Buscar

Sociedades não personificadas

Prévia do material em texto

Teoria da Personificação das Sociedades 
 
 Toda pessoa é sujeito de direito, e nunca objeto de direito. Por isso, é uma 
impropriedade se falar em “compra de uma empresa”, pois a sociedade não é 
vendida ou comprada: é uma pessoa jurídica, que não pode ser objeto de direito, 
mas sim sujeito de direito, entidade detentora de personalidade que não pode ser 
comprada ou vendida. O que se compra ou vende é a universalidade de bens que 
pertencem à sociedade, ou seja, o seu estabelecimento. 
 Quando uma sociedade surge, surge a pessoa jurídica, há portanto, 
autonomia patrimonial: a sociedade tem seus bens, e estes não devem se 
confundir com os bens dos sócios que a compõem. 
 A sociedade, pessoa autônoma que o é, tem nacionalidade, nome, 
domicílio, legitimidade processual e negocial, ou seja, tem vida própria. Tudo isto 
são consectários da teoria da personificação. 
 Toda pessoa, física ou jurídica, tem apenas um patrimônio. O sócio tem o 
seu patrimônio, e a sociedade tem o seu, autonomamente. Não é correto se falar 
que alguém tenha dois patrimônios, o civil e o empresarial, pois o patrimônio de 
empresa é da própria sociedade, e não do sócio que a compõe. As quotas que 
são detidas por um sócio, estas sim, fazem parte de seu patrimônio, e não os bens 
da sociedade, que a esta pertencem1. 
 
1. Personificação do Empresário Individual 
 
 A pessoa natural, quando do nascimento, tem-se registrada no Registro 
Civil de Pessoas Naturais, o RCPN. Quando esta pessoa pretende desenvolver 
atividade econômica organizada, será necessário que se registre, também, num 
dos órgãos de registro das pessoas jurídicas, RCPJ ou RPEM, Junta Comercial. A 
partir deste registro o empresário individual ganha um número nacional o CNPJ – 
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, pelo qual se identificará. É 
importantíssimo se deixar bem claro que, a despeito de haver o CNPJ, o 
empresário individual é uma só pessoa. Não existem duas pessoas, a natural e a 
jurídica; não existem duas personalidades jurídicas. 
A empresa é desempenhada pelo empresário individual e ele é a única 
personalidade jurídica existente e envolvida na atividade empresária. 
Assim, verificamos que há um só patrimônio, então, significa dizer que todo 
o patrimônio do empresário individual responde pela atividade de empresa. 
 Porém com o surgimento da Lei 12.441/11, o empresário individual poderá 
adotar o exercício da atividade empresa pela modalidade EIRELI – Empresa 
individual de responsabilidade limitada, assim, o empresário individual no exercício 
terá responsabilidade limitada, ou seja, não colocará em risco 100% de todo o seu 
patrimônio. 
 
 
1
 Por isso, uma execução contra um dos sócios, por dívida pessoal deste, não pode recair, em regra, sobre bens 
da sociedade: estes bens não pertencem ao sócio, nem mesmo em parte. O sócio é dono das quotas, e, 
eventualmente, estas podem ser penhoradas – mas não os bens da sociedade, em regra, salvo na 
desconsideração inversa, que se verá adiante. 
2. Personificação da Sociedade 
 
 Pela Teoria do Registro a sociedade adquire personalidade jurídica quando 
realiza seu registro no órgão competente. Os artigos 45 e 985 do CC, além de 
outros diversos, deixam bem clara a adoção desta teoria: 
 
“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de 
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no 
respectivo registro, precedida, quando necessário, de 
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se 
no registro todas as alterações por que passar o ato 
constitutivo. 
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a 
constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por 
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de 
sua inscrição no registro.” 
 
“Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a 
inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos 
constitutivos (arts. 45 e 1.150).” 
 
 É de se ressaltar, porém, que a lei fala em registro no órgão competente (no 
respectivo registro). E se o registro for feito em órgão incompetente, indevido? 
Como exemplo, se uma sociedade empresária, que deveria estar registrada no 
RPEM, Junta Comercial, conseguir realizar seu registro no RCPJ, como se 
sociedade simples fosse, o que ocorre com a sua personalidade, que é surgida do 
registro? A princípio, o registro no órgão incompetente não é hábil a criar a 
personalidade jurídica da sociedade. Não havendo a personalidade jurídica, não 
surge a autonomia patrimonial, e a sociedade é tratada como sociedade em 
comum, antiga sociedade irregular: Os sócios têm responsabilidade ilimitada pelas 
obrigações contraídas pela sociedade. Todavia, a casuística pode indicar que, se 
o erro no registro foi de boa-fé, pode ser mitigada esta invasão do patrimônio 
pessoal dos sócios. 
 
A ausência de registro, por sua vez, é pacífica quanto aos seus efeitos: a 
sociedade, enquanto não registrada, não tem personalidade jurídica e, portanto 
não tem qualquer autonomia patrimonial. Qualquer que seja o tipo societário 
constante dos atos constitutivos, a sociedade não registrada, ainda não 
personificada, é chamada de sociedade em comum. (sociedade irregular, ou 
sociedade de fato). 
 
3. Sociedades Não Personificadas: 
 
3.1. Sociedade em Comum (de fato ou irregular) 
 
 Regida nos artigos 986 a 990 do CC, consiste na sociedade em que os atos 
constitutivos não foram registrados no órgão competente: 
“Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a 
sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste 
Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem 
compatíveis, as normas da sociedade simples.” 
 
“Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, 
somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas 
os terceiros podem prová-la de qualquer modo.” 
 
“Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, 
do qual os sócios são titulares em comum.” 
 
“Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão 
praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo 
de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o 
conheça ou deva conhecer.” 
 
“Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente 
pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto 
no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.” 
 
Uma vez que esta sociedade em comum não tem personalidade jurídica, a 
responsabilidade dos sócios é ilimitada e solidária. O credor, ao executar a 
sociedade, coloca no pólo passivo todos os sócios, (pode colocar também a 
sociedade). Ao chegar à penhora, esta será incidente sobre o patrimônio pessoal 
de um dos sócios ou de todos. Porém o enunciado 212 do CJF traz a possibilidade 
do sócio alegar o benefício de ordem, ou seja: antes de se invadir o patrimônio 
pessoal do sócio, é preciso que se extenue o patrimônio especial da sociedade. O 
CJF assim dispõe: 
 
“Enunciado 212 do CJF - Art. 990: Embora a sociedade em 
comum não tenha personalidade jurídica, o sócio que tem 
seus bens constritos por dívida contraída em favor da 
sociedade, e não participou do ato por meio do qual foi 
contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados 
às atividades empresariais para substituir a constrição.” 
 
 Entendendo melhor: imaginemos um contrato de compra de um bem, que 
gerou o crédito inadimplido, tal contrato pactuado pelo sócio “A”. Sendo assim, a 
lei entende que este sócio “A” que pessoalmente (em nome da sociedade), 
pactuou o contrato, não poderá alegar este benefício de ordem. 
 
 
3.2. Sociedade em Conta de Participação 
 
Vejam apostila específica no portal.

Continue navegando