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DIREITO DO TRABALHO - TEMAS

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COORDENADORA
Ana Maria Maximiliano
2 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 3
COORDENADORA
Ana Maria Maximiliano
Curitiba-PR
2015
Coleção Comissões Vol. XXII
4 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
www.oabpr.org.br
Rua Brasilino Moura, 253 - Ahú - Curitiba - PR
(41) 3250-5700
COORDENADORA
Ana Maria Maximiliano
Projeto Gráfico e Diagramação
Celso Arimatéia
Coleção Comissões Vol. XXII
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 5
COORDENADORA
Ana Maria Maximiliano
Coleção Comissões Vol. XXII
6 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Ordem dos Advogados do Brasil
Seção do Paraná
Gestão 2013/2015
Juliano José Breda
Presidente
Cássio Lisandro Telles
Vice-Presidente
Eroulths Cortiano Junior
Secretária-Geral
Iverly Antiqueira Dias Ferreira
Secretário-Geral Adjunto
Oderci José Bega
Tesoureiro
Caixa de Assistência dos Advogados
Gestão 2013/2015
José Augusto Araújo de Noronha
Presidente
Éliton Araújo Carneiro
Vice-Presidente
Maria Regina Zarate Nissel
Secretária-Geral
Luis Alberto Kubaski
Secretário-Geral Adjunto
Fabiano Augusto Piazza Baracat
Tesoureiro
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 7
Ordem dos Advogados do Brasil
Seção do Paraná
Conselheiros Estaduais
Alexandre Hellender de Quadros
Carlos Roberto Scalassara
Celso Augusto Milani Cardoso
Cicero Jose Zanetti de Oliveira
Ciro Alberto Piasecki
Claudionor Siqueira Benite
Daniela Ballão Ernlund
Edni de Andrade Arruda
Elizandro Marcos Pellin
Eunice Fumagalli Martins e Scheer
Evaristo Aragão Ferreira dos Santos
Fabio Luis Franco
Gabriel Soares Janeiro
Gilder Cezar Longui Neres
Guilherme Kloss Neto
Gustavo Souza Netto Mandalozzo
Ivo Harry Celli Junior
João de Oliveira Franco Junior
João Everardo Resmer Vieira
José Carlos Cal Garcia Filho
José Carlos Sabatke Saboia
José Lucio Glomb
Juarez Cirino dos Santos
Juliana de Andrade Colle Nunes Bretas
Lauro Fernando Pascoal
Lauro Fernando Zanetti
Lucia Maria Beloni Correa Dias
Luiz Fernando Casagrande Pereira
Marcia Helena Bader Maluf Heisler
MariaAntonieta Pailo Ferraz
Marilena Indira Winter
Marlene Tissei São José
Neide Somões Pipa Andre
Nilberto Rafael Vanzo
Oksandro Osdival Gonçalves
Paulo Charbub Farah
Paulo Rogerio Tsukassa de Maeda
Rafael Munhoz de Mello
Renato Cardoso de Almeida Andrade
Rita de Cassia Lopes da Silva
Rogel Martins Barbosa
Rogéria Fagundes Dotti
Rubens Sizenando Lisboa Filho
Silvio Martins Vianna
Vera Grace Paranaguá Cunha
Wascislau Miguel Bonetti
Membros Natos
Alcides Bitencourt Pereira
Antonio Alves do Prado Filho
Eduardo Rocha Virmond
Jose Cid Campelo
Mansur Theophilo Mansur
Newton Jose de Sisti
Membros Honorários Vitalícios
Alberto de Paula Machado
Alfredo de Assis Gonçalves Neto
Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque
José Lucio Glomb
Manoel Antonio de Oliveira Franco
Conselheiros Federais
Alberto de Paula Machado
Cesar Augusto Moreno
José Lucio Glomb
8 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Alzir Pereira Sabbag
Especialista em Direito Individual e Coletivo do Trabalho pela UFPR. Graduado em Direito pela UFPR.
Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR. Advogado.
Ana Maria Maximiliano
Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela PUCPR. Especialista em Direito Administrativo
(IBEJ), Direito e Processo do Trabalho (ABDCONST), Direito Constitucional (ABDCONST). Graduada pela
PUCPR. Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR. Conselheira da Câmara de Trabalho e Previ-
dência da Associação Comercial do Paraná. Procuradora do Município de Curitiba.
André Gonçalves Zipperer
Doutorando em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR, sendo bolsista da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Mestre em Direito Empresarial pelo Centro Universi-
tário Curitiba. Especialista em Direito Processual do Trabalho pela Unibrasil. Professor convidado de
cursos de Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho da Universidade Positivo, Centro
Universitário Curitiba e Curso Professor Luiz Carlos. Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR.
Advogado.
Antonio Assad Mansur Neto
Especialista em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba.
Graduado pela PUCPR. Primeiro Secretário da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná. Membro
da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado.
Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo
Mestranda da Unicuritiba/PR. Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí / UNIVALI. Especia-
lista em Direito Material e Processual do Trabalho pela Univali e CESUSC. Ex-Conselheira Executiva da Aca-
demia Superior de Advocacia Trabalhista de Santa Catarina. Ex-Membro efetivo do Instituto Cesarino Júnior.
Autora de diversos artigos publicados em âmbito nacional. Membro da Comissão de Acessibilidade e da
Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogada.
Eduardo Rosario Medeiros
Especialista em Direito Público pela ESMAFE-PR, Direito do Trabalho e Previdenciário pela EMATRA-PR,
Estado Democrático de Direito pela FEMPAR. Graduado em Direito pela PUCPR. Advogado. 
Autores
Membros das Comissões da Ordem dos
Advogados do Brasil – Seção do Paraná
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 9
Emerson Jesus Rodrigues Avelar
Especialista em Direito do Trabalho pela Ematra IX. Ouvidor Geral da Associação dos Advogados Trabalhis-
tas do Estado do Paraná. Segundo Secretário da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado.
João Teixeira Fernandes Jorge
Especialista em Direito Material, Processual e Mercado do Trabalho pelo Centro de Estudos Jurídicos
do Paraná, Direito Material e Processual do Trabalho e em Direito Previdenciário, pela EMATRA IX,
Direito Civil pela Universidade Anhanguera Uniderp. Membro da Comissão de Direito do Trabalho da
OAB/PR. Advogado.
Luciane Erbano Romeiro
Mestre em Direito Empresarial e Econômico. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.
Professora de Pós-Graduação. Membro-Primeira Secretária da Comissão de Direito do Trabalho da
OAB/PR. Membro da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná. Advogada.
Marcelo Alessi
Mestre em Direito Privado pela UFPR. Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná
(2011/2013) e Presidente da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-PR. Advogado.
Marco Antônio César Villatore
Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Roma II (UNIROMA II - Tor Vergata), Doutor pela Universidade
de Roma I (UNIROMA I - Sapienza), revalidado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professor Adjunto concursado da Universida-
de Federal de Santa Catarina (UFSC) e do UNINTER. Professor Titular do Curso de Mestrado e do Doutorado
em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Líder do Grupo de Pesquisa “Desregu-
lamentação do Direito, do Estado e Atividade Econômica: Enfoque Laboral”. Membro licenciado das Comis-
sões de Acessibilidade e de Direito Internacional. Advogado. 
Patrícia Dittrich Ferreira Diniz
Mestre em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR. Especialista em Direito Tributário e Direito do
Trabalho. Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Membro da Comissão de Assédio Moral
e Conselho de Orientação e Ética na Companhia Paranaense de Energia - Copel. Advogada.
Wagner André Johansson
Especialista em Direito Civil aplicado pela Escola da Magistratura do Estado do Paraná (EMAP-PR). Membro
da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado.
10 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
SUMÁRIO
Os Limites do “Reaproveitamento dos Atos
Processuais” Praticados na Justiça Comum, nos
Casos em que Houve Deslocamento da Competência
para a Justiça do Trabalho e os Efeitos da EC 45/04
na Esfera Trabalhista
Alzir Pereira Sabbag
16
Terceirização de Serviços:
A (des)necessidade de Regulamentação
Ana Maria Maximiliano28
O ideal marxista e as novas
realidades do contrato de trabalho
André Gonçalves Zipperer
46
Assédio Processual no Âmbito da Justiça do Trabalho
Antonio Assad Mansur Neto66
Apresentação12
A Inclusão da Pessoa com Deficiência
no Mercado de Trabalho
Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo
80
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 11
Do Trabalho Infantil Artístico
Eduardo Rosario Medeiros
92
Histórico do Direito do Trabalho
Emerson Jesus Rodrigues Avelar
100
A Arguição de Nulidade Processual no
Âmbito da Justiça do Trabalho
João Teixeira Fernandes Jorge
114
A Revolução Tecnológica e o Direito a
Desconexão do Trabalho – Aspectos Jurídicos,
Sociais e Econômicos
Patrícia Dittrich Ferreira Diniz
Marco Antônio César Villatore
190
Análise Crítica da Súmula 437 do TST
Marcelo Alessi
176
Honorários Advocatícios de
Sucumbencia na Justiça do Trabalho
Wagner André Johansson
216
O Trabalhador Estrangeiro no Brasil e a Globalização
Luciane Erbano Romeiro140
12 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
A coletânea de textos aqui reunidos aborda diversos aspectos do universo
do trabalho.
Foram elaborados, na maioria absoluta, por membros da Comissão de Direito
do Trabalho da OAB/PR - gestão 2013-2015, que, com a diversidade de reflexões,
buscam compreender e dar um panorama da realidade vivenciada pelo advo-
gado, seja sob o aspecto do Direito Material ou Processual do Trabalho.
O primeiro artigo, escrito por Alzir Pereira Sabbag, trata dos limites do ‘rea-
proveitamento dos atos processuais’ em casos de deslocamento da competên-
cia da Justiça Estadual para a Justiça do Trabalho em decorrência da ampliação
da competência desta Justiça pela Emenda Constitucional 45/04. O autor regis-
tra a necessidade de uniformização procedimental, na medida em que a Instru-
ção Normativa n° 27/2005 não estabelece parâmetros para tanto, o que traz inse-
gurança jurídica. Conclui pela necessidade de realização de audiência una,
objetivando o saneamento do processo, com fundamento no art. 357, § 3º, do
Código de Processo Civil de 2015.
A (des)necessidade de regulamentação da terceirização de serviços é tratada
no segundo artigo, elaborado por Ana Maria Maximiliano, no qual faz aborda-
gem histórica do instituto da terceirização, contextualizando-o com os marcos
normativos e jurisprudenciais. Conclui pela necessidade de observância dos
preceitos e valores do Estado Democrático de Direito, em especial a proteção
dos direitos sociais, com a edição de legislação a fim de que a terceirização “não
se torne a antítese da marca do Direito do Trabalho”.
Apresentação
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 13
O terceiro artigo, de André Gonçalves Zipperer, versa sobre “Marx e a nova
realidade do contrato de trabalho”. O autor analisa as ideias marxistas em rela-
ção ao mundo do trabalho, relacionando-as com as peculiaridades que levaram
ao nascimento do Direito do Trabalho no Brasil e os seus princípios norteado-
res. Conclui pela adaptação do discurso marxista à nova realidade das relações
de trabalho, reconhecendo, no entanto, algumas variantes próprias da comple-
xidade da realidade social que ficam sem resposta.
Antonio Assad Mansur Neto, no quarto artigo, trata do “Assédio processual
no âmbito da Justiça do Trabalho”, sob o enfoque da celeridade processual e do
direito fundamental à razoável duração do processo. Desenvolve o tema sob a
ótica da Constituição Federal de 1988, do Código de Processo Civil de 2015 e do
Código Civil. Conclui que na Justiça do Trabalho há tolerância com a litigância
de má-fé e com o assédio processual, devendo as partes observarem os ditames
da boa-fé, agindo com lealdade processual e colaborando para a entrega célere
e justa da prestação jurisdicional.
Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo, com o quinto tema “A inclusão da
pessoa com deficiência no mercado de trabalho”, analisa a fixação legal de
cotas para a contratação pelas empresas, prevista Lei n° 8.213/1991. Os focos da
questão são a função social da empresa e a dignidade da pessoa humana ante
a qualificação da pessoa com deficiência. Conclui pela necessidade de conju-
gação de esforços para que se atinja a tão almejada dignidade do deficiente
através do trabalho.
“O trabalho infantil artístico” é o tema do sexto artigo, elaborado por Eduar-
do Rosario Medeiros. O autor aborda o tema sob a perspectiva da Constituição
Federal de 1988, da legislação infraconstitucional e das Convenções Internacio-
nais, enfatizando o constante no item 5, da Declaração decorrente do Seminário
“Trabalho infantil artístico: entre o sonho e a realidade”. Conclui pela compe-
tência da Justiça do Trabalho para avaliar a legitimidade do trabalho artístico.
No sétimo artigo, Emerson Jesus Rodrigues Avelar, traz o “Histórico do Direi-
to do Trabalho”. O autor aborda o Direito do Trabalho no mundo e no Brasil,
concluindo que há constante evolução desse ramo do Direito e que a rigidez ou
flexibilização de suas normas depende do momento social e político do país.
14 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
No oitavo artigo, João Teixeira Fernandes Jorge, com o tema “A arguição de
nulidade processual no âmbito da Justiça do Trabalho”, trata do excessivo nú-
mero de processos na esfera trabalhista, assoberbando magistrados e advoga-
dos. Esse fato propicia a supressão indevida de prerrogativas do advogado, em
razão da busca da celeridade processual. Aborda a questão da nulidade de ato
que suprime prerrogativa do advogado e o momento oportuno para sua argui-
ção, cotejando com a atual doutrina e jurisprudência. Conclui pela inexistência
de uniformidade de entendimento quanto ao momento oportuno para a argui-
ção dessa nulidade processual.
Luciane Erbano Romeiro escreve o nono artigo, no qual analisa a situação
do trabalhador estrangeiro no Brasil ante a globalização, frisando a necessida-
de de legislação específica que trate sobre o tema. Entende que as empresas
originadas das fusões e incorporações, bem como os blocos econômicos, bus-
cam países com legislação trabalhista menos protecionista. Conclui que, no
Brasil, a legislação trabalhista é aplicada independentemente da nacionalidade
ou domicílio das partes (empregado ou empregador) e que o trabalhador pode
buscar a aplicação da lei estrangeira através do contrato, seja com fundamento
na autonomia da vontade ou na condição mais favorável.
Marcelo Alessi, no décimo artigo, realiza “Análise crítica da Súmula 437 do
Tribunal Superior do Trabalho”. Discorre sobre a incoerência do critério para o
pagamento do intervalo intrajornada, nos casos de concessão parcial ou su-
pressão, pois que para ambos a condenação é para o pagamento da integralida-
de do período, com natureza jurídica salarial. Expressa sua maior crítica na
aplicação pretérita da Súmula 437, TST, sem modulação dos efeitos, na medida
em que incide sobre situações anteriormente reguladas por negociação coleti-
va, o que é fator de insegurança jurídica.
Com o décimo-primeiro artigo, escrito por Patrícia Dittrich Ferreira Diniz e
Marco Antônio César Villatore, os autores analisam o impacto da tecnologia e da
Lei n° 12.551/2011 no mundo do trabalho, sob a perspectiva do direito à desco-
nexão e seus reflexos jurídicos sociais e econômicos.
O décimo-segundo artigo, de autoria de Wagner André Johansson, trata do
tema “Honorários advocatícios de sucumbência na Justiça do Trabalho”. O autor
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 15
tece considerações sobre os honorários advocatícios ante as Súmulas 219 e 329
do Tribunal Superior do Trabalho em cotejo com o art. 791 da CLT; a incompatibi-
lidade do jus postulandi com a atual conformação da Justiça do Trabalho e o
atual entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho e do Su-
perior Tribunal de Justiça. Em razão da dificuldade de alteração legislativa, con-
clui pela necessidade de alteraçãoda jurisprudência a fim de que a condenação
em honorários advocatícios na Justiça do Trabalho seja a regra.
Agradecemos a todos os membros que enviaram trabalhos, por nos honra-
rem com sua contribuição para a realização desta coletânea.
Ana Maria Maximiliano
Coordenadora
Marcelo Alessi
Presidente da Comissão de Direito do Trabalho
16 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Os Limites do
“Reaproveitamento dos Atos
Processuais” Praticados na
Justiça Comum, nos Casos
em que Houve Deslocamento
da Competência para a
Justiça do Trabalho e os
Efeitos da EC 45/04 na Esfera
Trabalhista
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 17
Alzir Pereira Sabbag
18 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
1. Introdução
Mesmo após passado mais de década da promulgação da Emenda Constituci-
onal nº 45, o que se constata, pela experiência advinda da militância no foro
trabalhista, é que não existe o menor compromisso, quer do Poder Legislativo,
quer do Poder Judiciário, em estabelecer uma política judiciária que discipline
a necessária “adequação ao rito trabalhista”, daquelas ações ajuizadas na Justi-
ça Comum e que tiveram sua competência deslocada para a Especializada.
Provavelmente a “resistência” em disciplinar a matéria, decorra do temor em se
reduzir as prerrogativas de magistrados na condução destes tipos de processos.
Se é isto; efetivamente, não se sabe. O fato é que a ausência de regramento
para o assunto, sempre provocou profunda inquietação no meio jurídico traba-
lhista, sobretudo, entre os advogados.
2. A Dimensão Social do Tema
O tema ganha especial relevo ao se analisarem os dados fornecidos pelo
Relatório Geral da Justiça do Trabalho, fornecido para o ano de 2006, o qual
revela que, só no primeiro ano após a alteração constitucional, a Especializada
recebeu 92.751 processos oriundos da Justiça Comum, dos quais 40.424 da Jus-
tiça Federal e 52.327 da Justiça Estadual1.
Se, até a presente data, ainda chegam processos da Justiça Comum, em razão
da alteração Constitucional imposta ao final de 2004, não são necessárias maio-
res reflexões para se dimensionar o tamanho e a importância do tema.
1 Os dados constam do relatório Geral da Justiça do Trabalho disponível no sítio: http://www.tst.jus.br/documents/10157/6a7b5b24-3321-4ebd-
b0ea-1ee82c2c3b13
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 19
3. A Tímida Iniciativa do Judiciário
em Disciplinar a Matéria
Logo no início de 2005, mais precisamente em 16 de fevereiro, o Tribunal
Superior do Trabalho tratou de emitir seu primeiro pronunciamento oficial a
respeito do assunto, através da Instrução Normativa nº 272.
Aparentemente, esperava-se que surgiria alguma orientação que discipli-
nasse, de maneira uniforme, como seria tratada aquela avalanche de ações que
estaria sendo encaminhada à Justiça do Trabalho.
Pura ilusão.
Apesar de a Instrução Normativa nº 27, do Colendo Tribunal Superior do Tra-
balho ter sido constituída justamente para tal desiderato, a mesma representou
muito pouco, ou quase nada, no sentido de estabelecer parâmetros procedi-
mentais mínimos, para que se disciplinassem os processos, a partir do desloca-
mento da competência, a fim de que estes se desenvolvessem de maneira mini-
mamente regular e ordenada.
Sustenta-se que a IN nº 27 do C. TST representa “pouco, ou quase nada”,
porque logo em seu artigo 1º, fica claro, que apenas as ações já ajuizadas na
Justiça do Trabalho devem se submeter ao rito celetista. Note-se:
2 IN Nº 27: Dispõe sobre normas procedimentais aplicáveis ao processo do trabalho em decorrência da ampliação da competência da Justiça do
Trabalho pela Emenda Constitucional nº 45/2004.
Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do
Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança,
Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento.
Art.2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada,
aos prazos e às competências.
Parágrafo único. O depósito recursal a que se refere o art. 899 da CLT é sempre exigível como requisito extrínseco do recurso, quando houver
condenação em pecúnia.
Art.3º Aplicam-se quanto às custas as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho.
§ 1º As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão.
§ 2º Na hipótese de interposição de recurso, as custas deverão ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal (artigos 789, 789-
A, 790 e 790-A da CLT).
§ 3º Salvo nas lides decorrentes da relação de emprego, é aplicável o princípio da sucumbência recíproca, relativamente às custas.
Art. 4º Aos emolumentos aplicam-se as regras previstas na Consolidação das Leis do Trabalho, conforme previsão dos artigos 789-B e 790 da CLT.
Parágrafo único. Os entes públicos mencionados no art. 790- A da CLT são isentos do pagamento de emolumentos (acrescentado pela Resolução
n° 133/2005).
Art. 5º Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência.
Art. 6º Os honorários periciais serão suportados pela parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária da justiça gratuita.
Parágrafo único. Faculta-se ao juiz, em relação à perícia, exigir depósito prévio dos honorários, ressalvadas as lides decorrentes da relação de
emprego.
Art. 7º Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação.
20 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
“Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou
sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, excepcio-
nando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito
especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Ação
Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento”. Grifou-se.
A mais alta Corte Trabalhista, omitiu-se, assim, em relação àqueles feitos ori-
ginários da Justiça Comum, de sorte que existe, em verdade, um vácuo procedi-
mental a respeito do assunto.
Tímida demais, portanto, a iniciativa de dar regramento àqueles feitos que
tiveram sua competência deslocada para a Justiça do Trabalho.
Compreensível, que o Tribunal Superior, hesite em adotar medidas que limi-
tem, ou reduzam, os poderes dos magistrados na condução das causas, sobretu-
do nas atividades judicantes dos “colegas de primeiro grau”.
O que não se pode admitir é que, por mais de uma década, ainda não se tenha
chegado a “denominador comum”, a respeito de como deve ser executada “a
adequação do processo”, ao rito trabalhista.
4. A Necessidade de
Uniformização Procedimental
Decorrem daí situações das mais variadas e a adoção de procedimentos que
não guardam qualquer padrão de uniformidade, trazendo profunda inseguran-
ça jurídica aos jurisdicionados.
Há magistrados do trabalho que, ao receberem um feito da Justiça comum,
designam audiência inicial. Há outros que designam audiência de instrução. Há
aqueles que determinam a intimação das partes, para que especifiquem as pro-
vas que desejariam produzir. Finalmente, há até aqueles que designam audiên-
cia para encerramento de instrução e última tentativa conciliatória.
Isto é, adotam-se procedimentos dos mais variados, o que produz profunda
insegurança jurídica às partes e aos procuradores envolvidos.
Esta “instabilidade processual”, é provocada, sobretudo por falta de co-
nhecimento a respeito daqueles atos processuais que poderão, ou melhor,
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 21
deverão ser reaproveitados e convalidados e quais serão os que deverão ser
repetidos.
O que vem se observando, é o apego exacerbado ao formalismo, que tem a
tendência em tentar aproveitarpraticamente tudo o que foi feito no foro incom-
petente; o que, em última análise, é absolutamente incompatível com os princí-
pios que norteiam o processo trabalhista.
Não raro observam-se situações em que se impede o direito de emendar a
defesa, ou, até, casos em que se tentam aproveitar periciais realizadas por pro-
fissionais que sequer teriam condições de emitir juízo sobre a existência de
nexo causal entre enfermidades e trabalho.
Recebidos os autos da Justiça Comum, assim que estes chegam ao órgão
competente, adotam-se diversas formas de processamento, as quais nem sem-
pre encontram guarida na melhor técnica jurídica.
Imprescindível, portanto, que se disciplinem estas situações, para que a “ade-
quação do procedimento” ocorra da maneira mais harmoniosa possível, de modo
que se respeitem os direitos processuais das partes, bem como se desenvolva o
processo de maneira minimamente regular.
A matéria ganha especial destaque, quando se leva em conta que as ações
reparatórias, de danos morais e patrimoniais, recebidas pela Justiça do Trabalho
da Justiça Comum, envolvem várias espécies de indenizações, nas quais se dis-
cutem valores bastante expressivos.
Os temas são das mais variadas amplitudes, já que envolvem consequências
de acidentes e doenças que podem gerar: mortes, amputações e diversas formas
de mutilações físicas, provocando assim consequências vitalícias e, consequen-
temente, a discussão de elevadas cifras.
O problema é que, enquanto o processo tramita na Justiça Cível, podem se
suceder uma série de incidentes processuais que criaram situações jurídicas de
difícil solução.
Até porque, na Justiça Comum, se observa sequência e ordem de atos
processuais que nem sempre seria praticada, ou recepcionada na Justiça do
Trabalho.
Exemplo disso é a ordem que se atribui na produção das provas, organizan-
22 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
do-se, primeiro, a juntada de documentos, após a prova técnica e somente ao
final a prova oral, conforme previsto no art. 452 do CPC3.
Como se sabe, esta sequência procedimental, nem sempre ocorre na Justiça
do Trabalho, sendo normal e corriqueiro que a prova técnica ocorra, por muitas
vezes, após a prova oral.
Por conta disso, apesar da enorme resistência de alguns, é mais do que che-
gada a hora e estabelecer a necessidade de despacho saneador no processo do
trabalho, ao menos para este tipo específico de processo, o qual nem sempre
chaga da Justiça Comum, pronto para julgamento.
5. Conclusão e a Solução que Ora se Propõe
O mais aconselhável em casos como estes, seria criar como regra o seguinte:
recebido o feito do Foro Incompetente, o magistrado trabalhista deveria saneá-
lo, ou quando menos ADEQUÁ-LO ao rito consolidado, na forma que sugere a
Instrução Normativa nº 27 do TST.
Independentemente do nome que se queira dar ao procedimento, o fato é que
o feito merece ser “saneado”, se não no sentido estrito, ao menos no sentido lato.
Do contrário, poderá, o processo, se desenvolver de maneira totalmente irre-
gular, tropeçando na melhor técnica judiciária.
E, a maneira mais fácil de realizar tal “saneamento” é, obviamente, designar
audiência UNA, sem jamais olvidar das diretrizes contidas nos artigos: 113, § 2º4
e 250, parágrafo único5; ambas, do CPC, dispositivos estes mantidos no NCPC,
através das regras constantes do §4º, do art. 64 e do parágrafo único do art. 283,
respectivamente.
3 As provas serão produzidas em audiência nesta ordem:
I – o perito e os assistentes técnicos responderão, aos quesitos de esclarecimentos, requeridos no prazo e na forma do art. 435;
II – o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu;
III – finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.
4 Art. 113 do CPC: A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, indepen-
dentemente de exceção.
§1º - omissis;
§2º - Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.
5 Art 250 do CPC: O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser reaproveitados, devendo praticar-
se o que forem necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais.
Parágrafo único: Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízos à defesa.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 23
Afinal, é na audiência, que a lide trabalhista se estabiliza, já que é nela o
momento processual adequado que o legislador celetista estabeleceu para apre-
sentar a defesa, conforme art. 847 consolidado6.
Esta proposta, inclusive, encontra abrigo na nova sistemática processual,
portanto.
Harmoniza-se, assim, com o “dever de cooperação” previsto na nova siste-
mática processual e, especialmente, com a regra constante no art. 357, §3º, do
Código de Processo Civil de 20157.
Só assim, o contraditório se estabilizaria no Juízo Competente.
Compreende-se, perfeitamente que, com a mudança da competência prove-
niente da EC 45/2004, situações novas surgiram nesta Especializada. Daí porque
a “insegurança procedimental” campeou por todo este tempo.
Isso porque, muitos temas que, outrora sequer eram abordados em procedi-
mentos perante a Justiça Comum, no Foro Especializado, ganham especial im-
portância, dada a maior proximidade dos profissionais da área do Direito do
Trabalho (juízes, advogados, peritos, engenheiros, médicos, etc.), com a rotina
das empresas e das relações de trabalho.
Muito do que lá se discutia, “para nós” é irrelevante.
Porém, muita coisa que “para eles” era impertinente, para nós é de suma
importância.
Daí porque, é necessário, que o Judiciário Trabalhista se organize e discipli-
ne estas questões, principalmente aquelas relativas ao aproveitamento de atos
praticados nos “juízos incompetentes”.
Passou da hora da mais alta corte trabalhista do país se pronunciar sobre o
tema e resolver sumular, ou, ao menos, manifestar seu entendimento sobre as
controvérsias existentes do aproveitamento dos atos processuais praticados na
Justiça Comum.
6 Art. 847 da CLT: Não havendo acordo, o reclamado terá cinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for
dispensada por ambas as partes.
7 Art. 357, § 3º do novo CPC: Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o
saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas
alegações.
24 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Realmente é difícil acreditar, que as ações originárias da Justiça Comum,
sejam julgadas satisfatoriamente, se não houver ao menos “UMA ADEQUAÇÃO AO
RITO TRABALHISTA”, de modo a poder-se fixar, previamente, que atos (?) emana-
dos do Juízo Incompetente, poderão ser reaproveitados e convalidados.
O que vem se observando entrementes é que se tentam aproveitar atos que
são notadamente nulos em sua essência.
Exemplo disso são os casos em que o Juízo Trabalhista simplesmente impede
que sejam realizadas emendas, ou aditamentos, à defesa.
Outro exemplo são os casos em que a perícia, na Justiça Comum, foi realizada
por profissionais que não têm a menor competência para estabelecer diagnósti-
cos sobre doenças, como aquelas perícias realizadas por fisioterapeutas.
Ora, recebida a ação na Justiça do Trabalho, deve, primeiramente, o juiz com-
petente, designar audiência, e una, na forma prevista no art. 846 da CLT8, a fim de
adequar-se o rito processual ao procedimento celetista.
Isto, lamentavelmente, vem deixando de ser realizado em diversos casos e,
assim, vem se tentando impedir que os réus aditem os termos de suas respostas,
cerceando-se o direito de apresentar a contestação, no momento processual
próprio, o qual é previsto no rito celetista.
Consoante estabeleceos artigos: 795, §1º, da CLT9 e 113, § 2º, do CPC (art 64,
§4º do NCPC); todos os “atos decisórios”, neles incluídos todos os despachos,
decisões interlocutórias e sentenças; praticados pelo juiz incompetente são ab-
solutamente nulos de pleno direito.
Nulos, portanto, são todos os “atos decisórios” praticados no Foro Incompe-
tente, desde os despachos de mero expediente e decisões interlocutórias, até as
demais decisões terminativas.
A conseqüência da nulidade de todos os atos decisórios praticados na justi-
ça comum, acarreta na viabilidade e conveniência de que, o magistrado traba-
lhista, assim que receba os autos da Justiça Comum, designe audiência UNA, na
forma prevista nos artigos 81510 e 847 da CLT, com o objetivo de adequar o rito a
8 Art. 846 da CLT: Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação.
9 Art. 795, §1º da CLT: Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro. Nesse caso serão considerados
nulos os atos decisórios.
10 Art. 815 da CLT: À hora marcada, o juiz presidente declarará aberta a audiência, sendo feita pelo chefe de Secretaria ou escrivão a chamada
das partes, testemunhas e demais pessoas que devam comparecer.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 25
esse procedimento especializado, facultando à ré a possibilidade de ofereci-
mento de emenda à defesa.
É bem verdade que alguns atos praticados no Foro Incompetente poderiam, e
até mesmo, deveriam ser “reaproveitados”.
Contudo, tal reaproveitamento, apenas pode ocorrer, se dele não decorrer
prejuízos à defesa, ao teor do parágrafo único, do art. 250 (Art. 283, parágrafo
único do NCPC), do CPC e art. 794 da CLT11.
Portanto, se a parte passiva não concordar em reaproveitar determinada pro-
va, ou ato processual, este jamais poderá ser convalidado, após o deslocamento
da competência.
Por mais esta razão, mostra-se perfeitamente razoável, oportuno e conveni-
ente, o entendimento de que deve ser designada audiência UNA, facultada, ob-
viamente, a critério do magistrado, a sua bipartição, de modo que se garanta a
oportunidade de aditar a defesa.
Não restam dúvidas que, negar o direito de emenda à resposta, assim que o
processo é recebido na Justiça do Trabalho, implica em notório cerceio do direi-
to de ampla defesa da parte passiva, com a consequente violação ao art. 5º,
inciso LV, da CF; já que a parte teria sido impedida de exercer a faculdade de que
trata o art. 847 consolidado.
O mesmo se diga a respeito do aproveitamento de perícias técnicas realiza-
das por profissionais que não preenchem as exigências legais mínimas para o
diagnóstico de nexos causais entre: enfermidades e o trabalho.
Por óbvio que o “livre convencimento motivado” recepcionado pelo nosso
atual sistema processual, permitirá ao magistrado que valore todos os elemen-
tos constantes dos autos, incluindo aí, todas as provas produzidas antes do
deslocamento da competência.
Isto, contudo, não significa dizer que se criem embaraços ao exercício da
ampla defesa, e se indefiram providências requeridas no momento processual
próprio, previsto na legislação trabalhista, a pretexto de que estas “já teriam
sido solucionadas anteriormente, pelo juízo precedente”.
11 Art. 794 da CLT: Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto
prejuízo às partes litigantes.
26 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Até porque, se tivessem sido “solucionadas”, anteriormente, por outro juízo,
seguramente tal “solução” seria notadamente nula, ao teor dos artigos: 795, §1º,
da CLT e 64, §1º, do CPC-2015.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 27
6. Referências Bibliográficas
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Rodrigues Wambier, coordenadores, São Paulo – Editora Revista dos Tribunais, 2015.
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Eduardo Talamini – “Cooperação no Novo CPC (primeira parte): Os Deveres do Juiz”.
Informativo 755 do STF: Incompetência absoluta e aproveitamento de atos processuais, 19.8.2014.
(HC-121189) “ Fonte: http://www.portalcarreirajuridica.com.br/noticias/informativo-755-do-stf-in-
competencia-absoluta-e-ap.
CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 32. ed. atual. por Eduardo
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do princípio da Igualdade. São Paulo:
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REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Curso de direito processual civil. 3. v. 6. ed. Corrigida
e atualizada por Benvindo Aires. São Paulo: Saraiva, 1963.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
28 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Terceirização de Serviços: A
(des)necessidade de
Regulamentação*
* O presente artigo foi publicado na Revista LTR, ano 79, n.4, p.453-458, abr. 2015. Na presente publicação foram realizadas algumas adequações,
sem alteração da conclusão.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 29
Ana Maria Maximiliano
30 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
1. Introdução
A relação de trabalho típica, a bilateral, formada entre empregado e empre-
gador, há muito deixou de ser a única no cenário nacional, porque se sustenta,
de um modo geral, que tal moldura é incompatível com o intuito expansionista
das empresas, em razão da necessidade de inseri-las em um processo econômi-
co competitivo, próprio do sistema capitalista de produção.
Assim é que surgem as modalidades de emprego chamadas flexíveis, visan-
do, precipuamente, diminuir os custos e melhorar a qualidade do produto ou do
serviço. Nestas, em que prevalecem os contratos atípicos de trabalho, sem a
proteção social própria do clássico contrato de emprego, inclui-se a terceiriza-
ção, na qual os “trabalhadores rarefeitos” são atirados ao espaço do trabalho-
mercadoria.1
Conforme observação de Magda Barros Biavaschi, “a partir de 1990, houve
maior pressão no sentido flexibilizador do mercado de trabalho, com reflexo
nos regimes de contratação. Nesse contexto, ganhou maior dimensão o movi-
mento de terceirização da mão-de-obra”.2
Com efeito, quando ocorre movimento de retorno aos ajustes de natureza
civil, como empreitadas, contratos de facção, projetos de fomento, que podem
significar formas criativas de ocultamento e simulação que, no limite, eximem
de responsabilidade os verdadeiros beneficiários da força de trabalho3, nesta
realidade impõe-se o estudo acerca da necessidade da regulamentação do ins-
tituto.
A par dessas situações, o Estado, se omitindo de edição de norma heterôno-
ma, transfere para os trabalhadores e empregadores as responsabilidades pelo
gerenciamento de tais relações jurídicas que, no mais das vezes, caracterizam-
se como evidentes terceirizações de serviços, cujas lides abarrotam o Poder
Judiciário.
1 DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da terceirização. São Paulo: LTR. 2014. p.8.
2 BIAVASCHI, Magda Barros. A terceirização e a Justiça do Trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.74, n.4, p.68, out./dez.
2008.
3 BIAVASCHI, Magda Barros. A terceirização e a Justiça do Trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.74, n.4, p.74, out./dez.
2008.
4 Conforme se verá adiante há legislação específica para os casos de vigilância, limpeza e conservação.
Direito e Processodo Trabalho: debates contemporâneos 31
Especificamente na esfera privada, em razão dessa anomia4, houve uma traje-
tória jurisprudencial no tocante ao tratamento da responsabilização do tomador
nos casos de não cumprimento, pelo contratado, das obrigações trabalhistas
perante os empregados envolvidos na consecução do ajuste.5
Diante dessas considerações, o presente estudo visa analisar o instituto da
terceirização no âmbito da iniciativa privada6, os paradigmas judiciais existen-
tes, diante da forma de Estado fundado pela Constituição da República de 1988
e, como resultado, concluir pela pertinência ou não da sua regulamentação.
Neste contexto, o estudo da temática se justifica pela sua atualidade e poten-
cialidade para contribuir com o debate7, inclusive no campo legislativo.
2. Delimitação e o Contexto da Origem
da Terceirização
A abordagem da terceirização deve se dar de forma ampla, a fim de se apurar
as suas várias formas de expressão, pois não raras vezes há dificuldades à sua
caracterizaçã8, em especial quando ocorre movimento de retorno aos ajustes de
5 Vejam-se nesse sentido os itens I, III e IV da Súmula 331: “I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo
diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n.o 6.019, de 03.01.1974); [...] III - Não forma vínculo de
emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n.o 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços
especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV - O inadimplemento das
obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações,
desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial; [...]” (sem grifos no original)
6 Como corte metodológico, exclui-se deste estudo a terceirização realizada pela Administração Pública.
7 Remete-se o leitor à Repercussão Geral - Tema n.o 725, que trata da terceirização de serviços para a consecução da atividade-fim da empresa,
reconhecida em 15/05/2014, bem como ao Projeto de Lei n.º 4.330/2004, que dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as
relações de trabalho dele decorrentes, em trâmite na Câmara dos Deputados.
8 Quanto à dificuldade para a conceituação e caracterização da terceirização veja-se: KREIN, José Dari. Debates contemporâneos economia social
e do trabalho, 8: as relações de trabalho na era do neoliberalismo no Brasil. Org. Eduardo Fagnani. São Paulo: LTR, 2013. p.190-207; BARROS, Alice
Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 9.ed. São Paulo: LTr, 2013. p.357; MELO, Luis Antônio Camargo de. Terceirização. In: REIS, Daniela
Muradas; MELLO, Roberta Dantas de; COURA, Solange Barbosa de Castro (Coords.). Trabalho e justiça social. São Paulo: LTr, 2013. p.166; BIAVASCHI,
Magda Barros. A dinâmica da súmula n.o 331 do Tribunal Superior do Trabalho: a história da forma de compreender a terceirização. In: REIS, Daniela
Muradas; MELLO, Roberta Dantas de; COURA, Solange Barbosa de Castro (Coords.). Trabalho e justiça social. São Paulo: LTr, 2013. p.176. Entre todos
e em especial para essa autora: “Quanto à terceirização, uma das dificuldades de conceituá-la reside nas distintas formas por meio das quais se
apresenta no mundo do trabalho, bem como na multiplicidade de conceitos que lhes são atribuídos.Com contornos variados e, por vezes, de forma
simulada, pode ser identificada, segundo Krein: ‘[...] na contratação de redes de fornecedores com produção independente; na contratação de
empresas especializadas de prestação de serviços de apoio; na alocação de trabalho temporário por meio de agências de emprego; na contratação
de pessoas jurídicas ou de “autônomos” para atividades essenciais; nos trabalhos a domicílio; pela via das cooperativas de trabalho; ou, ainda,
mediante deslocamento de parte da produção ou de setores desta para ex-empregados. Nessa dinâmica, chega-se a presenciar o fenômeno da
terceirização da terceirização, quando uma empresa terceirizada subcontrata outras, e o da quarteirização, com a contratação de uma empresa
com função específica de gerir contratos com as terceiras, os contratos de facção e os de parceria.’ Juridicamente, a terceirização desafia o conceito
de empregador, provocando ruptura no binômio empregado-empregador: há um intermediário na relação entre trabalhador e a empresa a quem
aproveita a força de trabalho.”
32 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
natureza civil que objetivam eximir de responsabilidade os verdadeiros benefi-
ciários da força de trabalho.
A doutrina divide a terceirização em externa e interna. Na primeira, há a ex-
ternalização das etapas do processo produtivo da empresa, liga-se mais de per-
to à questão do grupo empresarial; já na segunda, há a internalização de empre-
gados. O ponto comum é que em ambas a empresa externaliza custos e interna-
liza a lógica da precarização, sendo que esta característica está diretamente
ligada ao desemprego e à fragmentação da coletividade operária.9
De qualquer forma, o entendimento majoritário e atual10 é o de que a terceiri-
zação deve se restringir às atividades meio da tomadora, sob pena de ilicitude e
declaração de vínculo entre esta e o trabalhador, bem como ausentes na relação
com a tomadora os elementos do art. 3.o da CLT11, sob pena de formação de
vínculo empregatício diretamente entre o tomador e o trabalhador, nos termos
da Súmula 331, TST.
Expostas essas considerações gerais, faz-se necessário enfocar na formação
histórica do instituto, contextualizando-o com a trajetória do sistema capitalista
de produção12 e a forma de Estado vigente no país.
2.1. Contexto Histórico
Com o esgotamento do padrão de acumulação do pós-Segunda Guerra Mun-
dial (1939-1945), acontece o fenômeno que o historiador britânico
Eric Hobsbawm chama de “Era de Ouro do Capitalismo”13, que teve início em
9 VIANA, Márcio Túlio. A terceirização revisitada: algumas críticas e sugestões para um novo tratamento da matéria. Revista do Tribunal Superior
do Trabalho, Brasília, v.78, n.4, p.198, out./dez. 2012; VIANA, Márcio Túlio; DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Terceirização:
aspectos gerais. A última decisão do STF e a súmula 331 do TST. Novos enfoques. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.77, n.1, p.54-
55, jan./mar. 2011.
10 A terceirização da atividade fim empresarial teve a Repercussão Geral reconhecida no STF - tema n.º 725.
11 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, art. 3.º “Considera-se empregado toda a pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual
a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” Neste sentido: CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho.
33.ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p.34-39; BARROS, op. cit., p. 206. A autora, ao comentar o art. 3.o da CLT, conclui
que: “Daí se extraem os pressupostos do conceito de empregado, os quais poderão ser alinhados em: pessoalidade, não eventualidade, salário e
subordinação jurídica (art. 3.o da CLT). Esses pressupostos deverão coexistir. Na falta de um deles a relação não será regida pela disciplina em
estudo.”
12 O mundo do trabalho passou pela escravidão, feudalismo, mercantilismo e capitalismo, conforme fundamentos expostos por: BARROS, op. cit.,
p. 45-54.
13 Entre outros, período citado também por: BIAVASCHI, A terceirização..., p.74.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 33
aproximadamente 1950 perdurando até os primeiros anos da década de 1970.
A crise dos anos 70, que causou mudanças no mundo capitalista, teve como
origem, segundo Gabriela Neves Delgado14, a queda da taxa de lucro somada ao
aumento do preço da força de trabalho, esgotamento dos padrões taylorista e
fordista de produção, hipertrofia da esfera financeira, crise do Estadode Bem-
Estar Social e acentuação das privatizações. Conforme a mesma autora, “[...] em
um mundo quase que inteiramente interligado pelas teias do capital e do merca-
do, o modelo de “estado mínimo” retomou sua ascensão com nova roupagem –
o neoliberalismo – , mediante o incremento de práticas liberais de livre negoci-
ação e de abstencionismo estatal”.15
Especialmente entre a década de 1980 e 1990 acentuou-se a nova fase do
capitalismo, caracterizada por ações embasadas em concepções de caráter ne-
oliberal, objetivando a integração de forma global do mundo financeiro e de
capitais, com repercussão capilarizada na estrutura social, incluído o mundo do
trabalho. Tais mudanças aparecem em nível mundial, com peculiaridades pró-
prias em cada país.
Nas referidas décadas o conhecimento tecnológico tornou-se cada vez mais
restrito aos países avançados, que se especializaram na produção de compo-
nentes mais sofisticados e os países chamados periféricos se limitaram à produ-
ção de itens com baixo valor agregado obrigando-os a ajustes institucionais
como a abertura comercial e, via de consequência, à agressiva concorrência, se
submetendo às diretrizes mundiais de gestão como o processo de reorganiza-
ção e redução dos custos de produção. Sob o aspecto da estrutura produtiva,
houve a abertura comercial e redução das barreiras internacionais, expondo as
empresas a intenso grau de concorrência.
A partir de 1990, no Brasil, as atividades econômica e empresarial passam
por processo de desregulação, com enxugamento e desverticalização das estru-
turas organizacionais. Nessa época a terceirização, como contratação atípica,
14 DELGADO; AMORIM, op. cit., p.19.
15 DELGADO;AMORIM,op. cit.,p.19.Quanto à política liberal e neoliberal, vejam-se, respectivamente: STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan
de. Ciência política & teoria do estado. 7.ed.Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2010. p.62; RAMOS FILHO, Wilson. Direito capitalista do trabalho:
história, mitos e perspectivas no Brasil. São Paulo: LTR, 2012. p.310-316.
34 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
expande-se e abre a oportunidade para o teletrabalho, o trabalho em tempo
parcial, o trabalho a distância entre outros.16
A terceirização, nesse sentido, surgiu para diminuir os custos e melhorar a
qualidade do produto ou serviço mediante a contratação de empresas com acen-
tuado grau de especialização em determinado tipo de produção.
No direito estrangeiro, regulamentaram e permitiram a terceirização a Bélgi-
ca, Dinamarca, Espanha, Noruega e Colômbia. Outros países a proíbem, como a
Suécia, Espanha, Itália, Peru e Argentina; e ainda há os que permitem mas sem
regulamentação, como a Suíça e Irlanda.17
Por fim, a Organização Internacional do Trabalho - OIT18, em que pese não
trate especificamente do tema terceirização nas Convenções e Recomendações,
assinala na Recomendação n.º 198, aprovada em 2006, uma preocupação no
uso da subcontratação de serviços e contratos atípicos de trabalho, que é ex-
posta em três eixos, a saber: (i) fixação de uma política nacional de proteção dos
trabalhadores vinculados por uma relação de trabalho; (ii) a determinação da
existência de uma relação de trabalho; (iii) o estabelecimento de mecanismos
de observância e aplicação da própria Recomendação n.º 198.19
3. Os Marcos Normativos e Jurisprudenciais
Da Terceirização no Brasil
Entre as décadas de 1960 e 1970, no Brasil, no âmbito da Administração Pú-
blica Federal, foi editada legislação referente à terceirização, em que pese ainda
16 BIAVASCHI, A terceirização..., p.68; DELGADO; AMORIM, op. cit., p.20 .Para os autores a adoção do neoliberalismo na América Latina agravou
a política econômica de exclusão social já tão enraizada nesta Região.
17 MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.29-37; BARROS, op. cit., p.361-362. Veja-se, de forma
mais pormenorizada, sobre o direito comparado: DELGADO; AMORIM, op. cit., p.22-28.
18 A Organização Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes (1919), é a principal instituição do direito internacional do trabalho.
A Parte XIII desse tratado é considerada a constituição jurídica da OIT e foi complementada pela Declaração de Filadélfia (1944) e pelas reformas
da Reunião de Paris (1945) da OIT. As Nações Unidas, pelo acordo de 30 de maio de 1946, reconheceram a OIT como “organismo especializado
competente para empreender a ação que considere apropriada, de conformidade com seu instrumento constitutivo básico, para cumprimento
dos propósitos nele expostos”. Desde sua fundação, em 1919, a OIT realizou inúmeras conferências.Os ideais que a inspiram e os fins a que se
destina estão expostos na parte XIII do Tratado de Versalhes: “estabelecer a paz universal e que a paz só pode ser fundada sob a justiça social.”
(NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito contemporâneo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2011. p.95).
19 Disponível em :www.oitbrasil.org.br/recommendations. Acesso em : 19.09.2014. Fazendo também análise quanto ao tema: MARTINS, op. cit., p.36;
DELGADO;AMORIM,op. cit.,p. 28-30.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 35
não sob esta denominação, mediante o do Decreto-lei n.o 200/6720 e a Lei
n.o 5645/7021.
Nesse período “o trabalho terceirizado estava longe de alcançar a dimen-
são presente no final do século XX e início do século XXI. Nem sequer o hori-
zonte do mais visionário capitalista a amplitude da contratação terceirizada
era imaginada”.22
 Na sequência, surge a primeira lei a tratar da terceirização de atividade espe-
cífica, Lei n.o 6.019/7423, seguida da Lei n.º 7102/8324, havendo, então, a expan-
são da terceirização, em especial por meio das empresas cujo objeto social é a
atividade de limpeza e conservação.
Assim, não há no Brasil, distintamente de outros países, lei específica regu-
lando a terceirização.25 O que se tem são algumas leis que introduziram a figura
da relação trilateral legítima, entendimentos sumulados pelo TST e projetos de
lei em trâmite no Congresso Nacional.26
E foi exatamente em razão dessa anomia que o TST sumulou a matéria:
(i) inicialmente, em 1986, coibindo-a segundo o Enunciado n.o 256; (ii) em
1993, revisando o Enunciado 256, então a legitimando quanto às atividades
meio e definindo como subsidiária a responsabilidade da tomadora, conforme
Súmula n.º 331; (iii) em 2000, estendendo essa responsabilidade aos entes pú-
blicos que terceirizam, responsabilizando-os subsidiariamente pela só ocor-
rência do descumprimento de obrigação trabalhista pela empresa contratada –
responsabilidade objetiva e (iv) em 2011, revisando tal entendimento diante da
20 Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa.
21 Estabelece diretrizes para a classificação de cargos do serviço civil da União e das Autarquias Federais, e dá outras providências. Esta Lei veio
para delimitar os parâmetros da contratação indireta do serviço público e no § ún. do art. 3.o, enumerou os serviços passíveis de contratação pela
via indireta e restritivamente às entidades com personalidade jurídica de Direito Público, sendo as atividades inquestionavelmente executivas
relacionando-se com atividades meio dos serviços executados pelos entes estatais, sem qualquer referência às atividades-fim da Administração
Pública, conforme: VIANA; DELGADO; AMORIM, , op. cit., 64-65.
22 DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização: paradoxo do direito do trabalho contemporâneo. São Paulo: LTR, 2003. p.128.
23 Dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências (VIANA; DELGADO; AMORIM, op. cit.). Para os autores, esta
lei “estabelece sistemática contratual absolutamente diversa do modelo bilateral clássico da relação de emprego, pois prevê, na relação justra-
balhista, três sujeitos e dois contratos: o interempresário e o de trabalho. O primeiro entre a empresa fornecedora e a cliente. O segundo, entre
a fornecedorae o trabalhador. Note-se que “[...] o regime legal de trabalho temporário acabou cimentando caminho para a naturalização da ideia
da ‘prestação de serviços interempresariais’ na iniciativa privada, no embalo do movimento já iniciado na administração pública”.”
24 Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares
que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores e dá outras providências.
25 BIAVASCHI, A dinâmica..., p.176.
26 Tramita atualmente no Senado Federal o Projeto de Lei n.° 300, de 2015, originário da Câmara dos Deputados - Projeto de Lei n.o 4.330/2004,
que dispõe sobre os contratos de terceirização de mão de obra e as relações de trabalho deles decorrentes.
36 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
decisão do STF na Ação Declaratória de Constitucionalidade - ADC n.o 16/DF, no
sentido de atribuir a responsabilidade subsidiária da Administração Pública pelas
obrigações trabalhistas não adimplidas quando presente, em especial, a culpa
in vigilando, com a alteração da redação do inciso IV e inclusão do inciso V, na
Súmula 331.
Considerada a Terceirização o tema mais polêmico nas relações de trabalho
no mundo moderno, tamanha é a importância do instituto na sociedade e, em
especial, junto à Justiça do Trabalho, houve a designação da primeira Audiência
Pública na história do Tribunal Superior do Trabalho, que ocorreu na sua sede,
em Brasília, nos dias 4 e 5 de outubro de 2011.27
4. A Terceirização no Brasil
ante a Forma de Estado
No Brasil, conforme já afirmado, não há legislação específica que trate da ter-
ceirização, sendo a matéria objeto de súmulas do Tribunal Superior do Trabalho.
A ausência de legislação especial, fixando as atividades possíveis de tercei-
rização e as responsabilidades para as empresas envolvidas na relação jurídica,
origina críticas no magistério de diversos juristas ligados à esfera laboral, como
as a seguir expostas:
Faltam, principalmente, ao ramo justrabalhista e seus operadores os instrumentos
analíticos necessários para suplantar a perplexidade e submeter o processo soci-
ojurídico da terceirização às direções essenciais do Direito do Trabalho, de modo
a não propiciar que ele se transforme na antítese dos princípios, institutos e
regras que sempre foram a marca civilizatória e distintiva desse ramo jurídico no
contexto da cultura ocidental.
[...]
Uma singularidade desse desafio crescente reside no fato de que o fenômeno
terceirizante tem se desenvolvido e alargado sem merecer, ao longo dos anos,
cuidadoso esforço de normatização pelo legislador pátrio. Isso significa que o
fenômeno tem evoluído, em boa medida, à margem da normatividade heterônoma
estatal, como um processo algo informal, situado fora dos traços gerais fixados
27 Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/ASCS/audiencia_ publica/index.php>. Acesso em: 19 set. 2014.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 37
pelo Direito do Trabalho do país. Trata-se de exemplo marcante de divórcio da
ordem jurídica perante os novos fatos sociais, sem que se assista a esforço legife-
rante consistente para se sanar tal defasagem jurídica.28 (sem grifos no original)
Também tecendo críticas, não à ausência de legislação, mas ao próprio insti-
tuto da terceirização:
Desse modo, para além de suas (reais ou falsas) justificações técnicas, a terceiri-
zação se insere numa estratégia de largo espectro, não somente sob o prisma
econômico, mas na dimensão política. É uma das formas mais potentes – e ao
mesmo tempo mais sutis – de semear o caos no Direito do Trabalho, subvertendo
os seus princípios e corroendo seus alicerces. Além disso, num mundo em que
tudo se move, ela oferece à empresa uma rota de fuga, não só confundindo
responsabilidades como tornando menos visível a exploração da mão de obra.
Assim, de certo modo, a terceirização não apenas pode conter fraudes, mas é em
si mesma uma fraude.2929 (grifos no original)
E, em outra obra, Márcio Túlio Viana se manifesta no sentido de que a tercei-
rização, tanto interna quanto externa, tende muito mais a excluir do que incluir
o trabalhador no sistema produtivo da empresa.30
A exclusão do trabalhador concretiza-se em especial quanto à capacidade de
organização sindical e a possibilidade de resistência do grupo diante da flexibi-
lização e gradativa destruição dos seus direitos. É o que o sociólogo Giovani
Alves31 chama de “fragmentação do coletivo do trabalho” pela via da “manipula-
ção do trabalhador coletivo do capital” em que há, ao fim e ao cabo, a dessub-
jetivação de classe.
Com efeito, a crescente utilização do instituto da terceirização já foi objeto
de diversas pesquisas, dentre elas a publicada pelo Centro de Estudos Sindicais
e de Economia do Trabalho – CESIT, que quantifica o serviço terceirizado no país
28 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p.438-439. Ainda para o autor: “O modelo trilateral de
relação socioeconômica e jurídica que surge com o processo terceirizante é francamente distinto do clássico modelo empregatício, que se funda
em relação de caráter essencialmente bilateral. Essa dissociação entre relação econômica de trabalho (firmada com a empresa tomadora) e relação
jurídica empregatícia (firmada com a empresa terceirizante) traz graves desajustes em contraponto aos clássicos objetivos tutelares e redistribu-
tivos que sempre caracterizaram o Direito do Trabalho ao longo de sua história. Por se chocar com a estrutura teórica e normativa original do Direito
do Trabalho esse novo modelo sofre restrições na doutrina e jurisprudência justrabalhistas, que nele tendem a enxergar uma modalidade excetiva
de contratação de força de trabalho.” (p. 436-437).
29 VIANA, op. cit., p. 199. Em igual sentido e elencando uma série de pesquisas realizadas no país: KREIN, op. cit., p.190-207.
30 VIANA; DELGADO; AMORIM, op. cit., p.54.
31 ALVES, Giovani. Terceirização e acumulação flexível do capital: notas teórico-críticas sobre as mutações orgânicas da produção capitalista.
Estudos de Sociologia, Araraquara, v.16, n.31, p.409-420, 2011.
38 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
e refere-se à Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP/1996). Nela de-
monstrou-se que 96% das empresas industriais que desenvolviam serviços es-
pecializados de assessoria jurídica contratavam o serviço de terceiros de forma
parcial ou integral, bem como que 75% das empresas industriais que prestavam
serviços de processamento de dados e desenvolvimento de software na Região
Metropolitana de São Paulo terceirizavam o serviço.32
De igual forma, pubicadas pelo CESIT33, “O trabalho em regime de subcontra-
tação no Brasil” e “Transformações estruturais e emprego nos anos 90” demons-
tram o aumento astronômico das terceirizações no país, em todos os âmbitos,
seja da indústria, do setor bancário, da Administração Pública.
Esse trabalhador, inserido em uma relação jurídica em que há a precarização,
com a sonegação dos seus direitos trabalhistas, é coisificado, retira-se o valor
do seu trabalho, pois que facilmente substituível. Nesse sentido é a crítica de
Zygmunt Bauman34:
Condições econômicas e sociais precárias treinam homens e mulheres (ou os
fazem aprender pelo caminho mais difícil) a perceber o mundo como um
contêiner cheio de objetos descartáveis, objetos para uma só utilização; o mun-
do inteiro – inclusive outros seres humanos. Além disso, o mundo parece ser
constituído de ‘caixas pretas’, hermeticamente fechadas e que jamais deverão
ser abertas pelos usuários, nem consertadas quando quebram. Os mecânicos
de automóveis de hoje não são treinados para consertar motores quebrados ou
danificados mas apenas para retirar e jogar fora as peças usadas ou defeituosas
e substituí-las por outras novas e seladas, diretamente da prateleira. Eles não
têm a menor idéia da estrutura interna das ‘peças sobressalentes’ (uma expres-
são que diz tudo),do modo misterioso como funcionam; não consideram esse
entendimento e a habilidade que o acompanha como sua responsabilidade ou
como parte de seu campo de competência. Como na oficina mecânica, assim
também na vida em geral:cada ‘peça’ é ‘sobressalente’ e substituível, e assim
deve ser. Por que gastar tempo com consertos que consomem trabalho, se não é
preciso mais que alguns momentos para jogar fora a peça danificada e colocar
outra em seu lugar?
Por ser parte hipossuficiente, e não possuir condições de negociação, o indi-
víduo se sujeita a trabalho não acobertado pela legislação. E assim os trabalha-
32 KREIN, op. cit., p.193.
33 Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/cesit/images/stories/24CadernosdoCESIT.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2014. BIAVASCHI, A terceiriza-
ção..., p.68-69.
34 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.186.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 39
dores temporários, terceirizados e de uma forma geral o subcontratado. A jusifi-
cativa das empresas é de que há a necessidade de aumentar a competitividade e
ser a força de trabalho muito onerosa.
E assim a política de ‘precarização’ conduzida pelos operadores dos mercados de
trabalho acaba sendo apoiada e reforçada pelas políticas de vida, sejam elas
adotadas deliberadamente ou apenas por falta de alternativas. Ambas convergem
para o mesmo resultado: o enfraquecimento e decomposição dos laços humanos,
das comunidades e das parcerias. Compromissos do tipo ‘até que a morte nos
separe’ se transformam em contratos do tipo ‘enquanto durar a satisfação’, tempo-
rais e transitórios por definição, por projeto e por impacto programático – e assim
passíveis de ruptura unilateral, sempre que um dos parceiros perceba melhores
oportunidades e maior valor fora da parceria do que em tentar salvá-la a qualquer
– incalculável – custo.35
Notadamente em um Estado Democrático de Direito é essencial se assegurar
o exercício dos direitos sociais, sem soluções implícitas, estas no presente estu-
do consubstanciadas na edição de Súmulas pelo Tribunal Superior do Trabalho
rotineiramente questionadas perante o Supremo Tribunal Federal, sendo neces-
sária a edição de legislação que os preserve diante da terceirização e demais
institutos afins.
Quanto à função do Estado Democrático de Direito, sob o enfoque dos direi-
tos sociais, Inocêncio Mártires Coelho discorre nos seguintes termos:
Não por acaso, quando descrevemos os modelos históricos de Estado de Direito,
adotando como referência os direitos humanos, costumamos qualificá-los como
Estados liberais, sociais ou democráticos, respectivamente, segundo a postura
que assumem em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais: alheamen-
to, estímulo ou efetivação. A essa luz, portanto, pode-se dizer que, a rigor, os
direitos sociais não foram sequer pensados na fase liberal; passaram a merecer
atenção e a ser implementados, ainda que seletivamente, na etapa social; e, por
fim, tornaram-se exigências crescentemente satisfeitas, no momento democrá-
tico dessa longa história. Tal como esses sucessivos modelos de organização
política, que só se impuseram após intensa luta contra as estruturas arcaicas,
também os direitos, que emergiram nesse contexto, expandiram-se e consolida-
ram-se, vencendo duros combates entre o velho e o novo, entre o outrora e o
amanhã. Afinal, como dizia o saudoso mestre Roberto Lyra Filho, apesar das
resistências e reviravoltas, a espiral da História continua ascendente.36 (sem
grifos no original)
35 BAUMAN, op. cit., p.187.
36 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 5.ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2010. p.822.
40 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
Lenio Streck, ao tratar sobre o Estado de Direito e em especial o Estado Demo-
crático de Direito, expressa que este modelo tem um conteúdo transformador da
realidade, agindo simbolicamente como fomentador da participação pública na
construção do projeto de sociedade, em que a questão da democracia, ao fim e
ao cabo, implica a solução do problema das condições materiais de existência,
ao contrário do Estado Social de Direito que se restringe a uma adaptação me-
lhorada das condições sociais de existência.3737
E mais adiante, ao tratar do Estado Democrático de Direito, bem como o grau
de vinculariedade da Constituição e a sua realização, se manifesta assim:
Para o enfrentamento desses questionamentos, parece apropriado lembrar,
de pronto, com Eros Grau, que a Constituição do Brasil não é um mero “instru-
mento de governo”, enunciador de competências e regulador de processos,
mas, além disso, enuncia diretrizes, fins e programas a serem realizados pelo
Estado e pela sociedade. Não compreende somente um “estatuto jurídico do
político”, mas um “plano global normativo” da sociedade e, por isso mesmo, do
Estado brasileiro. Daí ser ela a Constituição do Brasil, e não apenas a Constitui-
ção da República Federativa do Brasil. Os fundamentos e os fins definidos em
seus artigos 1.o e 3.o são os fundamentos e os fins da sociedade brasileira.38
Segundo o conteúdo da CR-8839, o Estado brasileiro é caracterizado como
Democrático de Direito e prevendo expressamente direitos sociais tais devem
ter eficácia jurídica e social, em especial, no presente estudo, os trabalhistas.
37 STRECK; MORAIS, op. cit., p.97-98.
38 Ibid., p.106.
39 Art. 1.o “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: [...]; Art. 6.o São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho [...]; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:[...]VIII – busca do pleno
emprego; [...]; Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.” (sem grifos no
original). Para Bezerra Leite, a CR-88 consagra a passagem do Estado Liberal para o Estado Social – este constitui o alicerce do Estado Democrático
de Direito, e exige um novo pensar jurídico sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas do nosso país.” (LEITE, Carlos Henrique Bezerra.
Direito e processo do trabalho: na perspectiva dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. Introdução). Segundo Lenio Streck, “O Estado
de Direito surge desde logo com o Estado que, nas suas relações com os indivíduos, se submete a um regime de direito quando, então, a atividade
a atividade estatal apenas pode desenvolver-se utilizando um instrumental regulado e autorizado pela ordem jurídica, assim como, os indivíduos
– cidadãos – têm a seu dispor mecanismos jurídicos aptos a salvaguardar-lhes de uma ação abusiva do Estado.” (STRECK; MORAIS, op. cit., p.91-
92).
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 41
5. Conclusão
A terceirização decorre do sistema de produção capitalista e, possuindo essa
origem em um mundo globalizado40, afigura-se pouco provável a eliminação
de tal modelo triangular.
O mundo do trabalho não é estático. A fim de acompanhar as inúmeras mu-
danças dos nossos tempos, que são questões de todos os matizes, as de reper-
cussão política e social em especial têm sido judicializadas, ou seja, não sendo
resolvidas pelas instâncias políticas tradicionais que são o Congresso Nacional
e o Poder Executivo, são decididas por órgãos do Poder Judiciário. Tal judiciali-
zação não corresponde ao Estado Democrático de Direito, na medida em que
caracteriza-se como ativismo antidemocrático e próprio das demomocracias
delegativas.41
Essa transferência de poder para o Poder Judiciário redunda em uma espera-
da alteração significativa na linguagem,na argumentação e no modo de partici-
pação da sociedade.42
Percebe-se a capilarização do instituto da terceirização nos mais diversos
ramos empresariais, o que justifica a convergência de esforços para dispôr so-
bre a proteção dos direitos sociais dele decorrentes, pois que, em que pese
ainda não haja normatização suficiente é inegável que a CR-88 impõe tal defesa,
seja (i) prevendo como fundamento do Estado Democrático de Direito os valo-
res sociais do trabalho - art. 1º , IV; (ii) como objetivo fundamental previsto no
art. 3º, I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; (iii) como fundamen-
to da ordem econômica – a valorização do trabalho humano – art. 170, caput;
(iv) como um dos princípios gerais da atividade econômica - o pleno emprego
40 A globalização é um termo que se difundiu na década de oitenta para indicar a integração mundial do setor financeiro realizada pela
intensificação dos fluxos de capital depois das regulamentações e aberturas dos sistemas financeiros nacionais. Daí seu uso estendeu-se para
designar fenômenos diversos que compartilham a tendência à criação de um espaço global . Mais que uma acepção geográfica extensiva, o
conceito de globalização põe em destaque a superação das diferenças e barreiras nacionais do fenômeno ao qual se refere. Os estados nacionais,
já afetados pelo processo de transnacionalização da produção, redimensionaram as suas políticas econômicas no quadro da estratégia gene-
ricamente neoliberal que prescreve a redução ou a eliminação da política fiscal em favor de uma política monetária ajustada exclusivamente
aos critérios monetaristas. (BÚFALO, Del Enzo. A reestruturação neoliberal e a globalização. Apud: VERDE, Valéria Crisóstomo Lima; POMPEU, Gina
Vidal. A crise do estado social e a flexibilização das leis trabalhistas.Disponível em : <http://www.publicadireito.com.br/publicacao/unicuri-
tiba/livro.php?gt=133>.Acesso em: 08 out. 2014.
41 O’DONNELL, Guilhermo. Democracia delegativa? Novos Estudos CEBRAP, n.31, p.25-40, out. 1991; STRECK; MORAIS, op. cit., p. 119-125.
42 BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; FRAGALE FILHO,
Roberto; LOBÃO, Ronaldo (Org.). Constituição & ativismo judicial: limites e possibilidades da norma constitucional e da decisão judicial. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011. p.275-290. p.276: “O fenômeno tem causas múltiplas. Algumas delas expressam uma tendência mundial; outras estão
diretamente relacionadas ao modelo institucional brasileiro.”
42 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos
– art. 170, VIII; e por último e como decorrência de todos os acima elencados o
próprio modelo de Estado, qual seja, Estado Democrático de Direito, origem do
princípio da isonomia, motivos suficientes que demonstram que o Estado não
pode se omitir do dever de legislar sobre a matéria.
Nesse sentido, ressaltando a importância da formulação de um Direito do
Trabalho-Constitucional ou a Constitucionalização do Direito do Trabalho, Cláu-
dio Brandão43 expõe que os princípios constitucionais devem estar presentes no
debate quanto às atividades que podem ser objeto de terceirização, de forma
que haja uma correlação entre o art. 1º, V e o art. 170, caput , legitimando a
coexistência principiológica do valor social do trabalho com a livre iniciativa,
“não sendo possível cogitar-se da prevalência desta última sobre aquele”.
Conclui-se que, em um Estado Democrático de Direito é essencial se assegu-
rar o exercício dos direitos sociais, sem soluções implícitas, estas no presente
estudo consubstanciadas na edição de Súmulas pelo Tribunal Superior do Tra-
balho rotineiramente questionadas perante o Supremo Tribunal Federal, fazen-
do-se necessária a edição de legislação que os preserve ante a terceirização, a
fim de que esta não se torne a antítese da marca do Direito do Trabalho.44
43 BRANDÃO, Cláudio. Novos rumos do direito do trabalho. In: TEPEDINO, Gustavo et al. (Coords.). Diálogos entre o direito do trabalho e o direito
civil. São Paulo: RT, 2013. p.50.
44 DELGADO, op. cit., p. 438.
Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 43
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