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PRECARIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRABALHO EM VIRTUDE DA TERCEIRIZAÇÃO - TCC

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ 
 
ANALICE NUNES DE CARVALHO GIANNELLI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRECARIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
EM VIRTUDE DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
 
2 
ANALICE NUNES DE CARVALHO GIANNELLI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRECARIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
EM VIRTUDE DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
Artigo Científico Jurídico apresentado à 
Universidade Estácio de Sá, Disciplina 
Trabalho de Conclusão de Curso em 
Direito do Trabalho, como requisito parcial 
para obtenção do título de Bacharel em 
Direito. 
 
Orientadora: Profª. Dra. Carla Sendon 
Ameijeiras Veloso 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019
 
 
RESUMO 
O objetivo da pesquisa em tela é analisar a terceirização à luz do Projeto de Lei e a 
subordinação estrutural de acordo com a nova lei 13.429/2017 e as mudanças 
relacionadas à atividade fim.. Além disso, a pesquisa quer demonstrar a terceirização 
e a subordinação estrutural de acordo com a nova lei 13.429/2017. Buscou-se 
identificar os aspectos conceituais da terceirização e ao regramento atual para sua 
utilização entre aspectos positivos e consequências danosas para os empregados e 
sociedade em geral. O debate em estudo é de suma importância para que haja 
normatização assertiva do instituto da terceirização. Espera-se ainda que este 
projeto sirva de consulta para os estudantes de Direito, especialmente no ramo do 
Direito do Trabalho, a fim de que possa ser ferramenta para aprofundar o 
conhecimento sobre a terceirização do emprego no cenário brasileiro. A metodologia 
da pesquisa foi bibliográfica por meio da consulta em obras que estejam 
relacionadas ao tema trabalhado, analisando também sites que tragam textos, 
artigos e teses acerca do tema, além de doutrinas, jurisprudências e demais fontes 
necessárias para o desenvolvimento adequado da pesquisa. 
 
Palavras-chave: Direito do Trabalho. Terceirização. Atividade Meio. Atividade Fim. 
 
 
SUMÁRIO 
1.1. Introdução. 2. Desenvolvimento. 2.1. Movimentos do trabalho e significados. 
2.1.1. Significado de trabalho. 2.1.2. Direito do trabalho. 2.2. Movimentos de 
organização do trabalho em face do processo de globalização e flexibilização. 2.2.1. 
Organização do trabalho. 2.2.2. Normas garantidoras de direitos fundamentais. 2.3. 
Evolução histórica da terceirização. 2.3.1. A terceirização no Brasil. 2.3.2. Natureza 
jurídica da terceirização. 2.4. A súmula nº 331 do TST. 2.4.1. Atividade meio x atividade 
fim. 3. Conclusão. 4. Referências. 
3 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Devido a globalização e a necessidade de aumento da competitividade e 
qualidade dos produtos e serviços, existe um aumento considerável na adoção da 
prática da terceirização no Brasil. 
Constata-se como inexorável a tendência à terceirização, à redução do 
quadro de funcionários da organização à sua competência básica e essencial. 
Apesar de todas as mudanças e evolução do relacionamento entre 
empregados e empregadores, das novas formas de contratação como a 
terceirização, são as pessoas sua motivação e como esta última pode beneficiar a 
empresa, o grande foco da moderna gestão de pessoas. São nas pessoas que as 
empresas estão identificando a sua vantagem competitiva, e fazer com que estas 
estejam satisfeitas com o seu trabalho é o desafio maior que se encontra. 
O objetivo da pesquisa em tela é analisar a terceirização à luz do Projeto de 
Lei e a subordinação estrutural de acordo com a nova lei 13.429/2017 e as 
mudanças relacionadas a atividade fim.. 
Atualmente, o mundo do trabalho parece passar por mais um movimento de 
adaptações, alinhando-se aos novos “imperativos” da concorrência global, 
“necessitando” assim de adaptações (de “modernização” no caso da legislação 
trabalhista brasileira) e de um processo de “flexibilização” na forma como são 
reguladas as relações de trabalho, portanto, influenciando diretamente a esfera dos 
direitos fundamentais que foram gradativamente conquistados. 
A terceirização, nesse caso, é só mais uma das formas como o trabalho 
humano é tratado dentro de um contexto mais amplo, ou seja, a partir de um 
processo que se relaciona com a economia e com o direito, assim como com as 
políticas públicas que predominam na atualidade. Logo, é importante analisar, 
historicamente, como se processaram os movimentos do trabalho e suas 
implicações político-sociais e jurídicas nos diferentes sistemas de produção 
precedentes à contemporaneidade, assim como apontar a terceirização do trabalho - 
no atual momento brasileiro de reformas trabalhistas, previdenciárias - como uma 
das formas para se concretizar um projeto de flexibilização1 e precarização das 
relações trabalhistas, relacionando-as com o atual cenário da globalização e de 
políticas públicas que tendem a pressionar pela “modernização” de alguns direitos 
sociais. 
4 
 
A identificação destas práticas interessa não só às empresas contratantes 
como às empresas terceirizadoras já que, como parceiras, elas têm como meta 
comum maior e melhor produção dos terceirizados. Ao identificar os fatores positivos 
e negativos mencionados anteriormente, podem ser formulados programas e ações 
direcionadas à melhor gestão de terceirizados. 
No Brasil, alguns argumentos são de que a Consolidação das Leis do 
Trabalho está ultrapassada, pois data de 1943, e não atende a realidade do 
ambiente de trabalho contemporâneo. Em outras palavras, de um lado há o discurso 
da “necessária” modernização do Direito do Trabalho, enquanto do outro estão os 
que enxergam nessas medidas a precarização das relações de trabalho, com 
reflexos diretos nos direitos fundamentais dos trabalhadores e na transferência dos 
riscos da atividade empresarial aos que se subordinam ao trabalho assalariado. No 
âmbito jurídico, por exemplo, a jurisprudência pátria parecia estar pacificada no 
entendimento exposto na súmula de nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). 
Essa orientação, calcada nos princípios protetivos que devem irradiar o meio 
ambiente de trabalho, foi se consolidando desde a década de 1980, procurando 
restringir a terceirização a algumas situações específicas. A questão mais 
emblemática é a que permite a terceirização apenas na atividade-meio das 
empresas. Essa atividade poderia ser conceituada como “aquela que faz parte do 
processo de apoio à produção do bem ou do serviço que é a razão de ser da 
empresa” , isto é, colocava um limite nas subcontratações de mão de obra. 
A pesquisa em apreço procurou utilizar uma abordagem qualitativa, isto é, da 
análise de textos e estatísticas já exploradas nas mais variadas fontes, sejam elas 
primárias e/ou secundárias, mas principalmente com foco nas fontes secundárias 
expostas pelos especialistas no assunto pesquisado. Assim sendo, não nos 
interessa propriamente quantificar dados para corroborar numericamente com as 
considerações propostas, mas analisar o desencadeamento do trabalho diante do 
contexto e de seus movimentos históricos. 
O método adotado para se chegar as considerações finais sobre o tema será 
o dedutivo, ou seja, onde um fenômeno geral pretende provar seus desdobramentos 
nos fenômenos particulares. A dedução vai no sentido de demonstrar que uma 
política pública geral pode desencadear uma outra série de consequências 
específicas em um estrato da população. 
Os instrumentos utilizados foram as pesquisas baseadas principalmente em 
5 
 
fontes bibliográficas, mas sem descuidar que em alguns momentos o estudo 
pretende analisar também fontes primárias (leis, declarações, etc.). Por não se tratar 
de uma pesquisa de campo ou estudo de caso, o que se quer demonstrar por meio 
das constatações subsidiadas em pesquisas e estudos teóricos, é a dedução prática 
de que algumas medidas de ordem universal desencadeiam consequências de 
ordem particular. 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
2.1. MOVIMENTOS DO TRABALHO E SIGNIFICADOS 
 
O termo “trabalho” isoladamente e emsentido amplo pode significar algo 
como uma simples atividade humana. Nesse caso até mesmo quando preparamos 
nossa refeição, estamos de algum modo se movimentando, ou seja, “trabalhando” e 
interagindo com a natureza, com a matéria prima e não raras vezes com outras 
pessoas. Ele também assume outros significados enquanto de seus movimentos e, 
estes, podem ser analisados como as relações que deles derivam. Assim, o trabalho 
ou a ação propriamente dita de trabalhar, acaba ensejando outras várias 
possibilidades de estudo, observação e compreensão.1 
Pode-se, por exemplo, perceber que do trabalho surgem relações sociais; 
que dessas relações sociais o direito moderno, como resultado de um processo 
histórico, pode atribuir-lhe um conceito de relação jurídica; ainda, no campo do 
Direito do Trabalho, essa relação pode ser vista como de emprego e assim assumir 
efeitos diferentes; de outro modo, o trabalho pode ser visto como uma luta de 
classes, assim como o fez Karl Marx; pode ainda ser observado por meio dos 
movimentos sociais, que resultaram da construção ou da conquista do direito ao 
trabalho como sendo um direito humano fundamental.2 
Das práticas mais comuns, sem troca ou sem remuneração, surgiram várias 
outras formas de sentidos para o trabalho, seus significados e ideologias que lhe são 
relacionados, daí porque a pesquisa ter como linha de raciocínio “os movimentos do 
trabalho” e suas implicações na realidade que se modificou. 
 
1 CAPELLA, Juan Ramón. Fruto proibido: uma aproximação histórico-teórica ao estudo do direito e 
do estado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 13-16. 
2 URIARTE, Oscar Ermida. Aplicação judicial das normas constitucionais e internacionais sobre 
direitos humanos trabalhistas. In: Revista do TST, Brasília, vol. 77, n. 2, abr/jun 2011. p. 133-45. 
6 
 
A partir da bibliografia consultada com enfoque ao tema trabalho, o objetivo 
foi identificar como essa categoria foi abordada e estudada pelos pesquisadores, 
assim produzindo significados e alterações no campo social, político, jurídico, etc. 
 
2.1.1. Significado de trabalho 
 
O significado etimológico da palavra trabalho é explicado como derivado do 
latim tripaliare, que quer dizer martirizar com o tripalium. Conforme Alice Monteiro de 
Barros3, o tripalium é um instrumento de tortura que é composto de três paus, 
expressando assim uma ideia de sofrimento, pois esse objeto era utilizado para 
castigar os escravos nas sociedades primitivas. 
Geraldo Augusto Pinto4 também aponta que vários pesquisadores “já 
associaram a origem da palavra trabalho ao tripalium”, justificando que “a eficácia 
dessa explicação está na verificação do fato de que o trabalho”, no sentido de 
atividade laborativa, “nem sempre foi considerado desejável por homens e mulheres 
em todas as épocas históricas” pelas quais a civilização se desenvolveu, isto é, o 
que se poderia inferir por trabalhar estava atrelado à ideia um de castigo. 
Em termos sociológicos, Irany Ferrari5 destaca que o significado de trabalho, 
como atividade humana, sempre representou “um esforço, um cansaço, uma pena e, 
um castigo”, citando-se, por exemplo, o modelo onde preponderou o escravagismo, 
em “que o trabalho era coisa de escravos, os quais, no fundo, pagavam seu sustento 
com o suor dos seus rostos”, nesse caso, conforme constatado pela pesquisa, 
dando-se significado ao termo em épocas que prevalecia a escravidão. 
Contemporaneamente não se deveria admitir que o trabalho seja uma forma 
de castigo, apesar de não raro, serem reveladas práticas análogas à condição de 
escravidão, mas sim como um meio de dignificar o homem pelo seu trabalho e que 
fosse capaz de trazer o mínimo existencial a todos. Aliás, um dos fundamentos da 
república brasileira é justamente a preservação e o respeito à dignidade da pessoa 
humana e isso certamente tem que se dar também no trabalho.6 
Colocando o trabalho no seu sentido mais amplo então, não apenas naquele 
 
3 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 53. 
4 PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século XX: taylorismo, fordismo e 
toyotismo. 3. Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013. p. 15. 
5 FERRARI, Irany. História do trabalho, do direito do trabalho e da justiça do trabalho. São 
Paulo: LTr, 1998. p. 14. 
6 OLIVEIRA, Carlos Roberto de. História do trabalho. São Paulo: Bomlivro, 1987. p. 6. 
7 
 
pertencente aos empregos remunerados ou as outras formas autônomas, esse 
pareceu sempre existir, seja como forma de sobrevivência ante a necessidade de 
enfrentar os desafios da natureza, seja como parte de uma interação social entre os 
homens desde os tempos mais antigos. 
De acordo com Carlos Roberto de Oliveira7, o “trabalho é a atividade 
desenvolvida pelo homem e sob determinadas formas, para produzir riquezas”. Para 
o autor, “a história do trabalho começa quando o homem buscou os meios de 
satisfazer suas necessidades”, isto é, “a produção da vida material”. E, a partir do 
momento em que satisfeitas as condições para a sobrevivência, foi então que se 
ampliaram as necessidades a outros homens e se criaram as relações sociais que 
determinaram a condição histórica do trabalho”. Ou seja, o trabalho ganha assim um 
sentido de relação social, que mais tarde será relatado pelo viés do direito como 
uma relação jurídica. 
Para Arnaldo Sussekind8, o conceito de trabalho pode se apresentar como 
toda a energia humana, física ou intelectual, dispendida com o intuito de prover sua 
alimentação, proteção e abrigo das intempéries enfrentadas nas épocas mais 
primitivas em relação à natureza e, posteriormente, para sua proteção em 
detrimento de outras tribos. 
Nas palavras de Paulo Sérgio do Carmo9 o trabalho pode ser definido como 
a “atividade realizada pelo homem que transforma a natureza pela inteligência” e 
nessa mediação entre o homem e a natureza é que o homem “visa a extrair dela sua 
subsistência”. Ele menciona que a diferença entre o homem e o animal fica evidente, 
haja vista que as atividades dos animais são instintivas, enquanto às do homem são 
fruto da inteligência. A princípio, no reino animal o trabalho gerado permaneceu no 
seu valor de uso, já o trabalho humano evoluiu para o valor de troca. O valor de 
troca então passa a ser representado pelo excedente gerado a partir dos valores de 
uso produzidos, isto é, das “mercadorias”. Carlos Roberto de Oliveira10 explica que a 
base da ordem social sempre foi a produção e o intercâmbio, justamente 
representando essas relações sociais.11 
 
 
7 OLIVEIRA. Op. Cit. p. 6. 
8 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 3. 
9 CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. 4. ed. São Paulo: Moderna, 1993, p. 15. 
10 OLIVEIRA. Op. Cit. p. 6. 
11 CARMO, Paulo Sérgio do. Op. Cit. p. 15. 
8 
 
2.1.2. Direito do trabalho 
 
Conforme destaca Gerson Lacerda Pistori12, a vida e seu reflexo cotidiano 
influem no direito de forma direta, uma vez que a forma de pensar e agir com o 
direito são fundamentais para uma visão sumária, sobre o pensamento jurídico em 
geral do período escolhido. 
Para tanto, no Direito do Trabalho, cabe salientar que a relação de trabalho 
subordinado ocorreu principalmente com a situação desfavorável das relações servis 
e a colocação do trabalhador no sistema de produção industrial nas cidades. 
O início das relações trabalhistas ocorreu muito antes do período ora 
abordado, conforme o entendimento consolidado de Segadas Vianna13, pois o 
homem sempre trabalhou, em prol primeiramente de seus alimentos, a primeira 
atividade industrial ocorreu através de lascas de pedras para a fabricação de lanças 
e machados e após iniciou-se a fabicação de armas e instrumentos de defesa. 
Nas palavrasde Maurício Godinho Delgado14, o Direito do Trabalho quanto ao 
seu surgimento por meio do capitalismo era uma forma de amenizar também o 
tratamento ao trabalhador menos favorecido em meio ao advento e evoluções no 
sentido capitalista da sociedade e do trabalho como civilidade e contra algumas 
forças de trabalho consideradas perversas. 
A origem do Direito do Trabalho ora destacada foi um tanto atribulada, eis 
que com a observância em especial da Revolução Industrial, a população migrou do 
campo para as cidades de forma que passaram de camponeses a trabalhadores das 
indústrias. 
Birnie15 relata que o industrialismo moderno distingue-se entre diferentes 
caracteristicas, as quais são concentração da população nas cidades; o crescimento 
das regiões industriais e a expansão do comercio exterior. 
O surgimento do Direito do Trabalho assegura particularidades ao 
trabalhador no decorrer da história e sua evolução mediante problemas como forma 
de acentuar o trabalho e o trabalhador seus direitos fundamentais. Observa-se que a 
 
12 PISTORI, Gerson Lacerda. História do direito do trabalho: um breve olhar sobre a Idade Média. 
São Paulo: LTr, 2007. p. 72. 
13 VIANNA, Segadas [et al.]. Instituições de Direito do Trabalho. 13. Ed. São Paulo: LTr, 1993, v. 1. 
p. 27. 
14 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTR, 2005. pp. 14-
71. 
15 BIRNIE, Arthur. An economic history of Europe, 1760 - 1939 - História econômica da Europa. 
Tradução de Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. p. 22. 
9 
 
revolução industrial foi o marco desencadeante quanto ao Direito do Trabalho 
protegendo o trabalhador quanto aos seus direitos econômicos. 
Pelo pensamento de Arthur Birnie16, tem-se que a Revolução Industrial na 
realidade: 
 
Foi um movimento que se difundiu por um período de cento e cinquenta 
anos, e suas origens podem ser claramente discernidas em forças 
ativamente em ação desde o fim da Idade Média. Mas o termo, de certo 
modo, não deixa de ser adequado. As modificações por ele descritas foram 
tão amplas e profundas, tão trágicas na sua estranha mescla do bem e do 
mal, tão dramáticas na sua combinação de progresso material e sofrimento 
social, que poderão muito bem ser classificadas como revolucionarias. Seja 
como fôr, denominá-las dessa forma ajuda a lembrar-nos que a rapidez da 
modificação econômica durante os séculos XVIII e XIX foi maior do que em 
qualquer época anterior e que o preço exigido sob a forma de sofrimento 
social foi mais do que geralmente pesado. 
 
Antigamente era possível que o trabalho fosse considerado um fardo para as 
pessoas. Em muitas regiões do mundo o trabalho significava subsistência,outro um 
mérito, a teologia e alguns entendimentos foram se modificando para o 
reconhecimento de que havia necessidade de legislação na defesa do ser humano e 
com isto a estipulação de normas para quem viesse a “praticar o trabalho”. 
Atualmente, pode-se dizer que com as mudanças e ocorrências históricas o 
trabalho é considerado o meio de dignificação da pessoa humana onde esta se 
insere noseu meio social de forma a permitir sua sobrevivência. O homem deixa de 
ser um simples meio de formação do produto e passa a ser parte integrante do 
processo entranhado nas preocupações do empregador. 
Pode-se observar do texto do Autor Daniel Gustavo Mocelin17 que: 
 
O desenvolvimento tecnológico da Era da Pré Industrialização foi crescente 
até a Era das Tecnologias de Comunicação e Informação Micro-Eletrônica. 
Ainda, observa-se que a jornada de trabalho foi ascendente no período da 
Pré Industrialização até o período da Industrialização Mecânica, depois 
tendo rebaixo dos períodos do Taylorismo, Fordismo,eletromecânica, até o 
período que dispõe da das Tecnologias de Comunicação e Informação 
Micro-Eletrônica. A demanda por trabalho qualificado foi uma curva também 
ascendente a qual sofreu diminuição no período da Industrialização 
Mecânica e posteriormente aumento nos períodos sucessivos. 
 
 
16 BIRNE. Op. Cit. p. 22. 
17 MOCELIN, Daniel Gustavo. Redução da jornada de trabalho: em nome da quantidade ou da 
qualidade do emprego? Disponível em: <http://www.ufrgs.br/ppgsocio/Mocelin_Simpe.pdf>. Acesso 
em 02 jun. 2019. Este foi adaptação livre e incrementada do modelo apresentado pelo autor Dal 
Rosso na obra DALROSSO, S. O Debate sobre a redução da Jornada de Trabalho. São Paulo: 
Coleção ABET, 1998. p. 308. 
10 
 
Os princípios do Direito de Trabalho também tem fundamental importância 
no sistema jurídico, e quanto às suas funções, de acordo com o entendimento 
consolidade de Amauri Mascaro Nascimento18, uma vez que possuem função 
interpretativa, elaborativa e de aplicação do direito. 
Para que a lei possa ser aplicada, neste sentido, os princípios devem ser 
considerados como subsídios para que a orientação do legislador quanto à criação 
de tais princípios possam estar aferidos nos preceitos constitucionais quanto ao 
direito do trabalho, artigos e Justiça do Trabalho. 
Américo Plá Rodrigues19 assevera que os princípios gerais do direito do 
trabalho não podem ser confundidos com princípios gerais, pois é necessária uma 
ampla compreensão e aplicação a cada direito estabelecendo assim direitos 
trabalhistas a pessoa e o estabelecimento de seus princípios como tal. 
O sistema jurídico constitui segundo Arnaldo Sussekind20 a necessidade de 
proteção social aos trabalhadores bem como demais direitos previstos constituindo 
assim a sua raiz sociológica e de princípios fundamentais aos trabalhadores. 
O objetivo do direito do trabalho quanto à proteção, na visão de Carlos 
Henrique Bezerra Leite21 constitui o objetivo de estabelecer, entre o empregado e o 
empregador, a igualdade jurídica, a superioridade econômica em relação à deste e 
aquele. 
 O Direito do Trabalho vem sendo abordado diante de situações 
desfavoráveis ao trabalhador, mas pode-se continuar relatando que este se encontra 
em constante mudança eis que a era em que se vive atualmente também está 
requerendo modificações e implementações na lei, como é a questão de trabalho 
virtual, desemprego, dentre outros. 
A Declaração de Direitos Humanos22 reconhece a dignidade e direitos dos 
seres humanos sendo todos livres, com direitos iguais e com fundamentos na 
liberdade, justiça e paz no mundo. Declara ainda, em aspecto trabalhista, que 
 
18 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do 
trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 24 ed. Ver. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva 
2009. p.381. 
19 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. 3 ed. atual. São Paulo: LTr, 2014. 
p.30. 
20 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho. 21 ed. São Paulo: Editora LTr, 2003. 1 
v. p.144. 
21 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho: Teoria geral e direito individual do 
trabalho. Curitiba: Juruá, 2000. p.39. 
22 NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf>. Acesso em 02 jun. 2019. 
11 
 
todos têm direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e 
favoráveis de trabalho e proteção contra o desemprego e as iniciativas da 
terceirização. 
 
2.2. MOVIMENTOS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EM FACE DO 
PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO E FLEXIBILIZAÇÃO 
 
Oscar Ermida Uriararte23, no estudo intitulado “A flexibilidade”, trata de 
demonstrar as razões que percorrem as ondas de flexibilização dos direitos, em 
específico do direito do trabalho, assim como faz um estudo analítico das diversas 
possibilidades flexibilizadoras, as quais atingem, ou pretendem atingir, a esfera dos 
direitos sociais. 
Normalmente o trabalho se organiza e acaba por gerar implicaçõesdiretas 
no direito e nas relações de trabalho, já que por “necessidade” ou em decorrência de 
alguma outra crise alegada, ocorrem pressões para que os direitos sociais sejam 
revistos pelo Estado. Nesses episódios, o que normalmente se tem é a exigência, ou 
a necessidade, de se flexibilizarem direitos sociais, também conhecidos como 
direitos de segunda dimensão ou geração. 
Nesse sentido, alguns movimentos acabam por influenciar, ou são utilizados 
como justificativa, para a promoção de mudanças nas políticas públicas adotadas 
pelos Estados ou para legitimar a dita “modernização” da legislação social. A assim 
chamada “globalização” aparece como uma dessas razões justificantes, inclusive 
para identificar as alterações provocadas na organização do trabalho como um dos 
seus efeitos. 
Zygmunt Bauman24 desenvolve uma reflexão no livro “Globalização: as 
consequências humanas”, tratando justamente da questão da globalização e de 
seus efeitos sobre a nação-Estado, como a consequente liquidez do conceito de 
soberania enquanto parte desse movimento globalizante. 
Maurício Godinho Delgado25, em seu livro “Capitalismo, trabalho e emprego: 
entre o paradigma da destruição e os caminhos da reconstrução”, procura 
 
23 URIARTE, Oscar Ermida. A flexibilidade. São Paulo: LTr, 2002. p.111. 
24 BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. p. 
10. 
25 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e negação do trabalho. 
2 ed. São Paulo: Boitempo, 2009. p. 37 
12 
 
demonstrar os caminhos que a centralidade do trabalho tomou nas últimas décadas, 
inclusive em razão dos movimentos da reorganização produtiva (taylorismo, fordismo 
e toyotismo, por exemplo) e do retorno das premissas clássicas liberais. Assim, a 
abordagem da pesquisa nesse ponto pretende partir da ideia de que os efeitos da 
globalização são mais sentidos em finais do século XX, início do século XXI, após o 
que se denominou crise do Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State, ou crise 
do capital como preferem alguns, e que para o capital se reorganizar, são adotadas 
algumas medidas ditas como de cunho neoliberal ou ultraliberal. 
Entretanto, alguns processos históricos anteriores também são abordados 
para melhor compreensão histórica do momento que se quer demonstrar como 
sendo de flexibilidade. 
 
2.2.1. Organização do trabalho 
 
No campo da organização do trabalho, os métodos tayloristas, fordistas e 
um pouco mais tarde o toyotista, foram as formas que o capital utilizou para 
empreender suas técnicas de produção, visando aumentar a produtividade e/ou 
adaptá-la às demandas dos mercados como no último método, já entre os séculos 
XIX e XX conforme Geraldo Augusto Pinto.26 
Além da organização do trabalho como uma técnica de produção, ou a 
intenção de se aumentar a produtividade a partir da racionalização de seus 
processos, outros eventos são extraídos das pesquisas sobre a organização no 
trabalho ou pelo trabalho. Nesse caso, podem ser observados os movimentos dos 
trabalhadores e sua organização em sindicatos ou associações com vistas a 
defender e/ou conquistar melhores condições de trabalho ou até em preservá-los.27 
A organização dos trabalhadores, por exemplo, pode ser vislumbrada a partir 
de estudos que trabalham a formação do sujeito coletivo no trabalho, como o fez 
Nair Heloisa Bicalho de Souza28. Analisando as greves operárias em Brasília, na 
década de 1970, a autora comenta que, “em primeiro lugar, é importante assinalar 
que essa trajetória parte da subjetividade operária – da vivencia cotidiana da 
injustiça e da humilhação nos canteiros de obra – e se combina com a cultura da 
 
26 PINTO, Geraldo Augusto. Op. Cit. p. 16. 
27 ANTUNES. Op. Cit. 2009. p. 37. 
28 SOUZA, Nair Bicalho de. Trabalhadores pobres e cidadania: a experiência da exclusão e da 
rebeldia na construção civil. Uberlândia: EDUFU, 2007. p. 146. 
13 
 
classe”, que nesse sentido, corroboram para a construção do sujeito coletivo, pois 
desprezado em sua dignidade no dia-a-dia do trabalho. 
Como bem observado por Márcio Túlio Viana29, a concentração do trabalho 
organizado em grandes fábricas, que em períodos pretéritos era mais difusa, teve o 
efeito de reunir os trabalhadores em um mesmo ambiente por necessidades das 
mais variadas. Por outro lado, essa mesma reunião fez com que os mesmos se 
unissem em prol de condições melhores de trabalho e assim surgiu o sindicato. 
 Esse fato histórico, assim como o vasto império colonial inglês de que 
dispunha, a descoberta de novas fontes de energia, espalhadas aos demais países 
em meados do século XIX, configuraram o que se chamou de “Segunda Revolução 
Industrial”.30 
A concentração dos trabalhadores em fábricas se deu em um processo lento 
e gradativo, que não é o foco principal da pesquisa, mas que será de algum modo 
discutido. Conforme Edgar de Decca31, a partir do século XVI ocorre uma 
“transformação moderna do significado da própria palavra trabalho” e que passa a 
ter um sentido positivo. Ele está fazendo referência aos pensadores modernos que 
colocaram o trabalho como a fonte de toda propriedade e riqueza (Locke e Adam 
Smith). De certo modo, ainda que no campo teórico, mas que se tornariam viáveis 
por meio do poder político e jurídico estatal a partir da criação do “sujeito de direitos”. 
Segundo Decca32, “a dimensão crucial dessa glorificação do trabalho 
encontrou suporte definitivo no surgimento da fábrica mecanizada”, assim 
contribuindo para que o capitalista alimentasse “ilusões de que a partir dela não há 
limites para a produtividade humana”. Fato esse que deu ensejos à aplicação do 
trabalho como uma “dimensão ilimitada da produtividade humana”, mas que acabou 
encontrando resistência dos trabalhadores (greves, etc.), como de pensadores do 
século XIX (materialismo histórico de Marx), que passaram a criticar as bases do 
Estado moderno liberal. 
Os impulsos da revolução industrial são, então, mais sentidos já em meados 
do século XX e observados como de grande avanço tecnológico. Seguindo o 
 
29 VIANA. Op. Cit. p. 24-26 
30 TRINDADE, José Damião de Lima. História social dos direitos humanos. São Paulo: Peirópolis, 
2002. p. 83. 
31 DECCA, Edgar Salvadori de. O nascimento das fábricas. São Paulo: Basiliense, 1987. pp. 9 – 28. 
32 DECCA. Idem. p. 13. 
14 
 
entendimento de Geraldo Augusto Pinto33, trata-se de um dos períodos mais 
interessantes da história comtemporânia onde foi precedido por três séculos de 
ascensão do liberalismo político, dos Estados nacionais, da divisão da sociedade em 
classes sociais e das atividades do trabalho nas relações de produção e circulação 
capitalistas, onde houve trasnformações científicas e tecnológicas. 
O autor se refere ao liberalismo político porque foi esse o modelo que 
vigorou por muito tempo, ou seja, a ideologia liberal que predominava foi traduzida 
em direito, isto é, positivada. 
Ricardo Marcelo Fonseca34, fazendo uma relação ao pensamento então 
vigente, isto é, ao positivismo de Auguste Comte, dispõe que por meio das 
revoluções burguesas pretéritas, onde estas tiveram “o significado de serem 
exatamente aquelas em que a burguesia, que já era hegemônica do ponto de vista 
econômico, passa a ser hegemônica também do ponto de vista político”, nesse caso, 
ao tipo de Estado que se construiu a partir das revoluções vitoriosas, o autor parece 
indicar como o direito foi idealizado pela corrente hegemônica liberal daquele 
momento histórico. 
Esse momento parece ser o de ascensão do capitalismo. Veja-se, por 
exemplo, que os episódios da escravidão e do feudalismo, por vezes podem ser 
denominados de pré-capitalistas no sentido de colocar o trabalho braçal como 
relegado a uma classe subalterna, ou seja, desqualificada. Conforme PatríciaMaeda35, “a ideia de que o trabalho dignifica o homem” surge nas sociedades que 
superaram a escravidão e a servidão: “Essa desqualificação do trabalho justifica a 
divisão social dos períodos pré-capitalistas. A ideia de que o trabalho dignifica o 
homem surge apenas na sociedade que superou como forma social a escravidão e a 
servidão”. 
Em outras palavras, depreende-se que as relações sociais humanas 
decorrentes do trabalho são fruto dessa interação entre as relações entre os 
próprios humanos e suas forças produtivas. Em relação ao sentido moderno, ou até 
contemporâneo, Geraldo Augusto Pinto36, ao comentar sobre a organização do 
trabalho a partir das revoluções industriais, no intuito de dar ênfase ao modelo 
 
33 DECCA. Op. Cit. p. 13. 
34 FONSECA, Ricardo Marcelo. Introdução teórica à história do direito. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 
2012. p. 39 
35 MAEDA, Patricia. A era dos zero direitos: trabalho decente, terceirização e contrato zero-hora. 
São Paulo: LTr, 2017. p. 15. 
36 PINTO. Op. Cit. p. 16. 
15 
 
técnico da produção capitalista, isto é, levando-se em conta mais os processos do 
que o trabalhador, assim comenta: 
 
Esse sentido estritamente técnico de encarar a organização do trabalho foi 
incorporado pelo modo de produção capitalista e submetido aos interesses 
de classe aí envolvidos, especialmente após as primeiras revoluções 
industriais do século XVIII em diante. 
 
Lugares para tal, como referido pelo autor acima, tem significado porque o 
processo produtivo foi paulatinamente transferido para o ambiente das fábricas, 
primeiro em razão do aperfeiçoamento do chamado “putting-out system”, pois este 
ainda era um sistema em que o trabalhador detinha em seu poder os processos de 
trabalho no ambiente doméstico, mas que dependia do capitalista para o 
fornecimento da matéria-prima e intermediação com o mercado. Mais tarde, o 
capitalista, deduzindo que esse sistema lhe causava prejuízos, procurou concentrar 
os trabalhadores em fábricas, conforme Edgar de Decca37. 
O fato é que o trabalho sempre foi uma forma de relacionamento social e 
com consequências práticas. Conforme já explicitado anteriormente, explica Geraldo 
Augusto Pinto38 que “o trabalho, em seu sentido amplo – como um conjunto de 
atividades intelectuais e manuais, organizadas pela espécie humana e aplicadas 
sobre a natureza” pareceu nunca ter deixado de ser realizado por homens e 
mulheres – acrescente-se à citação, obviamente, também por crianças –, ao longo 
da história, que no capitalismo moderno, pode ser representado pelo trabalho 
assalariado. 
É oportuno ponderar que o período em análise é concebido sobre os ideais 
liberais da revolução francesa. Jorge Luiz Souto Maior39, após discorrer sobre as 
transições ocorridas a partir do humanismo, do racionalismo e sobretudo do 
iluminismo, é que se configura “a base da cultura liberal, que deu sustentação ao 
poder político da burguesia e favoreceu o desenvolvimento do capitalismo como 
projeto econômico e de poder da nova classe dominante, a classe burguesa”. 
Conforme Souto Maior40, comentando sobre as ideias liberais, vigorava a de 
que o Estado tem como “finalidade primordial” a proteção de um direito natural e 
 
37 DECCA. Op. Cit. p. 19. 
38 PINTO. Op. Cit. p. 20. 
39 MAIOR, Jorge Luiz. Curso de direito do trabalho: teoria geral do trabalho. Vol. I. Parte I. São 
Paulo: LTr, 2011, p. 104 
40 MAIOR. Idem. p. 97. 
16 
 
divino, ou seja, a propriedade, já que “Deus cria o mundo e é seu proprietário”, como 
o “homem é criado à imagem e semelhança de Deus, nada mais certo que o homem 
possua assim, “uma tendência natural e divina em adquirir propriedades”, e que, 
“sendo todos livres e iguais”, todos “os trabalhadores que não conseguem tornar-se 
proprietários privados são culpados por sua condição inferior”. 
Conforme Delgado41, é no momento de ruptura do sistema produtivo feudal 
que a relação empregatícia surge como categoria socioeconômica e jurídica, mas só 
no desenrolar-se da era moderna, mais precisamente com a Revolução Industrial, é 
que ela se tornará uma categoria específica a regular as relações de trabalho 
emergentes. Para ele, é somente no desenvolvimento industrial contemporâneo do 
século XIX que o Direito do Trabalho pode ser tratado como um fenômeno jurídico- 
normativo, pois, “nas sociedades antigas e feudais, representadas pelo uso da 
escravidão e da servidão da categoria do trabalho subordinado pode, 
eventualmente, ter surgido – como singular exceção -, mas jamais foi uma categoria 
relevante do ponto de vista socioeconômico”. 
É preciso ter em mente que ao momento de reconhecimento do Direito do 
Trabalho, como citado acima, acompanha ou é posterior à necessidade da época 
moderna de se constituir um Estado de Direito. Por exemplo, a Declaração de 
Direitos da Constituição Francesa, de 4 de novembro de 1848, é citada como sendo 
um desses marcos do Estado moderno.42 
O que se quer demonstrar é que essas transformações na plano 
econômicopolítico, acabam sempre acompanhadas e/ou refletidas no campo jurídico 
conforme se pode inferir pela passagem abaixo: 
Essas transformações foram sempre acompanhadas do desenvolvimento 
ou consolidação de noções jurídicas novas – correspondentes a essas mudanças 
econômicas capitalistas – como, por exemplo, a hoje tão familiar figura do sujeito de 
direitos, inerente à igualdade jurídica e indispensável para que compra e venda 
capitalista da força de trabalho passa a ser livre43. 
Essa sujeição jurídica decorre de uma construção do direito moderno 
representada no que se denominou “relação jurídica”. Isto é, resumidamente, de 
 
41 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr., 2010, p. 82. 
42 DELGADO. Op. Cit., p. 82. 
43 MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 21-21. 
Apud MAEDA, Patricia. A era dos zero direitos: trabalho decente, terceirização e contrato zero-hora. 
São Paulo: LTr, 2017. pp. 15-19. 
17 
 
uma sujeição jurídica por um contrato celebrado entre as partes e de seu 
cumprimento, como regra, dentro dos limites que foram estabelecidos no próprio 
contrato. De acordo Laercio Lopes da Silva44, “esse dever de sujeição não pode 
extrapolar os limites da própria necessidade de se cumprir o contrato” e que essa 
sujeição não pode invalidar os “direitos fundamentais daquele que se sujeita”, ou 
seja, não se poderia, por exemplo, exigir o trabalho que leve em conta apenas os 
anseios do proprietário contratante, já sob o ponto de vista mais contemporâneo. 
Apesar da globalização se apresentar como um evento recente, o escritor 
Anibal Quijano45 destaca que ela teve início com o processo que se desenvolve com 
a constituição da América, ou seja, que “a globalização em curso é, em primeiro 
lugar, a culminação de um processo que começou com a constituição da América e 
do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado como um novo padrão de poder 
mundial”. Em linhas gerais, pode-se fazer essa analogia, com exceção da tecnologia 
de hoje, pois o período das navegações representou um momento de conquistas, 
ampliação de mercados consumidores e fornecedores de matéria prima. 
 
2.2.2. Normas garantidoras de direitos fundamentais 
 
A flexibilização trabalhista significa tornar o Direito do trabalho menos rígido, 
desfragmentado ou até mesmo desregulado, de forma que a análise e discussão de 
seus limites é de suma importância para que direitos fundamentais não sejam 
afastados, ou seja, que sempre haja o “mínimo existencial”, garantindo o acesso aos 
trabalhadores a uma vida digna. 
Foi em 1988, com a promulgação da Constituição Federal46, que foram 
instituídos e aperfeiçoados os chamados direitos sociais, previstos no artigo 7º do 
texto legal, caracterizando-se como verdadeirosdireitos fundamentais da pessoa 
humana e inerentes a todas as suas relações. 
Desta maneira, é inegável o fato de que os direitos sociais são verdadeiros 
direitos fundamentais da pessoa humana. Significa assim, que o seu exercício 
 
44 SILVA, Laercio Lopes da. A terceirização e a precarização nas relações de trabalho: a atuação 
do juiz na garantia da efetivação dos direito fundamentais nas relações assimétricas de poder: uma 
interpretação crítica ao PL n. 4.330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 25. 
45 SILVA. Op. Cit. pp. 15-19. 
46 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 03 jun. 
2019. 
18 
 
presta-se a garantir aos indivíduos o mínimo existencial para que possam viver de 
forma digna, bem como, na seara trabalhista, tenha sua dignidade respeitada em 
todas as relações laborais. 
Existe assim, numa relação fático-jurídica, um panorama acerca da 
interação entre as relações de trabalho e os direitos fundamentais, envidado 
exatamente no intuito de delimitar e garantir a aplicação de certos critérios em que 
os operadores de direito da área devem atuar.47 
Isto porque, conforme entende Delgado48, Direitos Fundamentais são 
prerrogativas ou vantagens jurídicas estruturantes da existência, afirmação e 
projeção da pessoa humana e de sua vida em sociedade. 
Desta maneira, a relação do Direito do Trabalho com os princípios 
fundamentais demonstra-se real e necessária, pois outra não pode ser a conclusão 
acerca do tema, de acordo com explana Sarlet49 os direitos fundamentais são 
imprescindíveis para a dignidade da pessoa. 
Os direitos fundamentais devem abranger todos os direitos laborais 
contemplados em sede constitucional e infraconstitucional, pois, do contrário, 
predominaria a visão arcaica e simples do direito Trabalhista50, de forma que a 
flexibilização, mesmo com suas diretrizes de alteração dos direitos já garantidos por 
lei, deverão ser controladas e limitadas à luz da Constituição. 
Nos dizeres de Luís Roberto Barroso51: 
 
[...] o Direito é um sistema aberto de valores. A Constituição, por sua vez, é 
um conjunto de princípios e regras destinados a realizá-los, a despeito de se 
conhecer nos valores uma dimensão suprapositiva, no qual as ideias de 
justiça e de realização dos direitos fundamentais desempenham um papel 
central. 
 
Ocorre que a aplicação dessas premissas maiores, sua incidência no 
ordenamento, nem sempre é pacífica. Por vezes, eleger o princípio aplicável que é 
mais convenientemente ao interesse da relação é tarefa complexa. 
Constituem estes princípios verdadeiros limites à atuação social, seja do 
 
47 BELTRAMELLI NETO. p. 65. 
48 DELGADO, Maurício Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7. ed. ver. atualiz: São Paulo. 2017. p. 
657. 
49 SARLET, Ingo Wolfgang. Direito fundamental ao meio ambiente de trabalho saudável. Revista do 
Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol. 80, no 1, jan/mar 2014, p.57. 
50 BELTRAMELLI NETO. Op. Cit. p. 65. 
51 BARROSO, Luiz Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional 
brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p.67. 
19 
 
Estado, dos órgãos judiciários, da classe empresária ou dos próprios cidadãos como 
entes integrantes da sociedade, 
Os pressupostos inerentes aos princípios da dignidade da pessoa humana e 
da razoabilidade devem orientar os demais princípios aplicáveis ao caso concreto, 
particularmente na esfera das relações de trabalho, em que a atividade remunerada 
é alçada à própria condição de existência do homem.52 
Vale frisar ensinamento pertinente de Vólia Bomfim Cassar53 nesse sentido: 
“forçoso concluir que todos os direitos trabalhistas previstos na lei são indisponíveis, 
imperativos, cogentes. Somente poderão ser disponibilizados quando a própria lei 
autorizar sua disponibilidade”. 
Entre as hipóteses constitucionalmente previstas de flexibilização no âmbito 
juslaboralista, pode-se depreender que três são os incisos especificamente dirigidos 
pelo legislador constituinte afetos à matéria. 
Os artigos 7°, 8°, 9°, 10° e 11° da CF54 tratam de assuntos adstritos ao 
direito do trabalho como um todo, ora declarando garantias, tratando da formalização 
e instituição sindical entre outros. 
Já os incisos VI, XIII e XIV do artigo 7°55, são aqueles que estabelecem os 
limites constitucionais autorizadores da relativização dos direitos trabalhistas 
mediante acordo prévio em negociação coletiva. 
Note-se que a norma fundamental determinou as possibilidades de 
relativização dos direitos sociais na esfera juslaboral e a forma em que estas 
alterações legislativas e sua aplicabilidade podem ocorrer, desde que respeitado os 
princípios inerentes ao trabalhador. 
O Legislador elegeu a negociação coletiva como instrumento hábil a validar 
e promover a flexibilização, desde que respeitando-se as garantias fundamentais do 
trabalhador e sua dignidade, tornando-se o instrumento promotor da flexibilização no 
Direito do Trabalho.56 
Ocorre que, atualmente, o empresariado, visando “enxugar” os direitos 
 
52 CUNICO, Dayane. Souza.; OLIVEIRA, Lourival José. de. Os limites da flexibilização no direito do 
trabalho sob uma perspectiva constitucional. Revista Ciências Jurídicas. Soc. UNIPAR. Umuarama. 
v. 14, n. 1, p. 23-44, jan./jun. 2011. Disponível em: 
<http://revistas.unipar.br/index.php/juridica/article/viewFile/4128/2573>. Acesso em: 5 jun 2019. 
53 CASSAR, Vólia Bomfim. Princípio da irrenunciabilidade e da intransacionalidade diante da 
flexibilização dos direitos trabalhistas. Revista LTr. São Paulo: LTr, 2006, p.79. 
54 BRASIL. Op. Cit. 
55 BRASIL. Op. Cit. 
56 CUNICO; OLIVEIRA. Op. Cit. 
20 
 
trabalhistas e se aproveitando da hipossuficiência do empregado e da grande 
quantidade de mão de obra no mercado, impõe aos trabalhadores contratos de 
trabalho mais flexíveis, em sua maioria ignorando os ditames legais e 
constitucionais.57 
Dessa forma, a flexibilização pode ser usada como pretexto para que os 
empregadores diminuam os direitos trabalhistas visando apenas o lucro e o 
enriquecimento, desvalorizando totalmente a força de trabalho humano e colocando 
em risco os inúmeros direitos e garantias já conquistados pelos trabalhadores ao 
longo da história. 
Assim, a flexibilização trabalhistas deve ser aplicada com rigor e equilíbrio, 
visando sempre a razoabilidade para que não se arrisquem direitos fundamentais 
constitucionais. 
Conclui-se assim, que a flexibilização apenas poderá ocorrer quando esta 
não ferir direitos constitucionais, desde que a medida seja excepcional, respeitando 
a dignidade do trabalhador, e que a motivação seja apenas para a manutenção do 
emprego e saúde financeira do empregador. 
Portanto, inconstitucional será a cláusula de convenção ou acordo coletivo, 
ou mesmo o dispositivo legal que não obedeça tais objetivos mínimos, seja por 
violação do princípio da proteção ao trabalhador, disposto no caput do art. 7º da 
CF58, seja porque viola valores maiores, como o da dignidade da pessoa humana e 
o do não abuso do direito, princípios estes inerentes a todas pessoa e indisponíveis 
em negociação. 
 
2.3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
Pode-se definir a terceirização como estratégia empresarial, com objetivo de 
potencializar ou especializar determinada atividade na empresa. Sergio Pinto 
Martins59 diz que a terceirização não é apenas a redução de custo, mas também 
trazer agilidade, flexibilidade, competitividade à empresa e também para vencer no 
mercado. Esta pretende, com a terceirização, a transformação de seus custos fixos 
em variáveis, possiibilitando o melhor aproveitamento do processo produtivo, com a 
 
57 CASSAR. Op.cit. p.27.58 BRASIL. Op. Cit. 
59 MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. – 12. ed. rev. e ampl. – São 
Paulo: Atlas, 2012. p.11. 
21 
 
transferência do numerário para aplicação em tecnologia ou no seu desenvolvimento 
e também em novos produtos. 
Em linhas gerais, significa afirmar que a terceirização pode contribuir para a 
especialização no processo produtivo, trazendo ao mercado produtos e serviços de 
melhor qualidade; a medida que são executados em parceria com players que 
detém o melhor know how a contribuir na produção. 
Segundo o entendimento de Mauricio Godinho Delgado60 A expressão 
terceirização resulta de neologismo oriundo da palavra terceiro, compreendido como 
intermediário, interveniente. Não se trata seguramente, de terceiro, no sentido 
jurídico, como aquele que é estranho a certa relação jurídica entre duas ou mais 
partes. O neologismo foi construído pela área da administração de empresas, fora 
da cultura do Direito, visando enfatizar a descentralização empresarial de atividades 
para outrem, um terceiro a empresa. 
 
Importante enfatizar que anterior a II Guerra Mundial era possível observar 
atividades exercidas por terceiros sem configurar o conceito de terceirização, esta 
percebida a partir da grande guerra interferindo na economia e nos aspectos da 
sociedade por meio do Direito Social.61 
Para Amauri Mascaro Nascimento62, o chamado progresso do maquinismo 
gerou problemas como acidentes de trabalho ao passo que a regulamentação de 
leis com relação a proteção e dignidade do trabalhador, configurando, em meio a 
tais transformações o surgimento da terceirização a partir do momento que o 
desemprego era crescente em muitos países. Portanto, a terceirização surgiu como 
forma de amenizar tal crise, ofertando aos desempregados uma possibilidade de 
prestação de serviços. 
 
2.3.1. A terceirização no Brasil 
 
A terceirização no Brasil ocorreu por volta do ano de 1950 evidenciada no 
setor automobilístico e considerada como um fenômeno pelas multinacionais as 
 
60 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 417. 
61 CASTRO, Rubens Ferreira. A Terceirização no Direito do Trabalho. São Paulo: Malheiros, 2000. 
p. 75. 
62 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
p. 286. 
22 
 
quais dedicavam-se a atividade por meio de outras empresas que forneciam peças 
de carros e a empresa principal realizava apenas a montagem do veículo.63 
Na década de 1940 com a elaboração da Consolidação das Leis de 
Trabalho (CLT)64, a terceirização não era constituída como um fator abrangente aos 
termos do trabalho contribuindo para que o legislador regulamentasse apenas duas 
normas para a chamada subcontratação, sendo a primeira a empreitada e segundo 
a subempreitada, conforme art. 455, e pequena empreitada pelo artigo 652, 
regulamentada pelo Código Civil Brasileiro de 200265 em dispositivos legais nas 
primeiras décadas da evolução no ramo jus trabalhista no Brasil.66 
Sobre a falta de norma regulamentadora, MaurÌcio Godinho Delgado67 
explica que ocorre em razão de fato social da terceirização não ter grande 
significado socioeconômico nos impulsos de industrialização experimentados pelo 
país nas distintas décadas que se seguiram a acentuação industrializante iniciada 
nos anos de 1930/40, a terceirização está presente em nossa legislação sobre forma 
de trabalho temporário, caracterizada pela atividade-meio das empresas tomadoras 
de serviços, sendo estes serviços nas áreas de limpeza e segurança 
regulamentados pelas leis 6.019/74 e 7.102/83, respectivamente. 
Essa mudança no padrão de terceirização é chamada por Márcio 
Pochmann68 de superterceirização do trabalho. “Percebe-se, portanto, que a partir 
do novo ambiente econômico de liberalização comercial e financeira aprofundado 
pelo Plano Real, houve importante constrangimento interno à expansão produtiva.” 
Naquela oportunidade, as empresas de terceirização de mão-de-obra 
apresentaram-se como mais uma possibilidade de redução de custos do trabalho. 
Com esse objetivo, ganhou dimensão crescente a superterceirização. Ou seja, a 
terceirização da mão-de-obra cada vez mais vinculada ao exercício de atividade-fim 
nos setores de atividade e negócios da economia nacional.69 
 
63 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 5. ed. rev., ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2011. p. 
536. 
64 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm>. Acesso em 03 jun. 2019. 
65 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 03 jun. 2019. 
66 QUEIROZ, Carlos Alberto Ramos Soares de. Manual de Terceirização. 4 ed. São Paulo, STS, 
1992. p. 25 
67 DELGADO. Op. Cit. p. 429. 
68 POCHMANN, Márcio. Debates contemporâneos, economia social e do trabalho. 2: a 
superterceirização do trabalho. São Paulo: Ltr, 2008. p.57. 
69 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Formas atípicas de trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 48. 
23 
 
Por força disso, as atividades terceirizadas de destaque passaram a ser as 
de supervisão, inspeção de qualidade, vendas, analistas, gerentes, técnicos, entre 
outras. Desse modo, verificamos no Brasil, hoje em dia, uma expansão e 
diversificação da terceirização.70 O Supremo Tribunal Federal entende que é licita a 
terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas 
distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a 
responsabilidade subsidiária da empresa contratante. 
 
 
 
2.3.2. Natureza jurídica da terceirização 
 
O acordo contratual realizado entre as partes denomina a natureza jurídica 
da terceirização, onde de uma parte se encontra a empresa contratante denominada 
de “tomadora” e por outro lado a empresa prestadora de serviços, “prestadora. 
Segundo Sérgio Pinto Martins71, “Dependendo da hipótese em que a 
terceirização for utilizada, haverá elementos de vários contratos, sejam eles 
nominados ou inominados”. 
Ainda sobre a natureza jurídica da terceirização, ensina Evaristo de 
Moraes72 que trata-se de contratos de atividade, onde ocorre comprometimento em 
colocar sua atividade em face de outrem através de remuneração. 
Importante enfatizar que a terceirização não pode ser confundida com 
subcontratação, pois em diversas situações em que a empresa passa a ter 
necessidades maiores na demanda de produção, o interesse maior é a contratação 
de pessoal. Por outro lado, o contrato com o terceirizado é considerado permanente 
e não ocasional como na subcontratação. 
Esclarece Maurício Godinho Delgado73, neste sentido: 
 
Para o direito do trabalho terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a 
relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria 
correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo 
 
70 PASTORE, José. Terceirização: uma realidade desamparada pela lei. Revista do Tribunal 
Superior do Trabalho, Brasília, v. 74, n. 4, out./dez. 2008. p.78. 
71 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de Direito do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005. p.26. 
72 MORAES, Evaristo de e MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do Trabalho. 
São Paulo: LTR, 2010. p.316. 
73 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2003. p.430. 
24 
 
produtivo do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços 
justrabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente. 
(...) O modelo trilateral de relação socioeconômica e jurídica que surge com 
o processo de terceirizante é francamente distinto do modelo clássico, 
modelo empregatício, que se funda em relação de caráteressencialmente 
bilateral. Essa dissociação entre relação econômica de trabalho (firmada 
com a empresa tomadora) e relação jurídica empregatícia (firmada com a 
empresa terceirizante) traz grandes desajustes em contraponto aos 
clássicos objetivos tutelares e redistributivos que sempre caracterizam o 
direito do trabalho ao longo de sua história. 
 
Para o autor, a proteção do trabalhador hipossuficiente deve estar 
direcionado aos princípios do Direito do Trabalho com relação a tais implicações no 
modelo de contratação da força de trabalho, ou seja, a terceirização. 
O modelo trilateral de relação jurídica oriundo da terceirização é 
efetivamente diverso daquele modelo bilateral clássico que se funda a relação 
celetista de emprego. Assim, exceto nas hipóteses expressamente previstas ou 
permitidas pelo Direito pátrio, doutrina e jurisprudência tendem a rejeitar a hipótese 
terceirizante, porque modalidade excetuativa de contratação de força de trabalho.74 
Rubens Ferreira de Castro75 cita que a terceirização “enquadra-se em uma 
das espécies contidas no gênero denominado 'contratos de atividade', entendidos 
como aqueles em que alguém se compromete a colocar a sua atividade em proveito 
de outrem mediante remuneração.” 
Sergio Pinto Martins76 entende que é difícil definir a natureza jurídica da 
terceirização, pois, “dependendo da hipótese em que a terceirização for utilizada, 
haverá elementos de vários contratos distintos.” E o autor segue exemplificando 
alguns deles, como “de fornecimento de bens ou serviços”; “de empreitada”; “de 
franquia”; “de locação de serviços”, e, conclui dizendo que “a natureza jurídica será 
do contrato utilizado ou da combinação de vários deles”. 
 
2.4. A SÚMULA Nº 331 DO TST 
 
Diante da nova visão jurídica à terceirização, foi editada a polêmica Súmula 
nº 33177, que, conservou o texto da Súmula nº 25678 quase em sua totalidade, para 
 
74 SENA, Adriana Goulart de. In: Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. n. 63, 
Belo Horizonte, MG, Brasil, Ano 1, n. 1, 1965/2001, p.47. 
75 CASTRO. Op. Cit. p.83. 
76 MARTINS. Op. Cit. p.25. 
77 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Disponível em 
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html#SUM-331>. 
25 
 
considerar ilícita a contratação de trabalhadores por empresa interposta. No entanto, 
o campo das hipóteses de terceirização lícita aumentou significativamente, já que o 
TST passou a presumir a licitude da terceirização não só nos casos previstos em lei 
(trabalho temporário e serviços de vigilância), mas também com relação a serviços 
de conservação e vigilância e quando a empresa interposta presta serviços 
especializados ligados à atividade-meio da tomadora. 
Rodrigo de Lacerda Carelli79, estranhando a inclusão dos serviços de 
conservação e limpeza como presunções de legalidade da terceirização sem que 
haja qualquer lei amparando-as, afirma, quanto à razão da inserção desses serviços 
no inciso III da Súmula nº 33180. 
Acrescenta o ilustre doutrinador que essa discriminação é inconstitucional, 
por ferir o art. 7º, XXXII da CF/198881, que estabelece a “proibição de distinção entre 
trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos”. 
 
2.4.1. Atividade meio x atividade fim 
 
A impropriedade da definição acerca da legalidade ou não das modalidades 
de terceirização por meio da edição de súmula por si só se constitui falha, mas traria 
o mesmo problema se fosse replicada para o processo legislativo ordinário. 
Atividades-fim podem ser conceituadas como as funções e tarefas 
empresariais e laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do 
tomador dos serviços, compondo a essência dessa dinâmica e contribuindo inclusive 
para a definição de seu posicionamento e classificação no contexto empresarial e 
econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da essência da 
dinâmica empresarial do tomador dos serviços. Por outro lado, atividades-meio são 
aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam ao núcleo da 
dinâmica empresarial do tomador dos serviços, nem compõem a essência dessa 
dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto 
empresarial e econômico mais amplo. São, portanto, atividades periféricas à 
 
Acesso em 05 jun. 2019. 
78 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 256. Disponível em 
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-256>. 
Acesso em 05 jun. 2019. 
79 CARELLI. Op. Cit. p. 114. 
80 BRASIL. Op. Cit. 
81 BRASIL. Op. Cit. 
26 
 
essência da dinâmica empresarial do tomador dos serviços.82 
Tal afirmação justifica-se dada à grande dificuldade, na prática empresarial e 
até mesmo na defesa em processos judiciais da definição concreta e restrita dos 
conceitos de atividade meio e atividade fim. 
Almir Pazzianotto Pinto83, em interessante raciocínio a demonstrar quão 
falha é a concepção de atividade fim, mostra que o Banco do Brasil, a TV 
Bandeirantes, o Shopping Iguatemi ou mesmo a pequena Confecções Santa 
Terezinha possuem similitudes entre si, mesmo organizadas em ramos de negócio 
distintos. Todas foram organizadas tendo como atividade fim o lucro. Capital social, 
número de sócios, ramo de atividade, nunca são os mesmos; o objetivo final, 
contudo, se resume na estimulante ideia de gerar lucro. 
Ensina que, segundo a inteligência do artigo 981 do Código Civil84, celebram 
contrato de sociedade as pessoas que se obrigam a contribuir com bens ou serviços 
para o exercício da atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.85 
Segundo se conclui pela ciência econômica, pessoas físicas ou jurídicas não 
empenham tais contribuições para produzir bens de consumo no intuito de satisfazer 
as necessidades da população. Seja fabricando medicamentos ou automóveis, 
vendendo espaço publicitário nos jornais, rádio e televisão, a finalidade precípua é a 
realização do lucro. 
Pouco importa se a terceirização se dá na atividade-fim ou na atividade- 
meio, sendo fundamental, como já referido, a transferência completa de uma 
atividade ou fase autônoma do processo produtivo, como se (sic) “tratasse de uma 
empreitada”.86 
Para tanto, valem-se de informações, marcas, instalações, matérias primas, 
parque de máquinas e demais equipamentos, publicidade, material humano 
consubstanciado em dirigentes e empregados.87 
Pazzianotto88, que participou da discussão que culminou na edição do 
verbete, enquanto Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, admite que o mesmo 
funciona como fonte provocadora de conflitos, haja vista a impossibilidade de se 
 
82 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011, p. 426. 
83 PINTO, Almir Pazzianotto. “Ele disse”. Correio Braziliense, Brasília, 9 set. 2014. p. 11. 
84 BRASIL. Op. Cit. 
85 PINTO. Op. Cit. 11. 
86 MANNRICH. Op. Cit. p.186. 
87 MANNRICH. Idem. p. 186. 
88 PINTO. Op. Cit. p. 29. 
27 
 
traçar linha divisória nítida e objetiva capaz de diferenciar atividade meio de 
atividade fim. 
 
Atividade-fim é a que diz respeito aos objetivos da empresa, incluindo a 
produção de bens ou serviços, a comercialização etc. É a atividade central 
da empresa, direta, de seu objeto social. É a atividade principal da empresa, 
a nuclear ou essencial para que possa desenvolver seu mister. A atividade- 
fim da empresa não é o lucro. Este é o seu objetivo. Para o Direito 
Comercial, atividade-fim é a que consta do objeto do contrato social. É a 
atividade principal. [...] A atividade-meio pode ser entendida como a 
atividade desempenhada pela empresa que não coincide com seus fins 
principais.É a atividade não essencial da empresa, secundária, que não é 
seu objeto central. É uma atividade de apoio a determinados setores da empresa 
ou complementar. [...]. Já a atividade-fim é a atividade em que a empresa 
concentra seu mister, isto é, na qual é especializada.89 
 
Alguns dispositivos nos socorrem nesta tentativa de definição, ainda que por 
analogia. A citar o artigo 580 da CLT, em seu parágrafo 2º90, que entende por 
atividade preponderante (ou fim) a que caracterizar a unidade de produto, operação 
ou objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, 
exclusivamente em regime de conexão funcional.91 
Não existem parâmetros bem definidos do que sejam Atividade-Fim e 
Atividade-Meio, muitas vezes quando levadas a juízo ambas confundem-se, ficando 
a cargo do juiz defini-las.92 
Carolina Pereira Marcante93 esclarece uma mudança no conceito mais 
antigo de Atividade-fim, para o dos dias atuais, concorda-se que a terceirização na 
atividade-fim está muito próxima da ilicitude, uma vez que, nesses casos, é dificílimo 
se provar a ausência da subordinação direta. Há de se ponderar, todavia, que o 
conceito de atividade-fim está relativizando. As empresas estão cada vez mais 
especializadas. Hoje, é possível se afirmar que existem fabricantes das mais 
variadas peças de automóveis, bem como existem companhias voltadas apenas 
para a montagem de tais peças. Logo, ao se julgar sobre a licitude da terceirização 
na atividade-fim, é primordial ter-se em mente a especialização do mercado e 
 
89 MARTINS. Op. Cit. p.139. 
90 BRASIL. Op. Cit. 
91 SCHAPIRO, Mario Gomes. Repensando a relação entre estado, direito e desenvolvimento: os 
limites do paradigma do rule of law e as alternativas intitucionais. Revista de Direito GV n. 6: São 
Paulo, 2016. 
92 ABDALA, Vantuil. Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade subsidiária do 
tomador de serviços. Revista LTr, 2016, p.128. 
93 MARCANTE, Carolina Pereira. A responsabilidade subsidiária do Estado pelos encargos 
trabalhistas decorrentes da contratação de serviços terceirizados. Teresina, 2014. Disponível 
em: <http://www.sindetur.com.br/circular06_012.htm>. Acesso em: 02.jun.2019. 
28 
 
investigar se estão presentes ou não os requisitos de relação de emprego. 
 
Valle, Ejnisman e Gômar94 ressaltam que independentemente da 
terceirização da atividade-meio ou fim, caso seja verificado que o profissional 
alocado na prestação de serviços estiver, de fato, exercendo suas funções de forma 
pessoal e com habitualidade, bem como subordinado às ordens e mandamentos da 
empresa tomadora de serviços, fatalmente será considerado empregado desta 
empresa, reconhecendo-se a fraude na terceirização da atividade. 
Quanto à segunda parte do inciso III do enunciado em análise, o TST, atento 
ao contexto do surgimento da terceirização – o toyotismo e a “necessidade“ da 
empresa se dedicar apenas à sua atividade-fim – fixou como parâmetro de definição 
da licitude ou ilicitude do instituto um conceito fluido, relativo e indeterminado: 
“atividade-meio”. 
Em consonância com Maurício Godinho Delgado95 a definição de atividades-
fim é caracterizada por funções e tarefas empresarias e laborais que se enquadram 
no polo empresarial do tomador de serviços lhe compondo inclusive no contexo 
econômico. 
A contrario sensu, as atividades-meio são “atividades periféricas à essência 
da dinâmica empresarial do tomador dos serviços”.96 
Percebe-se que o conceito de atividade-meio é relativo, sendo determinado 
a partir de cada empresa e em comparação às atividades nucleares desta. No final 
das contas, a aferição dessa tal “ilicitude” só poderá ser feita no caso concreto, pelo 
magistrado, posto que não há como se definir um rol de atividades-meio quando 
essa definição depende do que se considera atividade nuclear da tomadora dos 
serviços. Muitos doutrinadores dão exemplos de atividades-meio, como limpeza, 
alimentação, transporte, conservação; no entanto, todas essas funções podem ser 
atividades-fim em determinada empresa, e, portanto, a terceirização que as tenha 
como objeto, nesse caso, será reputada ilícita.97 
Além disso, como a atividade-fim da empresa pode ser modificada, uma 
terceirização inicialmente lícita pode vir a se tornar ilícita, posto que a atividade 
 
94 VALLE, Regina do. EJNISMAN, Marcela. GÔMARA, Marcelo. Aspectos Trabalhistas da 
Terceirização. São Paulo, 2015. Disponível em: 
<http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/terceirizacao.htm>.Acesso em: 03.jun.2019. 
95 DELGADO. Op. Cit. p. 440. 
96 VALLE. Op. Cit. p. 441. 
97 SCHAPIRO. Op. Cit. 
29 
 
antes considerada “meio” pode ser, posteriormente, considerada “fim”. 
No entanto, é importante salientar que a distinção entre atividade-fim e 
atividade-meio só beneficia o tomador. O empregador, de acordo com o art. 2º da 
CLT98, deve se responsabilizar pelos “riscos da atividade econômica”, 
compreendidas aí todas as atividades inseridas no processo de produção da 
empresa, posto que sua suposta “atividade-fim” não poderia ser executada sem as 
“atividades-meio” que lhe dão base. Desresponsabilizar o tomador, legalmente 
responsável por todo o processo produtivo, repassando parte dessa 
responsabilidade para a empresa prestadora, é violar o artigo, e, com isso, 
desestabilizar as relações jurídicas entre capital e trabalho.99 
Graça Druck e Ângela Borges100 atentam: “Transferir custos trabalhistas e 
responsabilidades de gestão passa a ser um grande objetivo das empresas mais 
modernas e mais bem situadas nos vários setores de atividade, no que são seguidas 
pelas demais empresas”. Nesse mesmo sentido, assevera Carelli que “os riscos do 
negócio são repassados do tomador de serviços para outros: em pequena parte 
para o intermediador e em grande parte para o próprio trabalhador”. 
No inciso II do Enunciado em análise é esclarecido que a terceirização ilícita 
feita pelos órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional não 
permite o reconhecimento do vínculo de emprego diretamente com os referidos 
órgãos, visto que isso seria burla à norma constitucional que exige concurso público 
para a investidura em cargo ou emprego público, prevista no art. 37, II da 
CF/1988101. Porém, no momento em que há contrato de prestação de serviços entre 
empresa privada e administração pública com o simples fim de intermediar mão-de-
obra, já há a burla à exigência de concurso público, posto que o trabalhador 
terceirizado labora como se servidor público fosse, sem, no entanto, haver se 
submetido a prova de concurso público. 
Portanto, para fins de pagamento de verbas rescisórias decorrentes do 
contrato de trabalho, defendo o reconhecimento do vínculo de emprego diretamente 
com a Administração Pública, pois o trabalhador não pode ficar desamparado, sem a 
indenização da qual faz jus, dependendo de patrimônio da empresa interposta, este 
 
98 BRASIL. Op. Cit. 
99 CASSAR, Vólia Bomfim; BORGES, Leonardo Dias. Comentários à Reforma Trabalhista – Lei 
13.467, de 13 de Julho de 2017. São Paulo: Método, 2017. p.102. 
100 DRUCK, Graça; BORGES, Ângela. Terceirização: balanço de uma década. Disponível em 
<https://portalseer.ufba.br/index.php/crh/article/view/18604>. Acesso em 05.jun.2019. 
101 BRASIL. Op. Cit. 
30 
 
por muitas vezes inexistente102, arcando com os prejuízos advindos da fraude 
cometida pelos órgãos do Poder Público. O que não se pode admitir é a manutenção 
do trabalhador no quadro pessoal da Administração Pública, sem ter ele se 
submetido a concurso público. 
Por fim, o inciso IV da Súmula nº 331 do TST103 estabelece a 
responsabilidade subsidiária da empresa tomadora pelo inadimplemento das 
obrigações trabalhistas. A responsabilidade subsidiária gera complicações para o 
trabalhador na fase de execução do processo.É preciso primeiramente excutir os 
bens da prestadora de serviços – cujo patrimônio, como foi visto, é muitas vezes 
inexistente, posto que criada com o único objetivo de intermediar mão-de-obra – 
para depois se buscar o patrimônio da tomadora, geralmente empresa de maior 
porte e com patrimônio vultoso. 
Quando não for possível o reconhecimento do vínculo empregatício com a 
empresa tomadora, medida que considero em conformidade com a necessidade de 
garantia dos direitos trabalhistas, defendo a responsabilidade solidária das 
empresas, como aplicação analógica do art. 455 da CLT104. 
Se a própria CLT105 estabelece responsabilidade solidária do empreiteiro 
principal pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho celebrado entre 
trabalhador e subempreiteiro, e se a subempreitada é hipótese clara de 
terceirização, sem qualquer peculiaridade em relação às demais hipóteses, é 
imperativa a aplicação analógica do referido dispositivo celetista ao instituto da 
terceirização como um todo. 
Além disso, a responsabilidade solidária concretiza com muito mais eficácia 
o princípio da proteção ao trabalhador, visto que é dada a este a escolha de exigir 
suas verbas rescisórias, essenciais à manutenção do seu direito à vida, da 
prestadora ou da tomadora. 
Considerando ademais a obscuridade gerada pela terceirização quanto ao 
verdadeiro empregador – o que ocasiona problemas para os trabalhadores quando 
precisam ajuizar ação na Justiça do Trabalho –, a responsabilidade solidária seria 
uma possível solução a esses problemas, visto que o trabalhador poderia ajuizar em 
 
102 BOAVENTURA, José. Experiências com a terceirização. In: DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia 
(org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007. 
p. 201. 
103 BRASIL. Op. Cit. 
104 BRASIL. Op. Cit. 
105 BRASIL. Idem. 
31 
 
face de qualquer das empresas, sem correr o risco de sua ação ser julgada 
improcedente. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
A polêmica gerada pelo PL 4330/04 deve-se ao fato do legislativo ser omisso 
acerca da terceirização, não estabelecendo de maneira concisa quais 
procedimentos devem ser praticados pelas empresas ao optarem pela utilização 
deste instituto. A divergência doutrinária reside em estabelecer objetivamente o que 
é atividade-meio e atividade-fim de uma empresa. Diante do impasse e da lacuna 
legislativa, o Poder Judiciário vai coibindo os abusos de empresas criadas com o 
propósito de fraudar. 
Dentre várias consequências danosas com a possível aprovação do Projeto 
de Lei, destacam-se os seguintes: a terceirização comprovadamente diminui 
potencialmente a disponibilidade de postos de emprego e consequentemente 
aumenta a rotatividade da mão de obra, o que é prejudicial não apenas a toda a 
classe trabalhadora, mas também a toda a sociedade, pois quanto mais o 
trabalhador não se fixa em um emprego, mais vezes e durante mais tempo ele 
precisará de auxilio social, como o seguro-desemprego, que é um benefício 
concedido mediante aportes feitos pela sociedade ao FAT – fundo de amparo ao 
trabalhador. Além disso, um fator ainda mais grave é no tocante à saúde e à 
integridade física dos trabalhadores terceirizados, pois, se toda mão de obra puder 
ser terceirizada, certamente haverá redução na remuneração e outros benefícios 
acessórios, como vale-refeição, plano de saúde, entre outros, bem como nas 
condições de segurança e saúde dessas pessoas. 
Pela análise do regramento existente a definir a terceirização ou pela 
ausência de norma , vislumbra-se um panorama de grande insegurança jurídica na 
delegação de serviços no Brasil, justificado pelo frágil embasamento ao qual podem 
se socorrer os empresários na defesa desta modalidade de contratos. 
Não se pode conceber que a atividade empresarial moderna fique à mercê 
da interpretação de conceitos de caráter subjetivo; na medida em que a maior fonte 
de direito a balizar as condutas dos empregadores é a jurisprudência, suscetível à 
mudança constante de entendimento. Agrava-se a questão quando esta 
jurisprudência é fundada em conceitos também sujeitos à interpretação e delimitação 
32 
 
complexa, tais quais são a atividade- meio e atividade-fim. 
Quando analisamos julgamentos em ações trabalhistas envolvendo 
atividades similares, desenvolvidas em ambientes similares e em condições 
contratuais que também guardam similtude terem como resultado decisões 
absolutamente antagônicas pode demonstrar que a solução do ativismo judicial, 
ainda que relevante como iniciativa frente à omissão do Congresso Nacional, 
mostra-se absolutamente superada. 
O Congresso Nacional deve satisfações à sociedade, especialmente aos 
mais de onze milhões de brasileiros e suas famílias cujo sustento advém do trabalho 
em atividades terceirizadas. 
É mais do que necessária a adoção de novo marco regulatório; seja dando 
sequência ao estagnado Projeto de Lei 4.330/2004 e seus apensos, ou mediante 
novas proposições que sejam conduzidas com a seriedade que o debate merece. 
A nova lei 13.467/2017 é um documento legislativo marcado pela ideologia 
neoliberalista transparecendo os interesses da classe dominante como um interesse 
coletivo, o que em verdade não se consubstancia a realidade do povo brasileiro que 
vive em um país de realidades distintas. 
É certo que o excesso de direitos poderá gerar o desemprego 
comprometendo a saúde das empresas, privando o empregador de gerar novos 
postos de trabalho e aumentando o desequilíbrio econômico nacional, entretanto, 
encontrar o ponto de equilibro entre interesses distintos é a tarefa que o Estado deve 
se preocupar e esse desafio é enfrentado pelo direito do trabalho. 
Conclui-se com este estudo que os trabalhadores inseridos em contratos de 
terceirização tem seus direitos trabalhistas assegurados pelo artigo 7º. do Diploma, 
que assegura igualdade de direitos em relação a trabalhadores contratados por 
prazo indeterminado; o direito à aplicação da norma coletiva vigente aos 
trabalhadores de seu empregador direto; a vedação expressa do uso da 
terceirização para prejudicar a liberdade sindical, o direito de negociação coletiva a 
interferência nas organizações sindicais; a substituição de trabalhadores em greve 
ou a afetação da situação laboral de dirigentes amparados por prerrogativas 
sindicais. 
 
33 
 
4. REFERÊNCIAS 
 
ABDALA, Vantuil. Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade 
subsidiária do tomador de serviços. Revista LTr, 2016. 
 
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e 
negação do trabalho. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2009. 
 
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 
2009. 
 
BARROSO, Luiz Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito 
constitucional brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. 
 
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1999. 
 
BIRNIE, Arthur. An economic history of Europe, 1760 - 1939 - História econômica 
da Europa. Tradução de Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1964. 
 
BOAVENTURA, José. Experiências com a terceirização. In: DRUCK, Graça; 
FRANCO, Tânia (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e 
precarização. São Paulo: Boitempo, 2007. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. 
Acesso em 03 jun. 2019. 
 
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm>. Acesso em 
03 jun. 2019. 
 
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em 03 jun. 
2019. 
 
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 256. Disponível em 
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.h

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