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Resenha - Crises Orçamentárias da California, Reforma Fiscal e Concorrência Fiscal Nacional e Internacional

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
MBA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Resenha Crítica de Caso
Aciône Silva dos Santos 
Trabalho da disciplina Gestão Financeira em Organizações Públicas
 Tutor: Prof. Cristóvão Araripe Marinho
Eusébio-CE
2020
ESTUDO DE CASO: Crises Orçamentárias da California, Reforma Fiscal e Concorrência Fiscal Nacional e Internacional 
Referências: Weinzierl, Matthew; Kuipers, Jacob – Havard Business School – 9-710-038 – VER: 10 de Janeiro de 2013. 
Matthew Weinzierl e , Jacob Kuipers no artigo Crises Orçamentárias da California, Reforma Fiscal e Concorrência Fiscal Nacional e Internacional inicia o artigo fazendo uma alusão de que embora o governador da California Arnold Schwarzenegger, na ficção, tenha salvado o planeta inúmeras vezes, encontrou um adversário à altura em 2009, ou seja, conseguir um orçamento através de um processo legislativo tortuoso que levou o estado à beira de um "Armagedom Fiscal”. No início do ano fiscal, a Califórnia optou por pagar as contas com Nota Promissória, medida não aceita pelos bancos, deixando os titulares com papel sem valor ao ponto de serem negociados no eBay a 100 centavos de dólar, fazendo com que as agências de risco baixassem a nota do estado, forçando o governo a declarar emergência fiscal. 
O legislativo aprovou um orçamento que conseguiu fechar o déficit que era de $26 bilhões proveniente dos seis meses anteriores. A taxa de imposto sobre vendas aumentou 1% para beneficiar as receitas em abril e em julho a maior parte do déficit fechou com cortes de gastos, muitos em serviços sociais, causando uma reação de sarcasmos no blog de tendências esquerdista Daily Kos. As perspectivas para as finanças públicas da Califórnia eram sombrias e com estimativa, segundo o Gabinete do Analista Legislativo LAO, de déficits operacionais anuais maiores que $15 bilhões ao longo do ano fiscal 2014-2015, montante tão extraordinário que impactavam nas escolhas prioritárias do estado. Líderes políticos culpavam as políticas fiscais como causadoras dos problemas orçamentários do estado. Por seu turno, a senadora Denise Ducheny, presidente do Comitê de Revisão do Orçamento e Fiscal, atribuía isso aos impostos, enquanto David Crane, Assessor Especial para o Emprego e o Crescimento Econômico do governador, à falta de contenção de despesas.
O governador e os líderes legislativos formaram uma Comissão propondo mudanças fundamentais nas políticas fiscais da Califórnia. A situação na Califórnia despertou um sentimento de urgência que muitos esperavam ser suficiente para impulsioná-las. Tendo o ano de 2010 como limite de sua gestão, poderia o governador Schwarzenegger e os líderes legislativos encontrarem um conjunto de reformas que solucionariam os problemas fiscais do estado ao tempo em que equilibrariam suas prioridades conflitantes?
O artigo, organizado de forma cronológica segue de forma conceitual abordando o tema objetivamente de modo a manter o foco sem incorreções em excesso de opiniões próprias, com tópicos que trazem detalhes do conteúdo de modo a esclarecer os pontos de vista de forma acertada e na ordem dos acontecimentos. O texto nos remete a um breve resumo da História econômica da California de 1542 até final do ano de 2009 destacando como alicerce da economia do estado o clima e o acesso ferroviário ao mercado nacional, assim como o preço dos imóveis que atraíram as indústrias de entretimento, defesa e de alta tecnologia, empresas como HP, Intel e Apple que atraíram industrias de softwares como Eletrônics Arts, Sun Mirosystems e Adobe transformando o deserto da California no “Vale do Silício”. A evolução da Internet trouxe para a região empresas como Google, eBay e Facebook, além de outras líderes em biotecnologia como a Genentech atraídas pela falta de rigor na execução de cláusulas da não concorrência nos contratos de trabalho. A Califórnia não somente era a maior economia americana, ela era 50% maior do que a segunda colocada, Nova Iorque, e tinha o sétimo maior PIB per capita dos EUA.
Os desafios econômicos enfrentados pela California eram muitos entre os anos de 1992 e 2008, as taxas de desemprego e pobreza eram altas, além da qualidade do sistema de saúde ser classificada como a pior e as escolas figurarem entre as mais fracas. As disparidades regionais eram preocupantes, enquanto as áreas metropolitanas costeiras ficavam mais ricas, as rurais ficavam para trás, ao ponto da taxa de pobreza em 2006 ser de 20% em comparação aos 13% do resto do país. Na zona rural apenas 14% dos jovens tinham diploma universitário comparados aos 28% do restante do estado. 
Uma enquete com CEOs de grandes corporações da revista Chief Executive apontou a California como o pior estado para fazer negócios por quatro anos seguidos, de 2006 a 2009, fazendo com que sua nota fosse rebaixada de segundo para o oitavo em oito anos. O “calcanhar de Aquiles” da California era seu déficit fiscal que em 50 anos foi baixo em 76% do tempo, ou seja, 38 anos. 
Os desequilíbrios fiscais recorrentes representavam uma lacuna entre as taxas de crescimento das despesas e receitas. Em 30 anos, de 1978 a 2008, os gastos cresceram a uma taxa anual de 7,7%, enquanto a receita cresceu apenas 6,9%. As necessidades de gastos rígidos contrastavam com a receita fiscal cada vez mais volátil, e, essa volatilidade, era explicada pela mudança da Califórnia em direção ao imposto de renda individual, fonte de receitas mais variável do que as taxas relativas a veículos motorizados e impostos sobre as vendas de varejo.
A singularidade do sistema político moderno da Califórnia tinha como características: a necessidade de maioria absoluta em matéria de legislação fiscal; os limites de mandatos legislativos rigorosos e a democracia direta através de referendo dos eleitores e cada uma delas foi responsável por alguns dos problemas econômicos e fiscais que o estado enfrentou. Analistas e políticos deixaram claro que uma das consequências dessas características foi a influência substancial de interesses concentrados na política do estado.
Dentre as reformas tributárias mais importantes da California destaca-se a proposição 13, de 1978, projetada para impor disciplina aos gastos do estado, que dificultou ao legislativo estadual aumentar as receitas fiscais e seus apoiadores esperavam que ela forçasse o governo a gastar menos através da diminuição do crescimento das receitas fiscais, entretanto, não surtiu os feitos desejados, uma vez que a fraqueza dos sistemas de educação e de saúde do estado sugeriam fundos limitados. Ademais, os gastos por aluno da Califórnia caíram consideravelmente em relação à média nacional após a aprovação da preposição. 
Na sequência foi aprovada a Proposição 58 exigindo que o governo equilibrasse o seu orçamento a cada ano e que os legisladores limitassem os gastos do Fundo Geral para não exceder as receitas previstas e ainda proibia a venda de títulos gerais de obrigação por parte do governo, a fim de custear os gastos deficitários. Na prática, havia lacunas, pois não havia exigência de que o orçamento implementado estivesse em equilíbrio e os gastos deficitários não só continuaram, como também atingiram novos picos apenas alguns anos após a aprovação. 
Schwarzenegger e líderes legislativos criaram a COTCE (Commission on the 21st Century Economy) em outubro de 2008 para estudar e propor reformas específicas para o sistema tributário da Califórnia. O objetivo da COTCE, através do desenvolvimento de reformas fiscais que fossem de "rendimento neutro", ou seja, que gerassem a mesma receita conforme a legislação em vigor, era mudar a forma como a receita fiscal era levantada, e não quanto era levantado. Durante o período de 11 meses, ao qual a comissão deliberou sobre a reforma, desenvolveu-se duas propostas principais que alteraram consideravelmente a estrutura das receitas fiscais do Estado.
O relatório final da COTCE citou três principais benefícios das propostas de reforma, primeiro, a mudança no sentido oposto ao dos impostos sobre o rendimentopessoal e corporativo iria "Aumentar a Estabilidade da Receita"; segundo, a mudança no sentido oposto ao de impostos sobre o rendimento altamente progressivo iria "Aumentar [o] Âmbito dos Impostos", levando uma parcela de residentes do estado a pagar impostos para financiar a atividades do estado e, portanto, "ser investido no futuro da Califórnia” e terceiro, a redução dos impostos sobre o rendimento das empresas e impostos marginais sobre o rendimento pessoal em altas rendas iria "aumentar a competitividade e o crescimento", colocando a economia na melhor condição possível para competir por emprego e investimento. As recomendações da COTCE definharam, sendo necessária a realização de uma série de audiências sobre reformas alternativas.
Embora a proposta da COTCE no sentido de impulsionar a reforma no sentido contrário de Impostos sobre Sociedades e impostos de renda individuais progressivos tenha tido reação negativa no legislativo da Califórnia foi consistente com as tendências gerais em matéria de tributação em nível estadual dos EUA ao longo de algumas décadas anteriores. Alguns estados americanos se utilizaram de estratégias tais como ausência de taxas de imposto sobre as sociedades, generosos créditos fiscais ao investimento e regulamentos adaptados, enquanto outros focaram em atrair indivíduos, sem imposto de renda individual do estado. A revista Trusts e Herdades em um artigo colocou a Flórida como paraíso fiscal e de proteção de credores que seduzia indivíduos ricos para migrarem para o sul por não impor imposto de renda sobre indivíduos e fundos de investimento, tampouco imposto patrimonial, sobre doações ou imposto sucessório estadual. 
Uma variedade de fatores que impulsionaram os estados a aplicarem essas mudanças na tributação foram necessárias para competir por empresas geograficamente móveis e indivíduos de alta renda, todavia, evidências sobre a verdadeira mobilidade dessas bases de impostos em resposta a diferenças tributárias entre os estados eram conflitantes, já que os principais estudos sobre a questão chegaram a conclusões dramaticamente diferentes, destacando-se duas: “impostos não parecem ter um efeito substancial sobre a atividade econômica entre os Estados", e "o consenso emergente entre os economistas diz agora que os impostos importam, de fato”.
Na mesma linha de entendimento da crescente mobilidade das bases tributárias, os sistemas fiscais nacionais apresentaram tendências semelhantes as dos estados norte-americanos. Medida seguida pelos principais países desenvolvidos que reduziram as taxas estatutárias de imposto sobre sociedades legais de forma constante da década de 70 até os anos 2000 ampliando a definição de renda corporativa tributável. Floresceram ao redor do mundo zonas econômicas especiais com impostos reduzidos que separavam o tratamento a investimentos novos e antigos, permitindo que os países mantivessem taxas mais elevadas sobre o capital existente ao mesmo tempo que competiam por capital novo.
Surgiram dessa forma os chamados "paraísos fiscais” que eram países (ou regiões dentro de países) que competiam por atividade econômica oferecendo impostos excepcionalmente baixos, juntamente com, na maioria dos casos, regulamentação fácil e proteções à privacidade extensivas e tiveram um papel enorme na economia global por causa das várias maneiras criativas como eles poderiam ser usados por corporações e indivíduos abastados para evitar impostos. 
Não havia regulação para paraísos fiscais ou a concorrência fiscal em geral, por isso surge em cena a OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que publicou um relatório influente em 1998, iniciando esforços agressivos durante a década seguinte no sentido de limitar a extensão do que definia como "práticas fiscais prejudiciais. Esforços assim como os da OECD eram, em geral, incontroversos quando destinados a combater a evasão fiscal ilegal, entretanto, a questão sobre se a prática de evasão fiscal legal através de paraísos fiscais era boa ou ruim para a política econômica permaneceu, pois uma visão positiva dos paraísos fiscais salientava que eles forçavam os países a convencer os contribuintes que seus impostos eram justificados pelos benefícios dos serviços do Estado que custeavam.
Um relatório enviado ao governador Schwarzenegger em outubro de 2009 anunciava que o déficit orçamentário tinha voltado, a receita fiscal havia caído em mais de $1 bilhão no terceiro trimestre, obtendo 5,3% menos receitas do que o previsto e revigorando as preocupações com a sustentabilidade das finanças do estado, enquanto as reformas fiscais preferenciais do governador estavam sendo massacradas no legislativo estadual. 
Na apresentação do governador, em janeiro de 2010, do seu orçamento para o próximo ano, a situação era dramaticamente pior, um déficit de $20 bilhões previsto para o próximo ano fiscal e para fechar a lacuna, ele anunciou cortes de gastos, cortes salariais para os funcionários públicos, e um plano para pressionar o governo federal em busca de apoio, reiterando seu desejo de reforma a exemplo das recomendações da COTCE. 
Líderes Democratas faziam oposição ao orçamento do governador e em conflito com as recomendações da COTCE, apoiavam aumentos de impostos como forma de corrigir o déficit orçamentário, afirmando que as empresas e indivíduos talentosos iriam continuar a virem para o estado, apesar de, e talvez por causa de impostos mais elevados para financiar serviços públicos. 2010 seria o último ano de mandato do governador Schwarzenegger, por isso no início do ano suas ações foram na direção de garantir a saúde fiscal a longo prazo da Califórnia. Na parte final, o artigo faz umas inflexões no sentido de que o governador poderia fazer uma reforma fundamental que era impopular com os seus e alguns opositores, ou permitir que o status quo persistisse, adiando uma resolução para um momento mais adequado, ou ainda, conciliar a sua visão com a dos legisladores.
Dessa forma, o artigo, pela qualidade do material apresentado e pela propriedade do tema examinado, torna-se uma leitura indicada não só para profissionais, pesquisadores ou formuladores de políticas públicas, como também para o público em geral por ser de leitura fácil e compreensão lógica dos assuntos abordados.

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