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TCC SOBRE VISÃO EUROCÊNTRICA DO QUILOMBO DOS PALMARES NO SECULO XVII

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FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN
FRANCISCO BARBOSA
201310287
FACULDADES SIMONSEN
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
“QUILOMBO DOS PALMARES: A VISÃO EUROCENTRICA DO SÉCULO XVII”
Rio de Janeiro
2015/02
FRANCISCO BARBOSA
201310287
 
“QUILOMBO DOS PALMARES: A VISÃO EUROCENTRICA DO SÉCULO XVII”
Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de História das Faculdades integradas Simonsen, como parte do requisito para obtenção do Título de Licenciatura em História. 
Professora Orientadora: Patrícia Woolley
Rio de Janeiro
2015/02
FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
_______________________________________
 FRANCISCO BARBOSA
201310287
Trabalho final apresentado às Faculdades Integradas Simonsen em
__/__/__, como requisito para a aprovação na disciplina Trabalho de
Conclusão do Curso, ministrada pelo docente
______________________________________.
Aprovada em ___/___/___.
Nota Final:
1. Introdução:
Este estudo busca analisar os discursos que foram produzidos pelos europeus no período colonial do século XVII sobre as descrições das estruturas militares, políticas, sociais, econômicas e religiosas do maior quilombo do Brasil, o quilombo dos palmares, e buscará identificar quais os reais interesses na construção de uma visão totalmente eurocêntrica e tendenciosa, e sobre tudo qual foi o legado histórico dessa narrativa produzida pelos inimigos do quilombo de Palmares, quilombo este que foi considerado pelos estudiosos e especialistas no assunto como sendo o maior, e o mais importante e duradouro mocambo que já existiu na América (MOURA, 1987). 
 Para entender o que foi os quilombos e como eles surgiram, é preciso ter o conhecimento que a real raiz dos quilombos era a oposição dos negros contra a violência escravocrata que era comum durante esse período colonial, e esse ideal de liberdade arregimentava milhares de negros, e estima-se que nesse período já havia cerca de 33 mil a 50 mil escravos africanos no Brasil, onde muitos devido a invasão dos holandeses na década de 1630 a 1650 acabaram fugindo por conta do enfraquecimento do controle dos senhores feudais que durante esse período encontravam-se ocupados demais por conta da crise financeira causada pela queda do preço do açúcar (FURTADO, 1982), o que aumentou ainda mais o número de quilombolas, fato esse que também tornou o quilombo dos palmares uma fortaleza militar.
 As fugas tornaram-se tão numerosas e freqüentes que traziam grandes prejuízos econômicos, haja vista, que as mãos escravas eram vitais para o sucesso da economia colonial, levando a coroa a tomar providências urgentes e cruéis. 
Através de ordens régias e alvarás punitivos, que, entre outras atrocidades, mandava mutilar partes do corpo do negro fujão, marcar com ferro em brasa a letra F em lugar visível, afora o suplicio da gargalheira, do tronco infamante, das surras tremendas e de outros castigos não menos desumanos, e que se requintava o sadismo de muitos senhores e também senhoras de escravos. (LUNA, 1976, p95)
 
 O reino negro de Palmares se fortalecia a cada dia, e embora tenha sido classificado por alguns como sendo uma república, considera-se que nesse período a língua franca era o latim, portanto, a palavra “res publicae”, que tem o significado de “Estados”, portanto era natural encontrar esses termos sendo utilizado com freqüência no conteúdo das cartas e dos documentos das expedições militares que eram enviadas aos seus lideres representantes da coroa para informá-los sobre esses acampamentos de fugitivos (CARNEIRO, 1988), porém, na realidade o sistema político dentro do quilombo de Palmares nada tinha de república, visto que essas idéias republicanas só viriam florescer no Brasil cem anos mais tarde com dois movimentos, a inconfidência mineira (1789) e a revolta dos alfaiates (1798) na Bahia (CARNEIRO, 1988).
 A forma de governo dentro do quilombo Palmares era despótica, e não eletiva, mas hereditário onde poder estava centralizado nas mãos de um grande senhor, nesse caso o rei Zambi, que acabou tomando o titulo de Ganga Zumba, que quer dizer, comandante geral (FREITAS, 1988), e que para manter a ordem acabou adquirindo feições tirânicas devido a diversidade de castas e das mais diferentes tribos africanas que buscavam refugio no quilombo (FREITAS, 1988), inclusive, relata-se também que havia dentro da população palmarina um grande numero de ameríndios e de pessoas brancas, pessoas essas que tinham os seus motivos para estarem refugiados ali, e que aparentemente foram aceitos por essa comunidade negra (CARNEIRO, 1988).
 Defende-se também, que a religião oficial que predominava dentro do quilombo dos Palmares era a católica, onde a figura do rei também acumulava o poder de autoridade espiritual, e que este nomeou um ministro de culto para cada cidade (FREITAS, 1988).
 
2. Referências Teóricas: 
Para uma abordagem do presente assunto, utilizaremos como base o livro dos autores João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, intitulado “Liberdade por um fio”. História dos quilombos no Brasil. Onde dentro dessa obra literária encontra-se um artigo do autor e antropólogo Richard Price, intitulado “Palmares como poderia ter sido”(REIS e GOMES, 1996), nesse artigo o autor vai fazer um comparação entre o quilombo dos Palmares e o quilombo dos Saramakas, que diferente dos palmarinos conseguiram sobreviver até os dia de hoje no Suriname, Richard Price através de um trabalho de pesquisa e convivência em um período de 30 anos com Saramakas adquiriu um vasto e importante documento oral que foi passado de geração a geração, dando voz e nos mostrando a visão de quem realmente vivia dentro dos muros de um quilombo, embora não se refira ao quilombo de palmares, essa fonte poderá ser utilizado como parâmetro, pois os registros orais revelaram tendências de estratégias de resistência e de sobrevivência por parte dos quilombolas Saramakas, e também detalhes sobre as repressões sofrida por eles, o que no caso de Palmares não tivemos a oportunidade de ouvir a versão deles, pois não houve sobreviventes, restando-nos apenas os registros da história do quilombo dos Palmares contada pelos seus principais inimigos, os europeus.
Ressaltamos também que este trabalho tem por parâmetros o livro do autor Edison Carneiro intitulado “O quilombo dos palmares” onde nos capítulos II e III o autor vai colocar de forma bem explicita os episódios da Historia de Palmares no que diz respeito às expedições militares holandesas e luso-brasileiras de repressão que são descritas e apresentadas de forma bem clara as figuras relevantes desse processo histórico que marcou o Brasil durante esse período colonial. Que nos ajudará a compreendermos os verdadeiros motivos das insistentes entradas das expedições militares holandesas e lusas brasileiras, e como se dava o relacionamento da população palmarina junto as sociedade adjacentes, e qual era opinião dos representantes da igreja em relação aos chamados negros alevantados.
 Carneiro nos apresenta que o quilombo dos Palmares representava um grande perigo para o governo, haja vista que o governador Fernão Coutinho escreveu ao rei em 1671 um documento que possuía o seguinte teor:
“Não está menos perigoso este estado com atrevimento destes negros do que esteve com os holandeses, nas suas mesmas casas, e engenhos, têm os inimigos que os podem conquistar...”. (CARNEIRO, 1988).
 Na realidade o que vem em seguida após a expulsão dos holandeses foi uma série de expedições militares malogradas, defende-se que foram realizadas um total de 17 entradas, sendo que 3 dessas entradas foram realizadas pelos holandeses, e as demais entradas foram realizadas pelos luso-brasileiro. Alguns governadores com medo dos negros pensaram até em obterem soluções pacíficas em forma de acordos, no entanto, o único acordo que se tem registro em que houve um armistício, foi um acordo firmado em 1678, denominado o acordo de recife, que fora firmado entre o rei Ganga Zumba e o governadorAires de Souza de Castro, após o rei Ganga Zumba ser informado que alguns parentes seus teriam sidos capturados pela expedição comandada por Fernão Carrilho, a soltura dos seus parentes faziam parte desse acordo, no entanto, esse acordo também exigia que deveriam ser entregues as autoridades todos habitantes não nascidos em palmares, fato esse que acabou rachando politicamente o reino de palmares, o governo de Ganga Zumba.
 A escassez de documentos sobre esse grande reino negro localizado no nordeste do Brasil tem como única fonte histórica alguns documentos portugueses de origem militar, portanto esses documentos europeus, tais como, pareceres, alvarás e relatos de comandantes de expedições sobre estratégias de guerra, e que pouco nos revelam detalhes do cotidiano palmarino. Nesses documentos essas pessoas que habitam esses mocambos são chamadas de “negros alevantados”, portanto esses relatos não estão isentos de uma visão preconceituosa, pejorarativa e manipuladora em relação ao quilombo dos Palmares, uma visão vencedora, totalmente eurocêntrica.
 Durante a pesquisa que realizamos no livro do autor Pedro Paulo Funari intitulado, “A arqueologia de Palmares – Sua contribuição para o conhecimento da história da cultura afro-americana.” identificamos a existência de estudos sobre a arqueologia de Palmares. As escavações estão sendo realizadas na serra da Barriga desde 1992, onde se supõe que ficava o mocambo de Macaco, capital de Palmares. Entretanto, infelizmente no estágio em que estão essas escavações ainda não se obteve muitas respostas sobre Palmares, porém o autor e pesquisador nos revela um fato muito interessante que é a descoberta nessas escavações de uma grande quantidade de vasos de cerâmica de origem indígena, levando-nos a acreditar que as populações indígenas que viviam no quilombo de Palmares eram muito mais densas do que se pensava anteriormente. Com essas novas e preciosas informações, identificamos que a cultura dentro do quilombo dos Palmares não eram totalmente africanocêntricas. 
 Dessa forma também utilizaremos para o desenvolvimento da nossa pesquisa os textos de apoio “Reino negro de Palmares” do autor Mário Freitas Martins, e também da obra literária “O negro na luta contra a escravidão”, do autor Luiz Luna, os quais possuem conteúdos que abordam assuntos importantes e pertinentes ao tema em questão.
3. Hipótese (s): 
Como analisar a história do quilombo dos Palmares sem a influência do olhar eurocêntrico da época?
 Pretendemos analisar os escassos e emblemáticos documentos produzidos pelas expedições holandesas e lusas brasileiras que relatam possíveis detalhes sobre o cotidiano da sociedade palmarina.
 Buscaremos analisar alguns relatos negativos sobre os palmarinos, relatos estes que foram superdimensionados pelos chefes das expedições para que através dos seus supostos atos de bravura pudessem preitear junto a coroa certas vantagens e regalias, e muitas das vezes justificar suas derrotas frente aos quilombolas, para aplacar sua vergonha e possível punição.
 Analisar os novos debates históricos valorizando os escravos como sujeitos históricos e não apenas como meros objetos.
4. Objetivos:
· Identificar quais eram as origens dos habitantes de Palmares.
· Analisar como era, e como se dava a relação de poder dentro do quilombo de palmares.
· Analisar como se dava os relacionamentos entre os homens e as mulheres que habitavam o quilombo de Palmares.
· Identificar e analisar o poder bélico dos palmarinos, as suas estratégias de luta e de resistência.
· Entender como se dava a prática religiosa dentro dos muros do quilombo dos palmares.
· Analisar e identificar qual era a posição da igreja em relação a existência do quilombo dos palmares.
· Identificar e analisar o conteúdo das cartas que foram enviadas pelos comandantes das expedições para as autoridades locais e para a Coroa, as quais faziam referências ao quilombo dos palmares, e reclamavam certas compensações e privilégios pelo mérito dos serviços prestados.
5. Justificativa:
 A importância do estudo dessa pesquisa se dá pela necessidade de uma analise mais aprofundada nos escassos e tendenciosos documentos que foram gerados pelos europeus sobre como era o cotidiano dos habitantes, e como funcionava a estrutura política, social e econômica dentro do quilombo dos palmares ao longo do século XVII, o qual denominamos período colonial. 
 Através dessa escolha, pretendo analisar qual foi o principal combustível que alimentava as insistentes, e inúmeras entradas no quilombo dos palmares, o qual era tido por Portugal como o maior e o mais preocupante quilombo do Brasil.
 Com essa pesquisa pretendo identificar que o interesse de destruição do reino palmarino envolveu muito mais interesses particulares do que simplesmente a recuperação da mão de obra escrava que antes da invasão holandesa moviam a economia colonial baseada na produção do açúcar, esse processo envolvia interesses sobre as terras localizadas na serra da barriga, e de certos privilégios e regalias que seriam adquiridos como uma espécie de recompensa real. 
 Acredito que esse trabalho possa contribuir para enriquecer a historiografia que analisa as relações de poder durante o período em questão, bem como é um tema de fundamental importância para entender como essas questões exercem influência nas sociedades até hoje.
6. Bibliografia e Fontes:
CARNEIRO, Edison. O quilombo dos Palmares. Rio de janeiro: Civilização brasileira S/A – 3ª Edição, 1988, p.4, p.5, p.33, PP. 62-3.
FREITAS, Mário Martins. Reino negro de Palmares. 2 ed. Rio de janeiro. Bibliex biblioteca do exército, 1988, PP. 170-173.
FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de jornal do século XIX. São Paulo: Edit. Nacional, 1979, p.29.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Edit. Nacional, 1982, p.65.
FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Arqueologia de Palmares – Sua contribuição para o conhecimento da história da cultura afro-americana: in Liberdade por um fio: História dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1996, PP. 34-47.
LUNA, Luiz. O negro na luta contra a escravidão. Rio de janeiro. Edit. Cátedra, 1976, p95
MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala, 4º Edição, Porto Alegre, Editora Mercado Aberto, 1988, PP. 24-25.
PRICE, Richard. Palmares como poderia ter sido: in Liberdade por um fio: História dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 1996. PP. 52-59.

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