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COORDENADORA Ana Maria Maximiliano 2 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 3 COORDENADORA Ana Maria Maximiliano Curitiba-PR 2015 Coleção Comissões Vol. XXII 4 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos www.oabpr.org.br Rua Brasilino Moura, 253 - Ahú - Curitiba - PR (41) 3250-5700 COORDENADORA Ana Maria Maximiliano Projeto Gráfico e Diagramação Celso Arimatéia Coleção Comissões Vol. XXII Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 5 COORDENADORA Ana Maria Maximiliano Coleção Comissões Vol. XXII 6 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Paraná Gestão 2013/2015 Juliano José Breda Presidente Cássio Lisandro Telles Vice-Presidente Eroulths Cortiano Junior Secretária-Geral Iverly Antiqueira Dias Ferreira Secretário-Geral Adjunto Oderci José Bega Tesoureiro Caixa de Assistência dos Advogados Gestão 2013/2015 José Augusto Araújo de Noronha Presidente Éliton Araújo Carneiro Vice-Presidente Maria Regina Zarate Nissel Secretária-Geral Luis Alberto Kubaski Secretário-Geral Adjunto Fabiano Augusto Piazza Baracat Tesoureiro Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 7 Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Paraná Conselheiros Estaduais Alexandre Hellender de Quadros Carlos Roberto Scalassara Celso Augusto Milani Cardoso Cicero Jose Zanetti de Oliveira Ciro Alberto Piasecki Claudionor Siqueira Benite Daniela Ballão Ernlund Edni de Andrade Arruda Elizandro Marcos Pellin Eunice Fumagalli Martins e Scheer Evaristo Aragão Ferreira dos Santos Fabio Luis Franco Gabriel Soares Janeiro Gilder Cezar Longui Neres Guilherme Kloss Neto Gustavo Souza Netto Mandalozzo Ivo Harry Celli Junior João de Oliveira Franco Junior João Everardo Resmer Vieira José Carlos Cal Garcia Filho José Carlos Sabatke Saboia José Lucio Glomb Juarez Cirino dos Santos Juliana de Andrade Colle Nunes Bretas Lauro Fernando Pascoal Lauro Fernando Zanetti Lucia Maria Beloni Correa Dias Luiz Fernando Casagrande Pereira Marcia Helena Bader Maluf Heisler MariaAntonieta Pailo Ferraz Marilena Indira Winter Marlene Tissei São José Neide Somões Pipa Andre Nilberto Rafael Vanzo Oksandro Osdival Gonçalves Paulo Charbub Farah Paulo Rogerio Tsukassa de Maeda Rafael Munhoz de Mello Renato Cardoso de Almeida Andrade Rita de Cassia Lopes da Silva Rogel Martins Barbosa Rogéria Fagundes Dotti Rubens Sizenando Lisboa Filho Silvio Martins Vianna Vera Grace Paranaguá Cunha Wascislau Miguel Bonetti Membros Natos Alcides Bitencourt Pereira Antonio Alves do Prado Filho Eduardo Rocha Virmond Jose Cid Campelo Mansur Theophilo Mansur Newton Jose de Sisti Membros Honorários Vitalícios Alberto de Paula Machado Alfredo de Assis Gonçalves Neto Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque José Lucio Glomb Manoel Antonio de Oliveira Franco Conselheiros Federais Alberto de Paula Machado Cesar Augusto Moreno José Lucio Glomb 8 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Alzir Pereira Sabbag Especialista em Direito Individual e Coletivo do Trabalho pela UFPR. Graduado em Direito pela UFPR. Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR. Advogado. Ana Maria Maximiliano Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela PUCPR. Especialista em Direito Administrativo (IBEJ), Direito e Processo do Trabalho (ABDCONST), Direito Constitucional (ABDCONST). Graduada pela PUCPR. Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR. Conselheira da Câmara de Trabalho e Previ- dência da Associação Comercial do Paraná. Procuradora do Município de Curitiba. André Gonçalves Zipperer Doutorando em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR, sendo bolsista da Coordenação de Aper- feiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Mestre em Direito Empresarial pelo Centro Universi- tário Curitiba. Especialista em Direito Processual do Trabalho pela Unibrasil. Professor convidado de cursos de Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho da Universidade Positivo, Centro Universitário Curitiba e Curso Professor Luiz Carlos. Membro da Comissão de Direito do Trabalho OAB/PR. Advogado. Antonio Assad Mansur Neto Especialista em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba. Graduado pela PUCPR. Primeiro Secretário da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná. Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado. Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo Mestranda da Unicuritiba/PR. Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí / UNIVALI. Especia- lista em Direito Material e Processual do Trabalho pela Univali e CESUSC. Ex-Conselheira Executiva da Aca- demia Superior de Advocacia Trabalhista de Santa Catarina. Ex-Membro efetivo do Instituto Cesarino Júnior. Autora de diversos artigos publicados em âmbito nacional. Membro da Comissão de Acessibilidade e da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogada. Eduardo Rosario Medeiros Especialista em Direito Público pela ESMAFE-PR, Direito do Trabalho e Previdenciário pela EMATRA-PR, Estado Democrático de Direito pela FEMPAR. Graduado em Direito pela PUCPR. Advogado. Autores Membros das Comissões da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Paraná Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 9 Emerson Jesus Rodrigues Avelar Especialista em Direito do Trabalho pela Ematra IX. Ouvidor Geral da Associação dos Advogados Trabalhis- tas do Estado do Paraná. Segundo Secretário da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado. João Teixeira Fernandes Jorge Especialista em Direito Material, Processual e Mercado do Trabalho pelo Centro de Estudos Jurídicos do Paraná, Direito Material e Processual do Trabalho e em Direito Previdenciário, pela EMATRA IX, Direito Civil pela Universidade Anhanguera Uniderp. Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado. Luciane Erbano Romeiro Mestre em Direito Empresarial e Econômico. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Professora de Pós-Graduação. Membro-Primeira Secretária da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Membro da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná. Advogada. Marcelo Alessi Mestre em Direito Privado pela UFPR. Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná (2011/2013) e Presidente da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-PR. Advogado. Marco Antônio César Villatore Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Roma II (UNIROMA II - Tor Vergata), Doutor pela Universidade de Roma I (UNIROMA I - Sapienza), revalidado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professor Adjunto concursado da Universida- de Federal de Santa Catarina (UFSC) e do UNINTER. Professor Titular do Curso de Mestrado e do Doutorado em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Líder do Grupo de Pesquisa “Desregu- lamentação do Direito, do Estado e Atividade Econômica: Enfoque Laboral”. Membro licenciado das Comis- sões de Acessibilidade e de Direito Internacional. Advogado. Patrícia Dittrich Ferreira Diniz Mestre em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR. Especialista em Direito Tributário e Direito do Trabalho. Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Membro da Comissão de Assédio Moral e Conselho de Orientação e Ética na Companhia Paranaense de Energia - Copel. Advogada. Wagner André Johansson Especialista em Direito Civil aplicado pela Escola da Magistratura do Estado do Paraná (EMAP-PR). Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR. Advogado. 10 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos SUMÁRIO Os Limites do “Reaproveitamento dos Atos Processuais” Praticados na Justiça Comum, nos Casos em que Houve Deslocamento da Competência para a Justiça do Trabalho e os Efeitos da EC 45/04 na Esfera Trabalhista Alzir Pereira Sabbag 16 Terceirização de Serviços: A (des)necessidade de Regulamentação Ana Maria Maximiliano28 O ideal marxista e as novas realidades do contrato de trabalho André Gonçalves Zipperer 46 Assédio Processual no Âmbito da Justiça do Trabalho Antonio Assad Mansur Neto66 Apresentação12 A Inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo 80 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 11 Do Trabalho Infantil Artístico Eduardo Rosario Medeiros 92 Histórico do Direito do Trabalho Emerson Jesus Rodrigues Avelar 100 A Arguição de Nulidade Processual no Âmbito da Justiça do Trabalho João Teixeira Fernandes Jorge 114 A Revolução Tecnológica e o Direito a Desconexão do Trabalho – Aspectos Jurídicos, Sociais e Econômicos Patrícia Dittrich Ferreira Diniz Marco Antônio César Villatore 190 Análise Crítica da Súmula 437 do TST Marcelo Alessi 176 Honorários Advocatícios de Sucumbencia na Justiça do Trabalho Wagner André Johansson 216 O Trabalhador Estrangeiro no Brasil e a Globalização Luciane Erbano Romeiro140 12 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos A coletânea de textos aqui reunidos aborda diversos aspectos do universo do trabalho. Foram elaborados, na maioria absoluta, por membros da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/PR - gestão 2013-2015, que, com a diversidade de reflexões, buscam compreender e dar um panorama da realidade vivenciada pelo advo- gado, seja sob o aspecto do Direito Material ou Processual do Trabalho. O primeiro artigo, escrito por Alzir Pereira Sabbag, trata dos limites do ‘rea- proveitamento dos atos processuais’ em casos de deslocamento da competên- cia da Justiça Estadual para a Justiça do Trabalho em decorrência da ampliação da competência desta Justiça pela Emenda Constitucional 45/04. O autor regis- tra a necessidade de uniformização procedimental, na medida em que a Instru- ção Normativa n° 27/2005 não estabelece parâmetros para tanto, o que traz inse- gurança jurídica. Conclui pela necessidade de realização de audiência una, objetivando o saneamento do processo, com fundamento no art. 357, § 3º, do Código de Processo Civil de 2015. A (des)necessidade de regulamentação da terceirização de serviços é tratada no segundo artigo, elaborado por Ana Maria Maximiliano, no qual faz aborda- gem histórica do instituto da terceirização, contextualizando-o com os marcos normativos e jurisprudenciais. Conclui pela necessidade de observância dos preceitos e valores do Estado Democrático de Direito, em especial a proteção dos direitos sociais, com a edição de legislação a fim de que a terceirização “não se torne a antítese da marca do Direito do Trabalho”. Apresentação Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 13 O terceiro artigo, de André Gonçalves Zipperer, versa sobre “Marx e a nova realidade do contrato de trabalho”. O autor analisa as ideias marxistas em rela- ção ao mundo do trabalho, relacionando-as com as peculiaridades que levaram ao nascimento do Direito do Trabalho no Brasil e os seus princípios norteado- res. Conclui pela adaptação do discurso marxista à nova realidade das relações de trabalho, reconhecendo, no entanto, algumas variantes próprias da comple- xidade da realidade social que ficam sem resposta. Antonio Assad Mansur Neto, no quarto artigo, trata do “Assédio processual no âmbito da Justiça do Trabalho”, sob o enfoque da celeridade processual e do direito fundamental à razoável duração do processo. Desenvolve o tema sob a ótica da Constituição Federal de 1988, do Código de Processo Civil de 2015 e do Código Civil. Conclui que na Justiça do Trabalho há tolerância com a litigância de má-fé e com o assédio processual, devendo as partes observarem os ditames da boa-fé, agindo com lealdade processual e colaborando para a entrega célere e justa da prestação jurisdicional. Carolina Garcia Luchi Da Rocha Pombo, com o quinto tema “A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho”, analisa a fixação legal de cotas para a contratação pelas empresas, prevista Lei n° 8.213/1991. Os focos da questão são a função social da empresa e a dignidade da pessoa humana ante a qualificação da pessoa com deficiência. Conclui pela necessidade de conju- gação de esforços para que se atinja a tão almejada dignidade do deficiente através do trabalho. “O trabalho infantil artístico” é o tema do sexto artigo, elaborado por Eduar- do Rosario Medeiros. O autor aborda o tema sob a perspectiva da Constituição Federal de 1988, da legislação infraconstitucional e das Convenções Internacio- nais, enfatizando o constante no item 5, da Declaração decorrente do Seminário “Trabalho infantil artístico: entre o sonho e a realidade”. Conclui pela compe- tência da Justiça do Trabalho para avaliar a legitimidade do trabalho artístico. No sétimo artigo, Emerson Jesus Rodrigues Avelar, traz o “Histórico do Direi- to do Trabalho”. O autor aborda o Direito do Trabalho no mundo e no Brasil, concluindo que há constante evolução desse ramo do Direito e que a rigidez ou flexibilização de suas normas depende do momento social e político do país. 14 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos No oitavo artigo, João Teixeira Fernandes Jorge, com o tema “A arguição de nulidade processual no âmbito da Justiça do Trabalho”, trata do excessivo nú- mero de processos na esfera trabalhista, assoberbando magistrados e advoga- dos. Esse fato propicia a supressão indevida de prerrogativas do advogado, em razão da busca da celeridade processual. Aborda a questão da nulidade de ato que suprime prerrogativa do advogado e o momento oportuno para sua argui- ção, cotejando com a atual doutrina e jurisprudência. Conclui pela inexistência de uniformidade de entendimento quanto ao momento oportuno para a argui- ção dessa nulidade processual. Luciane Erbano Romeiro escreve o nono artigo, no qual analisa a situação do trabalhador estrangeiro no Brasil ante a globalização, frisando a necessida- de de legislação específica que trate sobre o tema. Entende que as empresas originadas das fusões e incorporações, bem como os blocos econômicos, bus- cam países com legislação trabalhista menos protecionista. Conclui que, no Brasil, a legislação trabalhista é aplicada independentemente da nacionalidade ou domicílio das partes (empregado ou empregador) e que o trabalhador pode buscar a aplicação da lei estrangeira através do contrato, seja com fundamento na autonomia da vontade ou na condição mais favorável. Marcelo Alessi, no décimo artigo, realiza “Análise crítica da Súmula 437 do Tribunal Superior do Trabalho”. Discorre sobre a incoerência do critério para o pagamento do intervalo intrajornada, nos casos de concessão parcial ou su- pressão, pois que para ambos a condenação é para o pagamento da integralida- de do período, com natureza jurídica salarial. Expressa sua maior crítica na aplicação pretérita da Súmula 437, TST, sem modulação dos efeitos, na medida em que incide sobre situações anteriormente reguladas por negociação coleti- va, o que é fator de insegurança jurídica. Com o décimo-primeiro artigo, escrito por Patrícia Dittrich Ferreira Diniz e Marco Antônio César Villatore, os autores analisam o impacto da tecnologia e da Lei n° 12.551/2011 no mundo do trabalho, sob a perspectiva do direito à desco- nexão e seus reflexos jurídicos sociais e econômicos. O décimo-segundo artigo, de autoria de Wagner André Johansson, trata do tema “Honorários advocatícios de sucumbência na Justiça do Trabalho”. O autor Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 15 tece considerações sobre os honorários advocatícios ante as Súmulas 219 e 329 do Tribunal Superior do Trabalho em cotejo com o art. 791 da CLT; a incompatibi- lidade do jus postulandi com a atual conformação da Justiça do Trabalho e o atual entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho e do Su- perior Tribunal de Justiça. Em razão da dificuldade de alteração legislativa, con- clui pela necessidade de alteraçãoda jurisprudência a fim de que a condenação em honorários advocatícios na Justiça do Trabalho seja a regra. Agradecemos a todos os membros que enviaram trabalhos, por nos honra- rem com sua contribuição para a realização desta coletânea. Ana Maria Maximiliano Coordenadora Marcelo Alessi Presidente da Comissão de Direito do Trabalho 16 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Os Limites do “Reaproveitamento dos Atos Processuais” Praticados na Justiça Comum, nos Casos em que Houve Deslocamento da Competência para a Justiça do Trabalho e os Efeitos da EC 45/04 na Esfera Trabalhista Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 17 Alzir Pereira Sabbag 18 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 1. Introdução Mesmo após passado mais de década da promulgação da Emenda Constituci- onal nº 45, o que se constata, pela experiência advinda da militância no foro trabalhista, é que não existe o menor compromisso, quer do Poder Legislativo, quer do Poder Judiciário, em estabelecer uma política judiciária que discipline a necessária “adequação ao rito trabalhista”, daquelas ações ajuizadas na Justi- ça Comum e que tiveram sua competência deslocada para a Especializada. Provavelmente a “resistência” em disciplinar a matéria, decorra do temor em se reduzir as prerrogativas de magistrados na condução destes tipos de processos. Se é isto; efetivamente, não se sabe. O fato é que a ausência de regramento para o assunto, sempre provocou profunda inquietação no meio jurídico traba- lhista, sobretudo, entre os advogados. 2. A Dimensão Social do Tema O tema ganha especial relevo ao se analisarem os dados fornecidos pelo Relatório Geral da Justiça do Trabalho, fornecido para o ano de 2006, o qual revela que, só no primeiro ano após a alteração constitucional, a Especializada recebeu 92.751 processos oriundos da Justiça Comum, dos quais 40.424 da Jus- tiça Federal e 52.327 da Justiça Estadual1. Se, até a presente data, ainda chegam processos da Justiça Comum, em razão da alteração Constitucional imposta ao final de 2004, não são necessárias maio- res reflexões para se dimensionar o tamanho e a importância do tema. 1 Os dados constam do relatório Geral da Justiça do Trabalho disponível no sítio: http://www.tst.jus.br/documents/10157/6a7b5b24-3321-4ebd- b0ea-1ee82c2c3b13 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 19 3. A Tímida Iniciativa do Judiciário em Disciplinar a Matéria Logo no início de 2005, mais precisamente em 16 de fevereiro, o Tribunal Superior do Trabalho tratou de emitir seu primeiro pronunciamento oficial a respeito do assunto, através da Instrução Normativa nº 272. Aparentemente, esperava-se que surgiria alguma orientação que discipli- nasse, de maneira uniforme, como seria tratada aquela avalanche de ações que estaria sendo encaminhada à Justiça do Trabalho. Pura ilusão. Apesar de a Instrução Normativa nº 27, do Colendo Tribunal Superior do Tra- balho ter sido constituída justamente para tal desiderato, a mesma representou muito pouco, ou quase nada, no sentido de estabelecer parâmetros procedi- mentais mínimos, para que se disciplinassem os processos, a partir do desloca- mento da competência, a fim de que estes se desenvolvessem de maneira mini- mamente regular e ordenada. Sustenta-se que a IN nº 27 do C. TST representa “pouco, ou quase nada”, porque logo em seu artigo 1º, fica claro, que apenas as ações já ajuizadas na Justiça do Trabalho devem se submeter ao rito celetista. Note-se: 2 IN Nº 27: Dispõe sobre normas procedimentais aplicáveis ao processo do trabalho em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento. Art.2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada, aos prazos e às competências. Parágrafo único. O depósito recursal a que se refere o art. 899 da CLT é sempre exigível como requisito extrínseco do recurso, quando houver condenação em pecúnia. Art.3º Aplicam-se quanto às custas as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho. § 1º As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. § 2º Na hipótese de interposição de recurso, as custas deverão ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal (artigos 789, 789- A, 790 e 790-A da CLT). § 3º Salvo nas lides decorrentes da relação de emprego, é aplicável o princípio da sucumbência recíproca, relativamente às custas. Art. 4º Aos emolumentos aplicam-se as regras previstas na Consolidação das Leis do Trabalho, conforme previsão dos artigos 789-B e 790 da CLT. Parágrafo único. Os entes públicos mencionados no art. 790- A da CLT são isentos do pagamento de emolumentos (acrescentado pela Resolução n° 133/2005). Art. 5º Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência. Art. 6º Os honorários periciais serão suportados pela parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária da justiça gratuita. Parágrafo único. Faculta-se ao juiz, em relação à perícia, exigir depósito prévio dos honorários, ressalvadas as lides decorrentes da relação de emprego. Art. 7º Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação. 20 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos “Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, excepcio- nando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento”. Grifou-se. A mais alta Corte Trabalhista, omitiu-se, assim, em relação àqueles feitos ori- ginários da Justiça Comum, de sorte que existe, em verdade, um vácuo procedi- mental a respeito do assunto. Tímida demais, portanto, a iniciativa de dar regramento àqueles feitos que tiveram sua competência deslocada para a Justiça do Trabalho. Compreensível, que o Tribunal Superior, hesite em adotar medidas que limi- tem, ou reduzam, os poderes dos magistrados na condução das causas, sobretu- do nas atividades judicantes dos “colegas de primeiro grau”. O que não se pode admitir é que, por mais de uma década, ainda não se tenha chegado a “denominador comum”, a respeito de como deve ser executada “a adequação do processo”, ao rito trabalhista. 4. A Necessidade de Uniformização Procedimental Decorrem daí situações das mais variadas e a adoção de procedimentos que não guardam qualquer padrão de uniformidade, trazendo profunda inseguran- ça jurídica aos jurisdicionados. Há magistrados do trabalho que, ao receberem um feito da Justiça comum, designam audiência inicial. Há outros que designam audiência de instrução. Há aqueles que determinam a intimação das partes, para que especifiquem as pro- vas que desejariam produzir. Finalmente, há até aqueles que designam audiên- cia para encerramento de instrução e última tentativa conciliatória. Isto é, adotam-se procedimentos dos mais variados, o que produz profunda insegurança jurídica às partes e aos procuradores envolvidos. Esta “instabilidade processual”, é provocada, sobretudo por falta de co- nhecimento a respeito daqueles atos processuais que poderão, ou melhor, Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 21 deverão ser reaproveitados e convalidados e quais serão os que deverão ser repetidos. O que vem se observando, é o apego exacerbado ao formalismo, que tem a tendência em tentar aproveitarpraticamente tudo o que foi feito no foro incom- petente; o que, em última análise, é absolutamente incompatível com os princí- pios que norteiam o processo trabalhista. Não raro observam-se situações em que se impede o direito de emendar a defesa, ou, até, casos em que se tentam aproveitar periciais realizadas por pro- fissionais que sequer teriam condições de emitir juízo sobre a existência de nexo causal entre enfermidades e trabalho. Recebidos os autos da Justiça Comum, assim que estes chegam ao órgão competente, adotam-se diversas formas de processamento, as quais nem sem- pre encontram guarida na melhor técnica jurídica. Imprescindível, portanto, que se disciplinem estas situações, para que a “ade- quação do procedimento” ocorra da maneira mais harmoniosa possível, de modo que se respeitem os direitos processuais das partes, bem como se desenvolva o processo de maneira minimamente regular. A matéria ganha especial destaque, quando se leva em conta que as ações reparatórias, de danos morais e patrimoniais, recebidas pela Justiça do Trabalho da Justiça Comum, envolvem várias espécies de indenizações, nas quais se dis- cutem valores bastante expressivos. Os temas são das mais variadas amplitudes, já que envolvem consequências de acidentes e doenças que podem gerar: mortes, amputações e diversas formas de mutilações físicas, provocando assim consequências vitalícias e, consequen- temente, a discussão de elevadas cifras. O problema é que, enquanto o processo tramita na Justiça Cível, podem se suceder uma série de incidentes processuais que criaram situações jurídicas de difícil solução. Até porque, na Justiça Comum, se observa sequência e ordem de atos processuais que nem sempre seria praticada, ou recepcionada na Justiça do Trabalho. Exemplo disso é a ordem que se atribui na produção das provas, organizan- 22 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos do-se, primeiro, a juntada de documentos, após a prova técnica e somente ao final a prova oral, conforme previsto no art. 452 do CPC3. Como se sabe, esta sequência procedimental, nem sempre ocorre na Justiça do Trabalho, sendo normal e corriqueiro que a prova técnica ocorra, por muitas vezes, após a prova oral. Por conta disso, apesar da enorme resistência de alguns, é mais do que che- gada a hora e estabelecer a necessidade de despacho saneador no processo do trabalho, ao menos para este tipo específico de processo, o qual nem sempre chaga da Justiça Comum, pronto para julgamento. 5. Conclusão e a Solução que Ora se Propõe O mais aconselhável em casos como estes, seria criar como regra o seguinte: recebido o feito do Foro Incompetente, o magistrado trabalhista deveria saneá- lo, ou quando menos ADEQUÁ-LO ao rito consolidado, na forma que sugere a Instrução Normativa nº 27 do TST. Independentemente do nome que se queira dar ao procedimento, o fato é que o feito merece ser “saneado”, se não no sentido estrito, ao menos no sentido lato. Do contrário, poderá, o processo, se desenvolver de maneira totalmente irre- gular, tropeçando na melhor técnica judiciária. E, a maneira mais fácil de realizar tal “saneamento” é, obviamente, designar audiência UNA, sem jamais olvidar das diretrizes contidas nos artigos: 113, § 2º4 e 250, parágrafo único5; ambas, do CPC, dispositivos estes mantidos no NCPC, através das regras constantes do §4º, do art. 64 e do parágrafo único do art. 283, respectivamente. 3 As provas serão produzidas em audiência nesta ordem: I – o perito e os assistentes técnicos responderão, aos quesitos de esclarecimentos, requeridos no prazo e na forma do art. 435; II – o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu; III – finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu. 4 Art. 113 do CPC: A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, indepen- dentemente de exceção. §1º - omissis; §2º - Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente. 5 Art 250 do CPC: O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser reaproveitados, devendo praticar- se o que forem necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais. Parágrafo único: Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízos à defesa. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 23 Afinal, é na audiência, que a lide trabalhista se estabiliza, já que é nela o momento processual adequado que o legislador celetista estabeleceu para apre- sentar a defesa, conforme art. 847 consolidado6. Esta proposta, inclusive, encontra abrigo na nova sistemática processual, portanto. Harmoniza-se, assim, com o “dever de cooperação” previsto na nova siste- mática processual e, especialmente, com a regra constante no art. 357, §3º, do Código de Processo Civil de 20157. Só assim, o contraditório se estabilizaria no Juízo Competente. Compreende-se, perfeitamente que, com a mudança da competência prove- niente da EC 45/2004, situações novas surgiram nesta Especializada. Daí porque a “insegurança procedimental” campeou por todo este tempo. Isso porque, muitos temas que, outrora sequer eram abordados em procedi- mentos perante a Justiça Comum, no Foro Especializado, ganham especial im- portância, dada a maior proximidade dos profissionais da área do Direito do Trabalho (juízes, advogados, peritos, engenheiros, médicos, etc.), com a rotina das empresas e das relações de trabalho. Muito do que lá se discutia, “para nós” é irrelevante. Porém, muita coisa que “para eles” era impertinente, para nós é de suma importância. Daí porque, é necessário, que o Judiciário Trabalhista se organize e discipli- ne estas questões, principalmente aquelas relativas ao aproveitamento de atos praticados nos “juízos incompetentes”. Passou da hora da mais alta corte trabalhista do país se pronunciar sobre o tema e resolver sumular, ou, ao menos, manifestar seu entendimento sobre as controvérsias existentes do aproveitamento dos atos processuais praticados na Justiça Comum. 6 Art. 847 da CLT: Não havendo acordo, o reclamado terá cinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes. 7 Art. 357, § 3º do novo CPC: Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. 24 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Realmente é difícil acreditar, que as ações originárias da Justiça Comum, sejam julgadas satisfatoriamente, se não houver ao menos “UMA ADEQUAÇÃO AO RITO TRABALHISTA”, de modo a poder-se fixar, previamente, que atos (?) emana- dos do Juízo Incompetente, poderão ser reaproveitados e convalidados. O que vem se observando entrementes é que se tentam aproveitar atos que são notadamente nulos em sua essência. Exemplo disso são os casos em que o Juízo Trabalhista simplesmente impede que sejam realizadas emendas, ou aditamentos, à defesa. Outro exemplo são os casos em que a perícia, na Justiça Comum, foi realizada por profissionais que não têm a menor competência para estabelecer diagnósti- cos sobre doenças, como aquelas perícias realizadas por fisioterapeutas. Ora, recebida a ação na Justiça do Trabalho, deve, primeiramente, o juiz com- petente, designar audiência, e una, na forma prevista no art. 846 da CLT8, a fim de adequar-se o rito processual ao procedimento celetista. Isto, lamentavelmente, vem deixando de ser realizado em diversos casos e, assim, vem se tentando impedir que os réus aditem os termos de suas respostas, cerceando-se o direito de apresentar a contestação, no momento processual próprio, o qual é previsto no rito celetista. Consoante estabeleceos artigos: 795, §1º, da CLT9 e 113, § 2º, do CPC (art 64, §4º do NCPC); todos os “atos decisórios”, neles incluídos todos os despachos, decisões interlocutórias e sentenças; praticados pelo juiz incompetente são ab- solutamente nulos de pleno direito. Nulos, portanto, são todos os “atos decisórios” praticados no Foro Incompe- tente, desde os despachos de mero expediente e decisões interlocutórias, até as demais decisões terminativas. A conseqüência da nulidade de todos os atos decisórios praticados na justi- ça comum, acarreta na viabilidade e conveniência de que, o magistrado traba- lhista, assim que receba os autos da Justiça Comum, designe audiência UNA, na forma prevista nos artigos 81510 e 847 da CLT, com o objetivo de adequar o rito a 8 Art. 846 da CLT: Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação. 9 Art. 795, §1º da CLT: Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro. Nesse caso serão considerados nulos os atos decisórios. 10 Art. 815 da CLT: À hora marcada, o juiz presidente declarará aberta a audiência, sendo feita pelo chefe de Secretaria ou escrivão a chamada das partes, testemunhas e demais pessoas que devam comparecer. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 25 esse procedimento especializado, facultando à ré a possibilidade de ofereci- mento de emenda à defesa. É bem verdade que alguns atos praticados no Foro Incompetente poderiam, e até mesmo, deveriam ser “reaproveitados”. Contudo, tal reaproveitamento, apenas pode ocorrer, se dele não decorrer prejuízos à defesa, ao teor do parágrafo único, do art. 250 (Art. 283, parágrafo único do NCPC), do CPC e art. 794 da CLT11. Portanto, se a parte passiva não concordar em reaproveitar determinada pro- va, ou ato processual, este jamais poderá ser convalidado, após o deslocamento da competência. Por mais esta razão, mostra-se perfeitamente razoável, oportuno e conveni- ente, o entendimento de que deve ser designada audiência UNA, facultada, ob- viamente, a critério do magistrado, a sua bipartição, de modo que se garanta a oportunidade de aditar a defesa. Não restam dúvidas que, negar o direito de emenda à resposta, assim que o processo é recebido na Justiça do Trabalho, implica em notório cerceio do direi- to de ampla defesa da parte passiva, com a consequente violação ao art. 5º, inciso LV, da CF; já que a parte teria sido impedida de exercer a faculdade de que trata o art. 847 consolidado. O mesmo se diga a respeito do aproveitamento de perícias técnicas realiza- das por profissionais que não preenchem as exigências legais mínimas para o diagnóstico de nexos causais entre: enfermidades e o trabalho. Por óbvio que o “livre convencimento motivado” recepcionado pelo nosso atual sistema processual, permitirá ao magistrado que valore todos os elemen- tos constantes dos autos, incluindo aí, todas as provas produzidas antes do deslocamento da competência. Isto, contudo, não significa dizer que se criem embaraços ao exercício da ampla defesa, e se indefiram providências requeridas no momento processual próprio, previsto na legislação trabalhista, a pretexto de que estas “já teriam sido solucionadas anteriormente, pelo juízo precedente”. 11 Art. 794 da CLT: Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes. 26 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Até porque, se tivessem sido “solucionadas”, anteriormente, por outro juízo, seguramente tal “solução” seria notadamente nula, ao teor dos artigos: 795, §1º, da CLT e 64, §1º, do CPC-2015. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 27 6. Referências Bibliográficas Novo Código de Processo Civil Comparado: artigo por artigo / Tereza Arruda Alvim Wambier e Luiz Rodrigues Wambier, coordenadores, São Paulo – Editora Revista dos Tribunais, 2015. Cadernos Jurídicos, Série Especial, nº 58, de Maio de 2015, da OAB-PR, artigo de autoria do Prof. Eduardo Talamini – “Cooperação no Novo CPC (primeira parte): Os Deveres do Juiz”. Informativo 755 do STF: Incompetência absoluta e aproveitamento de atos processuais, 19.8.2014. (HC-121189) “ Fonte: http://www.portalcarreirajuridica.com.br/noticias/informativo-755-do-stf-in- competencia-absoluta-e-ap. CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 32. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2007. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Versão digital. Curitiba: Editora Positivo, 2010. LIEBMAN, Enrico Túlio. APUD MARCATO, Antônio Carlos. Preclusões: Limitação ao Contraditório? Revista de Processo, São Paulo, ano 5, nº 17, 1980. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do princípio da Igualdade. São Paulo: Malheiros Editores, 1993. REZENDE FILHO, Gabriel José Rodrigues de. Curso de direito processual civil. 3. v. 6. ed. Corrigida e atualizada por Benvindo Aires. São Paulo: Saraiva, 1963. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009. 28 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Terceirização de Serviços: A (des)necessidade de Regulamentação* * O presente artigo foi publicado na Revista LTR, ano 79, n.4, p.453-458, abr. 2015. Na presente publicação foram realizadas algumas adequações, sem alteração da conclusão. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 29 Ana Maria Maximiliano 30 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 1. Introdução A relação de trabalho típica, a bilateral, formada entre empregado e empre- gador, há muito deixou de ser a única no cenário nacional, porque se sustenta, de um modo geral, que tal moldura é incompatível com o intuito expansionista das empresas, em razão da necessidade de inseri-las em um processo econômi- co competitivo, próprio do sistema capitalista de produção. Assim é que surgem as modalidades de emprego chamadas flexíveis, visan- do, precipuamente, diminuir os custos e melhorar a qualidade do produto ou do serviço. Nestas, em que prevalecem os contratos atípicos de trabalho, sem a proteção social própria do clássico contrato de emprego, inclui-se a terceiriza- ção, na qual os “trabalhadores rarefeitos” são atirados ao espaço do trabalho- mercadoria.1 Conforme observação de Magda Barros Biavaschi, “a partir de 1990, houve maior pressão no sentido flexibilizador do mercado de trabalho, com reflexo nos regimes de contratação. Nesse contexto, ganhou maior dimensão o movi- mento de terceirização da mão-de-obra”.2 Com efeito, quando ocorre movimento de retorno aos ajustes de natureza civil, como empreitadas, contratos de facção, projetos de fomento, que podem significar formas criativas de ocultamento e simulação que, no limite, eximem de responsabilidade os verdadeiros beneficiários da força de trabalho3, nesta realidade impõe-se o estudo acerca da necessidade da regulamentação do ins- tituto. A par dessas situações, o Estado, se omitindo de edição de norma heterôno- ma, transfere para os trabalhadores e empregadores as responsabilidades pelo gerenciamento de tais relações jurídicas que, no mais das vezes, caracterizam- se como evidentes terceirizações de serviços, cujas lides abarrotam o Poder Judiciário. 1 DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da terceirização. São Paulo: LTR. 2014. p.8. 2 BIAVASCHI, Magda Barros. A terceirização e a Justiça do Trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.74, n.4, p.68, out./dez. 2008. 3 BIAVASCHI, Magda Barros. A terceirização e a Justiça do Trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.74, n.4, p.74, out./dez. 2008. 4 Conforme se verá adiante há legislação específica para os casos de vigilância, limpeza e conservação. Direito e Processodo Trabalho: debates contemporâneos 31 Especificamente na esfera privada, em razão dessa anomia4, houve uma traje- tória jurisprudencial no tocante ao tratamento da responsabilização do tomador nos casos de não cumprimento, pelo contratado, das obrigações trabalhistas perante os empregados envolvidos na consecução do ajuste.5 Diante dessas considerações, o presente estudo visa analisar o instituto da terceirização no âmbito da iniciativa privada6, os paradigmas judiciais existen- tes, diante da forma de Estado fundado pela Constituição da República de 1988 e, como resultado, concluir pela pertinência ou não da sua regulamentação. Neste contexto, o estudo da temática se justifica pela sua atualidade e poten- cialidade para contribuir com o debate7, inclusive no campo legislativo. 2. Delimitação e o Contexto da Origem da Terceirização A abordagem da terceirização deve se dar de forma ampla, a fim de se apurar as suas várias formas de expressão, pois não raras vezes há dificuldades à sua caracterizaçã8, em especial quando ocorre movimento de retorno aos ajustes de 5 Vejam-se nesse sentido os itens I, III e IV da Súmula 331: “I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n.o 6.019, de 03.01.1974); [...] III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n.o 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial; [...]” (sem grifos no original) 6 Como corte metodológico, exclui-se deste estudo a terceirização realizada pela Administração Pública. 7 Remete-se o leitor à Repercussão Geral - Tema n.o 725, que trata da terceirização de serviços para a consecução da atividade-fim da empresa, reconhecida em 15/05/2014, bem como ao Projeto de Lei n.º 4.330/2004, que dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho dele decorrentes, em trâmite na Câmara dos Deputados. 8 Quanto à dificuldade para a conceituação e caracterização da terceirização veja-se: KREIN, José Dari. Debates contemporâneos economia social e do trabalho, 8: as relações de trabalho na era do neoliberalismo no Brasil. Org. Eduardo Fagnani. São Paulo: LTR, 2013. p.190-207; BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 9.ed. São Paulo: LTr, 2013. p.357; MELO, Luis Antônio Camargo de. Terceirização. In: REIS, Daniela Muradas; MELLO, Roberta Dantas de; COURA, Solange Barbosa de Castro (Coords.). Trabalho e justiça social. São Paulo: LTr, 2013. p.166; BIAVASCHI, Magda Barros. A dinâmica da súmula n.o 331 do Tribunal Superior do Trabalho: a história da forma de compreender a terceirização. In: REIS, Daniela Muradas; MELLO, Roberta Dantas de; COURA, Solange Barbosa de Castro (Coords.). Trabalho e justiça social. São Paulo: LTr, 2013. p.176. Entre todos e em especial para essa autora: “Quanto à terceirização, uma das dificuldades de conceituá-la reside nas distintas formas por meio das quais se apresenta no mundo do trabalho, bem como na multiplicidade de conceitos que lhes são atribuídos.Com contornos variados e, por vezes, de forma simulada, pode ser identificada, segundo Krein: ‘[...] na contratação de redes de fornecedores com produção independente; na contratação de empresas especializadas de prestação de serviços de apoio; na alocação de trabalho temporário por meio de agências de emprego; na contratação de pessoas jurídicas ou de “autônomos” para atividades essenciais; nos trabalhos a domicílio; pela via das cooperativas de trabalho; ou, ainda, mediante deslocamento de parte da produção ou de setores desta para ex-empregados. Nessa dinâmica, chega-se a presenciar o fenômeno da terceirização da terceirização, quando uma empresa terceirizada subcontrata outras, e o da quarteirização, com a contratação de uma empresa com função específica de gerir contratos com as terceiras, os contratos de facção e os de parceria.’ Juridicamente, a terceirização desafia o conceito de empregador, provocando ruptura no binômio empregado-empregador: há um intermediário na relação entre trabalhador e a empresa a quem aproveita a força de trabalho.” 32 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos natureza civil que objetivam eximir de responsabilidade os verdadeiros benefi- ciários da força de trabalho. A doutrina divide a terceirização em externa e interna. Na primeira, há a ex- ternalização das etapas do processo produtivo da empresa, liga-se mais de per- to à questão do grupo empresarial; já na segunda, há a internalização de empre- gados. O ponto comum é que em ambas a empresa externaliza custos e interna- liza a lógica da precarização, sendo que esta característica está diretamente ligada ao desemprego e à fragmentação da coletividade operária.9 De qualquer forma, o entendimento majoritário e atual10 é o de que a terceiri- zação deve se restringir às atividades meio da tomadora, sob pena de ilicitude e declaração de vínculo entre esta e o trabalhador, bem como ausentes na relação com a tomadora os elementos do art. 3.o da CLT11, sob pena de formação de vínculo empregatício diretamente entre o tomador e o trabalhador, nos termos da Súmula 331, TST. Expostas essas considerações gerais, faz-se necessário enfocar na formação histórica do instituto, contextualizando-o com a trajetória do sistema capitalista de produção12 e a forma de Estado vigente no país. 2.1. Contexto Histórico Com o esgotamento do padrão de acumulação do pós-Segunda Guerra Mun- dial (1939-1945), acontece o fenômeno que o historiador britânico Eric Hobsbawm chama de “Era de Ouro do Capitalismo”13, que teve início em 9 VIANA, Márcio Túlio. A terceirização revisitada: algumas críticas e sugestões para um novo tratamento da matéria. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.78, n.4, p.198, out./dez. 2012; VIANA, Márcio Túlio; DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Terceirização: aspectos gerais. A última decisão do STF e a súmula 331 do TST. Novos enfoques. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, v.77, n.1, p.54- 55, jan./mar. 2011. 10 A terceirização da atividade fim empresarial teve a Repercussão Geral reconhecida no STF - tema n.º 725. 11 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, art. 3.º “Considera-se empregado toda a pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” Neste sentido: CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 33.ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p.34-39; BARROS, op. cit., p. 206. A autora, ao comentar o art. 3.o da CLT, conclui que: “Daí se extraem os pressupostos do conceito de empregado, os quais poderão ser alinhados em: pessoalidade, não eventualidade, salário e subordinação jurídica (art. 3.o da CLT). Esses pressupostos deverão coexistir. Na falta de um deles a relação não será regida pela disciplina em estudo.” 12 O mundo do trabalho passou pela escravidão, feudalismo, mercantilismo e capitalismo, conforme fundamentos expostos por: BARROS, op. cit., p. 45-54. 13 Entre outros, período citado também por: BIAVASCHI, A terceirização..., p.74. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 33 aproximadamente 1950 perdurando até os primeiros anos da década de 1970. A crise dos anos 70, que causou mudanças no mundo capitalista, teve como origem, segundo Gabriela Neves Delgado14, a queda da taxa de lucro somada ao aumento do preço da força de trabalho, esgotamento dos padrões taylorista e fordista de produção, hipertrofia da esfera financeira, crise do Estadode Bem- Estar Social e acentuação das privatizações. Conforme a mesma autora, “[...] em um mundo quase que inteiramente interligado pelas teias do capital e do merca- do, o modelo de “estado mínimo” retomou sua ascensão com nova roupagem – o neoliberalismo – , mediante o incremento de práticas liberais de livre negoci- ação e de abstencionismo estatal”.15 Especialmente entre a década de 1980 e 1990 acentuou-se a nova fase do capitalismo, caracterizada por ações embasadas em concepções de caráter ne- oliberal, objetivando a integração de forma global do mundo financeiro e de capitais, com repercussão capilarizada na estrutura social, incluído o mundo do trabalho. Tais mudanças aparecem em nível mundial, com peculiaridades pró- prias em cada país. Nas referidas décadas o conhecimento tecnológico tornou-se cada vez mais restrito aos países avançados, que se especializaram na produção de compo- nentes mais sofisticados e os países chamados periféricos se limitaram à produ- ção de itens com baixo valor agregado obrigando-os a ajustes institucionais como a abertura comercial e, via de consequência, à agressiva concorrência, se submetendo às diretrizes mundiais de gestão como o processo de reorganiza- ção e redução dos custos de produção. Sob o aspecto da estrutura produtiva, houve a abertura comercial e redução das barreiras internacionais, expondo as empresas a intenso grau de concorrência. A partir de 1990, no Brasil, as atividades econômica e empresarial passam por processo de desregulação, com enxugamento e desverticalização das estru- turas organizacionais. Nessa época a terceirização, como contratação atípica, 14 DELGADO; AMORIM, op. cit., p.19. 15 DELGADO;AMORIM,op. cit.,p.19.Quanto à política liberal e neoliberal, vejam-se, respectivamente: STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política & teoria do estado. 7.ed.Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2010. p.62; RAMOS FILHO, Wilson. Direito capitalista do trabalho: história, mitos e perspectivas no Brasil. São Paulo: LTR, 2012. p.310-316. 34 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos expande-se e abre a oportunidade para o teletrabalho, o trabalho em tempo parcial, o trabalho a distância entre outros.16 A terceirização, nesse sentido, surgiu para diminuir os custos e melhorar a qualidade do produto ou serviço mediante a contratação de empresas com acen- tuado grau de especialização em determinado tipo de produção. No direito estrangeiro, regulamentaram e permitiram a terceirização a Bélgi- ca, Dinamarca, Espanha, Noruega e Colômbia. Outros países a proíbem, como a Suécia, Espanha, Itália, Peru e Argentina; e ainda há os que permitem mas sem regulamentação, como a Suíça e Irlanda.17 Por fim, a Organização Internacional do Trabalho - OIT18, em que pese não trate especificamente do tema terceirização nas Convenções e Recomendações, assinala na Recomendação n.º 198, aprovada em 2006, uma preocupação no uso da subcontratação de serviços e contratos atípicos de trabalho, que é ex- posta em três eixos, a saber: (i) fixação de uma política nacional de proteção dos trabalhadores vinculados por uma relação de trabalho; (ii) a determinação da existência de uma relação de trabalho; (iii) o estabelecimento de mecanismos de observância e aplicação da própria Recomendação n.º 198.19 3. Os Marcos Normativos e Jurisprudenciais Da Terceirização no Brasil Entre as décadas de 1960 e 1970, no Brasil, no âmbito da Administração Pú- blica Federal, foi editada legislação referente à terceirização, em que pese ainda 16 BIAVASCHI, A terceirização..., p.68; DELGADO; AMORIM, op. cit., p.20 .Para os autores a adoção do neoliberalismo na América Latina agravou a política econômica de exclusão social já tão enraizada nesta Região. 17 MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.29-37; BARROS, op. cit., p.361-362. Veja-se, de forma mais pormenorizada, sobre o direito comparado: DELGADO; AMORIM, op. cit., p.22-28. 18 A Organização Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes (1919), é a principal instituição do direito internacional do trabalho. A Parte XIII desse tratado é considerada a constituição jurídica da OIT e foi complementada pela Declaração de Filadélfia (1944) e pelas reformas da Reunião de Paris (1945) da OIT. As Nações Unidas, pelo acordo de 30 de maio de 1946, reconheceram a OIT como “organismo especializado competente para empreender a ação que considere apropriada, de conformidade com seu instrumento constitutivo básico, para cumprimento dos propósitos nele expostos”. Desde sua fundação, em 1919, a OIT realizou inúmeras conferências.Os ideais que a inspiram e os fins a que se destina estão expostos na parte XIII do Tratado de Versalhes: “estabelecer a paz universal e que a paz só pode ser fundada sob a justiça social.” (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito contemporâneo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2011. p.95). 19 Disponível em :www.oitbrasil.org.br/recommendations. Acesso em : 19.09.2014. Fazendo também análise quanto ao tema: MARTINS, op. cit., p.36; DELGADO;AMORIM,op. cit.,p. 28-30. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 35 não sob esta denominação, mediante o do Decreto-lei n.o 200/6720 e a Lei n.o 5645/7021. Nesse período “o trabalho terceirizado estava longe de alcançar a dimen- são presente no final do século XX e início do século XXI. Nem sequer o hori- zonte do mais visionário capitalista a amplitude da contratação terceirizada era imaginada”.22 Na sequência, surge a primeira lei a tratar da terceirização de atividade espe- cífica, Lei n.o 6.019/7423, seguida da Lei n.º 7102/8324, havendo, então, a expan- são da terceirização, em especial por meio das empresas cujo objeto social é a atividade de limpeza e conservação. Assim, não há no Brasil, distintamente de outros países, lei específica regu- lando a terceirização.25 O que se tem são algumas leis que introduziram a figura da relação trilateral legítima, entendimentos sumulados pelo TST e projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional.26 E foi exatamente em razão dessa anomia que o TST sumulou a matéria: (i) inicialmente, em 1986, coibindo-a segundo o Enunciado n.o 256; (ii) em 1993, revisando o Enunciado 256, então a legitimando quanto às atividades meio e definindo como subsidiária a responsabilidade da tomadora, conforme Súmula n.º 331; (iii) em 2000, estendendo essa responsabilidade aos entes pú- blicos que terceirizam, responsabilizando-os subsidiariamente pela só ocor- rência do descumprimento de obrigação trabalhista pela empresa contratada – responsabilidade objetiva e (iv) em 2011, revisando tal entendimento diante da 20 Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa. 21 Estabelece diretrizes para a classificação de cargos do serviço civil da União e das Autarquias Federais, e dá outras providências. Esta Lei veio para delimitar os parâmetros da contratação indireta do serviço público e no § ún. do art. 3.o, enumerou os serviços passíveis de contratação pela via indireta e restritivamente às entidades com personalidade jurídica de Direito Público, sendo as atividades inquestionavelmente executivas relacionando-se com atividades meio dos serviços executados pelos entes estatais, sem qualquer referência às atividades-fim da Administração Pública, conforme: VIANA; DELGADO; AMORIM, , op. cit., 64-65. 22 DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização: paradoxo do direito do trabalho contemporâneo. São Paulo: LTR, 2003. p.128. 23 Dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências (VIANA; DELGADO; AMORIM, op. cit.). Para os autores, esta lei “estabelece sistemática contratual absolutamente diversa do modelo bilateral clássico da relação de emprego, pois prevê, na relação justra- balhista, três sujeitos e dois contratos: o interempresário e o de trabalho. O primeiro entre a empresa fornecedora e a cliente. O segundo, entre a fornecedorae o trabalhador. Note-se que “[...] o regime legal de trabalho temporário acabou cimentando caminho para a naturalização da ideia da ‘prestação de serviços interempresariais’ na iniciativa privada, no embalo do movimento já iniciado na administração pública”.” 24 Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores e dá outras providências. 25 BIAVASCHI, A dinâmica..., p.176. 26 Tramita atualmente no Senado Federal o Projeto de Lei n.° 300, de 2015, originário da Câmara dos Deputados - Projeto de Lei n.o 4.330/2004, que dispõe sobre os contratos de terceirização de mão de obra e as relações de trabalho deles decorrentes. 36 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos decisão do STF na Ação Declaratória de Constitucionalidade - ADC n.o 16/DF, no sentido de atribuir a responsabilidade subsidiária da Administração Pública pelas obrigações trabalhistas não adimplidas quando presente, em especial, a culpa in vigilando, com a alteração da redação do inciso IV e inclusão do inciso V, na Súmula 331. Considerada a Terceirização o tema mais polêmico nas relações de trabalho no mundo moderno, tamanha é a importância do instituto na sociedade e, em especial, junto à Justiça do Trabalho, houve a designação da primeira Audiência Pública na história do Tribunal Superior do Trabalho, que ocorreu na sua sede, em Brasília, nos dias 4 e 5 de outubro de 2011.27 4. A Terceirização no Brasil ante a Forma de Estado No Brasil, conforme já afirmado, não há legislação específica que trate da ter- ceirização, sendo a matéria objeto de súmulas do Tribunal Superior do Trabalho. A ausência de legislação especial, fixando as atividades possíveis de tercei- rização e as responsabilidades para as empresas envolvidas na relação jurídica, origina críticas no magistério de diversos juristas ligados à esfera laboral, como as a seguir expostas: Faltam, principalmente, ao ramo justrabalhista e seus operadores os instrumentos analíticos necessários para suplantar a perplexidade e submeter o processo soci- ojurídico da terceirização às direções essenciais do Direito do Trabalho, de modo a não propiciar que ele se transforme na antítese dos princípios, institutos e regras que sempre foram a marca civilizatória e distintiva desse ramo jurídico no contexto da cultura ocidental. [...] Uma singularidade desse desafio crescente reside no fato de que o fenômeno terceirizante tem se desenvolvido e alargado sem merecer, ao longo dos anos, cuidadoso esforço de normatização pelo legislador pátrio. Isso significa que o fenômeno tem evoluído, em boa medida, à margem da normatividade heterônoma estatal, como um processo algo informal, situado fora dos traços gerais fixados 27 Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/ASCS/audiencia_ publica/index.php>. Acesso em: 19 set. 2014. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 37 pelo Direito do Trabalho do país. Trata-se de exemplo marcante de divórcio da ordem jurídica perante os novos fatos sociais, sem que se assista a esforço legife- rante consistente para se sanar tal defasagem jurídica.28 (sem grifos no original) Também tecendo críticas, não à ausência de legislação, mas ao próprio insti- tuto da terceirização: Desse modo, para além de suas (reais ou falsas) justificações técnicas, a terceiri- zação se insere numa estratégia de largo espectro, não somente sob o prisma econômico, mas na dimensão política. É uma das formas mais potentes – e ao mesmo tempo mais sutis – de semear o caos no Direito do Trabalho, subvertendo os seus princípios e corroendo seus alicerces. Além disso, num mundo em que tudo se move, ela oferece à empresa uma rota de fuga, não só confundindo responsabilidades como tornando menos visível a exploração da mão de obra. Assim, de certo modo, a terceirização não apenas pode conter fraudes, mas é em si mesma uma fraude.2929 (grifos no original) E, em outra obra, Márcio Túlio Viana se manifesta no sentido de que a tercei- rização, tanto interna quanto externa, tende muito mais a excluir do que incluir o trabalhador no sistema produtivo da empresa.30 A exclusão do trabalhador concretiza-se em especial quanto à capacidade de organização sindical e a possibilidade de resistência do grupo diante da flexibi- lização e gradativa destruição dos seus direitos. É o que o sociólogo Giovani Alves31 chama de “fragmentação do coletivo do trabalho” pela via da “manipula- ção do trabalhador coletivo do capital” em que há, ao fim e ao cabo, a dessub- jetivação de classe. Com efeito, a crescente utilização do instituto da terceirização já foi objeto de diversas pesquisas, dentre elas a publicada pelo Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho – CESIT, que quantifica o serviço terceirizado no país 28 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p.438-439. Ainda para o autor: “O modelo trilateral de relação socioeconômica e jurídica que surge com o processo terceirizante é francamente distinto do clássico modelo empregatício, que se funda em relação de caráter essencialmente bilateral. Essa dissociação entre relação econômica de trabalho (firmada com a empresa tomadora) e relação jurídica empregatícia (firmada com a empresa terceirizante) traz graves desajustes em contraponto aos clássicos objetivos tutelares e redistribu- tivos que sempre caracterizaram o Direito do Trabalho ao longo de sua história. Por se chocar com a estrutura teórica e normativa original do Direito do Trabalho esse novo modelo sofre restrições na doutrina e jurisprudência justrabalhistas, que nele tendem a enxergar uma modalidade excetiva de contratação de força de trabalho.” (p. 436-437). 29 VIANA, op. cit., p. 199. Em igual sentido e elencando uma série de pesquisas realizadas no país: KREIN, op. cit., p.190-207. 30 VIANA; DELGADO; AMORIM, op. cit., p.54. 31 ALVES, Giovani. Terceirização e acumulação flexível do capital: notas teórico-críticas sobre as mutações orgânicas da produção capitalista. Estudos de Sociologia, Araraquara, v.16, n.31, p.409-420, 2011. 38 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos e refere-se à Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP/1996). Nela de- monstrou-se que 96% das empresas industriais que desenvolviam serviços es- pecializados de assessoria jurídica contratavam o serviço de terceiros de forma parcial ou integral, bem como que 75% das empresas industriais que prestavam serviços de processamento de dados e desenvolvimento de software na Região Metropolitana de São Paulo terceirizavam o serviço.32 De igual forma, pubicadas pelo CESIT33, “O trabalho em regime de subcontra- tação no Brasil” e “Transformações estruturais e emprego nos anos 90” demons- tram o aumento astronômico das terceirizações no país, em todos os âmbitos, seja da indústria, do setor bancário, da Administração Pública. Esse trabalhador, inserido em uma relação jurídica em que há a precarização, com a sonegação dos seus direitos trabalhistas, é coisificado, retira-se o valor do seu trabalho, pois que facilmente substituível. Nesse sentido é a crítica de Zygmunt Bauman34: Condições econômicas e sociais precárias treinam homens e mulheres (ou os fazem aprender pelo caminho mais difícil) a perceber o mundo como um contêiner cheio de objetos descartáveis, objetos para uma só utilização; o mun- do inteiro – inclusive outros seres humanos. Além disso, o mundo parece ser constituído de ‘caixas pretas’, hermeticamente fechadas e que jamais deverão ser abertas pelos usuários, nem consertadas quando quebram. Os mecânicos de automóveis de hoje não são treinados para consertar motores quebrados ou danificados mas apenas para retirar e jogar fora as peças usadas ou defeituosas e substituí-las por outras novas e seladas, diretamente da prateleira. Eles não têm a menor idéia da estrutura interna das ‘peças sobressalentes’ (uma expres- são que diz tudo),do modo misterioso como funcionam; não consideram esse entendimento e a habilidade que o acompanha como sua responsabilidade ou como parte de seu campo de competência. Como na oficina mecânica, assim também na vida em geral:cada ‘peça’ é ‘sobressalente’ e substituível, e assim deve ser. Por que gastar tempo com consertos que consomem trabalho, se não é preciso mais que alguns momentos para jogar fora a peça danificada e colocar outra em seu lugar? Por ser parte hipossuficiente, e não possuir condições de negociação, o indi- víduo se sujeita a trabalho não acobertado pela legislação. E assim os trabalha- 32 KREIN, op. cit., p.193. 33 Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/cesit/images/stories/24CadernosdoCESIT.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2014. BIAVASCHI, A terceiriza- ção..., p.68-69. 34 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.186. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 39 dores temporários, terceirizados e de uma forma geral o subcontratado. A jusifi- cativa das empresas é de que há a necessidade de aumentar a competitividade e ser a força de trabalho muito onerosa. E assim a política de ‘precarização’ conduzida pelos operadores dos mercados de trabalho acaba sendo apoiada e reforçada pelas políticas de vida, sejam elas adotadas deliberadamente ou apenas por falta de alternativas. Ambas convergem para o mesmo resultado: o enfraquecimento e decomposição dos laços humanos, das comunidades e das parcerias. Compromissos do tipo ‘até que a morte nos separe’ se transformam em contratos do tipo ‘enquanto durar a satisfação’, tempo- rais e transitórios por definição, por projeto e por impacto programático – e assim passíveis de ruptura unilateral, sempre que um dos parceiros perceba melhores oportunidades e maior valor fora da parceria do que em tentar salvá-la a qualquer – incalculável – custo.35 Notadamente em um Estado Democrático de Direito é essencial se assegurar o exercício dos direitos sociais, sem soluções implícitas, estas no presente estu- do consubstanciadas na edição de Súmulas pelo Tribunal Superior do Trabalho rotineiramente questionadas perante o Supremo Tribunal Federal, sendo neces- sária a edição de legislação que os preserve diante da terceirização e demais institutos afins. Quanto à função do Estado Democrático de Direito, sob o enfoque dos direi- tos sociais, Inocêncio Mártires Coelho discorre nos seguintes termos: Não por acaso, quando descrevemos os modelos históricos de Estado de Direito, adotando como referência os direitos humanos, costumamos qualificá-los como Estados liberais, sociais ou democráticos, respectivamente, segundo a postura que assumem em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais: alheamen- to, estímulo ou efetivação. A essa luz, portanto, pode-se dizer que, a rigor, os direitos sociais não foram sequer pensados na fase liberal; passaram a merecer atenção e a ser implementados, ainda que seletivamente, na etapa social; e, por fim, tornaram-se exigências crescentemente satisfeitas, no momento democrá- tico dessa longa história. Tal como esses sucessivos modelos de organização política, que só se impuseram após intensa luta contra as estruturas arcaicas, também os direitos, que emergiram nesse contexto, expandiram-se e consolida- ram-se, vencendo duros combates entre o velho e o novo, entre o outrora e o amanhã. Afinal, como dizia o saudoso mestre Roberto Lyra Filho, apesar das resistências e reviravoltas, a espiral da História continua ascendente.36 (sem grifos no original) 35 BAUMAN, op. cit., p.187. 36 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 5.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p.822. 40 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Lenio Streck, ao tratar sobre o Estado de Direito e em especial o Estado Demo- crático de Direito, expressa que este modelo tem um conteúdo transformador da realidade, agindo simbolicamente como fomentador da participação pública na construção do projeto de sociedade, em que a questão da democracia, ao fim e ao cabo, implica a solução do problema das condições materiais de existência, ao contrário do Estado Social de Direito que se restringe a uma adaptação me- lhorada das condições sociais de existência.3737 E mais adiante, ao tratar do Estado Democrático de Direito, bem como o grau de vinculariedade da Constituição e a sua realização, se manifesta assim: Para o enfrentamento desses questionamentos, parece apropriado lembrar, de pronto, com Eros Grau, que a Constituição do Brasil não é um mero “instru- mento de governo”, enunciador de competências e regulador de processos, mas, além disso, enuncia diretrizes, fins e programas a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Não compreende somente um “estatuto jurídico do político”, mas um “plano global normativo” da sociedade e, por isso mesmo, do Estado brasileiro. Daí ser ela a Constituição do Brasil, e não apenas a Constitui- ção da República Federativa do Brasil. Os fundamentos e os fins definidos em seus artigos 1.o e 3.o são os fundamentos e os fins da sociedade brasileira.38 Segundo o conteúdo da CR-8839, o Estado brasileiro é caracterizado como Democrático de Direito e prevendo expressamente direitos sociais tais devem ter eficácia jurídica e social, em especial, no presente estudo, os trabalhistas. 37 STRECK; MORAIS, op. cit., p.97-98. 38 Ibid., p.106. 39 Art. 1.o “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: [...]; Art. 6.o São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho [...]; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:[...]VIII – busca do pleno emprego; [...]; Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.” (sem grifos no original). Para Bezerra Leite, a CR-88 consagra a passagem do Estado Liberal para o Estado Social – este constitui o alicerce do Estado Democrático de Direito, e exige um novo pensar jurídico sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas do nosso país.” (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Direito e processo do trabalho: na perspectiva dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. Introdução). Segundo Lenio Streck, “O Estado de Direito surge desde logo com o Estado que, nas suas relações com os indivíduos, se submete a um regime de direito quando, então, a atividade a atividade estatal apenas pode desenvolver-se utilizando um instrumental regulado e autorizado pela ordem jurídica, assim como, os indivíduos – cidadãos – têm a seu dispor mecanismos jurídicos aptos a salvaguardar-lhes de uma ação abusiva do Estado.” (STRECK; MORAIS, op. cit., p.91- 92). Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 41 5. Conclusão A terceirização decorre do sistema de produção capitalista e, possuindo essa origem em um mundo globalizado40, afigura-se pouco provável a eliminação de tal modelo triangular. O mundo do trabalho não é estático. A fim de acompanhar as inúmeras mu- danças dos nossos tempos, que são questões de todos os matizes, as de reper- cussão política e social em especial têm sido judicializadas, ou seja, não sendo resolvidas pelas instâncias políticas tradicionais que são o Congresso Nacional e o Poder Executivo, são decididas por órgãos do Poder Judiciário. Tal judiciali- zação não corresponde ao Estado Democrático de Direito, na medida em que caracteriza-se como ativismo antidemocrático e próprio das demomocracias delegativas.41 Essa transferência de poder para o Poder Judiciário redunda em uma espera- da alteração significativa na linguagem,na argumentação e no modo de partici- pação da sociedade.42 Percebe-se a capilarização do instituto da terceirização nos mais diversos ramos empresariais, o que justifica a convergência de esforços para dispôr so- bre a proteção dos direitos sociais dele decorrentes, pois que, em que pese ainda não haja normatização suficiente é inegável que a CR-88 impõe tal defesa, seja (i) prevendo como fundamento do Estado Democrático de Direito os valo- res sociais do trabalho - art. 1º , IV; (ii) como objetivo fundamental previsto no art. 3º, I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; (iii) como fundamen- to da ordem econômica – a valorização do trabalho humano – art. 170, caput; (iv) como um dos princípios gerais da atividade econômica - o pleno emprego 40 A globalização é um termo que se difundiu na década de oitenta para indicar a integração mundial do setor financeiro realizada pela intensificação dos fluxos de capital depois das regulamentações e aberturas dos sistemas financeiros nacionais. Daí seu uso estendeu-se para designar fenômenos diversos que compartilham a tendência à criação de um espaço global . Mais que uma acepção geográfica extensiva, o conceito de globalização põe em destaque a superação das diferenças e barreiras nacionais do fenômeno ao qual se refere. Os estados nacionais, já afetados pelo processo de transnacionalização da produção, redimensionaram as suas políticas econômicas no quadro da estratégia gene- ricamente neoliberal que prescreve a redução ou a eliminação da política fiscal em favor de uma política monetária ajustada exclusivamente aos critérios monetaristas. (BÚFALO, Del Enzo. A reestruturação neoliberal e a globalização. Apud: VERDE, Valéria Crisóstomo Lima; POMPEU, Gina Vidal. A crise do estado social e a flexibilização das leis trabalhistas.Disponível em : <http://www.publicadireito.com.br/publicacao/unicuri- tiba/livro.php?gt=133>.Acesso em: 08 out. 2014. 41 O’DONNELL, Guilhermo. Democracia delegativa? Novos Estudos CEBRAP, n.31, p.25-40, out. 1991; STRECK; MORAIS, op. cit., p. 119-125. 42 BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; FRAGALE FILHO, Roberto; LOBÃO, Ronaldo (Org.). Constituição & ativismo judicial: limites e possibilidades da norma constitucional e da decisão judicial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p.275-290. p.276: “O fenômeno tem causas múltiplas. Algumas delas expressam uma tendência mundial; outras estão diretamente relacionadas ao modelo institucional brasileiro.” 42 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos – art. 170, VIII; e por último e como decorrência de todos os acima elencados o próprio modelo de Estado, qual seja, Estado Democrático de Direito, origem do princípio da isonomia, motivos suficientes que demonstram que o Estado não pode se omitir do dever de legislar sobre a matéria. Nesse sentido, ressaltando a importância da formulação de um Direito do Trabalho-Constitucional ou a Constitucionalização do Direito do Trabalho, Cláu- dio Brandão43 expõe que os princípios constitucionais devem estar presentes no debate quanto às atividades que podem ser objeto de terceirização, de forma que haja uma correlação entre o art. 1º, V e o art. 170, caput , legitimando a coexistência principiológica do valor social do trabalho com a livre iniciativa, “não sendo possível cogitar-se da prevalência desta última sobre aquele”. Conclui-se que, em um Estado Democrático de Direito é essencial se assegu- rar o exercício dos direitos sociais, sem soluções implícitas, estas no presente estudo consubstanciadas na edição de Súmulas pelo Tribunal Superior do Tra- balho rotineiramente questionadas perante o Supremo Tribunal Federal, fazen- do-se necessária a edição de legislação que os preserve ante a terceirização, a fim de que esta não se torne a antítese da marca do Direito do Trabalho.44 43 BRANDÃO, Cláudio. Novos rumos do direito do trabalho. In: TEPEDINO, Gustavo et al. (Coords.). Diálogos entre o direito do trabalho e o direito civil. São Paulo: RT, 2013. p.50. 44 DELGADO, op. cit., p. 438. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 43 6. Referências Bibliográficas ALVES, Giovani. Terceirização e acumulação flexível do capital: notas teórico-críticas sobre as mutações orgânicas da produção capitalista. Estudos de Sociologia, Araraquara, v.16, n.31, p.409- 420, 2011. AMORIM, Helder Santos. 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