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O resgate da história indígena na Paraíba - Notas para uma pesquisa etnohistoriográfica (Melo 1999)

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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
O RESGATE DA HISTÓRIA INDÍGENA NA PARAÍBA 
NOTAS PARA UMA PESQUISA ETNOHISTORIOGRÁFICA 
Josemir Camilo de Melo* 
Introdução 
Este artigo .é uma proposta de pesquisa para resgatar a 
identidade indígena a partir dos cônflitos de terra. Achamos 
importante fazer esta análise tendo o próblema da terra como motor, 
porque, no caso exclusivo da Pataíba, uma pequena amostra dos 
conflitos de terra, nos indica que boa pàrte deles vem ocorrendo em 
antigas áreas indígenas, como no antigo território dos Tabajara 
(Alhandra, PB) e dos Potiguara, com invasão até de agroindústria na 
comunidade indígena de Baía da Traição. Uma proposta futura de 
pesquisa poderá ser exatamente fazer este levantamento das áreas de 
conflitos e mapeá-las de acordo com · as localizações dos povos 
indígenas 1• 
Só como exemplo destes conflitos, em 1992, no Nordeste, 
foram mortos três indígenas (Xukuru e 2 Atikum) dos 11 que estavam 
envolvidos com conflitos de terra, em Sergipe, Alagoas, Pernambuco 
(e Paraíba, se se considera a ligação Xucuru/Sucuru). As tribos 
vítimas, além destas duas acima, foram Fulni-ô e Kambiwá, em 
Pernambuco, Karapotó, Kariri-Xokó e Wassu em Alagoas e Xokó em 
Sergipe. Daí, ser importante se questionar: Onde estão os índios 
paraibanos? Quantos eram? O que foi feito de suas terras? O que 
sugerimos neste artigo são notas para um roteiro de pesquisa, a fim de 
que se faça a Etnohistória dos indígenas paraibanos, principalmente 
dos Cariri 2• 
• Professor do Departamento de História e Geografia, UFPB, Campus II, 
Campina Grande, Paraíba. 
CAMILO, Josemir. Jornal da Paraíba, Campina Grande, 26/4/96. 
Retomamos, aqui, a idéia de artigo anterior Terras e Índios em 
Pernambuco (Século XIX) (Ver bibliografia). 
2 Conflitos no Campo em 1992. Con1issão Pastoral da Terra (Recife), p.61. 
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
196 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
A idéia é também a de verificar o genocídio perpetrado sobre 
a população indígena nordestina, já que hoje na Paraíba, por exemplo, 
só há uma comunidade Potiguara, daqueles 100 mil que Moonen 
calcula para 1500. Sobre a população indígena do Brasil quinhentista, 
as fontes são dispersas; Berta Ribeiro dá a estimativa de 1 milhão, 
enquanto Moonen estima em 4 milhões. Quantos seriam os Potiguara, 
hoje? Baseado num percentual de estimativa de Berta Ribeiro (36%) 
aplicado sobre a população de antes da guerra holandesa, os 
Potiguara, na Paraíba, seriam . em tomo de 5.700. No entanto, foi 
observado um crescimento e há uma estimativa de ·que hoje seriam 
cerca de 7 mil pessoas, vivendo em 27 hectares3 • 
O ÍNDIO NA HISTORIOGRAFIA REGIONAL 
Ao ler compêndios de História da Paraíba e/ou Histórias 
Municipais, salt~-nos à vista, como tem. sido lacunar e preconceituosa 
a pesquisa histórica sobre as populações indígenas da Paraíba. Pelo 
menos dois grandes ·povos habitavam o litoral e mata atlântica, . os 
Potiguara e os Tabajara, enquanto uma variedade de tribos compunha 
o povo Cariri, da Serra da Borborema para o sertão. 
Em a História do Ingá, por exemplo, uma obra para o 2° grau, 
as autoras se limitam a 3 páginas sobre os índios, mas usando uma 
frase de um pesquisador paraibano, onde se generaliza, dizendo que 
de Guarabira a Pedras de Fogo e toda a área da caatinga litorânea, até 
Umbuzeiro era "terra desocupada ( ... )" na época da conquista. 
Nenhuma aldeia por aquelas bandas nem mesmo no lngá". Citam, em 
seguida a Balduino Lélis que contraria Almeida, dizendo que havia 
índios que "habitavam a Serra do Boçlopitá, ou Serra Velha, como 
hoje é chamada pelos ingaenses ... ". Em Uma História de Pedras de 
Fogo, as autoras repetem o mesmo número de páginas e as mesmas 
informações lacunares sobre os fndios4, mas já esclarecem a divisão 
Tupi/Je (tapuia) para mostrar que os 5.000 Tabajara vindo do São 
3 RIBEIRO, Berta. Quantos Seriam os Índios das Américas? Ciência Hoje, 
Ano 1, n. 6, maio/junho, 1983, p. 54.-60. MOONEN, Frans e MAIA, 
Luciano Mariz (Org.). EtnoHistória dos Índios Potiguara, p. 21 ; 
RODRIGUES, Elinaldo. Potiguara. A Nação Indígena Luta para não 
Sucumbir. A União, João Pessoa, 21/4/96, p.4. 
4 CA V ALCANTI et al. Uma História do lngá. João Pessoa, UFPB, 1993; 
CA V ALCANTI et al. Uma História de Pedras de Fogo. João Pessoa, 
UFPB, 1993 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAÍBA 197 
Francisco, por volta de 1584, ao se alojarem na área na mata atlântica 
teriam entrado em conflitos com os Potiguara. 
' . 
_Com exceção do livro EtnoHistória dos lndios Potiguara de 
Frans Moonen e Luciano Mariz Maia, ninguém tem tratado dos 
indígenas paraibanos, apesar de centenas de sítios rupestres terem 
sido descobertos, nas últimas décadas, comprovando a existência de 
comunidades primitivas. Há poucos estudos de etnohistória da 
' 
Paraíba, alguns em fase inicial, como o de José Elias Borges lndios 
Paraibanos - Classificação Preliminar. Na parte de arqueologia, um 
documento muito importante tem sido o livro de Ruth Trindade, Arte 
Rupestre nos Cariris Velhos, para o mapeamento daquelas 
comunidades5 • 
Ora, existe documentação de missionários cheia de descrição 
dos primeiros conflitos que os brancos travaram para usurpar a terra 
indígena. Em História da Conquista da Paraíba, "por um da 
Companhia de Jesus", o povo Potiguara era o maior e mais guerreiro 
do Brasil, que ocupava da Paraíba ao Maranhão e que trabalhava a 
"fazer pau" para os franceses e que num entrevero com os invasores, 
os Potiguara mataram 400 índios que andavam com as tropas 
portuguesas. Os brancos achavam que os Potiguara passavam dos dez 
mil homens, sob a liderança de Piragibe, Braço de Peixe6 • 
Além destes Potiguara, há referência aos Tabajara na primeira 
descrição do fenômeno das secas no Nordeste, feita pelo jesuíta 
Antônio Pires, em 1552. O pro~lema da transumância indígena nos é . 
relatada: "( ... ) os quais de livre vontade se ofereciam a servir aos 
brancos e ·lhes cultivavam as terras de graça, ou por pouco mais de 
nada; principalmente em um ano que houve muita fome na Paraíba, 
donde só pelo comer se vinham meter por suas casas e servi-los" 7• 
5 TRINDADE, Ruth. A Arte Rupestre nos Cariris Velhos. UFPB, 1979; 
' BORGES, José Elias. Indios Paraibanos - Classificação Preliminar. ln: 
• 
OCTA VIO, José e RODRIGUES, Gonzaga '(Org.). Paraíba. Conquista, 
Patrimônio e Povo. 1993, p . 21-42. 
6 História da Conquista da Paraíba, p.26, 36, 42 e 52. 
7 COSTA PORTO, José da. O Pastoreio na Formação do Nordeste, p. 45, 
apud GAREIS, Maria da Guia Santos et ai. . As Secas no Nordeste 
Brasileiro no Período Colonial. Cadernos Nordeste em Debate, n. 3, 
p. 11-24. 
198 rNDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
Fernão Cardim também relata que: "O ~no de 1583 houve tão 
grande seca e esterilidade nesta província (coisa rara e 
desacostumada, porque a terra é de contínuas chuvas) que os 
engenhos d'água não moeram muito tempo, e as fazendas de 
canaviais e mandioca secaram, por onde houve grande fome, 
princ~palmente no Sertão de Pernambuco, pelo que descenirn do 
Sertão apertados pela f orne socorrendo-se aos brancos quatro ou cinco 
mil indios; porém passado aquele trabalho da fome, os que pud~ram 
se tomaram ao Sertão, exceto os que ficaram em casa dos brancos 
ou por sua ou sem sua vontade"8 • . · . 
. . . 
Os períodos de grandes secas foram sempre de lutas entre os 
índios que se confederavam em defesa da ·própria subsistência e o 
colonizador que mobilizou suas forcas, entregando-as a um chefe, às 
vezes, também índio, com o objetivo de exterminar o nativo, sob a 
acusação de devastar fazendas~ . destruir o gado e eliminar pessoas. 
Essas lutas atingiram seu ponto culminante entre 1670 e 1690, 
estendendo-se até os últimos anos do século XVII. Em 1692, os 
índios que tinham se refugiado da seca, nas serras, desceram e 
tomaram várias f~zendas de assalto, dando continuidade ao que ficou 
conhecido pela historiografiados brancos, de Guerra dos Bárbaros, 
que teria durado, de uma maneira geral, segundo Borges, cem anos9• 
Todavia, durante o século XVIII, o colonizador permaneceu 
perseguindo os indígenas, especialmente nos momentos de grandes 
secas, já que estas forçavam o povo indíg~na a emigrar, dentro do seu 
nomadismo, de que se aproveitavam os brancos parà a perseguição e 
destruição dos índios, mas para solicitar ao Rei e prepostos datas de 
sesmarias, sob a alegação de <?S índios haviam abandonado as terras. 
ÍNDIOS DA MATA ATLÂNTICA 
Na mata litorânea estavam os Tupi divididos em Tabajara 
(que viviam em tabas) e Potiguara (os comedores de camarão), além 
dos Caeté (mata virgem), antropófagos, em Pernambuco. Todas as 
8 CARDIM, Fernão. Narrativa Epistolar de uma Viagem e Missão 
Jesuítica. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1902, p. 
15, apud GAREIS, Maria da Guia Santos et ai .. As Secas no Nordeste 
Brasileiro .no Período Colonial. Cadernos Nordeste em Debate, n. 3, 
p. 11-24. 
9
· JOFFILY, Ireneo. Notas sobre a Paraíba, apud GAREIS, p. 15; BORGES, 
José Elias, op. cit., p.22. 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAISA 199 
aldeias ao sul ·do Cabo Branco seriam dos Tabajara. Os Potiguara iam 
·da margem esquerda do Paraíba ate a lbiapaba, no Ceará. Foram 
aliados dos franceses na Bahia da traição e, depois, na guerra 
holandesa auxiliaram os portugueses sob a liderança de Poty. Eram 
Potiguara: Mamanguape, Camaratuba e Bahia da Traição. Piragibe 
(Tupiniquim) vivia no rio São Francisco (segundo Fr. Vicente) e de lá · 
foi expulso pelos portugueses e se passou para a Paraíba. Supõe 
Capistrano que ele teria vindo seguindo o Moxotó, transpondo o 
boqueirão do Comoió e descendo o Paraíba 10• 
• 
Maximiano Lopes Machado em sua História da Província da 
Paraíba, utilizando-se de fontes originais, como a "Relaçam Annual , 
das Cousas que Fazem os Padres · da Companhia de Jesus na India 
Oriental & ( ... )"do Padre Femam Guerreiro, datada de 1603, nos traz 
alguns elementos de compreensão, embora lacunares. Em 1600, na 
Paraíba, os brancos, minoria, viviam cercados por 16 aldeias dos 
Potiguara, com cerca de 15 ou 16.000.almas, (ou 20 mil, no combate · 
da Bahia da Traição, em 1585) mais umas seis àldeias Tabajara com · 
pouco mais de .1.600 almas. Estavam vivendo uma paz provisória . 
devido ao acordo com os chefes indígenas Pau Seco e Sorobabé · 
(havia uma ilha no São Francisco com essa denominação), com .a 
·intervenção do chefe Ilha Grande e de frei Bernardino das Neves 11 • 
Os Potiguara já estavam amansados, isto é, catequizados, pois 
mostravam "alegria com a ida dos padres ( 1606) e ·assim os vinham 
receber muito longe, alimpando os caminhos e ruas: vinham diante as 
moças e de repente saíram de suas emboscadas com tambores e 
festas. Depoi~ vinham os homens, e perto das aldeias os principais e 
as mulheres( ... ). Mostraram-se muito conhecidos agradecidos dos 
bens que os padres lhes. tinham feito, assim em serem os medianeiros · 
nas pazes entre eles e os brancos, como em os virem agora encaminha 
para o céu( ... ). Como ao tempo, em que os padres chegaram a estas 
aldeias era já morto o Pao-Seco, principal gentio de todo este sertão, e 
fronteiro da Paraíba, vieram seus filhos e seu irmão (que é agora o 
principal) esperar os padres ao .caminho. Não se quis ele apartar dos 
padres desde a primeira povoação, onde os esperou até a terceira, 
10 ABREU, J. Capistrano de. (Prefácio) Notas sobr~ a Paraíba, de Ireneo 
Joffily, p. VIII e IX; JOFFILLY, op. cit., p . . 21 a 23; Aurélio, em seu 
dicionário, dá os Tabajara como tribo da Serra da lbiapaba (CE). 
11 História da Província da Paraíba, p. 330; História da Conquista da Paraíba 
(por um Jesuíta Anônimo ), ·p. 78. 
200 INDIOS DO NORoe·sre: TEMAS E PROBLEMAS 
mostrando-lhes muito amor e o desejo de os ter pQr mestres de suas 
aldeias ( ... ).Vinham entre eles o principal dos Potiguara, chamado 
Ma~ouba, ao qual perguntando aos padres, porque vinham cansar 
tão longe, respondeu: 'pois que· o padre vem cansar por amor de mim, 
não é muito cansar eu por amor dele'" 12• 
Toda esta aparente união permitia aos brancos o uso da mão 
d.e obra . indígena seja como guerreiros, seja como defesa de 
expedições exploradoras. Em 1614, por exemplo, chegou a Paraíba 
Jeronymo D' Albuquerque com 5 caravelas para conduzir um corpo de 
índio contra os invasores do Maranhão e o fez suprimindo ou 
incorporando algumas aldeias. Em outra traição dos brancos, os 
índios Potiguara convertidos que tinham sido mandados em defesa da 
Bahia (em 1624) quando voltaram foram reduzidos à escravidão. 
fy.tenos donos naturais das terras, majs terras para brancos. Mas Poty e 
sua descendência foram mantidos · como governadores e mestres de 
campo dos índios, principalmente sobre os Tabajara. Mas uma 
inteligente armação dos colonialistas 13• , 
Martim Soares ·Moreno também foi outro que se utilizo~ de 
mão de obra indígena quando fora encarregado de explorar as costas 
do Jaguaribe. Teve .sucesso por sua amizade com Jacaúna ohefe da 
principal tribo daquelas paragens. No entanto, quando, no final do 
século XVII, Pedro Coelho de Souzél partiu para .uma expedição 
exploradora em busc~. de prata na seria da lbiapaba, com 80 brancos e 
800 índios, pelo mar até o Ceará e por terra, foi atacado pelos Tapuia 
comandados por Mel-Redondo e pelo francês Montbille, que vivia 
entre eles. Foi até· o Pi~uí e voltou ao Jaguaribe para fundar uma 
colônia. Vendia índios para fazer dinheiro e vendeu ate os que o 
tinham acompanhado. Os índios reagiram e ele teve de fugir de lá 
perdendo a família. Este comandante tinha propiciado um beneficio 
aos brancos, ao desalojar 800_ índios de suas aldeias na zona da niata 
tabajarina e portiguar, cujas terras obviamente foram ocupadas por 
novos ·engenhos e canaviais14• 
A iweja é chamada para pacificar os Tapuia de lbiapaba. Os 
jesuítas de Pernambuco mandaram dois padres, Luís Figueira e 
12 Maximiano ~opes Machado. História da Província da Paraíba, p.129-130. 
13 Frei Jaboatão, p. 4, apud Machado p. 135; Abreu e Lima, Synopse ... p.68, 
apud Machado, p. 133. 
14 Abreu e Lima, op. cit, p. ·67, apud MACHADO p. 132 e 134. 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAIBA 201 
Francisco Pinto, com 60 índios "mansos", parentes dos de Jaguaribe, 
cujo destino final seria o Maranhão. Os Tapuia reagiram e botaram 
para correr 40 índios que tinham vindo com os padres, mataram o 
religioso Francisco Pinto, enquanto o outro conseguiu fugir15• 
Na Paraíba, as tabas iam sendo esvaziadas, virando aldeias 
missionárias, manipuladas por poucos religiosos, como fizeram os 
frades de Santo Antônio passando para as de Jacoca (Conde) e 
Ipopoca (Alhandra) os aldeados de outras partes e dar a elas função 
permanente com igreja, convento e casas com disposição regular de 
espaço na aldeia, numero crescido de moradores, obras permanentes, 
autoridades civil e religiosa etc. A política colonialista era de misturar 
os índios de tribos e nações diferentes, como nos mostra Borges, em 
que 13 povos foram transportados para aldeias missionárias em região 
diferente daquelas em que viviam. No século XVIII, as terras férteis 
da mata atlântica sul da Paraíba, onde estavam aquelas aldeias 
missionárias, viraram as vilas do Conde ( 1768) e de Alhandra 
(1758) 16• 
A guerra colonial contra os holandeses foi outro momento de 
disrupção do pouco que restava das tribos indígenas do litoral e zona 
da mata. Tabas e aldeias missionárias eram cooptadas à força ou por 
falseamento ideológico (católicos versus calvinistas), fazendo com os 
índios servissem a um ou outro senhor como bucha de canhão, 
dispersando-se mais ainda as suas terras. O jesuíta Manuel de Moraes, 
por exemplo, que tinha influência entre índios aldeados se passou 
para os holandeses e virou calv.inista levando consigo os índios para o 
outro lado da guerra. As forças da terra queimaram os canaviais e 
retiraram das aldeias os índios de Pernambuco, já que os de Goiana 
tinham passadopara o lado dos holandeses. Os Potiguara vingaram-se 
dos portugueses, aliando-se aos holandeses, embora Poty fos~e aliado 
dos portugueses. 
As aldeias ao sul da sede da capitania da Paraíba foram 
atingidas em cheio pelo impacto da guerra holandesa. Assim, ficaram 
do lado holandês: Tapuá (ltapuá), a 1 O léguas a oeste da sede da 
capitania, e que tinha por chefe Francisco Goipeba; Jaraguassu, 
15 MACHADO, op. cit., p. 133; BARROS, Paulo Sérgio. Cultura e 
Resistência Indígena na Historiografia da Conquista. Clio, 1993, p. 187-
212. 
16 MACHADO, op. cit., p. 137/139; BORGES, op. cit., p. 36/7. 
202 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
3 léguas ao noroeste da sede, indo até as cabeceiras do riacho 
Pitimbu, sob o Capitão Francisco Araduy; Jacuípe, 4 léguas ao 
sudoeste, do Capitão João Javaraty e Yapuan ou Igapuan, 5 léguas ao 
norte, pontal de Lucena, sob o Capitão Francisco Pavaraya. As aldeias 
de Jacoca, 4 léguas ao sul, no caminho de Goiana, sob a chefia do 
Capitão Diogo Botelho e Pindaúna, 6 léguas ao sul, na margem do rio 
Gramame, sob o Capitão Manibapu, ambas seguiram com as forças da 
terra. No interior, os Cariri do poderoso chefe Janduy auxiliaram 
algumas entradas de holandeses ao Rio grande do Norte17• 
Segundo Elias Herckmans, tanto a aldeia indígena de Jacoca 
como a de Pindaúna, eram Potiguara, cuja dominação iria até o rio 
Gramame. E aí, ele conta uma lenda a respeito do nome do rio, 
oriunda de um grupo Potiguara, ali , acampado para um ritual · 
antropófago. Estas duas aldeias foram "abandonadas" em 1836. Os 
holandeses esvaziaram as aldeias. ao sul do Cabo Branco e levaram os 
índios para Frederica, para trabalharem e defenderem a vila. Com o 
desassossego do indígenas, os holandeses os levaram de volta mas 
criando uma aldeia artificial, Maurícia18• , 
Herckmans, em nenhum momento se refere ao povo Tabajara, 
chamando a todos os índios da área ocupada pelos holandeses, de 
Potiguara. O único adversário destes seriam os Tapuia, do interior e aí 
conta "estórias" de indivíduos Tapuia em. relação sexual/social de 
aceitação ou rejeição para com os Potiguara. Cenas de sodomia com 
Tapuia, casamento de filha de cacique com Tapuia preso e pronto 
para ser comido, assado, ou cenas amorosas de uma Potiguara nos 
braços de um Tapuia, que Herckmans. faz questão de gravar . a 
expressão indígena: "t 'cheakoka!", abraça-me! Também se refere à 
Baia da Traição em seu nome primitivo de Tibira Caiutuba (ou 
segundo ele, Cajueiro da Sodomia)19• 
Após a guerra, em tempos normais, os naturais donos das 
terras também perdiam suas propriedades coletivas, bastando apenas 
uma carta régia. Para ·firmar a posse de umas terras ao sul da capital 
da Paraíba, em mãos da ordem dos beneditinos, o governo reservava 
no centro da sesmaria dos índios de Jacoca meia légua de terra em 
17 MACHADO, op. cit., p.157 e HERCKMANS, Elias. Descrição Geral da 
Capitania da Paraíba, p.40. 
18 HERCKMANS, op. cit., p. 23-24. 
19 HERCKMANS, op. cit., p.23. 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDÍGENA NA PARAÍBA 203 
quadro para a capela mandando . inteirar a sesmaria dos índios em 
terras confinantes. Talvez seja a teua reivindicada pelos Tabajara em 
161420 • 
Entre 1687 e 1692 a Paraíba sofreu peste e fome, 
principalmente com a seca de 1692. O povo invadiu a capital , 
esmolando. lndios do sertão do Rio Grande do Norte ameaçaram de 
invasão a sede da capitania e já tinham se assenhorado do Açu. O 
capitão-mor da Paraíba enviou índios para combater os índios do Rio 
Grande do Norte,. reforçado com africanos e soldados21 • 
Não parece ter melhorado a vida do Tabajara e do P~tiguara 
em todo restante período colonial, já que a imigração branca e o 
crescimento da agricultura canavieira enxotou-os para o interior ou 
obrigou-os a uma miscegenação, em geral, com o negro, ou sob 
violência sexual dos brancos sobre mulheres índias. Sendo obrigados 
a viverem em aldeias missionárias, começava aí o etnocídio, como 
bem sintetizam Moonen e Maia, já que os índios, eram tidos como 
livres e que por isso dev,riam ser empregados pelos brancos em, pelo 
menos, 6 meses do ano, porque no resto, deveria trabalhar em suas 
roças, o que é uma maneira de os brancos manterem o latifúndio 
canavieiro, auxiliado pela pequena pro<;Iução para subsistência. 
Deveriam receber algum com pagamento pelo tipo de trabalho que 
não fazia parte de sua vida. Moravam em casas isoladas e não mais 
em cabanas coletivas e deviam se vestir como brancos. Podermos 
perceber a gradativa extinção da cultura indígena através de cerca de 
150 leis colonialistas, como o Alvará de 1700, que reconhecia o 
problema dos ataques indígenas, a usurpação de suas terras e, para 
conter os índios, mandava doar uma légua de terra para cada aldeia de 
100 casais. O que parece não ter surtido efeito, pois em 1731 os 
índios estão revoltados na Paraíba22• 
Gradativamente, os índios foram sendo cooptados e obrigados 
a se engajarem na sociedade colonial, como pequenos produtores, 
camponeses. Arruda Câmara, em 1809, falando sobre a almécega 
(resina de aroeira e outras plantas), diz que havia bastante para a 
20 MOONEN, Frans e MAIA, Luciano Mariz (Org.). EtnoHistória dos 
Índios Potiguara, p .50; Carta Régia de 7 de setembro de 1695, apud 
MACHADO p. 267 
21 MACHADO, op. cit., p.275-6. 
22 MOONEN, op. cit., p . 16 e 43; Ver anexos. 
204 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
venda em Goiana e que boa parte dela vinha de Alhandra e Jacoca 
porque são os pouco "numerosos" os índios que por lá restam que 
preferem colher a resina nas árvores e vender por 20 ou 40 réis a libra 
e "vagarem pelos bosques a colherem frutos e produções silvestres 
( ... )contudo preferível por eles ao de agricultura, a que se subtraem o 
mais possível"23 • 
Quando do registro de terras, após a publicação da Lei de 
Terras de 1850, o Patrimônio dos índios de Alhandra e Jacoca, são 
verdadeiras ilhas, cercadas de propriedades privadas, onde, em média, 
o preço da braça quadrada de terra poderia ter chegado a 30 mil-réis, 
como em Santa Rita, por volta de 1856, de igual fertilidade24• 
Era a triste sorte de um povo, cujos titulares eram escolhidos 
a dedo pelos brancos, como D. Antônio Domingos Camarão capitão 
mor, governador dos índios, uo !ebento de índios notáveis pelas 
elevadas posições a que atingiram, e por seus títulos e valor pelas 
armas ... ", sobrinho-neto de Camarão, da guerra holandesa; seu pai D. 
Diogo Pinheiro Camarão, seu avô D. Sebastião Pinheiro Camarão. 
Não só fazia o papel de defensor de sua gente, como até impedia o 
surgimento de outras lideranças: "Muitos índios soldados deste Terço . 
andam derramados por todo Pernambuco e Paraíba por inobedientes, 
criminosos e mal procedidos ( ... )" para o que solicitava intervenção 
do Rei para que os capitães-mores não consentissem "índios do meu 
Terço, ou das Aldeias que a mim estão subordinados em suas 
freguesias por mais de oito dias, sem ordem de seus Cabos por escrito 
e passados estes os mandem prender e os remetam para a cadeia da 
praça para me serem entregues e podê-los castigar para exemplos dos 
aldeados ( ... )", em seguida solicitava que o rei confirmasse por 
decreto a demarcação das terras indígenas que Dom Lourenço de 
Almeida mandara fazer5 • 
Já portador de uma visão de branco, ele escreve, da aldeia de 
Aratagui, junto ao rio Papoca, na Paraíba, a 23 de dezembro de 1723: 
"Entrando no governo dos índios destas capitanias, ( ... ) pus todo o 
cuidado em compor as aldeias e ajuntar esta gente do meu governo 
que se achava remontada do regímen e do culto da fé católica, 
B PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais Pernambucanos, v. 7, p.256. 
24 L YRA TAVARES, João de. Apontamentos para a História Territorial da 
Paraíba, p. 252. 
25 PEREIRA DA COSTA, v. 5, p.328/9 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAISA 205 
servindo de vagabundos pelos sertões, esquecidos do serviço militar e 
do exercício de cristãos; ( ... ) alguns moradores que os tem por suas 
fazendas cercados do interesse de se servirem deles;e mandando 
prender alguns casais que andavam derramados nas partes da 
capitania da Paraíba para os congregar nas donde pertenciam( ... ) e no 
que toca ao mais da administração dos índios do meu governo ( ... )"26 • 
Este Potiguara não foi o único a governar os Tabajara. Todos 
os capitães mores governadores dos índios tinham sido, até então, 
descendentes de Poti Camarão. Seu destino, no entanto, 8 anos 
depois, quando não mais era útil aos brancos, foi preso, acusado de 
não querer dar posse a outro índio nomeado pelo rei como capitão de 
uma das aldeias. Em 1733, enquanto Camarão estava preso, foi 
'extinto o posto de governador dos índios para que cada aldeia tivesse 
o seu próprio capitão. Assim mesmo, a família continuava com certo 
poder, pois em 1752, havia um Jéronimo de Lira Camarão no posto de 
sargento-mor da aldeia de Jacoca. 
OSCARIRI 
O escritor que primeiro usou o nome Cariri foi Cardin, em 
1584, publicado em 1625 ano de sua morte. Elias Herckman e Roulox 
Baro escreveram sobre os Cariris e há um extrato de Macgrav. 
Gabriel Soares, em 1587 dá o rio Jaguaribe (Ceará) como divisor de 
território dos Tapuias e Pqtiguara. Já Martius disse que nenhum outro 
grupo deu mais trabalho para sua classificação que os Kiriri-sabuja 
(Sabuji? Há o topônimo na Paraíba) que apresentavam um enigma, 
que tendo se espalhado da Bahia para o norte, pelo sertão, com os 
Sabuja seus parentes, tinham agricultura, tecidos e a cerâmica dos 
índios da Amazônia. Dividiam-se em 2 grupos Dzabucua, no S. 
Francisco e Kippea daí até o Ceará. Talvez até o litoral do Piauí, se os 
Tremembé faziam parte deles. Na Bahia, eram conhecidos como 
Cariri ou Kiriri. Os Tapuia, que vivam no litoral, teriam sido expulsos 
pelos Tupiniquin, que por sua vez foram expulsos pelos Tupinambá. 
Um grupo dos Tupinambá apertado entre os Tupiniquin e Tapuia se 
passou para outro lado do São Francisco (os Amoipira). Seriam Kiriri 
as aldeias fundadas pelo padre jesuíta João de Barro, na Bahia como 
Canabrava, Saco dos Morcegos, Natuba e Juru. Por volta de 1630; 
carmelitas franceses aldearam outros no São Francisco e na Paraíba. 
Martius diz que a zona dos Cariris é do S. Francisco a Acarau (Ceará). 
26 PEREIRA DA COSTA, v. 5, p. 329/332. 
206 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
Depois de 80 anos de ocupação branca no litoral da Paraíba é 
· que se tentou ade.ntrar o território dos Cariri. A aldeia mais perto da 
sede da capitania tomou-se a do Pilar, 12 léguas; havia outra na 
Borborema, no lugar Bultrins, com índios assim denominados. O 
vigário C. Ramos descobriu, no século XIX, uma uma funerária em 
Alagoa do Monteiro, provavelmente Cariri, e na serra da Canastra, 
limites de Areia e Campina Grande haveria um cemitério indígena, 
visitado, então, pelo próprio Joffily. 
Borges discorda da análise de Joffily sobre os Cariri e mostra 
que o povo dominante, vulgarmente chamado de Tapuias, no interior 
da Paraíba, era, de fato, o povo Tarairiu. Para isto arrola nove provas 
bem interessantes. O povo Cariri habitava "uma região elevada e fria" 
(Joffily), a Borborema. Lá estavam os Sucuru, tribo Cariri, que 
ocupavam o ·que é hoje Monteiro, São João do Cariri, até Teixeira, 
serra de Ororobá, Cimbres e Sumé. Havia os Cariri-bultrins 
(conhecidos como), em uma sesmaria patrimônio de aldeia na 
comarca de Campina Grande, serra de Bodopitá, até a serra dos 
Cariris e viviam também em missões do Padre Nantes (onde?) e na do 
Pilar. Os Ariú (''ou Areás", sic) e Pega (que resistiram aos 
bandeirantes - Pombal começou como aldeia dos Pegas que também 
eram do Rio Grande do Norte), nos rios Pinharas, Sabugi e alto 
Piranhas; os Icós (Ceará) tinham território até na Paraíba, o rio do 
Peixe; Piancó seria uma tribo?; Havia ainda os Paiacu e talvez os 
Caicó dominavam a fronteira com o Rio Grande do Norte desde a 
serra de Cuité até Apodi. Supõe-se que os Cariri dos chefes Jandui e 
Caracará habitavam entre o Curimatau e Trairi, serras de Araruna, 
Caxêxa. Havia ainda os índios Canindé (eram Cariri?)27 • 
Os Cariri estavam na pedra polida; usavam o machado de 
sílex, tecido de caruá, adornos de pedra (muiraquitãs). os Cariri eram 
cabeça chata, ao contrário do que Borges defende, de que os Tarairiu 
eram dolicocéfalos. Os Cariri prestavam culto ao "espírito do mal" 
(segundo o discurso de Joffily) o "feiticeiro" o religioso era pajé ou 
caraíba, com o cabelo cortado feito coroa e unhas compridas nos 
polegares. O autor reproduz mitos de Herkmans, que as crianças 
Cariris andavam já na décima semana de nascido e que eram jogado 
27 BORGES, José Elias. Índios Paraibanos - Classificação Preliminar; 
JOFFILLY, op. cit. p. 26,27 e 31 ; Caboclo, Xucuru Pode Virar Sem-
Terra. Folha de S. Paulo, 7 de abril de 1996, p. 11. 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAISA 207 
na água para aprender a nadar (isto aqui não parece ser mito), mas 
que viviam até 150 e 200 anos 28 • 
Uma descrição aproximada dos Cariri, porém em alguns 
momentos, falsa ou mistificadora, quem nos deu foi Elias Herck.mans, 
a quem ele chama de Tapuia, enquanto que a denominação Cariri é 
uma das "nações" que o holandês aponta: os Caririwasys, cujo "rei" 
chamava-se Karapotó; os Careryjows (seria Caririjós? - os Fulni-ô) e 
os Tarairyou, com dois chefes ("rei") Janduwy e Caracara, já no Rio 
Grande do Norte (p.38/9). Em seguida, descreve-os como nômades, 
"vagueiam" sem lugares ·certos ou aldeias. Quando da estação do caju, 
novembro a janeiro, descem ao litoral. São fortes e de grande estatura, 
a cabeça grande e espessa, a cor é atrigueirada, cabelo preto, grosso e 
áspero, que o cortam na frente, acima da orelha, deixando cair o 
cabelo pelo pescoço. O chefe, no entanto, o corta como uma coroa e 
só ele pode deixar crescer as unhas dos polegares, enquanto o resto da 
tribo deixam crescer todas as unhas, exceto as dos polegares. Andam 
nus e em solenidades se cobrem com penas de arara. Não têm pelo no 
corpo e se há algum arrancam. Quanto ao pênis, puxam o prepúcio e o 
amarram à cintura e se acaso se desamarra é motivo de vergonha e 
escândalo. As mulheres, por. sua vez, usam folha à frente e atrás29 • 
Toda historiografia regional repete Herckmans, 
principalmente quando se trata da parte da cultura: "( ... ) servem, pelo 
contrário, ao diabo ou quaisquer espíritos maus ( ... ) que eles faziam 
vir a sua presença o diabo sob a figura de um tapuia ( .. . )". (p.39/40). 
Na guerra, são velozes e venceriam um cavalo, diz o holandês. "( ... ) 
usam uma arma feita de pau brasil plana e aguda de ambos os lados, 
no meio um pouco grossa e levantada, na frente tem a largura de uma 
mão grande e é mui penetrante com a qual arma tocando eles alguém 
esse não se levantará mais do chão. Usam também de arco e setas e 
geralmente de azagaias (e) machados de mão". 
Um desses erros aparece em Vilma S.C. Monteiro, quando diz. 
que"( ... ) O silvícola podia ter até 25 mulheres". Ora, está explícito em 
Herckmans "( ... )o rei (sic) tem seguramente vinte e cinco" mulheres30 • 
28 JOFFILL Y, p.28-9; sobre os cabeças-chatas, ver PIRES, Isabela. A Dieta 
dos Ancestrais Nordestinos, 1996, p. 60; BORGES, op. cit. p. 27. 
29 HERCKMANS, Elias. Descrição Geral da Capitania da Paraíba, p.38-40; 
BORGES usa o termo "rei" para a chefia dos índios. 
30 MONTEIRO, Vilma S.C, p. 18; HERCKMANS, p. 42. 
208 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
Quanto à atividade material, não semeiam, não plantam, nem 
tem provisão de víveres. São capazes de passar vários dias sem 
comer, amarrando cascas de árvores ao estômago, no entanto, podem 
comer por cinco brancos de uma vez. Herckmans diz que, à noite, os 
Tapuia, debaixo de alguns ramos, já que não têm casa, se deitam em 
redes. Como as fiam e com que, o autor não entra em detalhes. Logo, 
se supõe que conheciam o algodão. Uma . das· coisas que chama a 
atenção nesta narrativa é o caráter antropofágico dos Tapuia. Comem 
·seus mortos de guerra e mortos naturais e até natimortos. Comiam ao 
chefe morto ou seu filho (Comantin?) só suas mulheres.Novamente 
se pode colocar em dúvida as afirmações do holandês, já que ele se 
baseava apenas em relato ou em um ou outro Tapuia que vira em 
Frederica. Borges atribui tais comportamentos aos Tarairiu. 
~ 
Bernardo Vieira de Melo que tentara destruir o Quilombo dos 
Palmares foi expulsar ("pacificou") os índios e daí foram para o norte 
invadindo (talvez sejam os mesmos) o Mearim e o Itapicuru de modo 
que a repressão foi ao Maranhão em 1699, com socórro da Bahia. 
Parece que aqueles mesmos invadiram a Paraíba, e.m 11718, (os índios 
tomaram e destruíram a vila de Aquiraz, no Ceará, em 1713). Os 
índios Sucuru (Xucuru), através de seu capitão Sebastião da Silva 
vieram com sua aldeia para a sede da capitania para defender e 
reparar os assaltos que faziam os Tapuias bárbaros (sic - no escrever 
de Machado) que tinham se situado na Serra Boa Vista, no Olho 
d' Água do Meio, sob a direção da aldeia de beneditinos. Estes Tapuia 
tinham entrado, na Paraíba, por entre o Curimatau e o Araçagy. Os 
Sucuru pediram em 1718 e conseguiram uma légua de terra em 
quadro no Olho d 'água do Meio para poderem viver e plantar3'. / 
Os Tapuia não têm aldeias nem casas ordenadas, (os Cariri) 
nem plantam (diz Martius); vivem de mel e caça em tomo dos 
ranchos. Herckman também diz que eles não plantam. Joffily diz que 
eles tinham rede de algodão e tinham o fumo, logo tinham alguma 
agricultura. Badzé era o nome do fumo que também era um deus. 
Gabriel de Souza falando dos índios Maracá, Tapuia, que não 
trabalhavam a terra, a mandioca como fazem os Tupinambá, apenas 
as mulheres plantam legumes, que fazem éoivara para sementeiras; os 
homens caçam; outros tapuias, vizinhos destes, não plantam senão 
milho e legumes, mas não mandioca, não tem ferramenta para roçar o 
31 MACHADO, p.276; MOONEN, p.51; BARROS, p. 206. 
.. 
. ' 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDÍGENA NA PARAiBA 209 
mato e cavar a terra, quebram o mato à mão e tocam fogo nas árvores; · 
usam paus compridos para enterrar suas sementes. Pintavam-se de 
urucu e jenipapo. furavam o lábio inferior, pondo uma pedra de cor e 
os lóbulos das orelhas pondo ossos. No parto, as mulheres passavam 
por um jejum violento, o que se destaca do tupis; os homens nadavam 
bem, o que os distinguia .dos Jê. Os homens hus com um atilho e as 
mulheres com folhas de árvores32• 
O padre Jaboatão se refere à aldeia dos Cariri, de índios desta 
nação passou aos religiosos capuchinhos italianos: "Tiveram <!stes 
índios a sua primeira situação e aldeia no sertão dos · Cariris, que 
chamam de fora, e por inconveniências do sustento e outras mais, e 
ficarem em distancia da cidade, alem de algumas trinta léguas, os seus 
missionários antigos, que eram sacerdotes seculares, os transferiram 
para o lugar onde agora existe, que por i~so lhe chamam os Cariris de 
baixo, e fica esta usa aldeia acima do engenho Taipú. ( ... ) Naqueles 
Cariris tem terras próprias que lhes pagam foros. he ao presente que ali 
reside ha muitos anos seu missionário o Padre Fr. Antônio Maria de 
Modena, notável por seu zelo e cuidado. He esta uma Doutrina a mais 
bem situada, com casas de telha e taipa em modo de cidadela e praça 
fechada com Igreja consagrada a Senhora do Pilar ... "33 • 
f 
Em 1619 os religiosos menores deixaram a administração das 
aldeias aos beneditinos. Em 1705, os beneditinos mandaram um 
missionário para a aldeia dos Cariris, já transferida do sertão, 
conservando-se sob eles até 1724, quando passou a missionários 
italianos. Talvez fosse esta a Aldeia Velha encravada no município de 
Campina Grande, onde certamente esteve a primitiva aldeia dos 
Cariris. Suas terras pertenciam à Câmara da Vila do Pilar como 
patrimônio34• 
Até a guerra holandesa, o sertão da Paraíba era absolutamente 
·desconhecido pelos brancos; ainda naquele século, os missionários 
haviam chegado apenas ao sítio denominado Bultrins, um pouco ao 
norte da atual cidade de Campina Grande~ onde conseguiram aldear 
um certo número de Potiguara . . Tinham por chefe Metaraoby - Pedra 
Verde (ou Metarouba) e Tavira. Na Capaoba existiam 50 aldeias e daí 
para o litoral muitas outras de Potiguara e Tabajara. Dos Potiguara 
32 ABREU, J. Capistrano de. op. cit. p. XV e XVI. 
33 MACHADO,p.131. 
34 Idem, p.131. 
210 ÍNDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
eram chefe Piragibe, (Braço de Peixe) Itagiba (Assento de Pássaro), 
Mandiocapuba, Batatan e Caragatim; dos l 'abajara era Miquiguassu, 
Caragui.nguira (Milho Verde), Cipouma, Tiquarussu, Mitaraoby, 
Pinacama e lniguassu (Rede Grande )35 . 
, 
·O Coronel Francisco Dias ·o' A vila, da Bahia, apossou~se de 
terras no ·Piancó e Cachoeira de Missão Velha no Ceará, tendo obtido, 
em 1688, uma sesmaria de 1 O léguas no Jaguaribe, propondo-se 
submeter o gentio que ocupava a região. Os Tapuia Cariri pareciam 
submetidos aos da casa da Torre, em Piancó, mas como a população 
branca crescendo, os índios queimavam os . currais destruíam o gado. 
Em 1697, no governo de Manuel Soares de d'Albcrgaria surgiu 
The9dosio de Oliveira l.Jedo pedindo providencia contra os índios no 
s~rtão da Paraíba, pedia gente munição e o direito para fundar um 
arraial em Piranhas. · O governo deu armas soldados e 60 índios 
flecheiros36• 
Os bandeirantes destruidores de quilombos, comp João ·souto 
Maior, Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo eram os 
mesmos destruidores de aldeias indígenas. Era um trdbalho genocida 
em busca de terras. Quando, por exemplo, Domingos Jorge estava 
tentando destruir os quilombos dos Palmares com grande numero 
força que levara de Piancó, os Cariri retomavam as terras, assaltando 
os brancos, com ajuda dos Tapuia do Rio Grande do Norte, através do 
Araçagi e desciam até se encontrar com os de Piancó. l)ez anos antes, 
os brancos do Rio Grande do Norte tinham sido atacados pelos 
Tapuia (o caso do Açu). Agora, os que vieran1 do Rio Grande do 
Norte, conseguiram furar o cerco que os Sucuru, aliados dos brancos, 
tinham feito e assim os Tapuias se juntaram para expulsar os brancos. 
Theodosio, que voltava da sede a Capitania, com armas e munição, ao 
saber da reação dos Cariri , reuniu os Ariu em Campina Grande e 
marchou contra os invasores atacando-os e os dispersando, Já em 
1743; por exemplo, o filho de Governador André Vida) de Negreiros, 
Matias Vidal, deixava em testamento um sítio nos Cariris 37 • 
> 
35 Idem, v.11, p.330. _ 
36 Idem, p.131,334-5; Oficio de Manuel Soares d' Albergaria de 14 de n1aio 
de 1697, apud JOFFIL Y, op. cit.; SEIXAS, Wilson. Pesquisas para a 
História do Sertão da Paraíba. Revista do Instin1to Histórico e Geográfico 
Paraibano, n. 21 , p. 51-84. 
37 MACHADO, op. cit. , p. 336. 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDIGENA NA PARAISA 211 
Depois da Confederação dos "Bárbaros'', as diversas tribos 
Tapuia-Cariri foram sendo esmagadas e isoladas. Em . Pernambuco, 
por exemplo, em 171 O, uma pórtaría de 4 de janeiro mandou vender 
os 15 tapuias, que pertenciam ao .quinto de sua Majestade, enviados 
pelo capitão-mor de Ororobá. O capitão Lourenço Alves de Lima deu 
128 mil-réis por todos, e era obrigado a enviar 4 ou 5 deles para fora 
da capitania de Pernambuco, por "serem nocivos na terra~'. Esta era a 
sorte dos tapuias, que dominavam o sul do país e que foram expulsos 
pelos tupis, ficando no rio São Francisco desde a foz até a Bahia e 
depois pelo sertão de Pernambuco. ·Chamavam aos brancos de 
tapuytingas "'bárbaros brancos"38 • 
CONCLUSÃO 
Os Cariri da Paraíba entraram também em miscegenação 
obrigatória, com suas terras sendo expropriadas a ponto de, por volta 
de 1845, o Presidente da Paraíba relatar que: "Os índios que existem 
nesta província estão todos aldeados e habitam pela maior parte em 
vilas sujeitas às autoridades civis, pQis que são todos civilizados ou ao 
menos tanto quanto o são ordinariamente os indivíduos da classe 
ínfima da população do interior e são eles restos de algumas tribos 
que habitavam esta Província e já tão degenerados da origem 
primitiva qu~ a maior parte nem o idioma de suas tribos falam; estãohoje confundidos na massa da população e apenas nas vilas de 
Alhandra, Conde e antiga vila da Baía da Traição vivem no meio das 
outras raças que inteiramente os sobrepujam em número e 
importância. Afora estes lugares somente a provação de Preguiça, 
antiga sede da vila de Montemor, hoje Maranguape, é quase 
exclusivamente habitada por índios os quais bem que perfeitamente já 
domesticados e também sujeitos às autoridades civis, conservam 
ainda raros e já desfigurados alguns dos hábitos da vida· selvagem"39 • . 
Hoje, a única e aparente relíquia Cariri são os topônimos: 
Bodocongó, Bodopitá, Caturité, Piancó etc. Há que resgatar os traços 
culturais na cerâmica regional, na cestaria, na culinária, no 
imaginário, na religião do catimbó, nas rezadeiras e nos raizeiros, em 
busca da identidade Cariri, como contribuição a um estudo macro que 
envolva os remanescentes Cariri/Kiriri do Nordeste. 
38 PEREIRA DA COSTA, op. cit. ~ V. 5~ p.159 e 338. 
39 PINTO, Irineo F. Datas e Notas para a História da Parahyba. v.2, p. 172. 
212 ÍNDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
A ' 
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' · 
214 INDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
ANEXOI 
LEGISLAÇÃO SOBRE OS ÍNDIOS, SÉCULO XVIII 
1700 - Ordem de 4/6 ·_doação de uma légua de terra em quadro para 
cada aldeia, bem como casas para os padres e igreja. 
1703 - Carta Régia de 22/5 ..: (de acordo com a lei de 23/11/1700) 
dava aos índios terras necessárias para sua vivenda e 
ferramenta para cultivarem a terra. 
1703 - ( 13/8/) e 30/ 1O/1704 beneficios aos padres missionários. 
1705 - Carta Régia de 5/6, reforçando doação de uma légua em 
quadro. 
1713 - Expedição militar contra os Tapuia sublevados do Ceará. 
1717 - neste ano houve levantamento geral dos índios no sertão,. 
desceram de suas aldeias e atacaram as povoações e fazendas, 
roubando matando seus moradores e escravos-, mas foram 
contidos. 
1729 - Ato régio de 21 /4 acabando com os capitães-mores do sertão 
que estavam burlando a orden1 régia de 11/1/1701 por estarem 
usando mão de obra indígena em suas çasas. currais. serviços 
seus e de particulares. 
1729 - Resolução de 10/3 que o governador não consentisse índios 
fugidos das aldeias em casas de n1oradores; que fossem presos 
e levados de volta e que quem precisasse dos serviços dos 
índios· requisitassem aos m1ss1onários pagando-lhes o 
, . 
necessar10. 
1733 - Carta Régia de 12/1, extinguindo cargo de governador dos 
índios, nomeando capitão dos mesmos índios. 
1734 - Ordem régia de 2/6, limitando o número de 10 armas em 
aldeia e que os missionários deveriam entregar aos índios que 
não abusassem delas. 
1735 - lei de 20/l O; os ouvidores podiam sentenciar índios 
"bastardos", carijós, . mulatos e negros por delitos em 
Pernambuco e Paraíba, até a pena de morte. 
• 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDÍGENA NA PARAÍBA 215 
l 735 - Lei de 22/4, designando que as aldeias que não tivessem 80 
casais que se unissem a outras, consignando-lhes terra bastante 
para suas lavouras. 
1735 - Lei de 6/6, confirmando leis que proibiam o cativeiro dos 
índios, excetuando os índios filhos de escravas negras; 
levantava em vila as aldeia~ com o competente número de 
índios; as menores em extensão territorial, repartir por elas as 
terras adjacentes. 
1739 - Reforçando-se os 1nissionários para que não distraíssem os 
índios do serviço da lavoura. 
1 741 - Bula do papa Benedito XIV de 20/ 12/ dando excomunhão a 
quem escravizasse índios. 
1742 - Alvará de 8/ 10, permitia aos brancos cri arem fi lhos de índios, 
educando-os e pagando-lhes depois o salário do seu trabalho; 
providenciou sobre a posse das terras dos índios e aumento das 
que fossem insuficientes para aldeias. 
1755 - Alvará de 4/4, sobre casamento com índios; promulgada pela 
lei de 6/7 / 1755 a liberdade do índio. 
1757 - Criação do cargo de diretor do índios para pagarem dízimos. 
Fonte: Pereira da Costa, F.A. Anais Pernan1bucanos, 
v.5,p.5-ll,259e295. ~ 
216 ÍNDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
ANEXO II 
TRIBOS T APUIA/CARIRI 
ANCHU OU EICHU (EXU). Do Rio São Francisco à serra do 
Araripe; 
, 
ACROA - Rio São Francisco, na antiga comarca de Pernambuco, em 
direção a Goiás. Foram exterminados no Séc, XVII e começo do 
XVIII, junto com rodelas e Macoazes (?) 
, 
ANAUPIRA - Alto São Francisco; 
ARA CAP Á - Em 1 702, · estavam aldeados numa ilha do São 
Francisco; 
, . . 
ARAPOA-AÇU - 1707, tribo tapuia rio Gurjaú, Jaboatão. 
, 
ARAROBA - na serra que tem seu nome (Ororobá) Cimbres. A aldeia 
começou em meados do século XVII; 
, 
ARICOBE - 1746, existia como aldeia de missão franciscana - de 
língua geral - na barra do rio Grande do Sul, no rio São Francisco 
e ainda existia em 1815; 
A VIS (?) - eram aldeados com os Pipipans, nas caatingas entre o 
Moxotó e o P~jeú . Estes índios foram "reduzidos" pelo capitão 
Antônio Vieirade Melo, n1eados do século XVIII; 
BRANCARARU - havia, em 1746 três aldeias nas ilhas do Sorababé, 
Acará e Várzea no São Francisco, juntos o.s Brancaruru e os 
Porcjlz; a aldei~ do Brancaruru vinha de 1702. 
CARACl! - aldçia en1 1802, cn1 SetTa Negra, dirigida por um 
franqi scano c~puchinho ; em · 1806 removidos para a Baixa Verde. 
Desses índios ·houve outra aldeia a do Brejo do Gama~ . 
, . 
CARAIBA - ribeira do ( 'apetL rio São Francisco, Boa Vista. Significa 
forte, valente. sáb·io, santo sagrado, segundo 'reodoro Sampaio; 
' CARAPOTO - "descendentes dos índios da nação Cariris" na serra do 
Cumunati, ao norte de Águas Belas. Entre 1681 e 1685 foram 
reduzidos à fé católica. Seu chefe. então, tomou-se governador e 
mestre-de-campo de sua gente nomeado, com patente régia. 
Entre os rios Serinhaém e lpojuca houve um~ aldeia deles, que já 
O RESGATE DA HISTÓRIA INDÍGENA NA PARAÍBA 217 
não existia em 1699 e suas terras doadas em sesmaria; em 1 7 46 
havia uma aldeia deles em Penedo. Havia um povoado em 
Caruaru com esse nome, outros em Taquaritinga e Brejo e . uma 
serra em Gravatá; 
CARIJÓ OU CARNIJÓ - vale do Ipanema (/Fulni-ô) aldeados lá em 
meados do século. XVIII. Em 1746, havia um a aldeia deles em 
Penedo e outra em Panema. Há um riacho em Bom Conselho. 
, 
CARIPO - 1702 aldeia na ilha daquele nome no São Francisco, até 
1746 ainda existia. 
CARIRI - povo mais numeroso que existiu, da Bahia para o norte, 
concentrando-se nos sertões de PE, PB /RN e CE. Kiriri, 
taciturno, calado. Seu chefe (um deles) era kerioukeiou. 
ocupavam a serra do Ororobá, ma .. degenerados depois pelo 
cruzamento com outras tribos" (Pereira da Costa).em 1746 havia 
uma aldeia deles em Gameleira com os Uruás; com os Progés na 
aldeia de São Braz, em Penedo; e nas ilhas do Pambu (aldeia 
desde 1702), Aracapá (c. 1674, cujo capitão era o índio Tomé de 
Urarã), dos Cavalos, do Irapuá, dos Inhamum, todas no S. 
Francisco; em 1 724 Aracapá era aldeia de capuchinhos e 
pertencia a Cabrobó. os brancos celebram um índio, Leandro da 
Silva, ~filho de Martinho da Silva, capitão-mor dos Cariris, 
Leandro foi mestre de campo, com patente real e governador dos 
índios do São Francisco (Bahia); 
, 
XOCO - 1802 viviam no Piancó e Terra Nova e foram aldeados em 
Serra Negra e depois Baixa Verde, hoje Triunfo. No ano seguinte 
mais 36 Xocó foram aldeados pelos capuchinhos em Olho d'água 
da Gameleira, perfazendo 130. Em 1713, os Xocó estão em pé de 
guerra, aliados com os Ougue, Uman, Carateú e Pipipões. (O 
autor não dá o desfecho disto) .. Em 1746, estão em Pão de 
Açúcar e em Pendo aldeados. Há povoação deles em Flores, que 
começou com 25 casais, sob a direção de um militar que os faria 
trabalhar, pois pedia ferramentas e roupas ao rei . Em 1804 
submetem-se ao rei . Em 1834, Gardner encontrou no Ceará em 
Barra do Jardim, uma tribo de Xocó. (O autor reproduz a 
impressão de Gardner de que eram imundos e comiam cobra e 
outros répteis). 
MOCOAZE - Rio São Francisco, foram reprimidos até Goiás, junto 
com os Acroás. 
218 ÍNDIOS DO NORDESTE: TEMAS E PROBLEMAS 
MARIQUITO - nas matas do rio Moxotó e até Alagoas. As mulheres 
eram guerreiras ta1nbém. 
OMARI - sertões do São Francisco, aldeados em 1802 no sítio Jacaré, 
Serra Negra e removidos em 1806 para a Baixa Verde. 
PANCURU - perto de Tacaratu, em 1802 há existia. depois como 
aldeia do Brejo dos Padres. Em 1853 os índios reclamavam que 
viviam na "mais tirânica opressão que suas terras serviam de 
patrimônio do diretor e seus parentes, que eram obrigados a 
trabalhar um dia por semana nas suas plantações, que eram 
presos em troncos por qualquer capricho dos mesmos diretores, e 
de outros abusos mais de que eram vítimas'' 
PARAQUIÓ OU PARATIÓ - sertão, em 1746 era a missão do 
Macaco na paróquia de Ararobá . 
.. 
PIPIPAO - Viviam nas caatingas do Moxotó e foram reduzidos pelo 
Capitão Antônio vieira de Melo en1 meados do séc, XVIII. Em 
1802, foram aldeados na Serra Negra e em 1804 tinha 135 
habitantes. vivendo da lavoura, na serra do Periquito a 3 léguas 
da missão: Em 1823 os brancos expulsaram os índios de Serra 
Negra. que tinha 22 léguas com a do Periquito, com grandes 
matas entre o Moxotó o do Navio: em 1852 ainda havia índios na 
Serra Negra. invadindo fazendas: em 1878 ainda estavam lá, 
como "selvagens" e apenas compreendiam um pouco de 
português. 
PORCÁ OU PROCÁ - ilha de Sorobabé, São Francisco, 1702 com os 
Brancaruru; e em outras ilhas. o governador dos índios Matarruá, 
do sertão de Rodelas, da tribo dos Porcaz ficou famoso . 
convertido tomou nome de Jorge Dias de Carvalho e recebeu 
duas tenças do rei (prin1eira metade do século. XVIII), por seus 
serviços contra os inimigos do Estado Port. 
, 
PROZE - língua geral, nação Cariri ; aldeia (1746) em Penedo, n1issão 
jesuíta; 
RODELA - diversas tribos Tapuia em Pernambuco, do Moxotó aos 
limites com a Paraíba: 
rf AMAQÚ E - Pontal do São Francisco, 1705 e 1745: aldeia 
franciscana: 
O RESGATE DA HISTÓRIA INOIGENA NA PARAÍBA 219 
' TUXA - (ramo dos Cariri) dos Rodela. Ilhas do São Francisco, 
começo século. XX. Viviam da agricultura, civilizados, na ilha 
dos Cavalos. Cabrobó;. em 1878, Teodoro Sampaio os encontrou 
no sertão de Rodelas. Em 1916 alguns deles fora111 reclamar ao 
governador de Pernambuco sobre suas terras. 
l JMÃE - 1801 , aldeados com os da nação Vouê(?) no Olho d' Água da 
Gameleira, em Cabrobó. Em 1814 ainda existia. Em 1844, havia 
Umã na Baixa Verde; (Pereira da Costa acha que os Omari são 
Omã) 
URUÁ - Tapuia junto com Cariri aldeados no distrito de Palmar 
(onde?); 
URUBÁ - Ororobá . Embora haja utna ilha no São Francisco, são os 
Xucuru: · 
XUCURU - Em 1746, aldeia com 642 pessoas na serra de Ararobá, da 
congregação de S. Felipe de Neri de onde tinham expulsados os 
Ararobás. A vila de Cimbres foi instalada em 1762; (São também 
os Sucuru da Paraíba) 
FONTE: Pereira da Costa, F. A. Anais Pernambucanos. 
V. 5. p. 159-172. 
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