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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL OTIMIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE VINÍCOLA. Danielle Regina de Almeida Lanzarin Lajeado, junho de 2012. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 1 Danielle Regina de Almeida Lanzarin OTIMIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE VINÍCOLA. Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, ao Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas do Centro Universitário UNIVATES, como parte dos requisitos para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Ambiental. Área de concentração: Engenharia Ambiental Orientador: Prof. Dr. Odorico Konrad Lajeado, junho de 2012. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 2 Danielle Regina de Almeida Lanzarin OTIMIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE VINÍCOLA. A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, na linha de formação específica em Engenharia Ambiental, do Centro Universitário Univates, como parte da exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Ambiental: Prof. Dr. Odorico Konrad, - Orientador Centro Universitário Univates Doutor em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Montanuniversitat Leoben Austria. Engenheiro Químico João Francisco Stevens Roca Sales – RS Gestor Ambiental Fábio Fernandes Koch Lajeado - RS Prof. Mestre Everaldo Rigelo Ferreira Coordenador do Curso de Engenharia Ambiental Lajeado, 29 de junho de 2012. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela saúde, pela força nas horas difíceis para a realização deste trabalho e por sempre estar ao meu lado. Aos meus amados pais João Paulo e Eunésia, e ao meu querido e amado irmão Paulo Renato, pelo amor, dedicação, compreensão, auxílio e exemplo de vida. Ao meu namorado Michel, pelo amor, ajuda e compreensão nos diversos momentos enfrentados durante a graduação. Ao meu orientador e professor, Prof. Dr. Odorico Konrad, pelo grande interesse, dedicação, acompanhamento e incentivo, que foram de extrema importância para a realização deste trabalho, além da aprendizagem e conselhos que me foram passados durante toda a graduação. À Tempus Soluções Ambientais e Topográficas, responsável pela elaboração da Estação de Tratamento de Efluentes da Vinícola, bem como ao colega Pedro Ricardo Gallina. À Vinícola, ao proprietário e demais funcionários pela ajuda, paciência e por disponibilizar a empresa para estudos e realização do trabalho. Ao professor e coordenador do curso de Engenharia Ambiental, Prof. Mestre Everaldo Rigelo Ferreira, pela dedicação, aprendizagem e grande disposição em ajudar. Aos bolsistas do Laboratório de Biorreatores do curso de Engenharia Ambiental da UNIVATES Camila Casaril, Fábio Júnior Secchi, Marluce Lumi e Luana Nichel pela ajuda na realização das análises laboratoriais. À UNIVATES, pela oportunidade de realizar e apresentar o presente trabalho. Aos professores da UNIVATES, pelos ensinamentos e experiências compartilhados. A todos os amigos e colegas de curso, pela amizade, companheirismo, ajuda e por compreenderem os momentos em que estive afastada. A todos que contribuíram de uma forma ou de outra para a realização deste trabalho, muito obrigada! B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 4 RESUMO A produção de vinhos no Brasil, em sua maior parte, localiza-se no estado do Rio Grande do Sul (RS) e está em constante crescimento. Juntamente com o crescimento, surge à preocupação com o tratamento dos efluentes. Os efluentes oriundos dos processos de vinificação trazem em sua composição alta quantidade de carga orgânica, o que pode se tornar um problema quando disposto em ambiente natural sem o devido tratamento. Sugestões de tratamentos de efluentes são inúmeras, porém necessita-se da garantia de eficiência desses tratamentos. O presente trabalho buscou aperfeiçoar e avaliar a eficiência do tratamento de efluentes de vinícola, através de processos biológicos e físico-químicos, além de realizar a implantação do sistema de Wetland Construído que servirá como fonte de novos estudos com a utilização da nova tecnologia existente na região. O estudo irá avaliar os efluentes líquidos produzidos em uma Vinícola, localizada na região da Serra Gaúcha no estado do Rio Grande do Sul. Para o aperfeiçoamento da estação foram sugeridas algumas mudanças necessárias e como base para a avaliação da eficiência do tratamento foram designados pontos de amostragens, ao longo dos processos de tratamento, para posterior análise laboratorial. Palavras-chave: Efluentes Vinícolas, Wetland Construído, Eficiência. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 5 ABSTRACT Wine production in Brazil, on its majority, is located on the state of Rio Grande do Sul (RS) and is constantly growing. Altogether the growth come the concerns about effluents‟ treatment. The effluents originated from the vinification process carry a large quantity of organic substances on its composition, which may become a problem when disposed on natural environment without proper treatment. There are a lot of suggestions regarding effluents treatment, but it is fundamental to prove the efficiency of those treatment options. This paper sought to evaluate and improve the efficiency of wineries‟ effluents treatment, through physicochemical processes, while also implementing a Built Wetland system which will serve as source to the studies regarding the usage of this new technology on the region. The research is going to evaluate the liquid effluents generated by a winery which is located on the Serra Gaúcha region of Rio Grande do Sul. Regarding improvement, some necessary changes were suggested and, as an evaluation basis for treatment efficiency, some sampling points were designated, during treatment processes, for later laboratory analysis. Keywords: Effluents Wineries, Built Wetland, Efficiency. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa da produção de uva no estado do RS ............................................................. 18 Figura 2- Fluxograma dos processos responsáveis pela produção de efluentes ....................... 25 Figura 3 - Esquema de Wetland Construído pelo sistema longitudinal e ascendente. ............. 30 Figura 4 - Mapa demonstrando a variação da temperatura nas diversas regiões do RS ........... 33 Figura 5 - Mapa demonstrando os níveis de precipitação no RS ............................................. 33 Figura 6 - Vista geral da Estação de Tratamento de Efluentes antiga ...................................... 37 Figura 7 - Mapa da Hipsometria do RS .................................................................................... 38 Figura 8 - Imagem da propriedade da Vinícola vista de cima .................................................. 38 Figura 9 - Fluxograma da antiga estação de tratamento ........................................................... 39 Figura 10 – Tanque de recebimento do efluente bruto .............................................................40 Figura 11 – Resíduos sólidos orgânicos retidos na grade ......................................................... 40 Figura 12 - Fluxograma da estação de tratamento de efluentes com as alterações sugeridas .. 43 Figura 13 – Fluxograma contendo as etapas do tratamento de efluentes da Vinícola e a apresentação dos pontos de coletas de amostras ...................................................................... 48 Figura 14 - Ponto de coleta 1 – Entrada do Efluente Bruto no gradeamento ........................... 49 Figura 15 - Ponto de coleta 2 – Tratamento Primário .............................................................. 49 Figura 16 - Ponto de coleta 3 – Efluente da Lagoa de Aeração ............................................... 50 Figura 17 - Ponto de coleta 4 – Efluente após Decantação ...................................................... 51 Figura 18 - Ponto de coleta 5 - Wetland Construído um mês após o plantio ........................... 51 Figura 19 - Banho Ultratermostático e Chapa Aquecedora ...................................................... 52 Figura 20 – Bloco Digestor ...................................................................................................... 52 Figura 21 – pHmetro................................................................................................................. 53 Figura 22 – Oxitop .................................................................................................................... 53 Figura 23 – Estufa..................................................................................................................... 55 Figura 24 – Mufla ..................................................................................................................... 55 Figura 25 – Realização de análise de turbidez ......................................................................... 56 Figura 26 - Ambiente limpo próximo da estação de tratamento .............................................. 58 Figura 27 - Tubulação de condução de efluentes e hidrômetro ................................................ 59 Figura 28 - Nova tubulação ...................................................................................................... 60 Figura 29 - Lagoa de aeração ................................................................................................... 61 Figura 30 - Wetland construído e caixa para recirculação ....................................................... 62 Figura 31 - Hidrômetro na entrada do wetland......................................................................... 62 Figura 32 - Efluente após ensaio de tratamento físico-químico ............................................... 64 Figura 33 - Hidrômetro instalado para a medição da quantidade de efluentes gerados ........... 65 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Uvas processadas pelas empresas no Rio Grande do Sul (Milhões de kg) ............. 17 Tabela 2 - Parâmetros exigidos pela Resolução CONSEMA nº 128/2006 .............................. 22 Tabela 3 - Parâmetros Exigidos pela Res. CONAMA nº 357/2005 – Lançamento de Efluentes .................................................................................................................................................. 23 Tabela 4 - Caracterização dos poluentes concentrados correspondentes às operações mais poluentes do ciclo produtivo..................................................................................................... 27 Tabela 5 - Faixas de DBO ........................................................................................................ 54 Tabela 6 - Resultados das análises do efluente bruto ............................................................... 69 Tabela 7 - Resultado das análises após o tratamento primário ................................................. 69 Tabela 8 - Resultados das análises do efluente após lagoa de aeração..................................... 70 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Quantidade da uva processada durante a safra ....................................................... 65 Gráfico 2 - Leitura do hidrômetro no período de safra ............................................................. 66 Gráfico 3 - Efluente gerado no período da safra ...................................................................... 67 Gráfico 4 - Efluente gerado na entressafra ............................................................................... 68 Gráfico 5 - Resultados de oxigênio dissolvido ......................................................................... 71 Gráfico 6 - Resultados de nitrogênio ........................................................................................ 72 Gráfico 7 - Resultados de DBO ................................................................................................ 73 Gráfico 8 - Resultado de pH ..................................................................................................... 74 Gráfico 9 - Resultados de temperatura ..................................................................................... 75 Gráfico 10 - Resultados de turbidez ......................................................................................... 76 LISTA DE QUADRO Quadro 1 - Lista de parâmetros analisados e os equipamentos utilizados para as análises ...... 56 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 8 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas AMN: Associação Mercosul de Normalização Art.: Artigo CDE: Conselho da Europa CETEC: Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente CONESAN: Estadual de Saneamento do Estado de São Paulo CONSEMA: Conselho Estadual de Meio Ambiente COPANT: Comissão Panamericana de Normas Técnicas DBO: Dmanda Bioquímica de Oxigênio DQO: Demanda Química de Oxigênio ETE: Estação de Tratamento de Efluentes ou Esgoto FEPAM: Fundação Estadual de Proteção Ambiental IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISA: Indicador de Salubridade Ambiental ISO: International Organization for Standardization kg: Quilogramas L: litros m: Metro m²: Metro quadrado m³: Metro cúbico mg/L: Miligramas por litro NaOH: Hidróxido de Sódio NBR ou NBRs: Nº: Número B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 9 O2: Oxigênio OCDE: Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento OEA: Organização dos Estados Americanos OMS: Organização Mundial da Saúde pH: Potencial de Hidrogênio Iônico PVC: Policloreto de vinila RS: Rio Grande do Sul RSB: Reator Sequencial em Batelada SST: Sólidos Suspensos Totais SSV: Sólidos Suspensos Voláteis t: Toneladas UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura UNT: Unidades Nefelométricas de Turbidez B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 10 SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 15 2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 15 2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 15 3 REVISÃODE LITERATURA ........................................................................................... 16 3.1 Produção da uva e do vinho no Brasil ............................................................................ 16 3.1.1 Produção da uva e do vinho no Rio Grande do Sul .................................................... 17 3.2 Questões ambientais relacionadas com efluentes domésticos e industriais ................. 18 3.3 Tratamento de efluentes e as questões ambientais ......................................................... 19 3.4 Legislação aplicável .......................................................................................................... 21 3.5 Efluentes da atividade de vinicultura ............................................................................. 24 3.5.1 Caracterização dos efluentes de vinicultura ............................................................... 26 3.6 Caracterização de sistemas de tratamento de efluentes ................................................ 27 3.6.1 Lodos ativados................................................................................................................ 27 3.6.2 Wetlands .......................................................................................................................... 29 3.7 Eficiência do tratamento de efluentes por meio de wetlands construídos.................... 30 3.8 Riscos e impactos ambientais de sistemas de wetlands construídos ............................. 31 3.9 Condições climáticas do estado associadas ao tratamento por wetland construído.... 32 4METODOLOGIA ................................................................................................................. 34 4.1 Histórico da vinícola ......................................................................................................... 35 4.2 Caracterização da área de estudo ................................................................................... 36 4.2.1 Definições gerais ............................................................................................................ 37 4.3 Antiga estação de tratamento de efluentes da vinícola .................................................. 39 4.4 Melhorias sugeridas .......................................................................................................... 41 4.5.1 Capacidade do Sistema ................................................................................................. 43 4.5.2 Etapas do tratamento .................................................................................................... 44 4.6 Quantificação da geração de efluentes da vinícola ........................................................ 46 4.7 Amostragens e análises ..................................................................................................... 47 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 11 5 RESULTADOS e DISCUSSÕES ........................................................................................ 57 5.1 Resultados da otimização da estação de tratamento de efluentes ................................ 57 5.2 Resultados de quantificação de efluentes gerados ......................................................... 64 5.3 Resultados das análises de eficiência ao longo do processo de tratamento ................. 68 5.3.1 Oxigênio dissolvido ........................................................................................................ 70 5.3.2 Nitrogênio total .............................................................................................................. 71 5.3.3 DBO................................................................................................................................. 72 5.3.4 pH .................................................................................................................................... 73 5.3.5 Temperatura ................................................................................................................... 74 5.3.6 Turbidez .......................................................................................................................... 75 CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 79 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 12 1 INTRODUÇÃO Os povos gregos foram os primeiros a se preocuparem com o tratamento de efluentes utilizando-os para os diversos fins. A maior preocupação encontrava-se nos esgoto doméstico nas cidades. A partir disso, ideias foram surgindo para eliminar o problema. Uma das primeiras ideais foi desenvolver uma estrutura que permitia o transporte de efluentes para fora das cidades. Na era moderna, a instalação de rede coletora de esgotos em algumas cidades teve início na Europa, no começo do século XIX, enquanto a implantação de sistemas de tratamento de esgoto doméstico só ocorreu a partir do final do século XIX e início do século XX. No que se refere aos recursos hídricos, o homem tem realizado esforços para evitar a poluição via lançamento de esgoto bruto ou outros efluentes, embora de forma dispersa, temporal ou espacial pelo planeta (LEME, 2008). Nos Estados Unidos, ainda com Leme (2008), a disposição e o tratamento efluentes não recebeu muita atenção até o final de 1800, porque o controle dos lançamentos não eram tão severos e a disposição era realizada sobre o solo. Com a dificuldade para obter áreas ao redor das grandes cidades, visando à disposição do esgoto bruto no solo, tornou-se necessária a adoção de métodos de tratamento de esgotos e efluentes, além do aumento das estações de tratamento. A primeira reunião internacional com a preocupação efetiva de definir conceitos e aspectos de uso dos recursos hídricos, incluindo a poluição e a qualidade da água, foi realizada em Helsinki, na Finlândia, em 1996. As regras de Helsinki definiram a poluição dos recursos hídricos como “qualquer alteração nociva das características de quantidade e qualidade das águas de uma bacia hidrográfica motivada por intervenção humana”. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 13 No Brasil, destaca-se o documento publicado em 2002, pela Fundação IBGE – Indicadores do Desenvolvimento Sustentável. Ele estabelece instrumentos de mensuração por meio de 50 indicadores de desenvolvimento, organizados em quatro dimensões: Social, Ambiental, Econômica e Institucional. Essas dimensões abrangiam diversos temas, dentre eles os que se relacionam com o tema de estudo, sendo a saúde, atmosfera, terra, oceanos, mares e áreas costeiras, biodiversidade, saneamento, estrutura econômica. Estabeleceu também alguns trabalhos setoriais dirigidos diretamente para avaliar a qualidade ambiental e a qualidade de vida, como o Indicador de Salubridade Ambiental (ISA). O documento produzido em 1999 pelo Conselho Estadual de Saneamento do Estado de São Paulo (Conesan), que estabeleceu a caracterização qualitativa e quantitativa dos serviços de abastecimento de água, esgotos sanitários e limpeza pública, drenagem, controle de vetores, situação dos mananciais e um indicador socioeconômico municipal, além de artigos isolados publicados recentemente por diversos autores que foram constituídos por indicadores socioeconômicos de serviços públicos e da qualidade do meio ambiente. Tratando-se da saúde pública e da qualidade do meio ambiente, pode-se citar dois aspectos fundamentais que estão relacionados com o lançamento de efluentesnos rios: a) a proteção do manancial (fauna e flora) contra efeitos da poluição causada pelo lançamento de efluentes e; b) a proteção do manancial (bacteriológica da água) contra os efeitos da contaminação gerada pelo lançamentos efluentes, causando, inclusive, problemas de saúde à população. O autor cita que, coincidentemente, as medidas de saneamento, que consistem na prevenção da poluição dos mananciais, satisfazem a ambos os aspectos: a proteção da flora e fauna do manancial e da saúde pública, e que atualmente as únicas soluções existentes para a questão da poluição dos meios naturais e contaminação da população, são o tratamento dos efluentes e dos esgotos (NETTO, 1991). Os principais efeitos causados pela poluição e a contaminação nos recursos hídricos são a redução do padrão de qualidade da água usada para o abastecimento da população, na irrigação, na indústria, na criação de peixes e outros usos, a destruição da fauna e flora aquática, resultando na redução do poder diluidor e autodepurador dos rios, a redução do potencial hidráulico, a redução das atividades esportivas e de lazer, a redução do potencial de assentamentos urbanos e industriais, o perigo potencial à saúde pública, resultando no aumento das doenças veiculadas pela água. Com isso torna-se necessária a exigência de tratamentos mais sofisticados para garantir o padrão de potabilidade da água. Para minimizar os riscos dos efluentes, reduzindo também a contaminação microbiológica, os Wetlands B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 14 Construídos são considerados hoje como um método de tratamento que utiliza tecnologia simples, de fácil operação e custo baixo. Neles ocorre principalmente, boa ciclagem de nutrientes, a remoção da matéria orgânica e a diminuição dos microrganismos patogênicos presentes nos efluentes. Dentre os numerosos mecanismos que causam essa remoção, destacam-se a decantação (efeito peneira causado pelo biofilme microbiano aderido às raízes e ao substrato), o predatismo e a competição entre outros microrganismos e eventuais substâncias tóxicas produzidas pelas plantas e liberadas através de suas raízes (COSTA, 2003). O presente trabalho mostra um estudo realizado em uma vinícola localizada na Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul (RS) que não permitiu a utilização do nome para a produção do trabalho, porém permitiu a utilização das informações e do sistema físico para a produção do mesmo. O estudo buscou realizar o aperfeiçoamento do sistema de tratamento de efluentes já existente, a fim de propor melhorias no processo para tornar-se possível avaliação da eficiência do tratamento de efluentes de vinícola através dos processos biológicos e físico-químicos com polimento por meio do sistema de Wetland Construído. Assim, no segundo Capítulo apresenta-se a Revisão de Literatura, trazendo temas para o embasamento do estudo. No terceiro Capítulo está descrita a Metodologia que foi utilizada na fase prática do estudo. O quarto Capítulo, mostra e discute todos os resultados obtidos através da metodologia aplicada ao sistema de tratamento de efluentes. Por fim, o quinto e último Capítulo apresenta as conclusões estabelecidas pelo estudo e as dificuldades encontradas na elaboração do mesmo. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 15 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O presente estudo tem como objetivo geral, otimizar e avaliar a eficiência do tratamento de efluentes de vinícola, através de processos biológicos e físico-químicos, com polimento por meio do sistema de Wetland Construído. 2.2 Objetivos específicos Aperfeiçoar a Estação de Tratamento de Efluentes, para alcançar meios de avaliar da eficiência dos tratamentos de efluentes; Estimar a quantidade de efluentes gerados a partir da quantidade de uva processada durante a produção diária; e Avaliar a eficiência do tratamento e as características dos efluentes ao longo do processo de tratamento. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 16 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Produção da uva e do vinho no Brasil Com a chegada dos colonizadores portugueses, nasceu no Brasil a atividade do cultivo de videiras para a produção de uva. No século XVI, a história conta que Martin Afonso de Souza, teria trazido as primeiras videiras e plantou na sua Capitania. Acredita-se que essas videiras eram originárias da Espanha e Portugal e eram caracterizadas como ideais para a produção do vinho. Por volta do ano de 1789, um decreto expedido por Portugal proibiu a plantação de videiras para a produção de vinhos, com isso o país que já apresentava grande expansão da atividade, passou por um momento de bloqueio de desenvolvimento neste ramo. Assim a cultura de uvas passou a ser considerada de uso doméstico, pelo menos até o final do século XIX. Foi apenas no século XX, ancorada pela grande quantidade de imigrantes italianos, que a atividade voltou a ter força e ser novamente classificada como uma atividade comercial (IBRAVIN, 2010). A viticultura brasileira, desenvolvida sob condições temperadas, segue, em termos gerais, os mesmos procedimentos utilizados em países tradicionais no cultivo da videira. Já nas regiões de clima quente, adaptaram-se técnicas de manejo a cada situação específica e os ciclos vegetativos e de produção são definidos em função das condições climáticas e das oportunidades e exigências do mercado. A vitivinicultura brasileira, embora recente, tem avançado tanto nos produtos elaborados como na produção de uvas para consumo in natura. Em 2004 foram produzidas B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 17 1.281.802 t (toneladas) de uvas, representando aumento de 21,51% em relação ao ano anterior. Houve redução de produção nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Historicamente o Brasil destinava a maior parte da produção de uvas para processamento, no entanto, com a implantação de vinhedos de uvas para mesa, de 2001 a 2004 as uvas de mesa representaram maior proporção. Em 2003 40,38% da uva produzida no Brasil foi destinada à elaboração de vinhos, sucos, destilados e outros derivados e em 2004 houve um incremento passando a representar 48,72%(IBRAVIN, 2010). 3.1.1 Produção da uva e do vinho no Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de uva, sendo responsável por 51,1% da produção nacional. Produção esta que passou de 461.290 toneladas na média entre os anos de 1998 a 2000 para 519.138 toneladas em 2001 a 2003 (ATLAS, 2010).A Tabela 1 mostra os índices alcançados entre os anos de 2004 a 2010. O aumento da produção, no estado, foi motivado tanto pelo incremento na área plantada tanto na região tradicional como em novos polos produtores como pelas excelentes condições climáticas. Tabela 1 - Uvas processadas pelas empresas no Rio Grande do Sul (Milhões de kg) Dados Classificação Tipo Safra 2004 Safra 2005 Safra 2006 Safra 2007 Safra 2008 Safra 2009 Safra 2010 Americanas e Híbridas Brancas 55,27 50,10 47,16 56,62 68,79 60,60 58,50 Rosadas 13,21 13,19 9,25 11,27 15,12 10,51 13,08 Tintas 447,92 359,35 310,63 430,50 466,37 390,91 409,23 Comuns Total 516,40 422,64 367,04 498,38 550,29 462,02 480,82 Viníferas Brancas 27,11 28,76 22,05 28,06 34,40 32,37 22,04 Rosadas 0,26 0,37 0,30 0,23 0,26 0,21 0,08 Tintas 35,22 41,48 34,24 43,86 49,09 39,53 23,95 Viníferas Total 62,59 70,61 56,60 72,15 83,75 72,10 46,07 Total Global 578,99 493,25 423,64 570,54 634,04 534,13 526,89 Fonte: Adaptado de Ibravin (2010). B D U – B ib lio te caD ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 18 A região da Serra é a maior produtora de uvas, com 80,86% do total produzido no estado, ou seja, 520.823 toneladas. Todos os municípios com produção superior 10.000 toneladas localizam-se nesta região, destacando-se Bento Gonçalves com 114.780 toneladas (17,82% da produção estadual), Flores da Cunha com 82.040 toneladas, Caxias do Sul com 49.727 toneladas, Farroupilha com 48.736 toneladas, e Garibaldi com 41.940 toneladas, esta região de grande produção também pode ser visualizada na Figura 1. Cabe salientar que recentemente, municípios situados nas regiões da Fronteira Oeste (Santana do Livramento) e Campanha (Bagé), vêm aumentando sua participação na produção de uva, como resultado do desenvolvimento da vitivinicultura nestas regiões (ATLAS, 2010). Figura 1 - Mapa da produção de uva no estado do RS Fonte: Atlas Sócio Econômico do RS (2010) 3.2 Questões ambientais relacionadas com efluentes domésticos e industriais O Meio Ambiente está sofrendo as consequências do aumento do descarte dos efluentes industriais e domésticos sem nenhum tipo de tratamento. As consequências são o aumento da contaminação dos rios, represas, praias e balneários. Associado aos serviços de higiene, saúde e educação, a água é um indicador universal de Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de um indicador importante para a caracterização básica da qualidade de vida da população, possibilitando o acompanhamento das políticas ambientais e de saneamento básico. O acesso à água tratada é fundamental, sem ela dificilmente existirá a possibilidade de vida, seja animal ou vegetal. Estudos recomendam ações urgentes para expansão do saneamento básico, coleta e tratamento dos efluentes (AMBITRAT, 2010). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 19 Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, 2010, o percentual do volume de efluentes em geral descartados nos corpos d‟água e no solo que recebe algum tipo de tratamento é de 1/3, índice considerado muito baixo. Com o crescimento industrial e da população, o aumento do consumo da água é inevitável e, consequentemente, aumentam os efluentes contaminados que são descartados sem nenhum tipo tratamento no solo ou nos corpos d‟água. Um estudo feito pela CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, concluiu que a contaminação de rios por efluentes domésticos e industriais, encarece o tratamento da água para abastecimento público e isso terá várias consequências, inclusive podendo gerar escassez de água de qualidade até mesmo nas regiões ricas em recursos hídricos (AMBITRAT, 2010). 3.3 Tratamento de efluentes e as questões ambientais O destino final de qualquer efluente é o encaminhamento a um corpo de água. Em consequência desse lançamento, aparece a possibilidade de virem a serem gerados certos inconvenientes, como, por exemplo, o desprendimento de maus odores, o sabor estranho na água potável, mortandade de peixes e outros. A saúde pública pode ser ameaçada pela contaminação das águas de abastecimento, dos balneários e dos gêneros alimentícios. A febre tifoide, a disenteria, cólera e a hepatite infecciosa podem ser disseminadas por veiculação hídrica. É possível que as águas de um rio se tornem impróprias para o uso agrícola e industrial. Com a finalidade de manter os corpos de água livres de inconvenientes como os citados, é que se busca o tratamento de efluentes e sua eficiência (IMHOFF, 1996). Assim, uma unidade de tratamento – Estação de Tratamento de Efluentes ou Esgoto (ETE) – pode ser implantada para tratar os esgotos domésticos gerados por uma cidade ou tratar os efluentes gerados por uma indústria ou mais indústrias. A ETE municipal deverá promover a remoção da matéria orgânica, sólidos em suspensão e os organismos patogênicos (causadores de doenças), presentes nos esgotos domésticos da cidade, por meio de processos primários e secundários de tratamento. A ETE Industrial deverá promover a remoção dos poluentes de maior concentração presentes nos efluentes de uma indústria, como por exemplo, a matéria orgânica, sólidos em suspensão, nitrogênio e fósforo, compostos tóxicos e os compostos não biodegradáveis (LEME, 2008). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 20 A depuração de águas ricas em matéria orgânica, como são os esgotos e alguns tipos de efluentes, como o que se trata no estudo, consiste na estabilização desse material orgânico, com a introdução de oxigênio, e, assim, por meio da oxidação, é possível transformá-lo em substâncias de estrutura molecular mais simples e com baixo teor energético. A oxidação da matéria orgânica ocorre com o auxílio de catalisadores que facilitam essa reação. Os microrganismos presentes em grande quantidade no esgoto ou lodos de estações de tratamento de efluentes são os responsáveis pelo suprimento dos catalisadores (enzimas respiratórias). No processo de tratamento do efluente, os microrganismos (bactérias, fungos e outros) responsáveis pelo processo, alimentam-se da matéria orgânica presente e respiram, liberando o oxigênio necessário para a oxidação (LEME, 2008). De forma geral, o efluente é constituído por uma parte sedimentável, que formará o lodo e que deve ser tratado em digestores anaeróbios, e por outra parte líquida contendo matéria orgânica solúvel e partículas de dimensão menores, exigindo uma sedimentação mais lenta, realizada por meio de processos aeróbios. Esses processos ocorrem nas unidades de tratamento em ambiente fechado, restrito e controlado e com um intervalo de tempo pequeno, imitando de certa forma o que ocorre com a autodepuração da matéria orgânica nos corpos de água (IMHOFF, 1996). No tratamento de efluentes, o suprimento de oxigênio pode ser feito por meio de bactérias que respiram o oxigênio livre do ar (bactérias aeróbias), originando o processo aeróbio, ou bactérias que retiram o oxigênio combinado e presente em outras substâncias (aceptores de hidrogênio), originando o processo anaeróbio. Em resumo, tratar efluentes com grande teor de carga orgânica é realizar a oxidação da matéria orgânica presente pela adição de oxigênio. A maior parte dos esgotos e efluentes obtidos são tratados e posteriormente liberados em um corpo hídrico receptor. Normalmente são utilizados recursos hídricos ou fontes de águas superficiais. Esses receptores fazem parte de um conjunto de redes hídricas que compõem as bacias hidrográficas. No Rio Grande do Sul existem três grandes bacias hidrográficas: a Bacia do Uruguai, a qual faz parte da Bacia do Rio da Prata e abrange cerca de 57% da área total do estado, a bacia do Guaíba com 30% do total e a Bacia Litorânea com 13% do total (ATLAS, 2010). Com a caracterização do uso do solo de cada bacia em função da sua extensão e atividades predominantes, é possível que se tenha uma ideia dos tipos de efluentes que são B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 21 originados e qual bacia representa a maior parcela. O uso do solo da primeira está vinculado principalmente às atividades agropecuárias e agroindustriais. A segunda apresenta áreas de grande concentração industrial e urbana, sendo a mais densamente povoada do Estado, além de sediar atividades diversificadas incluindo indústria, agropecuária e agroindústria, entre outras. A terceira apresenta usos do solo predominantemente vinculados às atividades agropecuárias, agroindustriais e industriais. Nota-se que em todas as bacias, a produção de efluentes está sempre vinculada em maior escala com as atividades agropecuárias e as agroindústrias o que deixa transparecer a presença de efluentescom grande carga orgânica (ATLAS, 2010). Pode-se observar então, que os maiores problemas enfrentados nas questões que expõem as Bacias Hidrográficas a riscos é o lançamento de efluentes ou de componentes químicos nos cursos hídricos de águas superficiais. Ainda com dados do Atlas, 2010, os lançamentos de efluentes nos cursos hídricos, são os problemas mais comuns mostrados em um levantamento realizado, podendo citá-los: despejo de efluentes domésticos sem tratamento nos cursos d‟água; despejo de efluentes industriais e agroindustriais nos cursos d‟água; e produção de grandes volumes de resíduos sólidos urbanos e industriais e manejo inadequado, principalmente em relação à disposição final. O reconhecimento destas ocorrências é fundamental para a definição de ações e políticas públicas e para o envolvimento maior da sociedade civil. No mesmo sentido, a identificação destes fenômenos utilizando a unidade territorial da bacia hidrográfica auxilia na compreensão da dinâmica ambiental a que estes estão diretamente relacionadas. 3.4 Legislação aplicável A legislação ambiental vigente no Brasil estabelece conceitos, padrões, normas e procedimentos para tratamento e lançamento de esgoto e efluentes nos recursos hídricos, por meio de vários instrumentos, entre os quais: a classificação dos corpos de água, o padrão de lançamento e o padrão do corpo receptor (LEME, 2008). Com a finalidade da melhora nos processos de aplicação do poder legislativo entrou em vigor, a partir de 17 de março de 2005, a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 357, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamentos de efluentes, e dá outras providências. Essa Resolução surge para revogar a resolução CONAMA nº 20/86(BRASIL, 2005). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 22 A legislação brasileira e as estaduais definem as responsabilidades pelo tratamento de efluentes, bem como o sistema de financiamento do tratamento. Também definem os padrões de qualidade das águas onde os efluentes tratados devem ser lançados. Então no geral podem- se citar as seguintes legislações: Constituição Federal de 1988: Artigo (Art.) 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Lei Federal 11.445/2007: estabelece diretrizes nacionais para o saneamento, condições e padrões de lançamento de águas. Resolução CONSEMA (Conselho Estadual de Meio Ambiente): estabelece diretrizes estaduais para o lançamento de efluentes, condições e padrões que podem ser visualizados na Tabela 2. Tabela 2 - Parâmetros exigidos pela Resolução CONSEMA nº 128/2006 Parâmetros Padrão de emissão DBO 5 < = 180 mg/L (litro) Nitrogênio Total 20 mg/L Temperatura < 40 ° C pH Entre 6,0 e 9,0 Turbidez 100 UNT Oxigênio Dissolvido Não inferior a 5mg/L de O2 Fonte: Adaptado da Resolução CONSEMA n º 128/2006 O padrão de lançamento de efluentes e o padrão de qualidade do corpo receptor também são definidos no plano nacional pela resolução CONAMA nº 357/2005, já referida acima. Com os dados apresentados na resolução é possível verificar se o efluente tratado http://www.luftech.com.br/images/stories/lei%2011445%202007.pdf B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 23 atinge os critérios estabelecidos para ser classificado de qualidade. O art. 4º trata das águas doces, que podem ser classificadas em, I - classe especial, II - classe 1, III - classe 2 (que será descrita detalhadamente), IV - classe 3 e V - classe 4. Recursos hídricos que são classificados com o padrão de classe 2, apenas poderão receber lançamentos no mesmo padrão ou padrões de nível anterior, abaixo estão descritos os critérios estabelecidos para classe 2. III - classe 2: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) à aquicultura e à atividade de pesca. Na Tabela 3, estão registrados os principais parâmetros que compõem a caracterização do efluente, com finalidade de lançamento. Todos os parâmetros estão vinculados as águas de classe 2. Tabela 3 - Parâmetros Exigidos pela Res. CONAMA nº 357/2005 – Lançamento de Efluentes Parâmetros Condições pH Entre 5 e 9 Temperatura < 40° C Turbidez Até 100 UNT (Unidades Nefelométricas de Turbidez) DBO 5 dias a 20°C (Demanda Bioquímica de Oxigênio) 3 à 5 mg/L O2 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 24 Nitrogênio Total 3,7mg/L N, para pH ≤ 7,5 2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0 1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5 0,5 mg/L N, para pH > 8,5 Oxigenio Dissolvido Não inferior a 5mg/L de O2 Fonte: Adaptado da Resolução CONAMA nº357/2005 3.5 Efluentes da atividade de vinicultura As atividades relacionadas com a produção vinícola constituem um setor de importância, tanto pela sua influência significativa a nível econômico e cultural, como também pelo seu impacto a nível ambiental. Com o aumento das preocupações ambientais que se tem verificado, a preocupação associada ao destino dado aos efluentes e aos resíduos sólidos resultantes desta atividade tem aumentado. Os efluentes vinícolas são responsáveis pela poluição dos cursos d‟água próximos das adegas. A composição destes efluentes caracteriza-se por apresentar grandes flutuações sazonais de volume e composição. Por serem mais poluentes que a dos efluentes domésticos, inviabilizam o seu encaminhamento para ETEs municipais, sob o risco de provocarem o mau funcionamento destas (VIEIRA, 2009). Na atividade vinícola a água é utilizada em todo o sistema, desde o início do processo até a elaboração dos produtos finais, sendo as principais fontes a utilização para a lavagem e limpeza dos equipamentos e superfícies (MENDES; SOARES; ZUCCO, 2008). Na Figura 2, mostrada abaixo estão destacadas as etapas do processo de vinificação, produtoras de efluentes líquidos que posteriormente deveram ser enviados para tratamento específico. Estão presentes no fluxograma todos os tipos de resíduos gerados. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 25 Figura 2- Fluxograma dos processos responsáveis pela produção de efluentes Fonte: Adaptado de Vieira (2009, p.21). Durante a recepção das uvas, esmagamento e desengaço, os efluentes gerados são resultado da lavagem dos contentores de transporte e recepção das uvas, da maquinaria que realiza o desengaço e o esmagamento, e do pavimento da vinícola, além da lavagem das uvas. Normalmente esse efluente corre por meio de canaletas abertas pelo interior da Vinícola. Essas canaletas permanecem abertas pra evitar problemas de entupimento de canalizações. O efluente passa então por um sistema de grades e após segue para o tanque que irá liberar o efluente ao sistema de tratamento de efluentes da Vinícola, ou até mesmo, pode permanecer armazenado até que uma empresa que realize o tratamento realize a recolha. As operações restantes geram efluentes na lavagem dos equipamentos como cubas de fermentação, de decantação, de maturação, bombas. Durante a transferência de vinhode uns equipamentos para outros, ocorrem perdas de vinho, sendo necessária a lavagem do piso (VLYSSIDES, et al., 2005 apud VIEIRA, 2009). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 26 No processo de fermentação, ou seja, o processo de produção de vinho, os efluentes mais poluentes são produzidos, agregando grande teor de matéria orgânica. Porém, não ocorrem processos de limpeza durante a produção nos tanques de fermentação, pois as principais bactérias, responsáveis pela fermentação poderiam ser perdidas. Os resíduos oriundos desse processo são levados para a próxima etapa, a Trasfega e então são encaminhados para o tratamento. A trasfega, que trata-se da transferência do mosto fermentado ou vinho de um tanque de armazenamento para outro, separando o sedimento ou borra decantado. Esta etapa facilita a clarificação do vinho e previne a aquisição de odores estranhos, provocado pela presença de células velhas das leveduras. O vinho deverá encher completamente o recipiente, para reduzir o máximo possível o seu contato com o ar, inibindo assim a multiplicação de microrganismos aeróbios nocivos. Com isso certa quantidade de vinhos pode ser perdida e lançada nos pisos e equipamentos, o que implica na lavagem dos mesmos. Com o processo de separação do decantado existe a geração de resíduo em forma de borra. Esta borra deve ser armazenada em local fechado até seguir para o tratamento nos reatores de digestão. Após o tratamento a borra pode ser dispersa em solo agrícola. A 2ª trasfega é responsável pelo maior volume de borras com maior carga poluente, que também seguem para o tratamento de efluentes. Durante as trasfegas ocorrem também, as lavagens das cubas de fermentação (VIEIRA, 2009). A colagem dos vinhos é uma operação que consiste na introdução no vinho, mais ou menos turvo, de substâncias capazes de flocular e sedimentar, arrastando as partículas em suspensão. Essas partículas também compõem as borras, ou também o chamado lodo. Esse lodo, também é armazenado e encaminhado para o tratamento de efluentes, juntamente com os descritos nos parágrafos anteriores. Nesta etapa são formados os tártaros ou tártarato, que é uma camada salina que o vinho deixa na parede do tanque de armazenamento, sempre formada dentro do tanque. Essa camada, também compõem os resíduos gerados no processo de vinificação. No processo de engarrafamento, os efluentes gerados têm origem na lavagem das cubas, das garrafas, das máquinas de engarrafamento e dos pisos. (COMMISSION, 2003 apud Vieira, 2009). 3.5.1 Caracterização dos efluentes de vinicultura Estudo realizado na região do vale do Rio do Peixe mostra que somente esse vale detém 90% da produção anual de vinhos em Santa Catarina, movimentando a rota turística e trazendo desenvolvimento aos municípios. O objetivo geral da pesquisa era caracterizar os B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 27 efluentes líquidos oriundos do processo de fabricação dos vinhos. O monitoramento ocorreu em um período de 90 dias, onde diversos parâmetros foram analisados, podendo-se concluir que o efluente possuía alta quantidade de carga orgânica. Foi possível verificar valor de 18755,56 mg/L para DQO e baixo pH 5,45. Segundo o autor, os resultados demonstram que o efluente vinícola é característico e dinâmico, além de apresentar grande variação nos parâmetros monitorados (CALIARI; MENDES; SOARES, 2008). Estudo realizado em 2005, na região Demarcada Douro em Portugal. Foi realizada a caracterização de efluentes de diversas vinícolas que compõem a principal atividade econômica da região. Todos os efluentes foram caracterizados em função de DBO5, DQO, pH, SSV (Sólidos Suspensos Voláteis), SST (Sólidos Suspensos Totais) e teores em Nitrogênio, Fósforo e Potássio. Os resultados podem ser observados na Tabela 4. Tabela 4 - Caracterização dos poluentes concentrados correspondentes às operações mais poluentes do ciclo produtivo Efluente pH DBO (%) Nitrogênio (mg/L) 1ª Trasfega 4,95 55 100 2ª Trasfega 3,76 49 204 3ª Trasfega 3,63 54 935 Fonte: Adaptado de Pirra (2005). Analisando a Tabela4, acima, pode-se verificar que os efluentes caracterizados, em sua totalidade, são ácidos. As faixas de pH não foram maiores que 5. É possível verificar que todos os efluentes apresentaram uma razão de DBO5/DQO semelhante, variando de (49 até 55%) (PIRRA, 2005). 3.6 Caracterização de sistemas de tratamento de efluentes 3.6.1 Lodos ativados Os sistemas de tratamento de lodos ativados têm sido usados para tratar uma grande variedade de efluentes. Mais de 90% das estações de tratamento de efluentes líquidos municipais usam esse sistema como parte essencial do processo de tratamento. A função B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 28 básica de um processo de tratamento biológico de efluentes líquidos é converter compostos orgânicos a dióxido de carbono, água e células bacterianas. As células podem então ser separadas da água purificada e eliminados de uma forma concentrada chamado excesso de lodo. Assumindo que lodos ativados tem uma eficiência de rendimento de crescimento de 0,5 mg de peso seco por mg demanda biológica de oxigênio (DBO), 1 kg de DBO removida irá gerar 0,5 kg a seco o excesso de lodo . Deve-se compreender que o excesso de lodo gerado a partir do processo de tratamento biológico é um desperdício secundário sólido que devem ser eliminados de uma forma segura e rentável. A disposição final do excesso de lodo tem sido e continua a ser um dos problemas mais dispendiosos para os serviços públicos de efluentes industriais, por exemplo, o tratamento do excesso de lodo pode ser responsável por 25% até 65% do custo total da planta de operação (LIU, 2002). Os lodos ativados são complexos agregados que consistem de vários microrganismos (principalmente bactérias). Surpreendentemente, sabe-se muito pouco sobre os mecanismos e cinética de lodos ativados e, portanto, os principais fatores que determinam as propriedades de flocos como seu tamanho, densidade e estrutura. É necessária a compreensão destes mecanismos mais claramente, seremos capazes de manipulá-los melhor para conseguir flocos mais favorável. Isto é, flocos que resolver bem, têm boas características de desidratação e têm alta funcionalidade em termos de atividade (JIN et al., 2002). Em geral, entre os processos biológicos, a opção começa por ser tomada tendo por base o valor da concentração de matéria orgânica a tratar. Na verdade, os processos aeróbios constituem a grande maioria dos sistemas desenhados para o tratamento de efluentes com teores de matéria orgânica na gama classificada como “pouco concentrados”, ou seja, (valores de DQO inferiores a 2000 mg/L), para a eliminação de nutrientes dos efluentes já pré-tratados por processos anaeróbios. Por outro lado, os efluentes “concentrados” em matéria orgânica (valores de DQO superiores a 2000 mg/L) são especialmente adequados para serem sujeitos a tratamento anaeróbio. Esta regra deve ser, obviamente, entendida como destinada a simplificar a questão, havendo bastantes exceções (RODRIGUES, et al., 2006). Ainda com Rodrigues et. al, (2006), os processos anaeróbios demonstram uma boa capacidade para o tratamento de efluentes vinícolas. A opção pelos processos anaeróbios assenta no seu adequado desempenho e na economia de exploração do sistema de tratamento. Os custos de arejamento nos sistemas aeróbios são proporcionais aos valores de matéria orgânica a eliminar, pelo que os custos de operação podem ser bastante significativos. Os processos anaeróbios, de maneira diferente aos aeróbios, não necessitam de fornecimento de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d aU N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 29 ar, pelo que apresentam um balanço energético nulo ou, desde que seja aproveitado o gás metano decorrente da degradação anaeróbia. Um fator a ser considerado, é a redução de da biomassa anaeróbio, como sugestão para esse controle, utiliza-se o tempo de retenção baseado na formação dos biofilmes. Os processos de tratamento aeróbio, em efluentes com grande concentração de matéria orgânica, realizam o trabalho de afinação, eliminando a matéria orgânica remanescente, nitrogênio e fósforo. Apesar da utilização desta regra, de disposição dos tratamentos, em indústrias vitivinícolas de pequena dimensão, onde a minimização do custo de investimento é o ponto central e em que, por razões de simplicidade de operação, apenas se considera um processo biológico, é usual adoptarem-se os processos aeróbios, em especial no caso do grau de qualidade do efluente final ser elevado. 3.6.2 Wetlands No contexto de tratamento de efluentes, os wetlands são ecossistemas que funcionam como receptores de águas naturais e águas produzidas por atividades antrópicas. Os wetlands naturais são conhecidos como terras úmidas, brejos, várzeas, pântanos, manguezais e lagos rasos (HAANDEL et al., 2004). Os sistemas chamados de wetlands, ou também identificados como zonas úmidas, estão sendo utilizados em vários países na recuperação de recursos hídricos e efluentes industriais. Atualmente no Brasil, este sistema vem sendo utilizado para pré-tratamento de água para diversas finalidades, tratamento secundário e terciário de esgoto, além do abastecimento de água industrial e urbana (SALATI,2010). Continuando com Salati (2010), o termo wetland é utilizado para denominar um ambiente natural, que possui como característica umidade, por um longo período no ano, ou seja, esse ambiente pode permanecer inundado durante o ano todo. O comportamento dessas áreas pode variar de acordo que a geologia local e suas tendências climáticas. Associado a estes sistemas, pode-se considerar também que critérios evolutivos caracterizam a flora e a fauna local, que possivelmente sofreram adaptações ao meio. Os wetlands Construídos, como mostrado na Figura 3, são sistemas artificialmente projetados para utilizar plantas aquáticas (macrófitas) em substratos como areia, cascalhos ou outro material inerte, onde ocorre a proliferação de biofilmes que agregam populações variadas de microrganismos os quais, por meio de processos biológicos, químicos e físicos, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 30 tratam efluentes (SOUSA apud HAANDEL et al., 2004).Esses sistemas visam estimular o uso e melhorar as propriedades dos Wetlands naturais, relativas à degradação de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e consequentemente, melhorar a qualidade do efluente (MARQUES apud COSTA, 2003). Dentre os numerosos mecanismos que causam essa remoção, destacam-se a decantação (efeito peneira causado pelo biofilme microbiano aderido às raízes e ao substrato), o predatismo e a competição entre outros microrganismos e eventuais substâncias tóxicas produzidas pelas plantas e liberadas através de suas raízes (COSTA, 2003). Figura 3 - Esquema de Wetland Construído pelo sistema longitudinal e ascendente. Fonte:Salati (2010). 3.7 Eficiência do tratamento de efluentes por meio de Wetlands Construídos Um trabalho realizou o desempenho de três sistemas wetland, operados com efluente proveniente de reator UASB, no que se refere à remoção de nutrientes, organismos patogênicos e material carbonáceo, durante três anos de monitoramento. A eficiência da remoção de material carbonáceo variou de 70 a 86%,n o efluente produzido expresso em DQO manteve-se na média de 60mg.L-1. A remoção de nitrogênio e fósforo, durante o primeiro ano de operação foi considerável (66 e 86%, respectivamente). O wetland vegetado apresentou maior eficiência na redução de coliformes termotolerantes, quando comparado ao wetland não vegetado, ambos operados com a mesma carga hidráulica. No entanto a análise de variância confirma que não há diferença significativa em relação à redução de coliformes entre um e outro. O wetland construído remove satisfatoriamente matéria orgânica e sólidos suspensos. É um sistema de estrutura simples e de fácil manejo, embora apresente obstruções no volume de vazios do substrato, devido à acumulação de lodo durante a operação. A sedimentação e a retenção desse lodo ocorre, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 31 geralmente, em razão da baixa velocidade de escoamento da água no sistema wetland (HAANDEL et al., 2004). Durante os três anos de monitoramento, avaliando as condições do experimento, a remoção de fósforo em sistema wetland contendo areia lavada como substrato diminuiu, à medida que aumentou o tempo de operação do sistema. Nos meses iniciais, a remoção foi máxima (eficiência de 90%). Entretanto, essa eficiência tendeu a diminuir nos meses subsequentes. O wetland vegetado apresentou maior eficiência para a redução de coliformes termotolerantes (da ordem de 4 unidades logarítmicas), ao ser comparado com o wetland não vegetado (da ordem de 3 unidades logarítmicas), ambos operados com a mesma carga hidráulica (23 mm. dia-1). O efluente produzido durante os três anos no wetland vegetado manteve-se variando entre 800 e 2000 UFC/100 mL. Dessa forma, esse efluente pode ser destinado à irrigação de culturas não consumidas cruas (HAANDEL et al., 2004). O tratamento não apresentou efetividade na remoção de microrganismos indicadores, não obtendo em nenhuma amostra efluente concentração de Escherichia coli. 3.8 Riscos e impactos ambientais de sistemas de Wetlands Construídos Os riscos e impactos associados ao tratamento de efluentes e esgotos por wetlands construídos pode ser avaliado quando na exposição e proximidade humana a estes sistemas de tratamento e também devem ser previstos durante o projeto e operação do mesmo. Sistemas construídos de alagados para tratamento secundário podem não ser um lugar agradável para circulação de pessoas, e os visitantes podem apreciar melhor da periferia por muitas razões. Esgotos ou efluentes parcialmente tratados em um wetland construído para tratamento secundário, a despeito da provada efetividade deste processo ecológico para tratamento, apresenta essencialmente os mesmos riscos para a saúde humana que sistemas de lagoas. O risco do contato com o corpo e possível transmissão de doenças é igual em áreas alagadas de fluxo superficial e sistemas de tratamento por lagoas de estabilização. Essa importância é diferente para a interação humana com sistemas alagados para polimento, como encontra-se em alguns sistemas de tratamento, onde o efluente já encontrou requerimentos tais que foram estabelecidos pelos órgãos regulatórios. Bem menos riscos oferecem as áreas alagadas de fluxo sub-superficial, pois não há como entrar em contato direto com o efluente fluente (TONIATO, 2005). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 32 Em áreas alagadas construídas recebendo efluente primário, a exposição humana ao esgoto ou efluente é de maior importância na entrada do sistema, onde o afluente alcançou apenas o tratamento primário. Menor quantidade de problemas à exposição humana é garantido na saída, onde o esgoto ou efluente já foi tratado com uma qualidade de tratamento secundário ou melhor. Portanto, as considerações quanto ao gerenciamento, devem incluir a conscientização e a exposição do público quanto a ameaça à saúde. Para tratar efetivamente estes problemas, cercamento, avisos e outros controles devemser considerados no local do projeto, bem como no design e operação do sistema. Outro fator que pode gerar um impacto ambiental é a possibilidade de introdução de uma espécie exótica ao local. Em sistemas de alagados, os vegetais implantados no leito são geralmente espécies diferentes à região. Mesmo diante de um manejo planejado, a polinização natural do meio pode levar espécies estranhas ao ecossistema vizinho e ocasionar, talvez, impactos não desejáveis (TONIATO, 2005). 3.9 Condições climáticas do estado associadas ao tratamento por Wetland Construído A utilização de wetland construído como parte do sistema de tratamento de efluentes pode sofrer variações, dependendo do clima de cada região. Por ser um ambiente baseado na situação natural de um banhado, necessita de caraterísticas típicas para o bom funcionamento. O clima do Rio Grande do Sul é temperado do tipo subtropical, classificado como mesotérmico úmido. Devido à sua posição geográfica, entre os paralelos 27°03'42'' e 33°45'09'' latitude sul, e 49º42'41'' e 57º40'57'' longitude oeste, apresenta grandes diferenças em relação ao Brasil. A latitude reforça as influências das massas de ar oriundas da região polar e da área tropical continental e Atlântica. A movimentação e os encontros destas massas definem muitas de nossas características climáticas (ATLAS, 2010). As temperaturas apresentam grande variação sazonal, com verões quentes e invernos bastante rigorosos, com a ocorrência de geada e precipitação eventual de neve. As temperaturas médias variam entre 15 e 18°C, com mínimas de até -10°C e máximas de 40°C. Na Figura 4, é possível verificar que a região estudada, permanece com um temperatura anual média variando entre 14 até 18ºC, fornecendo um bom clima para a atividade de viticultura. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 33 Figura 4 - Mapa demonstrando a variação da temperatura nas diversas regiões do RS Fonte: Atlas, (2010). Com relação às precipitações, o Estado apresenta uma distribuição relativamente equilibrada das chuvas ao longo de todo o ano, em decorrência das massas de ar oceânicas que penetram no Estado. O volume de chuvas, no entanto é diferenciado. Ao sul a precipitação média situa-se entre 1.299 e 1.500mm e, ao norte observando na Figura 5, a média está entre 1.500 e 1.800mm, com intensidade maior de chuvas à nordeste do Estado, especialmente na encosta do planalto, local com maior precipitação no Estado. Figura 5 - Mapa demonstrando os níveis de precipitação no RS Fonte: Atlas, (2010). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 34 4 METODOLOGIA O presente estudo buscou aperfeiçoar e avaliar a eficiência no processo de tratamento de efluentes a partir de adequações no sistema, além mostrar resultados de eficiência, podendo assim propor critérios para garantir a população e ao ambiente natural, qualidade nos efluentes lançados. O trabalho foi realizado na estação de tratamento de efluentes líquidos de uma vinícola, localizada na região da Serra Gaúcha no estado do Rio Grande do Sul, onde a mesma se encontra em atividades de implantação e funcionamento desde o ano de 1940, avançando através das gerações. A alterações sugeridas para o aperfeiçoamento da estação de tratamento de efluentes existente, iniciaram no mês de outubro de 2011 e ainda não encontram-se totalmente finalizadas. A avaliação do tratamento de efluentes ocorreu em um período de quatro meses (março/2012 à junho/2012), período que compreendeu a safra da uva e a lavagem dos pisos e equipamentos. Esse período corresponde ao de maior quantidade de geração de efluente durante o ano. No entanto, devido à dependência das possibilidades financeiras da vinícola, fatores climáticos e prazos de entrega dos resultados das análises, o cronograma de amostragem não pode ser cumprido em sua totalidade. As atividades experimentais foram conduzidas nas empresas Ecocerta, Econsulting, no Laboratório de Biorreatores da Engenharia Ambiental da Univates e no Laboratório Unianálises da Univates. A coleta das amostras foi realizada, no caso das empresas, pelas próprias e as amostras que seguiram para os laboratórios foram coletadas pela autora. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 35 4.1 Histórico da Vinícola Vindo da Itália, ao final do século XIX, o primeiro idealizador da atividade vinícola da família trouxe consigo esperança e algumas mudas de videiras. Assim, próximo ao local onde se encontra hoje localizada a vinícola, iniciou a produção dos primeiros vinhos, que passaram a ser elaborados também por seus descendentes. Somente mais tarde, por volta de 1940 ocorreu a concretização da primeira vinícola da família, que deu origem a vinícola utilizada neste estudo. Na questão da elaboração dos vinhos e espumantes finos, foram implantados vinhedos próprios. Os mesmos recebem cuidados diários especiais e dedicação integral, que caracteriza um dos fatores mais importantes na garantia da qualidade dos produtos oferecidos. O local de plantação de videiras está localizado em terrenos com ótima orientação solar propiciando um maior número de horas sol/dia, excelente declividade de terreno, que possibilita a drenagem necessária para as plantas. Todo o sistema de condução é feito através de espaldeiras, permitindo a passagem de luz solar diretamente aos frutos, contribuindo ainda mais para a sanidade dos grãos. Como se não bastasse, a produção é limitada ao máximo de 8.000 kg de uva por hectare, reforçando o foco na qualidade. Em seu processo de produção, a vinícola conta com equipamentos de alta tecnologia italiana. Atualmente trabalha com produção de 6,5 milhões de litros, porém possui capacidade de armazenagem de 9,0 milhões de litros, compreendendo vinhos, espumantes e sucos concentrados. Na moderna vinícola instalada se busca alcançar o máximo desempenho a cada etapa do processo, tanto na utilização da matéria-prima, quanto na geração dos efluentes. Nas questões ambientais a vinícola busca modernidade e eficiência. Com a consultoria da empresa Tempus Soluções Ambientais e Topográficas, técnicos responsáveis e a estagiária Danielle Regina De Almeida Lanzarin, a equipe responsável pelo departamento ambiental da vinícola, realizou as adequações necessárias sugeridas ao sistema de tratamento de efluentes que existia no local, com a finalidade de aperfeiçoar o tratamento de efluentes e garantir maior eficiência ao sistema. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 36 4.2 Caracterização da área de estudo A indústria utiliza água em várias etapas e de diversas maneiras para a fabricação do produto, as indústrias vinícolas não são diferentes, utilizam a água na incorporação do produto, tubulações e pisos, lavagem de máquinas, evaporadores e esgoto sanitário. Parte dessa água utilizada torna-se contaminada por resíduos contidos no processo industrial, que dá origem aos efluentes líquidos (GIORDANO, 2011). Com isto, entende-se que existe a geração dos efluentes líquidos nos processos de fabricação ocorridos na indústria, aplicando-se ao caso de estudo, são os efluentes líquidos gerados na vinícola. Como já visto, a região onde a vinícola encontra-se inserida é reconhecida nacionalmente como grande produtora de vinhos. Logo a quantidade de efluentes gerados na produção vinícola, com características semelhantes, também compõe um grande percentual a nível nacional. A importância da quantificação do efluente gerado nos processos de produção de vinho e suas características se devem ao controle da qualidade dos recursos hídricos, que recebem os lançamentos deefluentes. Para isso são criados e testados os sistemas de tratamento de efluentes líquidos. A vinícola do caso de estudo, contava inicialmente com um tanque de alvenaria receptor de efluentes, que partia para o tratamento primário onde ocorria basicamente a correção do pH. Ao sair deste tanque o efluente era enviado para uma grande lagoa aberta no chão, sem impermeabilização, onde o nível da lagoa sempre era mantido que pode ser visualizado na Figura 6, tendo o efluente como destino final a aspersão em solo agrícola. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 37 Figura 6 - Vista geral da Estação de Tratamento de Efluentes antiga Fonte: Lanzarin, (2011). Com as alterações sugeridas e realizadas o sistema apresenta novas características que serão descritas no decorrer do capítulo. O sistema hoje apresenta cinco processos, compreendendo: gradeamento, tanque de tratamento primário (digestor anaeróbio com posterior migração para o tratamento físico-químico), lagoa de aeração, tanque decantador e wetland construído. Para a caracterização específica da área de estudo foi utilizado como base de dados e mapas o Atlas Socioeconômico do estado do Rio Grande do Sul. Esse Atlas foi projetado a partir da base cartográfica digital 1:1.000.000.A cartografia digital é realizada, predominantemente, com a utilização de softwares da família ArcGis 10.0. Foram usados dados para a caracterização da pluviometria e hipsometria. 4.2.1 Definições gerais A vinícola fundada em 1940, localizada próxima 30 km do Vale dos Vinhedos, encontra-se em uma região propícia para o cultivo de videiras, com solos escuros, invernos intensos, temperaturas negativas e queda frequente de geada durante todo o período de dormência das parreiras. Encontra-se a mais de 700 metros acima do nível do mar, a região é propícia para o cultivo de videiras da família “vitisviniferas”, varientais trazidas da Europa e adaptadas ao solo e clima locais. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 38 Para melhor caracterização, pode-se dizer que a região abrangida situa-se norte no Planalto Meridional, formado por rochas basálticas decorrentes de um grande derrame de lavas, ocorrido na era Mesosóica. Na Figura 7, é possível se notar a elevada altitude da região, variando de 450 m até 750 m. Figura 7 - Mapa da Hipsometria do RS Fonte: Atlas, (2010). Com visitas realizadas na região e análises locais, percebeu-se que a vinícola em questão encontra-se inserida em ambiente rural, afastada do centro populacional, o que facilita tratando das questões relacionadas ao tratamento de efluentes. A Figura 8, representa a área da propriedade da vinícola vista de cima, através da utilização da imagem de Satélite QuickBird, disponível no programa Google Earth. A área delimitada pelo círculo vermelho determina a região de estudo, compreendendo a vinícola e a estação de tratamento de efluentes. Figura 8 - Imagem da propriedade da Vinícola vista de cima Fonte: Imagem Google Earth, (2010). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 39 4.3 Antiga Estação de Tratamento de Efluentes da Vinícola Inicialmente o sistema de tratamento funcionava de forma a destinar a grande quantidade de efluentes que era gerado na vinícola, porém o tratamento não era realizado de maneira adequada, não garantindo eficiência no tratamento. O sistema apresentava três processos, sendo eles: gradeamento, tratamento primário por meio de digestor anaeróbio e lagoa de aeração, como pode ser observado no fluxograma apresentado na Figura 9. Nos próximos parágrafos serão descritas as operações realizadas juntamente com os problemas que existiam em cada processo. Figura 9 - Fluxograma da antiga estação de tratamento A estação de tratamento de efluentes era composta por um tanque de alvenaria que recebia o efluente bruto vindo da vinícola. Apenas parte do efluente gerado era encaminhada diretamente para a estação por meio de bomba, a outra parte era encaminhada com tanques transportados pelo trator. Ao chegar ao tanque de recebimento na Figura 10, o efluente ainda apresenta resíduos sólidos que não podem seguir para o restante do tratamento. Para que isso não ocorra existia uma grade na metade do tranque que realizava a retenção dos sólidos mais grosseiros. O resíduo sólido orgânico recolhido na grade recebia tratamento e era incorporado em solo, mostrado na Figura11. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 40 Figura 10 – Tanque de recebimento do efluente bruto Fonte: Lanzarin, (2011). Figura 11 – Resíduos sólidos orgânicos retidos na grade Fonte: Lanzarin, (2012). O sistema de gradeamento mostrava algumas falhas envolvendo impermeabilização e vazamentos, por onde o resíduo sólido orgânico conseguia partir para as outras etapas do tratamento, causando problemas nas tubulações e formando grande quantidade de sólidos no fundo da grande lagoa. O efluente armazenado no tanque de recebimento era bombeado para o sistema de tratamento primário. Externo ao tanque de recebimento existia uma bomba centrífuga que encaminhava o efluente até o tanque de acúmulo que naquele momento funcionava como digestor anaeróbio. Como o tratamento de efluentes não seguia normas rígidas de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 41 funcionamento nem era realizado de maneira sistemática, no tanque do tratamento primário, também era realizada a correção do pH, para que o efluente pudesse partir para a lagoa com boas características a ponto de não provocar choques na população microbiana. Após, o efluente era bombeado para a lagoa aerada, tendo como característica o funcionamento em batelada no tratamento anterior. Ao final de cada tratamento, o efluente era liberado manualmente para a lagoa aberta no chão sem a devida impermeabilização. O fato de a lagoa apresentar tais características deve ser considerado ao se tratar de um empreendimento antigo que passou por gerações, porém era visível a preocupação com a destinação do efluente e existia a ciência da realização de um tratamento de efluentes, para que se fosse possível o mesmo retornar ao solo da propriedade. Por fim, o efluente que permanecia na lagoa com a atividade de um pequeno aerador, era encaminhado para a aspersão em solo agrícola. O procedimento também era manual, onde o operador utilizava o trator e o aspersor para realizar a atividade. Não existia a garantia de que o sistema ao menos estivesse realizando os procedimentos adequados e que o efluente final pudesse atender os parâmetros exigidos pela legislação. 4.4 Melhorias sugeridas Com vistas a atingir o primeiro objetivo específico, algumas mudanças na estação de tratamento de efluentes foram sugeridas a equipe do departamento responsável pela estação. As sugestões foram recebidas com sucesso buscando a melhoria do funcionamento da estação, porém salientou-se que seriam realizadas de acordo com a capacidade da empresa. Primeiramente foi sugerida a limpeza do pátio e arredores, para que o ambiente estivesse em boas condições de operação e melhor acesso. Algumas alterações físicas e de equipamentos também foram solicitadas e serão citadas a seguir: Direcionar todo o efluente que parte para vinícola em apenas uma saída; Instalação de um hidrômetro na saída do efluente da vinícola, a fim de quantificar a vazão que seguirá para a estação de tratamento; Novas instalações e tubulações de condução dos efluentes até a estação e na própria; B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV
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