocupação com a preservação da memória ao fazer constar como um dos itens do Projeto, os Documentos Históricos (Atas da Congregação, do Conselho Departamental, dos Colegiados e dos Departamentos). Com o objetivo geral de “recuperar, preservar, organizar, armazenar e divulgar os documentos referentes à Memória da FAE/UFMG”, utilizou-se como metodologia a “leitura das atas, anotação dos assuntos registrados, análise dos assuntos, formalização e normalização dos respectivos cabeçalhos”, prevendo-se que aquele projeto propicie a produção da memória histórica, administrativa, científica e cultural da Faculdade de Educação da UFMG. Nesse sentido, a elaboração do índice para a documentação das Antigas Faculdades de Londrina é uma iniciativa com propósitos comuns aos do Projeto Memória da UFMG. Iniciativas semelhantes vêm 12 acontecendo em Órgãos Públicos, tanto a nível federal como estadual e municipal, tendo como objetivo comum a preservação e organização das informações que registram a História. Dessa forma, pode-se concluir que está acontecendo uma conscientização a respeito da importância da preservação e divulgação da História para as novas gerações, o que com toda a certeza contribuirá para a melhoria do processo maior de mudanças sociais com vistas ao Século XXI. Outro aspecto merece ser indicado, quando trata-se da organização de acervos documentais: além de facilitadora da pesquisa, tem um caráter educativo. Fernandes (1993, p. 273) quando discute uma política cultural adequada à proteção, resgate e preservação do Patrimônio Histórico- Cultural, afirma que esta tem três grandes áreas de ação: a pesquisa, a preservação e a educação patrimonial. Para Fernandes, os “lugares da memória” - os arquivos, por exemplo - devem ser utilizados no processo educativo, “de forma a despertar nos educandos e na sociedade o senso de preservação da memória histórica e o conseqüente interesse pelo tema”. Uma coleção organizada, com certeza, constitui-se em excelente recurso didático para o conhecimento do passado. Até porque ela é, em si mesma, educativa. Ainda, para que se efetive um processo de educação patrimonial há que se garantir antes o acesso aos bens culturais. Pode-se afirmar que a elaboração desse índice cumpriu papéis nas três áreas apontadas por Fernandes (1993), tendo possibilitado a pesquisa ao colocar à disposição da comunidade o acervo das Antigas Faculdades de Londrina. Ao analisar, microfilmar e transferir o acervo documental para o Centro de Documentação e Pesquisa Histórica, desenvolveu procedimentos de preservação. Quanto à educação patrimonial, foram desenvolvidos três subprojetos de pesquisa de iniciação científica, vinculados a esse Projeto de Pesquisa, um na área de História e dois na de Biblioteconomia, executados por alguns dos alunos que trabalharam como bolsistas de Iniciação Científica. 3.1-A Informatização do Índice Na análise dos requisitos para elaboração do sistema informatizado, verificou-se a necessidade de que ele possibilitasse a recuperação de dados por tipo de documento e por referências. Em função disso, as bases de dados receberam a seguinte organização: • Cadastro de filmes - número do filme, localização do filme (sala, armário, gaveta, ordem) e os mesmos dados para o filme de segurança. • Cadastro de Faculdades - Registro das Faculdades que originaram a Universidade Estadual de Londrina. Neste cadastro constam: número de seqüência, nome da Faculdade, sigla, data de criação e data de extinção. • Cadastro de Grupos de Documentos: Este cadastro foi definido conforme o agrupamento dos documentos para a microfilmagem, relacionando- se ao cadastro de Faculdades. Um livro de atas, por exemplo, foi microfilmado em 13 seqüência de atas, mas sem sinalização de subdivisão para cada ata. Nesse caso, o livro de atas é o Grupo de documentos e cada ata, um documento. Os dados constituintes do cadastro de Grupos de Documentos são: número da Faculdade, número do Grupode Documentos, ano de referência, descrição do Grupo e número de documentos que o compõe, órgão destino do documento (Grupo) original, data de destinação, número e ano do documento de encaminhamento. • Cadastro de Documentos - Esse cadastro relaciona-se ao cadastro de Grupos de documentos, que por sua vez relaciona-se ao cadastro de Faculdades e tem como finalidade prin- cipal a descrição de cada documento que compõe o Grupo de Documentos. Se o grupo, por exemplo, for um livro de atas, nesse arquivo são descritas as atas que foram registradas nesse livro. Os dados são: Número da Faculdade, número do Grupo de Documentos, número do Documento (atribuído automaticamente pelo sistema, seqüencialmente), tipo do documento e descrição do documento.Além desses dados, são registrados a data do documento, página inicial e página final do documento no Grupo de Documentos. • Tabela de Tipos de Documentos – Tabela auxiliar onde são codificados e descritos os tipos de documentos que podem ser registrados pelo sistema. • Cadastro de cabeçalhos/referências - Neste cadastro são registradas as palavras ou frases que representam o(s) assunto(s) dos documentos, resultado da análise documental realizada. Este cadastro vincula-se ao cadastro de documentos. • Cadastro de Fonemas: Todo o texto implantado no sistema (Descrição do Grupo de Documentos, Descrição do Documento e cabeçalhos), é registrado através de fonemas, que servem como base para as recuperações das informações. Para possibilitar uma recuperação eficiente, obedeceu-se a uma certa padronização dos elementos, selecionando-se apenas uma entre as palavras que são sinônimos ou que possam vir a ter o mesmo significado, mantendo esta padronização durante todo o trabalho. Além disso, não foram utilizadas abreviaturas de palavras, por exemplo: adm., administ., administr., que podem ser administrativo, administração, etc. Optou-se por uma linguagem livre, sem o uso de instrumentos de padronização, devido ao caráter específico dos assuntos da coleção documental das Antigas Faculdades, cuja inserção é importante, considerando que a documentação contém informações históricas da Instituição, que servirão aos mais diversos usos, sendo que o nível de especificidade utilizado foi o mais profundo possível. Nesse sentido, Carneiro (1985, p. 233) ao discutir o nível de especificidade que os índices de assunto devem apresentar, lembra que “se o sistema é automatizado e sua área de assunto é bastante específica, poderá ser escolhida uma linguagem livre, cuja maior vantagem é a rapidez na indexação e a possibilidade de se utilizar pessoal menos qualificado”. Cada cabeçalho é fonetizado, ou seja, separado em fonemas e gravado no arquivo para possibilitar recuperações tais como, nomes completos ou incompletos, relacionar nomes de pessoas ou órgãos com 14 atividades administrativas ou acadêmicas e ainda relações entre atividades. A pesquisa fonética facilita a recuperação do assunto no sistema, uma vez que não exige a grafia correta da palavra, e sim, a grafia de sua pronúncia. Assim, a recuperação da informação torna-se mais rápida e eficiente que a recuperação em sistemas convencionais, pois o sistema não precisa comparar todos os cabeçalhos nele alocados. Para a documentação das Antigas Faculdades, cujos nomes de pessoas, tais como diretores e secretários foram indexados, a fonetização facilitou sobremaneira a sua recuperação. O registro dos cabeçalhos possibilitou recuperações do tipo: • Em quais documentos está registrado o nome do professor X? • Em quais documentos está registrado o nome do Colegiado do Curso X? • Quais são os documentos da Faculdade X que tratam do curso Y? • Quais são os documentos em que aparecem um conjunto de palavras, por exemplo, relação de alunos aprovados? Desta forma as buscas poderão ser mais eficientes, de acordo com o número de parâmetros que o usuário disponha sobre a informação desejada. Em resumo, o desenvolvimento do sistema dividiu-se em duas partes: a primeira consistiu da organização das rotinas que permitem o cadastramento dos dados descritos e a fonetização dos cabeçalhos. A segunda parte foi a elaboração de rotinas de consulta e recuperação fonética, a fim de liberar a consulta on line do índice para toda a comunidade Universitária, sendo possível, também, a emissão de relatórios se necessário. O sistema Informatizado das Antigas Faculdades foi desenvolvido e implantado no computador IBM 3090 em arquivos VSAM utilizando a linguagem CSP (Cross System Program). Este sistema deverá ser transferido para a rede de micros que encontra-se em processo de instalação na UEL e posteriormente disponibilizado na Rede Internet. 4- Estudo de fatores interferentes no processo de análise de assunto Madalena Martins Lopes Naves 15 No contexto da ciência da informação destaca-se a Análise de assunto como uma das etapas mais importantes da indexação. O responsável pela atividade é o indexador, que dá início ao processo com subjetividade, conhecimento prévio, formação acadêmica e experiência. O objetivo da pesquisa é mostrar que vários fatores interferem em Análise de assunto, tendo sido feito um estudo exploratório com estudo de caso de sete indexadores separados por grupos, por tempo de experiência em indexação. Os resultados mostram que a questão primordial para o desenvolvimento do processo é a compreensão do texto, e que esse processo não deve ser visto isoladamente dentro da ciência da informação, havendo necessidade de se buscar contribuições de outras áreas interdisciplinares. Palavras-chave: Análise de assunto, Indexação, Indexador 4.1-Introdução 16 O aumento da produção científica aliado à crescente interdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento que vem ocorrendo nas últimas décadas tem tornado o trabalho de organização e tratamento da informação cada vez mais árduo e complexo. No campo da ciência da informação, a ação de identificar e descrever o conteúdo de um documento ocorre na indexação, na classificação ou na catalogação de assuntos. A indexação é considerada como processo básico na recuperação da informação e, dentro desse processo, ocorre a compreensão e a interpretação do conteúdo informativo do documento, através de atividade chamada análise de assunto. A complexidade da análise de assunto, sendo esta a primeira etapa da indexação, vem sendo, há muito, apontada e discutida por professores e especialistas da área. Vários são os motivos que levam a esse julgamento em relação a tal disciplina, como a confusão conceitual em que está envolvida, por sofrer interferência de vários fatores, muitas vezes ignorados por quem a executa, e por ser difícil de ser realizada e ensinada. Pode-se, mesmo, verificar que há carência de pesquisas teóricas que se aprofundem sobre o tema, tendo-se dado maior ênfase aos estudos de linguagens de indexação, do que à própria análise de assunto. A definição do tema, objeto desta pesquisa, baseou-se na idéia de que o processo de análise de assunto deve ser independente do vocabulário controlado utilizado no sistema de recuperação da informação e de que a preocupação para com as necessidades do usuário, embora muito importante, só deve ser atendida numa etapa posterior à determinação do assunto do documento. Acredita-se que haja diferença entre os fatores que interferem na análise de assunto de textos de diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de constatação surgida gradualmente durante a prática de indexar e ao longo do ensino de indexação, tendo sido referendada pelas leituras feitas no decorrer da revisão de literatura. Dois são os pressupostos que orientaram a pesquisa: a) Os fatores interferentes no processo de análise de assunto variam de acordo com o tempo de experiência dos indexadores no trabalho de indexação. b) A análise de assuntoocorre de forma diferenciada nas diversas áreas do conhecimento, pelas especificidades de cada área, como o tipo de textos produzidos e da terminologia usada pelos especialistas, e a existência, ou não, de uma taxonomia de assuntos, dentre outras. O objetivo geral proposto para nortear o estudo exploratório da identificação de fatores interferentes no processo de análise de assunto foi o de tentar mostrar que, durante o trabalho de indexadores, diversos fatores interferem no processo de análise de assunto. Como objetivos específicos, pretendeu-se: aprofundar nos estudos teóricos do processo de análise de assunto para tentar delinear melhor certos aspectos que dificultam o entendimento da área; levantar características e opiniões de indexadores sobre análise de assunto; observar o comportamento de indexadores durante o processo em que analisam textos para definição de assuntos; identificar e comparar fatores que interferem no processo de trabalho de indexadores com tempos diversos de experiência em indexação; conhecer a formação acadêmica dos indexadores, e comparar os fatores que interferem nas análises de assunto de textos nas disciplinas sociologia e botânica. Análise de assunto é um tema que pode ser estudado sob vários aspectos. Neste trabalho, ele é abordado do ponto de vista do indexador, por se acreditar que todo o processo seja iniciado por esse profissional, no momento da leitura do texto e da definição do assunto do documento. 17 4.2- Revisão de literatura A revisão de literatura feita para esta pesquisa abordou os seguintes temas: a importância do papel do indexador, o processo de análise de assunto como primeira etapa da indexação de assuntos e a interdisciplinaridade em análise de assunto. 4.3- O indexador O indexador é definido como responsável por todo o processo de análise de assunto, tendo a sua figura ocupado um papel de destaque neste trabalho, pois a ele é creditado, em grande parte, o sucesso ou o insucesso de um sistema de recuperação da informação. Algumas considerações devem ser feitas, inicialmente, sobre o profissional da informação. BARBOSA (1998) acredita que não há uma definição universalmente aceita a respeito de quem se constitui o profissional da informação, podendo este ser um pesquisador, um engenheiro, projetista, desenhista industrial, gerente, contador. Cita STRASSMAN, que adota uma conceituação abrangente e define o profissional da informação como, simplesmente, aquele que trabalha com informação, em vez de com objetos. O nome profissional da informação é cada vez mais aceito na América do Norte e Grâ-Bretanha. O autor levanta uma série de questões com relação à formação, à denominação e à imagem do profissional da informação e faz uma crítica à legislação brasileira, que regulamenta o exercício profissional que, segundo ele, não se encontra em sintonia com as novas realidades com as quais vai deparar-se. A grande maioria dos profissionais que exercem atividades relacionadas ao tratamento e à organização da informação são graduados em biblioteconomia, mas o próprio nome do profissional bibliotecário já vem sendo um fator que limita a idéia da vasta abrangência da área de atuação desse profissional. O profissional da informação tem uma imagem pública pobre e estudos mostram características de introversão, falta de confiança em seu desempenho e de talento na capacidade de comunicar-se. Para tentar melhorar a sua imagem, o profissional da informação deve lutar no sentido de divulgar seu trabalho e a importância do seu papel na eficácia de um sistema de recuperação da informação. Deve investir na educação continuada, procurando estar sempre atualizado, bem como procurar aprofundar-se nas teorias que servem de embasamento às suas atividades, para ter senso crítico e não exercê-las mecanicamente. São várias as especializações ocupadas pelos profissionais da informação, dependendo da função e da atividade que desenvolvem. Mas, na maioria das vezes, eles são generalistas, desenvolvendo diversos tipos de atividades. No caso do processamento técnico do acervo de documentos, o profissional responsável pela catalogação, classificação e indexação, costuma ter a formação bibliotecária, e receber o nome de indexador. Quando se fala em indexador é preciso estar atendo à precisão conceitual do termo. Nas literaturas inglesa e americana, o termo indexador é aplicado tanto àquela pessoa que elabora índices de textos ou livros quanto àquela que faz a indexação acadêmica. O termo é adotado para referir-se a todos aqueles que fazem o tratamento de assunto, cuja tarefa seria a de analisar o assunto de um item, descrevê-lo em termos próprios e traduzi-los para a linguagem específica do sistema. 18 Diante das novas tecnologias da informação e da evolução de softwares desenvolvidos para tornar a indexação mais eficaz e rápida, certas questões estão sempre presentes nas discussões dos profissionais que lidam com informação: Qual será o futuro do indexador? Diante das bibliotecas virtuais e de textos digitalizados em sofisticados sistemas e bases de dados, haverá lugar para o indexador humano? Se este permanecer, qual será o seu papel? Observa-se, pelas discussões sobre o tema, que não se conseguiu, pelo menos até hoje, transferir para a máquina o tipo de tarefa em que estão presentes elementos como a abstração, a percepção, a interpretação e outros processos inerentes ao funcionamento da mente humana. Apesar dos inúmeros esforços de equipes interdisciplinares que envolvem analistas de sistemas, profissionais da informação, lingüistas e psicólogos, esses pontos parecem constituir o limite do computador. Os fatores considerados mais importantes com relação à influência do indexador no processo de análise de assunto são a subjetividade (diferentes indivíduos criam diferentes figuras ou idéias de uma mesma informação externa, por causa de suas inclinações pessoais e afetivas, que certamente interferem no trabalho por eles desenvolvido), o conhecimento prévio (se refere ao estoque de conhecimento armazenado na memória do indivíduo, assimilado e adquirido em suas vivências) e a sua formação e experiência (um mínimo de conhecimentos da área em que se está indexando é obviamente indispensável). A atividade desempenhada pelo indexador é a indexação, e o principal processo desenvolvido por ele á a análise de assunto. 4.4- O processo de análise de assunto Para que se possa contextualizar o processo de análise de assunto é preciso que se esclareça como ocorre a indexação, tema que ainda não obteve grandes suportes teóricos. Compreende duas etapas distintas: a análise de assunto, quando ocorre a extração de conceitos que possam representar o conteúdo de um documento, expressos em linguagem natural, e a tradução desses termos para termos de instrumentos de indexação, que são as chamadas linguagens de indexação. FUGMANN (1985) afirma que a indexação é o processo de: (a) discernir a essência de um documento e (b) representar essa essência com um grau suficiente de predicabilidade e fidelidade, isto é, num modo de expressão em linguagem de indexação. A indexação é entendida como o caráter integrativo das duas etapas da indexação e acredita que, apesar de distintas, é preciso admitir que se trata de uma única operação realizada em dois momentos. Estudos de indexação se debruçam, principalmente, sobre as questões das linguagens utilizadas no sistema de recuperação. Segundo FROHMANN (1990), muitas pesquisas focalizam apenas aspectos da segunda etapa da indexação, enquanto sobre a primeira etapa, a Análise de assunto, considerada como uma operação intelectual junto à indexação, pouco é feito. Ele se vale de um pensamento de FOSKETT, quando diz que a operação chave da indexação, que é a decisão sobre o que o documento é, ainda é menos discutida e a menos redutível a regras. Este estudo dá ênfase à primeira etapa da indexação, mostra a divisão doprocesso em fases e sua interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento. 19 O processo de ler um documento para extrair conceitos que traduzam a sua essência é conhecido como análise de assunto, para alguns, como análise temática, para outros, ou, ainda, como análise documentária, análise conceitual ou, mesmo, análise de conteúdo. Como se pode ver, trata-se também de um processo em que há uma certa confusão conceitual e para o qual aparecem diferentes concepções. NAVES (1996) mostra os diferentes sentidos dados, ao termo, na literatura. O processo de análise de assunto, do ponto de vista do indexador, é iniciado com a fase de leitura do texto. Para isso, é necessário que se conheçam tipos e estruturas de textos para iniciar-se a sua leitura com fins específicos. Após essa leitura, passa-se à fase da extração de conceitos que possam representar o conteúdo temático do texto, para se chegar ao momento da fase de representação da atinência (aboutness), em que são definidos os termos em linguagem natural, denominados por FROHMANN (1990) de frases de indexação, que, depois de traduzidos para uma linguagem de indexação, passam a ser chamados de descritores de assunto, cabeçalhos de assunto, palavras-chave, termos de indexação ou enunciados. Todas asfases do processo sofrem interferência de fatores lingüísticos, cognitivos e lógicos, o que dá ao processo de análise de assunto um caráter interdisciplinar. Sabe-se que o processo de análise de assunto se realiza a partir de uma figura central: o indexador. Além da política de indexação adotada pelo sistema, tipo de vocabulário utilizado (linguagem natural ou artificial), objetivos da instituição, perfil e necessidades de informação dos usuários, o principal fator que interfere diretamente no processo parece ser, assim, o fator humano. No ato de pensar, quando faz abstrações, interpreta e define o assunto de um documento, o indexador sofre influência de diversos fatores pertencentes a vários campos, principalmente oriundos da lingüística, da ciência cognitiva e da lógica. Duas autoras e especialistas na área de ciência da informação, que tratam em profundidade o tema deste estudo, são Clare Beghtol, pesquisadora canadense, e Maria Pinto Molina, professora espanhola. (BEGHTOL, 1986, PINTO MOLINA, 1994). 4.5- Metodologia Este estudo teve a intenção de analisar o processo de análise de assunto e os fatores interferentes nessa primeira fase da indexação e, para tanto, foi feita a escolha da abordagem pelo ponto de vista do indexador, por ser este considerado aquele que dá início a todo o processo e, por isso, responsável por grande parte de sua eficácia. Acredita-se que o estudo comparativo entre os casos de indexadores com tempos diferentes de experiência em indexação, bem como a comparação entre o processo de análise de assunto de uma disciplina da área de ciências sociais e humanas e outra da área de ciências biológicas possam comprovar os dois pressupostos levantados inicialmente. Nesta pesquisa, para fazer um estudo comparativo, são escolhidas as disciplinas sociologia e botânica, por serem áreas com características diferentes, propósitos e linhas de trabalho bem diversas, a segunda possuindo uma taxonomia definida entre suas classes de assuntos, o que já não acontece com a primeira. Consequentemente presume-se que os indexadores procedam de maneiras diferentes, e sofram interferência de fatores diversos durante o processo de análise de assunto dessas duas áreas. 20 Foi feito um estudo de caso de 6 (seis) indexadores, divididos em três grupos, a saber: • GRUPO 1 – 2 (dois) indexadores experientes (com mais de três anos exercendo a atividade de indexação, independente da área de atuação); • GRUPO 2 – 2 (dois) indexadores pouco experientes (com experiência de mais de um ano a três anos exercendo a atividade); • GRUPO 3 – 2 (dois) indexadores novatos (recém-formados, até um ano de experiência). Para testar a metodologia a ser utilizada para coleta de dados, foi feito, com um elemento escolhido, um pré-teste, aqui denominado de Estudo Piloto (EP). Devido à riqueza de detalhes com que esse estudo se apresentou, optou-se por inclui-lo nos dados a serem analisados totalizando, assim, 7 (sete) indexadores entrevistados. Para a coleta de dados foi aplicada a entrevista semi-estruturada, dividida em três partes: • 1ª Parte – Dados sobre os indexadores • 2ª Parte – Questões sobre análise de assunto • 3ª Parte – Análise dos protocolos verbais da análise de assunto de dois textos: • TEXTO 1 – Sociologia e TEXTO 2 – Botânica A escolha dos textos obedeceu aos seguintes critérios: periódicos nacionais (para evitar a barreira da língua), fascículos ainda não indexados pelas bibliotecas selecionadas, artigos pequenos e com resumos. Os dois textos são os seguintes: • TEXTO 1: REIS FILHO, Daniel Aarão. 1968; o curto ano de todos os desejos. Tempo Social; Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 10, n.2, p.25-35, out. 1998. • TEXTO 2: COELHO, Marcus A . Nadruz, MAYO, Simon J. Cinco espécies novas do gênero Philodendron Schott (Araceae) para o Brasil. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo, São Paulo, v.17, p.17-60, 1998. As entrevistas foram feitas no ambiente de trabalho dos indexadores e combinadas com a observação do comportamento dos mesmos durante a análise. Foram gravadas em fitas cassete, com o consentimento dos entrevistados. O roteiro abordou temas como: fases do processo de análise de assunto, requisitos básicos para se fazer análise de assunto, aspectos do conteúdo do texto examinado, considerados importantes na determinação de atinência, fatores interferentes no processo e divergência na análise dos textos de sociologia e de botânica. Na 3ª Parte da entrevista foi aplicada a Análise de Protocolos, no caso, o Protocolo verbal, com a técnica do Pensar alto (Think aloud). Essa técnica, usada em análise qualitativa, é feita através da aplicação de entrevistas e é discutida por ERICSSON e SIMON (1990), que dão explicações detalhadas da aplicação da metodologia, das dúvidas pertinentes, dos tipos de procedimentos, das formas de comprovação e de detalhes de especificação. O trabalho desses autores analisa ainda a validade dos protocolos verbais como dados. Usam a estrutura teórica do processamento de informação humano para propor um modelo para os processos de verbalização de sujeitos instruídos a pensar alto, para obter registros verbais retrospectivos ou para produzir outros tipos de verbalização em resposta às instruções de experimentadores. 21 No campo da ciência da informação, a técnica já vem sendo utilizada por alguns pesquisadores, como INGWERSEN (1982), DAVID et al. (1995) e, mais recentemente, na pesquisa de FUJITA (1999). A transcrição dos protocolos verbais é feita e, para analisar seu conteúdo, é aplicada a técnica de análise de conteúdo, um instrumento oferecido pelas ciências humanas, cujo objetivo é promover inferências, tendo ainda uma função heurística, o que enriquece a tentativa exploratória. 4.6- Descrição e discussão dos resultados Conforme a proposta apresentada na Metodologia, a entrevista seguiu um roteiro pré-determinado, tendo sido dividida em três partes; este item descreve e discute os principais resultados obtidos em cada parte da entrevista. Essa separação foi feita visando-se conhecer, inicialmente, a opinião dos entrevistados sobre análise de assunto (dados obtidos na 2ª parte) para, posteriormente, conhecer-se o que eles pensam durante o processo de análise de assunto (dados obtidos na 3ª parte, durante os protocolos verbais). 4-7- Dados sobre os indexadores Os dados sobre os indexadores têm o intuito de se conhecer o perfil dos mesmos com relação à sua formação acadêmica, sua área profissional de atuação e seu tempo de experiência em Indexação. Os entrevistados foram codificados pela ordem em que as entrevistas foram realizadas,entre novembro de 1999 e janeiro 2000. São eles: EP (indexador experiente), E1 (indexador pouco experiente), E2 (indexador pouco experiente), E3 (indexador novato), E4 (indexador novato), E5 (indexador experiente) e E6 (indexador experiente). QUADRO 1- Formação acadêmica dos indexadores, por ano de colação de grau CURSO EP E1 E2 E3 E4 E5 E6 BIBLIOTECONOMIA 1980 1978 1980 1998 1998 1984 1976 O QUAD. 1 mostra a época da colação de grau no Curso de Biblioteconomia de cada um dos entrevistados. Defende-se a idéia de que a indexação seja uma atividade que deva ser exercida por profissionais bibliotecários, por ser essencialmente ligada ao saber fazer desse profissional, e ao conteúdo incluído em currículos dessa área. Baseando-se na consulta feita à Biblioteca Universitária da UFMG e ao Colegiado de Graduação do Curso de Biblioteconomia da UFMG, foram entrevistados indexadores das seguintes áreas: dois da área de saúde, um de arquitetura, um de teologia/filosofia, dois de letras e um de biblioteconomia. O tempo de experiência em Indexação é um aspecto verificado na pesquisa, a saber: EP – 15 anos, E1 – 3 anos, E2 – 2,5 anos, E3 – 1 ano, E4 – 1 ano, E5 – 14 anos e E6 – 12 anos. 22 Verifica-se que muitas são as atividades exercidas pelos indexadores, que nem sempre podem dedicar-se em tempo integral à atividade de Indexação. Foram citadas: chefia, processamento técnico, setor de periódicos, comutação bibliográfica, referência, setor de empréstimo, catalogação, classificação, atendimento aos usuários, organização de eventos, projetos, pesquisa, dentre outros. Essa 1a Parte da entrevista possibilita uma visão superficial das características de cada indexador entrevistado. A 2ª Parte trata do conhecimento que eles têm sobre análise de assunto, desde a concepção do termo até os fatores que interferem no seu trabalho. 4.8- Questões sobre análise de assunto Como já é mencionado anteriormente, análise de assunto não é um conceito entendido da mesma maneira por todos os que lidam com o tema. Várias concepções são dadas e, para evitar que entre pesquisadora e entrevistados houvesse qualquer tipo de divergência conceitual com relação ao termo, é feita uma primeira questão sobre em que consiste a análise de assunto na opinião de cada um. Observou-se que a maioria dos entrevistados entendem a concepção dada, neste estudo, ao termo análise de assunto, destacando-se a opinião de E1, quando fala em ...essência do tema tratado... Duas opiniões (E3 e E4) dão ênfase ao usuário, aspecto considerado importante mas que, do ponto de vista desta pesquisa, deve ser levado em consideração no momento seguinte ao da análise de assunto, ou seja, na definição de termos, quando vão ser observados os graus de especificidade e de exaustividade. E4 dá a impressão de que está falando de uma análise de assunto visando a seleção de documentos, fase prévia ao tratamento da informação. E3 e E4 são indexadores novatos e, certamente, estão numa fase ainda de insegurança, dando maior importância à satisfação do usuário, mostrando preocupar-se mais com esse, do que com o tema do documento em si. Uma síntese dos aspectos levantados em relação aos requisitos para que o indexador faça análise de assunto é mostrada no QUAD. 2. Observa-se que apenas um requisito, conhecer a área de atuação, é lembrado por cinco indexadores; os demais são apontados isoladamente. QUADRO 2 -Síntese dos requisitos para o indexador fazer análise de assunto Requisito Indexador Requisito Indexador Conhecer a área de atuação EP, E2, E3, E4, E5 Ter maturidade, vivência E1 Saber um pouco de todas as áreas E3 Saber o que é análise de assunto E4 Gostar do que faz E5 Conhecer as técnicas E5 Respeitar a opinião do autor E6 Ter um bom raciocínio E6 A opinião de INGWERSEN (1982) é que a educação de bibliotecários generalistas, que não têm um background em campos de assuntos específicos, é considerada insuficiente, tendo eles um conhecimento de assunto bastante fraco. Afirma que, quanto à prática, somente após longa experiência é que, provavelmente, o bibliotecário desenvolverá métodos de trabalho eficientes. 23 Outro requisito apontado é a maturidade e vivência do profissional. Sem dúvida, a maturidade traz benefícios em qualquer atividade, formando, juntamente com o conhecimento prévio, a bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo da vida do indivíduo. É importante lembrar que a maturidade torna-se benéfica quando aliada ao dinamismo, à vontade de aprender coisas novas, e nunca aliada ao comodismo, ao conformismo, à estagnação ou mesmo ao marasmo. Os requisitos saber um pouco de todas as coisas e saber o que é análise de assunto são citados, respectivamente, por E3 e E4, ambos indexadores novados. Parece que a idéia de E3 está relacionada a uma cultura geral do indexador já que saber um pouco de todas as áreas poderia caracterizar o indexador generalista. Mas E3 acha também importante conhecer a área de atuação do indexador. O outro requisito saber o que é análise de assunto, citado por E4, deveria ter sido lembrado por todos os indexadores, pois esse desconhecimento pode comprometer realmente todo o processo, como, por exemplo, em casos em que se analisa o documento, tendo-se em vista apenas o vocabulário adotado no sistema, o que, como já foi afirmado, consiste numa segunda etapa. Acredita-se que a reunião de todos os requisitos apontados no QUAD. 2 possa realmente contribuir para o trabalho do indexador. É solicitado aos entrevistados que apontem os procedimentos necessários para extrair o conteúdo de um documento e o QUAD. 3 mostra uma síntese dos que são citados. Pode-se observar que os indexadores, ao extrair o conteúdo de um documento, lêem principalmente o título, o resumo e o sumário. Costumam fazer uma leitura dinâmica antes de se ater a tópicos importantes. Essa leitura ajuda a ter uma visão geral do texto, e é abordada na literatura por PINTO MOLINA (1995), que estabelece alguns passos. Segundo a autora, inicialmente, o indexador deve fazer uma leitura rápida para reconhecer as características fundamentais como forma, classe e estrutura da informação. A leitura do documento na íntegra, citada como procedimento por E3 e E5, tornase totalmente inviável para a grande maioria dos indexadores. Não há tempo para isso, nem há necessidade de fazê-lo, como lembra FOSKETT (1973). A leitura pode ser inútil, já que se corre o risco de não se entender o conteúdo. Deve-se ter em mente que o que se quer é extrair o assunto do documento, e aí está explicada a necessidade de o indexador ter um raciocínio lógico e rápido, que o auxilie nessa tarefa de síntese. Todos os itens citados no QUAD. 3 são considerados relevantes na identificação do conteúdo, mas não são lembrados por todos os entrevistados. QUADRO 3 - Procedimentos a serem seguidos na extração do conteúdo de um documento PROCEDIMENTOS INDEXADOR Leitura do título EP, E1, E5 Leitura do resumo EP, E1, E4, E6 Leitura do sumário EP, E1, E5 Leitura do índice E5 Exame da bibliografia EP Nome do autor e área de atuação EP Leitura de capítulos EP Orelha do livro EP Leitura da introdução E1, E6 24 Leitura do documento na íntegra3 E3, E5 Leitura dinâmica4 E5 Leitura dos inícios dos parágrafos E4 Leitura do final do texto E4 Ilustrações E5 Consulta a documentos do mesmo assunto E5 Consulta a professores E5 Observação dos objetivos e métodos do autor E6 Folheada geral EP Uma outra questão, ainda na 2ª parte da entrevista, é pedir-lhes que apontem fatores ou obstáculos que, na sua opinião, interferem no trabalho do indexador. As opiniões estão apresentados no QUAD. 4. Pode-se verificar que o fator mais citado é o da barreira da língua. Sabendo-se que os indexadores lidam com documentos das mais diversas línguas, esse é um aspecto que dificulta seu trabalho. Esse fator é citado tanto por um indexador novato(E3), quanto por um indexador pouco experiente (E1) e por um experiente (E5) e, tendo sido lembrado por indexadores dos três grupos, pode-se afirmar, então, que a barreira da língua independe do tempo de experiência com indexação. QUADRO 4 - Fatores interferentes no trabalho do indexador FATOR INTERFERENTE INDEXADOR Falta de conhecimento da área EP, E5 Sistematização da área EP Barreira da língua E1, E3, E5 Assuntos muito técnicos E1 Contato direto com o usuário E1 Trabalho no processamento técnico E1 Familiarização com a terminologia E1, E3 Falta de especialização E2 Atualização do vocabulário E2 Vivência na área de atuação E3 Tempo para dedicar à Indexação E4, E5 Execução de outras atividades E4 Interrupções E4, E6 Estilo do autor do documento E6 25 Dos demais fatores citados, três podem ser considerados interligados: o tempo dedicado à indexação, a execução de outras atividades além da indexação, e interrupções. Esses fatores mostram a ansiedade e frustração (citada por E4) dos indexadores com relação ao tempo para se dedicar à indexação. Por executarem outras inúmeras atividades, não podem se concentrar nesse trabalho, sofrendo interrupções de todo tipo. Em se tratando de uma atividade intelectual, isso certamente consiste em um fator que dificulta o processo, tendo-se constatado que nenhum dos entrevistados se dedica exclusivamente à indexação. 4.9- Análise dos protocolos verbais durante a análise de assunto dos textos Os protocolos verbais são adotados como metodologia de análise qualitativa com o propósito de se tentar conhecer o processo da análise de assunto, sem se preocupar com o produto, que seriam os termos escolhidos pelos entrevistados para identificar o assunto dos dois textos analisados. Esses são solicitados a identificar termos livres, apenas para a conclusão do processo, mas foram esclarecidos de que não haveria a preocupação com a tradução dos mesmos para um vocabulário controlado. A transcrição das fitas gravadas do pensar alto segue rigorosamente a fala dos entrevistados. Algumas vezes, durante a análise dos textos, os entrevistados fazem curtas ou longas pausas e, tentando-se controlar essas pausas, em alguns casos muito freqüentes, segue-se a estratégia usada por CAVALCANTI (1989), e são feitas perguntas que forçam a pessoa a dizer, no momento, o que está lendo ou pensando. Essas perguntas variam de entrevista para entrevista, apesar de alguns tópicos se terem repetido em todas elas. Essa variação ocorre porque todos os protocolos verbais registram o processo da análise, ou seja o que as pessoas falam enquanto pensam. Diante disso, algumas perguntas são pertinentes em momentos específicos, não se justificando em outros. 4.10- Discussão dos fatores identificados durante os protocolos verbais Os protocolos verbais registram o pensamento dos entrevistados durante a análise de assunto dos textos. Essa discussão dos fatores traz os temas surgidos durante o processo de análise dos dois textos, de sociologia e de botânica. Os fatores estão separados em três categorias, as saber: CATEGORIA 1 – Fatores relativos ao texto (alíneas a a j) CATEGORIA 2 - Fatores relativos ao indexador (alíneas k a n) CATEGORIA 3 – Fatores observados no comportamento do indexador durante os Protocolos verbais (alíneas o a s). CATEGORIA 1 – Fatores relativos ao texto Nesta primeira categoria estão incluídos os fatores identificados como diretamente ligados ao texto e aos procedimentos seguidos pelos indexadores entrevistados durante as análises dos dois textos. 26 A. Título do artigo O primeiro fator observado pelos entrevistados durante a análise é o título dos artigos. O título do Texto 1 não pode ser considerado determinante na identificação do assunto e nenhum dos entrevistados extrai o assunto pelo título. Já com relação à análise do Texto 2, pode-se verificar que os comentários feitos mostram uma influência do título na definição do assunto do artigo. B. Autoria do artigo No caso do Texto 1, pode-se afirmar que os dados sobre o autor do artigo não ajudam na definição do assunto. Quanto à autoria do Texto 2, apenas um entrevistado faz algum tipo de comentário sobre a autoria do artigo. C. Resumo do artigo O resumo é um item presente em todos os artigos de periódicos que seguem normas para publicação. Todos os entrevistados, nas análises dos dois textos, gastam um pouco de seu tempo na leitura dos resumos de ambos. D. Leitura do texto (estrutura, partes, parágrafos) As formas de leitura variam de entrevistado para entrevistado, uns fazendo uma leitura geral, outros lendo os inícios dos parágrafos e algumas partes. E. Referências bibliográficas As referências bibliográficas são consultadas pelos entrevistados na busca do assunto do documento, pois trazem a relação de publicações consultadas pelo autor para escrever seu texto, refletindo o embasamento teórico utilizado. F. Terminologia É considerado um fator que merece atenção, pois entende-se que o domínio dos termos de uma determinada área facilita consideravelmente o trabalho do indexador. G. Ilustrações As informações também são citadas como fonte de informação na definição do assunto do documento. No caso em estudo, apenas o Texto 2 – Botânica, traz ilustrações das espécies de plantas mencionadas no texto. H. Termos definidos como assuntos dos textos Durante a análise de assunto dos dois textos, é solicitado aos entrevistados que definam alguns termos que representem os assuntos dos mesmos. Como a maior preocupação deste estudo é relativa ao processo de análise de assunto, e não ao produto da análise, ou seja, o termo de indexação, os participantes foram informados de que poderiam definir termos livres sem se aterem a uma determinada linguagem de indexação. I. Facilidades e dificuldades para definir o assunto Os entrevistados são solicitados a pensar alto sobre as dificuldades enfrentadas para definir o assunto de cada texto. No entanto, alguns apontam fatores não só dificultadores, como também fatores facilitadores. J. Título do periódico Um fator muito importante, mas que é esquecido por todos os entrevistados durante suas análises, é o título do periódico onde é publicado o artigo em exame. CATEGORIA 2 – Fatores relativos ao indexador Nesta segunda categoria, estão incluídos fatores que também interferem no processo de análise dos textos, mas fazem parte de aspectos pessoais do indexador. K. Conhecimento prévio A compreensão de um texto se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio do leitor quando ele utiliza, na leitura, o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. L. Formação, experiência e conhecimento na área do texto analisado 27 Em alguns momentos, durante os protocolos verbais, os entrevistados fazem observações sobre formação profissional e experiência para executar a tarefa de indexar, bem como sobre especialização e prática na área de atuação. M. Orientação de especialistas na área de atuação Nos casos em que, sozinho, o indexador não conseguir definir o assunto, o mais comum é a solicitação da orientação de especialistas na sua área de atuação. N. Interação com o usuário O trabalho com usuários requer estudos sobre temas específicos, e acredita-se que a atinência de um documento possa ser definida independentemente do tipo de usuário que vai utilizar a informação. Apesar disso, verifica-se que alguns entrevistados citam suas preocupações com seus usuários durante o processo de análise de assunto CATEGORIA 3 – Fatores observados no comportamento do indexador durante os protocolos verbais Como foi previsto no item sobre metodologia, a técnica da entrevista deveria ser combinada com a observação do comportamento do indexador durante a análise. O. Medo O fator medo é apontado por alguns entrevistados, relacionado ao medo de errar durante a análise deassunto. P. Ansiedade Outro fator comportamental observado durante as entrevistas é a ansiedade Q. Atenção O fator atenção está presente em todo o processo de Análise de assunto, e aqui é visto como sinônimo de concentração. R. Auto-crítica Em determinados momentos do processo de pensar alto o que estão fazendo os entrevistados, comentários evidenciam atitude de auto-crítica frente à tarefa que está sendo realizada. S. Preguiça Preguiça é um fator aqui considerado, que é mencionado durante a análise por um dos entrevistados e que pode estar relacionado a dificuldades durante a leitura. 4.11- Análise comparativa dos resultados A partir dos dados discutidos no item anterior, traçou-se um perfil de cada indexador, o que possibilitou a identificação e a comparação de fatores que interferem nesse tipo de atividade. Verifica-se que alguns fatores interferentes em análise de assunto independem do tempo de experiência em indexação, podendo afetar tanto um indexador novato quanto um experiente. Um exemplo disso é o tempo para se dedicar ao trabalho, pois interrupções e falta de concentração podem afetar a execução de uma atividade essencialmente intelectual, que exige reflexões, inferências, deduções, raciocínio, busca de informações na memória e utilização do conhecimento prévio. Fica também, evidente, a necessidade de se conhecer a área em que se está atuando, e esse é um fator apontado por todos os entrevistados, independentemente do tempo de experiência de cada um em indexação. A maturidade adquirida durante anos de experiência, sem dúvida, auxilia nessa atividade, mas sempre que o profissional se defronta com uma nova área, certamente obstáculos surgem no seu trabalho de indexar. 28 O domínio da terminologia de uma área é um fator muito importante nesse processo de análise de assunto, e pode ser adquirido com muitas leituras, tempo de experiência e contato com o usuário, que formula suas questões de acordo com a terminologia adotada na sua área. Um fator negativo mencionado é a barreira da língua. A falta do domínio da língua, principalmente do inglês, interfere negativamente no trabalho do indexador. Ele pode deparar-se com documentos em qualquer língua, inclusive em línguas raras, dependendo da área de atuação. Aos fatores citados, acrescentam-se outros, que são observados no comportamento dos entrevistados durante as entrevistas. São os fatores cognitivos, lingüísticos e lógicos que podem interferir no processo de análise de assunto, e sabe- se que esses são, muitas vezes difíceis de serem identificados, por fazerem parte da personalidade dos indivíduos. Alguns aspectos foram identificados e comparados entre as análises dos textos de sociologia e de botânica. A estrutura do texto é um desses aspectos de divergência entre as duas áreas. O Texto 1 não tem uma rígida estrutura científica, ou seja, não tem partes e divisões que caracterizam esse tipo de literatura, com introdução, metodologia, resultados e discussão, o chamado modelo clássico. Já o Texto 2 é considerado, pela maioria dos entrevistados, como mais fácil de analisar, pela estrutura e descrição mais clara, que permite uma melhor visualização do assunto. Um outro ponto de divergência verificado entre os textos das duas disciplinas é com relação à terminologia usada. Esse é um fator em que as opiniões se dividem entre os entrevistados, e a suposta dificuldade com relação ao Texto 2 surge devido à utilização de nomes científicos em latim, ou de termos em inglês, o que é comum na área e requer familiaridade e vivência com a terminologia para que essa possa ser compreendida e assimilada. Algumas conclusões da pesquisa Este estudo pode ser considerado como um primeiro passo na busca de se conhecer em profundidade o processo de análise de assunto mas, como se trata de um estudo exploratório e descritivo, deve ser visto apenas como uma das etapas de uma investigação mais ampla. Vale lembrar que os resultados obtidos e discutidos podem ser aplicados apenas ao grupo de sete indexadores que foram entrevistados e observados durante a pesquisa pois, em se tratando de um estudo de caso, não é possível generalizar esses resultados a outros indexadores, em situações diversas e examinando outros tipos de documentos para indexação. Baseando-se nos resultados obtidos na pesquisa, acredita-se que seja possível que se façam algumas reflexões sobre questões básicas levantadas no estudo, tais como: • A questão primordial para o desenvolvimento do processo de análise de assunto é a compreensão do texto, que faz parte do processamento de informação do ser humano. O estudo do texto é considerado pelos especialistas como o necessário ponto de partida para operações analítico-documentárias. • Refletindo-se sobre o que foi lido na literatura, bem como aos resultados obtidos na pesquisa, pode-se concluir que o processo de análise de assunto não deva ser visto isoladamente dentro da ciência da informação, havendo necessidade de se buscarem contribuições de outras áreas disciplinares, principalmente da lingüística, da psicologia cognitiva e da lógica. • Uma questão muito citada por autores da área e que merece ser enfatizada refere-se à deficiência na formação e à falta de especialização do indexador na sua área de atuação. Confessada por 29 alguns entrevistados como origem de suas dificuldades, tornam-se prementes os esforços no sentido de se estudarem formas de superá- la. • A pesquisa comprova que as dificuldades estão mais relacionadas ao nível de processamento top-down do que o bottom-up, pois os entrevistados estão sempre ressaltando a importância do conhecimento prévio na área de atuação. • Após análise comparativa, pode-se afirmar que o tempo maior de experiência do indexador com a técnica de indexação lhe proporciona mais segurança, maior vivência e maior capacidade de decisão ao lidar com situações complexas. No entanto, se lhe for dado para análise o assunto de um texto que nunca tenha sido seu objeto de estudos ou em cuja área não tenha ainda trabalhado, poderão interferir no processo os mesmos fatores que interferem na análise feita por um indexador novato. Isso ocorre porque lhe faltará o conhecimento prévio naquela nova área, o domínio da terminologia nela adotada e, diante disso, ele poderá enfrentar os mesmos tipos de obstáculos que um novato enfrentaria. • Durante a pesquisa foi possível verificar que a estrutura de textos (que varia de área para área) e a terminologia usada por seus autores também são características das diversas áreas das ciências, e o conhecimento desses aspectos pode contribuir para o trabalho do indexador, pois pode afetar as fases de leitura, compreensão e extração de conceitos. 5-A semiose da imagem: análise de capas de livros Jéssica Camara Siqueira 5.1-INTRODUÇÃO A todo instante somos abordados por informações formadas por cognições logicamente derivadas de induções ou hipóteses, as quais podem ser verdadeiras ou não. Nesse sentido, aquilo que consideramos “real” é uma concepção que se desvela por meio da “descoberta do erro”. Por esse viés, o que aparece como incognoscível não tem existência, uma vez que a realidade sem representação não possui relação nem qualidade para se constituir (SANTAELLA, 2002). Segundo Valente e Brosso (1999, p.169), “o conteúdo da consciência, o todo dos fenômenos do espírito, é um signo-resultante de inferência”. Portanto, o significado de uma palavra é uma concepção associada, que só nos remete a um significado à medida que podemos utilizá-la para comunicar o que apreendemos, compreendendo o que as pessoas querem nos comunicar. O “significado de uma palavra é a soma de todas as predicações condicionais de que a pessoa que a usa pretende tornar-se responsável ou pretende negar” (VALENTE; BROSSO, 1999, p.170). Essa presença sígnica não é algo exclusivo do mundo industrial e urbano, pois, se revisitarmosos primórdios da civilização, descobriremos um universo de signos indiciais – nuvens (tempo), movimento do sol (horário), flores (direção dos ventos) – 30 que deixam de ter o status de meros fenômenos naturais, para adquirirem significado a partir da interpretação e atribuição de sentidos humanos. Num processo gradativo de abstrações, o homem utiliza o objeto-símbolo e a memória para guardar informações: a exemplo de uma pedra no túmulo de um companheiro ou representações gráficas através de desenhos nas paredes das cavernas (SANTAELLA, 2002). Uma das primeiras doutrinas anunciadas para o estudo dos signos teve origem na Antiguidade, com Platão (427-347) e Aristóteles (384-322). Postumamente denominada como “semiótica implícita”, considerava o signo como algo que se refere à outra coisa, responsável por suscitar, à nossa mente, determinada ideia de algo. Mesmo discutindo-se o papel do signo em outros contextos nos séculos seguintes, foi apenas no século XX que a semiótica se constituiu como ciência, desenvolvendo-se em diversas correntes e estendendo-se a outros campos (SANTAELLA, 2001). Nöth (1996), em sua obra “Semiótica no século XX”, apresenta a área por meio de nove correntes principais, excetuando-se a de Peirce, para a qual dedicou uma obra específica. De início, é retomado o trabalho de Ferdinand de Saussure, contemporâneo de Peirce, mas que se enveredou para as Ciências da Linguagem, estabelecendo uma teoria geral da linguagem e dos sistemas sígnicos, aproximando a Semiologia e a Linguística. Seus trabalhos serviram de base para outras correntes que se desenvolveram, depois dos anos 60, que partem do arcabouço teórico estruturalista, a exemplo dos formalistas russos, o Círculo de Praga e funcionalistas. Além disso, também servem como contraponto para as linhas mais contemporâneas, a exemplo da semiótica narrativa de Greimas ou a semiótica do mito de Barthes (NÖTH, 1996). Além da corrente estruturalista, há o projeto behaviorista de Charles Morris, e os estudos de Peirce. Diferente de Morris, que teve seus estudos muito limitados a determinados contextos, a semiótica peirceana, por seu caráter mais empírico e abstrato, disseminou-se em diversas áreas do conhecimento corroborando a atuação das ciências sociais aplicadas (NÖTH, 1996). Sobre a semiótica peirceana, Santaella (2002) ressalta que não é uma ciência especializada, cujo objeto de estudo é delimitado, mas que as teorias podem ser extraídas de forma empírica e utilizadas em pesquisas aplicadas, em razão do caráter extremamente geral e abstrato; constitui-se como membro da tríade das ciências normativas (estética, ética, lógica ou semiótica), antecedidas pela quase- ciência fenomenológica e seguida pela metafísica. Assim, concebida como uma lógica num sentido mais amplo, a semiótica se apresenta basicamente em três ramos: o da gramática especulativa, responsável por uma classificação geral dos signos; a lógica crítica, que tem como base a diversidade sígnica, estudando os tipos de inferências e raciocínios (abdução, dedução e indução), e a retórica especulativa, que tem a função de analisar os métodos a que cada um dos tipos de raciocínio origina. Na Semiótica de Peirce, o elemento–chave é o signo, de caráter cognoscível, é determinado por algo diverso dele (objeto), contudo ele próprio determina uma mentepotencial (interpretante), que, por sua vez, se acha determinada pelo objeto. Logo, o objeto determina o signo, embora seja criado pelo signo (PEIRCE, 1987). Dessa forma, podemos entender que o signo cria algo na mente do interpretante, que, de maneira relativa e mediata, também foi criado pelo objeto do signo, mesmo considerando-o diverso do signo. Assim, para um signo ser entendido é necessária a familiaridade colateral entre o intérprete e o objeto do signo. Deste modo, quando um signo representa o seu objeto, implica dizer que ele afeta a mente 31 a ponto de determinar algo que é mediatamente relacionado ao objeto, o que nos faz concluir que as ações sígnicas só se concretizam no instante em que os signos determinam seus interpretantes (SANTAELLA, 2002). Na tentativa de entender tais relações, tomemos um das definições de signo incessantemente elaboradas por Peirce: Defino um signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinada por um objeto e de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta última determinação, que denomino o interpretante do signo, é, desse modo, mediatamente determinada por aquele objeto. Um signo assim tem relação triádica com seu objeto e com seu interpretante (PEIRCE, 1987, p.7) A partir da definição de Peirce, verificamos que o signo determina o interpretante, mas este o determina como uma “determinação” do objeto. Já o interpretante é determinado pelo objeto, na medida em que o interpretante é determinado pelo signo, que por sua vez somente representa algo, nunca podendo ser confundido com o objeto em si. Tal relação triádica também deu origem a outras importantes tríades peircianas: as que consideram o signo em si mesmo (quali-signo, sin-signo e legi-signo), a relação do signo com o objeto dinâmico (ícone , índice e símbolo) e a relação do signo com o interpretante (rema, dicente e argumento) (PEIRCE, 1987). Tal tríade ainda se subdivide em outras categorias de primeiridade, secundidade e terceridade. Quanto à primeira, os signos são tomados em si mesmos e podem ser qualidades, fatos ou ter a natureza de leis ou hábitos. Na segunda, os signos podem estar conectados com os seus objetos em virtude de uma similaridade, uma conexão de fato(não-cognitiva) ou por hábitos. E a última corresponde aos interpretantes, que podem ser representados pelos seus objetos como qualidades apresentadas como hipóteses ou rema; fatos, apresentados como dicentes e leis apresentadas como argumentos. E a partir dessas modalidades, Peirce estabeleceu relações combinatórias entre elas, gerando outras variações das tricotomias (SANTAELLA, 2000). A lógica triádica, segundo Santaella (2002), inclui três teorias: a da significação, da objetivação e da interpretação. A primeira diz respeito à relação do signo consigo mesmo, ou seja, sua natureza e fundamento para funcionar como tal. A segunda explora a relação do fundamento com o objeto, e a última, do fundamento com o interpretante. Por esse viés, a autora resgata a fenomenologia como base teórica semiótica, lembrando que, assim como há signos genuínos (terceiridade), há os quase-signos (secundidade e primeiridade), ampliando assim a noção do signo peirciano para algo que pode transcender a natureza plena da linguagem e ser simplesmente uma mera ação, reação ou até emoção (SANTAELLA, 2000). O que parece importante ressaltar sobre o signo é que, por estar impregnado de vida, permanece em contínuo desenvolvimento, o que acarreta enxergá-lo em um contínuo processo de semiose, ou seja, parece sempre amalgamado a outros signos, não sendo possível visualizá-lo de forma estática e pura, pois está sempre envolvido em uma ação. Já o objeto, é aquilo que o signo expressa, constituindo-se de maneira imperfeita. Na verdade, o signo não representa integralmente o objeto, pois ele seleciona alguns aspectos para a sua representação, denominada por Peirce como ground. O interpretante, um dos diferenciais da semiótica peirceana, indica a 32 sucessão e evolução do signo, num movimento informacional e de significação da semiose (SANTAELLA, 2002). Assim, segundo Peirce (1987), para que um processo interpretativo de um signo ocorra, é necessário considerar os três níveis do interpretante: o imediato, o dinâmico e o final. O primeiro é similar ao objeto imediato, referindo-se ao caráter interno do signo, ainda num nível mais abstrato, que não encontrou um intérprete para se efetivar. No nível seguinte, o signo produz um intérprete, devendo-se considerar
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