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Criminalização da Homofobia Á Luz Dignidade Pessoa Humana

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11
FACULDADE DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - FASA
DIREITO
JEFFERSON SANCHES GARCIA
CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA À LUZ DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA
2018
JEFFERSON SANCHES GARCIA
CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA À LUZ DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
				
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado a FASA – Faculdade de Santo Antonio da Platina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Me. Christovam Castilho Junior.
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA
2018
JEFFERSON SANCHES GARCIA 
CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA À LUZ DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
				
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado a FASA – Faculdade de Santo Antonio da Platina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Me. Christovam Castilho Junior.
_______________________________________________
Prof. Me. Christovam Castilho Junior.
UNIESP/FANORPI
________________________________________________
Prof.
UNIESP/FANORPI
_______________________________________________
Prof.
UNIESP/FANORPI
Santo Antônio da Platina ______de ______________________ de 2018.
AGRADECIMENTOS 
Hoje não posso esquecer o papel que Deus teve ao longo do meu percurso. Agradeço ao Senhor e a Nossa Senhora Aparecida pela força que colocou no meu coração para não desistir e continuar lutando pelos meus objetivos.
A todos os professores eu agradeço a orientação repleta de conhecimento, sabedoria e paciência. E menciono de forma mais repleta de respeito e admiração pelo meu orientador Christovam Castilho Junior que assumiu a missão de ser meu orientador nessa segunda fase do trabalho.
Ao Elton Araújo de Sousa, um amigo que tive a sorte de conhecer esse ano, e que possui uma fonte de conhecimento sobre as questões de gênero e sexualidade inesgotável. Auxiliou-me muito, por isso, sou eternamente grato.
Não posso deixar de mencionar os amigos que eu fiz ao longo anos, em especial a Claudianne e Thainá que terão sempre um lugar especial na minha vida e em meu coração. 
Aos meus pais Ademir e Cristina, a vocês toda gratidão e amor por ser o meu alicerce e fonte de amor e ternura.
A quem não foi mencionado, mas estiveram presentes ao meu lado, quero lembrar que não estão esquecidos.
“Cada um faz sua própria opção e você não tem o direito de oprimi-la. Homofobia não se justifica, se combate e se destrói. Somos todos iguais”. 
GARCIA, Jefferson Sanches. Criminalização da homofobia à luz da dignidade da pessoa humana. 50 f. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Direito. Faculdade de Santo Antônio da Platina – FASA: 2018.
RESUMO
O Ordenamento Jurídico Brasileiro possui leis que garantem a proteção e segurança todos os indivíduos, garantindo a todos, perante a lei, uma vida digna. Entretanto, ocorre que essa afirmação é relativa, visto que alguns cidadãos não possuem igualdade de proteção. Esse é o caso da população LGBTI+ que vem crescendo com o decorrer dos anos e sofre as mais variadas discriminações, por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero, advinda daqueles que não aceitam a diferença de seu semelhante, e não se dispõe a reconhecer que as diferenças existem e devem ser respeitadas, já que o Brasil é considerado o país que possui a maior taxa de assassinatos por homofobia. Para tanto, o objetivo do presente trabalho é realizar uma análise através de estudos teóricos que concernem à homossexualidade e suas variações. Busca-se, portanto, emboço nos princípios constitucionais e no projeto de lei 122\ 2006 e também PLC 134\ 2018 tendo como base a dignidade da pessoa humana, como princípio fundamental do Estado Democrático de Direito, já que a Constituição Federal assegura que todos são iguais e dignos de direitos e proteção. Ressalta-se ainda, que esta pesquisa não realiza apologia a nenhuma condição sexual, ou identidade, mas sim, enfoca em mostrar que é dever do Estado garantir uma vida digna a todos os cidadãos sem distinção.
Palavras-chaves: Discriminação; Direitos; Homossexualidade; Identidade de gênero; Orientação Sexual.
GARCIA, Jefferson Sanches. Criminalization of homophobia in the light of the dignity of the human person. 50 f. 2018. Course Completion Work (Graduation) - Law. Faculty of Santo Antônio da Platina - FASA: 2018.
ABSTRACT
The Brazilian Legal Order has laws that guarantee the protection and safety of all individuals, guaranteeing everyone, before the law, a dignified life. However, the assertion is relative, since older citizens do not have equal protection. This is the case of the LGBTI + population, which has grown with the decline of the years and suffers more from discrimination, due to its sexual orientation or gender identity, coming from those who do not accept the differences of their peers, and does not constitute recognition that as difference exist and must be respected, since Brazil is considered the country with the highest murder rate for homophobia. "For the present, the present work is carried out an analysis through theoretical studies that interest to homosexuality and its variations. In this way, the constitutional base and the bill 122 \ 2006 and also PLC 134 \ 2018 the dignity of the human person as a fundamental principle of the Democratic State of Law, since the Federal Constitution are equal and worthy of rights and protection. It is also worth noting that research does not carry out the apology of another sexual form, that is to say, but rather, it focuses on showing that it is the duty of the State to live a dignified life for all citizens without distinction.
Keywords: Discrimination; Rights; Homosexuality; Gender Identity; Sexual Orientation.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CF\88		Constituição da Federal de 1988.
LGBTI+	Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti Transexual, Intersexual
PL		Projeto de Lei
PLC		Projeto de Lei da Câmara 
PLS		Projeto Lei do Senado
CFP		Conselho Federal de Psicologia 
GGB		Grupo Gay da Bahia
CNCD		Conselho Nacional de Combate à Discriminação 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	9
1 CONCEITOS PRELIMINARES E PANORAMA HISTÓRICO: SEXUALIDADE, HOMOSSEXUALIDADE E GÊNERO	11
1.1 SEXUALIDADE	11
1.2 HOMOSSEXUALIDADE	14
1.3 GÊNERO	13
1.4 CONCEPCÕES ACERCA DA HOMOSSEXUALIDADE NA HISTÓRIA	16
1.4.1 A Homossexualidade como pecado	16
1.4.2 Homossexualidade como doença	18
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO PROTEÇÃO À POPULAÇÃO LGBTI+	22
2.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE	23
2.2 PRINCÍPIO DA LIBERDADE	26
2.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA	27
3 A HOMOFOBIA E OS ASPECTOS JURÍDICOS	32
3.1 CONCEITO	32
3.2 CONDUTAS HOMOFÓBICAS	34
3.3 COMBATE À DISCRIMINAÇÃO	36
3.4 CRIMINALIZANDO A HOMOFOBIA: OS PROJETOS DE LEI	39
3.5 CRIMINALIZAR A HOMOFOBIA À LUZ DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA	43
CONSIDERAÇÕES FINAIS	44
REFERÊNCIAS	45
ANEXOS	51
ANEXO A	51
ANEXO B	55
INTRODUÇÃO
A violência contra a população LGBTI+ coloca-se como uma realidade perversa no Brasil. Esses indivíduos são vítimas de assassinatos, espancamentos, estupros, justificados na maioria das vezes, devido a sua orientação sexual, que se difere da heteronormatividade. Segundo o relatório anual divulgado no site do Grupo Gay da Bahia, no ano de 2017, foram 445 mortes de caráter homofóbico (SILVA, 2017). Com isso, apesar de toda a evolução pela qual a sociedade vem passando, o ser humano ainda é capaz de cometer atrocidades, por não aceitar a orientação de seu semelhante.
Ao longo da história, e principalmente, a partir da era cristã, os homossexuais eram definidos como pecadores e doentes, sendo rejeitados pela sociedade ou passando por tratamento psicológico, tortura, e diversas formas de repressão para que se curassem. Entretanto, quem estabeleceu que a orientação heterossexual fosse a única possibilidade? E que LGBTI+ não é favorecido de inteligência e capacidade? Quem provou que essas insanidades estão corretas? Admite-se com total entendimento e confiança que nenhum ser humano é capaz de provar tal perversidade. Já que a sexualidadeé algo que é inerente ao ser humano deste o nascimento, não se trata de uma questão de escolha, mas sim, algo presente desde o nascimento, e que se desenvolve ao longo da vida, o que não se configura como uma perversão, e tampouco como uma incapacidade.
Com o propósito de impedir as discriminações e a violência, já passaram pelo Congresso Nacional alguns projetos de lei com o intuito de criminalizar tal prática, como foi o caso da PLC122/2006, que pretendia alterar a redação do texto da Lei nº 7.716/89, a qual determina os crimes resultantes de discriminação de raça ou cor, acrescentando em seu texto as discriminações em torno da orientação sexual (BRASIL, 1989). Todavia, o referido projeto se encontra arquivado no Senado Federal. A luta para criminalizar a homofobia continua com o novo projeto que institui o Estatuto da Diversidade Sexual, que se encontra em tramitação no Senado Federal pelo nome de PLS 134/2018.
Considera-se, então, que a sociedade vem passando por incessantes transformações nos aspectos sociais e afetivos, além do aumento do número da população LGBTI+, que tem colaborado com a mudança de paradigmas interposto no passado. Tendo em vista esse cenário, a presente pesquisa tem por objetivo expor a probabilidade da criminalização da homofobia no ordenamento jurídico brasileiro, perante os princípios constitucionais, baseado na perspectiva da realidade social. 
A proposta deste trabalho não é tão complexa perante outros estudos de gênero e sexualidade, porém, é de suma importância quando analisada com base nos direitos assegurados como fundamentais na Constituição Federal de 1988, que garante a liberdade, igualdade e dignidade da pessoa humano a todos os cidadãos. Com o propósito de tornar visível que a omissão do ordenamento fere os direitos fundamentais de pessoas LGBTI+.
No primeiro capítulo serão abordados os conceitos preliminares relacionados à homofobia, que são: sexualidade, homossexualidade e gênero. Além disso, será realizado um panorama histórico, abordando como a homossexualidade foi vista ao longo da história, essenciais para entender as condutas homofóbicas da atualidade.
O segundo capítulo norteia-se pelos princípios constitucionais que garantem os direitos e a proteção à população LGBTI+, com enfoque nos princípios de igualdade, liberdade, e dignidade da pessoa humana. Entende-se que esses princípios justificam a criminalização da homofobia, e garantem, ao menos perante a lei, maior segurança a esses sujeitos.
No terceiro capítulo o enfoque está sobre a questão da homofobia e os aspectos jurídicos relacionados, principalmente no que tange às políticas implementadas para assegurar os direitos a esse grupo. Na mesma direção, o capítulo visa justificar a necessidade da criminalização da homofobia, à luz da dignidade da pessoa humana.
Espera-se com esta pesquisa compreender de forma mais profícua os aspectos jurídicos e legais relacionados à homofobia, bem como o papel do Estado na efetivação dos direitos da população LGBTI+.
1 CONCEITOS PRELIMINARES E PANORAMA HISTÓRICO: SEXUALIDADE, HOMOSSEXUALIDADE E GÊNERO
Ao abordar a temática da homofobia, é preciso ter em vista que essa prática, ainda que velada, desumaniza grande parcela da população, pois não admite a sua dignidade, personalidade, e como consequência disso, sua humanidade. Para entender o que são as condutas homofóbicas, é primordial realizar, inicialmente, uma análise dos termos: sexualidade, homossexualidade e gênero.
1.1 SEXUALIDADE
A sexualidade é algo inerente a todos os seres humanos, é um impulso natural. O poema apresentado abaixo caracteriza esse instinto humano acerca da sexualidade:
Porque há desejo em mim. É tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas.
Buscando aqueles outros decantados
Surdo á minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam
Hoje, de carne e osso laborioso. Lascivo
Tomas-mes o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhasco.
Quando havia o jardim aqui ao lado
Pensei subidas onde não havia rastros
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do nada (HILST, 2004, p. 13).
Compreende desses versos que a sexualidade é algo incontrolável, um sentimento que nasce sem explicação. Assim como estabelece Maria Berenice Dias (2010) “Ninguém pode realizar-se como ser humano se não tiver assegurado o respeito ao exercício da sua sexualidade”, trata-se de liberdade como direito: a liberdade sexual.
Como explica Dias:
É um direito de primeira geração, do mesmo modo que a liberdade e a igualdade. A liberdade compreende o direito á liberdade sexual. Trata-se, assim, de uma liberdade individual, um direito do indivíduo, e, como todos os direitos do primeiro grupo, é inalienável e imprescritível. É um direito natural, que acompanha o ser humano desde o seu nascimento, pois decorre de sua própria natureza (DIAS, 2010, p. 01).
Por isso, esse direito refere-se a todos os seres humanos, se tratando de algo individual, onde cada pessoa pode sentir e expressar de diferentes formas, limitado por sua personalidade e não ligado necessariamente ao sexo.
A sexualidade não é uma simples tensão orgânica anônima. Muito pelo contrário, toda a vivência humana está carregada de intencionalidade, de desejos que buscam a satisfação. A forma específica pela qual cada um realiza a sua sexualidade é também específica de sua existência no mundo. Portanto [...] a sexualidade é um daqueles terrenos, um daqueles palcos onde se lançam todos os conflitos da existência humana (DALGALARRONDO, 2000, apud PINTO, 2011, p.13).
Entretanto, para conceituar a sexualidade, o autor Sigmund Freud entende que ela se manifesta no indivíduo desde o nascimento do mesmo:
Vendo uma criança que tenha saciado seu apetite e que retira do peito da mãe com as bochechas ruborizadas e um sorriso de bem-aventurança, para cair em seguida em um sono profundo, temos que reconhecer neste quadro o modelo e a expressão da satisfação sexual que o sujeito conhecerá mais tarde (FREUD, 1973 apud AMARAL, 2007, p. 04).
Sob este segmento, em que Freud explica que a sexualidade se manifesta inicialmente com o nascimento da criança, a autora Vera Lucia do Amaral (2007, p. 08) acrescenta: “com o tempo a criança passa a perceber que o contato da boca com o seu próprio dedo também, tratam-se não mais de uma necessidade biológica, mas somente de prazer”. Porém, cabe uma ressalva, de que a perspectiva da sexualidade do recém-nascido, não pode se confundir com a sexualidade pela busca do contato genital, que irá progredir com a vida adulta.
Ao longo da história da sexualidade, a mesma era algo referente somente aos homens, encarada como uma característica masculina; já para as mulheres era algo proibido, uma vez que somente se permitia como uma necessidade de reprodução. Sob esta perspectiva Fry e Macrae (1991, p. 42) dizem:
O sexo é apenas um meio para um fim: a procriação. As mulheres que não seguem este caminho, ou porque não querem ou porque não podem provavelmente serão classificadas de prostitutas, pois estas devem gostam de sexo [...] e são, por definições promíscuas.
Nessa perspectiva, a sexualidade era vista com certo constrangimento por parte das mulheres, então não se fazia diálogo em torno dela. A sexualidade era encarada como um segredo e permitida a sua prática somente entre os cônjuges, para procriação. Como assim dispõe Foucault:
A família conjugal a confisca. E absorve-a, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei. Impõe – se como modelo, faz reinar a norma, deter a verdade, guarda o direito de falar. (FOUCAULT, 1999, p, 05).
Com o decorrer dos anos a sexualidade começa a ter uma forte influencia social, determinando para alguns autores como Foucault (1988 apud LOURO, ANO p.06) ser tratar de uma criação social.
Ocorre que as explicações a acerca da identidade compreendida sobre gênero masculino e feminino começa ser compreendido sobre outras perspectivas atualmente como se vera a seguir. 
1.3 GÊNERO 
A sexualidade éalgo inerente ao ser humano e ainda nos tempos atuais o padrão que se denomina é o da heteronormatividade, aonde se encontra a mulher que se enquadra no gênero feminino, e o homem, com o gênero masculino. Já as relações sexuais e afetivas entre pessoas de sexos diferentes, são tidas como diferentes.
Ocorre que esse padrão de gênero, entre masculino e feminino, sempre foi alvo de grande discriminação e preconceito. Alguns aspectos dessa discriminação podem ser observados em situações cotidianas, como quando a sociedade impõe que um menino não deve utilizar nada relacionado com a cor rosa, nem a menina com azul; o menino não pode brincar de boneca, nem a menina de carrinho; o menino não deve demonstrar fragilidade, a menina não deve demonstrar agressividade. Caso essas situações ocorram, as crianças recebem apelidos relacionados ao sexo oposto, como “viadinho”, “bichinha”, “maria-homem”, “sapatão”. 
O conceito de gênero não se mistura com o de sexo, porém, às vezes, são confundidos. Gênero é algo construído socialmente, principalmente pelas instituições sociais, tais quais família, igreja, círculos de amizade, que são os principais responsáveis na adequação entre masculino e feminino.
Como esclarece Jesus (2012, p. 08):
Cada um (a) de nós é uma pessoa única, que porem tem características comuns a toda a humanidade. Elas nos identificam com alguns e nos tornam diferentes de outros, com a região em que nascemos e crescemos nossa raça, classe social, se temos ou não uma religião, idade, nossas habilidades físicas, entre outras que marcam a diversidade humana. Dentre essas dimensões, este guia se foca na do gênero.
Na sociedade, o indivíduo é educado de forma que, os homens se comportam de um modo específico, e a mulheres de outra forma, designando as diferenças entre os gêneros:
O fato é que a grande diferença que percebemos entre homens e mulheres é construída socialmente, deste o nascimento, quando meninos e meninas são ensinados a agir de acordo como são identificadas, a ter um papel de gênero “adequado” (JESUS, 2012, p. 07).
A sociedade revela que o órgão genital do indivíduo o define como homem ou mulher, e que essa definição deve ser seguida em todos os caminhos da vida do indivíduo. Entretanto, a construção de nossa identidade não se determina somente pelo fator biológico, mas sim, pelo social, sendo que gênero vai além do sexo, “[...] o que importa, na definição de que ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou conformação genital, mas a autopercepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente” (JESUS, 2012, p. 08).
1.2 HOMOSSEXUALIDADE
O ser humano compreende a sua sexualidade, não se tratando de uma questão, de ser homo ou heterossexual, uma vez que a sexualidade é algo natural do ser humano. Assim sendo, a orientação sexual é definida por fatores alheios à vontade, por isso não se deve julgar, nem tampouco culpar a pessoa pela sua orientação sexual.
O termo homossexual tem sua etimologia na palavra “homo” ou “homoe” que se traduz por semelhança, igualdade. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1869, pelo jornalista austro-húngaro Karl Maria Kerlbeny, como parte de seu sistema de classificação dos tipos de sexualidade. O indício de comportamentos de relações homossexuais se estende ao longo dos anos. A Grécia Antiga é conhecida como o marco principal das discussões acerca deste padrão (NUNES; RAMOS, 2008 apud PINTO, 2011).
Tendo em vista a primazia da Grécia ao se estudar a homossexualidade, estabeleceu-se na sociedade Grega, o que é denominado como a prática da pederastia, como algo realmente comum, que consistia na relação de um adolescente (conhecido como eromenos) e um adulto (eraste) a ter relação sexual que designava uma preparação para vida adulta.
Os atos homossexuais usufruíam de verdadeiro reconhecimento social. O termo “pederastia” do grego pai (colocar acento cincuncflexo no i) paidós (menino) e Eros, érotos (amor, paixão, desejo, ardente) implicava a afeição espiritual e sensual de um homem adulto por um menino (BORRILLO, 2010, p. 45).
É importante ressaltar que a pederastia era extremamente regulada para que fosse aceita pela sociedade, sendo que as práticas homossexuais fora desses regulamentos consistiam em uma minoria não aceita.
Mas o que é a homossexualidade? Pergunta esta que segundo os especialistas Peter Fry e Edward Macrae (1991, p. 07) demarca como “uma infinita variação sobre um mesmo tema”. Para compreender melhor a afirmação utilizada pelos autores, apresenta o seguinte exemplo:
Assim, ela é uma coisa na Grécia Antiga, outra coisa na Europa do fim do século XIX, outra ainda entre os índios Guaiaqui do Paraguai. Com este mesmo raciocínio, a homossexualidade pode ser uma coisa para um camponês do Mato Grosso, outra coisa para um candidato a governador do Estado de São Paulo em 1982 e, de fato, tantas coisas quanto os diversos segmentos sociais da sociedade brasileira contemporânea. (FRY, MACRAE, 1991, p. 08).
Apesar de o termo evidenciar somente atos sexuais e atrações entre pessoas do mesmo sexo, segundo o autor a homossexualidade se refere aos modelos de laços românticos e afetivos estabelecidos entre essas pessoas.
1.4 CONCEPCÕES ACERCA DA HOMOSSEXUALIDADE NA HISTÓRIA
A homossexualidade nunca foi totalmente admitida pela sociedade. Ao longo de sua história, foram surgindo diversas teorias para explicar a sua origem, como: inversão, distúrbio, doença; justificativas essas de cunho discriminatório, afetando a forma como a sociedade concebe essas pessoas. Dessa forma, a cultura do preconceito se perfez ao longo dos anos, justificada pelos motivos supracitados, e também envolvendo aspectos subjetivos das crenças de cada indivíduo, por isso faz necessário examinar algumas das concepções em torno da homossexualidade.
1.4.1 A Homossexualidade como pecado
“Deus criou o homem e a mulher, desta união constitui a primeira forma de comunhão de pessoas” (A BÍBLIA, 2018). O domínio religioso permite que essa afirmação, presente em Gênesis 2, versículo 18 obtenha um significado prolífero em relação aos homossexuais, de que dois iguais não podem procriar. Essa fundamentação discriminada pela Bíblia traduz que o homossexual é contido de pecado, e no campo da moral é tido como deplorável.
A base desse fundamento, que alega a homossexualidade um pecado advém de passagens bíblicas, condenando os atos homossexuais. O livro de Levítico[footnoteRef:1] traz uma passagem, que afirma: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher” (Levítico 18: 22). Caso houvesse alguma prática de ato sexual entre homens, teria punição; segundo o mesmo livro: “Se um homem dormir com outro como se fosse com mulher, ambos cometeram uma abominação e serão punidos com a morte: e seu sangue cairá sobre eles” (Levítico 20:13). [1: É o terceiro livro da bíblia, escrito por Moisés. O livro é essencial para que se possa compreender a adoração do povo israelita do Antigo Testamento, servindo também de conceito e pressuposto que são fundamentais para o entendimento da teologia desenvolvida no Novo Testamento.] 
Seguindo esta influência, que perdura ao longo dos séculos, o Império Romano é um clássico exemplo que repudiava qualquer relação entre pessoas do mesmo sexo, sob forte influência do Cristianismo.
Para uma análise mais clara, remete-se a Borrillo, que afirma: 
A crença na qualidade natural e a moralidade das relações heterossexuais monogâmicas – e, correlatamente, a percepção da homossexualidade como prática nociva para indivíduo e para a sociedade – levam o imperador Teodósio 1º, em 390, ordenar a condenação á fogueira de todos os homossexuais passivos. De acordo com o Código Teodosiano (Teodósio II, 438), a atitude passiva, associada necessariamente á feminilidade, implicava uma ameaça para o vigor e a sobrevivência de Roma. A fim de justificar tal severidade, foi necessário apoiar-se nos fundamentos bíblicos da condenação (BORRILLO, 2010, p. 48). 
Segundo o Catecismo da Igreja Católica[footnoteRef:2], a origem da homossexualidade contraria a lei natural, e sua pratica afetaao dom da vida, não podendo ser aceita. [2: Trata-se de um texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica, com o qual se pode conhecer o que a Igreja professa e celebra, vive e reza em seu cotidiano. Ele foi organizado de maneira a expor em linguagem contemporânea os elementos fundamentais e essenciais da fé cristã. Neste livro encontram-se orientações para o católico comprometido com sua fé] 
Comprova ainda no inciso 2357 que “Os atos de homossexuais são intrinsecamente desordenados. São contrário á a lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Em caso algum pode ser aprovado” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993).
A Igreja Católica, apesar de manifestar-se contrariamente às praticas homossexuais, mudou seu posicionamento quanto às punições ordenadas pelo livro de Levítico, no Antigo Testamento, hoje segundo § 2358 do livro Catecismo da Igreja Católica (1993) estabelecem que os homossexuais:
Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do senhor as dificuldades que podem encontram por causa de sua condição.
Nas demais religiões, como no Espiritismo, a sexualidade está interligada às questões reencarnatórias, e afirma que a homossexualidade se manifesta no indivíduo durante a fase infantil. Segundo menciona Barcelo: 
A homossexualidade não é uma opção que a pessoas assume e possa escolher por livre e interira vontade, na sua vida presente. A forte tendência psíquica para a homossexualidade já esta embutida na mente do espírito muito antes do fenômeno do corpo físico. A estrutura psicossexual em cada espírito é mais poderosa, mais dominante, mais determinante do que a própria vontade ainda frágil das criaturas humanas, muito especialmente no período da infância, da adolescência e juventude, quando aas tendências homossexuais começar a surgir, pouco a pouco, de dentro para fora (BARCELO, 2009, p. 135-137 apud SILVA NETO SOBRINHO, 2017, p. 33).
No livro “Sexo, Consciência e Amor”, o espírito Carlos, psicografado por Priscila de Faria Gaspar (2013, p. 36) nos apresenta uma reflexão acerca da homossexualidade ser algo natural ou imoral.
Pecado é tudo aquilo que pesa em nossa própria consciência. Se não estamos a prejudicar quem quer que seja, se nossa consciência aceita e admite determinada conduta com naturalidade, então não serão os poucos e dizerem que tal conduta é imoral ou pecaminosa.
Posteriormente a essa concepção, que permanece até os dias de hoje, a ciência passou a estudar a homossexualidade como doença, criando medicamentos e possibilidades científicas para sua cura. Essa temática será analisada no próximo subtítulo.
1.4.2 Homossexualidade como doença
Ainda que a homossexualidade tenha permanecido como pecado em vistas da religião até os dias de hoje, para a ciência, houve um momento, principalmente com a secularização do pensamento, em que os atos homossexuais deixaram de ser caracterizados apenas como pecado, e passaram a ser analisados como doença, preocupando os cientistas e a medicina, a procura de cura para isso.
Conforme corrobora Borrillo:
Na tentativa de fornecer uma explicação para questão “como alguém se torna homossexual?”, todas as teorias na área da medicina pressupõem que tal situação deve ser evitada; e é justamente, por essa razão, que em vez de se limitarem a uma tarefa puramente hermenêutica, elas empenham-se em um verdadeiro empreendimento terapêutico do tipo normativo. Eis por que – a fim de livrar os moralistas e, particular, a igreja, dessa questão – convinha, em primeiro lugar, demonstrar que a homossexualidade constituía uma patologia suscetível de ser diagnosticada e tratada pelas ciências médica (BORRILLO, 2010 p. 67).
Nas palavras da Medicina Legal, Leonidio Ribeiro (1938, apud FRY; MACRAE, 1991, p.61-62) nas primeiras décadas do século XX:
No século passado foi que o problema do homossexualismo começou a ser estudado por médicos e psiquiatras, interessados em descobrir suas causas, a fim de que juristas pudessem modificar as legislações existentes, todas baseadas em noções empíricas e antigos preconceitos, fosse possível seu tratamento em moldes científicos.
As práticas de inversão sexual não podiam continuar a ser consideradas, ao acaso, como pecado, vício ou crime, deste que se demonstrou trata-se, em grande numero de casos de indivíduos doentes ou anormais, que não deviam ser castigados, porque careciam antes de tudo de tratamento e assistência.
A medicina havia libertado os loucos das prisões. Uma vez ainda, seria ela que salvaria de humilhação esses pobres indivíduos, muitos deles vitimas de suas taras e anomalias, pelas quaes não podiam ser responsáveis (RIBEIRO, 1938, apud FRY; MACRAE, 1991, p.61-62).
A homossexualidade era tratada antes por homossexualismo, palavra na qual o emprego do sufixo “ismo”, remete ao sentido de doença, uma patologia, desvio, transtorno metal. Nos meios médicos, a homossexualidade era compreendida como um “defeito congênito ou defeito hormonal” (FRY; MACRAE, 1991, p. 65).
O homossexualismo passou a existir na CID[footnoteRef:3] na 6º revisão em 1948, sendo compreendida uma doença de caráter patológico. Na 8º revisão, em 1965, deixou a categoria de personalidade patológico, e entrou para categoria de desvios e transtornos sexuais, mantendo-se até 1975, quando foi retirada da lista de transtornos mentais, devido às fortes pressões dos movimentos LGBT. Somente em 1991 é que a Organização Mundial da Saúde retirou de vez a homossexualidade da lista de doenças e problemas relacionados à saúde. [3: CID Classificação Internacional de Doenças. Lista criada pela ORGANIZAÇÃO Mundial de Saúde.] 
O Conselho Federal de Psicologia editou a resolução 001\1999, na qual são estabelecidas as normas de atuação para psicólogos nos casos de orientação sexual de pacientes:
Art. 2º Os psicólogos deverão contribuir com seu conhecimento para uma reflexão sobre preconceito e o desaparecimento de discriminação e estigmatização contra aqueles que apresentam comportamentos ou praticas homofóbicas.
Art. 3º Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamento ou prática homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orienta homossexuais para tratamento não solicitado.
Parágrafo Único – Os psicólogos não colaborarão com evento e serviço que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Por sua vez, foi interposta em setembro de 2017, a ação popular nº 10111.89-2017.4.01.3400, na 14º Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal contra o Conselho Federal de Psicologia pedido a suspensão dos efeitos da resolução 001\99
Segundo a autora da ação popular, a psicóloga Rosângela Alves Justino (2017) em posicionamento contrário aos efeitos da resolução, alega:
Um verdadeiro ato de censura, impede os psicólogos de desenvolver estudos, atendimentos e pesquisas cientificas acerca dos comportamentos ou para prática homoeróticas, constituindo-se assim em um ato lesivo ao patrimônio cultural e cientifico do país, na medida em que restringe a liberdade de pesquisa cientifica assegurada a todos os psicólogos pela constituição, em seu artigo 5º,IX (BRASIL, 1999).
Ao pedido interposto foi concedida a liminar que abre brecha para que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual. Conforme a decisão proferida pelo Juiz:
Sendo assim, em parte a liminar requerida para, sem suspender os efeitos da resolução nº 001\1999, determina ao Conselho Federal de Psicologia que não a interprete de modo a impedir os psicólogos de promover estudos ou atendimento profissional de forma reservada pertinente a acerca da matéria sem qualquer censura ou necessidade de licença previa por parte da C.F.P em razão do disposto no artigo 5º, inciso IX, DA Constituição de 1988 (BRASIL, 1999). 
O Conselho Federal de Psicologia inconformado com a decisão ingressou com uma reclamação perante o Supremo Tribunal Federal,para suspender a decisão proferida pelo juiz Waldemar Claudio de Carvalho. 
Segundo o parecer anexado pelo CFP, elaborado pelo professor Daniel Sarmento:
A referida resolução vem sendo objeto de controvérsia na esfera pública e de impugnações judiciais. Estas questionam tanto a competência atos CFP para editar as citadas resoluções, como também a compatibilidade dos referidos atos normativos com princípios constitucionais, notadamente a legalidade e as liberdades de oficio, expressão e pesquisa cientifica. Informa o Consulente que tais questionamentos se originam, no mais das vezes, de grupos conservadores existentes na sociedade que, por razoes religiosas ou ideológicas, não aceitam as posições adotadas pelo CFP, contrarias á patologização e a discriminação das pessoas com orientação sexual ou identidade de gênero não hegemônicas, e favoráveis ao respeito e á inclusão desses indivíduos (SARMENTO, 2018, p.05).
Atualmente, a reclamação nº 31818 (BRASIL, 2018) se encontra em andamento no Supremo Tribunal Federal.
A identificação da orientação sexual é algo vinculado com a identificação e intimidade de cada pessoa, não podendo haver tratamento diferenciando, configurando um claro desrespeito á dignidade humana.
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO PROTEÇÃO À POPULAÇÃO LGBTI+
A palavra princípio deriva-se do latim “principium”, significando origem, começo, nascedouro, etc. No cenário jurídico, princípio provém de um conjunto de normas a serem seguidas pelo ordenamento jurídico; em outras palavras, significa as vigas mestras do ordenamento.
Os princípios devem ser representados como as verdades já comprovadas em um complexo de conhecimento adequado na aplicação ou na formação de uma norma.
Segundo dispõe Celso Antonio Bandeira de Mello:
É por definição mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhe o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a Tonica e lhe dá sentido harmonioso (MELLO, 2001, p.771-72).
Para que os princípios obtivessem reconhecimento perante o ordenamento jurídico, houve que conquistar uma posição de norma jurídica. Procurar conhecer os princípios é alcançar a finalidade dos valores das normas jurídicas.
Segundo dispõe Maria Helena Diniz “Um novo modo de ver o direito emergiu da Constituição Federal, verdadeira carta de princípios, que impôs eficácia a todos as suas normas definidoras de direitos e de garantias fundamentais” (DINIZ, 2015, p. 36).
A regulação dos princípios no texto constitucional manifesta uma eficácia que vincula, de forma obrigatória, o seu cumprimento. Isso porque sua ideia de direito e justiça, busca uma reflexão dos valores eleitos constitucionalmente pela sociedade.
Os princípios constitucionais (como a igualdade, liberdade, dignidade da pessoa humana) é um conjunto de regras que regula a Constituição. Como explica Barroso:
Os princípios constitucionais são um conjunto de normas da ideologia da constituição, seus postulados básicos e seus afins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as normas eleita pelo constituinte como fundamento ou qualificação essenciais da ordem jurídica que institui (BARROSO, 2003, p.141).
Podemos declarar que os princípios constitucionais, em regra, se encontram no topo da pirâmide do ordenamento jurídico brasileiro. Desse modo, qualquer posição ou argumentação no cenário jurídico deverá levar em consideração análises dos princípios.
Os princípios tornaram-se uma fonte primária de normatividade no constitucionalismo contemporâneo, de onde foram incluídos os valores sociais, políticos e éticos de formas expressa ou implícita, para que haja uma construção de uma sociedade justa e democrática. Passando a configurar como um instrumento de interpretação constitucional.
2.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE
O princípio da igualdade possui uma interpretação complexa e ampla, visto que muitas vezes, a igualdade se confunde com os valores de justiça e liberdade. A igualdade vem escoltada por um contexto histórico da humanidade antes de ser elevado a princípio.
A igualdade, desde a Antiguidade, é indissolúvel associada á democracia. No célere discurso de Péricles em honra aos mortos no primeiro ano da guerra do Peloponeso, é a “isonomia”, isto é, a igualdade perante a lei, apontada como um dos três característicos fundamentais da democracia ateniense.
Da mesma forma, não se pode modernamente caracterizar a democracia sem que se abra lugar para igualdade, embora esse lugar não seja sempre o mesmo (FERREIRA FILHO, 2012, p. 214).
O direito a igualdade é considerado umas das bases primordiais da democracia, obtendo colocação explícita no texto constitucional e em inúmeros outros dispositivos espalhados pelo ordenamento jurídico. Como exemplo, o consagrado princípio se encontra no preâmbulo da Constituição Federal da República de 1988:
Nós representantes do Povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Democrático, destinado a instituir um Estado Democrático, destinando a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade [...] (BRASIL, 1988, grifo nosso).
O artigo 3º, inciso IV da Constituição Federal determina a não discriminação como objeto fundamental “Promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade, e qualquer outra forma de discriminação” (BRASIL, 1988). Já no artigo 5º, o legislador estabeleceu como os direitos e garantias fundamentais, assegurando o princípio da igualdade em seu caput. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade [...]” (BRASIL, 1988). Dentre outros direitos protegidos pelo artigo.
O princípio da igualdade, assim como os demais outros princípios não é considerado absoluto, pois “a própria constituição ao consagra-lo nem por isso renegam outras disposições que estabelecem a desigualdade” (FERREIRA FILHO, 2012, p. 215). O tratamento dotado pelo princípio da igualdade perante o texto constitucional é proibir aquelas diferenciações arbitrárias, não vetando as diferenciações de tratamento.
O preceito magno da igualdade [...] é norma voltada quer para o aplicador da lei quer para o próprio legislador. Deverás, não só perante a norma posta se nivelam os indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de dispensar tratamento equânime ás pessoas (MELLO, 2009, p. 09).
Desse modo a igualdade é entendida sob dois aspectos: formal e material. A igualdade sob o aspecto formal é compreendida como um tratamento igualitário entre todos os seres humanos, não havendo distinção; é a igualdade prevista no texto da lei, remetendo ao seguinte critério de justiça “igualdade é tratar os iguais de forma igual e os desiguais e forma desigual, na medida de sua desigualdade” (NERY JUNIOR,1999,p.42). Ela é voltada ao legislador (Estado) uma vez que Estado não pode consagrar na lei situações que geram desigualdade ou simplesmente dar um tratamento igual aos desiguais. Já a igualdade em sentido material, é também conhecida como igualdade real ou substancial, e tem o propósito de igualar os cidadãos que são tidos como desiguais. 
Sabemos que as pessoas possuem diferentes realidades, que não são superadas sob a mesma lei, ocorrendo, pelo contrário, um aumento da desigualdade. Nesse sentido, faz-se necessário ao legislador levar em consideração as diferenças existentes na sociedade, ajustando o direito de acordo com as peculiaridades entre os indivíduos.
O entendimento da igualdade material deve ser o tratamento equânime e uniformizado de todos os seres humanos, bem como sua equiparação no diz respeito a possibilidade de concessão de oportunidades. As chances devem ser oferecidas de forma igualitária para todos os cidadãos, na buscapela apropriação dos bens da cultura (SILVA, 2011, p. 05 apud PINTO, 2011, p.30).
Desse modo, a igualdade formal e material devem se entrelaçar uma com a outra; já que a formal é a igualdade perante a lei, uma vez que todos são iguais, e a lei é para todos obedecerem. Já a igualdade, no plano material seria o caso concreto, incluindo a igualdade formal na situações vividas pela sociedade, pelo qual o tratamento diferenciado a algumas pessoas é permitido para que se busque a igualdade íntegra.
Segundo Alexandre de Moraes:
A igualdade assegurada pela Constituição de 1988 atua em duas faces em relação ao poder legislativo ou executivo, este quando adita leis em sentido amplo na medida em que obsta a criação de normas que violem a isonomia entre indivíduos que s encontram na mesma situação, e também, em relação ao interprete da lei, ao impor que este a aplique de forma igualitária, sem qualquer diferenciação (MORAES, 2002, p. 65).
A Constituição de 1988 procurou alcançar uma perspectiva entre a igualdade formal e material, como, por exemplo, há inúmeros dispositivos pelo texto constitucional, como relata o artigo 3º inciso III CF: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sócias” (BRASIL, 1988), procurando a construção de uma sociedade livre, e solidária.
2.2 PRINCÍPIO DA LIBERDADE
O direito a liberdade está inserido na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, com um amplo conceito. Para alguns autores, como, por exemplo, Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2012, p. 225) o direito a liberdade, insere-se em várias subdivisões, como: liberdade de locomoção, liberdade de pensamento, liberdade de crença e inúmeras outras subdivisões. 
Apresenta-se como o “[...] nível de independência absoluta e legal de um indivíduo de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado como modelo (padrão ideal)” (PINTO, 2011,p.33), estando profundamente interligada ao direito de escolha de cada pessoa de tomar suas próprias decisões, escolhendo o que fazer e o que não fazer. 
Como destaca Jean Jacques Israel:
A liberdade corresponde ao mesmo tempo a uma faculdade de agir e de se autodeterminar, em uma acepção mais especificadamente jurídica, a uma “situação de direito na qual cada um é senhor de si mesmo exerce como quiser todas as suas faculdades” A liberdade resulta, no reconhecimento de um direito de cumprir um ou outro ato (ISRAEL, 2005, p. 429).
De acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, constituído pelos representantes do povo francês, foi inserido o princípio da liberdade de forma expressa em seu artigo 4º:
A liberdade consiste em poder fazer tudo àquilo que não prejudique outrem assim, o exercício dos direitos naturais de todos os homens não tem por limite senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmo direito. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei (BRASIL, 2018).
O artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, declara que: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito são dotados de regra e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (BRASIL, 2018). Somente durante o século XVIII, surgiu a ideia de que os homens são livres em direitos, constituindo um único fundamento da ordem política, em virtude de um contrato social.
Para o autor Daniel Sarmento (2018, p.1420), a liberdade se encontra em dois parâmetros; positivo e negativo. Sendo assim a liberdade positiva estaria relacionada com a autodeterminação, ou seja, o direito da própria pessoa se conduzir com a própria vontade; já para a liberdade negativa, é a oportunidade do indivíduo de agir, ou não, de acordo com as suas características, dispensado de elementos coativos externos, relacionados à liberdade, com ausência de constrangimento.
Já para Maquiavel (apud CHEVALIER, 1988, p.139) a liberdade consiste somente no que determina a lei, ou seja: “A liberdade é o direito de fazer tudo quanto às leis permitem, e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, não mais teria liberdade, porque os outros teriam idêntico poder”.
Em síntese pode-se dizer que a liberdade é considerada a opção de escolha do indivíduo, sendo ele capaz de fazer as suas próprias escolhas, aceitando ou não, determinado fato, que acarreta em uma responsabilidade.
2.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
Durante muito tempo, a dignidade esteve associada a um status superior, de modo que correspondia somente à nobreza “implicando tratamento especial, direito exclusivo e privilégios” (BARROSO, 2014, p.15). 
De fato, a dignidade foi levada à categoria de direitos humanos com a Declaração Universal dos Direitos Homens e do Cidadão, em 1789, documento este que foi considerado o ápice mais elevado da Revolução Francesa, o qual definia os direitos individuais e coletivos dos homens. Em seu artigo 6º estabelecia:
Todos os cidadãos são iguais aos olhos da lei e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e emprego público, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
A dignidade humana passou a integrar diversos documentos internacionais, tratados e constituições, com uma base fundada na igualdade e liberdade: “Onde toda pessoa humana deverá ter direito ao livre desenvolvimento da sua personalidade, nem ofenda ordem constitucional ou moralidade” (BARROSO, 2014. p.22).
Um dos documentos internacionais que o princípio da dignidade humana passou a fazer parte foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1949, sendo criada pela ONU (Organização das Nações Unidas) após o massacre da Segunda Guerra Mundial. Necessitou-se, então, da elaboração de um sistema que proporcionasse proteção a essas pessoas. O texto dizia:
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
Agora, portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração esforcem-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. (BRASIL, 2018).
Com base no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos,pode-se afirmar que os princípios da dignidade, igualdade e liberdade são os princípios e valores que norteiam os direitos humanos; uma vez que os direitos humanos se originam a partir do reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Esta dignidade significa que todas as pessoas vale pelo que são, um bem que não pode ser comprado, nem vendido, um bem inegociável.
Sarlet (2001, p. 60) apresenta uma conceituação jurídica para dignidade da pessoa humana:
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destino da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.
Além disso, o conceito de dignidade da pessoa humana abrange todos os direitos e garantias fundamentais, considerados uma característica pertencente ao homem, sendo não apenas um direito, mas uma qualidade inerente a todo ser humano, que o possui independentemente de qualquer encargo. Esse princípio passou a ser considerado um direito indissociável ao ser humano, pelo qual o ser humano passou a simbolizar o ponto principal do Direito e do Estado. Neste sentido, Luiz Roberto Barroso estabelece:
A dignidade humana se situa no ápice do sistema constitucional, representado um valor supremo, um bem absoluto, á luz do qual cada um dos dispositivos deve ser interpretado, considerada como fundamento de todos os direitos mais básicos (BARROSO, 2014, p. 22).
A consagração da Dignidade Pessoa Humana como princípio fundamental do constitucionalismo contemporâneo nos remete à compreensão de que toda pessoa humana é merecedora de vários direitos fundamentais, com o objetivo primordial de proteger o indivíduo de desagradáveis formas de repressão na ingênita condição de humanidade.
O princípio da Dignidade da Pessoa Humana passa ter valor universal e ser considerado o “carro chefe” da Constituição Brasileira de 1988, inserido de maneira expressa pelo legislador no artigo 1º inciso III:
Art. 1º. A república Federativa do Brasil pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:
[...] III. A dignidade da pessoa humana.
A constituição afirma que a dignidade da pessoa humana é parâmetro da República Federativa do Brasil. Para tanto, o Estado encontra-se em função das pessoas, e não as pessoas em função do Estado. Foi consagrado como princípio fundamental na CF de 1988, ampliando todos os direitos e garantias fundamentais, direitos individuais e coletivos assegurando pelo texto constitucional no art.5º pelas quais são assegurados aos cidadãos direito à vida, à integridade física, à saúde, liberdade física e psicológica, intimidade, etc. De acordo com Barroso:
Como um valor fundamental que é também um princípio constitucional, a dignidade humana funciona tanto como justificação moral, quanto como fundamento jurídico-normativo dos direitos fundamentais (BARROSO, 2014, p.65).
Segundo menciona Luiz Roberto, a dignidade humana possui também um valor interpretativo dentro do ordenamento jurídico: “nos casos envolvendo lacunas no ordenamento jurídico, ambiguidade no direito e mates coletivos entre direitos fundamentais e tensões entre direito e metas coletivas, a dignidade humana pode ser um boa bússola na busca da melhor solução”.
Todavia, a dignidade humana é considerada um valor absoluto, nem um princípio absoluto. Para isso, Barroso explica:
Um choque de absolutos não tem solução. o que pode ser dito que a dignidade humana, como um princípio e valor fundamental, deve ter precedência na maior parte dos casos, mas não necessariamente em todos. Mais ainda: quando aspectos reais (e não apenas retóricos) da dignidade estão presentes na argumentação dos dois lados em conflito, a discussão se torna mais complexa. Em circunstância como essa, o pano de fundo cultural e político pode influenciar o modo de raciocínio do juiz ou da corte, o que, de fato, acontece com frequência, por exemplo, nos casos que envolvem conflitos entre a privacidade (no sentido de defesa da reputação) e a liberdade de imprensa. Na verdade, este não é um conflito entre conflito entre a liberdade e a dignidade, mas entre a dignidade como valor intrínseco e a dignidade como autonomia (BARROSO, 2014, p.68).
Dessa forma, a dignidade surge no exato momento em que a pessoa adquire a vida, ou seja, partir da sua concepção. Por isso, exige respeito, e possui um valor individual e indissolúvel, devendo ser respeitado pelos demais e pelo Estado que possui o encargo de proteger e garantir seus direitos e deveres fundamentais. O Estado deve promover circunstâncias que promovam uma vida com dignidade, uma vez que o princípio da dignidade da pessoa humana regula os demais princípios. 
3 A HOMOFOBIA E OS ASPECTOS JURÍDICOS
Este capítulo tem por escopo trazer a discussão em torno da homofobia, apresentando seu conceito e suas consequências na sociedade. Além disso, visa mostrar as formas que o Estado se utiliza para combater.
3.1 CONCEITO
A palavra homofobia é formada pela junção de dois radicais: “homo” que compreende a semelhante, e “fobia” que se origina do grego “phobia” que reverte a um medo intenso. De acordo com (SILVA, 2011, p. 65): “A fobia caracteriza como um medo exacerbado e persistente de objeto ou situações nitidamente discerníveis e circunscritas; a exposição ao objeto ou situações temidas”.
Assim, a homofobia é compreendida como um sentimento de repulsa, intolerância, ódio às relações homoafetivas/homossexuais. Como descreve Junqueira:
O termo homofobia costuma ser empregado quase que exclusivamente em referência ao conjunto de emoções negativas (tais como aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo) em relação a pessoas homossexuais ou assim identificadas, essas emoções em alguns casos seriam a tradução do receio (inconsciente e doentio) de a própria pessoa homofóbica ser homossexuais (ou de que os outros pensem que ela seja) (JUNQUEIRA, 2007 apud BORRILHO, 2010, p. 07).
Sendo compreendida como uma espécie e temor irracional à homossexualidade, como estabelece Maya, a homofobia:
[...] se manifesta no psiquismo em termos de um medo do feminino, um medo de ser gay, pois na nossa cultura os homens homossexuais são visto como mulheres, como seres inferiores, herança oitocentista da feminilização do homem homossexual. (MAYA, 2008, apud CARVALHO; DUARTE, 2017, p. 208).
Em um olhar mais detalhado, compreende que a homossexualidade foi historicamente “posta à margem e em oposição aos padrões da cultura” (CARVALHO; DUARTE, 2017, p. 209), se destacando como uma espécie de violência simbólica, pela qual se configura a cultura homofóbica (CARVALHO; DUARTE, 2017).
Daniel Borrillo (2010, p. 87) enfatiza que as causas da homofobia se estabelecem nas “relações estabelecidas entre uma estrutura psíquica do tipo autoritário e uma organização social que considera a heterossexualidade monogâmica como ideal no plano sexual e afetivo”. Os dois elementos são primordiais para que se compreenda a raiz da homofobia.
Se, em cada um de nós, existe um homofóbico enrustido, é porque a homofobia parece ser necessária á constituição da identidade de cada indivíduo. Ela está tão arraigada na educação que, para superá-la, impõe-se um verdadeiro exercício de desconstrução de nossas categorias cognitivas. A despeito de sua estreita relação, a homofobia individual (rejeição) e a homofobia social (supremacia heterossexual) podem funcionar distintamente e existir de maneira autônoma (BORRILLO, 2010, p. 87).
Para o autor Salo de Carvalho (2017), a cultura padrão dominante é heterossexista e o processo de violência ao seu oposto se denomina três níveis:[...] primeiro, da violência simbólica (cultura homofóbica), a partir da construção social de discursos de inferiorização da diversidade e de orientação de gênero; o segundo, das violências das instituições (homofobia de estado), com a criminalização e a patologização das identidades não heterossexuais. E terceiro, da violência interpessoal (homofobia individual), no qual a tentativa de anulação da diversidade ocorre por meio de atos brutos de violência (violência real) (CARVALHO, 2017, p. 206, grifo nosso).
Muitas vezes, a homofobia não é somente compreendida pela agressividade manifestada contra homossexuais; uma pessoa pode admitir amizades com pessoas LGBTI+, mas ainda assim, ser homofóbica ela se manifesta, por exemplo, quando sem ter a necessidade de agir com hostilidade, a pessoa insere a violência interpessoal; basta integrar a homossexualidade em um patamar inferior como menciona Borrillo:
Quando se faz apelo á a diferença esta nunca é evocada em favor de gays e lésbica, ninguém pensa em enfatizar a especificidade homossexual para reconhecer outros direitos aos gays ou para implementar dispositivos de discriminação positivas em seu favor (BORRILLO, 2010, p.87-88).
A homofobia é definida sempre como uma antipatia e/ou preconceito em relação aos homossexuais, e também, contra transgêneros e pessoas intersexuais.
3.2 CONDUTAS HOMOFÓBICAS
Os crimes contra homossexuais geralmente é cometido mediante extrema violência, com resquícios de tortura. As atitudes podem ser facilmente identificadas, nas piadas vulgares que depreciam e ridicularizam os indivíduos nos mais variados ambientes, como no trabalho e nos ambientes sociais e familiares. Geralmente, a primeira experiência de preconceito vivenciada pelo indivíduo é a discriminação ocorrida no seio familiar, onde muitas vezes se espera acolhimento e proteção, já que é a família dos sujeitos que teve o formou em valores de afeto e respeito, na maioria dos casos.
O ambiente educacional se constitui como um dos lugares principais em que a homofobia ocorre, o que se denomina como “bullying homofóbico”. Em 2013, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), elaborou um estudo sob o título “Resposta do Setor de Educação ao Bullying Homofóbico”; neste estudo, os alunos que são percebidos como diferentes pela maioria são alvos principais, “aquele cuja sexualidade é vista como diferente ou cuja identidade de gênero ou comportamento difere do seu sexo biológico” (UNESCO, 2013, p.14).
Os sujeitos que, por alguma razão ou circunstancia,escapam da norma e promovem uma descontinuidade na sequencia sexo\ gênero\ sexualidades serão tomados como minoria e serão colocados á margem das preocupações de um currículo ou de uma educação que se pretenda para minoria. Paradoxalmente, esses sujeitos marginalizados continuam necessários, pois servem pra circunscrever os contornos daqueles que são normais e que, de fato, se constituem nos sujeitos que importam (LOURO, 2004, apud, JUNQUEIRA, 2009, p.14).
A discriminação no ambiente familiar e educacional é uns dos precursores para a violência homofóbica, onde o preconceito se inicia e se alastra pela sociedade, deixando rastros de violência. Não há dúvidas de que a homofobia nos ambientes supracitados é a forma mais dolorosa e que deixa mais marcas na vida de cada vítima, para toda uma vida, pois são os ambientes que os formam como ser humano para viver em sociedade. 
A população LGBTI+ se institui em um grupo vulnerável na sociedade, sendo alvo principal de violações de direitos e de recorrentes atos de discriminação. O Brasil é considerado uns dos países da América Latina mais perigosos para gays, lésbicas, travestis e transexuais.
Segundo os dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia, somente no ano de 2017 foram registrados quatrocentos e quarenta e cinco casos de homicídios ocasionados pela não aceitação da sexualidade do outro, onde a cada 19 horas um homossexual ou transexual morre no país, vitima de homofobia.
Todavia, no Brasil não se encontra estatísticas relativas a estes crimes de forma oficial. Os movimentos LGBTI+ encarregam-se dessa competência, servindo dos noticiários como jornais, revistas, televisão, delegacia de homicídios, para os levantamentos desses dados.
Como dispõe Mott (2000, p.11) a respeito das coletas de informações desses delitos:
Ocorre ás vezes que crimes divulgados pela televisão ou rádio não mereçam registros n imprensa escrita ou que tais noticias não tenham chegado ao nosso conhecimento, assim também certos assassinatos, embora tenham sido registrados nos arquivos policiais, não receberam divulgação na mídia. Daí a importância de cada grupo homossexual ou de direitos humanos dispor de um caderno de registro de ocorrências de crimes contra homossexuais onde deverão ser anotados.
Os autores desses delitos, os agressores, são motivados, em sua maioria, pela não aceitação e ódio pelo fato de seu oposto ser gay, lésbica, travesti ou transexual, ou seja, ter uma sexualidade diferente – ou não – da que eles consideram como aceitável. Ao falar sobre crimes homofóbicos, Mott salienta:
Podemos descrever os crimes homofóbicos como homicídios praticados por autores não homossexuais, ou eventualmente por homossexuais ego-distônicos, contra vitimas com orientação sexual exclusiva ou predominante em nossa sociedade heterossexista que vê e trata os gays, lésbicas e transgêneros como minorias sexuais desprezíveis e desprezadas [...] (MOTT, 2000, p. 09).
Segundo Salo de Carvalho (2017, p. 240), o crime de homofobia estabelece-se “como as condutas ofensivas a bens jurídicos penalmente protegidos, motivadas pelo preconceito ou discriminação contra pessoas que não aderem ao padrão heteronormativo”, se aperfeiçoando ao rol dos conhecidos crimes de ódio.
Compreende como crime de ódio:
Atos ilícitos ou tentativas de tais atos que incluem insultos, danos morais e matérias, agressão física, ás vezes chegando ao assassinato, praticado em razão da raça, sexo, religião, orientação sexual ou etnia da vítima. Os crimes de ódio são, portanto motivados pelo racismo, machismo, intolerância religiosa, homofobia e etnocentrismo, levando seus autores geralmente a praticarem elevado grau violência física e desprezo e desprezo moral contra a vitima, sendo tais mortes muitas vezes antecedidas de tortura, uso de múltiplas armas e grande numero de golpes (MOTT, 2000, p.08).
A discriminação começa em casa e passa para as escolas, alcançado toda a sociedade, afetando diretamente a vida inteira das vítimas. Por isso, é necessária, inicialmente, uma desconstrução social, que ensine a respeitar o ser humano na sua diversidade, cientificando que os atos homofóbicos matam. Além disso, importa-se que esses ataques sejam punidos de acordo com a lei, com a sua tipificação no Ordenamento Jurídico como crime.
3.3 COMBATE À DISCRIMINAÇÃO 
O combate à discriminação homossexual no Brasil se iniciou através do decreto 3.952/01, criando o Conselho Nacional de Combate à Discriminação, promulgado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, com a finalidade de trabalhar na proposição e acompanhamento de políticas públicas no que concerne à defesas dos direitos individuais de vítimas de discriminação racial e outras formas de intolerâncias. 
O CNCD foi revogado pelo decreto 5.397 de 22 de março de 2005, que passou a atuar sobre a seguinte modalidade:
Passou a atuar de forma a promover a articulação entre órgãos governamentais e a sociedade civil organizada, representada no âmbito do CNCD pelo segmento de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgeneros – GLBT; população indígena e população negra. Essa articulação tem o objetivo de implementar políticas públicas que levem em consideração as reivindicações desses diversos grupos sociais (RODRIGUES; GOMES, 2006, p.01).
Em 2001, na III Conferência contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância, o Brasil apresentou a discriminação por orientação sexual para que fossem incluídas no rol das demais outras discriminações, convencionado com a defesa da populaçãogay, lésbica, travestis e transexual pela Secretaria dos Direitos humanos. Com o Conselho de Combate a Discriminação em 2004 se iniciou o programa “Brasil sem homofobia” pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O programa Brasil sem Homofobia, elaborado pelo CNCD em parceria com o governo Federal se constituiu pelos seguintes princípios:
· A inclusão da perspectiva da não discriminação por orientação sexual e de promoção dos direitos humanos de gays, lésbica, transgeneros e bissexuais, nas políticas públicas e estratégias do Governo Federal, a serem implantadas (parcial ou integralmente) por seus diferentes Ministérios e Secretarias.
· A produção de conhecimento para subsidiar a elaboração, implantação e avaliação das políticas públicas voltadas para o combate á violência e á discriminação por orientação sexual, garantindo que o Governo Brasileiro inclua o recorte de orientação sexual e segmento GLTB em pesquisas nacionais a serem realizadas por instancias governamentais da administração pública direta e indireta.
· A reafirmação de que a defesa, a garantia e a promoção dos direitos humanos incluem o combate a todas as formas de discriminação e de violência e que, portanto, o combate á homofobia e a promoção dos direitos humanos de homossexuais é um compromisso do Estado e de toda a sociedade brasileira. (LAZÁRO, 2004, p.11-12).
Com o lançamento do programa Brasil sem Homofobia, produzido em parceira com os movimentos sociais LGBTI+ tem em sua proposta a elaboração de diretrizes voltadas ao “Direito à Educação: Promovendo valores de respeito á paz e a não discriminação por orientação sexual” (BRASIL, 2004, p. 22), se idealizou a implementação do projeto Escola sem Homofobia.
O projeto Escola sem Homofobia visa contribuir para a implementação e a efetivação de ações que promovam ambientes políticos e sociais favoráveis á garantia dos direitos humanos e da respeitabilidade das orientações sexuais e identidade de gênero no âmbito escolar brasileiro (BRASIL, 2004, p.07).
O projeto foi elaborado mediante o financiamento recebido pelo Ministério da Educação, mediante aprovação de recursos pela Emenda Parlamentar da Comissão de Legislativa Participativa (CLP). Trata de um kit, voltado para contribuir na desconstrução da imagem negativa que é apresentada sobre a comunidade LGBTI+.
Entretanto, o caderno “Escola sem Homofobia” recebe o termo pejorativo de “kit gay”, e foi suspenso em 2011, pela então presidenta da república Dilma Rousseff. Ainda assim, o termo passou a ser objeto de discussão na última eleição presidencial, havendo a necessidade de reafirmação de que o material contido no programa é voltado para educadores, e não para crianças. O livro “Aparelho Sexual e Cia”, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, utilizado e divulgado durante a campanha eleitoral como sendo o chamado “kit gay”, nunca fez parte do projeto Escola sem Homofobia (PASSARINHO, 2011).
O decreto nº 5.397, de 2005, que inaugurou os projetos de políticas publicas voltadas às pessoas LGBTI+ (BRASIL, 2005) foi revogado em 2010, pelo decreto nº 7.388 (BRASIL, 2010). Em seu artigo 1º determina a seguinte finalidade:
ART 1º O Conselho Nacional de Combate á Discriminação – CNCD, órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa, no âmbito de suas competências, integrante da estrutura básica da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, tem por finalidade, respeitadas as demais instancias decisórias e as normas de organização da administração federal, formular e propor diretrizes de ação governamental, em âmbito nacional, voltadas para o combate á discriminação e para a promoção e defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT (BRASIL, 2010).
O combate à discriminação contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais, se encontra em bastante avanço com as políticas públicas analisadas, havendo reconhecimento da luta que perfaz ao longo dos anos para a concretização de seus direitos. Contudo, a atuação dos direitos humanos por meios desses programas não se mostra totalmente eficaz, sendo necessária a urgência no Direito, de uma lei no sentido de punir a prática de atos discriminatórios a esta parcela da população.
3.4 CRIMINALIZANDO A HOMOFOBIA: OS PROJETOS DE LEI
Ao longo das lutas reivindicando a criminalização da homofobia, vários projetos se passaram no Congresso Nacional, nos quais vários tiveram suas tramitações encerradas, como veremos nos próximos subtítulos. Os que serão tratados neste momento são: a PL 122/2006; e o Estatuto da Diversidade Sexual.
3.4.1 Projeto de Lei 122\2006
O movimento LGBTI+ no Brasil, ao longo dos últimos anos, vem direcionando a combater a discriminação e efetivar uma sociedade justa e igualitária, onde se estabelece uma busca inesgotável para aprovação do projeto de lei 122\06, de autoria da deputada federal Iara Bernardi.
O projeto de lei se tornou popularmente conhecido como “lei anti-homofobia”. Possui como propósito encaixar a discriminação por orientação sexual no mesmo tratamento dado ao crime de racismo, que encontra proteção na Lei nº 7.716\89 (Lei do preconceito de raça ou cor), alterando a referida lei que atua com a seguinte redação: “art. 1º Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional” (BRASIL, 1989).
Caso este PL se torne lei em definitivo, a lei 7.716\89 em seu artigo 1º passaria a vigorar com seguinte alteração: “Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, sexo, orientação sexual e identidade de gênero” (BRASIL, 2006, grifo nosso).
Antes de ser recebida como número de tramitação 122/06 no Senado Federal, a PLC foi enviada para a Câmara dos Deputados, no dia 7 de agosto de 2001, com a seguinte denominação “Projeto de Lei 5003/2001”. Após ocorrer a tramitação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, recebeu alteração no teor do seu texto pelo ex-deputado Luciano Zica, relator do projeto.
A aprovação na Câmara dos Deputados ocorreu em novembro de 2006, no mesmo ano em que foi encaminhado para o Senado Federal para apreciação, recebendo a nomenclatura de PLC 122/2006. Ao chegar ao Senado, a mesa diretora determinou que fosse analisada em duas comissões: Comissão de Direitos Humanos (CDH) e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antes de votação em plenário (COSTA, 2013).
No ano de 2007, foi designada como relatora a ex-senadora Fátima Cleide, que se pronunciou favorável à constitucionalidade do projeto. Porém, no ano designado não foi levado à votação por falta de quórum. A relatora por diversas vezes ao longo dos anos de 2008 e 2009 tentou encaixar o projeto na pauta de votação, alterando a redação para que fosse encaixado no rol de punição para outras discriminações, a discriminação contra a pessoa idosa e pessoa com deficiência, presente no artigo 20, e passando a vigorar com a seguinte alteração: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor etnia, religião, origem condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero” (BRASIL, 2008).
No que se refere ao Código Penal, este sofreria alteração no tocante ao artigo 140 § 3º, acrescentado punição para quem injuriar em virtude de gênero, sexo, orientação sexual, ou identidade de gênero. Essa alteração tem por intenção garantir um tratamento igualitário entre homo e heterossexuais.
A PLC foi arquivada em 2011, de acordo com artigo 332 §3 regimento interno do Senado Federal. Que estabelece:
ART. 332. Ao final da legislatura serão arquivadas todas as proposições em tramitação no senado [...]
§ 1º Em qualquer das hipóteses dos incisos do caput, será automaticamente arquivada a proposição que se encontre em tramitação há duas legislatura, salvo se requerida a continuidade de sua tramitação por 1\3 (um terço) dos Senadores, ate 60 (sessenta) dias após o inícioda primeira sessão legislativa da legislatura seguinte ao arquivamento, e aprovado o seu desarquivamento pelo plenário do Senado.
A ex-senadora Marta Suplicy requisitou o desarquivamento do projeto no mesmo ano, “uma vez que já se encontra instruída pela Comissão de Assuntos Sociais, a matéria volta ao exame da comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa e posteriormente, vai á comissão de Constituição, Justiça e Cidadania” (BRASIL, 2006). Com isso, foi designada a nova relatora do projeto.
Porém, ao PLC 122\2006 não foi garantida a sua aprovação, sendo arquivado novamente em 2014, ao final da 54º legislatura, com fundamento nos termos do artigo 332 do regimento interno do senado federal e da mesa nº 2.
3.4.2 Estatuto da Diversidade Sexual 
O Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero foi elaborado pela Comissão Especial da Diversidade de Gênero e Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil, que justamente foi criada para esta finalidade. Foi presidida por Maria Berenice Dias e contando com apoio de Daniel Sarmento, Luiz Roberto Barroso, Rodrigo da Cunha Pereira e Tereza Rodrigues Viena, como consultores.
De acordo com Maria Berenice Dias:
O sistema legal precisa contemplar todos os segmentos sociais, não só os que são compostos por um número maior de cidadãos. Como as minorias são mais vulneráveis, precisam da especial proteção do Estado. Sem uma atenção diferenciada tornam-se alvo da rejeição por parte da maioria. Por isso é indispensável a adoção das chamadas ações afirmativas (DIAS, 2012, p.01).
Para a mencionada autora, a omissão contida pelo legislador demonstra certas ressalvas, e também medo, pois comprometer a reeleição ao declarar apoio ao grupo social mencionado (DIAS, 2012). Contudo, o lado mais obscuro desta omissão está em que os atos homofóbicos não são reconhecidos como crime, e por isso, assegura a impunidade por seus praticantes.
Para que houvesse a efetiva criação do projeto foi necessário instalar Comissões da Diversidade Sexual e Gênero das seccionais e subseções da OAB em todo o país, onde foi realizada a coleta de 100 mil assinaturas (BRASIL, 2018) evidenciando o apoio popular e conferido legitimidade a Ordem dos Advogados do Brasil para encaminhar a proposta para a Comissão dos Direitos Humanos do Senado Federal.
A criação do Estatuto servirá para garantir uma série de direitos, como: da livre orientação sexual e identidade de gênero; o direito de constituir família; a não discriminação de acesso à justiça; a segurança; e a criminalização da homofobia.
Para melhor análise remetemos às palavras de Dias e Oppermann (2012):
Todos os esforços foram direcionados à conclusão deste anteprojeto, que foi desenhado a partir da concepção moderna de um microssistema, da mesma forma que outras legislações especiais, como o Código de Defesa do Consumidor, os Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Igualdade Racial, garantido a igualdade por meio de um tratamento diferenciado (DIAS; OPPERMANN, 2012, p.01).
O anteprojeto foi entregue a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), recebendo elogios da então presidenta da comissão pela iniciativa em promover a defesa da diversidade sexual (BRASIL, 2017).
O Estatuto da Diversidade Sexual encontra-se em tramitação no Senado Federal, sob a denominação PLS 134\2018. Houve uma análise no dia 25 de Abril de 2018, e se encontra na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (Secretaria de Apoio á Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor). O projeto tem como relator o senador Ataíde Oliveira.
	
	
3.5 CRIMINALIZAR A HOMOFOBIA À LUZ DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Como já entendida, a sexualidade é algo particular de cada ser humano, compreendendo-a, assim, como a sua dignidade. Da mesma forma, a orientação sexual engloba o entendimento da dignidade da pessoa humana na CF\88 como um princípio de valor fundamental do Estado Democrático de Direito, sendo uma espécie de garantia ao indivíduo, para que se tenha uma vida digna, sem que haja violações de seus direitos.
Como é reconhecido pelo texto constitucional que todos são iguais perante a lei, é necessário reconhecer de maneira igualitária a dignidade jurídica entre Heterossexuais, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais, respeitando e protegendo a dignidade humana desses sujeitos. Dessa forma, a lei impediria qualquer forma de conduta que tende a tratar de forma diferenciada pessoas em razão de sua orientação sexual ou sua identidade de gênero.
Ainda que no Brasil, a discriminação por raça, cor, etnia e religião sejam considerados crime, em contrapartida não se encontrar amparo legal caso alguém seja discriminado por orientação sexual ou identidade de gênero. Por isso, acredita-se que um dos fatores primordiais pela forte presença da homofobia no país, é a falta de legislação especifica. 
A proposta da PLS 134\2018 visa justamente combater a discriminação e punir esses crimes, retirando a omissão do Estado, que deixa essas pessoas sem proteção, visto que a própria Constituição Federal assegura em seu artigo 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção.
Percebe-se que o Estado não garante a democracia quando se vê uma parcela da população sendo violentada, desamparada sofrendo discriminação por conta de divergências de opiniões. Criminalizar a homofobia não garante o fim do preconceito, mas assegura proteção à comunidade LGBTI+. 
Portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana é o suporte essencial para a criminalização de tal ato, tendo que é dever do Estado garantir a todos os cidadãos uma vida digna, e da lei, acompanhar o desenvolvimento da sociedade para garantir proteção a todos os indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa realizada, analisou-se que a homossexualidade não encontra um registro exato de sua primeira manifestação, mas, a certeza que se tem é que sempre esteve presente ao longo da história da humanidade. Em alguns momentos foi vista como pecado, em outros como doença, mas sempre fracassando nas tentativas de compreender a sua origem, visto que acontece de diferentes formas a compreensão da sexualidade de cada sujeito.
Atualmente entende-se a homossexualidade como fator biológico e genético, sendo uma característica intrínseca a cada ser humano. Além disso, é uma forma de orientação sexual, não devendo ser tratada de forma discriminatória, visto que é a condição sexual de cada pessoa. 
Ainda que todos possuam o direito à liberdade, isso não garante o direito de tratar de forma inferior outra pessoa, seja por qualquer fator. A sociedade, assim como o ordenamento jurídico, não pode se recusar em compreender que a homofobia é um problema social, uma vez que as minorias negligenciadas por estes atos devem ter proteção jurídica. 
Respeitar as diferenças, mesmo que não concordando, é um importante passo para que se estabeleça uma vida digna harmoniosa, sendo assim, gradualmente efetivada a garantia de liberdade e dignidade da pessoa humana, presentes principalmente, no art. 5º da Constituição Federal. Criminalizar a homofobia é dever do Estado, no qual a lei deve acompanhar a evolução da sociedade para cumprir o seu papel; coibir as condutas homofóbicas é uma garantia da dignidade.
REFERÊNCIAS
A BÍBLIA. Para o homem Deus criou uma mulher - Gênesis 2:18. A Bíblia, 2018. Disponível em: <http://www.abiblia.org/ver.php?id=1144&id_autor=20&id_utente=&caso=artigos>. Acesso em: 28 nov. 18.
AMARAL, Vera Lucia do. Psicologia da educação. Natal, RN: EDUFRN, 2007. Disponível em: <http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-%20Material/Psicologia_Educacao/Psi_Ed_A01_J_GR_20112007.pdf>. Acesso em: 25 out. 2018.
BARROSO, Luiz Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamento de uma dogmática constituição transformadora. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
BRASIL. Ata de Audiência da Resolução nº 001/1990 do Conselho Federal de Psicologia. Brasília, 22 de março de 1999. Disponível

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