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FUNÇÃO RENAL Os rins desempenham diversas funções: • Órgãos excretores: substâncias em excesso no plasma (rim filtra o plasma) e substâncias nocivas • Órgãos reguladores: mantém determinada constância no volume e na composição dos líquidos corpóreos • Órgãos endócrinos: produzem a renina, a eritropoetina e o 1,25-diidroxicolecalciferol (vitamina D ativa) Cada rim contém: • Aproximadamente 800.000 néfrons • Glomérulo • Cápsula de Bowman • Túbulo contorcido proximal (TCP) • Túbulo contorcido distal (TCD) • Túbulo coletor • Ducto coletor • Alça de Henle (AH): ramo fino descendente, ramo fino ascendente e ramo espesso ascendente Testes da função renal: Testes bioquímicos no sangue: 1) Uréia É um composto nitrogenado não proteico livremente filtrado pelos glomérulos e passivamente reabsorvido pelos túbulos renais. A taxa de reabsorção é inversamente proporcional à taxa de filtração glomerular. Elevação da concentração de uréia plasmática: Diversos fatores podem elevar a uréia plasmática: • febre (↑ catabolismo tecidual), exercícios, inanição, uso de corticosteróides, dieta rica em proteínas, desidratação, diminuição da função cardíaca, hipovolemia, etc • A uréia pura e simples não é um bom marcador da função renal. 2) Creatinina • É um composto nitrogenado não protéico produzido primariamente nos músculos num processo constante no dia-a-dia • A filtração glomerular é a maior variável que determina a excreção e o controle da concentração plasmática da creatinina Elevação da concentração de creatinina plasmática: • Lesões musculares podem elevar os níveis de creatinina no plasma • Como a maior rota de eliminação da creatinina é a filtração glomerular e como ela não é reabsorvida nos túbulos renais, a creatinina constitui um bom marcador da função renal 3) Fósforo • Os rins eliminam fósforo na forma de fosfato, sendo que 95% do fósforo é filtrado no glomérulo. Ocorre reabsorção controlada pelo paratormônio nos TCP e TCD Elevação da concentração de fosfato no plasma: A retenção de fosfato no plasma é uma característica importante da diminuição da taxa de filtração glomerular. Entretanto, os níveis de fosfato no plasma são mantidos normais até que 2/3 da função renal esteja comprometida, a partir daí é que seus níveis começam a se elevar Terminologia comum na avaliação da função renal: Doença renal: situação na qual a lesão pode acometer glomérulos, túbulos, interstício e vasos sanguíneos. Pode ou não levar à insuficiência renal, dependendo da extensão, duração e severidade do processo. Nesses casos a função renal ainda está preservada. Insuficiência renal: incapacidade total ou parcial de funcionamento dos rins. Ou seja, significa que 2/3 a 3/4 dos rins estão comprometidos. Até o estabelecimento deste quadro, geralmente o paciente é assintomático Azotemia: concentreção anormal de uréia, creatinina (compostos nitrogenados não protéicos) no sangue. Azotemia pré-renal Azotemia renal Azotemia pós-renal Ingestão de proteínas, diminuição do aporte sangüíneo até o glomérulo, diminuição da pressão arterial, desidratação etc Lesão degenerativas ou inflamatórias glomerulares e tubulares Devido ao aumento da pressão intratubular nos casos de obstrução do fluxo urinário (urolitíase) Uremia: quadro clínico resultante da azotemia O paciente pode apresentar sintomas neurológicos (convulsões, apatia, demência etc), vômitos, úlceras de mucosa e respiração urêmica Anúria: não formação de urina pelos rins Oligúria: pouca formação de urina pelos rins Poliúria: formação de grande volume de urina Disúria: dificuldade de urinar Urinálise: • São testes laboratoriais que avaliam as propriedades físicas e químicas de uma amostra de urina. Além disso, o sedimento urinário é avaliado microscopicamente. • Indicações: - Poliúria, disúria, estrangúria, noctúria; - Hematúria, piúria; - Oligúria, polaquiúria (urinar várias vezes em pequena quantidade). • Resultado depende de: - Quantidade e composição do plasma que chega aos rins. - Funções renais (filtração, secreção e absorção). A amostra de urina: • Coleta: cuidados de assepsia e descarte do primeiro jato • Conservação: deve ser refrigerada até 30 minutos após a coleta e pode permanecer na geladeira por até 6 horas. Deve ser reaquecida à temperatura ambiente antes do exame • Volume ideal = 10ml, mínimo = 5ml. Propriedades físicas da urina: 1. Volume: em condições normais o volume de urina depende da quantidade de resíduos que os rins necessitam eliminar. - Depende de: dieta, ingestão de líquidos, temperatura ambiente e umidade relativa do ar, atividade, tamanho e peso do animal. - Um indivíduo nefropata poderá necessitar de um volume 2 a 4 vezes maior de urina para eliminar a mesma quantidade de solutos que um indivíduo são. 2. Cor: depende de seu conteúdo em pigmentos e da riqueza em matérias dissolvidas, normalmente é amarela devido à presença de urocromos. Outros pigmentos e constituintes podem alterar a cor da urina. • Coloração normal: Amarelo-palha ao âmbar claro. • Pálida ou amarelo-clara: Urina diluída com densidade baixa e associada à poliúria: doença renal terminal, ingestão excessiva de líquidos, diabetes insipidus, hiperadrenocorticismo. • Amarelo-escura ao âmbar: Urina concentrada com densidade elevada e associada à oligúria: Febre, desidratação, nefrite aguda (fase oligúrica). • Cor com significado patológico: presença de sangue (avermelhada) e pigmentos biliares (Alaranjado-âmbar a amarelo-esverdeada: Forma uma espuma quando agitada) 3. Transparência: diversos elementos podem causar turvação da urina, como matérias gordurosas, pus, células de descamação e hemácias. 4. Odor: de pouco valor. • Pútrido: Necrose tecidual de vias urinárias. • Adocicado: Corpos cetônicos - Diabetes mellitus e acetonemia da vaca leiteira. • Amoniacal: Infecção bacteriana. • Odor com significado patológico: Odor amoniacal em crises urêmicas e pútrido em infecções. 5. Densidade: depende da concentração osmolar, isto é, da quantidade de partículas dissolvidas. • É utilizada para verificar a habilidade dos túbulos renais de concentrar ou diluir o filtrado glomerular. • Concentração dos sólidos; • Retrata o grau de reabsorção tubular ou da concentração renal; • Refratometria – uso do sobrenadante após centrifugação. • Influência de múltiplos fatores (ingestão de água, peso, dieta, exercício, idade, condições climáticas, infecções, uso de medicamentos e metabolismo). Densidade Causas NÃO patológicas Causas patológicas Poliúria (densidade diminuída) - Ingestão excessiva de agua - Terapia diurética - Fluidoterapia - Adm de ACTH e corticoides - Diabetes - Doença renal aguda/crônica - Hipoplasia renal - Pielonefrite - Piometra - Hepatopatias - Hiperadrenocorticismo Oligúria (densidade aumentada) - Redução de ingestão - Temperatura elevada - Hiperventilação - Alta atividade física - Desidratação - Febre • Quando os rins perdem 2/3 de sua capacidade funcional, eles perdem também a capacidade de concentrar a urina. A habilidade dos rins de concentrar a urina (>1018) depende de: • produção e secreção adequada de ADH • população suficiente de néfrons funcionais • população suficiente de túbulos para responder ao ADH Faixa de referência muito ampla: 1.015 a 1.045. • Classificação: - Hipostenúrica (menor ou igual a 1.007); - Isostenúrica (entre 1.008 a 1.012); - Hiperestenúria (acima de 1.030 para cães e 1.035 para gatos). está associada à desidratação, baixo consumo de líquidos... • Propriedades químicas: 1.pH: Influenciado pela dieta, sendo ligeiramente ácida (pH = 4,5 a 8,0) - Urina ácida: dietas ricas em proteínas, desnutrição, diarréias graves, acidose diabética, após o uso de medicamentos acidificantes e contaminação por E. coli. Catabolismo de proteínas orgânicas (febre, jejum, Diabetes mellitus); - Urina alcalina: dieta vegetariana, alcalose respiratória ou metabólica, uso de medicamentos alcalinizantes e contaminação por bactérias produtoras de urease 2. Proteínas: A proteína na urina normal não está presente em quantidadesuficiente para ser detectada pela maioria dos testes. Portanto, a urina normal deve ser negativa para proteínas. - Urina concentrada: pode conter “traços” ou até 1+ - Urina diluída: “traços” ou 1+ podem ser significativos A proteinúria deve ser classificada como ‘transitória’ ou ‘persistente’: • Transitória (proteinúria fisiológica): febre, exercício muscular excessivo, convulsão, função renal neonatal, ingestão excessiva de proteínas ou contaminação com secreções genitais. Nesses casos a proteinúria é discreta ou moderada. • Persistente (proteinúria patológica): requer uma definição se a proteinúria é de causas renais ou extra-renais (pré renal, renal ou pós renal). Pré renal: doença primária não renal. • Congestão renal passiva crônica: ICC leva ao aumento da pressão hidrostática venosa e alteração na permeabilidade glomerular . • Hemólise intravascular: o aumento da liberação de hemoglobina ultrapassa a capacidade de reabsorção tubular • Doença muscular: aumento da liberação de mioglobina • Neoplasias: proteína de Bence Jones (imunoglobulinas originárias da neoplasia) * Alterações: Hemoglobinúria, mioglobinúria γ - Globulinúria Renal: • Lesão glomerular (glomerulonefrites): a albumina é a principal proteína nessas situações. É acompanhada de achados característicos no sedimento urinário. • Lesão tubular (nefrites): a proteinúria ocorre em função da diminuição da reabsorção tubular, sendo as globulinas mais presentes. Também é acompanhada de achados característicos no sedimento. * Alterações: Nefrose / Cistos renais / Glomerulonefite/ Nefrite / Pielonefrite / Neoplasias / Hipoplasia Pós renal: • Doenças das vias urinárias baixas: cistites, uretrites, metrites e prostatites. 3. Glicose: toda glicose filtrada é reabsorvida nos túbulos renais, de forma que normalmente não se detecta glicose na urina. - Ocorre glicosúria (fisiológica, farmacológica, patológica) quando a concentração plasmática de glicose supera 170 mg/dL - Glicosúria fisiológica: Geralmente é transitória e ocorre após o estresse, quando ocorre liberação de adrenalina e corticosteróides, que mobilizam os estoques de glicogênio do fígado. - Glicosúria farmacológica: Pode ocorrer após administração de soluções ricas em glicose, após administração de corticosteróides, ACTH, glucagon, adrenalina e morfina. - Glicosúria patológica: Glicosúria hiperglicêmica: situações em que se verifica aumento da glicose sangüínea: • Diabetes mellitus • Pancreatite • Hiperadrenocorticismo • Lesões no SNC • Feocromocitoma • Ingestão excessiva de açucares; • Administração parenteral de adrenalina - Glicosúria normoglicêmica: nesses casos não há aumento da glicose sangüínea: • Lesão nos TCP que dificultam reabsorção • Síndrome de Fanconi: incapacidade dos TCP de reabsorver glicose • Insuficiência renal aguda com lesão tubular 4. Cetonas: a urina normal é negativa. As cetonas constituem o produto final do metabolismo das gorduras. Apesar de levemente tóxicas, são usadas como fonte de energia quando os carboidratos não estão disponíveis - A avaliação das cetonas na urina é importante no manejo do paciente com diabetes mellito para detectar o desenvolvimento de cetoacidose metabólica. • Cetonúria Decorre de cetose ou acetonemia: - Acidose; Jejum prolongado; Hepatopatias; Febre em animais jovens; Diabetes mellitus; Vacas leiteiras – balanço energético negativo; Ovelhas prenhes – hipoglicemia. 5. Bilirrubina: normalmente a bilirrubina não está presente na urina. - A bilirrubinúria pode ocorrer em casos de hemólise; doença hepática ou obstrução biliar; disfunções renais; Hepatopatias (Hepatite infecciosa canina, leptospirose, neoplasias.) - A detecção de bilirrubinúria precede a icterícia 6. Urobilinogênio: normalmente a urina contém alguma quantidade de urobilinogênio. • Ausência ou diminuição: Distúrbios intestinais de reabsorção (diarréia). • Aumento: Hepatopatia com incapacidade funcional de remoção do urobilinogênio da circulação, cirrose hepática e icterícia hemolítica. 7. Hemoglobina: a presença de hemoglobina deve ser interpretada junto com o sedimento urinário. - Hemoglobina positiva na fita e ausência de hemácias no sedimento: hemoglobinúria ou mioglobinúria ou hemólise na urina muito diluída ou alcalina. - Mioglobinúria: • Lesões musculares ou exercícios prolongados • Choque térmico ou elétrico • Intoxicações por veneno de cobra de natureza proteolítica. 8. Nitritos: a urina normal é nitrito negativa. A presença de bactérias patogênicas na urina reduz o nitrato em nitrito. - A presença de nitrito na urina recente é um indicativo de infecção urinária e um teste de cultura deve ser pedido
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