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ADIANTAMENTO PARA FUTURO AUMENTO DE CAPITAL - AFAC 1 - INTRODUÇÃO No geral, o ingresso de recursos em uma sociedade pode ocorrer sob as formas de aumento de capital, mútuo, receita ou doação e cada uma dessas formas de geração de recursos tem uma diferente repercussão no âmbito tributário federal, bem como a influência em relação aos índices que refletem a análise do patrimônio. O objeto de estudo deste procedimento é o reconhecimento contábil do ingresso de recurso conhecido como adiantamento para futuro aumento de capital – AFAC, representando os recursos recebidos pela empresa, de seus acionistas ou quotistas, a serem utilizados com a finalidade de aumentar o capital social da empresa. 2 - A POSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO AOS SÓCIOS – PRAZO O fator que promove as análises sobre a classificação contábil do adiantamento para futuro aumento de capital no patrimônio líquido ou no passivo da empresa é a possibilidade de devolução do respectivo valor aos sócios. O artigo 21 do referido Decreto-Lei nº 2.065/83, define que nos negócios de mútuo contratados entre pessoas jurídicas coligadas, interligadas, controladoras e controladas, a mutuante deverá reconhecer, para efeito de determinar o lucro real, pelo menos o valor correspondente à correção monetária calculada segundo a variação do valor da ORTN. O Parecer Normativo COSIT 17 de 1984, por sua vez, determina que não é exigível a observância ao disposto no art. 21 do Decreto-Lei nº 2.065/83 à pessoa jurídica que fizer adiantamento de recursos financeiros, sem remuneração, para sociedade coligada, interligada ou controlada, desde que: 1) o adiantamento se destine, específica e irrevogavelmente, ao aumento do capital social da beneficiária, e 2) a capitalização se processe, obrigatoriamente, por ocasião da primeira AGE ou alteração contratual posterior ao adiantamento ou, no máximo, até 120 dias contados do encerramento do período-base da sociedade tomadora dos recursos. O Parecer Normativo CST nº 23 de 26/06/1981, dispõe “Dúvidas têm sido levantadas quanto a fixação da data de início da correção monetária de acréscimos a conta de capital, especialmente no que se refere a ingressos de recursos nas sociedades anônimas, representados por adiantamentos com finalidade específica para futuro aumento de capital social.” javascript:mostrarTopico(72889) javascript:mostrarTopico(72890) https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=64026 https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=64026 https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=93292 Os adiantamentos para aumentos de capital, na normalidade e na ausência de evidências ou indícios de que os valores não se incorporarão ao Capital Social, devem ser classificados como Patrimônio Líquido na investida e como Ativo Não Circulante – Investimento para quem efetua os adiantamentos. Não nos parece que se deva ser tão conservador e sempre considerar que existe a possibilidade de mudar de intenção, a ponto de provocar distorções nas demonstrações contábeis. Decisões de distribuir lucros, devolver parte do capital social já integralizado e outras também alteram significativamente os passivos. Até o capital preferencial resgatável costuma ficar enquadrado como Patrimônio Líquido, assim como os dividendos retidos por causa de contingências, lucros a realizar, situação financeira difícil, dividendos cumulativos não pagos etc. Também não parece muito válido deixar de incluir esses adiantamentos como Patrimônio Líquido, porque este deveria pertencer, igualmente, a todos os sócios. Isso não existe na legislação brasileira e menos ainda em nível universal, sendo comum hipóteses em que os sócios deixam de participar em algumas (e até em todas) reservas, especialmente as de lucros. Menos válido parece ser o argumento de não classificação no patrimônio por ausência de menção específica na Lei das S/A, já que existem outras faltas nela. É preciso que o contabilista se certifique da efetiva intenção e da comprovação existentes. É claro que, se houver dúvida, ele deverá ser bastante prudente e exigir a classificação conservadora, mas na ausência de dúvida deve prevalecer a intenção que está subjacente ao adiantamento. Assim, segundo entendemos, caso os adiantamentos tenham sido efetuados de maneira informal, ou se o contrato ou estatuto da empresa não contiver cláusula que preveja a obrigatoriedade do sócio ou acionista em honrar o compromisso assumido de aumentar o capital da empresa, entendemos que tais valores devem ser classificados no Passivo Circulante, ou no Passivo Não Circulante (dependendo do prazo pretendido pelos acionistas ou quotistas para a formalização do aumento do capital). Por outro lado, caso não haja evidências ou indícios de que tais valores não se incorporarão ao capital social, como ocorre, por exemplo, nos casos em que exista previsão contratual expressa de que os valores entregues pelos sócios ou acionistas para fins de aumento do capital social são irrevogáveis, entendemos que estes devem ser classificados em conta do Patrimônio Líquido. Diante das explanações acima, é evidente que o repasse de recursos a título de AFAC deve estar embasada em documento que evidencie a sua real finalidade de modo que ofereça a possibilidade de afastar a presunção da ocorrência de uma operação de mútuo entre a figura do sócio e a empresa. 3 - REGISTRO CONTÁBIL Conforme já mencionado acima, a classificação contábil dos recebimentos para fins de futuro aumento de capital gira em torno do seu reconhecimento no patrimônio líquido ou diretamente em conta do passivo. Notadamente é fator de repercussão nas análises fundamentadas em índices licitatórios, entretanto, neste procedimento tomamos por base as determinações da Resolução do CFC. Segundo a Resolução nº 1.159/2009, itens 68 e 69, os adiantamentos para futuros aumentos de capital realizados, devem observar ao seguinte: a) Não havendo a possibilidade de sua devolução: registrar no Patrimônio Líquido, após a conta de capital social. b) Havendo qualquer possibilidade de sua devolução: registrar no Passivo Não Circulante. Assim, por ocasião do recebimento dos recursos, a empresa deve registrar o recurso recebido em contas do Ativo Circulante, e a crédito dessa conta específica "Adiantamento para Futuro Aumento de Capital". A – Registro pelo recebimento dos recursos: DÉBITO: Banco C/Movimento – Ativo Circulante CRÉDITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital – Ativo Circulante B – Registro pela formalização do aumento do capital social: DÉBITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Patrimônio Líquido CRÉDITO: Capital Social - Patrimônio Líquido C - Registro na hipótese em que a empresa não determina data para ocorrência do aumento do capital social: DÉBITO: Banco c/ Movimento - Ativo Circulante CRÉDITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Passivo Circulante D - Registro na hipótese da definição da data para ocorrer a integralização e o respectivo aumento de capital: DÉBITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Passivo Circulante javascript:mostrarTopico(72891) CRÉDITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Patrimônio Líquido E- Registro pelo efetivo aumento do capital social: DÉBITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Patrimônio Líquido CRÉDITO: Capital Social - Patrimônio Líquido 4 - OCORRÊNCIA DE CANCELAMENTO DO AUMENTO DE CAPITAL O ingresso de recursos da sociedade a título de Adiantamento para Futuro Aumento de Capital, implica na obrigação de promover o respectivo aumento de capital em data futura e na sua não ocorrência, devolver o valor aos sócios o respectivo valor. Na hipótese em que a empresa decida pelo cancelamento do aumento de capital, o registropode ser: DÉBITO: Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - Passivo Circulante CRÉDITO: Banco C/ Movimento - Ativo Circulante Abaixo segue posicionamentos sobre o tema: “4 º TURMA - ACÓRDÃO Nº 15-21537 de 30 de Outubro de 2009 ASSUNTO: Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários - IOF EMENTA: LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. Aplica-se a regra do § 4º do artigo 150 do Código Tributário Nacional - CTN na hipótese em que houve pagamento antecipado do imposto, ainda que parcial, e a do artigo 173, inciso I do CTN quando não houve pagamento. ADIANTAMENTO PARA FUTURO AUMENTO DE CAPITAL. OPERAÇÃO DE MÚTUO. Para que os recursos aportados em empresa controlada a título de Adiantamento para Futuro Aumento de Capital - AFAC não configurassem uma operação de mútuo, o aumento de capital deveria ter sido realizado por ocasião da primeira alteração contratual da sociedade investida que ocorresse imediatamente após o recebimento dos recursos financeiros ou, não ocorrendo tal alteração contratual, no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias contados a partir do encerramento do período-base em que a investida recebeu os recursos financeiros. Assim não ocorrendo, resta caracterizada a operação de mútuo, sujeita à incidência do IOF. javascript:mostrarTopico(72892) javascript:mostrarTopico(72892) 15 º TURMA - ACÓRDÃO Nº 12-49093 de 27 de Agosto de 2012 ASSUNTO: Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários - IOF EMENTA: IOF. ADIANTAMENTO PARA FUTURO AUMENTO DE CAPITAL. CAPITALIZAÇÃO DOS RECURSOS APÓS O PRAZO ESTABELECI-DO NO PARECER NORMATIVO CST Nº 17/1984. EQUIPARAÇÃO A NEGÓCIO DE MÚTUO. IMPOSSIBILIDADE. A legislação do IOF não prevê nenhuma hipótese em que os adiantamentos para futuro aumento de capital sejam equiparados a negócios de mútuo, por decurso de prazo para capitalização dos recursos. A fixação de um limite de 120 dias para a aprovação do aumento de capital, com base no Parecer Normativo CST nº 7/1984, é descabida, posto que o referido ato não guarda pertinência com o tributo em causa. IOF. ADIANTAMENTO PARA FUTURO AUMENTO DE CAPITAL. CAPITALIZAÇÃO FRUSTRADA. EQUIPARAÇÃO A NEGÓCIO DE MÚTUO. Frustrada a capitalização dos recursos originados de adiantamento para futuro aumento de capital, fica caracterizada a existência de um mútuo de recursos financeiros, sujeito à incidência do IOF. IOF. ADIANTAMENTOS EFETUADOS PARA EMPRESAS LIGADAS COM A FINALIDADE DE PAGAMENTOS DE DESPESAS. A utilização de uma rubrica contábil com a finalidade de pagamento de despesas de empresas ligadas, sem contrato formal de mútuo, caracteriza a existência de uma conta-corrente, devendo-se apurar o IOF devido segundo as regras próprias das operações de crédito rotativo. IOF. MÚTUOS PACTUADOS VERBALMENTE ENTRE EMPRESAS LIGADAS. A utilização de uma rubrica contábil para registrar transferências de recur-sos entre empresas ligadas, sem contrato formal de mútuo, caracteriza a existência de uma conta- corrente, devendo-se apurar o IOF devido segundo as regras próprias das operações de crédito rotativo. IOF. ASSUNÇÃO DE DÍVIDA DE MÚTUO. A assunção de uma dívida de mútuo, quando consentida expressamente pelo credor, equivale a uma renegociação do crédito, com substituição do devedor original, operação esta sujeita à incidência do IOF. 5 - DESCARACTERIZAÇÃO DE AFAC https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=93373 https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=93373 javascript:mostrarTopico(82997) Pelo Parecer Normativo do Coordenador do Sistema de Tributação CST n.º 17/1984, o fisco entende como razoável que o aumento de capital com a utilização do AFAC deva ocorrer na primeira alteração contratual após o recebimento dos aportes ou no prazo máximo de 120 dias a partir do encerramento do exercício em que a sociedade tenha recebido os recursos. Um dos requisitos para caracterizar o AFAC é respeitar o prazo razoável de 120 dias para aumento do capital, caso não atenda a esse requisito essencial de acordo com o parecer CST n.º 17/1984, poderá descaracterizar AFAC, atribuindo a operação como mútuo (art. 586 Lei nº 10.406/2002). Isso porque as operações de crédito entre pessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física, entre elas o mútuo, é fato gerador de IOF, ainda que os valores não sejam por meio de instituição financeira (Lei n.º 9.779/99, art. 13). Entretanto esclarecemos que o mútuo pode ser convertido em aumento de capital, entretanto deverá ser recolhido os tributos dessa operação, como IOF e IRRF (se houver juros). https://www.legisweb.com.br/assinante/bancodedados/comentarios/visualizar/?legislacao=85983
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